Olá, essa fic amorzinho faz parte do desafio de crackships mas eu confesso que já shipava esses dois há algum tempo . Kkkk
Quero agradecer a Amada por essa capa mais linda de cheirosa e por me salvar quando me enrolei foi é todaaaa. Kkkk
Vamos simbora
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O som quase ensurdecedor da música eletrônica fazia Naruto ficar ainda mais irritado, se é que aquilo era possível. O nó na garganta e a vontade intensa de chorar em nada combinava com o clima festivo daquele sábado à noite, mas não havia nada que pudesse lhe acalmar naquele momento. Os olhos de Pain o fitaram uma última vez carregados de pesar, antes daquela maldita frase lhe deixar os lábios finos.
— Acabou, Naruto.
Naruto demorou um tempo para perceber que não havia piada no tom de voz do outro.
— Uma última chance. - Segurou nos ombros do amado, como se necessitasse de um apoio para manter-se em pé. — Eu juro que vou parar de ser tão ciumento e controlador.
— Naruto…
— Não desvia o rosto, olha pra mim. - Suas mãos agora seguravam o rosto do outro e seus próprios olhos exalavam súplica. — Eu posso melhorar, amor. Eu te dou a minha palavra.
— Olha a confusão que você arrumou lá em baixo por causa do Hidan, Naruto. - O tom recriminador na voz de Pain, fez seu coração doer e Naruto baixou o olhar. — É a festa de aniversário do Nagato e você bateu em um dos meus amigos, eu… droga, Naruto… eu nem sei como vou encarar as pessoas depois disso. Nós nem estamos mais juntos oficialmente, justamente por esse seu comportamento controlador.
Naruto se afastou e bagunçou o cabelo de forma nervosa. Sabia que eles não estavam mais juntos, mas ainda o amava, eles ainda saiam sem compromisso para “amenizar a saudade” pelo menos quatro vezes ao mês, o que poderia fazer? Sentia ciúmes, aquilo era normal, não era?
— Olha, em minha defesa aquele cara me provocou. Precisava ficar te agarrando daquele jeito? Parece que ele procura qualquer desculpa para tocar em você.
Pain riu do tom de desdém na voz de Naruto e se aproximou. Manteve os seus olhos fixos nos azuis magoados do outro e lhe ofereceu um sorriso mínimo.
— Não damos mais certo, Naruto. Sei que não é por mal, mas seu jeito possessivo me sufoca…
— Eu posso mudar, eu…
— Não pode não, Naru. Nós tentamos três vezes.
— Você não me ama mais é isso? é pelo Nagato? Tu tá com aquele cara não tá? Ou é pela Konan? Eu sempre desconfiei que ela fosse a fim de você.
Pain suspirou profundamente e se afastou. Encostou na grade de proteção da varanda do terceiro andar, que era adjacente ao seu quarto, e ficou alguns minutos olhando as pessoas no jardim onde a festa acontecia.
— Não estou com ninguém, Naruto. - Pôde ouvir o suspiro de alívio de Naruto e sentiu quando ele o abraçou por trás. — Não estou com ninguém, nem mesmo com você, não mais.
Naruto se afastou e o olhou confuso. Ontem mesmo eles estavam se agarrando naquele quarto. Então acabou de vez? Só por causa de uma confusão boba que poderia ser consertada? Aquilo era um absurdo.
Porém, antes que a réplica deixasse seus lábios, Pain se afastou e começou a deixar o quarto para voltar para a festa.
— Nossa história acaba aqui, Naru.
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Já deveria ser o sétimo ou o oitavo copo de tequila que Naruto virava goela abaixo antes que o timbre rouco daquela voz tão conhecida lhe tirasse de seu torpor.
— Desse jeito você vai acabar em um coma alcoólico.
Naruto se limitou a lançar um olhar indiferente para Kiba que havia se aproximado e lhe deu as costas, se dirigindo para mais perto do chafariz que enfeitavam o jardim.
