falaserionati Natália De Nadai

𝓼𝓲𝓷𝓸𝓹𝓼𝓮 Você consegue manter uma promessa? As vezes arrancar a pagina da dor de um amor é fácil, mas não foi esse o caso. Todos os anos pacientemente ela mante sua promessa e ele cumpriu a sua missão. O que o destino reserva para duas pessoas que se amaram intensamente e perderão o contato?


Short Story All public.

#conto #sn #romance #noah
Short tale
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Todos os Capítulos aqui.

Capítulo 1.

O grande letreiro retrô era de chamar atenção, eu passei pelas portas e fui tomada pelo ar gelado que saia do ar condicionado central. Tudo era iluminado por luzes de led. Dei alguns passos e olhei para o grande banner, um rapaz e uma garota se beijando, um clichê de Hollywood.


Caminhei até a fila observando os filmes em cartaz. Três pessoas estavam à minha frente. O filme em breve sairia do cinema e lançaria em todos os streaming possíveis.


Era a terceira vez essa semana que eu ia ver o clichê do cinema, a mesma história de sempre... já estava quase decorando as falas.


O rapaz que trabalhava vendendo os ingressos tinha um olhar de pena estampado em seu rosto "quantas vezes eu iria ver esse filme", ele deveria pensar.


Talvez na cabeça dele eu era uma pessoa solitária, ir ao cinema sozinha pra algumas pessoas é considerado estranho.


— Uma entrada só?


— Sim.


Eu saí da fila, não havia ninguém atrás de mim, o garoto entediado batia os dedos contra o balcão de vendas, esperando alguém aparecer.


A cada passo, me deparava com o totem dos protagonistas, o trabalho de divulgação pelo visto foi o mais árduo em anos.


Parei em frente ao banner do casal abraçado, era uma imagem encantadora, as fofocas diziam que eles tinham um envolvimento romântico. Se isso era verdade? vai saber.


O homem clichê de Hollywood. A beleza comum e ao mesmo tempo diferente de tudo, os cabelos escuros e encaracolados, a pele meio queimada do sol e os olhos castanhos, aqueles olhos... eram tão expressivos, chegava a doer.


Por alguns instantes senti que o totem de papelão que só tinha ele estava me encarando, era de arrepiar.


Ele ainda tinha o mesmo sorriso, quanto tempo havia se passado? Eu já nem me lembrava mais, me parecia uma eternidade.


Eu estou aqui, como sempre vendo os filmes dele, como prometi naquela tarde, quando eu ainda me considerava uma menina de dezesseis anos.


Eu apertei a corrente que estava no meu pescoço com uma estrela, um artigo tão barato que ainda carrego comigo, ele colocou no meu pescoço e eu não lembro de ter tirado um dia, pelo menos não por vontade própria.


A sala de cinema se abriu.


Eu entrei.


Estava vazia.


Já faz tanto tempo...



Capítulo 2.


Um tempo antes...


Antes de estar dentro da sala de cinema, quase vazia, vendo o mesmo filme pela décima vez.


Eu sai pela janela, avisando minha irmã mais velha que iria voltar depois, eu estava fugindo da minha família.


Todos os anos a família se juntava para ir até a propriedade do Tio Cláudio no interior de minas, um lugar chamado Capitólio, passamos alguns dias juntos, mas eles eram tão barulhentos que sempre que tinha oportunidade eu fugia.


Dentro da propriedade havia piscinas naturais e cachoeiras, que eram apenas de uso da propriedade. Tio Cláudio sempre se gabava disso, do grande negócio que havia feito. Eu estava caminhando até lá, pensando em esfriar minha cabeça sem ser seguida pelos meus primos.


Eu o vi pela primeira vez, um dia de dezembro à tarde, invadindo uma propriedade privada.


— Quem é você? O que faz aqui.


Eu perguntei um pouco brava, não que estivesse irritada com ele, apenas queria ficar um pouco sozinha e ele estava invadindo uma propriedade privada.


— Nadando, não é óbvio?


Ele balançou a cabeça tirando o excesso de água de seus cabelos, ele tinha um sorriso de comercial de creme dental. Meu coração parou por alguns segundos, cativando a beleza do rapaz que estava na minha frente.


— Esse lugar não é público.


— Quem te disse?


— Eu estou dizendo — Eu bati o pé brava, era uma mania de uma menina mimada talvez, ele abriu um sorriso ao ver minha irritabilidade parecia achar divertido, o que me deixou mais brava ainda.


