braxis Matheus Brasilino

Até que ponto você chegaria para defender seus ideais? Em meio as ruínas de sua pátria, a imperatriz e seu guardião atravessam as cidades para restaurar a ordem e encerrar a guerra civil que assola a todo o território. Passando por conspirações, ideologias, romances, risos e lágrimas, perseveram em sua luta para salvar o seu povo dos inimigos internos e externos. Acompanhe-os nessa jornada política e filosófica, contemplando seu crescimento pessoal, enquanto os mesmos lidam com as provações de seus respectivos postos.


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Introdução

Um olhar triste contemplava o horizonte.

Mantendo-se na estrutura mais alta de seu castelo, o ancião encarava a paisagem, imóvel, repensando seus feitos e lembrando-se com nostalgia de seu passado.

O cenário era encantador. Olhava seu império e contemplava a paisagem montanhosa a distância, as cidades emanando fumaça da queima de carvão e as carruagens atravessando as grandes estradas. Ouvia o canto dos pássaros e sentia a brisa em sua face, enquanto permanecia pensativo.

A jornada que o levou até ali passava diante de seus olhos.

Encontrava lembranças de glória e conquistas pessoais, recordava-se de guerras vencidas e a face de cada inimigo derrotado. Lembrava de cada lição aprendida no fim de todo período e como gradualmente evoluiu e amadureceu depois de todos esses anos. Mas a velha expressão também demonstrava agonia e arrependimentos, sobre dores e conflitos não resolvidos e uma desesperança de alguém que não poderia evitar o destino que lhe aguardara. Posicionado em sua varanda no alto do castelo Einid, as lembranças que de início eram saudosistas, o levaram a mais profunda tristeza e lamentação.

Imperador desde os 15, Domiciano estava exausto.

Desde que se tem consciência, havia sido treinado para se manter no trono e não cair perante a opositores políticos e suas artimanhas maquiavélicas. Governar sobre a estrutura política imperial soava para qualquer membro das classes mais altas algo como “o mais perigoso jogo a se jogar”, segundo as palavras ditas por seus próprios conselheiros. Todos sempre desejariam querer manipulá-lo em prol de seus interesses: alguns almejando uma presença mais ampla na respectiva hierarquia, outros, uma influência maior com a família imperial. Sejam eles nobres com ambição ou apenas homens com muitas posses, ele sabia que ninguém era totalmente confiável, por isso precisaria matar seu lado pessoal e suprimir suas emoções, visando se tornar o poder central que guia o estado, o pilar que equilibra as classes e o símbolo de ordem e soberania de sua nação.

Esteve preparado para carregar este fardo e assim o fez. Através de muitos sacrifícios e renúncias, o Império de Zarden se tornou uma potência, um representante da monarquia absoluta estável ao mundo. Um dos únicos elementos que alcançou seu estágio industrial sem depender tanto de tecnologia estrangeira, garantindo assim, uma certa independência. Não precisaria impor a agenda liberal da Confederação de Egron em sua sociedade ou ficar preso em dívidas eternas ao Império de Witfordia em troca desses avanços. O ano era 1890, e sua civilização alcançou o seu ápice desde os tempos descritos como “A Era Dourada”. Contanto que conseguisse manter sua zona de influência intacta com seus vizinhos, não passaria por nenhuma escassez, seja essa de recursos ou capital.

Ele então se vê em sua coroação, e recorda de seus sonhos ao tomar posse, sobre como gostaria de mudar o mundo e usar seu poder para resolver problemas que já eram de longa data. Nessa época para ele tudo que lhe importava era ser lembrado como um líder prestigiado, um que sempre lute pela justiça e bem-estar de seu povo, com tamanha inocência, que era irreconhecível, se comparado a seu estado atual.


—Eu mudarei esse mundo, o tornarei mais justo e pacífico.


Essas palavras ditas pelo próprio, ecoam em sua mente de maneira tão dolorosa, que o arrancam lagrimas, pois, mesmo sendo vitorioso, nada se concretizou da maneira na qual idealizara. Domiciano, em seu mandato para manter o poder, sacrificou sua humanidade. O medo da derrota o tornou tão inescrupuloso quanto seus antecessores.

De seu trono, esmagou inimigos impiedosamente, sobreviveu a traições daqueles na qual tinha afeto, observou os gritos de dor daqueles que juravam vingança. Ele viu inúmeros homens na qual tinha imenso respeito morrerem por seus ideais e aprendeu até mesmo a rir quando necessário, amando e odiando quando conveniente. Sua alma estava vazia e ele chegou a ponto de muitas vezes sentir nojo de si mesmo, mas a cada vez que caminhava pelas ruas e via seus cidadãos prosperando em suas jornadas, ele sentia que valia a pena, pois o menor dos erros poderia ter custado suas vidas. No fundo, também sabia que já havia se tornado um dos demônios, um dos seres de que costumava desprezar, mas a cada progresso e meta nacional alcançada, o faziam se sentir vivo novamente.