Deveria ir embora daquela festa estúpida depois de tomar um fora do seu ex namorado, mas não conseguia aceitar que tudo tinha acabado, não sóbrio. Por isso beberia até não lembrar do próprio nome e muito menos do rosto de Pain.
Ouviu os passos atrás de si e revirou os olhos ao ver que o amigo o havia seguido.
— Aposto que ficou com problemas depois daquela briga né? Pain parecia uma fera.
Naruto fingiu não ouvir, enquanto seus olhos fixaram em Pain que conversava com Nagato a alguns metros mais adiante de onde estava com Kiba.
— Eu achei bem feito, se você quer saber. Também odeio aquele Hidan, apanhou pouco até. Pain é um cara maneiro, mas tem uns gostos duvidosos às vezes.
— Não fala dele, Kiba. Não fala mal do Pain na minha frente.
Naruto finalmente olhou no rosto do outro rapaz e pode perceber que Kiba lhe lançava um olhar de pena. Aquilo o irritou ainda mais, amava o melhor amigo, mas odiava o jeito que Kiba o conhecia.
— Ah foi mal, não sabia que você ainda estava tão amarrado no cara. Achei que vocês tivessem terminado.
— A gente ainda sai… quer dizer, agora não mais né… A gente estava quase voltando antes de eu fuder com tudo e arrebentar a cara do babaca do amigo dele. - Prendeu a ponta do piercing da língua entre os dentes, demonstrando toda a mágoa e a frustração que lhe enchia o peito. — Mas eu odeio tanto esse cara que não pude evitar. Já odiou alguém assim, de não conseguir olhar pra cara da pessoa?
— Ah…
— Eu odeio. Odeio essa cobra ardilosa. Aposto que ele quer dar pro Pain, dá pra ver nos olhos dele. Mas tu acha que o Pain acredita em mim, Kiba? Acha?
— Aposto que…
— Não! Ele não acredita. Diz que eu estou exagerando, que não podemos ficar juntos porque eu o sufoco. Você acha que eu tenho cara de quem sufoca alguém?
— Bem, eu não…
— Onde já se viu um absurdo desses! Ele chegou a dizer uma vez que eu não o amo já que não confio nele. Claro que eu amo, eu tenho o nome dele tatuado na minha nádega esquerda, como isso não é amor?
— Você tatuou o nome dele na bunda?
Naruto ignorou a risada do outro e voltou os olhos para o ex namorado que conversava com Nagato e às vezes o olhava com uma expressão chateada. Pain também estava magoado, por que não resolviam tudo de uma vez? Só precisava de outra chance, só mais uma chance, sabia que poderia consertar tudo.
“Não pode não, Naru. Nós tentamos três vezes.”
A frase dita por Pain ecoou em seus ouvidos como um mau agouro e Naruto coçou os cabelos, visivelmente frustrado. Era melhor que fosse embora dali.
— Acho melhor você ir pra casa, Naruto. Você tá completamente fora de si.
Naruto virou o rosto para o lado e encarou os olhos preocupados do melhor amigo.
— Acho que você tem razão. Espero que sua noite termine melhor que a minha. Tô indo nessa, Kiba.
Antes que o outro pudesse dizer qualquer coisa, se retirou daquela festa sem olhar para trás e nem lançar um último olhar para o ex namorado.
∆
Naruto encarava Jiraya com a expressão mais incrédula que o homem já tinha visto.
Jiraya, por sua vez, continuava encostado na mesa do escritório do estúdio de tatuagens e Naruto, parado a sua frente, esperava ele anunciar que aquilo era alguma brincadeira.
— Demitido? Você só pode estar brincando comigo ero-sennin! Eu trabalho aqui desde sempre, esse estúdio é a minha casa, eu…
— Você não consegue se concentrar no trabalho desde a confusão com o Hidan no início do ano, Naruto. Sabe quantas reclamações eu já recebi? Que suas linhas estão tortas, que seu estilo é ultrapassado, que seu trabalho está desleixado, até reclamação que você estava chorando enquanto tatuava eu recebi.
— Eu estava com dor de cotovelo, tá legal? Caramba, eu amava aquele maldito, todo mundo sabe disso!
