Notas iniciais:
Respeitável público!
@Guardiangel e eu viemos apresentar a vocês a nossa aventura nos mares ABO. Parecia uma ideia muito muito ruim que, rapidamente, tomou forma, cores, um roteiro, e agora, um primeiro capítulo. Esperamos muito que vocês gostem da nossa história, e, acreditem quando eu digo que ela é 50/50 da Guardiangel e minha. Como não tem co-autoria no Inkspired, peço encarecidamente que ao falar da história e comentar, por favor, cite as duas. Ambas responderemos a vocês.
Um agradecimento especial ao @Beyuu por ajudar e outro para Elisa por sempre nos apoiar e betar.
Por favor, leiam as notas finais.
Mas enfim, chega de papo e boa leitura!
*
O som do mar em ressaca ressoava por quase toda a cidade. Era um dia cinzento e de chuva, o vento gélido cortava a pele do menino confuso que vagava pelas ruas enlameadas. Sua mente era um vazio, tal como seu coração estava. Todos aqueles sentimentos que antes o afligiam, agora demonstravam-se pequenos diante da situação de sobrevivência que enfrentava. A fome, o frio, o abandono. Seu pequeno corpo somente desejava voltar para o calor e felicidade que experimentara anteriormente.
Já não sabia há quanto tempo estava ali ou o quanto havia andado. Contudo, tinha quase certeza de que nunca mais encontraria um lugar para chamar de lar. Dormiu dias nos becos, cercado pelos gatos da região, com os quais dividia o que conseguia pegar para comer. Tudo muito duro para uma criança de 4 anos. Não fazia ideia, porém, de que o destino o entregaria nas mãos plácidas de um homem que passava pelo beco no qual estava.
Dmitri Plisetsky era um alpha imponente, de feições quadradas, cabelo loiro comprido e carregava um sorriso de satisfação no rosto devida à quantidade de pães que carregava. Sabia que todos poderiam comer e ainda haveria sobras para compartilhar com os necessitados no caminho do Circo do qual era dono. Em breve cairiam na estrada outra vez, levando alegria e diversão a outra localidade. O circo era basicamente composto por artistas performáticos, bem treinados e talentosos. Contudo, Dmitri tinha o hábito de resgatar alguns animais pelo caminho, de preferência os leões judiados por outros circos.
A surpresa foi quando seus caminhos se cruzaram. Dmitri mal via o caminho com tantos pães e o menino se viu irremediavelmente observando aquela quantidade gigantesca de comida.
“Será que é tudo para uma pessoa só?”, pensou a criança. Seus pés foram atrás do homem, guiados pelo aroma de pão quente que atravessava as narinas do menino, fazendo seu corpo inteiro reagir. O mais velho reparou que o pequeno o seguia. Percebeu que por sua aparência provavelmente estava perdido ou abandonado. Aquilo lhe doeu o coração. Ajoelhou-se de imediato e o pequeno recuou. Pegou um pedaço de pão na sacola e ofereceu.
- Tome, aceite. Tenho bastante aqui.
A criança praticamente engolia de forma voraz os pedaços de pão oferecidos. Não podia negar nada mais ao seu corpo.
- Ei! Coma devagar ou vai passar mal. Qual o seu nome, pequeno?
O menino olhou ainda desconfiado para o homem, mas devido a tamanha gentileza, não seria rude com ele.
- O-Ota… Bek
Falou com a boca cheia.
- Por que você está sozinho aqui nessa chuva e com tanta fome? Onde estão seus pais?
- Sou só eu.
- E você mora aonde?
Otabek apontou para um beco perto dali. Aquela criança definitivamente precisava de ajuda. Dmitri olhou em seus olhos. O grande coração que era o seu circo com toda certeza teria espaço para aquele menino. Não seriam somente os leões a serem salvos.
- E o que você acha de conhecer o circo, Otabek? Com malabaristas, palhaços e mágicos… Tem até leões!
- Leões?
