Costa Francesa
Ano de 1854
O porto se encontrava agitado. Grandes navios saiam apressados do porto, abrindo caminho para um dos maiores navios a atracar nos portos da costa francesa. Equipado com ao todo cento e vinte e oito canhões, sessenta e quatro canhões de cada lado, velas negras, seu casco e mastros esculpidos e constituídos em resistente madeira de natural coloração vermelha e bela sereia esculpida a sua frente.
- Atenção, está atracando! _ Um homem grita enquanto os demais seguem organizar os preparativos para a chegada do poderoso navio.
- As amarras! _ Outro homem grita a fileira de homens que se encontravam a beira do porto.
Cordas são jogadas do navio aos homens enfileirados a lateral do porto. O navio era muito grande e não conseguia atracar perfeitamente ao porto, ficando amarrado de lateral a madeira do porto para que fosse possível o carregamento de mercadorias e especiarias de seu interior.
- Peixinhos de água doce _ Um homem surge do interior do navio, assustando os homens os quais se encontravam amarrando o navio ao porto.
- Capitão Morgan Marvin, é uma honra tê-lo de volta a nosso humilde porto _ Um homem trajando roupas finas diz ao sair de bela carruagem puxada por quatro belos garanhões brancos.
- Oi pra você também violetinha _ Capitão Morgan Marvin responde com claro desinteresse no homem que sairá da carruagem.
- Pe-Perdão senhor Marvin, mas é Laviolette, Frederick Laviolette _ O homem que sairá da carruagem responde com suas mãos postas sob o peito na tentativa de esconder seu coração pulando no peito por debaixo das roupas, por tamanho o medo que a mera presença do Capitão Morgan Marvin o fazia sentir.
- Tanto faz, não sou livro pra guardar nomes _ Capitão Morgan responde antes de seguir descer de seu navio por uma escada de cordas jogada a lateral do navio.
- Capitão Morgan Marvin, nosso monarca rei Carlos II deseja vê-lo _ Frederick diz ainda mais tremulo, uma vez que agora, Morgan estava na frente de Frederick, a poucos centímetros de distância do menor.
- Descarreguem o navio ratos do mar, Morgana, o comando é seu até eu voltar! _ Morgan instrui seus marujos antes de sair do porto, seguindo até a carruagem com Frederick.
Frederick adentra a carruagem branca primeiro, sendo seguido por Morgan. O capitão era mais alto e forte que Frederick que mais parecia uma dama da corte do que o conselheiro do rei da França. A viagem é longa e silenciosa, desconfortável silencio pairava no ar.
Frederick em silencio, observa Morgan pelo canto de seus olhos. Morgan tinha em torno de estimados dois metros de altura, cabelos pretos bagunçados por baixo de seu chapéu, pele dourada pelo sol e olhos de cor incomum, estando em cor entre dourados brilhantes e castanhos claros.
O capitão trajava de calças marrons amaçadas, botas de couro, seu inseparável chapéu vermelho de capitão com pena branca e um sobretudo vermelho sem as mangas, o sobretudo tinha claros sinais de que suas mangas foram rasgadas manualmente ao invés de cortadas e uma camisa branca de tecido fino e semitransparente de tão velhos.
Frederick, diferente de Morgan, trajava de uma camisa branca com sua gola em V, calças pretas, sapatos sociais muito bem lustrados, um sobretudo preto novo e seu inseparável chapeuzinho preto que se parecia com uma versão menor do chapéu de Morgan, porém, preto e sem a pena branca.
Frederick era bem mais baixo que Morgan, porém, detendo do porte padrão da sociedade francesa, em torno de seus um metro e setenta de altura. Pele tão clara que suas veias azuis eram visíveis, cabelos loiro claros até os ombros e olhos azuis mar.
Morgan estava com um de seus cotovelos apoiados no batente da pequena janelinha da carruagem. Como a carruagem detinha de baixo teto pela altura vista como padrão normal pelos franceses sendo menor que a de Morgan que era claramente bem mais alto que os homens na rua. Morgan precisa retirar seu chapéu e curvar seu corpo um pouco para frente para conseguir se manter dentro da carruagem.
