zephirat Andre Tornado

A guerra civil está a conhecer um novo rumo. Depois do contra-ataque do Império Galáctico, a Aliança prepara a ofensiva final que lhes dará a vitória ou a derrota definitiva. A princesa Leia, cansada do seu trabalho exaustivo, deseja uma pausa. Então, resolve fazer uma viagem…


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#Mimos #Girl's day out #Compras #Intervalo na guerra #Carrie Fisher #Artoo #Threepio #Luke Skywalker #Leia Organa #Guerra das Estrelas #Star Wars #Princesa #Alderaan
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Capítulo Único


Tinha as mãos pequenas.


Olhou para os dedos brancos, esguios e magros. Pequenos. Contemplava as suas mãos com paciência, demoradamente, com o tempo que muitas vezes sabia não ter. Todos os seus minutos eram contados. As horas repartidas por diversas tarefas numa agenda perfeitamente alinhada e preenchida, exaustivamente programada para que as pausas fossem mínimas.


Havia muito a realizar, muito a orientar, muito a definir. O ciclo repetia-se, eterno e cansativo. Realizar, orientar, definir. Realizar, orientar, definir…


Ela continuava a ser a senhora do seu destino, todavia, e se tomava decisões em prol dos outros, também tinha consciência de que poderia decidir em seu proveito. Se não o fizera antes, fora porque o ritmo elevado do seu trabalho também servira os seus objetivos. Ela queria estar ocupada. Desse modo, pensaria menos no que tinha perdido, no que estava afastado, nas suas penas, mágoas e outras tristezas.


Assim, se olhava para as suas mãos pequenas, naquele momento em que tinha suspendido a contagem dos minutos da sua agenda apertada, era porque tinha desejado mandar no cronómetro, porque tinha ordenado que este se detivesse. Ela precisava de um intervalo. Permitir-se fechar os olhos e relaxar a postura. Ser ela própria.


Estava como que hipnotizada, fixando as suas mãos, arejando a mente para desanuviá-la das preocupações e dos anseios. Queria partir para aquela viagem como se fosse noutros tempos. Daria esse presente a si mesma. Umas curtas férias, minúsculas realmente pois não chegariam a dois dias, contando com o tempo que iria despender no caminho de ida e volta. Não se importava por ser tão pouco, um par miserável de dias. Iria ver outros cenários, outros rostos, iria pronunciar outras palavras, iria demonstrar outra faceta – mais ligeira, fútil, néscia.


Mãos pequenas, mãos delicadas.


Mãos firmes que não hesitavam em dar a morte a quem colocava em perigo os seus amigos e aliados.


Mãos quentes que proporcionavam carinho e alívio a quem o seu coração se dedicava.


Pousou-as sobre o móvel branco.


Sentia nos ombros o peso do mundo que carregava a dissipar-se lentamente, um manto maciço, feito de metal, a ser levantado e a ser retirado das costas que arrefeciam, antes quentes com essa proteção opaca que se recheava de responsabilidades e de deveres. Era agradável libertar-se, de vez em quando, caminhar por outros trilhos, inventar uma nova personalidade ou recuperar os pedaços soltos do que ela tinha sido antigamente, nos dias mais felizes.


Se bem que ela nunca conhecera dias absolutamente felizes. Desde muito jovem que lutava e se afadigava, que corria atrás de um ideal, que gritava sobre a justiça, que condenava a violência, que se revoltava contra todos os tipos de ditadura. Era, essencialmente, uma rebelde. Fora a senadora mais jovem que ingressara no Senado Galáctico. O dia tinha sido de triunfo pessoal – finalmente, um palco gigantesco para expressar a sua indignação e convencer outros de que ela não se encontrava no lado errado da contenda. Pelo contrário.


A porta dos seus aposentos deslizou. Visitas.


Aborreceu-se, eram inoportunas.


Abriu a gaveta de cima do móvel branco e começou a escolher algumas roupas práticas que usaria na viagem. Escondeu um sorriso travesso. Quando chegasse ao planeta, logo faria as loucuras que estava a imaginar. Tinha uma tarde inteira, por sua conta, para realizar todos os devaneios possíveis. Uma noite onde dormiria num quarto de um alojamento previamente marcado, com classe e decoro, que tinha sempre uma festa prevista, para divertir os clientes, a seguir à ceia farta onde ela iria comer sem restrições. Iria pedir uma garrafa de uma bebida espirituosa, talvez até chegasse a dançar com algum alienígena mais atrevido que a fizesse rir, contando que fosse inofensivo. Não suportaria ter de aturar os arranques de um conquistador barato.


- Sua Alteza!


A voz do androide dourado tocou-lhe num nervo sensível. Sabia que podia ser ele, mas tinha a secreta esperança de que não fosse. Susteve a respiração, enfiando as mãos na gaveta. Tocar nos tecidos perfumados e macios das roupas suavizou um pouco a sua irritação. Só um pouco.


- Compreendo que não deveria intrometer-me nesta questão, é de uma tremenda indelicadeza da minha parte, mas depois de ter tomado conhecimento do facto não podia ficar calado quando acredito, princesa, que poderá colocar-se num perigo desnecessário.


