Música: À vontade — Bela e a Fera
***
“Mesmo fora do ramo, Dulce se reinventava dentro da clássica gastronomia francesa…”
O cheiro de guisado se espalhou pela casa, denunciou, mais um prato para aquele banquete foi finalizado. O mise en place* do cardápio preparado com amor estava organizado na ilha de cor escura de mármore brilhante em arranjo parfait*.
Os cortes chiffonade, brunoise, julienne, macedoine e allumette* estavam enfileirados e separados por suas cores aproximadas. Era quase como apreciar uma obra de arte em todas suas nuances, como aquarela.
Em vez de tinta, a preparação artística ficava por conta de variedades de alimentos, desde pimentões de todos os tipos até lagostins de primeiríssima qualidade.
Dulce amava aquela sensação quase extinta, alimentar pessoas em quantidade. O tilintar dos garfos e facas raspando nos pratos rasos e fundos misturados aos murmúrios satisfeitos, inflava seu ego.
O egocentrismo descabido irritava Ruben, seu marido. A irritação era apenas por um curto período de tempo, amava-a.
Só de ver o rosto satisfeito da Ex-chef de cozinha de um antigo restaurante com três estrelas Michelin, agora falido, tudo se transformava em magia.
Vê-la suspirar ao adquirir alimentos frescos no mercado municipal pagava toda a frustração do gasto em fortuna para satisfazer a mulher em servir apenas o excelente.
Enxergar sua felicidade estava acima de todos os bens materiais. Enquanto cozinhava com maestria, era observada pelo velho homem que escolheu para ficar ao seu lado por toda sua vida.
Dulce picava, cortava e misturava sem parar. A faca (amiga) longa e cromada trabalhava em uma velocidade sem igual.
A velha mulher não demonstrava o cansaço do esforço pelas horas de trabalho árduo, essa era uma das qualidades que Ruben mais amava em sua esposa; sua disciplina.
Quando menos esperava outro prato impecável estava pronto…
Viu o rosto redondo voltar para si, Dulce apalpou a mãozinha enrugada pelo avental xadrez com modulações brancas e vermelhas, secou as mãos molhadas e os olhos cinzas gratos encarou Ruben, por final, a voz fininha da senhora ressoou:
— Sinto tanta falta disso, meu velho… — A sombra da decepção aportou num sorriso triste em meio as palavras amargas. — abandonada!
O homem sabia disso conhecia sua esposa como mais ninguém — quase cinquenta anos juntos.
Ele apenas alcançou o ombro e tocou-o na menção de confortá-la, depois doce como o mesmo Ruben que fizera Dulce se apaixonar ainda na adolescência comentou:
— Se te animar podemos fazer isso mais vezes! — Aproximou e beijou a testa da mulher que amava em sinal respeitoso.
Desta vez mesmo não encarando-a podia ter a certeza do sorriso alegre, espontâneo e deslumbrado.
Ruben podia até mesmo está velho de mais para confraternizações, contudo se tinha algo que lhe fazia feliz era ver o sorriso largo de sua esposa enquanto observava-a servir seus convidados.
Aquele era um luxo, um luxo que Dulce conquistou em sua vida e sua vida era servir as pessoas. A cozinha lhe fazia bem, inflava o peito e nem mesmo a morte destruiria.
***
Notas:
Mise en place: É uma expressão em francês, que significa “pôr em ordem”. Ou seja, é simplesmente deixar todos ingredientes e elementos da receita prontinhos, facilitando a preparação dos pratos.
Parfait: Perfeito em Francês
Chiffonade: Esta é mais uma técnica de corte clássico de vegetais na cozinha. O corte em chiffonade se trata de cortes em formato de tiras finas. Exemplo: corte de couve para a feijoada.
Brunoise: Um corte feito a partir do Julienne, são minúsculos quadradinhos em tamanhos regulares, muito usado na finalização dos pratos. Suas medidas são 0.03x0.03
Julienne: Um corte em tiras longas e finas de tamanho regular.
Macedoine: Parecido com o Brunoise, todavia são cortes maiores tamanho: 0.05x0.05
Allumette: É um corte em tiras finas e delicadas. Exemplo: Batata palha.
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