— Merda! Tinha que chover desse jeito justo na hora de ir embora?
Kim Seokjin, estudante do quinto semestre de medicina, estava parado na entrada do prédio do seu curso na Universidade de Seul. Depois de passar o dia entre aulas práticas de anatomia e uma pesquisa em artigos científicos para o seminário do semestre, o Kim só desejava poder voltar caminhando para o dormitório que dividia com o amigo.
Mas a chuva frustrou seus planos. Trovões e raios eram escutados e vistos a cada minuto, dando a impressão de que a descarga elétrica estava caindo a menos de três metros de distância do Kim. Era impossível enfrentar aquele clima, principalmente pelo risco de estar andando pela chuva e acabar realmente perto de algum raio quando ele atingisse o chão ou alguma estrutura.
Seokjin teria que chamar um carro no aplicativo e então seguir para o apartamento, mas a bateria do seu aparelho acabou mais ou menos no horário do almoço, quase três horas antes, e seu carregador estava plugado na tomada ao lado de sua cama. Ele só torcia para que Jimin tivesse visto o cabo e tirado de lá.
Nesses momentos o Kim lembrava-se claramente de sua mãe brigando consigo, falando que era irresponsabilidade deixar o carregador ligado na tomada sem estar plugado no aparelho. A casa iria pegar fogo e explodir, ela dizia.
Ele esperava que nada pegasse fogo, muito menos que explodisse.
Ainda de pé logo à frente das portas de vidro, ele pensava em uma solução para o seu problema e se irritava ao perceber que a única forma de resolver aquilo era voltar para dentro do prédio e ver se ainda tinha alguém na recepção. Talvez alguma secretária o deixasse usar o telefone fixo para ligar para o amigo.
Jimin talvez estivesse acordado ainda, visto que não fazia muito tempo que começara a chover, mas seria um grande golpe de sorte achar o Park desperto quando ele simplesmente ama se aconchegar e dormir ao som da chuva.
Eram muitos ‘talvez’.
Seokjin abraçou seus livros presos em seu braço esquerdo, conferiu mais uma vez o próprio aparelho, percebendo que nenhum milagre aconteceu e ele continuava desligado, e aceitou que ainda passaria algum tempo na instituição.
Sua calça de tecido leve e seu suéter fino não o protegiam muito do vento gelado que acompanhava a tempestade, e sua sorte era que o prédio possuía aquecimento próprio impedindo que o vento atingisse seu interior.
— Oi.
Uma voz mais grossa soou ao seu lado e ele se assustou um pouco. Virando seu corpo na direção da entrada do prédio, Seokjin viu o homem que roubava seus olhares e suspiros durante as aulas de anatomia.
— Oi.
Ele sorriu contido e ficou fitando o Kim um pouco mais novo.
Já fazia um par de meses desde que Seokjin reparou em Kim Namjoon, aluno do terceiro semestre de medicina, pela primeira vez.
Kim Seokjin costumava frequentar a biblioteca do prédio, usando-a para estudar e para tirar bons cochilos em seus horários vagos. Certa manhã, dois meses antes, Seokjin teve sua atenção roubada quando viu um homem alto de fios cor cinza e ombros largos bufar frustrado pelos corredores próximos de sua mesa.
Namjoon ia e vinha entre uma fileira e outra, passando os olhos várias vezes pela mesma prateleira como se a cada vez lesse as letras pequenas com mais atenção do que a vez anterior, garantindo para si mesmo que não estava lendo errado e que o livro que queria realmente não estava disponível.
Naquela manhã, o estudante mais velho reparou nas covinhas que acompanhavam o bico nos lábios do outro Kim e ficou encantado. Seokjin apreciou o toque de delicadeza em um homem aparentemente durão.
Desde aquele dia, Seokjin sempre arrumava um jeito de observar discretamente as manias do outro Kim, sendo agraciado inúmeras vezes pelas mesmas covinhas que reparou no primeiro dia. Era estranho para si perceber a forma com que seu coração aquecia-se de leve sempre que via o sorriso bonito do outro, ou sempre que tinha consciência de que os dois estavam dentro da mesma sala.
Kim Seokjin começava a sentir-se como um jovem bobo apaixonado, e ele não se importava com isso.
— Eu sou o Namjoon.
Ele estendeu a palma para que Seokjin o cumprimentasse. Depois de balançar as mãos e reparar em como as palmas pareciam ter o encaixe certo, o par de covinhas apareceu no rosto encantador do Kim mais novo e Seokjin não conseguiu evitar suspirar.
— Seokjin.
O mais velho sorriu de volta e manteve o contato visual, pela primeira vez apreciando de perto o par de olhos encantadores do estudante.
Pelo seu encantamento e por estar gostando de como o mais velho parecia prestar atenção em si, Namjoon acabou se perdendo um pouco no olhar intenso, mesmo que sutil, do outro Kim, pensando em como gostaria de ter aquele olhar em si todos os dias.
Kim Namjoon reparou no outro estudante de medicina em seu primeiro semestre na faculdade, quase dez meses antes, quando estava sentado em um dos bancos da praça a frente do seu prédio
Seokjin apareceu andando apressado, conferindo algo em seu celular e franzindo o cenho como se estivesse desgostoso com o que via. O Kim parou em frente ao prédio, de costas para a fachada e ficou fitando o aparelho em mãos com uma expressão nada boa.
Namjoon gostou da forma que se sentiu hipnotizado pelas linhas que tornavam o rosto do Kim sério, perdendo um bom tempo somente observando o homem mergulhado em seus devaneios.