— Você está muito nervosinha, não é mesmo? Esse lugar não cabe nós dois?


Eu cruzei os braços, ele apenas ria da minha cara de dentro da água. Eu tinha poucas escolhas, poderia ficar com um desconhecido ou com a minha família me pedindo as coisas, parece estranho mas neste momento um desconhecido parecia melhor pra mim.


Eu coloquei a toalha que estava no meu ombro em cima de uma pedra. Caminhei até a beira da água, me sentei e mergulhei meus pés na água dourada e suspirei. Era isso que eu precisava. Silêncio.


Apesar do silêncio eu sentia sempre que olhos estavam me encarando, eu queria apenas um pouco de silêncio e não ser encarada por um garoto cheio de hormônios.


— Então — ele se aproximou de mim, como um gatinho que tenta saber se é seguro pedir carinho.


— Eu gostaria de um pouco de silêncio.


Eu fui grosseira, mas estava irritada. Ele ficou em silêncio, eu estava introspectiva apenas ouvia minha respiração e o barulho da baixa cachoeira, não demorou nem três minutos, meu silêncio foi interrompido pela voz daquele garoto.


— Qual seu nome? — ele perguntou olhando em minha direção, em uma distância segura para eu não o atacar.


— Como você é chato — eu apenas bufei em reprovação.


— Meu nome é Thales — ele me encarou e eu ri do nome dele, ele tinha cara de qualquer coisa menos de Thales — não combina comigo, eu sei. Eu vou usar outro nome quando me tornar um grande ator.


— Ah sim — eu revirei os olhos pra ele — você deve ter tomado muito sol na cabeça.


— Você verá — ele se levantou olhou pro céu como se estivesse sonhando — Eu vou estar em todos os lugares, você vai ver.


O garoto saiu de dentro da água e se sentou ao meu lado — me diga seu nome.


— Não.


— Eu preciso ir, eu te espero aqui pra saber seu nome amanhã — Thales beijou meu rosto, ele sorriu pra mim — tchau nervosinha — ele correu até a bicicleta que estava encostada em uma pedra e sumiu.



Capítulo 3.


Depois de voltar pra casa, eu via imagens do garoto da cachoeira, Thales, e o sorriso que ele tinha, quando notei estava sorrindo pela lembrança. Eu fui dominada pelas minhas emoções adolescentes de filmes clichês e literatura romântica.


Eu deveria ir? Eu não deveria ir, tomei a decisão durante a noite. No dia seguinte o barulho me deixou com dor de cabeça e novamente eu fugi, eu sabia que estava indo pra lá em razão do barulho não por causa de Thales, eu sabia dentro de mim.


A decepção me percorreu quando eu cheguei e via as águas douradas calmas, elas se mexiam apenas por causa da cachoeira e o único barulho era da água — eu não vim aqui por causa dele — eu falava pra mim mesma.


Entrei dentro das águas, parei embaixo da queda de água, era fria no início, mas com o tempo meu corpo se acostumou.


Quanto tempo eu fiquei ali? Não me lembro, podia ser pouco ou muito, eu apenas gostava do barulho das águas.


Me sentei deixando as pernas ainda dentro da água, o sol da tarde de dezembro tocava minha pele como um abraço.


Eu senti uma mão cobrir meus olhos, o cheiro de colônia masculina invadiu minhas narinas — adivinha quem é? — A voz baixa estava perto do meu ouvido me causando calafrios.


— O famoso de Hollywood?


— Como você é engraçada — Thales se sentou ao meu lado e mergulhou os pés nas águas assim como estavam os meus. seus pés balançavam fazendo tudo que era calmo parecer agitado — estava me esperando?


— Não. — respondi assustada, não estava esperando ele. Eu repetia isso pra minha mente.


— Mentirosa — ele bateu seu ombro contra o meu, enquanto ria.


— Estou fugindo da minha família, eles são tão barulhentos. — disse timidamente.


— Você não gosta de barulho?


— Quem gosta?


Thales apenas deu de ombros. Ficamos em silêncio observando as águas da cachoeira.


— Você mora aqui? — Thales perguntou puxando assunto.


— Não, e você?


— Também não, estou apenas visitando uma tia avó — Thales pareceu ter um olhar triste em seu rosto — é estranho, ela é irmã da avó da minha madrasta e me sinto um pouco perdido entre eles.