— Eu sei, eu sei. - A mão de Jiraya pousou sobre o ombro de Naruto e sua voz assumiu um tom paternal. — Mas já faz quase sete meses, Naruto. Você precisa voltar a se concentrar ou eu vou ser obrigado a te demitir.
Naruto abaixou os olhos e encarou os próprios pés. Não poderia culpar o seu sensei, realmente havia desleixado nos desenhos, mas toda aquela situação ainda o magoava demais. Não poderia negar que esperou que Pain voltasse atrás, mas ao contrário do que imaginou, ele manteve sua palavra e nunca mais tentou nenhum contato íntimo nesses sete meses que se passaram. Na verdade, eles nem sequer se viam há uns quatro meses.
— O que quer que eu faça para manter meu emprego então?
— Quero que você mude seu estilo de desenho, que aprenda novas técnicas, que se reinvente.
— Posso fazer isso.
— Sei que pode, por isso chamei o Pain para te ajudar.
— Tá tirando uma com a minha cara ero-sennin? Logo ele? Isso é algum tipo de piada?
Jiraya riu da indisciplina de Naruto e cruzou os braços frente ao peito antes de prosseguir.
— Ele também é meu discípulo e acabou de chegar de uma temporada em Nova York. Ele foi lá aprender o estilo tradicional americano com o próprio Ami James. Então eu pensei que seria ótimo pra você se reinventar como tatuador, aprender outras técnicas, outros estilos. Acho uma ótima oportunidade de você aprender com alguém tão bom quanto o Pain e uma ótima oportunidade pra você superar esse pé na bunda de uma vez.
Naruto mantinha uma expressão de pura incredulidade na face e Jiraya sorriu, realmente se divertia com o jeito espontâneo de Naruto.
— Grandes coisas ele ter aprendido com o Ami James. Tá vendo essa coruja na minha panturrilha? Foi feita pela própria…
— Megan Massacre, é eu sei, todo mundo conhece essa história, Naruto. Mas vai se preparar que daqui a pouco o Pain chega pra te ensinar. E você já sabe né? Ou se comporta...
— Ou me comporto ou perco o emprego. Tô sabendo, tô sabendo.
Jiraya confirmou com a cabeça e sorriu enquanto observava Naruto sair do escritório esbanjando toda sua insatisfação com aquela conversa. Torceu para que Pain conseguisse despertar novamente o amor pela arte no aprendiz, ou sendo bem otimista, que os dois se resolvessem. Essa depressão pós-término de Naruto já o estava deixando preocupado.
∆
Naruto havia acabado de higienizar a tatuagem de gueixa que terminou de fazer em uma cliente, quando Jiraya pediu para que ele fosse até o escritório. Caminhou até o local já sabendo que seu novo “sensei” o estaria esperando para transformar sua vida em um inferno.
Quanto mais se aproximava, mais a arritmia cardíaca lhe tirava o fôlego. Não se viam há exatos quatro meses, desde que Naruto foi até o seu apartamento e os dois tiveram uma briga ferrenha, carregada de mágoas, acusações e embalada por uma disputa de quem estava certo e quem estava errado naquela batalha. - Batalha essa que não houve vencedores - Pain viajou para fora do país para focar a cabeça no trabalho e Naruto ficou no Japão, afundado na própria melancolia.
Girou a maçaneta negra da porta e ergueu a cabeça, vestindo toda a sua máscara de orgulho e fingindo não estar se sentindo completamente perdido, como um barco em meio a um mar bravio sem a luz do farol como guia, assim que seus olhos encontraram com os dele.
— Naruto, há quanto tempo.
Somente o timbre da voz que tanto amava, foi o suficiente para desestabilizá-lo, mas ele não demonstrou. Se recompôs e lançou o olhar mais firme que era capaz de oferecer a alguém.
— Yahiko, como vai?
— Bem. Nossa não me chamam assim desde o ensino médio.
