Em uma fria manhã de sábado, Todoroki Shoto observava a paisagem branca pela neve da janela da casa de sua mãe. Estava nervoso.
Estava completando um ano de namoro, queria fazer uma surpresa para Midoriya.
— E se ele não gostar?
— Shoto, vocês já estão juntos há um ano... Eu duvido que ele não vá gostar de algo assim. — a mãe respondeu, tentando acalmar o filho que agora andava de um lado para o outro.
— Eu não sou bom nessas coisas, mãe. — falou, aflito.
— Vai dar tudo certo, confia em mim. — disse enquanto se aproximava do filho caçula, puxando-o e o aninhando em seu peito.
Shoto abraçou a mãe, aproveitando aquele calor que lhe foi negado durante tanto tempo, aquele colo que lhe foi tirado ainda cedo pelas maldades de seu pai, Enji.
Após a mãe sair para comprar algumas coisas que ele havia pedido, Todoroki foi até a varanda e se sentou no banco que ali havia, deixando os pequenos flocos de neve caírem sobre si.
— Tanta coisa mudou depois que te conheci... — sussurrou para si mesmo.
Havia sido explorado e abusado por seu pai desde os cinco anos de idade. Este também não permitia que ele tivesse amigos ou qualquer contato com seus irmãos e Todoroki não entendia nada daquilo, não sabia porque o pai agia assim.
Sua mãe era tudo que ele tinha, tudo que ele mais amava, o colo para qual ele corria quando sentia a dor no seu peito esmagar seu pequeno e jovem coração. Em suas antigas lembranças, sua mãe estava sempre chorando; era jovem, mas não era tão bobo, sabia que seu velho a maltratava. Já tinha visto ele a agredir, já tinha visto alguns hematomas pelo corpo de sua amada mãe.
Suspirou. Aquelas lembranças eram tão dolorosas.
Shoto tocou a cicatriz de seu olho esquerdo, sentindo a textura da pele queimada, a eterna marca do dia que sua mãe chegou ao limite, aquele momento de insanidade que ele sabia que ela ainda não tinha se perdoado totalmente. Shoto jamais a culpou por aquilo, sabia mais do que ninguém o que seu pai conseguia fazer com as pessoas. Após aquele incidente Enji a internou, tirando seu único apoio quando ainda era só uma criança, o deixando ainda mais isolado e solitário.
Todoroki passou anos culpando seu pai e a si mesmo por toda a dor que sua mãe passou. Nunca foi visita-la. Tinha medo do que sua presença poderia causar, tinha medo de lhe trazer lembranças ruins, de pressiona-la.
Todos os seus traumas o fizeram construir uma bolha de isolamento, passou a viver sozinho, tentando não depender e nem se aproximar demais de ninguém.
Até que ele o conheceu...
Midoriya percebeu todos os muros que ele havia construído ao redor de si e ignorou o quão alto eles eram, ele estava determinado a tira-lo daquele mar de escuridão. Ignorou todos os avisos de “mantenha distância” nas portas que encontrava durante o trajeto até o coração do outro, abriu cada uma delas, sem se deixar abalar, sem jamais desistir.
Todoroki sorriu ao lembrar que se não fosse pela insistência de Izuku ele estaria até hoje afogado em suas dores, se não fosse por Izuku ele não teria se libertado e nem libertado sua mãe das correntes que seu maldito pai criou.
Entendia bem o motivo pelo qual todos cercavam seu amado, ele era um sol caloroso que sorria abertamente para todos.
O sol que derretia o gelo.
— Voltei. — Sua mãe disse, ao entrar pela porta. — Não achei as velas verdes naquele mercado então fui procurar em outro.
— Deveria ter voltado aqui, eu iria até lá com a senhora. — disse, ao voltar para dentro de casa.
— Não era necessário, meu filho. — respondeu, afagando os cabelos do outro. — O que estava fazendo lá fora? Está frio.
— Eu gosto do frio. — falou, imitando o carinho ao afagar os cabelos platinados da mãe.