— Imagino que deva ser — Eu olhei para as águas que estavam calmas — é minha família, me sinto como se fossem desconhecidos.


— Pelo menos não sou um deslocado sozinho, somos uma dupla de deslocados.



Capítulo 4


Eu e Thales nos intitulamos a dupla de deslocados, todos os dias íamos nos ver naquele lugar e passávamos as tardes juntos. Se tornou o nosso lugar.


Thales me contava seus sonhos, o que fazia da vida e como queria ser um grande ator de filmes. Acabou contando como foi que sua mãe havia falecido e como sua vida sem ela, também elogiou sua madrasta pois ela o tratava muito bem, mas não era a mesma coisa.


Contei a ele sobre minha vida, meus sonhos, falei de minha família e todas as coisas legais que tinha em São Paulo. Ele não morava no Brasil, mas fala português era muito bem.


Ele me contou sobre suas aulas de atuação, se gabou de ser o melhor da turma. Narcisista? Ele era um pouco, mesmo assim ficava feliz em ver ele todos os dias, talvez fosse a juventude, as beleza de Thales ou meus hormônios em fúria.


— Eu tenho uma surpresa — Thales disse — Amanhã vamos nos encontrar.


Eu ouvia a voz de Thales durante a noite toda, nós tínhamos um combinado, 16h iriamos nos ver. Nós nos víamos todos os dias, mas era algo diferente e especial. Eu sai pela janela, andei pelo campo hoje ele parecia diferente dos outros dias, como se ele tivesse algo especial, talvez fosse a chuva da madrugada que o deixou mais verde.


Quando eu cheguei ao lugar de encontro Thales estava lá. Andando de um lado para outro, parecia impaciente. Era uma cena encantadora ver ele nervoso.


Ele tinha feito uma cabana com tecidos que realmente não combinavam, havia almofadas grandes, algumas com a capa de zíper e um gato desenhado. A uma distância segura estava um amontoado de madeira que parecia uma fogueira.


— Olá, surpresa — Thales disse em voz baixa, parecia tímido.


— Uma barraca?


Thales balançou a cabeça, eu me abaixei e entrei na pequena tenda de pano que Thales tinha feito, ele tinha uma aparência meio sem fôlego deveria ter dado trabalho trazer tudo até aqui, havia um tapete antigo no chão


— Você podia pegar tudo isso?


— Pra ser sincero, não — ele sorriu sem jeito — meu primo me ajudou a trazer e montar então, talvez tenha.


Eu sentei dentro da tenda, Thales se sentou ao meu lado, suas mãos não ficavam paradas, ele estava nervoso — pensei em fazer uma fogueira


— Ainda está claro famosinho — eu respondi sorrindo


— Por que me chama assim?


— Porque me chama de nervosinha.


— Você não me disse seu nome — Thales me encarou, eu apenas fiquei em silêncio e sorri — só pensei que podíamos passar mais tempo juntos, eu gosto de conversar com você.


— Eu sou interessante? Todos me acham chata.


— você é, mas é sincera também — ele fez uma pausa — um pouco cruel talvez e muito bonita.


— como você é exagerado.


— Eu gosto de você mesmo cheia de defeitos — Thales me encarou, seus olhos estavam cheio de promessas, suas palavras me calaram e ele sorriu — você fica uma graça sem graça, nervosinha.


Ele beijou meu rosto, eu fiquei em silêncio, ele apenas ria do meu constrangimento.


Nós ficamos ali, acabamos vendo o sol se pôr juntos, quando começou a escurecer Thales acendeu a sua fogueira, se gabou de ser escoteiro. Eu me deitei no tapete dentro da tenda, e as luzes pisca pisca movidas a pilha se acenderam, elas brilhavam como estrelas no céu, algumas tinham forma de estrela.


Thales entrou na tenda e se deitou ao meu lado, eu pensei que ele estava olhando as luzes mas ele estava olhando pra mim.


— é bonito — ele disse em voz baixa, eu olhei pra ele e seus olhos brilhavam.


— Sim, muito bonito.


— assim como eu? — Thales perguntou e se deitou de lado, me encarando.


— Oh sim — Eu ri do ego de Thales — vai dedicar seus filmes a mim?


— Eu vou dedicar meu oscar pra você — Thales sorriu


— e eu vou te dedicar meu prêmio Nobel da paz.