Pain lhe sorriu de forma singela e Naruto amaldiçoou seu coração traiçoeiro que bombeava acelerado devido a saudade. Não cederia assim, jurou nunca mais se render aquela paixão. Entretanto, era quase impossível desviar seus olhos dos dele, era impossível fingir que seu corpo não clamava por ele.
— Reencontro emocionante, meninos. - O tom de voz zombeteiro de Jiraya foi o responsável por despertá-los do transe. — Pain, conto com você para ajudar o Naruto.
— Vai dar tudo certo sensei, pode ficar tranquilo.
Naruto confirmou com a cabeça perante a afirmação de Pain e Jiraya sorriu aliviado. Imaginou um reencontro bem mais problemático, visto as últimas brigas que os dois protagonizaram, mas o vento parecia soprar ao seu favor.
— Fico feliz, meninos. Agora que vocês estão dispostos a colaborar o trabalho em equipe será bem mais fácil.
Não, o trabalho em equipe não foi nem um pouco mais fácil. Naruto poderia listar todos os motivos que o deixou a ponto de arrancar a sangue frio, um por um daqueles piercings ridículos que o ex namorado usava no rosto. Pain parecia quase um general de tão rígido. Já estavam trabalhando juntos há três semanas e meia e Naruto sentia como se pudesse explodir de ódio todas as vezes que Pain fazia alguma crítica sobre sua linha, ou seu sombreado, ou o ângulo da luz que ele escolhia aplicar, até mesmo sua escolha de cores era um problema para o outro.
Naruto queria continuar no New School que era a sua praia, seu estilo de tatuagem e desejava do fundo do seu âmago, que o estilo tradicional americano se explodisse e que Pain explodisse junto com ele, é claro.
— Se você não se concentrar eu não vou ficar aqui perdendo o meu tempo, Naruto.
Naruto desligou a máquina e suspirou pesadamente antes de direcionar o olhar ao outro que o assistia tatuar as costas de Hinata.
— Eu tô concentrado, você que é exigente demais.
— Não está não. Seu trabalho de linhas está fraco na asa direita da Fênix. Refaz.
Naruto, já completamente estressado, colocou a máquina em cima do suporte e fechou os recipientes de tinta antes de se levantar e direcionar um olhar irritado ao outro.
— Hinata, me dá uma licencinha, eu preciso tomar uma água, tá bom? Eu já venho terminar sua tattoo.
— Tá bom, Naruto-kun, eu espero.
Naruto saiu do estúdio sem lançar um último olhar a Pain e caminhou até banheiro para lavar o rosto na pia. Encarou o próprio reflexo no espelho por um tempo e tentou retomar a calma. Precisava desse emprego, precisava se concentrar e voltar ao normal. Aquilo não era saudável e nem tão pouco era profissional. Reconhecia a capacidade artística de Pain, seu coração magoado e ressentido que não.
— E aí Naruto, pausa também? Tô com uma cliente chata pra caraca. Não consegue escolher o desenho e eu tô quase ficando louco.
Naruto olhou para a direção da voz e observou o amigo de longa data entrar no banheiro.
— Fala aí Kiba. Vim dar um tempo antes que eu jogasse o Pain pela janela.
Kiba achou graça da expressão irritada do melhor amigo e se colocou ao seu lado, também de frente para o espelho.
— Ainda se estressando com o cara? Não acha que está exagerando? O maluco é foda naquilo que faz, aprender com aquele cara é uma honra.
— Diz isso porque não é você que tem que ouvir que faz tudo errado sempre. Nós dois aprendemos com o Ero-sennin, o que faz ele pensar que é melhor que eu?
Kiba o analisou por um curto período de tempo, ponderando se deveria ou não falar sobre aquilo, mas no fim, decidiu por ser honesto com o melhor amigo.
— Mano, sei que seu lance com o Pain foi foda pra você e tal, mas tá geral reclamando do seus desenhos sabe? Seu trabalho de linhas tá fraco, suas cores estão…
— Ah porra Kiba, até você?
