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Yuri foi encontrado sozinho em meio as flores, como um espinho solitário. Mas ao conhecer o dono daquela floricultura, percebe que ele também pode florescer em meio a todos espinhos que encontrou pelo caminho.


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#YuriOnIce #Otabek/Yuri #Otayuri #Fanficsotaconda
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O espinho entre as flores

Mais um dia chegava ao fim, Otabek começava os preparativos para fechar sua pequena loja de flores. Alguns vasos grandes foram levados aos fundos da loja, bem como alguns sacos de terra e adubo que estavam a amostra, o peso dos objetos, assim como o calor que aquele verão trazia, o faziam suar, pensava que estava na hora de contratar um ajudante, afinal, o movimento estava bastante intenso.

Começou a recolher os vasos grandes que ficavam ao lado de fora, quando ouviu um soluçar vindo do beco ao lado da loja, estava abandonado, Otabek usava-o como um deposito, quase um jardim secreto. Levantou um vaso de camélias amarelas que estava no caminho, deparando-se com a figura que ali encontrava-se.

Um garoto de cabelos loiros desgrenhados, os pés e mãos machucados, aparentando ter estado em uma briga, usava uma calça preta larga, e um moletom com capuz da mesma cor, levantou o rosto assim que notou não estar sozinho, Otabek chocou-se com seus olhos. Verdes, fortes, semi-cerrados, na defensiva, como se nada pudesse atingi-lo. Olhos de soldado, o cazaque pensara. O rosto assim como o resto do corpo estava cheio de hematomas e lágrimas corriam por sua face. E, apesar do olhar tão forte, ele parecia tão... Frágil. Como se estivesse quebrado.

— Você está bem? – Perguntou sabendo que a pergunto soaria idiota.

— Eu pareço bem? Idiota. – respondeu seco, enxugando as lágrimas com a manga da blusa e levantando-se em seguida.

Tentou firmar-se no chão, mas acabou vacilando e teve de se apoiar na parede para não cair, Otabek se apressou em largar o vaso que segurava e ajudar o outro.

— Desculpe, foi uma pergunto idiota... – disse envergonhado, tentou pegar na mão do loiro, mas acabou segurando em uma parte machucada e teve a mão afastada. – Oh, Me desculpe de novo.

— Tudo bem – agora a voz do menor parecia mais gentil – Não é como se você tivesse culpa.

— Você precisa de alguma coisa? Uma ambulância? – o loiro fez uma careta, como se o cazaque estivesse exagerando. – Eu tenho um kit de primeiros socorros... Posso fazer uns curativos se não se importar. Aliás, me chamo Otabek.

— Não precisa... Eu vou ficar bem, mas, obrigado.

O loiro deu as costas, saindo do pequeno beco, mancando, apoiando-se na parede da loja, quando parou, olhando para o céu. O sol se despedia no horizonte a noite logo cairia, algumas nuvens negras indicavam que choveria. Para onde iria? Não tinha ninguém... Sem perceber, as lágrimas voltavam a descer por sua face e sem conseguir segurar o nó que insistia em lhe apertar a garganta, deixou que o choro viesse.

— Vem, vamos cuidar dessas suas feridas, depois eu te levo pra onde você quiser, não vai conseguir ir a lugar nenhum com esse pé.

Otabek não lhe deu chance de recusa, foi guiando-o até o interior da loja, onde o sentou no banquinho do caixa.

— Eu só vou fechar a loja, não se preocupe, eu não sou nenhum maníaco ou algo assim.

— Acho que você quem devia ter medo de mim, sou eu que estou todo ensanguentado, você devia ter visto o outro cara. – o tom do loiro era divertido, e a risada que soltou ao fim da frase, embora ainda sôfrega, fez o coração de Otabek palpitar.

— Você não me parece muito ameaçador, senhor? – o moreno retornara depois de fechar a porta da frente da loja – Não me disse seu nome.

— Yuri! – Respondeu desviando o olhar que antes observava as costas alheias para um ponto qualquer – Yuri Plisetsky.

