- Senhorita Valentina? - uma voz me desperta repentinamente. Olho para o lado e vejo Flora, a aeromoça que trabalha para o meu avô. - Já estamos prontos para aterrissar, gostaria que voltasse a sentar e apertasse os cintos. - pede calmamente e se afasta, após eu concordar com a cabeça.
Volto meus olhos esmeralda, ainda um pouco embaçados, para a pequenina janela do avião. O tempo havia melhorado, desde que saímos do Rio de Janeiro e agora, estávamos sobrevoando o interior do Paraná. Podia ver claramente o solo lá embaixo, era uma deliciosa tarde de verão e eu estava voltando para o colégio onde estudava.
O Instituto Ramos é a instituição mais famosa do Brasil; baseada no sistema educacional asiático, conhecida como a escola dos herdeiros dos grandes empresários e das celebridades nacionais. A propriedade é enorme: todos os alunos possuem suas próprias residências, há um distrito para compras e outras atividades para fazer durante os fins de semana e também a área do colégio em si, no centro da propriedade, uma imponente construção principal e algumas salas em outros edifícios menores que são interligados à parte principal do colégio, através de um imenso jardim.
Outra voz me chama a atenção de meus pensamentos: é o comandante.
- Atenção! Estamos iniciando a preparação final para a aterrissagem. O tempo na propriedade Ramos é de 30ºC e sem previsão de chuva. - ele mal termina de completar sua frase e sinto o avião começar a fazer as curvas necessárias para diminuir a altitude e chegar até o aeroporto.
Eu sempre amei a sensação de voar pelo céu, talvez seja porque minha família é dona da principal linha aérea comercial do país, a SIM. Meu avô veio dos Estados Unidos já como piloto de avião. Com muito esforço, comprou sua própria aeronave e felizmente os negócios foram crescendo ao longo de quase três décadas. Agora, ele anda muito ocupado tentando fundir a SIM com pequenas empresas latino americanas para realizar seu tão almejado sonho e eu precisar começar a chamá-lo de chairman.
O chão começa a ficar cada vez mais perto e eu sinto os trens de pouso do avião finalmente tocarem a pista. Com muita calma, a aeronave diminui a velocidade e para. Suspiro e dou uma última olhada pela janelinha do avião: minhas férias estavam terminando.
Após descer, noto que alguém já me espera, com aquele sorriso gentil de sempre: meu mordomo, João. 42 anos, pai de família e que está trabalhando para mim desde os meus nove anos.
- Como foi a viagem, senhorita? - pergunta, ao passar por mim para pegar as malas e colocar no bagageiro do carro.
- Quantas vezes devo te pedir pra me chamar de Valentina? - suspiro, entrando no carro.
- É verdade! - exclama, fechando a porta para mim. - Me desculpe...Ahn...Valentina.
- Tudo bem, vou deixar passar dessa vez. - respondo-lhe já rindo. - E como foram as suas férias, João? - tento puxar assunto.
- Muito bem! - sua voz é pura animação. - Pude visitar meus filhos...Aliás, eles amaram os presentes que enviou. Muito obrigado.
Realmente não sei o que responder, então apenas sorrio e concordo com a cabeça, ele sorri de volta, posso ver um brilho em seus olhos.
Desvio meu olhar para a paisagem que vejo do outro lado do vidro do carro. Como o Instituto é localizado em uma região remota do interior do Paraná, há muitas araucárias e pinheiros para onde quer que você olhe.
Felizmente estamos no verão, já que começamos nossas aulas no início de fevereiro. O melhor disso tudo para mim é que, mesmo estudando em um colégio totalmente baseado em um modelo oriental de ensino (as turmas são dividas pela classificação de cada aluno após as provas semestrais), nós também podemos entrar em clubes, muito parecido com o sistema americano presente nas universidades.
Como a melhor aluna do Instituto, também sou a presidente do Grêmio Estudantil e, mesmo estando em meu último ano, a responsabilidade só aumenta. São tantas tarefas e coisas para organizar que passei minhas férias inteiras trocando mensagens com meus companheiros do grêmio. Para a minha sorte, eles também são meus melhores amigos. E, para minha infelicidade, acabamos marcando para hoje à noite, a nossa "Festa de Boas Vinda" para os novatos e veteranos, uma tradição do colégio e que anualmente cabe ao grêmio estudantil organizar e promover.
Acabo soltando um leve suspiro, enquanto passo os dedos pela tela do celular, conferindo as novas mensagens. Estou tão concentrada que não percebo o carro parar.
- Chegamos. - João anuncia, chamando minha atenção e, abrindo o meu vidro, olho para fora do carro: Uma menina magricela, de cabelos curtos e um olhar satisfeito, sorri e balança as mãos. Lívia Medeiros, a secretária do Grêmio Estudantil e a fonte de informações principal do Ramos, se aproxima do meu vidro:
- Valentina! - exclama com sua voz energética. - Estávamos te esperando. - após ela falar isso, olho por detrás de seus ombros e vejo mais figuras conhecidas, paradas de pé e olhando fixamente para mim, com seus sorrisos estampados em seus rostos: finalmente, eu havia chegado em casa.
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