— Talvez você devesse dar uma chance para o maluco. Tu era o melhor tatuador daqui, Naruto, avalia o seus trabalhos de antes e compara com os atuais, tá ruim cara. Chega desse rancor todo, o cara tá tentando ficar numa boa, vira a página.
Naruto desviou o olhar e encarou o próprio reflexo no espelho novamente. Seu trabalho havia mesmo decaído aquele ponto? Havia. Sabia que não era mais o mesmo, sabia que guardar toda aquela mágoa o havia tornado alguém completamente diferente, mas ele estava ferido, quem age normalmente enquanto vê o seu mundo ruir?
Assim que saiu banheiro e voltou para o estúdio, tentou uma abordagem mais pacífica. Se Kiba estivesse certo e realmente ele houvesse se tornado um artista tão medíocre, ele precisaria reverter aquilo e ninguém no Japão era melhor que Pain para ensina-lo, ele sabia bem daquilo por mais que se recusasse a admitir.
— Pain, pode me explicar mais uma vez o motivo de eu estar fazendo errado?
O outro pareceu ter ficado surpreso com aquela mudança de atitude, mas aprovou o novo comportamento do rapaz. Sorriu para Naruto e apontou para máquina em um aceno de cabeça, Naruto entendeu o pedido mudo, se sentou em seu lugar e sorriu docemente para Hinata.
— Vamos recomeçar?
A menina sorriu e voltou a deitar de bruços na maca. Naruto refez marca do decalque com o marca texto e direcionou os olhos para Pain.
— Me perdoa por estar complicando tudo esses dias. Eu… eu estou magoado e…
— Aqui não, Naru, não agora. Tenta se concentrar no desenho, você não pode fazer arte se o seu coração e sua alma não estiverem unidos pra isso.
— Você sabe como é engraçado um homem cheio de piercings, com essas lentes roxas bizarras, falando esse tipo de coisa?
Pain sorriu e mordeu o lábio inferior. Naruto também pareceu estar constrangido e desviou o olhar para o desenho que cobria metade das costas de Hinata.
— Hina, vai doer um pouquinho, mas te garanto que vai valer a pena. Te dou minha palavra.
— Confio em você Naruto-kun.
Pain sorriu em aprovação pela mudança de atitude e voltou a instruir e apontar os pontos que precisavam ser melhorados, ficou satisfeito por Naruto estar realmente se empenhado em melhorar desta vez.
Ver Naruto se desfazer da atitude ofensiva fez seu coração vacilar por um instante, se seu estômago gelar. Sabia que não davam mais certo, já haviam tentado por vezes demais, mas era impossível não se sentir vulnerável perto dele.
Ao fim do expediente, Naruto não tocou no assunto como Pain imaginou que ele o faria, apenas se despediu, pegou sua mochila e foi embora.
Quando finalmente ficou sozinho, olhou para o estúdio uma última vez, antes de fechar a porta e caminhar na direção oposta a qual Naruto fora minutos antes, sentindo seu coração aquecido e sua mente tumultuada com todas as dúvidas que aquele contato com Naruto lhe trouxera.
Os dias que se seguiram foram realmente produtivos e Naruto havia voltado a se sentir vivo novamente. Se sentia feliz novamente como artista e se esforçou para voltar a ser o profissional que sempre fora. O sorriso voltou para os seus lábios e era como se tivesse redescoberto a alegria de viver. Quando constatou isso seu coração se encheu de temor.
Naruto temeu que o responsável por sua mudança brusca de humor fosse o amor que ainda sentia por Pain e recuou. Temeu ainda amá-lo como antes e pior, temeu que dessa vez amasse sozinho. Por isso, nos dias seguintes evitou manter contatos demorados ou conversas sobre o passado com o ex namorado, não queria mais se sentir tão vulnerável, tão desprotegido.
— Você tá bem? Estou te sentindo distante. Fiz algo que te magoou?
Ambos estavam lanchando em uma lanchonete próxima ao estúdio quando Pain lhe indagou em um tom carregado de preocupação. Naruto só havia aceitado a pausa para o lanche porque o dia cheio no estúdio o impossibilitou de ter uma refeição decente, mas claro que aquilo traria consequências.