Não queria ser interrompida naquela tarefa corriqueira de fazer uma mala para uma viagem. Não precisava de conselhos, nem de avisos, nem de repreensões ou de paternalismos. Nem sequer do discurso efusivo e de uma dicção perfeita de um androide protocolar demasiado nervoso para uma máquina. Queria empacotar alguns pertences, partir e regressar, sem causar alaridos. Simples. Seriam apenas dois dias. Mais simples ainda. Revirou os olhos e fechou a gaveta, empurrando-a com alguma força, segurando as roupas na mão esquerda. Ficara de mau humor…


- Quero que reconsidere essa ideia e que perceba que apenas queremos o seu bem-estar, princesa.


Threepio não vinha sozinho, o plural na frase alertou-a e ela olhou para a pequena tropa de apoio que reunira para fazer valer o seu ponto de vista de androide consternado. Artoo apitou ao deslizar para o interior do quarto e a porta fechou-se depois de Luke Skywalker entrar.


Ao encará-lo, ela soube que iria ter o que não precisava, desde os conselhos aos paternalismos, e de uma forma tão doce que seria violento iniciar uma discussão. Era incapaz de argumentar com Luke, agora era-lhe impossível depois de ele ter estado recolhido num sistema distante e misterioso onde tinha recebido o treino dos Jedi com um dos antigos mestres da Ordem. Ele não gostava de falar desses dias, ela não tentava sequer que ele fizesse a revelação.


Sem cumprimentá-lo, sem saudar qualquer um dos visitantes, ela agarrou nas roupas e enfiou-as com um safanão numa pequena mala aberta em cima da cama. O quarto era pobre em decoração, austero como uma camarata militar. Nunca quisera adornos ou outros adereços mais femininos a embelezar o espaço, um objeto que a ligasse ali. Pouco parava naquele exíguo compartimento, só para dormir e quando, efetivamente, considerava que conseguiria conciliar o sono. Usualmente, dormitava onde se encontrava a trabalhar, sobre os tampos das mesas onde se espalhavam relatórios e documentos para despacho, inseridos em pranchetas eletrónicas transparentes.


Um argumento a seu favor, pensou. Estava a precisar de férias, de dormir. Não lhe podiam negar a exigência, que se tornava muito física, para além de ser obviamente psicológica. Uma vontade sua. Como Threepio dissera, uma ideia.


- Tens a certeza sobre isto, Leia?


Curiosamente, ele também não a cumprimentou. Havia uma certa premência na situação, que obrigava a abreviar uma conversa socialmente aceitável. Ela regressou ao móvel branco, abriu a segunda gaveta. Respondeu:


- Sim, Luke. Não vais conseguir demover-me. Lamento.


Ele cruzou os braços e franziu a fronte enquanto observava-a a tentar ignorá-lo, à medida que ia enchendo a pequena mala de roupas.


- Quando o Threepio me contou, não quis acreditar que irias fazer isto…


O androide teve um espasmo quando ela lhe votou um olhar mortal. Dobrou os braços pelos cotovelos, as articulações metálicas rangeram. Artoo teve a sensatez de silvar-lhe para que se mantivesse calado e obediente, que sobretudo escutasse antes de novamente manifestar-se contrário ao que estava a acontecer. Já tinha contado o segredo. Os seus créditos eram nulos junto da princesa.


Fora ela, obviamente, que contara a Threepio que iria sair num curto passeio, para descansar pois sentia-se exausta, pois era esse androide que lhe fazia a gestão da agenda e auxiliava-a nas reuniões diplomáticas. Após um dia extenuante ela fizera-lhe a confidência, em tom de desabafo, depois entendeu que iria concretizar essa necessidade e que iria mesmo fazer uma pausa. Conseguira a autorização para se ausentar pelo período solicitado, estava nos preparativos para a sua curta saída e Threepio dera com a língua nos dentes, maneira de se colocar a questão, pois o androide não possuía língua, nem dentes.


Ela imitou Luke e também cruzou os seus braços, ocultando as suas mãos pequenas. Perguntou com uma ponta de raiva:


- E o que vou eu fazer?


- Vais deixar a frota e fazer uma viagem.


- Dois dias, Luke!


- Vais expor-te desnecessariamente ao perigo. Concordo com o Threepio.


- Não existe qualquer risco assinalável para onde irei. Nem nunca existiu. É um lugar pacífico e territorialmente neutro. A Aliança não reclama o apoio desse sistema, seria ridículo que o fizesse, nem o Império se atreve a perturbar um dos últimos santuários da galáxia.


- Poderás ser capturada…


Ela suspirou profundamente. Agitou os braços, que resolveu soltar. Dobrá-los deixava-a mais tensa e rígida, mais propensa a explosões de génio. Explicou:


- Vou para um sistema planetário minúsculo, onde apenas um dos planetas tem condições de habitabilidade. Sendo pobre em recursos naturais foi completamente urbanizado e transformado num complexo gigantesco de lojas, de casinos e de hotéis luxuosos. Vou às compras, Luke! Uma mulher precisa de ir às compras, de vez em quando… É uma necessidade básica que nós, mulheres, temos e que gostamos de cultivar… Ir às compras, arranjar o cabelo e as unhas, comer sobremesas hipercalóricas e destruir a dieta. Não espero que compreendas.