Naquele dia Namjoon ganhou do melhor amigo um hematoma na costela por ter ignorado ele enquanto babava no ‘bonitinho’. Yoongi sempre foi dramático.
— Vi que você tá parado aqui há algum tempo...
Namjoon não saberia dizer de onde tirou toda sua coragem para falar com Seokjin sem vacilar em suas palavras.
Mesmo tendo uma queda enorme pelo homem de pele alva e lábios rosados desde o primeiro semestre, e compartilhando algumas matérias com o mais velho, Namjoon nunca teve coragem de trocar palavras com ele pelo simples fato de que Seokjin parecia intimidante. Em muitos momentos as pessoas conseguiam ver uma expressão fofa no mais velho, mas para o estudante de medicina que ansiava pela atenção do homem, os momentos de fofura eram poucos para que sua coragem crescesse.
Além disso, segundo os rumores que viajavam pelo prédio de medicina, Kim Seokjin era inacessível, muitas vezes rejeitando até amizade com as pessoas de seu curso. Boatos diziam que ele andava somente com um homem mais baixo que si, esse homem sendo o único a verdadeiramente ter sua atenção.
Isso desanimou Namjoon.
Seu desejo com o Kim mais velho envolvia passar um tempo de qualidade com ele, conversando sobre coisas aleatórias que os dois tivessem em comum, conhecendo seus gostos estranhos e vendo-o sorrir para si, ou por sua causa. Se ganhasse um beijo no final disso, ele estaria totalmente no lucro.
Namjoon desejava se envolver com Seokjin deixando seu interesse claro, deixando explícito que amaria ter a amizade do outro Kim, e amaria em dobro ser o homem responsável por seus sorrisos e suspiros, talvez, apaixonados.
Por isso que, sabendo de como o mais velho costumava se afastar de tentativas de aproximação, Namjoon optou por guardar para si toda sua admiração e acreditar que, se fosse esse o destino, uma chance seria posta em seu caminho.
— Ah, é que eu ia embora andando, mas agora não dá mais...
Os dois voltaram o olhar para o céu cinza escuro que parecia decidido a tornar o dia em noite.
— Entendo... Você tá esperando alguém?
Namjoon viu os fios escuros com pontas rosadas balançar quando Seokjin virou o rosto e mirou seu olhar no mais novo novamente.
— Não, só to aceitando meu destino.
— Destino? – Namjoon franziu o cenho.
— É. Vou ter que ficar aqui até a chuva parar ou até um milagre acontecer e um carregador aparecer na minha frente.
Seokjin riu baixo do próprio comentário e Namjoon percebeu como suas bochechas ficavam bonitas com aquele ato, se perdendo um pouco no próprio deslumbramento.
— É...
Namjoon quis falar mais alguma coisa, mas sua insegurança o fez recuar um pouco. Aquela era sua primeira interação com Seokjin em pouco mais de um ano que estava ali na universidade, tudo bem se não fosse das melhores, certo? Tudo bem se ele errasse por estar nervoso na presença do Kim, certo?
O olhar cheio de expectativa que o mais velho dirigia para Namjoon o fez juntar o resto de sua coragem e fazer o que pensou antes. Os orbes do estudante de pele alva pareciam ansiosos pelo que o mais novo tinha para falar, brilhando levemente.
— Você quer uma carona? – Namjoon fez a perfeita cena de filme de romance, onde o cara tímido faz um convite para a pessoa que gosta e logo depois enfia uma de suas mãos no bolso da calça e leva a outra diretamente para a própria nuca, em um gesto envergonhado. – Eu não costumo vir de carro, mas parece que acertei hoje de manhã.
Seokjin avaliou suas opções por um breve momento.
Ele poderia negar o convite, já que não conhecia de verdade o homem que estava ali, mesmo que tivesse uma quedinha por ele pelos últimos dois meses. Seriam somente mais algumas horas sentado em um banco desconfortável da área comum do prédio, contando com a sorte de que a chuva passasse logo.
O céu não dava indícios de que mostraria seu azul naquela tarde.
Namjoon poderia ter lhe oferecido o próprio celular para chamar algum carro em um aplicativo, ou para ligar para qualquer pessoa que pudesse ir lhe buscar.
Mas ele não ofereceu.
O Kim mais novo ofereceu uma carona e imediatamente ficou tímido com a própria atitude. Aquilo poderia significar algo, poderia ser sinal de algum interesse da parte do mais novo. O coração bobo do mais velho vacilou com aqueles pensamentos.
— Não quero te incomodar...
— Não é incômodo nenhum.
Seokjin viu novamente as covinhas nas bochechas bonitas e se segurou para não apertar o rosto levemente bronzeado.
— Vou aceitar, então.
O Kim mais velho assistiu a próxima cena com um sorriso contido no rosto. Namjoon ruborizou e desviou o olhar para os próprios pés, sentindo suas bochechas quentes ao saber que Seokjin conseguia ver claramente o tom rosado em seu rosto, e mordendo o próprio lábio para evitar sorrir largo demais.
Seokjin não queria ter de interromper aquilo, era adorável ver um homem tão alto que sempre parecia tão sério, tímido daquele jeito somente por oferecer uma carona.
— O seu carro...
Namjoon percebeu que passou tempo demais em silêncio, plantado na entrada do prédio, e ficou ainda mais envergonhado.
— Claro, vamos lá.
Os dois voltaram para dentro do prédio e começaram a atravessar a área comum lado a lado. Nenhum dos Kim disse algo enquanto seus ombros se esbarravam levemente durante a caminhada.
Namjoon se recuperava de seu envergonhamento recente, pensando que era bem provável que o outro Kim estivesse o achando patético naquele momento. Um homem de vinte anos agindo como um adolescente, é claro que Seokjin nunca se interessaria por ele daquela forma.
