Antes de de vocês começarem a leitura to passando para avisar que os livros dessa serie já estão disponíveis aqui no inkspired são eles o Linhagem sombria e o Rio de sangue aproveitem para conhecer mais desse universo incrível. Outra coisa quero pedir um favor para que todos não deixem de curtir e comentar os capítulos, pois isso e um incentivo para que todos os escritores continuem a se esforçar cada vez mais. Obrigado por todo o apoio de vocês e até o próximo capítulo.
A porta da velha estalagem se abre. O vento frio invade o local, anunciando a chegada de mais um duro inverno na região. Uma misteriosa figura encapuzada caminha para dentro e se acomoda numa mesa mais afastada. Olhares convergem para ela.
O recém-chegado vestia um manto que sem dúvida já teve dias melhores. Suas botas enlameadas e gastas mostravam que não era da região. Alguns dos homens que bebiam ali ficaram em alerta. Não era novidade que desertores, ladrões e até alguns mouros apareciam por vezes naquelas terras. Caso a pessoa misteriosa fosse um dos três tipos, receberia o tratamento especial que a vila reservava para esses convidados indesejados.
Ao sentar-se, a figura coloca uma espada sobre a mesa. No pomo, junto ao cabo desgastado, um espaço vazio onde outrora deveria pousar uma joia. O tempo passa e todos voltam suas atenções para o que estavam fazendo antes. Apenas um homem continuava tenso.
Guido, o dono da estalagem, era um homem obeso que aparentava ter 50 anos. Ele havia chegado ao vilarejo há 20 e poucos anos a convite de um primo seu que dizia não haver lugar melhor para se viver. Era verdade. O senhor daquelas terras era um homem justo e honrado que cuidava bem de seus servos. Seu nome era Theo e mesmo a família sendo… Bom, diferentes, na opinião de Guido eles sempre tratam todos de forma igual, não importando sua origem. Claro que também tinham problemas, como em qualquer outro lugar, e a especialidade de Guido era farejá-los. O misterioso forasteiro sentado no fundo, de sua estalagem fedia a um dos bem grandes. Mesmo a contragosto, Guido caminha até sua mesa.
— O que vai querer, estranho?
— Comida, vinho e, se tiver algo parecido aqui, um quarto.
— E como pretende pagar por tudo isso? Vou logo avisando que aqui não é lugar para mendigos, então trate logo de sair. — Em um movimento de sua mão, o homem faz três moedas de ouro rolarem sobre a mesa, parando diante de Guido que saliva de cobiça.
— Comida e vinho!
— Sim, claro, cavaleiro. Imediatamente.
— Há também um cavalo lá fora. Mande alguém cuidar dele e levar minhas coisas para o quarto.
— Agora mesmo, meu senhor. Marco! Marco! Onde está esse maldito moleque? — Guido se afasta indo para o interior da estalagem enquanto gritava ordens.
Minutos depois um prato de cozido fumegante é colocado diante do estranho que retira o capuz, revelando um homem maduro de rosto endurecido onde uma cicatriz repousava em um de seus olhos castanhos que revelavam uma tristeza profunda. Enquanto o homem comia, um rapaz de corpo forte e sorridente se aproxima e sem cerimônia puxa uma cadeira, sentando-se à mesa e encarando com desdém. O jovem à sua frente era como tantos outros que vira morrer nos últimos anos, na guerra. Era orgulhoso, forte e crente que era um presente de Nosso Senhor para o mundo. Simplesmente mais um fanfarrão que ainda não conhecera nem o calor do corpo de uma mulher.
— De onde você vem, amigo?
— De longe.
— Sei. É sempre bom termos amigos, então estava pensando se um cavaleiro tão afortunado não estaria disposto a pagar uma bebida para seus amigos.
— Eu não tenho amigos. E se tivesse eles não seriam da sua laia, garoto.
