Todos estavam reunidos na quadra da escola, era a última vez que os terceiranistas estariam naquele local. Oikawa fazia seu último discurso como capitão, animando os membros do time e os instruindo a continuar treinando e desenvolvendo suas habilidades.
— O time com os seis mais fortes é o melhor. — Oikawa repetiu a frase que disse tantas vezes por esses três anos na Aoba Johsai. — Não se esqueçam disso.
As lágrimas escorriam pelo rosto dos primeiranistas e segundanistas enquanto se juntavam aos outros em círculo para um abraço coletivo do time.
— SE- — O capitão começou levando a mão ao centro do círculo esperando que o resto o acompanhasse, e assim que o fizeram, ele completou: -I-JOH, FIGHT!
Enquanto desfaziam o abraço, Iwa observava Oikawa em silêncio, sabia que ele estava segurando as lágrimas para não abalar os outros e passar a imagem de capitão forte que ele sempre tentava manter, mas Iwa sabia que dentre todos ali, Oikawa era o que estava mais triste.
Após a cerimônia de encerramento, Hajime foi até o vestiário do clube, sabia que Oikawa estaria lá. Entrou em silêncio no local, conseguia ouvir os fracos soluços de Tooru. Ficou escondido apenas observando o capitão finalmente ceder.
— Que tipo de capitão eu sou? — Oikawa perguntou para si mesmo, depois de alguns minutos, acreditando que estava sozinho.
— O melhor! — Hajime respondeu, revelando sua presença no local.
— Iwa-chan — Oikawa falou surpreso, enxugando as lágrimas dos olhos. — Há quanto tempo está aí? — perguntou.
— O suficiente. — respondeu apenas. — Vamos embora.
Sem questionar, Tooru apenas o obedeceu, pegou suas coisas e o seguiu. Em silêncio, Hajime o conduziu pelos corredores do colégio, mesmo dizendo que iriam embora, Iwa queria dar uma última olhada no lugar que foi palco de tantas histórias. Passaram pelo refeitório, olhando nostalgicamente para lugar, lembrando da bagunça que era o horário de almoço com o time, com certeza sentiriam falta daquele bando de idiotas. Saíram de lá e foram em direção aos corredores.
— Foi aqui que você me acertou em cheio com a bola de vôlei quando aquela garota do primeiro ano veio se confessar para mim. — Oikawa falou, coçando o local como se ainda doesse.
— Nós tínhamos treino e você estava vadiando. — Justificou.
Entraram na sala do terceiro ano, estava vazia, todos já tinham ido embora. Oikawa e Iwaizumi pararam na porta, flashbacks dos momentos que viveram juntos ali passaram por suas cabeças. Iwa sentiu seu peito doer, sabia que o momento da despedida mais difícil estava chegando, queria desesperadamente estender o tempo que ainda tinha com o outro. Tooru se afastou e foi até a janela, se escorou nela e observou o pátio dali, lembrando-se das vezes que provocava Hajime e este o perseguia furioso. Como ele iria se acostumar a viver sem o mau humor diário do melhor amigo?
Hajime se juntou ao outro, ficando ao seu lado, sem dizer uma palavra. Seu ombro se encostava no ombro alheio e ele podia sentir o calor passando do corpo de Tooru e indo até o dele. Como ele iria se acostumar a viver sem as idiotices do melhor amigo?
Melhores amigos.
Essa era a resposta que ambos davam para si mesmo quando perguntas complicadas demais surgiam em seus corações; perguntas que surgiram há anos atrás, quando os corações já não conseguiam mais se controlar na presença do outro.
Eram melhores amigos de infância, jamais disseram uma palavra sobre seus mais profundos sentimentos, e evitavam até pensar nos mesmos, não queriam complicar as coisas, não queriam estragar o que já tinham. Oikawa tinha medo de perder Iwaizumi, e este, por mais reservado e duro que fosse, também tinha medo de perder Oikawa. O silêncio que foi mantido por anos pelo medo da perda agora ria alto na cara deles, pois haviam adiado o inevitável, logo teriam que fazer o que desesperadamente fugiram.
— Vamos? — Iwa chamou o outro, quebrando o silêncio, este apenas confirmou com a cabeça e o seguiu calado.
Decidiram ir andando para casa. Pararam numa loja de conveniências que costumavam ir às vezes após os treinos. Oikawa, como sempre, comprou vários doces. O amigo se perguntava como o outro conseguia comer tanta porcaria.
— Você deveria parar de comer tanta besteira.
— Iwa-chan, você é a minha mãe? — respondeu, voltando ao seu tom brincalhão de sempre.
Iwaizumi lhe deu um tapa na cabeça, lançando um olhar assassino sobre o mesmo.
— Ai! — gemeu, esfregando a cabeça. — Eu estava brincando. Você é muito bruto, Iwa-chan.
— Você mereceu, Kusokawa.
— Você nunca vai parar de criar ofensas com o meu nome?