— Não, eu só… - Naruto brincou com o piercing entre os dentes e desviou o olhar para o onigiri que segurava. — Eu… quero pedir perdão sabe?
— Naruto não precisa, já faz muito tempo.
— Mesmo assim. Eu fui um babaca no dia da festa do Nagato, fui babaca no dia que fui até seu apartamento… eu… - Coçou os cabelos e olhou para cima, como se esperasse uma coragem divina para prosseguir. — Eu errei demais com você. Me perdoe… eu … eu só amei demais você e morria de medo de te perder, por isso eu era tão ciumento.
— Isso não justifica. - Sua voz era séria, mas o carinho emitido por ela era quase palpável. — Agir desse jeito que você vem agindo, vai afastar as pessoas ao invés de mantê-las por perto. O amor é livre, Naru. Amar alguém é ter a oportunidade de ir embora todos os dias e mesmo assim querer ficar.
Naruto franziu o cenho e demorou alguns minutos para entender o sentido por trás daquela frase.
— Quando você dizia que eu te sufocava, você queria dizer que o que te magoava era eu não deixar você ir?
— Não Naruto, o que me magoou foi você não acreditar que eu sempre escolheria ficar. Eu pouco me importava pra quem me queria ou não, porque eu sempre escolheria você.
Naruto não disse mais nenhuma palavra, apenas absorveu aquela afirmação e, pela primeira vez, entendeu quando Pain dizia que ciúme não era demonstração de amor, mas a confiança era.
Sentiu o estômago embrulhar e quis ir pra casa.
O quanto a culpa do término era sua? O quanto afastou Pain enquanto estava preocupado em mantê-lo perto?
Não dormiu direito aquela noite e nem nas próximas que se seguiram. O fantasma da culpa assombrava seus sonhos e Naruto se sentia sufocado nas próprias memórias do passado. Até mesmo trabalhar estava se tornando difícil e ele chegou a um ponto que já não sabia ao certo o que fazer.
Ele sabia que continuar com aquilo acabaria com sua saúde emocional e teve ainda mais certeza quando as semanas passaram e as brigas desapareceram. Quando os olhares magoados que recebia foram substituídos por olhares de devoção, os mesmos olhares que o fizeram se apaixonar perdidamente por Pain enquanto ainda era somente um aprendiz de Jiraya.
Odiava se sentir desse jeito, odiava saber o quanto ainda estava impregnado por todo aquele amor avassalador mesmo após tantos meses, então decidiu recuar. Arrumou um estágio em outra província e decidiu que se afastaria de Pain e iria se redescobrir como artista. Jiraya estava certo, ele tinha piorado, havia perdido o amor pela arte e isso o matava pouco a pouco a cada dia.
Porém, ficar em Osaka não era a opção, não aguentava mais pisar naquele estúdio e olhar para o rosto do ex e saber que o perdeu por pura imaturidade de sua parte, que o perdeu por seus ciúmes infundados, por suas paranoias e sua falta de confiança. Se tivesse sido mais maduro… se houvesse ouvido mais e deduzido menos, confiado mais e acusado menos.
Após convencer Jiraya que um estágio em outro lugar era tudo que precisava para entrar novamente no eixo, arrumou as passagens e as malas. Iria partir ao amanhecer, então optou por ir para cama mais cedo.
Mal havia se aconchegando debaixo das cobertas, quando o som da campainha o obrigou a levantar. Caminhou a passos arrastados até a porta e sentiu o coração acelerar quando encarou o rosto de Pain.
— O que você faz aqui?
— Posso entrar?
Naruto cedeu a passagem e observou Pain caminhar de um lado para o outro, enquanto começava a dizer palavras que nunca foram concluídas e o olhar como se implorasse para que Naruto o entendesse sem que ele precisasse dizer nada.
— Eu não estou entendendo Yahiko, o que você faz aqui? Aconteceu alguma coisa?
— Aconteceu.