— Como ousa me ofender? Sabe quem eu sou? Eu sou Luigi De Luca e exijo que se desculpe agora, senão o farei se arrepender. — O silêncio do homem era insuportável. A raiva de Luigi crescia a cada segundo, levando-o a tocar na espada que trazia junto de si. O homem parecia indiferente à ameaça diante dele e continua comendo calmamente. A atitude faz com que todos no lugar rissem. Luigi se enfurece ainda mais e derruba a comida que estava sobre a mesa. O estranho pega a espada e finalmente olha para o garoto, fazendo-o sentir calafrios.
— Ragazzo, eu já conheci gente do seu tipo antes e se não for embora agora, juro em nome de Deus que o enviarei para junto deles — Luigi estava encurralado conforme o homem se levantava, parecia tornar-se um gigante diante de seus olhos, o assustando de tal forma que seu desejo era fugir. Mas isso já não era possível. Todas as pessoas em volta ouviram suas palavras e se ele recuasse agora o nome de sua família seria manchado. Ele não podia permitir que isso acontecesse. Era preferível a morte a tal desonra. Justo quando Luigi decide se lançar contra aquela muralha em forma de homem, uma voz o faz parar.
— De Luca, como se atreve a criar balbúrdia nas terras de Lorde Theo? — Parado junto à porta, um jovem rapaz de olhos cinzentos presenciava o desenrolar dos acontecimentos. Enquanto ele andava ao encontro de Luigi, as pessoas em volta se curvaram em respeito. Um sorriso era visível no rosto de Luigi, que recobra a coragem.
— A que devemos a honra de receber a ilustre visita de Dante di Savoie, o herdeiro do Conquistador? Ah! É verdade, você nasceu uns minutos depois do verdadeiro herdeiro.
Dante para diante de Luigi
— Os meus motivos para estar aqui não lhe dizem respeito, Luigi. Entretanto, quero saber com que direito ameaça a vida desse viajante.
— Eu não lhe devo respostas ou qualquer outra coisa, fedelho. Se não fosse por seu pai obrigar a minha família a jurar lealdade, eu teria o imenso prazer de separar sua tola cabeça do resto do corpo inútil aqui e agora.
— Verdade? Pois, eu gostaria de lhe ver tentar — A mão de Dante repousa sobre a espada em sua cintura. Contudo, a mesma determinação de suas palavras não era vista em seu olhar. O sorriso de Luigi cresce e um brilho perigoso surge em seus olhos.
— Ha, ha, ha! Muito engraçado. Não sabia que Lorde Theo tinha um novo bobo em sua corte. Eu jamais lhe daria a honra de me enfrentar. Talvez seu irmão. Esse, sim, é um homem digno do nome que carrega. Então você e esse forasteiro podem ficar felizes, pois tenho coisas mais importantes para fazer do que perder meu tempo com vocês. — Rapidamente Luigi caminha para a saída, seguido pelos outros membros da família. Dante deixa um suspiro de alívio escapar ao perceber que tudo acabara bem e se vira para partir.
— Obrigado. — A voz do homem faz com que Dante se assuste. Por um momento havia esquecido dele.
— Não precisa agradecer, senhor. Luigi é um vassalo de nossa casa. É nossa obrigação evitar que ele faça mal a qualquer pessoa.
— Bem, deixe-me agradecer assim mesmo. Permita que lhe pague uma bebida, eu insisto — O homem sinaliza para que ele se sente e pede para Guido trazer mais vinho e outra caneca. Após alguns goles, o homem olha para Dante, como se o avaliasse.
— Perdoe a minha falta de educação, jovem mestre, mas qual era o significado das palavras do brigão? — Dante entorna o vinho, coloca a caneca vazia na mesa e parece encolher.
