Eu adorava falar com você todos os dias. Perguntar se estava bem, saber o que te ocorreu, desabafar sobre os meus tormentos porque acreditei que em você havia encontrado o abrigo, a confidência que sempre almejei demasiadamente.
Queria encontrá-la no horário matutino, enterrar o meu nariz em suas madeixas castanhas tão perfumadas, ver-te apreciar aquela dose de cafeína pura ao passo que reclamava do meu adocicado café com leite.
Queria encontrá-la no horário vespertino, quando já estávamos sonolentos e preguiçosos por causa do almoço, ficar lado a lado, conversando — ou não — sobre o trabalho, os parentes, qualquer coisa. Eu tentava convencê-la a ver um desfile de moda comigo, você tentava me convencer a ler os seus livros e peças favoritos, mas a gente se entendia enquanto maratonava uma série bem desenvolvida com ótimos figurinos.
Queria encontrá-la no horário noturno, dar-te um carona na minha scooter, pois era muito bom sentir que me segurava forte, como em um pedido mudo para que eu nunca fosse embora. E a melhor parte, certamente, seria colar a minha boca na sua quando tinha que me entregar o capacete; não havia mais nada para roubar nossa atenção e tempo naquele instante.
Passei tanto tempo encarando seus lábios, imaginando como seria apenas dez por cento do seu beijo e, assim que finalmente provei dele, eu soube que poderia fazer isso pelo resto da vida, ininterruptamente. Amei-te durante cada segundo. E muitas vezes, me sentia como um garoto bobo e ingênuo. Divagava sobre o nosso futuro, dado que, finalmente, a família que eu sonhara para mim, a esposa que queria ao meu lado tinha um rosto e um nome.
No entanto, parece que minha felicidade estava destinada a ser breve.
Você possuía um humor imprevisível. Era difícil captar quando estava sendo irônica naturalmente, quando desejava que eu percebesse a minha inconveniência, se percebia ou não o quanto a sua indiferença me feria.
Convidei-te para sair diversas vezes, ir a qualquer lugar, porém, você sempre usava as mesmas desculpas para rejeitar ou somente não aceitar.
Diga-me, querida, estava constantemente ocupada para todo mundo ou apenas para mim?
Acredito que não há muito que se fazer uma vez que duas pessoas enxergam a relação entre si de modos totalmente distintos.
Talvez você tenha mudado de ideia e não se lembrou de me contar.
Foi da mesma forma como quando um ator troca de roupa para a cena seguinte e ninguém percebe, mas faz uma grande diferença. Especialmente, se você é aquele traje que se fez presente diversas vezes e, tão brevemente, já é esquecido.
Thank you for reading!
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