[...]
Algumas Horas Mais Tarde...
Já no castelo de Carlos II, Morgan é muito bem recebido pelos soldados e empregados da corte. Frederick corria tentando acompanhar os rápidos passos largos de Morgan até ambos adentrarem a sala do trono.
- Grande capitão Morgan Marvin, há quanto tempo meu amigo _ Rei Carlos II diz ainda se encontrando sentado em seu trono.
- Não somos amigos _ Morgan responde em tom sério e seco ao rei.
_ Meu rei _ Frederick diz enquanto se curva a presença de Carlos II.
Morgan não necessitava se curvar a Carlos II, uma vez que aquilo era um encontro entre reis. Carlos II o rei da França e Capitão Morgan Marvin, considerado por todos os marinheiros que já cruzaram com o famoso Rubi Carmesim passaram a considerá-lo.
Alguns especulavam que Morgan era a reencarnação do próprio Alon Havelock, último capitão da grande lenda dos mares, Imperador Dos Mares, dado como uma lenda após seu desaparecimento, deixando para trás apenas seu lendário legado de navio inafundável e capitão invicto.
Em vida, Alon era considerado por muitos como filho do próprio deus dos mares Netuno, aos que não acreditavam e escolhiam testar sua sorte contra Alon, detinham como última visão, o cano das pistolas de Alon e o cheiro de pólvora ou o fino e frio corte de sua famosa espada Coroa De Netuno.
- Bem, bem, levante-se Frederick _ Carlos II diz enquanto encara seu conselheiro e braço direito.
- O que quer comigo dessa vez Carlos? _ Morgan pergunta sendo direto, uma vez que o mesmo odiava enrolações.
- Direto como sempre, sabe que gosto disso em você Morgan, daria um ótimo general a minha armada de navios _ Carlos II diz enquanto observa Morgan com um sorriso.
- Já falamos disso antes do Rubi Carmesim seguir viagem a alto mar, os mares da França são pouco para mim, não me interesso em liderar seus navios, são um peixe muito pequeno _ Morgan responde com desdém.
- Hora, encaro isso como uma sugestão de melhora a meus navios de guerra _ Carlos II responde com uma mão sob o peito e olhar surpreso voltado para Morgan.
- Se me trouxe para cá apenas para isso, vejo que perdi meu tempo, segunda vez Carlos, na terceira, a França fica sem um monarca para governá-la _ Morgan responde ríspido antes de seguir se virar de costas para Carlos II.
- Imperador Dos Mares, esse nome te lembra algo capitão Morgan?! _ Carlos II grita antes que Morgan saia da sala do trono.
Morgan para na entrada da sala do trono, ficando apenas parado em silencio de frente as grandes portas de carvalho negro talhadas artesanalmente, em pé no grande tapete vermelho dedicado a entrada do rei a sala do trono do castelo.
- É apenas uma velha lenda do mar _ Morgan responde sem olhar para o rei, seus ombros se encontravam rígidos e claramente tensos.
- Meu caro capitão Morgan Marvin, para muitos, você também é uma lenda dos mares, mas se encontra aqui, agora em minha frente. Nem todas as lendas são apenas histórias _ Carlos II responde olhando para Morgan com sorriso satisfeito.
- Não vou arriscar meu navio e minha tripulação correndo atrás de uma velha lenda sem a certeza se é real ou não _ Morgan responde antes de sair da sala do trono e na sequência, do castelo do rei da França.
Enquanto Isso No Porto...
Um jovem de cabelos pretos e pele dourada parda seguia andando com um borna de trapos na lateral de seu corpo, detendo de seus poucos pertences. Kaito detinha de porte de altura mediano, nem muito alto e nem muito baixo, mesmo aos seus doze anos.
Kaito era órfão, tendo sido encontrado ainda recém-nascido e coberto de sangue no final do porto de madeira em uma manhã fria, sendo assim, levado a um orfanato. Hoje, aos seus doze anos, Kaito fugira do orfanato ao descobrir que o famoso Rubi Carmesim atracaria no porto naquela tarde.