Seu semblante imponente resistiu a idade, ocultando o respectivo desgaste como governante. Sua face estava conservada, e mesmo seus cabelos embranquecidos não derrubavam o olhar destemido, que intimidava muitas vezes seus servos desleais.

O último desafio, no entanto, provaria ser o mais difícil até então. A crise estabelecida em data recente fugira de seu controle. Não haveria como estabilizar a militância pacificamente, logo, uma nova guerra se escalou.

Zarden possuía diversas classes dividindo o poder.

A primeira era composta pelos nobres, sendo que cada família governava uma província. Tal título era conquistado por prestígio e virtudes para os cidadãos que se provaram estar além de seu tempo. Aos nomeados, se eram entregues terras e poder político e os mesmos transmitia-os hereditariamente. Em escalas regionais, eram chamados de condes, e acima destes havia os duques, governando a níveis estaduais. A ideia original que sustentava a hierarquia baseava-se em uma suposta “disseminação de valores”, pois os reis, em conjunto com a nobreza, seriam responsáveis por liderar com base no exemplo, guiando seus súditos para as trilhas da ordem e do desenvolvimento.

A segunda classe era composta pelo clero. A crença ao criador em Zarden era conhecida como Alirismo e a igreja Aliria, ao ter sua principal sede no país, legitimava o governo imperial doutrinando a população. Os valores que sustentavam a conduta virtuosa dos nobres foram desenvolvidos pela mesma, tornando-a o ponto absoluto de referência moral no império. A justificativa baseava-se no argumento de que o imperador era o portador da ordem, o líder designado pelo criador em terra e o principal seguidor e conhecedor de todas as virtudes. Sempre governava em conjunto, determinando fatores legislativos e sendo responsável pela manutenção da moralidade em toda nação.

A terceira classe era a burguesia, composta por membros da população que acumularam uma grande quantia de capital através de empreendedorismo, sendo mercadores e negociantes, comprando e vendendo seus produtos. Adquiriu um crescimento notável durante a revolução industrial. Este avanço os fez adquirir poderes e influência comparáveis a nobreza, gerando conflitos internos entre as duas classes. O antes pequeno comerciante se transformou em um grande empresário e quando isso ocorreu, o desejo por representação e poder aumentou de maneira proporcional. Em todas as crises, o imperador optava por defender a nobreza, alegando que ter mais valores e virtudes é mais digno do que se ter mais capital, o que gerava total descontentamento entre os mais recentes ascensores.

A situação começou a sair de controle quando filósofos estrangeiros desenvolveram livros ideológicos avaliando as formas de governo e gerando novas sugestões de liderança.

Estas eram totalmente progressistas e descentralizadas.

A burguesia viu como a oportunidade perfeita para remover o poder central que podava seu crescimento e espalhou tais ideologias liberais com um forte financiamento em propaganda. Quando o imperador iniciou a repressão, já era tarde demais, o ideal de liberdade já havia contaminado a população e a maior parte das forças armadas. Quando se deu conta, não haviam restado muitas opções: a guerra civil havia estourado.


—Majestade, o conselho está a aguardar.


A voz a lhe chamar o fez voltar de seu mundo de lembranças e então olhou ao seu guardião.


—A hora finalmente chegou Doman, está preparado para cumprir seu dever?

—Sim, vossa majestade.


A face inexpressiva do guardião demonstrou que não haveria hesitação em seguir suas ordens. Doman era forte e alto, possuía cabelos curtos e de coloração escura, além de um olhar que aparentava frieza. Vestia um manto negro que cobria todo seu corpo do pescoço aos pés, a roupagem possuía algumas marcas vermelhas, cujo formato se assemelhavam a pequenas listras. O brasão da bandeira imperial estava marcado em suas costas.

Guardiões eram a elite das forças armadas de Zarden. Não possuíam vida pessoal ou família. Suas memórias eram em grande parte, eliminadas. Combatentes perfeitos designados a viver unicamente para servir seu país, sendo que a eficiência de seus regimentos era excepcional e sobre humana, e isso certamente geravam muitos rumores e lendas entre a população. De anjos á demônios, sempre incluíam o misticismo para justificar suas habilidades, e inúmeras histórias contavam sobre suas batalhas onde venceram em cenários desoladores, aumentando assim, a reputação destes.

Muitos países tentaram fazer programas semelhantes, mas nunca conseguiram igualar-se. Tal tradição militar era exclusiva, jamais houve um guardião estrangeiro.

Domiciano adentrou a sua sala e rapidamente seguiu para os corredores, Doman o acompanhou. Seus passos eram rápidos, e começavam assim a se aproximar de sua jornada, onde o imperador sem alma e seu leal protetor, já haviam aceitado o sombrio futuro que os aguardara.

Oct. 4, 2022, 6:55 p.m. 0 Report Embed Follow story
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