- Os tempos que vivemos são extraordinários, Leia – insistiu Luke. – Estamos em guerra. Tu és um importante membro da Aliança rebelde.


Olhou-o através das pestanas.


- Ah… Significa que em tempos extraordinários as mulheres não podem fazer o que lhes apetece?


- Não foi isso que quis dizer…


- Eu sei que estamos em guerra. Participo no conflito desde o primeiro dia. Alderaan, o meu planeta natal, foi o mentor, chamemos-lhe assim, da rebelião contra a opressão imperial. Orgulho-me daquilo que faço, daquilo que consegui inspirar, lamento todas as perdas mas existe um dia em que também eu… preciso de férias. Felizmente, existe essa possibilidade… durante tempos extraordinários.


Luke pediu, com a sinceridade na voz:


- Não vim aqui para discutir.


Leia acalmou-se, enchendo o peito de ar. Explicou, menos arisca:


- O Império não interfere nesse lugar, como te contei. As mulheres da alta sociedade de Coruscant também frequentam as lojas desse sistema. Esses estabelecimentos têm uma reputação invejável, são lojas exclusivas, com as montras decoradas com as novidades galácticas mais apetecidas em termos de moda. Se Palpatine se resolvesse sequer a beliscar os interesses económicos desse entreposto comercial, já nem falo em colocar um destacamento de stormtroopers lá, tinha uma revolução feminina às portas do palácio. Acalmar as indignadas esposas dos militares será mais difícil do que combater os rebeldes. – Leia adotou uma expressão engraçada. – Posso afirmar que esse é o único sistema intocado pela guerra, onde me poderei passear à vontade e confraternizar com o inimigo… Embora não considere as mulheres de Coruscant minhas inimigas. Conheço algumas senhoras, do tempo em que era membro do extinto Senado Galáctico. Poderei reencontrá-las, retomar conversas perdidas…


Os olhos azuis de Luke abriram-se de espanto e receio.


- Ah, não te preocupes… Essas senhoras conhecerão Palpatine, mas querem lá saber se eu estou a combater o Imperador, a quem prestam vassalagem, na minha outra vida mais séria, quando não serei tão presumida e ociosa, como sou ao pé delas! As mulheres quando se juntam discutem cores e padrões, não política galáctica.


Threepio acrescentou uma frase eloquente:


- Princesa, nunca saberemos se estamos a conviver com um traidor, mesmo num lugar tradicionalmente pacífico ou entre presumíveis amigos.


Leia ignorou-o. Olhou para Luke, dos pés à cabeça, com um ar avaliativo.


- Queres que eu te compre alguma coisa? – indagou, num tom levemente crítico.


Ele negou com a cabeça. Desenhou um sorriso tímido, captando a insinuação de desagrado em relação à forma como estava vestido.


- Não, não preciso de nada. Obrigado.


Ela fechou a mala.


- Sabes que não gosto de te ver…


- Não é assim tão mau.


- Vestido de negro!


- Leia, por favor… Sinto-me mais confortável nas roupas escuras.


- Parece que desejas… desaparecer. Parece que queres tornar-te invisível, para que não descubram que estás…


Os dois estavam próximos. Entreolhavam-se.


- Não estou triste – cortou ele, sereno.


- Então, por que razão o preto? Essa cor invoca… um certo estado de espírito.


Via-o melancólico, resguardado, discreto, os sintomas de uma tristeza entranhada, não totalmente exposta, que não brotava inteiramente dos seus treinos secretos, do seu amadurecimento. Arrependeu-se por ter puxado o assunto quando ele afirmou:


- O que aconteceu despois da Batalha de Hoth foi demasiado intenso. Tu sabes…


- Sim, sei. – Negou com a cabeça, depressa, para evitar a continuação. – Sei muito bem, Luke. Não precisas…


No entanto, ele quis dizê-lo, sem qualquer dor na voz.


- O que aconteceu em Bespin foi… extraordinário. Enfrentei-me a Vader, perdi uma parte de mim…


- Como estás a adaptar-te à prótese?


Ele mexeu os dedos da mão direita com agilidade e ligeireza. A mão mecânica imitava uma mão verdadeira perfeitamente, ninguém lhe conseguiria apontar a artificialidade daquela parte do corpo. Nos primeiros tempos, ele tinha-se queixado com dores, mas agora estava melhor, contou-lhe. O que lhe incomodava era a diferença de temperatura, pois a mão que lhe tinha sido implantada era mais fria, mas começava a habituar-se e já nem pensava que esta era postiça. O mesmo não sucedia com o sabre de luz do seu pai… Queria não tê-lo perdido. Engasgou-se nesta parte.


Luke acrescentou:


- Perdi um amigo.


A referência a Han Solo abalou a princesa, que estremeceu com um calafrio. Apertou os braços, a resguardar-se daquele frio imaginário. Refutou, assertiva:


- Ele não está totalmente perdido. Lando vai partir para Tatooine em breve. O palácio daquele vil bandido já foi localizado, a troco de subornos milionários que tivemos de pagar.


- Irei a seguir, para certificar-me de que o resgate de Han seja um sucesso. Ele não vai ficar para sempre congelado naquele bloco de carbonite, na posse dessa criatura nojenta.