Otabek abriu um sorriso e Dmitri viu seus olhos brilharem.
- Venha, vamos dar um jeito nas suas roupas e te deixar seco e quentinho.
Não havia muito a ser pensado. Otabek sabia que nada poderia ser pior do que o que ele já vivia. Em um gesto de fé, ofereceu a pequena mão ao circense que o guiou para o local no qual conheceria as maiores felicidades.
Ao chegarem, Otabek se surpreendeu pelas cores e pelo tamanho da tenda. Os artistas treinavam para a última apresentação naquela cidade. A criança tentava entender aquela confusão. As trapezistas voavam de um trapézio ao outro deixando o garoto tonto. Contudo essa sensação logo passou ao perceber as cores das enormes chamas saídas da boca de um outro homem.
Era tudo tão surreal que não podia compreender. Os palhaços corriam por todo o picadeiro, fazendo brincadeiras e sorrindo e um outro rapaz tirava um coelho de dentro de uma cartola, enquanto um de cabelos grisalhos batia palmas incessantemente com cara de bobo. Contudo, logo foram interrompidos pela voz de Dmitri que exclamou para que todos ouvissem:
- Respeitáveis artistas! Quero um momento de vossa atenção!
Todos pararam suas atividades e se reuniram no centro do picadeiro. Otabek observava atrás do homem, impressionado. Nem percebeu que na verdade estava puxando as calças do circense, que deixou o pacote enorme de pão sobre a arquibancada.
- Gostaria de apresentá-los ao mais novo membro da trupe, Otabek.
- Mais um, Dmitri? Desse jeito, vamos à falência!
O homem se abaixou, tentando atrair a atenção do menino.
- Você é um pouco tímido, não? Sou JJ, cuspidor de fogo, rei desse picadeiro.
JJ estendeu a mão. O pequeno sentiu o cheiro forte de querosene que o homem utilizava, se escondeu um pouco mais e respondeu, tapando o nariz.
- Você precisa de um banho!
O comentário gerou risadas da trupe e uma torcida de nariz de JJ.
- Você também não cheira nada bem e eu não disse nada.
Otabek fez um biquinho, mas antes que pudesse fazer birra, foi pego de supetão por um grito agudo.
- QUEM É ESSA COISINHA FOFA?
Uma jovem de cabelos vermelhos, usando um colã se aproximou, apertando as bochechas da criança com certa ferocidade, seguida de uma outra de cabelos pretos lisos.
- Assim você vai assustar o menino, Mila! Já não basta o JJ fedendo a querosene!
Ela pegou as pequenas mãos do menino, tentando acalmá-lo.
- Não se preocupe, querido. Eu protejo você desses boçais.
Os que estavam ao redor acharam graça. Dmitri as interrompeu prontamente.
- Essas são Sala e Mila. As duas estavam nos trapézios. Elas entraram para a nossa família há três paradas e já estão acostumadas. Logo você também se adapta.
O menino não teve tempo de absorver a informação quando foi colocado no ar pelo homem de cabelos grisalhos, que o pegou no colo e girou velozmente, para logo abraçá-lo. O que tinha a cartola nas mãos passou a mão por seus cabelos e sorriu.
- Yuuri, eu gostei muito dele. Podemos adotá-lo?
- Que nem os dez coelhos que você está criando no nosso trailer? Eu nem preciso disso tudo!
Dmitri logo respondeu:
- Eu já não falei para vocês que já temos coelhos mais do que suficientes para o show?
- É que eles se reproduzem muito rápido…
- Estou certo de que se um de vocês fosse ômega, o circo estaria abarrotado de criancinhas correndo.
Disse Dmitri rindo.
- Oh! Desculpe, Otabek. Esses são Victuuri. Quer dizer, Victor e Yuuri, mas logo você vai perceber que os dois são apenas um. Victor é o Mestre de Cerimônias e Yuuri o grande mágico.