Já o estudante mais velho se perdia em suas lembranças do sorriso bonito de Namjoon. O gesto que tanto foi apreciado de longe por Seokjin, foi oferecido diretamente para si. Namjoon sorriu enquanto olhava em seus olhos, e seu pobre coração quase não aguentou o gesto.
Os dois foram até a área dos elevadores e Namjoon apertou o botão indicando a subida para o terceiro andar do prédio, piso que dava acesso ao segundo nível de estacionamento. Namjoon segurou a porta depois que um apito soou baixo e Seokjin pisou dentro da caixa de metal. Ambos pareciam acanhados, avaliando se deveriam falar algo ou se o silêncio era a melhor opção para não estragar tudo em seu primeiro contato.
Seokjin olhou para o lado e observou Namjoon vestido em seu jeans claro, sua camisa gola alta preta e seu sobretudo da mesma cor. Os olhos do mais novo fitavam os próprios sapatos escuros ao passo que seu lábio inferior estava preso entre seus dentes, em uma tentativa de conter um sorriso.
Namjoon sentia seu coração dançar no mesmo ritmo em que as borboletas de seu estômago, a consciência de que o homem que tanto admirou estava agora seguindo consigo para seu carro provocava muitas coisas em si. O medo de que tudo não passasse de uma simples carona o atormentava conforme ganhava força, ele não queria passar pelo outro Kim nos corredores da universidade e fingir que não o conhecia.
O elevador parou e Seokjin saiu primeiro, logo deixando o outro Kim passar por ele e indicar o caminho até o veículo. Ambos foram recebidos por rajadas de vento gelado que castigavam qualquer pessoa que escolhesse andar por ali naquele momento, por isso o mais velho se encolheu quando teve a sensação de frio em sua pele.
Mesmo que já estivessem a caminho da SUV estacionada em uma das extremidades, Namjoon começou a tirar o sobretudo de seu corpo, usando um movimento rápido para jogar a peça de roupa por cima dos ombros de Seokjin.
— Ah... Não precisa... – o mais velho ficou vermelho com o ato, logo tentando devolver a roupa para o dono.
— Eu não to com frio, você pode usar ele – Namjoon de fato não estava com frio, sua camisa de gola alta funcionava como uma segunda pele, mantendo seu corpo aquecido mesmo na ausência do sobretudo.
— Eu também não to com frio...
Seokjin ainda tentava se desvencilhar da roupa quando Namjoon parou a sua frente, o obrigando a fazer o mesmo.
— Eu vi que você tremeu de frio. – O mais novo usou as duas mãos para encaixar a peça de roupa nos ombros largos do Kim. Sua palma grande parecia combinar com o outro, e isso o agradou. – Pode usar, depois você me devolve.
Seokjin sorriu enquanto fitava Namjoon, prendendo os dois em um contato visual que parecia falar mais do que qualquer um deles seria capaz de verbalizar.
Uma sensação de conforto passou a crescer em seus corações, mostrando que ambos poderiam ficar daquela forma por muito tempo sem tornar o ato incômodo, combinada com uma pequena euforia que corria em suas veias.
O efeito do primeiro contato entre os homens unidos pelo destino começava a crescer.
Inconscientemente, Seokjin começou a dar passos pequenos para frente. Os livros em seu braço esquerdo foram apoiados na lateral de seu corpo, permitindo que os dois peitorais quase se tocassem. Namjoon deixou que suas mãos descessem dos ombros para as costas largas do Kim quando seus rostos se aproximaram.
Um imã parecia os unir, deixando tão próximos os dois homens que apenas conheciam-se de vista, e ignorando qualquer tipo de formalidade que ambos deveriam ter. Não existia espaço para os bons modos dentro do que o destino os fazia sentir.
O barulho da chuva e dos trovões era tudo que podia ser escutado, dessa vez soando longe demais. Seus olhos ainda se perdiam na imensidão que encontraram um no outro, buscando conhecer mais daquilo que os fascinava no momento, conhecer mais daquilo que era tão novo, mas parecia tão certo.
Seokjin tocou calmamente o peitoral do outro Kim, espalmando sua mão ali tão levemente que Namjoon jurou não sentir o contato. Ao contrário de Namjoon, que colocava certa pressão em seus dedos na tentativa de manter o Kim próximo de si, prolongando aquele momento frágil com medo de que ele simplesmente evaporasse.
Nenhum dos dois entendia muito bem o que os incentivava a fazer aquele contato tão íntimo na primeira vez que se falavam, mas na mesma proporção nenhum deles tinha a mínima intenção de protestar. Poderia, e deveria, ser estranho estar daquela forma, mas eles não poderiam se importar menos.
Ainda levado por uma espécie de transe que os orbes do mais novo o colocou, Seokjin se esticou para cima e permitiu que seus lábios apenas encostassem na bochecha bonita exposta para si, na intenção de deixar um selar carinhoso, ao mesmo tempo em que sua palma subiu para tocar o outro lado do rosto bronzeado.
Namjoon fechou os olhos aprovando o contato, aproveitando a leveza mostrada na forma que Seokjin o tocava buscando somente um carinho, quando uma lufada de ar gélido os atingiu e um trovão soou muito perto novamente, fazendo os dois se assustarem.
Seokjin não conseguiu evitar segurar firme o pano da camisa que cobria o pescoço bronzeado, puxando o mais novo para si e escondendo seu rosto no ombro coberto pelo tecido preto. Namjoon não diria no momento, mas gostou de ver como o outro Kim buscou abrigo em si quando se assustou, mesmo sem planejar isso. Seus braços cruzaram as costas largas do mais velho, o mantendo perto.