— Muito bem, vamos senhor Yuri Plisetsky, vamos ver esses machucados. – Otabek novamente o segurou pelo braço, com cuidado para não machucá-lo e o guiou por um corredor aos fundos da loja que dava para um escada.

Logo estavam no pequeno apartamento do cazaque que ficava em cima da loja, Otabek pediu para que se sentisse a vontade, enquanto buscava o necessário para fazer os curativos. Yuri sentou-se em uma baqueta em frente ao balcão da cozinha, que ficava ao lado da porta por onde entraram. Observou atentamente o local, era muito simples, mas parecia incrivelmente aconchegante, e era muito organizado.

— Acho que logo vai começar a chover – o moreno retornou com uma caixinha em mãos, um trovão potente cortou o céu, assim que terminou a frase.

— Você é algum tipo de senhor do tempo ou algo assim?

— Não – Otabek riu, molhava a gaze no soro fisiológico – É só que hoje fez muito calor, e não tinha vento. E como é verão, é comum ter essas pancadas no fim tarde.

— Você é mesmo um senhor do tempo.

— Eu tenho cara de velho? Assim você me ofende. – Otabek fez bico, pegando a mão machucada e iniciando a limpeza.

— Na verdade, você ‘tá inteiraço – Otabek levantou os olhos nos dos esmeraldinos, as maçãs automaticamente se tornaram vermelhas, ao perceber o que dissera. – Então... Você não vai perguntar em que tipo de encrenca eu me meti?

— Depende – Otabek levantou um pouco a manga do loiro, notando que ele tinha hematomas escuros no pulso. – Você quer falar sobre isso?

O garoto deu de ombros, escondendo a mágoa que Otabek via em seus olhos sobre uma máscara de indiferença e irritação, Otabek soube que ele não estava pronto. O céu tornou-se claro, devido a um relâmpago e logo um trovão rugiu, os pingos de chuva bateram contra o vidro da janela, que estava fechada.

— Acho que você devia tirar o casaco, parece que tem alguns machucados no seu pulso, e o seu casaco está rasgado na altura do cotovelo, deve estar machucado.

Sem dizer nada, Yuri fez o que o outro pediu, retirando a peça junto da camiseta. Otabek se espantou ao ver não só os cotovelos ralados, mas também várias marcas roxas pelas costelas e costas do loiro. O menor notou o olhar de pena sobre si e virou-se de costas. Não queria aquele olhar, não queria que tivessem dó de sua situação, ele sairia dessa, mas como?

— Meu pai não aceitou muito bem o fato de eu estar usando o dinheiro do curso de informática, em aulas de balé. – confessou com a voz embargada.

— Ele te bateu? – Otabek não pode deixar de perguntar, o garoto estava muito ferido.

— Não, quer dizer, sim. Ele me deu um tapa no rosto, e mandou eu nunca mais aparecer na sua frente. Porque ele não tinha criado filho... – Yuri não precisou terminar a frase para que Otabek entendesse, afinal, tinha passado pelo mesmo. O pai, mesmo após vários anos, ainda não aceitava bem sua sexualidade.

— Sinto muito! - respondeu sincero - Pais podem ser um saco as vezes.

Não sabia se deveria perguntar sobre quem o machucou, então fez com que se sentasse e voltou a fazer os curativos em silêncio. O tornozelo parecia mesmo torcido, então apenas limpou as feridas, que pareciam mais calos, chegando a conclusão que o garota tinha andado muito até chegar naquele beco. Pediu que Yuri levantasse a calça, notando assim os joelhos também machucados, passou uma gaze retirando com uma pinça alguns vestígios de terra que tinham entrado nas feridas.

— Você também é médico?

— Eu fui enfermeiro voluntário durante o serviço militar. Não foram os melhores momentos da minha vida…

— Por isso trabalha com flores? - Otabek o olhou curioso, como podia aquele garoto, que acabara de conhecer, lê-lo tão bem?