Thales começou a rir, eu me virei de lado e o olhei, ele segurou minha mão suavemente — você fica bonita sobre essa luz — eu senti meu rosto corar novamente.


Ele tinha um charme, era impossível negar isso, ele deslizou os dedos suavemente pela minha bochecha que estava quente e me beijou, um beijo suave e doce. Não importa quanto tempo passasse eu jamais iria esquecer a primeira vez que Thales me beijou.



Capítulo 5.


Eu fui acordada, despertada para realidade. Eu não sabia se dormi ou apenas se me perdi em lembranças intensas do meu primeiro amor.


Uma mão gelada tocou meu ombro me assustando, eu olhei pra frente, a tela estava branca, as luzes estavam acesas e a sala estava vazia. O rapaz que me vendeu o ingresso me chamou.


— acho que eu dormi — eu pensei sozinha em voz alta.


— Senhora, vamos fechar.


O rapaz que me vendeu o ingresso me deu o mesmo olhar de antes.


Eu levantei e saí dali, caminhei até em casa, estava tarde escuro e o vento gelado tocava meu rosto e bagunçava meus cabelos, eu gostava de sentir frio.


Cheguei em casa, tudo estava igual sempre, calmo, silencioso e vazio. Nada havia mudado da hora que saí.


Caminhei até o banheiro, me olhei no espelho, eu era uma sombra do que já fui na juventude, os anos não foram meus amigos.


Eu não era mais a garota da cachoeira e Thales não era mais o mesmo, ele nem era mais o Thales.


Depois daquele verão com Thales eu me tornei adulta e ele se tornou um ator famoso como tanto dizia, eu o vejo nas notícias, nos filmes, em campanhas publicitárias, ele realizou os seus sonhos e eu sinto que perdi os meus naquelas águas douradas.


Eu fui arrastada para minhas lembranças, novamente era como se o tempo não tivesse passado, me lembrei daquela noite na beira da cachoeira de águas douradas.


— Você sabe o que eu quero — Thales sorriu — o que você realmente quer.


— Eu? — Olhei pra ele e pensei que realmente não sabia.


— Sim. — Thales segurava minha mão, nossos dedos se entrelaçaram em uma guerra de polegares — O universo tem poder, se você quiser vai conseguir assim como eu.


Depois de alguns segundos pensando e olhando pra Thales eu respondi, tomada por uma coragem, algo que eu nunca admiti para ninguém


— Eu quero escrever.


— Sobre o que?


— Ainda não sei — Eu dei de ombros e Thales sorriu.


— É uma ótima ideia, você escreve os filmes e eu atuo neles.


— Você é muito sonhador.


— Sonhos grandes ou pequenos, eles dão o mesmo trabalho, pra que me contentar com pouco?


— Quanto mais alto se voa, maior é o tombo.


— Pessimista, é isso que você é. — Thales disse rindo.


— Ok — eu suspirei — prometo que vou escrever um filme pra você.


— Eu vou ser um super herói com poderes incríveis?


— Você vai ser você


— e você vai ser o que? — ele pareceu curioso.


— a pessoa que escreve.


— Escreva sobre nós. — Os olhos dele pareceram cheios de esperança.


— Vou escrever.


— Promete? — Thales estendeu seu dedo mindinho e eu estendi o meu, ambos se entrelaçaram.


— Sim, eu prometo.


Nós ficamos uns segundos em silêncio com os nossos dedos entrelaçados, ele segurou minha mão, seus dedos acariciaram meu rosto, o ar parecia quente em volta de nós, ele se aproximou e sussurrou próximo ao meu rosto — vamos tornar essa noite inesquecível.


Os olhos de Thales brilhavam mais que as estrelas mais intensas do céu, seu olhar fazia meu coração bater mais rápido, quase tão rápido que me deixava sem ar.


Ele se aproximou de mim devagar, como se eu fosse uma boneca de porcelana que poderia quebrar, seus lábios tocaram o meu suavemente. Eu podia sentir o calor de Thales, o calor de seus lábios, o calor de seu corpo, de seu coração. Era tão gentil, amável e carinhoso. Ele afastou seu rosto, nossos olhos se encontraram, ele estava sem fôlego.


Seus lábios estavam entreabertos e puxavam o ar devagar, eu pude sentir o cheiro de menta do seu hálito, misturado com a sua colônia aqua e feromônios.