- Desculpa, não quero falar nisso agora – pediu Leia inquieta. Voltou-lhe as costas. Quase num queixume, acrescentou: – Agora podes conseguir entender por que motivo preciso de me afastar, nem que seja por umas horas, de tudo isto. A pressão está a tolher o meu raciocínio, a minha vontade, a minha serenidade. Se não fizer uma pausa, começarei a cometer erros infantis e serei prejudicial aos objetivos da Aliança. Por um dia, quero esquecer-me do que está a acontecer. Até de Han…


Luke acariciou-lhe o braço direito. Sussurrou-lhe ao ouvido:


- Prometes que não te metes em confusões?


Leia agarrou-lhe na mão, enternecida com a preocupação dele. Sim, de facto, era uma mão fria, mas tão idêntica a uma mão qualquer que ela nunca saberia a verdade, se não conhecesse de antemão o que tinha acontecido.


- Prometo, Luke.


Afastou-se dele e sorriu-lhe desafiadora.


- Prometo que não lutarei com nenhuma mulher por causa de um par de sapatos com um preço ridículo de saldo.


- Não estás a levar isto a sério – censurou ele.


- Isto não é para levar a sério. São férias. As férias não se levam a sério. E mesmo que não queiras, acho que te vou comprar qualquer coisa. Uma prenda. Aliás, não é novidade nenhuma que os homens nunca querem nada para eles, mas adoram ser surpreendidos com um agrado proveniente de uma amiga especial…


O sorriso de Leia contagiou-o. O rosto de Luke iluminou-se quando entreabriu os lábios, sorrindo. Murmurou, tímido:


- Não te incomodes por causa de mim.


Ela apontou um dedo ao autómato dourado.


- Mas tu, por teres andado a falar demais, não levas nada!


- Ah, que indelicado!


- Não me fales em indelicadeza, See-Threepio, depois do que acabaste de me fazer. Foste indiscreto ao teres revelado que pretendia viajar. Era um segredo, julguei que o tinhas entendido. Vou pensar seriamente em dispensar-te do meu serviço.


O apito de Artoo foi de espanto e de troça. O androide lamuriou-se:


- Princesa, rogo-vos que reconsidere essa opção. É um prazer imenso trabalhar consigo, não me vejo a dar o meu humilde contributo noutra secção da Aliança, sob as ordens de outro comandante. A não ser o menino Luke, claro, também costumo ajudá-lo bastante… As minhas capacidades e os meus dotes linguísticos são completamente utilizados por Vossa Alteza, que compreende melhor do que ninguém onde serei mais eficiente.


Luke pousou uma mão no ombro redondo de Threepio.


- Já chega. Se não parares de falar, vais continuar a irritar a princesa.


- Oh, céus! Longe de mim, Alteza… Peço que me perdoe!


- Chiu, Threepio!


Leia carregou no botão do painel lateral e a porta do quarto abriu-se. Segurava na pequena mala e tinha colocado uma bolsa a tiracolo onde guardara previamente artigos pessoais. Um intercomunicador, cartões com acesso a uma linha de crédito, cartões de identificação forjados para despistar a sua identidade e produtos de higiene.


- A princesa perdoa-me? – quis saber o androide quase histérico. – Artoo, a princesa perdoou-me? O que achas?... Não?...


- Deseja-me boa viagem – provocou ela, com uma piscadela de olho.


- Boa viagem, Leia.


- Obrigada, Luke.


No hangar, ocupou um transportador pequeno, um monolugar que ela iria pilotar. Não requisitou qualquer escolta ou companhia, pois desejava chegar ao planeta sozinha e assim dar menos nas vistas. Não desejava ser confundida com uma daquelas mulheres de estirpe social elevada que gostavam de fazer alarde por onde passavam, deixando um rasto da obrigatoriedade da vénia e da bajulação, atestando a sua imensa riqueza, forçando a que todos os seus desejos se cumprissem. Efetivamente, ela era uma mulher de estirpe social elevada, herdeira de uma das casas reais da galáxia, os Organa de Alderaan, mas nunca exercera as prerrogativas desse estatuto especial, por considerar que não se coadunavam com aquilo que definira para a sua vida. Uma ativista política, uma defensora de causas sociais, uma guerreira irredutível.


Por outro lado, naquela viagem a sua identidade era distinta da sua verdadeira, por uma questão de segurança – não revelara esse pormenor a Luke, que talvez ajudasse a que ele confiasse mais naquele devaneio. Continuava a chamar-se Leia, mas os cartões que lhe dariam acesso ao planeta que era um paraíso do consumo e do ócio, diziam que o seu apelido era… Solo. Também não se iria esquecer de Han, como afirmara a Luke.


Mentira-lhe, mas não se sentia mal por isso. Uma mulher tem os seus artifícios, os seus segredos, que permitem que sobreviva em ambientes hostis.


Tinha acabado de inserir as coordenadas para o seu destino no painel de navegação quando lhe deram autorização para descolar e ela não perdeu tempo. Ligou os motores, aumentou-lhes a potência, segurou nos comandos com firmeza. Teria receio de desistir? Teria a impressão de que iria ser impedida?