Kaito conhecia todas as famosas histórias das lendárias aventuras do Rubi Carmesim, junto a seu capitão e tripulação. Capitão Morgan Marvin era praticamente uma lenda viva nos portos franceses e nos mares.
O garoto andava pelo porto observando os navios com o pensamento de que se fora encontrado no porto quando recém-nascido, seu pai ou sua mãe poderia trabalhar lá, sendo um marinheiro ou simplesmente um funcionário do porto. Se pudesse descobrir ao menos seus nomes, para Kaito já era muito.
- Hey pirralho! _ Kaito ouve a voz de uma mulher vinda de trás de si enquanto o mesmo passava ao lado de uma pilha de caixotes de madeira.
- O-Olá _ Kaito responde se virando lentamente para a mulher, porém, não detendo de coragem para olhá-la nos olhos.
- Você não é da tripulação, o que faz ao lado do carregamento pestinha _ A mulher pronuncia enquanto se aproximava de Kaito.
A voz era inconfundível. Morgana, a primeira imediata do Rubi Carmesim, irmã mais nova do capitão Morgan Marvin. Os irmãos poderiam ser diferentes fisicamente, porém, eram igualmente impiedosos com os desavisados que cruzavam seu caminho.
- Eu te fiz uma pergunta moleque, não vai me responder? Os peixes comeram sua língua? _ Morgana pergunta parando na frente de Kaito, aproximando sua mão da gola da camisa do garoto, prestes a pendurar Kaito no ar, quando o som de um alto disparo pode ser ouvido.
- Que agitação é essa do lado do meu navio? _ A voz irritada de Morgan pode ser ouvida de trás de Kaito o qual apenas consegue se encolher.
- Encontrei esse ratinho se esgueirando por entre nossa mercadoria capitão, mas eu já ia ensinar-lhe uma lição _ Morgana responde com o mesmo tom sério que Morgan.
Kaito prende sua respiração ao ouvir o ranger da madeira do porto, eram paços, além do olhar afiado de Morgan em suas costas. Até que de repente, um sabre é posto abaixo de seu queixo, fazendo os olhos amendoados de Kaito se arregalarem e seu coração pular descompassado em seu peito. Isso era o medo tomando conta, mesmo com os guardas do rei no porto, Morgan não excitaria em cortar a cabeça de Kaito ali mesmo com apenas um movimento da lâmina de sua espada.
Um grito se prende a garganta de Kaito quando a lâmina se move em sua garganta, o forçando a levantar o rosto, se deparando com Morgan apoiado em um de seus joelhos a seu lado, encarando o garoto com seus assustadores olhos dourados.
- ... _ Kaito abre e fecha sua boca, porém, nenhuma palavra sai, era como se houvesse uma barreira em sua garganta, impedindo qualquer som de sair e o ar de adentrar.
- É só uma sardinha, joga de volta no mar _ Morgan responde se levantando novamente e recolocando sua espada na bainha.
- Capitão Morgan? _ Morgana responde incrédula antes de Morgan encará-la, fazendo a mesma baixar sua cabeça e retornar ao trabalho.
- Volta pro cardume peixinho, aqui é território de tubarões _ Morgan comenta agora virado de costas para Kaito, olhando o garoto por cima de seus ombros antes de seguir de volta para o interior do navio.
No Interior Do Rubi Carmesim...
Morgan Marvin segue em silencio pelo enorme convés do navio até sua cabine, se trancando no interior pouco iluminado do cômodo. A cabine de capitão do Rubi Carmesim era ampla, iluminada por velas e lampiões, uma vez que a luz do dia que adentrava as pequenas janelas de vidro e grades de ferro da cabine não era o suficiente para iluminar o local.
Morgan segue até a adega que se encontrava pendurada acima de grande sofá de veludo vermelho pregado ao chão de madeira, pegando uma garrafa de Rum, apenas abrindo a rolha da garrafa, virando seu conteúdo em sua boca direto do gargalo da garrafa mesmo.
"Por que aquele garoto me lembra alguém? E mais precisamente, quem ele me lembra?" Morgan pensa antes de se jogar no sofá vermelho, virando mais um gole de Rum em sua boca.
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