— Vamos entrar no carro – ele escorregou suas mãos vagarosamente, se colocando ao lado de Seokjin e o conduzindo para o carro preto que os levaria embora.
O contato foi breve demais para que um conseguisse esquentar o outro, ambos sabiam disso, mas a constatação não impediu que os corpos demonstrassem a falta que o toque alheio fez.
O mais velho sentiu um arrepio percorrer por seu corpo e ele não soube identificar se foi pela forma que Namjoon o tocava, pela forma que ele demonstrou preocupação ou pelo vento frio que insistia em castiga-los. Ele só sabia que odiou a interrupção bruta do momento compartilhado.
Por ser um estacionamento acima do solo, todos os andares possuíam aberturas em todo seu contorno, e era por isso que o carro do mais novo estava parcialmente molhado pela chuva que castigava a cidade e batia no vidro dianteiro do veículo.
— Coloca seus livros no banco de trás.
Seokjin assentiu e fez como o mais novo pediu, deixando aquele peso no banco claro do veículo antes de fechar a porta de trás, para finalmente entrar e se sentar ao lado do outro Kim.
Namjoon reparou que Seokjin aceitou sua oferta e vestiu o sobretudo, vendo como a peça ficou boa para o mais velho, mesmo que um pouco comprida. Um pensamento passou pela sua cabeça rapidamente, fazendo Namjoon imaginar como seria ver Seokjin usando suas roupas mais vezes.
— Você mora nos dormitórios?
Seokjin assentiu em resposta, olhando brevemente para o mais novo enquanto colocava o cinto.
Namjoon sorriu para ele e colocou a chave na ignição, girando o mecanismo para ligar o veículo e já imaginando qual seria o melhor caminho a fazer para evitar trânsito e, ao mesmo tempo, encontrar algum restaurante com comida boa o suficiente para convencer o mais velho a dividir uma refeição consigo.
Mas sua coragem foi totalmente frustrada quando o carro se recusou a ligar.
O Kim tentou diversas vezes, procurando algum problema visível que impedisse de ligar o veículo e apenas encontrando o interior de seu carro normalmente. Tentou duas, três, quatro, cinco vezes e tudo que a SUV fazia era soltar um barulho estranho e sequer ligar, como se nem quisesse insistir muito naquela tarefa.
— É sério isso?
Seokjin percebeu a irritação do outro pela forma que ele falava, suas mãos se moviam com pressa pelo câmbio, volante e chave, tentando de todas as formas fazer o veículo ligar.
Namjoon se sentia frustrado. Era sua primeira interação com o outro Kim depois de tanto tempo apenas admirando o homem. Os dois pareciam se dar bem de uma forma difícil de entender, Seokjin aceitou sua carona, uma chance real de aproximação surgia, e agora o carro decidiu que não queria mais funcionar.
— Será que o farol não ficou ligado?
O mais novo fitou o Kim ao seu lado, pensando brevemente na sugestão. Voltando seu olhar para os mecanismos ao redor do volante, ele notou que o farol do carro realmente estava ligado. E o pior, ligado desde oito e meia da manhã, horário que estacionou ali.
Namjoon desligou os faróis, bateu com as duas palmas no volante e jogou a cabeça para trás, bufando irritado com sua constante falta de atenção.
— Como que eu esqueci ligado?
Seus dedos apertaram o volante e ele empurrou o corpo contra o encosto do banco, logo depois relaxando e bufando mais uma vez.
— Essas coisas acontecem toda hora.
Seokjin oferecia um sorriso bonito quando Namjoon se virou para fita-lo. Ele esperava algum sinal de decepção ou irritação, visto que uma carona tinha sido oferecida e aquele era o único motivo pelo qual o estudante mais velho aceitou estar ali. Mas encontrar aquele sorriso provocou coisas estranhas dentro de si.
Talvez Seokjin apenas estivesse com pena dele, por isso resolveu não fazer nenhum comentário maldoso ou sair de dentro do carro imediatamente.
— Desculpa. Eu te ofereci uma carona, mas não vou conseguir cumprir isso.
Namjoon desviou do olhar intenso do outro Kim e juntou suas mãos em seu colo, as fitando como uma distração para o que quer que poderia acontecer nos próximos segundos. Sua mente o preparou para ver e ouvir a decepção de Seokjin ao ter sua ida para casa frustrada, o preparou para o fato de que nunca mais juntaria coragem o suficiente para abordar sua pequena paixão novamente, o preparou para ouvir algum tom de voz cansado vindo do outro Kim, que reclamaria da situação.
Mas sua mente não o preparou para ter sua mão puxada para a palma quente de Seokjin, muito menos o preparou para sentir as duas palmas se tocando enquanto o dorso de sua mão era levemente acariciado pelos dedos tortos do estudante mais velho.
— Você tá com frio aqui dentro? – Seokjin ignorou o pedido de desculpas, sabendo que nada daquilo foi realmente culpa de alguém.
Qualquer um estava sujeito a deslizes, inclusive ele mesmo ao se esquecer de seu carregador, e ninguém deveria ser crucificado por algo assim.
— Não...
— O carro tem seguro?
Namjoon fitava o ponto onde sua mão entrava em contato com o outro Kim, pensando no contraste entre suas peles e o calor que parecia as cercar. O toque era estranhamente familiar e confortável.
— Tem sim. Vou ligar pra eles.
Contra a própria vontade, Namjoon precisou usar as duas mãos para mexer em seu aparelho, deixando o conforto do toque alheio.
