"Você está bem?", perguntou.
"Estou, foi apenas um susto. Meu joelho. Eu vou ficar bem!", disse ela.
Ele percebera o nervosismo da garota, ofereceu ajuda, estendendo-lhe a mão para que ela levantasse. Sentiu-a colocar um papel entre seus dedos enquanto levantava, ele ficou sem reação, olhava para os olhos da garota, que lhe retribuía um olhar assustado e tímido. Ela foi embora, ele voltou a se sentar-se, agora, com um pedaço de papel amassado em suas mãos. Desembrulhou calmamente o papel à medida que puxava o ar, ofegante. No papel, estava escrito com uma letra caprichosa e tênue:
Gostei de você.
Poderíamos nos encontrar?
Ele estava desacreditado, orgulhoso também, mas o sentimento de desconfiança era grande. Uma garota bonita como ela não iria querer alguém como ele, pensava. Pensou à respeito do convite durante o intervalo. Quando a garota entrou, os dois não se olharam, pareciam desconfortáveis, ela revistou sua mesa, parecia à procura de algo, talvez um bilhete em resposta à seu convite. Sentou-se e a aula prosseguiu normalmente. Após o fim da penúltima aula, quando os alunos deixavam a sala, Daniel aproximou-se da garota e entregou-lhe um bilhete, com um sorriso no rosto. Escrevera "Eu aceito." Os olhos da garota brilharam ao ler, devolvendo o sorriso que recebera.
"Me segue", disse ela.
"Ok", respondeu. Então os dois prosseguiram, tinham exatamente cinco minutos entre a troca de professores. Ela o levou para um lugar mais reservado atrás do colégio, onde normalmente ficavam as bicicletas dos estudantes. Não tinha ninguém, somente os dois, que trocavam olhares.
"Então", disse ela encostada na parede.
Ele sabia que deveria tomar alguma inciativa, percebera no olhar dela que ela queria. Logo, tomou-a nos braços e a beijou. Ela se entregou para ele, sem resistência. O beijo não durou nem um minuto, mas para ele parecia que aquele momento durara horas. Os dois se entreolhavam, com desejo. Voltaram para a sala de aula, sem conversar no caminho e sentaram-se em seus lugares. Na hora da saída, em meio ao tumulto, Daniel tentava sair da sala, entre empurrões e a algazarra dos alunos. Sentiu os dedos de suas mãos entrelaçarem os da garota. Ainda não sabia seu nome, onde morava, mas isso não importava, ela rapidamente soltou sua mão antes que pudessem ser avistados. O regulamento da escola não permitia relações entre alunos e era bem claro quanto à isso.
"Te vejo amanhã", disse ela, sorrindo.
Os dois começaram a se encontrar todos os dias atrás do colégio, trocavam carícias e beijos e retornavam para a sala, como dois amantes. No dia anterior, ela lhe contara que seu nome era Isabella. Os encontros continuaram ocorrendo, dia após dia, à medida que o tempo passava, o receio de serem descobertos aumentava, o que acabava tornando ainda mais prazeroso aqueles encontros às escondidas. Durante o intervalo, os dois se reuniam lá para conversar e se conhecerem, logo perceberam que partilhavam de vários gostos em comum. Daniel a almejava o tempo inteiro, queria encontrá-la fora do colégio, mas ela sempre arranjava uma desculpa. Ele a confrontou um dia, queria entender o motivo de ela não querer encontrá-lo, após muita pressão, a garota cedeu. Dissera que seus pais não permitiam que ela namorasse e não tinha tanta liberdade fora do colégio, pois vivia sob uma rotina rígida impostas pelos pais. Daniel compreendeu; afinal, podia vê-la quase todos os dias no colégio, exceto pelos fins de semana. Isabella começou uma atividade extracurricular no sábado, que permitia que eles ficassem mais tempos juntos, estava tudo dando certo para aquele amor proibido.
"A aula de matemática foi muito chata hoje", disse ela, deitada sobre as pernas dele.
"Pois é", concordou. "O Prof. Guilherme parecia estar de mal humor."
"Nem me fale", disse ela, aproximando-se para beijá-lo.
Uma voz estridente rompeu o silêncio e a quietude do local.
"Isabella!", vociferou. Era a diretora do colégio, Berta. Uma mulher rechonchuda que vivia reclamando pelos corredores, queixando-se do próprio trabalho.
"Diretora", gaguejou ela, levantando-se.
O rosto de Daniel estava tomado por uma expressão de medo e angústia, sabia que não podiam ser flagrados, muito menos pela diretora do colégio. Além de violar o regulamento da escola, teria problemas com os pais da garota.
"O que você está fazendo aqui?", rosnou a diretora.
"Estávamos conversando", disse. Mas a diretora não pareceu convencida, agarrara Isabella pelo braço e a levara para a diretoria, ordenando que Daniel as seguisse. O garoto apresentou-se na diretoria, às pressas, a diretora tagarelava ao celular, muito irritada. Isabella parecia triste e tinha cara de culpada, Daniel sentia-se impotente, não podia fazer nada, tentara explicar para a diretora, mas ela não era cega, viu os dois quase se beijando. Mais tarde, o pai da garota chegara à escola, furioso, olhava a menina como se ela fosse a pior criminosa e lançava um olhar odioso à Daniel, como quem tivesse matado alguém.
