mateus-furtado1624086822 Mateus Furtado

Essa é a história de Zaman, um jovem ambicioso que enfrenta um dragão para se casar com a princesa, mas que, ao longo de sua jornada, as coisas vão se tornando estranhas.


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O rei e o dragão

" A morte nos acompanha, entretanto a opulência de nossos feitos nos torna imortais. Por isso, comedimento e equilíbrio rimam com estagnação e pequenez, apenas a força pura sem limites pode satisfazer-me. Uma torre como o grande monumento de minha existência, uma imensa lápide.”


Durante uma década, os homens viveram em paz e prosperidade, guiados pelo arbítrio do mais poderoso dos reis - Arnon- o guerreiro. De fato, durante seu reinado, os conflitos cessaram e foi estabelecida uma concordata pacífica entre os governantes do mundo conhecido, que, por terem sido derrotados na grande guerra e com o intuito de manterem ao menos a autonomia de seus povos, juraram lealdade e submissão. Arnon, ao contrário de muitos outros tiranos, não idolatrava a riqueza ou a violência gratuita, apenas buscava a ordem. Tanto que o acordo imposto aos derrotados era bastante simples: cada território conquistado deveria fornecer tropas para o exército real e pagar impostos para o grande rei; o resto da administração e as leis seria efetuado pelas próprias elites locais, sem haver mudanças significativas de quando eram independentes.

Havia um único problema na ordem engendrada: a moderação, a qual nem mesmo a sabedoria é capaz de conciliar perfeitamente e tão necessária para manter o equilíbrio de poder, havia sido ignorada. Afinal, com domínios tão extensos, não bastaria apenas a força para manter a estabilidade. Então multiplicaram-se vertiginosamente os excessos e abusos vindos dos generais que batalharam junto ao monarca. Até mesmo entre a nobreza de grande virtude, vários começaram a se corromper em socórdia e ociosidade por não haver mais necessidade de guerrear, ao mesmo tempo em que havia outros que buscavam para si a mesma glória conquistada por Arnon.

A paz, portanto, ainda que conquistada por meio da força, fora erguida sobre bases inconstantes, e qualquer crise poderia facilmente trazer seu fim. Não é em vão que, quinze anos após a assinatura do acordo de paz, sublevações e sedições começaram a irromper por toda parte, a ponto de ser necessário o uso de uma brutalidade descomedida a fim de controlar as constantes tensões. Não havia mais unidade entre os interesses da imensa nobreza e várias facções foram sendo formadas. A mais relevante delas era comandada pelo príncipe herdeiro. Por conta de divergências acerca da divisão de títulos das novas terras conquistadas, vários condes e marqueses aproveitaram para expandir seus domínios sem a autorização real e estes possuíam apoio do príncipe. Arnon, ao perceber tal afronta, reprimiu vários de seus vassalos, retirando seus títulos.

A reação a isso foi uma das piores em relação à política interna: a sedição. O rei, após sofrer as sequelas de uma tentativa de golpe de Estado perpetrada por seu filho mais velho, foi obrigado a ter de prendê-lo para que o poder não fosse dissolvido em um futuro golpe. No entanto, por conta de negligência do sistema carcerário, o príncipe ficou doente e morreu pouco tempo depois. O impacto foi tão grande na mente do soberano que nem mesmo o conhecimento ou a religião ofereciam um alento para o coração de Arnon, cuja alma estava a se deteriorar. Os outros conspiradores que haviam participado da trama, no entanto, haviam obtido êxito em retirar algumas das obrigações dadas aos Estados vassalos e seus objetivos políticos ganharam margem substancial.