Seokjin observou o outro estudante enquanto ele dava as informações necessárias para quem quer que estivesse do outro lado da linha, se perdendo um pouco nos movimentos dos lábios carnudos e nos momentos em que a língua molhava a carne ali exposta.
Era estranho para si estar desejando tocar o mais novo, manter seus corpos próximos ou, pelo menos, continuar na presença dele. Aquele tipo de sensação nunca apareceu em seu peito, nem mesmo quando era referente aos seus amigos e seu irmão.
A necessidade de proximidade era tão nova quanto familiar, em um contraste único.
— A mulher falou que vai demorar, tá chovendo demais pra mandar alguma moto e os carros da seguradora já estão lotados de chamados.
Seokjin assentiu, aquilo realmente fazia sentido. A chuva castigava a capital sem dó alguma, e os dois Kim ali presentes não seriam os únicos afetados pela natureza.
Sua necessidade de proximidade voltou e ele não se conteve ao ver que o celular do Kim foi guardado, deixando sua palma livre novamente.
— Você quer que...
Namjoon estava pronto para oferecer o celular ao mais velho, querendo saber se era do interesse dele chamar alguém ou algum carro de aplicativo para ir embora, quando sua mão foi novamente presa entre as mãos de pele alva.
Os dois buscaram o olhar um do outro, procurando algum sinal de incômodo com aquele ato, mas apenas sentindo-se confortáveis com o contato recente.
Um momento de silêncio instalou-se dentro do carro, dando privacidade aos dois homens que acabavam de se conhecer e já começavam a descobrir um sentimento há muito tempo falado.
Algo crescia enquanto os orbes se mantinham fixos, admirando e conhecendo a infinidade contida no castanho dos pares de íris, e tomava todo espaço entre os dois corpos. Era sutil, cresceu bem ali e os dois só foram perceber quando seus corações passaram a bater mais rápido que o normal.
— Quero o que? – Seokjin lembrou-se do que o Kim tentava falar antes.
Subitamente desencorajado a perguntar se Seokjin queria ir embora e deixa-lo, Namjoon manteve o silêncio durante algum tempo enquanto pensava no que falar sem soar muito invasivo.
— Eu ia perguntar se você quer sair pra jantar comigo qualquer dias desses. – Seokjin arqueou as duas sobrancelhas e ficou em silêncio, deixando o outro Kim inseguro. – Muito rápido, né? Tudo bem se você não quiser, acho que eu to sendo rápido demais, sabe? É que eu queria aproveitar a...
Sua voz foi morrendo quando ele ouviu a risadinha baixa do outro estudante. Namjoon viu sua paixão morder os lábios para parar o sorriso e logo depois fitar sua mão, os lábios rosados por causa do brilho labial e carnudos se aproximaram sorrateiramente do dorso de sua mão e deixaram um selar ali.
O mais novo sentiu o melado do brilho labial e logo viu o sorriso sempre encantador aparecer. Seokjin voltou a olhar para si e, sem soltar sua mão, se ajeitou no banco para ficar sentado de frente para o outro Kim.
— Eu quero sim.
Namjoon conteve seu impulso de querer correr e gritar em comemoração. O homem que povoava sua mente durante os meses anteriores tinha acabado de aceitar seu convite para jantar. Ele finalmente teria uma chance de conhecer mais sobre o outro Kim, de ser agraciado pelas inúmeras faces e ideias que ele poderia ter, de saber sua opinião sobre seu sabor de sorvete preferido e sobre as séries que gosta.
Ele finalmente poderia levar o Kim mais velho para algum lugar calmo, onde os olhos brilhantes, o sorriso bonito e a voz aveludada fossem tudo que merecessem sua atenção. Ele teria a chance de mostrar seu interesse genuíno na pessoa que Seokjin era.
Seu peito borbulhava em felicidade, ansiedade e um pouco de medo.
Porque por mais que tudo estivesse bem até aquele momento, algum dia Seokjin poderia decidir que ele não é uma pessoa que merece sua atenção. Se isso acontecesse, Namjoon teria que lidar com o fato de que sua paixão não tinha tanto interesse assim em si.
— Namjoon-ah?
A voz suave o tirou de seus devaneios que ameaçavam consumi-lo.
— Eu?
Seokjin riu baixo da expressão de dúvida que Namjoon oferecia para si.
Ele percebeu em pouco tempo que o mais novo variava constantemente entre assumir uma pose mais firme e intimidadora, e agir como uma pessoa assustada e acanhada.
Cada vez que o Kim mais novo começava a ser engolido por seus pensamentos, o par de covinhas e um bico apareciam em seu rosto, deixando sua feição adorável. Às vezes o cenho também acabava franzido, mas isso não era tão comum. Seokjin deduzia que as sobrancelhas somente se uniam quando os pensamentos eram sobre algo que o incomodava.
Conhecimento adquirido em dois meses de admiração distante.
— No que você tanto pensa?
Namjoon viu que Seokjin alternava o olhar entre seu rosto e o ponto onde a pele de ambos se tocava.
Os dedos de pele alva se misturavam bem ao tom caramelo que banhava a pele do mais novo graças ao sol. Seokjin não tinha pressa ao usar seu indicador para percorrer as veias dispostas na mão do outro estudante, tocando com uma calma inexplicável cada pedaço exposto, vendo como os tendões mexiam por baixo da pele quando Namjoon movia algum dedo.
Usando a mão que sustentava a outra do Kim, Seokjin testou o tamanho das duas, sentindo o calor que emanava em sua direção, depois entrelaçou seus dedos aos dedos longos, provando da maciez da pele que combinava tão bem com a sua.