Simplesmente não queria perder aquela oportunidade, nem queria demorar-se em pensamentos demasiado profundos e elaborados. Iria fazer compras! Não havia grande ciência e preparativos para uma ação dessa natureza…


Saiu para o espaço. Deixou para trás a fragata Redemption, uma nave da classe Nebulon-B EF76 que começara por servir de nave hospital na frota rebelde que vogava entre os vários territórios da galáxia para se escapar à perseguição cerrada do Império.


Ajustou os instrumentos, a preparar o salto para o hiperespaço. Depois o transportador seguiria em piloto automático até ao seu destino. A sua viagem iria ser de uma facilidade abençoada, umas meras duas horas-padrão e alcançaria o planeta.


Fora na fragata Redemption que aportara a Millenium Falcon depois de sair de Bespin, com Chewbacca, os androides, Lando Calrissian e um Luke ferido. Era aquele o ponto de encontro definido após a Batalha de Hoth, código Haven. Um refúgio.


E naqueles últimos tempos sentira-o como um refúgio, com todos os aconchegos e isolamentos inerentes. Perguntou-se se estaria a ser caprichosa ao querer escapar-se de um lugar tão confortável e protetor. Reparou nas suas mãos pequenas sobre a consola, a segurar na manete que dirigia a nave.


Suspirou desolada:


- Preciso mesmo de arranjar as unhas…


O transportador entrou na velocidade da luz e levou-a, sem percalços assinaláveis até ao sistema planetário situado nos territórios médios da galáxia que constituía a sua notoriedade como lugar de comércio, de luxo e de divertimento. Para se distrair durante o longo período em que esteve confinada na cabina do transportador, Leia ativara a secção que pedira para ser inserida na consola, com hologramas de uma coleção atualizada de revistas de mexericos e de moda. O pedido estranho fora atendido, mas ela imaginava, com um sorriso, o que teria passado pela cabeça confusa dos técnicos enquanto registavam no banco de dados aquela informação aparentemente frívola e inútil para uma líder rebelde. Folheara cada publicação com um interesse distraído, para se ir inteirando de quais eram as novidades mais interessantes da estação, as criaturas mais famosas e influentes, com os seus escândalos e exibições, e a viagem de ida completou-se com uma rapidez que a agradou.


No espaçoporto do planeta, que se encontrava decorado com néones e esculturas, foi recebida por um androide elegante e polido que fez uma pequena mesura e um floreado com o braço direito.


- Bem-vinda, Leia. Desejamos que a sua estadia no Templo dos Mil Sóis seja maravilhosa!


A passagem adquirida implicava o registo da sua chegada e, portanto, a indicação da sua identidade. Por uma questão de acolhimento mais cordial e diferenciado, todos aqueles que faziam parte do serviço local iriam chamá-la pelo seu nome, ao longo de todo o percurso, desde as lojas em que desejasse entrar para fazer compras, passando pelos sítios onde iria fazer as suas refeições, até ao hotel onde iria passar a noite.


O facto de conhecerem o seu nome e de o utilizarem tão publicamente não a incomodava – muito provavelmente teria assustado Luke ou Threepio. Leia não era um nome pouco comum na galáxia e uma vez que usava uma identidade falsificada, a sua estadia no sistema não seria reportada por algum funcionário mais diligente e subornado pelo Império. Continuava a acreditar, no entanto, que mesmo que se apresentasse como Leia Organa de Alderaan ninguém a iria incomodar ali. Na sua viagem de volta seria outra história… Por isso não quisera arriscar e ali seria Leia Solo, de Devaron, um mundo da região das colónias.


O ambiente daquele planeta minúsculo era efervescente e ela sentiu-se contagiar pela alegria estilizada de um sítio que vivia à custa da fantasia, do devaneio e do mundano. O sistema não tinha uma designação oficial, por ser tão insignificante no esquema galáctico era identificado nas cartas antigas de navegação como uma rota de passagem com um código alfanumérico TMS-66887. A organização que começou a explorar comercialmente o planeta, um monopólio de origens dúbias que construiu aquele gigantesco centro comercial, agarrou nas letras iniciais e transformou o acrónimo na denominação Templo dos Mil Sóis e foi assim que o sistema passou a ser conhecido.


Num gigantesco átrio, Leia escolheu um terminal livre e comprou alguns cartões que usou para fazer as marcações que achou necessárias, cabeleireiro, manicura, pedicura, maquilhagem… Confirmou a reserva no hotel e dirigiu-se primeiro para o edifício gigantesco, uma parede de concreto e metal recortado em milhentas janelas com terraço, rodeado por jardins com lagos artificiais e repuxos. Fez o check-in, recebeu alguns vales de desconto na receção para usar em determinadas lojas, obteve informações sobre festas e outras celebrações, conheceu a seguir o seu quarto que era de um desafogo escandaloso, comparado com o cantinho onde dormia a bordo da fragata rebelde e aí, num armário, deixou a sua mala.


Preparou-se para uma tarde relaxante de furioso consumismo.


Entrou no salão de beleza e foi recebida como uma velha amiga ausente que tinha regressado de uma outra época.


- Leia, minha querida! É um prazer receber-te! – cumprimentou efusivamente a mestre-de-cerimónias que se encontrava na arcada que constituía a entrada. Conferiu a marcação e as portas duplas abriram-se, revelando um magnífico salão decorado em tons de azul e rosa, luzes cintilando e música suave a criar um ambiente de requinte.