"Você não pisa mais nessa escola!", rosnou ele.
"Mas pai", a menina tentou argumentar, mas os gritos do pai a convenceram que não adiantaria. O tempo se passou e Daniel não tivera mais notícias da garota, comunicou à escola na esperança de que pudessem ao menos confirmar que a garota estava bem, mas não adiantou. Começou a procurar suas colegas e perguntar o endereço dela, mas nenhuma tinha essa informação. Começou a andar pela cidade, descrevendo a garota em alguns bairros, à procura dela. Foi até a prefeitura da cidade, fez o que podia, mas não conseguia encontrá-la. Saiu um dia para espairecer de bicicleta, caminhava em um bairro desconhecido, ainda restava alguma esperança de encontrar o amor de sua vida por ali. De longe, avistou Isabella, que entrou para dentro rapidamente ao vê-lo, ele acelerou o quanto pôde e parou em frente a casa, largou a bicicleta no chão e foi até a porta, a garota apareceu na janela, tinha os olhos roxos e marcas vermelhas por todo o corpo. Ele entrou em pânico ao vê-la, começou a perguntar o que acontecera e pediu-lhe para entrar na casa.
"Vá embora, por favor", disse ela em um tom suplicante.
"Não vou deixar você aqui", assegurou. "Abra a porta!"
Ela abriu a porta, estava fraca, seus cabelos estavam mal cuidados e seu olhar expressava uma tristeza infindável. Caiu em seus braços, ele garantiu que a tiraria dali, quando ouviram passos.
"Deve ser o meu pai", disse a garota com temor na voz. "Por favor, vai embora"
"Não", disse ele com firmeza, os dois foram para o quarto, ele se escondeu atrás do armário. O pai da garota entrou, furioso, bradava com ela de uma forma tão grosseira que nem parecia que era sua filha, mas sua escrava. Perguntava à respeito de roupas que ela não lavara, ela estremecia e Daniel novamente sentia-se impotente, não podia sair dali e enfrentar o pai dela sem mais nem menos, era um adolescente e o pai dela era bruto e forte. Daniel precisava sair de lá e planejar melhor uma fuga para a garota, deu-lhe um olhar que dizia "Eu já volto!" e a garota fez um sinal indicando que poderia ir. Ele saiu pela janela, mas caiu em meio aos arbustos, chamando a atenção do pai. Ele deu meia volta e entrou no quarto, com uma espingarda na mão, Daniel escutara o som da arma e escondeu-se, o homem bradava para os ventos que mataria alguém que estivesse em sua propriedade. Isabella lhe assegurava que não tinha ninguém, mas recebera mais gritos e agressões de seu pai. Daniel não aguentava mais ouvir o choro de Isabella, que partia seu coração, apareceu e então, disse.
"Por que você não procura outra pessoa para atormentar?"
Encheu seu peito de coragem, era uma atitude suicida, o homem portava uma espingarda e ele não tinha nada além de um pedaço de pau que encontrara no chão. A garota entrou em pânico, temia sua morte, o pai soltou um sorriso maléfico e disparou atrás de Daniel. Os dois quase se esbarraram na cozinha, ela o seguia tentando conter o pai, mas ele lhe dera um tapa que ela caiu no chão, Daniel invadiu a cozinha e Isabella escutou um tiro de espingarda, seu coração parecia ter parado, um zumbido forte no ouvido levara embora sua audição, mil pensamentos invadiram sua cabeça. Daniel está morto! Ela correu até a cozinha, e deparou-se com seu pai no chão, morto e do lado estava Daniel, também ferido, agonizando de dor. De alguma maneira, o garoto conseguira mudar o rumo da espingarda, mas isso não foi o suficiente, a bala atingiu em cheio o pai da garota, mas também acertou seu estômago.
"Não, por favor", ela se aproximou de Daniel, que estava fraco e agonizava no chão.
"Vai ficar tudo bem", disse ele, suspirando com a voz enfraquecida. "Ele não vai mais maltratar você"
A garota desatou a chorar, abraçada com ele, suas vestes ficaram todas sujas de sangue. O rosto dele estava pálido, os olhos estavam fundos e sabia-se que ele estava à beira da morte. A garota encostara sua cabeça no rosto dele, chorando e clamando misericórdia divina para com o garoto. Ele a beijou suavemente e segurou sua mão com muita dificuldade.
"Eu te amo", disse ele.
"Eu também te amo!", disse a garota, chorando. "Por favor, não me deixa"
Era tarde demais, os olhos de Daniel se fecharam lentamente. Ela chorava desesperadamente, sentia-se culpada pela morte de Daniel, talvez se não tivesse aberto a porta o garoto ainda estaria vivo. A mãe chegou em casa e deparou-se com o marido morto, a filha ensanguentada chorando em cima de um cadáver e tornou a praguejar contra a garota, acusando-a de ter matado seu pai e aquele garoto. A garota já não respondia por si, levantou-se devagar, de costas para a mãe que gritava incessantemente, pegou a espingarda do chão e atirou contra a mãe. A polícia chegou no local, encontrou a garota dissimulada e a casa estava em chamas, os corpos foram retirados, concluíram que a garota teria matado os pais e o colega de classe em um surto, ela foi presa mas foi diagnosticada com problemas psicológicos e viveu o resto de sua vida em um manicômio.
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