Eu me aproximei dele, guiada pelos meus hormônios e o beijei.


Eu o beijei.


Meu Deus, como eu queria ele naquele momento, como eu queria que tudo fosse eterno.


Nossos lábios se encontraram de forma tão doce, quando meus lábios entre abriram sua língua invadiu minha boca, suavemente, me saboreando, buscando meu calor. Era um beijo cheio de desejo e promessas. Era como se o mundo fosse acabar, e poderia ter acabado naquele momento e eu morreria feliz.


Suas mãos pararam em minha cintura, me puxou, me trouxe pra perto, nosso corpos se encontraram com força que me fez ofegar, nos lábios se afastaram e os olhos se encontraram, estava ali, tudo óbvio, escrito em nossas faces, nosso corações batiam em sincronia como e naquela noite nós seríamos apenas um.


Thales colocou sua mão na minha nuca e me beijou novamente, o beijo inocente aos poucos se tornou fogo, minha mão repousava sobre o seu peito e eu sentia seu coração, nosso beijo foi prolongado quando ele mordeu meu lábio inferior e beijou meu rosto cada centímetro, ele se deitou sobre mim, seu corpo cobriu o meu.


Nossa noite foi eterna e inesquecível, pelo menos pra mim.


A forma que Thales e eu nos conectamos foi única, o jeito que ele me tocou jamais ninguém tocaria novamente, intenso e suave, doce e picante, enérgico e hipnótico.


Não poderia imaginar algo mais perfeito do que aquela noite.


Capítulo 6.


Eu caminhei até a gaveta do meu guarda roupa, a gaveta esquecida, aquela que eu não abria nunca.


Estava lá a foto que Thales tirou nossa, sem a minha autorização, a única. Se eu soubesse como tudo iria terminar, teria aceitado tirar várias fotos.


Ele beijava meu rosto da imagem e eu fazia uma careta, lembro que ele babou no meu rosto quando me beijou e eu surtei.


Nossos dias depois daquele foram perfeitos, cheio de amor e carinho, ele me chamava de nervosinha e às vezes me provocava para me ver brava. Eu segurei a corrente que ainda estava em meu pescoço e apertei, minha vista ficou embaçada pela lembrança triste.


Eu me lembro perfeitamente...


Estava observando a água que caía da pequena cachoeira. Era bonita, eu me lembrei de dormir sobre o peito de Thales ouvindo aquele barulho, a lembrança daquela noite me fez corar. Eu cheguei o sol estava alto e ganhei uma bronca da minha irmã por ter mentido para família toda para acobertar minha fuga.


Eu senti um par de braços me envolver de forma carinhosa, respirei profundamente e senti o cheiro de Thales, eu reconheceria seu cheiro em meio a uma multidão de perfumes, o cheiro dele era único. O cheiro dele estava em minha roupa, em meu corpo, em minha alma.


Ele beijou meus cabelos carinhosamente, eu suspirei, senti meu corpo relaxar ao seu toque, ficamos em silêncio por um tempo.


— Senti sua falta. — Ele sussurrou perto do meu ouvido, sua voz era uma melodia.


— Sabe que nos vemos todos os dias.


— Cada segundo sem você me parece uma eternidade.


Eu me virei e olhei pra Thales, eu deitei minha cabeça em seu peito, ouvia seu coração bater como a mais bela sonata de Beethoven, eu fechei meus olhos e respirei fundo, me senti embriagada pelo perfume de Thales, estávamos juntos e nada podia ser mais perfeito.


Thales estava calado, parecia triste e melancólico.


— Nervosinha — eu levantei os olhos e o encarei, seus dedos percorriam meu rosto — eu vim me despedir de você.


Eu olhei em seus olhos, procurei um sinal de brincadeira, então eu entendi que nós iríamos nos separar.


isso já era de se esperar mas tinha apagado aquilo da minha mente, do meu coração.


— Preciso voltar pra casa, quer ir embora comigo? — Ele beijou minha testa e me abraçou


— Você é muito bobo — Eu suspirei, era algo totalmente impossível, éramos jovens e ainda dependíamos de nossos pais.


Thales engoliu seco, eu pude sentir. Meu coração se apertou, ele realmente ia embora, não era uma simples brincadeira, amanhã ele não estaria aqui.