Os androides eram de uma simpatia extrema, tão atenciosos que fariam corar Threepio se este tivesse essa faculdade. Leia deixou que tratassem dela, abandonando-se numa postura indulgente de rainha dominadora de povos. Conversou com outras frequentadoras do salão, comentando com o seu habitual bom humor as últimas notícias do momento, que ela tinha decorado das revistas que lera no transportador. As suas risadas eram régias, colocadas habilmente entre comentários e outros apontamentos ácidos.


No salão, lavou, cortou e esticou o cabelo, que arranjou num penteado complicado de tranças e argolas que estava a ser muito solicitado naqueles tempos, assim lhe confidenciou, sabedora e untuosa, a fêmea alienígena que lhe tratou das madeixas castanhas e sedosas da sua farta cabeleira. Num anexo, foi massajada após um curto banho de vapor perfumado que a deixou saborosamente entontecida. Nesse local, trataram-lhe dos pés, de seguida das mãos. Não quis uma cor berrante para o verniz que lhe propuseram para cobrir as unhas, preferiu uma transparência brilhante e quando a esteticista terminou, as pontas dos seus dedos brilhavam num dourado discreto. Seguiu-se uma maquilhagem suave, que lhe acentuou as maçãs do rosto salientes e os seus olhos expressivos.


Ao olhar-se ao espelho, pensou em Han. Gostaria muito que ele a visse como estava agora, penteada e pintada, radiante como uma noiva. Ruborizou ao pensar na curiosa possibilidade de se casar, um dia, com o ex-contrabandista.


Saiu do salão, orgulhosa com o seu aspeto sofisticado. Considerava que realçara a sua juventude e a sua força de vontade. Não queria exagerar na transformação, pois desejava reconhecer o seu reflexo sempre que passasse por uma montra ou pelas inúmeras superfícies espelhadas que decoravam os passeios pedonais percorridos pelos visitantes.


Dirigiu-se às lojas de roupas. Experimentou tudo o que lhe apeteceu, exigiu toda a paciência das lojistas enquanto vestia e despia casacos, blusas, camisas, calças, saias, macacões, vestidos, túnicas e outras peças de alta-costura, de corte inusitado. Resolveu-se a usar um vestido que lhe acentuava as curvas, com bonitos remates, mandando empacotar as outras peças que adquirira, mais a roupa com que tinha entrado naquela loja onde fizera a maior parte das compras. Não estava a prever voltar a usar aquele vestido aprimorado nos tempos mais próximos, talvez só no dia da grande vitória da Aliança sobre o Império, mas a extravagância soube-lhe bem e gostava dos olhares de cobiça e de admiração que lhe lançavam.


Nas sapatarias experimentou um sem fim de sapatos finos e desconfortáveis, de salto alto e de desenho rico, diferentes das botas práticas que costumava calçar. Comprou uns sapatos para condizer com o vestido, mas também comprou dois pares de botas novas que lhe seriam mais úteis no seu dia-a-dia. Contudo, na festa da vitória rebelde iria usar novamente aquele par lindíssimo que lhe conferia um andar flutuante e sensual.


Contratou uma plataforma androide portátil para carregar os sacos e as caixas das coisas que tinha comprado, pois começavam a pesar-lhe nos braços delicados que o vestido, de manga curta e abaulada, mostravam.


Perdeu-se nas joalharias, admirando os colares e os anéis recheados de pedras preciosas coloridas, os brincos e diversos adornos que colariam pequenas estrelas em qualquer vestuário. Nesse tipo de loja foi mais comedida porque não queria esbanjar créditos sem tino. Estava num afã de gastos e de ostentação, mas não iria exagerar. Havia uma parte racional do seu cérebro que ela mantivera ativa, porque era fácil perder-se nos apelos deliciosos daquele mundo perfeito de felicidades eternas. Escolheu um fio longo composto por pingentes vermelhos que aplicou no decote do vestido, que lhe deu um toque de rebuscado, que a fez recordar que ela fora, em tempos, uma princesa mimada com todas as prendas devidas a uma menina da realeza.


Sorriu encantada com o regresso a uma personagem que ela, verdadeiramente, nunca abandonara. Preferia, sem dúvida, a senadora e a guerreira, mas os palácios de Alderaan iriam fazer sempre parte das suas lembranças mais queridas.


Nas perfumarias, inebriou-se com os aromas que lhe apresentavam de uma forma tão suave que ela ria-se, imaginando-se embriagada só de cheirá-los. Doces e ásperos, faziam-na viajar por florestas, oceanos, desertos, planícies e céus coloridos, mundos onde os conflitos tinham sido arredados, onde se vivia numa harmonia completa. Escolheu as essências que lhe tinham provocado o olfato de uma forma mais pujante, que lhe tinham mostrado as imagens mais reais.


No corrupio das compras, estacionava em pastelarias cujas prateleiras exibiam sobremesas tentadoras, confecionadas com ingredientes e especiarias inéditos, apregoados nas placas que acompanhavam cada exemplar. Provou fatias de diversos bolos, que foi pedindo conforme a exigência da sua gula, bebeu saborosos refrescos frutados que lhe mataram a sua sede exigente.