— É aquilo mesmo que ele disse. Como o senhor é novo por aqui, não sabe, mas meu pai é o Lorde Supremo destas terras e todos juraram lealdade a ele. O Senhor abençoou meu pai com dois filhos. Somos gêmeos. Meu irmão já venceu até mesmo adultos em combates e disputas e sem dúvida ele será um guerreiro maior até que nosso pai. Diferente dele, eu não tenho tanta aptidão para a espada e nunca venci nem ao menos um treino contra outros da nossa idade. Eu simplesmente não fui feito do mesmo material que ele.
— Isso é ótimo. — Dante levanta a cabeça, surpreso com aquelas palavras. Ele se depara com o olhar sério daquele homem que parecia satisfeito de alguma forma.
— Por favor, não brinque com isso, senhor. Quem gostaria de viver dessa forma? Ser uma erva daninha quando deveria ser um grandioso pinheiro?
— Homem, não se deprecie tanto. Deixe-me lhe contar uma coisa: apenas quem conseguir enxergar o seu real valor conseguirá valorizar quem você é. O pinheiro é uma árvore frondosa e imponente, de fato. Entretanto veja a resiliência das ervas rasteiras que crescem até mesmo nos lugares mais inóspitos. Elas podem ser vistas como ervas daninhas ou um arbusto qualquer, mas nas mãos corretas podem tornar-se valiosos elixires que salvam vidas. Elas são completamente diferentes do grande pinheiro, mas em sua forma tão discreta guardam sabedoria e valor.
A conversa segue noite adentro, passando pelos mais diversos assuntos, até que ambos percebem serem os únicos no local, além de Guido, que dormia apoiado no balcão.
— Está quase amanhecendo e devo partir. Obrigado pela conversa.
— Não agradeça, jovem mestre. O senhor respondeu a todas as minhas dúvidas e confirmou que fiz a escolha certa.
— Fico feliz por ser útil e espero que possamos nos ver novamente.
— Sim, eu também espero. — Os dois homens se despedem e Dante retorna ao castelo. Dias depois, enquanto estava na biblioteca da família, uma batida na porta interrompe a leitura de Dante concentração.
— Entre. — Uma serva para a porta e curva-se antes de prosseguir.
— Mestre Dante, vosso pai, Lorde Theo, o aguarda no salão.
— Obrigado, Ana. — Dante recoloca o livro no lugar e vai ao encontro de seu pai, resignado. Ele já havia perdido as contas de quantos mestres Theo havia trazido, na esperança de torná-lo um guerreiro. Ele entendia a preocupação do pai. Ano após ano, hordas dos mais diversos povos atacaram aquela região, ameaçando a vida das pessoas que ali viviam e confiavam neles. Era de se esperar que os filhos de Theo fossem ao menos bons guerreiros e não apenas eruditos. Uma vez seu irmão. Enrico brincou, dizendo basta deixar que Dante palestra-se sobre os pensamentos de Aristóteles e todos os bárbaros fugiriam assustados ou cairiam no sono e a vitória seria certa. Enquanto caminhava, Dante passa por uma janela e vê seu irmão praticando com o arco. “Por que somos tão diferentes? Se ao menos…” Dante interrompe o pensamento e recorda as palavras do viajante na estalagem. Chegando à porta do salão, um guarda o anuncia. Ao entrar, encontra Theo acompanhado de um homem elegante, trajando uma adornada túnica, que olhava pela janela.
— Mandou me chamar, Lorde Theo?
— Sim. Aproxime-se, Dante. Quero apresentar um velho amigo que voltou recentemente e atendendo ao meu pedido, veio aqui para lhe ensinar as artes da guerra. Acredito que ele será de muita ajuda nos seus treinamentos e estudos de estratégia.
— Muito prazer, cavaleiro. Eu sou Dante di Savoie e será uma honra aprender o que o senhor tem a me ensinar — O homem se vira e o rosto de Dante ilumina-se de surpresa.
— Muito prazer, mestre Dante. Eu me chamo Giovanni Ricci e tenho certeza que também aprenderei muito com o senhor. — O novo mestre que seu pai havia chamado era o viajante da estalagem.
Thank you for reading!
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