Rei Leão: Nesta noite o amor chegou.
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O sossego da noite fez o coração de Eren bater mais rápido. A cacofonia dos tiros e bombas ao horizonte parecia finalmente ter cessado, e o jovem rapaz pôde apreciar a doce paz que os ventos traziam.
Ventos leves, sem o peso das súplicas de amor que os soldados faziam às amadas.
– Está tão quieto. – Comentou, apoiando os antebraços no parapeito da janela.
Ao fundo podia-se escutar o tilintar da prata chocando-se contra a cerâmica. Levi deixou a pequena colher de lado e bebericou do chá de hortelã.
Eren Jaeger era um jovem rapaz que encontrou escondido em seu estábulo, junto aos cavalos. Vestia trapos do que deveria ser um uniforme de combate do exército alemão e tremia diante o frio da noite. Acolheu-o em sua humilde casa e tratou dos arranhões que o garoto tinha.
Apenas 17 anos e já conheceu o terror da guerra.
– Hitler pereceu. – Levi informou, indiferente ao fascínio do adolescente pela quietude através da janela, semanas antes tão barulhentas. – Suicidou-se.
– Ah… – Sorriu sem humor, dedilhando os flocos de neve que acumulavam-se no parapeito da janela. Apoiou o queixo pálido pelo frio no punho fechado e fitou os passos marcados na neve em todo o jardim da casa. – E pensar que fiquei frente a frente dele. Nunca esquecerei-me daqueles olhos. Eram decididos e impiedosos, olhos perfeitos para um líder calculista.
– A guerra encontrou seu fim. Você vai voltar?
O leve descontentamento fermentou a indagação de Levi, que voltou a degustar de seu chá quente.
Eren demorou a responder. O frio agredia o rosto corado pelas baixas temperaturas, mesmo assim manteve a janela aberta. Aquele pequeno campo perto – e ao mesmo tempo longe – do campo de batalha, onde encontrou refúgio e ternura nos olhos de um homem cinza, era palco para as variadas emoções e felicidade que tivera.
Não queria retornar. Estava bem sem seu pai empurrando-o para a guerra, cego pelas palavras de Hitler, e sua mãe desgostosa sobre sua existência.
Ali, Levi reconheceu seu devido valor, e sentia que seu lugar era ali, cuidando dos cavalos e das vacas. Quem sabe, mais tarde, quando o verão tomar sua forma, não plantava milho e arroz? Será que Levi lhe ensinaria como cuidar de uma plantação tal como fez com os animais?
– Você quer que eu volte? – Devolveu a pergunta, nunca lhe dando o prazer de fitar o puro verde de sua íris.
Ia confirmar, mas conteve-se. Aqueceu os lábios no líquido fervente e percebeu a verdade evidente. Não queria que Eren retornasse.
Fechou os olhos, visualizando os arredores de seu sítio vazios, sem desespero nem dor, num mundo em paz, onde granadas não voavam mais.
Ouviu a doce risada de Eren, que morreu lentamente à medida que seus lábios fechavam-se. Queria sentir o que estava sentindo por uma doce alemã, de olhos azuis e cabelos claros, tirando seu fôlego toda vez que mostrasse um sorriso.
Mas sentia aquele amor por alguém totalmente do contrário. Um homem de olhos cor de chumbo e cabelos escuros, com um raro sorriso que surgia minimamente em seus lábios finos.
Por que a ausência de estrondos apenas intensificava aquele sentimento?
Ah, na marcante noite após tantas turbulências causadas pela guerra, o amor chegou para o rapaz. Que incômodo.
– Você quem sabe. Há um quarto extra e sua presença não é tão irritante quanto pensei que seria.
– Devo considerar essa última parte um elogio? – Sorriu, afastando-se da janela e fechando lentamente as portas de vidro bem polidas.
– Considere como quiser, soldado covarde.
O sorriso fraco de Eren perdeu sua forma. Um nobre soldado, bem como seu pai desejava.
Sentou-se na cadeira, em frente a mesa de carvalho onde Levi apoiava sua xícara de chá.
Não queria envolver-se com violência e sempre adorou a culinária. Imaginava-se em uma padaria, confeccionando as melhores das guloseimas. Porém seu pai e, claramente, Hitler tinham outros planos. Maldito orgulho humano.
– Acho que vou ficar.
Levi ergueu-se após beber o último gole do chá de hortelã. A xícara escorregou de sua mão e inúmeros cacos de cerâmica espalharam-se pelo chão.
Nenhum dos dois pareceram se importar.
Eren, após minutos mergulhados no silêncio, agachou-se para juntar os pedaços.
– Não precisa fazer isso. – Levi interferiu, havia voltado a sentar-se após o pequeno acidente.
– Você não limpou a própria bagunça, e isso me assusta. – Eren levantou os olhos verdes e Levi se viu pego na armadilha deles. – Levi, você está bem?
– Apenas confuso com a chegada de um sentimento contemporâneo.
– Que coincidência. – Sorriu, baixando o olhar ao perceber um brilho incomum nos olhos cinzentos.
– Você também?
– Receio que sim.
Uma lufada de ar foi solta pelo homem que beirava os 21 anos. Eren já descartava os cacos recolhidos.
– Eu vou dormir. – Levi avisou.
– Espere. – Eren impediu-o com a firmeza de seu tom. Terminou de ajeitar os cacos em um recipiente e seguiu até o homem estancado na porta que dava acesso aos quartos.
Levi aguardou, atento a cada movimento do rapaz.
Eren postou-se de frente a Levi, inclinou-se e deixou um leve e longo selo nos lábios aquecidos. Reconheceu o gosto de hortelã, e isso o fez admirar o bom gosto de Levi.
Ao afastar-se, sorriu brincalhão.
– Isto assemelha-se ao seu sentimento “contemporâneo”?
– Eu diria que é quase igual. – Levi respondeu, ainda com os lábios latejantes devido a baixa temperatura dos de Eren.
Os lábios uniram-se novamente.
Iriam honrar os sentimentos das vidas perdidas nos campos de batalha, iriam homenagear aqueles que querem liberdade na escolha de seus amados, sejam eles homens ou mulheres. Iriam fermentar os tão sonhados doces de Eren com o açúcar que era os lábios do rapaz.
Relembrando a noite em que o amor chegou para o jovem soldado e o camponês isolado.
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