— Em nada específico. – Namjoon riu soprado. – Ao mesmo tempo em muita coisa.
Seokjin sorriu e deixou seus dedos frouxamente entrelaçados aos dedos do outro homem, sua atenção se voltou totalmente para o Kim mais novo e o pequeno sorriso que insistia em enfeitar seus lábios.
— Então, já que estamos presos na faculdade e não vamos sair por enquanto, nós deveríamos conversar...
— Claro. – Namjoon também se arrumou no banco para ficar de frente para Seokjin. – E sobre o que você quer conversar?
— Sobre qualquer coisa que me permita continuar ouvindo sua voz.
Kim Namjoon corou.
Qualquer impulso de conter seu sorriso largo teria sido inútil, porque assim que as palavras fizeram sentido em sua mente um sorriso largo nasceu em seus lábios. Suas bochechas subiram o suficiente para fazer com que seus olhos ficassem pequeninos, atrapalhando sua visão do outro Kim.
Mesmo claramente envergonhado, sentimento entregue pela forma com que tentava esconder o rosto, Namjoon sentia-se encorajado a continuar a conversar com o Kim. Saber que Seokjin desejava continuar ouvindo sua voz e tocando sua mão era o suficiente para que ele vestisse sua face mais confiante e cativasse a atenção do homem a sua frente.
— Tudo bem então. – Já recuperado, o estudante mais novo continuou a falar. – Eu te convidei pra jantar comigo, por isso seria bom saber o que você gosta de comer. Assim eu posso te levar em algum lugar que te agrade.
Seokjin sorriu sincero quando percebeu que Namjoon parecia genuinamente interessado em seu gosto, preocupado em leva-lo a algum lugar que poderia deixa-lo desconfortável.
— Eu sou um homem simples, na verdade. – Seokjin apoiou as mãos entrelaçadas em sua perna e encostou a cabeça no banco ao seu lado. – Gosto muito de qualquer comida que seja muito bem cozinhada, e que não tenha muita pimenta.
— Você não pode comer pimenta?
— Não é que eu não posso, eu só não gosto mesmo. Eu fico parecendo um tomate maduro quando como algo muito picante.
Seokjin riu com a lembrança de como sempre ficava ao comer algo com pimenta, logo depois ficando um pouco envergonhado pela forma com que sua risada poderia soar. Suas bochechas esquentaram rapidamente e ele deixou com que o som de seu riso fosse morrendo conforme ele escondia o rosto.
Namjoon percebeu o que acontecia, mas escolheu não perguntar para não soar mais invasivo do que já tinha sido naquela tarde.
Não que Seokjin tivesse demonstrado incômodo, muito pelo contrário, ele só ainda estava inseguro com aquela relação que acabava de nascer.
— E eu não gosto de nada muito doce, acho extremamente enjoativo.
O Kim mais velho se esqueceu de qualquer coisa que pudesse fazê-lo sentir-se constrangido. Ele não sabia naquele momento que Namjoon percebeu a forma que seu sorriso foi morrendo, e fez aquele comentário com a intenção de afastar qualquer desconforto que pudesse nascer ali.
— Você já comeu chocolate com pimenta?
— Isso existe?
Namjoon sorriu quando percebeu que o outro Kim subitamente parecia empolgado para falar sobre chocolate com pimenta. Naquele momento, ele percebeu que poderia passar muito tempo ouvindo sobre o que quer que Seokjin tivesse para falar, desde tivesse a oportunidade de admirar o sorriso lindo do mais velho.
— Existe, e é a única coisa apimentada que eu como que não me incomoda.
— Mas não é estranha essa mistura?
Seokjin soltou a mão do mais novo, a deixando repousada em sua coxa, e isso fez com que Namjoon se assustasse. Seus olhos aumentaram de tamanho e ele não conseguiu evitar que seu olhar fosse direto para o ponto onde sua mão foi deixada.
Um tanto incerto sobre aquilo, o Kim mais novo começou a puxar sua mão para tirá-la da perna de Seokjin. Não existia problema para si continuar a tocá-lo daquela forma, mas seu medo de estar sendo invasivo demais falava mais alto.
Para sua sorte, o outro homem não pareceu notar seu breve momento de pânico e continuou a falar sobre o chocolate de sabor incomum.
— É diferente, na verdade, por isso a gente acha estranho. Mas não é ruim. – Seokjin sorria e gesticulava ao falar sobre o doce. – Sabe, eu gosto de coisas doces, e depois que descobri o tanto de sabor de chocolate que existe, não parei mais. Tem de laranja também, e de menta, mas esses eu não gosto muito.
— Onde você descobriu isso tudo?
Seokjin sorriu largo, mas não somente por perceber o interesse do homem que estava consigo. Namjoon deixava suas covinhas cada vez mais evidentes conforme tentava conter seu sorriso, fazendo suas bochechas parecerem mais cheias. Seu olhar parecia mergulhado em tudo que o mais velho tinha a oferecer e sua cabeça estava encostada no banco ao seu lado. Ele estava lindo daquela forma, simplesmente apaixonante.
Kim Seokjin nunca se sentiu tão feliz por ter seus planos frustrados por uma chuva.
— Tem uma loja perto do dormitório que vende um monte de coisas importadas. E eu sou simples, mas não gosto de nada muito convencional, então resolvi começar a experimentar os sabores.
— Nada convencional? Então te levar pra jantar não é do seu agrado?