Naruto sentiu o ar parar de circular em seus pulmões no mesmo momento que Pain se aproximou de seu corpo.
— Aconteceu que eu fui covarde. Aconteceu que eu ficava esperando você perceber e esqueci como você é lerdo para essas coisas.
Naruto o olhou ainda mais confuso e Pain riu com sarcasmo.
— Está vendo só?
— Pain, você não tá fazendo o menor sentido…
— Eu fui covarde pra te dizer o que eu sinto, Naruto, então fiquei esperando que você olhasse pra mim e soubesse, que você sentisse o que eu queria te dizer sem palavras, o que eu queria te mostrar… o que eu preciso te mostrar.
Naruto sentiu as mãos de Pain lhe acariciar o rosto e sentiu a garganta ficar seca. Seu corpo inteiro vibrava, cada célula de seu corpo clamava por aquela paixão como um organismo reage ao entrar em estado de abstinência.
— O que você queria que eu soubesse? - O sussurro de sua voz fez a pele de Pain arrepiar e ele aproximou ainda mais seu rosto ao dele. — Diz pra mim, o que você queria que eu soubesse?
— Queria que você soubesse que pra mim ainda não acabou, Naruto. Que ainda é em você que eu penso, ainda é para você que eu quero voltar.
Naruto sentiu o seu corpo ser prensado contra a parede no mesmo momento que seus lábios foram capturados em um beijo embevecido de saudades. Suas mãos exploravam o corpo do outro como se fosse a primeira vez que se viam, que se sentiam.
Cada pedaço de pele era beijado, cada marca de tinta que enfeitava o corpo de ambos, tudo era tocado como se fosse a primeira e a última vez.
Cada marca com a boca que Pain fazia na pele de seu pescoço, era uma nova marca em sua alma, em seu coração, em seu ser.
— Eu senti tanto a sua falta meu amor, eu pensei que nunca mais te teria outra vez.
— Eu estou aqui Naru, estou aqui pra sempre.
Pain desceu as mãos para o quadril do outro e o suspendeu. Caminharam até a cama, ainda com os lábios unidos, como se entoasse um cântico divino, onde somente dois corações que se amavam poderiam usufruir da melodia.
As mãos ávidas de Pain fizeram a tarefa de tirar a sua roupa e Naruto retribuiu o gesto. Ambos estavam nus, nus de corpo, nus de almas, completamente nus.
Se amaram por cada segundo daquela noite, se amaram além do físico, além do carnal.
— Eu não quero perder você… nunca mais quero perder você.
O murmúrio da voz de Naruto era misturado entre os gemidos, enquanto Pain investia o seu corpo contra o dele. As mãos fortes buscaram as mãos de Naruto, enquanto a promessa de seu coração foi selada:
— Você não vai me perder meu amor. Eu tô aqui, eu sempre estarei aqui.
….
Naruto sempre achou que o amor pela tinta o uniu a Pain. O dom que os dois possuíam de colorir e trazer a beleza para o corpo, a sintonia de estarem conectados pelas cores, pelas formas, pelos símbolos. Mas ali, no meio daquela estação de metrô, enquanto beijava o namorado demoradamente, antes de embarcar para a província de Saitama para se aprimorar e se redescobrir como artista, Naruto percebeu que talvez não fossem inspirados somente pela tinta.
— Me liga assim que chegar lá, vou ficar te esperando.
— Não quer mesmo que eu fique? Vou ficar lá por seis meses.
Naruto ofereceu um de seus sorrisos enormes e Pain aproveitou a estação vazia para tomar seus lábios uma vez mais.
A pergunta de Naruto foi sincera, mas Pain sabia que Naruto precisava primeiro se redescobrir e só depois poderiam tentar pela quarta vez.
— Tenho certeza que você vai voltar pra mim, Naru. Do mesmo jeito que eu sempre volto para você.
Naruto sorriu uma última vez antes de entrar no metrô rumo a sua descoberta como artista e como um ser humano melhor.
Talvez realmente não fossem inspirados pela tinta, e sim, fossem inspirados pelo amor.
Thank you for reading!
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