Ele deu um passo pra trás e tirou uma corrente de estrela de seu bolso, algo simples, bobo, banal que poderia ser encontrado em qualquer lugar, mas aquilo se tornaria tudo pra mim. Ele segurou no ar e eu pude ver a estrela


— é pra você, sou eu. Serei sua estrela.


Ele parou atrás de mim e colocou o colar em meu pescoço, o frio do pingente me tocou. Ele me abraçou, seu rosto se escondeu entre meus cabelos, naquele momento eu não sabia, mas depois eu descobri ele estava chorando e não queria deixar eu me virar, não queria que eu visse suas lágrimas.


Minha visão também estava embaçada.


Foi um longo tempo que ficamos assim, muito tempo, na verdade no relogio comum foi pouco, na minha mente foi um momento mais longo e doloroso da minha vida.


— Você vai me ver — Thales forçou a risada — me ver no cinema quando eu for famoso?


— Eu prometo que vou sempre te ver no cinema.


Nossas mãos se tocaram, nossos dedos se entrelaçaram e nossos lábios se uniram. Foi um beijo molhado, molhado pelas nossas lágrimas, um beijo carregado do amor da juventude e a tristeza da despedida.


Naquele momento eu entendi que ele não iria mais voltar, que meu primeiro amor estava partindo.



Capítulo 7.


Eu o vi alguns anos depois em um clipe de música de uma cantora famosa, ele dançava com ela.


Eu o vi fazendo uma série muito popular.


Eu o vi participando de filmes adolescente com música.


Eu o vi por muito tempo, pela minha vida todo, eu o via todos os dias.


Ele não se chamava mais Thales, talvez o nome realmente não combinasse com Hollywood como eu disse.


Eu segurei a corrente que Thales me deu, eu olhei para o meu caderno de capa Kraft, eu fiz o que prometi a ele, escrevi uma história, a nossa história, ela ficava na minha estante perdida em meio aos meus livros. Nossa história estava ali, juntando poeira em meio a várias histórias na minha casa.


Depois de tantos anos, eu ainda o via o tempo todo, meu primeiro amor. Thales não sabia meu nome, ou onde eu moro, naquela época eu esqueci de falar, nossos dias eram tão incríveis.


Por muito tempo eu senti o amargo de não ter falado meu nome, pensando que poderia ter acontecido, se estaríamos juntos? Quem sabe...


Novamente era dezembro, e eu voltei a capitólio.


A nova geração da nossa família precisava conhecer aquele lugar. Era aquele dia, próximo a hora que eu fugi.


Agora seria diferente, eu sai pela porta da frente.


— Onde você vai? — minha irmã perguntou segurando o bebê no colo, a pequena estava distraída com o bicho de pelúcia.


— Ver a cachoeira, faz tanto tempo — minha frase saiu carregada de nostalgia.


— Espera ver alguém? — minha irmã me encarou, ela sabia de meu romance com Thales, da nossa noite e quem ele era.


— Eu o vejo sempre, só quero ouvir o barulho da agua.


Eu saí pela porta da frente desta vez, caminhei pela estrada, estava tão acostumada, me perdi em meus pensamentos em minhas lembranças de Thales.


Eu encarei as águas calmas e me lembrei dele nadando, eu poderia sentir seu cheiro se fechasse meus olhos, eu ouvia sua voz me chamando de nervosinha.


Eu segurei a corrente que ele me deu, ainda estava em meu pescoço, ele se tornou uma estrela, as lembranças fizeram meus olhos encherem de lágrimas — você tem razão, eu vejo você ainda — eu sussurrei pra mim mesma.


Me sentia muito boba, novamente uma menina boba. Chorando por uma lembrança do passado, era apenas uma boa lembrança;


Nosso primeiro amor é eterno, nunca é esquecido, talvez eu realmente nunca esqueça o Thales.


Se ele me esqueceu? Eu não sei.


Eu fechei os olhos e respirei profundamente. Eu ouvia o barulho da cachoeira e ouvia a voz de Thales como um eco dentro de mim.


O vento soprou em meus cabelos e eu senti o seu perfume novamente, minhas lembranças ali se tornavam mais reais, eu sorri pra mim mesma.


Um som chamou minha atenção, uma voz, eu fui puxada por aquela melodia.


— Ei, nervosinha, não está me ouvindo? Pode me dizer seu nome?


Eu me virei em direção a voz e meu coração parou.

Nov. 11, 2022, 1:28 p.m. 0 Report Embed Follow story
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The End

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