magali-silva1617647561 Magali Da Silva

Mariana nunca imaginou que Vivaldo, seu primeiro grande amor, seria apenas um capítulo na sua história, o epílogo começaria numa noite quente de março de 1939.


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#amor #morte #segundaguerra
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Capítulo 1 - A Pensão das Rosas

O sacolejar macio e cadenciado do trem induzia Hermann Götz ao sono. Recostado no assento marron almofadado, ele tinha os olhos pesados, as pálpebras teimavam em fechar. Procurou distrair-se olhando o entardecer no campo daquele março de 1939. A paisagem era realmente deslumbrante, o pôr do sol dava uma tonalidade laranja às nuvens e coloria o céu de vários tons, do dourado ao vermelho.
Hermann pensou em acender um cigarro porém, de repente sentiu uma certa náusea e advertiu-se , como não havia esquecido de vez aquele vício?

Na verdade, ele não apreciava cigarro mas rendeu-se ao modismo e sempre carregava uma carteira no bolso do paletó.
Fazia calor, aquele final de verão estava sufocante, contudo, ali nem tanto quanto no Rio de Janeiro. Lá era simplesmente insuportável para ele, imigrante alemão, acostumado a temperaturas amenas.

Hermann pensou na família, subitamente veio-lhe na mente a imagem de suas 2 filhas e da esposa Bertha. Queria traze-las o mais rápido possível para o Brasil, no entanto, encontrava resistência da esposa, que não cogitava sob nenhuma hipótese ficar longe dos pais.
Há 2 anos no Brasil, fazia 2 viagens por ano, cansativas viagens, Hermann estava farto. Cogitou fazer apenas uma.

Transferido para São Paulo, acostumou-se e tomou gosto por viver nos ares mornos da capital. Adorava a célebre garoa, os hábitos, as pessoas simples, o cotidiano, o carnaval, a cachaça brasileira e principalmente as morenas. Achava as mulheres brasileiras belíssimas, era um entusiasta pelo tom jambo da pele das morenas e assiduamente frequentava a zona do meretrício da capital fluminense. Era das mulatas que ele mais gostava!

Hermann era um homem bonito, alto, cabelos aloirados e olhos azuis, um típico alemão, bem apessoado e gentil.
Engenheiro de eletricidade de formação na Universidade Técnica de Munique, uma das melhores da Alemanha, estava empregado numa multinacional e tinha um ótimo salário.

***

O vento que soprava da vidraça do trem mantinha-lhe acordado, não queria acender outro cigarro. Deu um suspiro de alívio quando ouviu a buzina do trem anunciando que a estação estava próxima. Doze horas de viagem foram exaustivas.
Vagarosamente a composição diminuía a velocidade e ele apressou-se em juntar a mala e os pertences. Quando desceu na estação, procurou rapidamente um carro de aluguel pois já era noite e ele ansiava por um banho refrescante e descanso numa cama confortável.
A pensão era no centro da cidade, rua Pedro Américo mais precisamente, sua estadia provisória até convencer Bertha a emigrar.

A intenção era comprar uma boa casa, num bom bairro, Hermann sentia falta da família, do ambiente doméstico, das filhas...e confessava estar difícil aturar a negativa da mulher, em suas cartas ela não demonstrava a menor intenção de deixar a Alemanha e ele em contrapartida, de voltar.

***

O casarão amarelo era assobradado, tinha as bordas das janelas pintadas de branco, um belo jardim de rosas vermelhas enfeitava a entrada e uma pequena placa na pilastra do muro que dizia: "Pensão das Rosas". Hermann bateu na porta de carvalho envelhecido.

— Aqui é a pensão das Rosas suponho. — disse ele à mulher que veio atender a porta.

— Sim senhor, pode entrar moço.

Hermann sentiu um cheiro de mofo ao entrar, que rapidamente foi substituído por um delicioso aroma de temperos que vinha da cozinha.

— Me indicaram essa pensão, inclusive meu nome deve constar como futuro hóspede. A senhora pode confirmar para mim?

— É o senhor alemão? Desculpe não sei falar o seu nome...

— Hermann. Hermann Götz.