Evitou as salas de jogo disponibilizadas pelos casinos que pululavam pelo planeta, apelando novamente ao seu lado racional. Estava ali para divertir-se, para fazer compras e sentir-se mulher, não para perder dinheiro e inventar vícios que não possuía. Nessas salas, o ruído das máquinas era ininterrupto, a acompanhar o tilintar das moedas a tombarem nos recipientes metálicos, os gritos de triunfo dos jogadores, as vozes maviosas dos androides que incitavam as apostas.


No final da tarde, mesmo com os lanches que tinha deglutido, entusiasmada com as texturas que saboreava, extasiada por ser tudo incrivelmente delicioso, apetecia-lhe uma ceia composta por diversos pratos típicos de uma qualquer gastronomia que ela ainda não tinha provado. Também estava com disposição para ir ouvir música, beber um digestivo e dançar um pouco.


Regressou ao hotel, usou as instalações de spa disponíveis no estabelecimento hoteleiro. Banho de imersão numa piscina quente, com cuidado para não prejudicar o penteado, uma segunda massagem que lhe relaxou o corpo tenso das inúmeras visitas a tantas lojas fantásticas, um retoque na maquilhagem.


Usou um segundo vestido, em tons púrpura e dourado que lhe permitiu usar novamente o fio dos pingentes vermelhos. Pensava que estava completamente louca ao ter comprado dois vestidos que nunca mais usaria.


Ora, um seria para a festa da vitória da Aliança… O outro seria para a segunda festa da vitória da Aliança… Adorou ter estes pensamentos insanos!


No restaurante ricamente decorado do hotel escolheu uma série de pratos do cardápio que cobria várias influências gastronómicas, desde a simplicidade dos territórios da Orla Exterior, à intensidade dos acepipes dos mundos do Núcleo. Bebeu vinho produzido nos vinhedos famosos das Colónias, com uma ligeira nostalgia ao recordar-se do néctar afamado de Alderaan, um dos vinhos mais reconhecidos da galáxia. Terminou com uma série de bolachas secas e ácidas, recheadas de compotas produzidas nos mundos da Orla Interior. Durante o jantar dera uma volta completa pela galáxia e sentiu-se satisfeita.


Para terminar a noite, foi para o clube que, de acordo com a apresentação holográfica que consultou no átrio do hotel, tinha a festa que lhe pareceu mais adequada aos seus desejos de diversão.


- Leia, a tua noite será esplêndida! – saudou o androide que a conduziu à mesa que tinha reservado para si.


Enquanto esperava pela bebida que encomendara, começava por um licor de fruta que lhe despertou a atenção no rol de bebidas do menu, entabulou conversa com um par de senhoras, pois uma dela fingiu tê-la reconhecido dos tempos de infância. Estava obviamente alcoolizada, Leia não lhe destruiu a boa disposição e respondeu a todas as solicitações da senhora que afirmava que ela tinha sido a melhor companheira escolar que poderia ter desejado, no antro competitivo de Coruscant.


Bebeu o licor, pediu um segundo.


A música era agitada, mas sem ser estridente ou incomodativa. No centro do clube havia uma pista de dança iluminada por holofotes, que se moviam ao ritmo do som, que convidava os frequentadores do clube a experimentarem uns passos de dança, na desinibição típica que o álcool encetava.


No sofá acolchoado a veludo sentou-se um Ubese que encostou, num brinde e numa saudação, o seu copo ao dela. Leia olhou para a criatura com curiosidade pelo seu desplante, mas não fez qualquer gesto para afastá-lo. Como todos os da sua espécie, a criatura era alguém gracioso e com um aspeto frágil, um rosto afilado e uns olhos vazios e bulbosos. Devia ter existido, algures nos seus ancestrais, um cruzamento com outra espécie, pois não usava a máscara habitual nos Ubeses que lhes permitia respirar sem problemas as atmosferas mais comuns. Mas as dificuldades derivadas da contração das suas cordas vocais persistiam, pelo que os sons que produzia eram arranhados e indecifráveis, então comunicou-se com ela, essencialmente, por gestos.


Leia gostou da companhia. Era alguém diferente. Um alienígena inofensivo, apesar de não ser tão divertido como antevera. Sabia dançar, todavia, o que foi uma agradável surpresa e era atrevido o suficiente, sem ser descarado, para fazê-la rodopiar no centro da pista do clube. Choviam palmas sobre ela que bailava de uma forma tão suave. Como uma princesa.


Curiosamente foi através desse Ubese que Leia soube da história do famoso caçador de recompensas Boushh, recentemente assassinado, que ela haveria de utilizar como máscara para entrar no palácio de Jabba, o Hutt, numa tentativa, mais uma, para resgatar Han Solo.


Nessa noite dormiu agarrada ao travesseiro fofo e sonhou com Alderaan.


Sonhou com a paz.


Na manhã seguinte fez as últimas compras e despediu-se, sem pena, do centro comercial. Estava tudo realizado, tudo explorado, as suas férias tinham atingido todos os seus objetivos. Não ficava nada por fazer, nem nenhum desejo por satisfazer. Até conseguira dançar e rir-se nos braços delicados de um Ubese mudo e deslumbrado.


