Estou sentado em uma banco de praça, sozinho, observando como as pessoas parecem verdadeiramente felizes, um cigarro queima entre meus dedos e sua fumaça invade o ar noturno da mesma forma que sou engolido pela compreensão do que tivemos e que não conheço você, nunca conheci.
Tudo o que tive de você foram ilusões muito bem projetadas e aceitas facilmente.
Lembro da primeira vez que te vi, foi aqui, nesta praça. Você estava com aquele sobretudo verde e reclamando de alguma coisa com seu irmão. Lembro de você olhar para mim e sorrir. Me apaixonei por aquele sorriso, não que eu soubesse disso naquele instante, mas depois de frequentar, todos os dias, o mesmo local e horário é impossível não se notar, isso durou até você mesmo se apresentar, pois eu não tinha coragem de tomar iniciativa.
“Sou Loki, o que vem fazer todos os dias aqui?”
“Shikamaru, gosto da paisagem”. Foi uma vitória não ter gaguejado, mas não foi possível esconder o suor e tremor nas mãos. Você provavelmente não lembra disso, talvez sequer tenha sido importante, agora você tem coisas melhores para se preocupar, memórias novas para construir.
Mas eu, tolo, me agarro as lembranças de nossos momentos falsos, pois estou olhando para você agora Loki, estou realmente vendo você. E o Loki que me foi apresentado não existe. Nunca existiu.
Eu ainda lembro do toque das suas mãos sobre as minhas na primeira noite em que saímos, dos dias em que deitavamos na grama e olhávamos as nuvens, da sua risada gostosa ocasionadas de coisas vergonhosas que te contei, do seu olhar divertido, de quem está sempre aprontando alguma coisa.
Lembro do rastro ardente sobre cada centímetro da minha pele que foi tocada por você, da maneira exigente que seus lábios tocavam os meus, do apertar possessivo em minha cintura, de como arrancava o elástico que mantinham meus cabelos presos dizendo gostar deles soltos, dos carinhos trocados após o prazer.
Também lembro de cada detalhe seu, eu costumava correr os dedos sobre as sarnas das suas costas, todas provocadas pelo sol, de embrenhar meus dedos em seus cabelos sempre tão macios, beijar o se nariz delicado, contar cada pinta espalhada pelo seu corpo como se fossem estrelas, você era o meu céu. Também contemplava bem fundo nos seus olhos, e ainda assim, eles conseguiram me enganar.
As pessoas me julgam tão inteligente, um gênio até. Me diga Loki, onde está a inteligência em aceitar mentiras e migalhas como se fossem amor? Onde estar a genialidade em ter o coração arrancado do peito. Em se deixar ter o coração partido.
Como posso ser tão tolo? De que me serve um QI acima da média se não sou capaz de aceitar que nossos momentos não foram reais, se não me serve para ajudar a me reerguer.
Agora vejo você tocar as mãos dele em meio a tantas pessoas, você nunca me permitiu te tocar assim, e agora você o faz espontaneamente, por outra pessoa. Sem vergonha, sem reservas, sem medos. Sem nenhum dos motivos que me pontuou, eles nunca existiram de verdade não é?
Meu cigarro está no fim, mas tudo bem, tenho toda uma carteira no bolso da camisa que você me deu. Lembra dela, é verde e possui um cervo estampado. “Comprei pensando em você”. provavelmente não, mas o seu sorriso travesso está gravado em minha memória a ferro e fogo. Eu sou aquele brinquedo antigo, aquele que você cansou de brincar, trocou por um novo e mais interessante, um que você guarda com carinho por longos anos.
Você parece feliz com ele, seus cabelos negros contrastam com os ruivos dele, me pergunto se você conta as sarnas dele como eu fazia com as suas, pois você o olha como se fosse o seu céu, talvez o seja.
Jorge Weasley, é o nome dele, um rapaz vindo da Inglaterra e família grande, ele sempre te faz sorrir com suas piadas divertidas e seus truques de mágica. E eu nunca imaginei que fosse te ver sendo tão verdadeiro como é quando está com ele. Pois eu realmente te vejo agora.
E eu sinto inveja, pois tudo que tive foram mentiras, um teatro bem encenado, um espetáculo que chegou ao fim. Minha própria tragédia Shakespeareana.
Sinto inveja da forma que você sorri para ele, de com seus olhos procuram os dele, de com suas mãos se tocam, dos seus lábios selando os deles com devoção, dos sussurros ao pé do ouvido, dos seus dedos secando as lágrimas alheias. De gestos que você nunca direcionou a mim, pois tudo que me foi entregue, foram ilusões, migalhas de afeto.
Do outro lado da a praça, seus olhos se encontraram com os meus, eu viro o rosto. Perceber que seu olhar me é estranho dói. Eu estou olhando para uma pessoa exatamente igual a que julguei ser o amor da minha vida, com quem casaria e teria filhos e netos, mas você é um completo desconhecido. Dói saber que nunca vou realmente conhecer você, pois seu verdadeiro eu, pertence a outra pessoa e com ela está vivendo os planos que contruí com um estranho que eu julgava ser você.
Você toma a não dele entre as suas e se vão, caminhando lentamente, como se tivessem todo o tempo do mundo, e realmente o tem, afinal prometeram no altar estarem juntos até o fim. Você usa um cachecol verde e ele um vermelho e dourado e isso remete a algo das tradições familiares dele. Na sua casa, a família dele te espera junto a sua, seu filho deve estar sendo mimado por sua sogra, que te presenteará com um suéter com o seu nome, como se reafirmasse que você faz parte do amontoado de ruivos que é essa família.
Não percebi quando as lágrimas começaram a rolar por meu rosto, mas me dói te ver ser tão feliz, enquanto eu estou aqui, me sentindo patético e isso é tão inerente a minha personalidade, sentado em um banco de praça escondido, tentando juntar o pedaços do meu coração, aquele que foi despedaçado por um estranho.
Pois é isso que você é, que sempre foi. Eu não consigo sentir raiva de você, pois não foi você quem me destroçou, foi um desconhecido com o toque, a voz e o rosto igual ao seu
E tudo o que tenho, são memórias, de planos, sonhos, de um amor vivido ao lado de um estranho.
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