Por tais acontecimentos e outros fatos, a reputação da casa real foi comprometida e, consequentemente, depois do homicídio do principal herdeiro, tornou-se complicada a questão da sucessão. Segundo o costume nobiliárquico da região, herda o trono o primogênito masculino e, caso não haja outro filho, o herdeiro passa a ser o irmão do rei; as mulheres raramente assumiam a posição do pai. A situação era desfavorável, pois Arnon e sua esposa tiveram apenas dois filhos - um homem e uma mulher e o irmão do monarca fora exilado por conta de antigas intrigas dentro da família. Isso não seria um problema enquanto o rei, jovem e ainda forte por conta de sua pouca idade, fosse capaz de conservar a estabilidade e seu controle sobre a terra. Mas as perdas de contingente contra invasores e as frustrações na administração pública somaram-se e as ideias do rei tornaram-se obscuras. Nem mesmo confiava em seus aliados mais fieis: havia a impressão de estar sendo perseguido diuturnamente e todos eram considerados inimigos em potencial.

O rei, por conta de seus crescentes receios e medos, recolheu-se em seus aposentos, saindo raramente para aparições públicas importantes. A intolerância de Arnon frente a desordem era tão forte que qualquer rebelião era reprimida com uma enorme violência. O povo tornou-se bastante desconfiado, parecia que o rei havia enlouquecido e uma junta de nobres corruptos estava no encargo do reino. Alguns anos de instabilidade se passaram até que, certo dia, um grande dragão de nome Ágni desceu dos céus e fez da terra seu trono. Ao mesmo tempo em que grande parte das terras férteis e dos rios eram destruídos por conta da chamas do monstro, inúmeras vilas foram incendiadas, milhares de pessoas morreram de fome e outras milhares, desesperadas, migraram até os grandes castelos. Por haver uma grande quantidade de refugiados em locais minúsculos, a peste encontrou terreno fértil para se alastrar.

O mundo até aquele momento nunca testemunhara uma crise de tal proporção. Para piorar, não havia relatos nem mesmo de tempos imemoráveis acerca da existência desse tipo de criatura. Diante do desespero, vários movimentos escatológicos tornaram-se comuns entre os plebeus e a ideia de apocalipse tomou conta do povo, tornando a situação ainda mais conturbada e imprevisível. O grande monarca então em uma rara aparição pública convocou todos cavalheiros e requisitou uma aliança entre os soberanos. Por meio dessas ações, um grande exército foi criado para eliminar a criatura maligna numa tentativa desesperada. Ao marcharem até o covil do dragão, viam-se pilhas de corpos em meio às cinzas e às brasas.

O monstro havia se estabelecido numa grande montanha rodeada por pântanos, precipícios e terrenos acidentados. Era extremamente difícil o caminho até o topo e as tropas eram obrigadas a se organizar de tal forma a deixar os flancos vulneráveis para subir e enfrentá-lo. Dispensando maiores detalhes, a batalha havia sido um completo fracasso, as perdas humanas foram enormes e o exército foi completamente destruído, com raras exceções de sobreviventes. Com a derrota, o reino perdia sua única fonte de estabilidade e os vassalos de Arnon, completamente enfurecidos pelo resultado, quebraram o acordo de sua subordinação, dividindo o mundo que outrora estava unido.

Velho e sem forças para recuperar sua antiga glória e ameaçado pelos outros reinos, Arnon estabeleceu como seu herdeiro qualquer nobre que matasse Ágni. " Meus caros súditos, venho lhes informar que, diante da urgência da crise a qual vivemos e pela falta de moral nas nossas tropas, presentearei aquele que me trouxer a cabeça de Ágni com a mão de minha filha e o direito ao trono." Isso foi um verdadeiro choque; nunca houve precedentes disso e várias facções e oportunistas, guiados pela ganância, realizaram planos para atacar o monstro. Nenhum obteve sucesso. Concomitantemente a isso, o poder real descentralizou ainda mais: os condes, os duques e os marqueses passaram a dominar toda política de seus domínios e não havia mais a autoridade suficiente que unificasse o Reino.



Oct. 31, 2021, 10:22 a.m. 0 Report Embed Follow story
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