— Estou tão feliz por você, Shoto. — Ela disse, o puxando para um abraço apertado. — Te ver feliz é a minha salvação, eu te amo tanto.
— Eu também te amo, mãe. — respondeu, abraçando-a ainda mais apertado — Amo muito...
A platinada se afastou, secando as lagrimas do rosto para olhar nos olhos do filho.
— Sei que a gente passou por um bocado de coisa e que eu também te fiz passar por um monte de coisa.
— Mãe, já conversamos sobre isso. — disse, afagando as bochechas da mulher — A senhora não teve culpa de nada.
— Você é tão gentil, Shoto. Eu tenho muito orgulho do homem que você se tornou e tenho certeza que o Izuku também pensa assim, sou muito grata por ele ter entrado na sua vida.
— Eu também! Minha vida mudou completamente depois que aquele baixinho a invadiu.
Sua mãe sorriu enquanto para ele, lhe dando um beijo na testa. Achava tão fofo o modo que ele se referia ao namorado, estava tão feliz que os traumas de seu passado não tinham impedido que ele encontrasse o amor.
**
Era noite. Todoroki agora estava no terraço do prédio que morava, havia pedido permissão ao sindico para levar uma mesa e algumas coisas para fazer uma tenda. Sua mãe o ajudou a decorar o lugar com as velas e Shoto sentia suas mãos suarem frio, estava realmente nervoso.
A mãe foi embora, o deixando só enquanto esperava o outro chegar. Faltava alguns poucos minutos para o horário marcado com Midoriya. Foi até ao pequeno aparelho de som que tinha levado e colocou “My Love”, aquele era uma das músicas que mais o fazia se lembrar do outro.
Meu amor, você encontrou a paz
Você estava procurando por ajuda
Você me deu tudo
Cedeu ao apelo
Você se arriscou e você caiu por nós
Você chegou atenciosamente
Me amou fielmente
Você me ensinou a honra
Você fez isto por mim.
— Você me deu tudo o que tinha e agora eu estou inteiro. — Cantou.
— Adoro te ouvir cantar. — Midoriya disse, ao chegar no terraço, surpreendendo o namorado.
— Achei que você demoraria mais. — falou, caminhando até o outro e lhe deixando um beijo na testa.
— Me liberaram mais cedo do trabalho. — respondeu, passando os braços pelo pescoço do amante.
— Feliz um ano de namoro. — disse, afagando as sardas da bochecha de Midoriya. Amava cada pequeno detalhe daquele rosto.
— Feliz um ano de namoro. — Repetiu, puxando o outro para um beijo caloroso.
— Vem, eu preparei um jantar pra gente. — Todoroki disse, encerrando o beijo e puxando o namorado para a tenda.
— Você preparou? — perguntou, arqueando a sobrancelha.
— Bom, talvez minha mãe tenha ajudado um pouco. — Admitiu.
Izuku riu e eles se digiram para a mesa.
Shoto sorria amavelmente para o namorado enquanto escutava ele tagarelar sobre um milhão de coisas que aconteceram durante o dia, poderia ouvi-lo daquele jeito todos os dias sem se cansar, achava foto quando ele se afundava nos próprios pensamentos e começava uma série de murmúrios.
— Ah, eu tenho uma coisa pra você. — Izuku disse, interrompendo o que estava falando antes.
— O que?
— Feche os olhos.
Midoriya se levantou e foi até o namorado. Se posicionando atrás dele, pegou a caixinha que estava no bolso e tirou de lá um colar prateado com um pingente de floco de neve.
— Não abra os olhos até eu dizer que pode.
— Sim, senhor. — Todoroki respondeu, rindo.
Izuku colocou o colar no pescoço do amado com delicadeza e lhe deu um beijo na bochecha, voltando para sua cadeira.
— Pode abrir.
Shoto sorriu ao olhar para baixo e ver o pequeno pingente de floco de neve pendurado, o pegou com delicadeza entre os dedos e o admirou. Era tão lindo.
— É lindo! Obrigado. — Agradeceu. — Vem, eu também tenho algo pra você. — Continuou, antes que o outro tivesse a chance de dizer algo, se levantou e o puxou com ele.