Otabek deu um pulo ao ouvir um som de buzina muito alto e gargalhadas vindas das duas figuras maquiadas.
- Você viu alguém novo por aqui, palhaço Pitch?
- Eu não, grande Minami. Tudo o que eu vejo é uma pequena barra de chocolate. Oh! Eu não sabia que chocolate ficava assustado…
Pitchit foi até a direção do pequeno e passou os dedos por seu nariz.
- Roubei seu nariz! Roubei seu nariz!
Todos acharam muito fofa a forma com a qual Otabek tocou seu nariz para ter certeza de que ainda estava ali. Eram sim uma grande família e todas as brincadeiras eram demonstrações do carinho que sentiam um pelo outro.
- Só está faltando o Chris, mas ele está no cio.
Otabek levantou a sobrancelha, estranhando a situação.
- Ih, Dmitri… Eu acho que você vai ter que ter a conversa...
Sala colocou a mão sobre o rosto, pensativa.
- Pode deixar que eu falo!
Victor afirmou.
- Não Victor. Você já traumatizou crianças o suficiente! Já não basta o Yuri correndo ontem no refeitório perguntando quem tinha cloaca!
Otabek estranhou a palavra saída da boca de JJ.
- Clo.. Aca. O que é cloaca?
- Eu achei bonitinho ele pulando de uma mesa para outra pelado gritando “cloacaaaaa!!!!”. Foi tão orgânico. Tão sublime...
Disse Yuuri.
Dmitri pegou na mãozinha de Otabek.
- Vou te levar para conhecer Yuri, aposto que vocês serão grandes amigos.
Eles saíram do picadeiro e foram em direção ao vagão de Yuri.
- Você sabe alguma coisa sobre segundo gênero?
Otabek permaneceu calado e sem reagir.
- Vou te explicar um pouco sobre isso para que a gente não passe por nenhuma situação desconfortável futuramente. Existem os gêneros principais, como menino e menina. Mas além disso, meninos ou meninas podem ser alpha, beta ou ômega. Alphas e ômegas tem um cheiro especial e único para cada pessoa. Os beta não tem cheiro de nada, como Victuuri e os palhaços, por exemplo.
- Cheiro? Como aquele cara que fedia?
- Ele fede, mas aquele cheiro não é o dele. JJ é alpha e geralmente eles gostam do cheiro dos ômegas e os ômegas gostam do cheiro dos alphas.
- Eu gosto de cheiro de pão…
- É isso mesmo, Otabek. É como se você passasse na frente da padaria com cheiro de pão.
- Então os ômegas e alphas são pãezinhos?
- Er… Enfim. O que você precisa saber agora é que ômegas e alphas precisam passar um tempo sozinhos por causa do cheiro.
Otabek claramente não estava entendendo nada do que lhe era falado. Dmitri imediatamente se arrependeu de ter iniciado essa conversa. O menino ainda não tinha como entender o segundo gênero por ser muito novo.
- Mas o que é cloaca?
- Quando eu te apresentar o Yuri, você pergunta para ele, tudo bem?
Ele acenou com a cabeça em afirmação.
Enfim, chegaram na tenda na qual Yuri se encontrava. Otabek se surpreendeu com o menino loiro, de olhos verdes sobressalentes que pulava de um lado para o outro gritando “cloacaaaa!!!”
Dmitri agora tinha absoluta certeza de que havia sido uma péssima ideia pedir a Victor para conversar sobre segundo gênero com Yuri.
O menino loiro se voltou para a figura esmirrada que acabara de adentrar seus aposentos.
Dmitri ajoelhou-se e foi recebido por um abraço de Yuri, que beijou seu rosto, enquanto o mais velho afagava seus cabelos.
- Ele é novo no circo, papai?
- Sim! O seu nome é Otabek. Espero que vocês sejam grandes amigos.
Tentando deixar as crianças mais à vontade para interagir, o pai fala para Yuri.
- Você faria a gentileza de mostrar o resto do circo para Otabek?
- Claro, papai!
