Algumas noivas tinham hábitos estranhos quando se tratava da escolha do seu grande dia: umas tantas alugavam uma casa na colina com todas as suas madrinhas, fazendo uma festa inesquecível e brega, outras tiravam as suas últimas 24 horas como uma mulher solteira para ficar em paz consigo mesmas, cercadas por uma bolha de paz e serenidade que sabiam que jamais encontrariam novamente em suas vidas. E tinha Margot, com suas próprias particularidades.
Seguindo na contramão do que tinham lhe sugerido, não esvaziou a sua agenda no final de semana. Ainda teria as suas reuniões, ainda apertaria pelo menos umas cinquenta mãos agradecendo pela presença pessoal em uma decisão que poderia ser feita por e-mail, mas que ela sabia que o mundo empresarial amava que fosse feito pessoalmente. Era a vice-presidente de uma grande e importante holding, com braços em diversas categorias que fazia do mundo dos ricos o que ele era. Acima dela, apenas o seu pai, mas precisava dele cada dia menos; as especulações sobre a aposentadoria do velho Alistair Balker cresciam como ervas daninhas e eram cada vez mais difíceis de manter. Ela era a suprema em uma sala fechada e com vidraçaria que ia do teto ao chão, mostrando a vista de Chicago como nenhum outro ponto da cidade conseguiria.
— Obrigada, senhores, espero vê-los em breve, com notícias ainda melhores — seu tom de voz era aveludado, tão elegante quanto seu porte que cheirava a dinheiro antigo. Seu terno era feito sob medida e em seus pés estavam sapatos tão caros que fariam qualquer pessoa de classe média rir nervosamente com o valor que desembolsou sem qualquer preocupação sobre o pagamento. Margot Balker tinha posses o suficiente para se erguer sozinha e dizer que tudo aquilo era fruto de seu esforço para ocupar um espaço que seu pai lutou muito para manter quando o seu avô deixou tudo para ele. Lentamente o sorriso cortês se desfez de seu rosto, enquanto girava nos calcanhares, se voltando para dentro do recinto. Quase esbarrou em sua secretária ao fazer isso. A olhando de cima, lançou em uma voz menos calorosa: — Avise ao motorista que desço dentro de 15 minutos e preciso do carro a postos.
— Sim, senhora — a pose tão intimidadora daquela mulher não abria espaços para questionamentos; a secretária sabia que uma vírgula a mais que pedisse como explicação poderia resultar em uma súbita perda de emprego. Entretanto, ela precisava realizar mais uma pergunta, antes disso. — Devo informar a ele previamente o seu destino?
— Não.
A resposta seca fez com que a mulher se encolhesse ligeiramente, assentindo em concordância, antes de se retirar rapidamente dali.
Margot a observou, com desinteresse, sua mente vagando sobre qual seria mesmo o nome daquela mulher… Tinha a contratado havia seis meses e não conseguia reter na sua memória nada sobre ela. Porém isso não era nada importante. Não quando o resto da sua agenda envolvia pontos tão importantes quanto o que viria no dia seguinte. Abriu a sua bolsa e retocou cuidadosamente o batom. Nenhum pequeno borrão passou da linha natural dos seus lábios finos e macios. Então ajeitou os cabelos, ajustando os fios lisos e pretos para que emoldurassem seu rosto, caindo perfeitamente por seus ombros e costas. Por fim, colocou em seus ombros seu casaco pesado e de uma marca exclusiva, sentindo o mais leve peso do seu celular e dos seus óculos escuros nos bolsos.
Estava pronta para o que quer que viesse em seguida.
Apertou o botão do elevador e quando desembarcou no térreo já estava escondida por óculos escuros redondos, as lentes escurecidas o suficiente para evitar o sol, mas não ao ponto de que seus olhos desaparecessem atrás deles. Ainda era possível ver como eles se apertavam em uma imagem de determinação inquietante.
— Para onde vamos, Senhorita Balker? — O motorista estava tenso, já tinha ouvido uma resposta atravessada por fazer perguntas demais, mas naquele momento se fazia necessário.
— Para esse endereço — ela lhe respondeu, mostrando a tela do celular.
Ele assentiu uma única vez, mesmo sabendo que aquele endereço não ficava nem mesmo em Chicago. Mas, como já tinha aprendido antes, o silêncio era seu melhor amigo. Apenas ajustou melhor o ar condicionado, mantendo a temperatura exatamente como sua chefe preferia. Ligou a seta e entrou na rodovia, a música incidental marcando a viagem, que prometia ser longa e um tanto desconfortável. Seus ombros se retesavam só de imaginar.
Mal sabia que aquele dia requeria todas as energias de Margot para não aparentar nenhuma perturbação. Estava vivendo um segredo para conseguir desmascarar um.
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