Shoto foi novamente até o aparelho de som e dessa vez colocou “Turning Page”, puxou o namorado até o meio do terraço. Havia uma fina camada de neve, mas nada que atrapalhasse andar livremente.
— Me concede a honra? — Shoto perguntou, se curvando ao fazer uma reverência e estender a mão para Midoriya.
— Claro. — respondeu, pegando a mão alheia.
Enquanto a música ecoava pelo local, seus corpos dançavam lentamente, Todoroki tinha a mãe firme na cintura do outro, enquanto este afundava o rosto no peito do amante.
— Eu esperei uma centena de anos, mas eu esperaria mais um milhão por você — Shoto começou a cantar, com o rosto apoiado na cabeça do outro. — Nada me preparou para o privilegio de ser seu.
— Você cantando essa música. Isso é golpe baixo, sabia? — Midoriya respondeu, afundando ainda mais o rosto no peito do outro para esconder seu rosto corado.
— Seu amor é minha página virada, Izuku. — Continuou. Já não estava mais somente cantando a música. Tinha a escolhido por um motivo especifico, ela falava exatamente o que o amor do outro era para ele. — Eu me rejeitei durante muito tempo, por toda minha vida eu julguei não ser merecedor do amor, mas eu também tinha medo dele, e esse medo me fez trancar todas as portas do meu coração... As portas que você abriu, uma por uma, forçando as fechaduras emperradas.
Todoroki pausou o monólogo, se afastando um pouco do outro para segurar o rosto alheio com as duas mãos e olhar em seus olhos.
— E então você chegou lá, você chegou no meu coração congelado, machucado e vazio. — disse, dando um beijo na ponta do nariz do outro. Midoriya já sentia as lagrimas brotarem nos olhos. — Você arrumou toda a bagunça a suturou todas as feridas, me deu a mão e me ajudou a caminhar e eu me rendi completamente a você. — Shoto agora limpava as lagrimas que desciam pelas bochechas sardentas do amado. — Para ser sincero, eu já havia perdido desde o momento que o vi sorrir pela primeira vez, só fui muito teimoso para admitir.
— Shoto, por que você está me dizendo tudo isso?
Todoroki surpreendeu mais ainda o namorado ao se afastar e se ajoelhar no chão, segurando apenas a mão direita do outro, a outra mão foi para o bolso do casaco, onde tirou uma linda caixinha, metade vermelha e metade branca.
— Izuku Midoriya, você me salvou mais vezes do que eu possa descrever e o que eu mais quero é poder acordar todos os dias ao seu lado, e é por isso que agora eu lhe pergunto — disse, enquanto abria a pequena caixinha e revelava o lindo par de alianças — Você me daria a extraordinária honra de se casar comigo?
Izuku estava em choque. Seu coração martelava freneticamente como nunca havia feito antes, não tinha mais controle nas lágrimas que agora escorriam abundantemente por seu rosto. Aquilo era mesmo real? Ele não estava sonhando?
Alguns poucos segundos se passaram até Midoriya sair do estado de choque. Todoroki estava tentando não parecer nervoso, mas estava a ponto de enlouquecer com o silencio, que, para ele, duraram anos.
A resposta não veio com palavras, mas sim com Izuku se jogando em Shoto e selando seus lábios com um beijo apaixonado. Todo o frio do inverno foi esquecido pelo calor que emanava dos corpos.
— Vou considerar isso um sim. — Todoroki riu, assim que encerraram o beijo.
— Não haveria outra resposta.
Todoroki se levantou com Midoriya, pegou a caixa com as alianças que haviam caído no chão quando o outro se jogou sob si e voltou a pegar a mão alheia, colocando o anel no seu futuro marido.
— Obrigada por aquecer o meu coração congelado.
— Eu te amo, Shoto. — respondeu, colocando a aliança no noivo.
— Eu também te amo.
E então selaram aquele compromisso com mais um de muitos beijos apaixonados que ainda estariam por vir.
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