Dmitri se retirou para uma conversa muito séria com Victor e Yuuri, apesar de depois daquele diálogo com Otabek perceber a dificuldade de falar sobre o assunto com crianças, ainda mais quando se tratava da esponja que era a cabeça do filho.
Yuri abriu um sorriso e desatou a falar.
- Meninas tem vagina e homens ômega tem cloaca. Você tem cloaca?
- Eu não sei, você tem?
- Eu acho que se tivesse, saberia. Mas o Victor disse que eu só vou descobrir em alguns anos. Mas ele não tem. E você?
- Acho que eu também não tenho não.
- É por onde saem as crianças nos homens ômegas.. E o cocô.
Otabek ficou estarrecido com a revelação.
- Então eu acho que eu tenho.
- Não, todo mundo faz cocô. Mas cloaca é diferente!
- Mas como eu sei se vai sair uma criança ou um cocô?
Yuri não sabia responder a essa pergunta e decidiu mudar de assunto.
- Você já conheceu os leões? Meu pai é um homem muito bom e resgata vários leões de outros circos. Eles ficam afastados daqui, mas não gostam muito das pessoas não. Só do meu papai.
- Leões tem cloaca?
- Não seja bobo! Só galinhas e homens ômegas tem cloacas! Vamos lá! Você precisa ver!
Os dois saíram da tenda e caminharam passando por todas as tendas dos artistas, que estavam vazias devido ao ensaio. Finalmente, chegaram ao último lugar que havia para conhecer. A tenda dos leões. Nela havia uma grade para proteger as pessoas dos leões e os leões das pessoas.
- Ei! Essa é a tenda dos leões. Aqui eles são bem tratados, mas só o meu pai consegue dar comida para eles. Estão sempre de mau humor.
Otabek olhou admirado para o lugar. Cerca de 5 leões dividiam um espaço gigantesco. Eles pareciam bem calmos, apesar da presença dos pequenos.
Yuri, com seu espírito aventureiro, propôs um desafio para Otabek.
- Eles hoje estão mansos! Por que você não tenta brincar com eles? Eu tento às vezes, escondido do meu pai, mas eles são chatos e rugem para mim.
Otabek engole seco ao olhar para as feras ali presentes.
- Você está com medo? Tudo bem, eu também tenho.
- Eu não tenho medo de nada! Já vi até o homem do saco. Ele tentou pegar um dos meus gatos, mas eu sou muito forte e não deixei.
Yuri ficou impressionado com a coragem de Otabek, que escalou e pulou a cerca, indo em direção aos leões.
Otabek estendeu a mão e a encostou de leve no pelo da juba de um dos leões, com certo receio. O garoto loiro ficou boquiaberto quando o leão abriu os olhos e lambeu a mão de Otabek, ronronando logo em seguida.
Os outros leões se aproximaram e começaram a cheirar Otabek, que ficou paralisado de medo e totalmente envolto pelos felinos que já deitavam ao seu redor, fazendo gracinhas.
Foi quando Yuri percebeu seu pai afoito, logo atrás de si. Dmitri havia percebido a movimentação e correu para que não ocorresse nenhum acidente, mas se deparou com a cena que o deixou em choque.
- Eu nunca vi nada parecido com isso.
Otabek passou a mão por todos eles e abraçou a cabeça do maior, que roçou carinhosamente nele em resposta.
- Eu acho que eles querem brincar comigo, Yuri.
Notas finais:
E então, pessoal? Gostaram? Esperamos que sim, pois fizemos de todo o coração.
Para ciência, nós não temos uma frequência regular de escrita, portanto, pode ser que o próximo capítulo venha logo, ou demore um pouco, pois é um tanto complicado acertar nossas agendas. Mas de qualquer forma, esperamos que vocês não desistam de nós, vamos fazer o possível para não demorar com os próximos capítulos.
Obrigada pela leitura e beijos na cloacaaaaaa! <3
Thank you for reading!
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