O ano é 2187. Desde a última grande pandemia mundial lá pelos idos de 2020 que as pessoas pararam de sair de casa. No início foi forçado: o vírus se espalhava e a única forma de prevenção era o isolamento. Muitos reclamaram, muitos desobedeceram... no final, a quantidade de mortes assustou a todos e as ruas ficaram desertas.
Mas a economia precisava continuar, o dinheiro a transitar e as pessoas necessitavam trabalhar. Enfim, a vida precisava continuar.
Novos métodos de trabalho foram criados e novas comodidades caseiras foram inseridas na vida das pessoas, ficando assim, desnecessário sair do conforto das residências.
Gerações inteiras não sabiam como era o mundo fora de suas casas. Até os partos eram feitos com médicos on-line e aparelhos antes inimagináveis.
Até que, um dia, algo incrível aconteceu: um homem saiu de casa e passou a caminhar.
O louco saia todos os dias para andar pelas ruas sem a menor das preocupações. Dizíamos que era perigoso ele sorrindo apenas respondia: “A epidemia a muito já passou. O vírus cansou de não ter ninguém e, de tristeza e solidão, faleceu”.
O Incrível Homem Que Caminhava de nada tinha medo.
-Só pode ser louco – diziam alguns.
-É um visionário, um herói! – Diziam outros.
Mas ninguém acompanhava O Incrível Homem Que Caminhava.
Mas, os dias de caminhada viraram semanas, as semanas meses e, pasmem, completou um ano com o homem caminhando todos os dias.
Todos se preocupavam. E se ele trouxesse o vírus de volta?
- Olhem (pelas câmeras) como ele está deixando a característica obesidade do homem moderno para trás! Só pode estar ficando doente.
- Olhem como o joelho dele não estala quando anda como estalam de todas as pessoas normais? Só pode estar ficando doente.
Mas o Incrível Homem Que Caminhava nada ouvia e para tudo sorria.
- Estão vendo? Afetou a audição.
-Só faz sorrir! O cérebro deve estar danificado.
Mesmo assim o Incrível Homem Que Caminhava continuou a caminhar.
Então, em um dia que entrou para a história, algo impressionante aconteceu: o Incrível Homem Que Caminhava deixou de ser o único homem que caminhava.
Uma criança fugiu do domínio dos pais e caminhou com o Incrível Homem Que Caminhava.
O pânico e a indignação foram imediatos. Como permitir que uma criança acompanhasse aquele absurdo? O Incrível Homem Que Caminhava sorriu e respondeu: “ela vai viver mais que vocês”. Audácia daquele louco!
Mas, para a eterna surpresa da humanidade, no dia seguinte havia mais uma pessoa caminhando. Desta vez, um cientista curioso falando sobre causas e efeitos. No dia seguinte, uma personalidade famosa da mídia digital. No outro dia, um jornalista, depois um artista...
Por fim, uma multidão seguia o Incrível Homem Que Caminhava.
- Gênio! – Diziam uns.
- Visionário! – Diziam outros.
E o Incrível Homem Que Caminhava apenas sorria e dizia: apenas caminho.
Hoje, todos voltaram a andar. Descobriram que a epidemia tinha passado desde 2021 (isso dizem os cientistas, mas não acredito muito neles).
Fizeram umas coisas antigas chamadas praças, parques... tem até gente correndo! Deus me livre.
E pensar que, durante a epidemia precisamos ficar todos em casa. Era o certo, acho eu, mas esquecemos de sair para ver como nosso mundo estava.
Outro dia vi até pessoas se abraçando! Deus me livre.
Daqui a pouco teremos até pessoas se beijando. Pouca vergonha.
Eu, como homem sensato, não saio de casa. O presidente fez um pronunciamento virtual (que ninguém assistiu) e disse que sair de casa atrapalhava a economia.
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