nolongerstella 96hime

Sempre lembro daquele terno azul porque ficava muito bem nele – ele sabia, claro, e toda vez que o usava sorria presunçoso até que eu o beijasse; o calasse e só sobrasse os suspiros dele contra minha boca, tão macios quanto maio.



Fanfiction All public.

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Short tale
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Love was ours

― É melhor você não inventar nenhuma gracinha, seu desgraçado. ― Ele me disse, delicado como sempre, quando demos as mãos para dançar.

― Só se você não pisar no meu pé. ― Sussurrei ao ouvido dele e recebi como resposta apenas um daqueles resmungos de quando ele fica com vontade de me bater, mas sabe que simplesmente não vai conseguir.

Ele vestia veludo azul – um terno escuro que certamente tinha sido presente da Kouyou-san. Extravagância era a cara dos dois, apesar de, na dança, ele não se destacar muito. Era um menino esforçado, posso afirmar; mas quando eu o tocava nos quadris parecia que ele não sabia mais o que fazer com as pernas. Eu achava hilário o modo como ele mordia os lábios e ficava olhando para o chão, tentando prever os movimentos dos meus pés... ou talvez fugindo do meu olhar, sei lá. Ele era uma graça quando ficava com vergonha e eu faria qualquer coisa para vê-lo assim: sem saber o que fazer de mãos dadas comigo no meio de um salão repleto de criminosos.

Era para nos infiltrarmos, Mori disse, mas que graça teria estragar uma festa sem aproveita-la antes? O melhor era poder sentir o Chuuya perto de mim; as mãos quentes que começavam a suar, os toques tímidos dele no meu ombro, o tecido azul sob meus dedos... era tão azul quanto a noite no lado de fora do salão... tão azul quanto os olhos dele.

Sempre lembro daquele terno azul porque ficava muito bem nele – ele sabia, claro, e toda vez que o usava sorria presunçoso até que eu o beijasse; o calasse e só sobrasse os suspiros dele contra minha boca, tão macios quanto maio.

O azul dele era quente – era como uma faísca que crescia um pouco cada vez que eu o tinha nos braços até que, quando eu me desse conta, já houvesse uma chama; mas não sei como isso foi acontecer, se de todas as coisas que Mori me ensinou, uma das que eu nunca consegui aprender foi como manter as chamas vivas na fogueira. Elas sempre estalavam e morriam não importava o quanto eu soprasse... irônico, né? Irônico a única chama que eu quis apagar se ascender toda vez que eu lembro daquele azul.

Aquela festa evoca tantas minúcias, tantas lembranças fragmentadas com o tempo, que com um pouco de criatividade se eu fechar os olhos consigo ver tudo: desde a dança desajeitada do Chuuya nos meus braços até como as estrelas brilhavam quando saímos de madrugada. Estávamos acabados e mesmo assim ele queria voltar e matar cada infeliz que tinha tocado no seu precioso terno. Assim andamos pelos bairros de luxo de Yokohama – ele se apoiando em mim com o braço ao redor dos meus ombros enquanto a luz prateada das estrelas, tão suave, cobria o rosto dele como um véu.

Me pergunto quando caiu a ficha que eu não o veria novamente. Quando eu vi os subordinados dele espumando de ódio? Quando o Mori me chamou naquela sala sombria dele? Quando a Kouyou começou a chorar? Eu não sei mais.

Desde que ele se foi nunca vi as estrelas brilharem como brilharam naquela noite, ou senti meu peito se aquecer daquele jeito engraçado ao abrir os olhos e vê-lo ao meu lado, logo de manhã. Acho que era engraçado porque nós dois não conseguíamos conter o riso quando nos olhávamos – as caras amassadas, os cabelos desgrenhados e os lençóis misteriosamente caídos em algum canto longe da cama... céus, como aquilo acontecia? Éramos dois idiotas e eu não sabia ainda o quanto amava as idiotices dele. Só percebi o que era amor no não sentir, e não sentir é o só o que eu sinto desde que ele se foi, desde que já era tarde demais.

Às vezes acho que me esqueci; que não vou mais conseguir lembrar do cheiro de cigarro dele, do toque dele na minha nuca ou mesmo dos lábios dele contra os meus... mas sabe, toda vez que fecho os olhos posso ver o terno, o azul, e parece que aquela mesma chama teimosa trepida um pouquinho – faísca por uma fração de segundo... acho que algumas coisas apenas não podem ser apagadas, não podem ser esquecidas, não é mesmo?

Através das lágrimas que eu nem sinto mais correrem, ainda consigo ver aquele veludo azul, como se dessa vez ele que me tivesse nos braços. Mesmo que não possa mais tocá-lo, ainda o vejo e disso eu não quero esquecer.

Não posso esquecer.

Feb. 26, 2018, 5:43 a.m. 1 Report Embed Follow story
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The End

Meet the author

96hime uma fujoshi sem salvação que propaga sofrimento através de personagens 2D

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Raven C. Fox Raven C. Fox
ô vei, eu tenho depressão e agora tô no fundo do poço
August 04, 2022, 17:41
~