— Digamos que sim. Mas agora,acho que você devia tomar um banho.

— Como é? - Yuri levantou-se surpreso.

— Está chovendo pra valer lá fora - O cazaque levantava os dedos, como se fizesse uma contagem - Eu tenho apenas uma moto velha, e não estou afim de me molhar - um segundo dedo foi erguido - Você disse que seu pai o expulsou, e se você tivesse algum lugar pra ficar, não tinha parado todo machucado em um beco abandonado.

Yuri observava envergonhado os três dedos do cazaque levantados, não tinha o que responder, era aquela a verdade, não tinha nada, não tinha ninguém.

— Por que estava fazendo isso? - perguntou ainda observando o moreno, que revirava um armário a procura de algo.

— Estou procurando uma toalha, tenho certeza que tem uma nova em algum lugar, porque as em uso devem estar todas sujas. Eu sempre esqueço de ir a lavanderia. Aqui.

Yuri segurou a toalha felpuda que lhe foi arremessada, os dedos tinham as dobras feridas e ardiam quando mexia.

— Por que está me ajudando? - o russo reformulou a pergunta, agora encarando os próprios dedos.

— Por causa de seus olhos. - os esmeraldinos o olharam e dúvida, mas não questionaram. Sentia que de qualquer forma não entenderia. - Bom, o banheiro fica ali, eu vou deixar uma muda de roupas em frente a porta. Vá, que eu vou fazer o jantar.

— Você também sabe cozinhar?

— Eu tento, não é como se fosse sair algo fantástico.

— Eu posso fazer algo, se você não se importar - Yuri remexia com os dedos a barra da camiseta. Otabek o achou adorável.

— Você sabe cozinhar? - questionou genuinamente curioso, o outro acenou positivamente - Tem certeza que você está bem pra isso? Tem bastante machucados ai.

— Eu vou ficar bem, só me deixa fazer algo pra compensar sua ajuda. Por favor.

— Tudo bem, mas com uma condição. - o garoto levantou uma sobrancelha e aquele olhar irritadiço estava em seu rosto novamente - Vai me deixar cuidar direito dessas feridas, sem resmungar. E vai tomar uns analgésicos.

— Você é bem mandão não é?!

— Eu gosto das coisas do meu jeito, só isso. Agora vá. Eu vou ir na farmácia aqui da esquina comprar uns remédios pra você. Quer algo em especial para o cozinhar? Eu posso passar no mercado.

— Eu não tenho dinheiro comigo!

— Eu não estou te pedindo dinheiro, eu quero te ajudar.

— Me ajudaria se pudesse me olhar sem essa cara. - o russo parecia irritado, Otabek começava a ficar confuso com essas mudanças de humor.

— Que cara?

— Essa cara de pena. Não preciso da sua piedade.

— Me desculpe… Eu não queria…

— Tudo bem - arrependeu-se de sua grosseria - não é todo dia que um mendigo em frangalhos aparece na sua loja né? É só que… - Não encontrava as palavras necessárias para dizer o que sentia, porque na verdade também não sabia, - Eu vou tomar um banho, se estiver tudo bem pra você.

— Sinta-se em casa. Eu volto logo.

Yuri observou o moreno pegar um guarda-chuva e uma capa e sair pela porta da frente, a consciência lhe pesou. Além de lhe dar um lugar para dormir e se lavar, ainda o faria sair na chuva para comprar remédios para si.

Mas também sentia-se estranhamente à vontade. A presença de Otabek era reconfortante, ele parecia mesmo se importar, e isso preenchia o loiro de um sentimento novo. Compaixão pensava.

Rumou até o banheiro, deixando a água levar consigo as últimas lágrimas que aquele longo dia podiam lhe oferecer, pensando que apesar de todos os espinhos, ainda valia a pena cultivar as flores.

Feb. 24, 2018, 7:59 p.m. 2 Report Embed Follow story
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Lari Plisetsky Lari Plisetsky
AEEEEEE NINA
February 24, 2018, 21:31

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