— Ah sim! Seja bem vindo seu Hermann. O seu Juvenal falou muito bem do senhor. Entre que vou lhe mostrar o quarto.

Hermann acompanhou a mulher que devia ter por volta de 40 anos e era "morena jambo", como ele costumava pensar. Tinha as ancas exuberantes, impossível não se notar, o seu andar rebolativo denunciava!
" Preciso parar com essa mania de olhar a mulher dos outros ", pensou ele, com um sorriso de soslaio disfarçado.
O quarto era no andar de cima, agradável, limpo e organizado. A mulher, que chamava-se Amélia, anunciou que o banheiro era no final do corredor. Sem mais delongas, Hermann demonstrou a intenção de tomar um banho para livrar-se da poeira e do cansaço da viagem.

— Depois o senhor pode ir no salão que a janta já vai ser servida.

— Sim, obrigado.

Hermann demorou-se mais que seu costume no banho, barbeou-se , usou uma água de colônia na pele depilada e finalmente sentiu-se apresentável para aparecer no salão. O cheiro agradabilíssimo de comida fez o seu estômago roncar! Estava esfomeado e mal podia esperar para saborear o jantar.
Sentou-se em uma das mesas caprichosamente forrada com uma toalha xadrez azul e um porta condimentos no centro. Olhou ao redor, algumas pessoas já se acomodavam nas cadeiras.
No meio do burburinho, surgiu uma moça sorridente, vestida graciosamente com um vestido de estampa floral, entretida com os pratos e talheres, cantando uma canção na língua italiana. Mariana era ajudante na cozinha da pensão, moça bonita, loira, de incríveis olhos verdes! Bonita além da conta, tanto, que prendeu totalmente a atenção do Hermann, que pensou:"Não é jambo mas é belíssima! "

— Boa noite senhor. Já trago seu prato! — disse ela a Hermann, sem notar que ele ficou embasbacado com sua esfuziante beleza.

Mariana era filha de italianos, recém casada, mais alta que a maioria das mulheres e dona de um irresistível sex appeal. Nem ela, nem seu arrogante marido se davam conta do quanto era atraente.
Hermann apreciava as morenas, porém, aquela loira, bem parecida com as mulheres da Alemanha, deixou-lhe desnorteado, apaixonou-se à primeira vista.
A todos os movimentos dela, ele estava atento, meio que recriminando-se afinal, não conhecia a moça. Seria ela solteira? Mesmo que fosse, ele não era. Era um homem casado. Não estava no meretrício onde as mulheres eram livres, era uma moça de família. Ele admitiu que precisava livrar-se da mania de olhar tão efusivamente as mulheres do Brasil, isso poderia causar-lhe sérios transtornos...

No entanto, aquela loira lindíssima despertou -lhe entusiamo, ele precisava saber o nome dela.

— Obrigado moça, pela aparência e cheiro essa comida deve estar ótima. Você trabalha aqui? Posso saber seu nome?

— Espero que goste senhor...

— Hermann Götz.

— Ah sim! Meu nome é Mariana, sou arrumadeira e ajudante de cozinha, se precisar de alguma coisa, é só me falar.

Mariana! Belíssimo nome para um belíssimo exemplar da espécie feminina, pensava Hermann no seu íntimo, com o olhar cheio de lascívia.

— Aquele hóspede novo não tira os olhos de você. — falou Amélia, percebendo o interesse dele.

— Nem fale isso, meu marido pode ouvir...

— Grande marido esse seu...Era de um desses que você precisava. É estrangeiro, no mínimo deve ter um bom emprego. Pela roupa e perfume vê-se que não é qualquer um.

Mariana terminou rapidamente seus afazeres na pensão, tinha que voltar para casa, para os braços do seu amado Vivaldo, com quem se casara há poucos meses. Quando saiu, Hermann a viu, não usava mais o avental nem o lenço na cabeça, tinha os lindos cabelos loiros escorridos pelas costas e uma mecha sensualmente caída no rosto, que teimava em grudar nos lábios carnudos...

Saiu apressadamente, exalando sensualidade, linda em seus sapatos de salto alto, nem notou que o alemão suspirou profundamente ao vê-la partir.

Jan. 18, 2022, 7:12 p.m. 0 Report Embed Follow story
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