Na viagem de regresso, dormitou e sonhou que voltava a dançar no clube, mas nos braços fortes de um certo corelliano…


No hangar da Redemption, Luke estava à espera dela. Lançou-se nos braços do rapaz de Tatooine, feliz. O estremecimento dele deu-lhe a entender que gostava de a ver com o visual novo, que apreciava o penteado, as unhas douradas, o perfume, que o fato justo de casaco e calças, botas a condizer, lhe assentava na figura. Sentia-se etérea e exótica.


- Princesa, é uma alegria vê-la de volta, sã e salva! – exclamou Threepio. – Espero que a sua viagem tenha sido maravilhosa. A experiência foi decerto agradável, pois noto-a bem mais descontraída.


A expressão de Leia denotou fastio. O androide engasgou-se ligeiramente.


- Uh… Alteza, admito que estava errado nas minhas assunções iniciais quanto a esta viagem e aos eventuais perigos… mas julgo que aquilo que nos opunha já foi devidamente sanado. Fui perdoado, certamente. Sim, Alteza?


- Não, Threepio, ainda não desculpei a tua falta de educação. Por favor, queres tratar dos volumes que estão no compartimento de carga do transportador? Preciso de descarregá-los o quanto antes para entregar o transportador para a devida inspeção.


Os olhos do androide diminuíram a sua luminosidade.


- Com certeza, Alteza. Estou sempre ao seu serviço.


Artoo seguiu o androide protocolar, apitando um qualquer comentário sobre a situação instável do seu companheiro metálico.


- Oh, cala-te pequena lata inconveniente! – resmungou Threepio aborrecido. – Não, não estou nada despedido…


Luke abanou ligeiramente a cabeça.


- Não precisas de torturá-lo dessa maneira.


- Não te preocupes. Ele aguenta. – Leia deixou as suas mãos pequenas, de unhas cintilantes, nos ombros dele. – Não me queres oferecer uma bebida? Preciso de beber qualquer coisa relaxante, depois seguirei para o meu quarto para mudar de roupa. Tomei conhecimento que esta noite terei uma reunião com o general Rieekan.


- Podes adiá-la, se te apetecer…


- Não faz mal, Luke. Estive a descansar, sinto-me perfeitamente capaz para uma ronda exigente de encontros de alto nível.


Entrelaçou o braço no dele e caminharam até um pequeno bar que servia sumos e outras bebidas ao pessoal da manutenção que operava no hangar. O contraste com as pastelarias que ela visitara no centro comercial era gritante, mas ela, obviamente, não se incomodou com a simplicidade do local.


Sentaram-se em duas cadeiras altas. Leia colocou em cima do balcão uma pequena caixa envolvida numa fita azul-escura.


- Trouxe-te uma pequena lembrança.


Luke corou, encabulado.


- Oh… Disse-te que não precisava de nada.


Ele abriu a caixa, desfazendo o laçarote da fita. No interior forrado a branco estava um par de luvas pretas.


- Julgava que não aprovavas o meu novo visual – brincou.


- E não aprovo… totalmente. Mas achei que as luvas combinariam contigo e que trariam eloquência ao conjunto. Já que vais usar preto, pois que o faças com estilo.


- Dois dias nesse planeta de lojas e começas a falar como uma mulher desmiolada de Coruscant?


Leia sorriu. Assentou o queixo na mão. O androide deixava sobre a mesa dois copos altos e transparentes com leite azul.


- É verdade. Tenho de começar a habituar-me novamente ao mundo real depois de ter estado metida numa fantasia tão bonita… Gostaria de te levar, um dia, a esse planeta.


- Não iria aborrecer-me?


- O Han, sem dúvida. – O que invalidaria o sonho de dançar no clube com ele, pensou conformada. – Tu, acho que não… O Templo dos Mil Sóis. Fica combinado?


Luke encolheu os ombros.


- Pode ser…


As luvas eram simples, mas tinham uma certa distinção. Apropriadas para um cavalheiro, dissera-lhe o vendedor, amistoso e persuasivo. Combinariam perfeitamente com um nobre Jedi, pensara ela, fingindo que avaliava a qualidade apregoada do acessório que o vendedor lhe apresentava com finura irrepreensível.


- Gostaste? – perguntou ela.


- Gostei bastante. Obrigado.


Ele bebeu um trago do leite, ficou com um bigode azulado por cima do lábio. Ela limpou-lho com o polegar, rindo-se. Ele fechou um dos olhos. A luz do projetor sobre o balcão incindira sobre as unhas dela e um brilho de ouro atingira-o na retina.


- E tu, Leia? Gostaste do teu dia longe?


- Adorei, Luke. Adorei. Era exatamente o que precisava.


Deram as mãos e sorriram, cúmplices, um para o outro.


Num gesto mais irreverente, Luke quis dizer-lhe que estava linda, mas não chegou a fazer o elogio. A sua timidez continuava a ser uma barreira difícil de derrubar, mesmo depois de tanto tempo de convivência mútua. Leia não se importou. Não precisava que ele lho dissesse, pois sentia-se, de uma forma incrível e edificadora, que estava realmente linda.

March 23, 2018, 3:19 p.m. 0 Report Embed Follow story
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The End

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Andre Tornado Gosto de escrever, gosto de ler e com uma boa história viajo por mil mundos.

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