— Não é isso. – Seokjin sorriu e buscou novamente pela mão do outro Kim. – Eu não sou levado pra jantar, sabe. Você não estaria sendo convencional se fizesse isso. E mesmo que fosse... – o Kim abaixou o olhar para as mãos novamente unidas e diminuiu o tom de voz. – Eu aceitaria fazer todas as coisas mais convencionais que existem, se fosse com você.
Namjoon apertou um pouco a mão que se conectava com a sua quando ouviu o que Seokjin disse. Parte sua queria acreditar que aquilo era somente sua imaginação, mas as bochechas levemente rosadas do mais velho não deixaram que ele se iludisse. Seokjin estava envergonhado quando os olhares dos dois homens se encontraram, dando a certeza de que Namjoon não estava inventando nada.
— Eu posso te levar pros lugares mais convencionais, da forma mais convencional possível, te dar presentes convencionais e te fazer sentir tudo aquilo de romances convencionais. Eu quero tudo isso, Seokjin, quero tanto. Mas eu tenho uma condição.
— Condição? – o mais velho sentiu seu coração falhar com a possibilidade de não estar avançando com Namjoon.
— Sim, condição. Você precisa me presentear com esses chocolates aí, principalmente o de pimenta.
O Kim mais velho sorriu e não se conteve ao aproximar seus lábios da mão bronzeada, deixando um beijo na pele macia.
— Presentear com chocolate é tão convencional...
— É sim, mas eu aceito fazer tudo que for convencional se você estiver comigo.
Ambos sorriram um para o outro, deixando que o silêncio crescesse dentro do carro e fosse somente preenchido pelo barulho da chuva lá fora. Não trovejava mais, mas a capital ainda era castigada com fúria pela água e pelo vento.
Nada que atrapalhasse de fato a bolha que envolvia os dois homens dentro do veículo. Algo delicado e incrivelmente forte nascia naquele primeiro contato, e não existia fenômeno natural que pudesse roubar a atenção dos dois.
Namjoon sentia-se feliz por finalmente ter criado coragem e abordado o outro Kim. Seu coração parecia festejar com a possibilidade de cultivar algo com o homem e sua mente já construía inúmeros momentos que seriam divididos entre os dois.
Seokjin não estava muito diferente, imaginando o tamanho de sua sorte por ter ficado preso na faculdade e esquecido seu carregador justamente naquele dia. Caso aquilo não tivesse acontecido, ele não teria finalmente conversado com sua paixão, não teria flertado mesmo envergonhado, não teria segurado a mão quente e macia entre as suas, não estaria vestindo uma roupa do mais novo e sentindo seu perfume, não teria um jantar convencional marcado, e não teria, acima de tudo, sentido toda a calmaria que morava em si ser revirada em pouco tempo de conversa.
Porque antes de ter o olhar do Kim mais novo em si, Seokjin vivia seus dias em uma monotonia confortável sem perspectivas de mudança. Mas, independente do que acontecesse nos próximos dias, Namjoon conseguiu mostrar em pouco tempo que viver na monotonia pode ser confortável, mas também é restritivo. E Seokjin não queria mais se restringir, principalmente do que quer que Namjoon o fizesse sentir.
[...]
Foram longos oito dias até que a noite em que os Kim jantariam juntos chegasse.
Depois de serem resgatados pelo seguro, Namjoon e Seokjin saíram do prédio da faculdade e dividiram um lanche simples antes de se despedirem. O mais novo pediu veementemente que Seokjin não considerasse aquilo como o primeiro jantar deles, mas o mais velho insistiu que ambos não poderiam fazer pouco caso daquilo.
Era importante para Seokjin que cada segundo compartilhado fosse devidamente valorizado, já que foram raros os momentos em que ele se sentiu bem na companhia de alguém. Além disso, aquela era a primeira vez que ele desejava estar com alguma das pessoas que tinham interesse em si.
Os boatos sobre Seokjin eram verdadeiros, ele normalmente recusava qualquer tipo de laço mais íntimo com as pessoas, seja com a intenção de fazer amizade ou com a intenção de cultivar um romance. Mas isso era somente porque não gostava da ideia de ter popularidade e pessoas em sua volta o tempo todo.
Quanto às pessoas que desejavam um romance, ou simplesmente algo casual, nenhuma delas despertou em si algum sentimento, um desejo que fosse.
Com Namjoon passou a ser diferente.
Depois de chegar ao dormitório e acordar Jimin para fazê-lo ouvir seu surto, Seokjin colocou o celular para carregar e enfim salvou o número do Kim mais novo quando viu que já tinha uma mensagem dele.
Aquele sentimento novo e acolhedor que nasceu em seu coração durante aquela tarde chuvosa aumentou a cada interação. Os dois começaram com conversas bobas por mensagem abordando qualquer assunto que poderiam ter em comum, depois passaram a sentar juntos durante as aulas práticas que dividiam buscando uma desculpa para ficarem próximos.
O mais velho aproveitava esses momentos para tocar a mão de Namjoon, ato que ele descobriu ser apreciado pelo mais novo tanto quanto era apreciado por si.
Após isso, Seokjin sugeriu um dia para que os dois colocassem em prática o que planejaram anteriormente dentro do carro.
O nervosismo tomou conta dos dois Kim quando o relógio indicou seis horas da tarde, uma hora antes do combinado. Namjoon se preocupou em escolher suas melhores roupas e seu perfume mais agradável, se preparou para encontrar Seokjin em um encontro oficial, onde deixariam claras as suas intenções de construir um romance com o mais velho.
O mais novo fez como Seokjin pediu e seguiu direto para o restaurante onde jantariam, mesmo insistindo que ele poderia muito bem passar no dormitório e buscar o mais velho.