— Talvez quando você deixar de ser idiota.
Tooru apenas se deu por vencido e mordiscou seus doces, fingindo estar aborrecido. Sentiriam tanta falta desses momentos, de voltar para casa juntos, das provocações, dos dias que iam para casa do outro e passavam a noite em claro jogando vídeo game, das horas que passavam treinando juntos. Quem diria que era tão difícil assim abandonar uma rotina com alguém?!
Andaram por mais ou menos trinta minutos até chegar ao bairro que viviam. Pelo canto do olho, Iwa podia ver os olhos novamente marejados de Tooru. Sentiu um nó se formar na sua garganta. A cada passo que dava seu peito doía mais, a esquina que deixaria o outro e seguiria para a sua casa estava chegando e ele ainda não estava preparado, tinha pensado em tantas coisas para dizer, mas agora que estava ali, não sabia se conseguiria dizer algo.
Continuaram andando sem dizer uma palavra. Às vezes olhavam disfarçadamente para o outro. Estava cada vez mais difícil para Oikawa segurar as lágrimas, queria parar o tempo para nunca ter que dizer adeus, mas infelizmente não possuía tal poder.
— Então... — começou, quando chegaram a esquina, desta vez foi Oikawa que quebrou o silêncio. — Eu vou por ali.
— Tá. — Foi a única coisa que Iwa conseguiu dizer, ficaram parados ali, finalmente se olhando fixamente nos olhos após terem evitado isso o dia todo.
— Tá. — Repetiu, ainda sem se mover, ainda olhando nos olhos do outro. Tooru suspirou fundo e finalmente se virou, decidindo ir logo e acabar com aquela tortura.
— Oikawa, espere. — Iwa falou, antes do outro começar a se afastar.
— Sim?
— Obrigado! — Hajime disse, surpreendendo o outro. — Obrigado por esses três anos e todos os outros que estivemos juntos.
— I-Iw.. — Tentou responder, mas a voz não saía.
— Não importa se não fomos para as nacionais. — Iwaizumi puxava fundo o ar, tentando buscar coragem para continuar. — Vencer não é tudo, Tooru.
— Iwa-chan, o-o que está dizendo?!
— Não importa porque, entre eu e você, se vencemos ou não, não importa. Eu pude dividir a quadra e a vida com você durante todos esses anos, você foi o melhor capitão e o melhor amigo que eu tive. — falou, agora olhando para o chão, meio embaraçado por finalmente ter conseguido dizer o que queria. — Obrigado, Tooru! — Completou, agora entendendo o braço com o punho fechado, chamando o amigo para o toque que faziam há anos.
Oikawa estava boquiaberto, não tinha ideia do que responder e seu coração martelava descontrolavelmente em seu peito como nunca. As poucas forças que tinha para controlar as lágrimas se esvaíram e ele as deixou escorrer por sua pele pálida.
— O-Obrigado também, I-Iwa-chan. — respondeu finalmente, com a voz entrecortada pelo choro. Estendeu seu braço assim como Hajime fez, e tocou o punho fechado do outro com o seu.
Cansado de pensar nos prós e contras, em um lapso de coragem ou de falta de juízo, Oikawa decidiu acabar de vez com a distância entre eles. Agarrou a mão alheia ainda fechada e o puxou para si, a mão livre foi em direção a nuca de Iwaizumi e então selou os lábios do mesmo com os seus, estava preparado para receber um chute em reprovação ao ato, mas para sua surpresa, isso não aconteceu. Iwa passou a mão pela cintura do outro e o puxou para mais perto, se entregando de uma vez aos seus desejos. Oikawa jogou os braços em volta do pescoço do outro, finalmente se afundando no prazer de provar o gosto do melhor amigo que desejou em segredo por anos. Hajime intensificou o beijo, pedindo passagem com a língua para explorar a boca alheia, levou uma de suas mãos até o queixo de Tooru, segurando-o, a outra mão subia e descia pela coluna do mesmo, provocando-lhe arrepios. Oikawa afundou os dedos no cabelo do moreno, o puxando para mais perto, mesmo que fosse praticamente impossível ficar mais perto do que já estavam. Mordiscou os lábios de Iwaizumi e enterrou a cabeça em seu pescoço, deixando aquele cheiro o dominar por completo. O maldito perfume que tanto lutava para resistir todas as vezes que Iwa saia do banho após os treinos, percorreu toda a extensão do pescoço com a ponta se seu nariz, queria aproveitar tudo que podia, tudo que tinha evitado querer por tantos anos por puro medo.
— Você não presta mesmo, Shittykawa. — Hajime disse, ao se distanciar um pouco, afastando uma mecha do cabelo de Oikawa que caia sobre seu olho esquerdo.
— Que rude, Iwa-chan. — Oikawa respondeu, inclinando a cabeça, deixando levemente apoiada na mão do outro.
Permaneceram ali, na fraca luz dos postes da rua, finalmente se entregando ao sentimento negligenciado por tanto tempo.
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