O local não era longe dos prédios de posse da universidade, estrategicamente localizado para atrair todos os estudantes, que eram muitos, durante qualquer momento do dia. Seokjin viu mais de uma vez os comércios dali ficarem abertos até a madrugada.
Namjoon estacionou o carro e ajeitou o casaco caramelo que vestia seu corpo. Suas mãos foram imediatamente para seus bolsos em um gesto que mostrava sua insegurança.
Mesmo sabendo da recíproca do Kim mais velho, vendo como ele verdadeiramente prestava atenção em si e buscava por contato entre os dois, era difícil deixar todas suas dúvidas e questionamentos para trás de um momento para o outro.
Ainda existia aquela parte que insistia em dizer que Seokjin só aceitou aquele jantar para agradecer pela carona falha, ou para encarar aquilo como um pedido de desculpas pela tarde chuvosa. A mesma parte repetia que Namjoon deixaria de ser interessante em pouco tempo, e acabaria sem o outro Kim.
Mas essa parte foi calada no mesmo segundo em que seus olhos bateram na figura de Seokjin em pé próximo à porta do restaurante, segurando um pequeno buquê de flores azuis em uma mão e um embrulho médio na outra.
Seu olhar estava voltado para o sentido contrário de onde o mais novo se aproximava, sua expressão parecia neutra quando um casal passou por ele. Naquele momento, Seokjin acompanhou o andar do garoto e da garota, sorrindo mínimo quando viu as mãos entrelaçadas e pensando que gostaria de fazer aquilo com o Kim.
Namjoon estava sorrindo quando o mais velho encontrou seu olhar, devolvendo o sorriso quase no mesmo segundo. Alguns passos depois e os dois Kim estavam parados um de frente para o outro, com os sorrisos suavizados e os olhos conectados.
— Você tá lindo.
Foi a primeira frase que escapou dos lábios levemente coloridos do mais velho. Seu olhar captava cada detalhe que compunha Namjoon, desde os fios cor cinza repartidos ao meio, a camisa branca, a calça jeans de lavagem clara, até os sapatos e o casaco caramelo. O perfume não passou despercebido, sendo a combinação perfeita entre um toque doce e um toque cítrico.
Simplesmente deslumbrante. Seokjin percebia que a cada dia que passava, Namjoon se tornava melhor de várias formas diferentes. Talvez fosse efeito das conversas diárias que ganhavam mais leveza a cada novo contato.
— Obrigado. – Namjoon ruborizou. – Você também tá lindo, hyung. Eu diria perfeito, na verdade.
O mais novo reparou na blusa verde de gola alta, no blazer xadrez, na calça e sapatos pretos que vestiam o mais novo, gostando sinceramente da combinação entre a cor e a estampa. Ele reparou também no delineado discreto que enfeitava o par de orbes brilhosos e no batom que deixava os lábios do mais velho em um tom claro de vermelho.
— Eu to bem longe de ser perfeito, Namjoon-ah. – Foi sua vez de ruborizar antes de continuar. – Trouxe pra você.
Seokjin ofereceu o buquê e o embrulho para Namjoon, vendo-o sorrir largo ao fitar o arranjo.
O mais novo aproximou as flores de seu nariz, provando do perfume suave que elas exalavam e tendo a certeza de que sempre se lembraria do Kim quando sentisse aquele aroma. Depois de contemplar a delicadeza das flores pequenas e grandes, ele olhou para o embrulho em sua mão e então para Seokjin, em um pedido mudo por aprovação para abri-lo.
— Vamos entrar, lá você abre.
Sabendo que Seokjin buscaria por sua mão, Namjoon deixou seus presentes ocupando somente um braço e uma mão, já oferecendo a outra que logo foi presa em um entrelaçar de dedos.
Foi o mais velho quem falou com a recepcionista, sendo prontamente indicada a mesa que seria dos dois durante a noite, foi ele quem guiou o caminho dos dois e ele quem puxou a cadeira para que Namjoon sentasse.
Quando já estavam acomodados no restaurante simples, o mais novo colocou o buquê em cima da mesa ao lado dos dois, de uma forma que não fosse atrapalhar quando começassem a refeição. O embrulho ficou a sua frente, no lugar onde seria colocado seu prato mais tarde.
— Hyung, eu posso abrir?
Ambos tinham deixado seus casacos pendurados na cadeira excedente, ficando mais confortáveis para comer. Namjoon olhava para Seokjin da mesma forma que uma criança olhava para os responsáveis quando usava a fofura para pedir por algo.
— É seu, claro que pode.
O mais novo fez como permitido e não esperou por outro sinal para desfazer o laço de cetim e rasgar o papel pardo, revelando a caixa de mesma cor que comportava alguns doces. Namjoon deduziu se tratar dos chocolates que Seokjin mencionou no outro dia.
— São os chocolates que você falou?
Seokjin assentiu, observando como o mais novo inspecionava os doces dentro da embalagem em busca de alguma característica física que diferenciaria aquele doce de sua versão comum.
Pensando nos dias que antecederam aquele jantar, o estudante mais velho conseguia ver claramente que Namjoon se abria mais e tornava-se menos tímido a cada momento compartilhado.
De início era sempre Seokjin quem se sentava próximo do outro homem, ou quem buscava a mão alheia para entrelaçar os dedos e deixar um carinho na pele macia. Era ele quem começava o primeiro assunto do dia e quem reafirmava, através de seus atos, o seu desejo de conversar.
Mas uns dois dias depois, Namjoon surpreendeu o mais velho quando foi ele quem conectou as palmas primeiro. Ele inclusive deixou um selar breve na bochecha de Seokjin no mesmo dia, quando se despediu do mais velho que começava a cochilar na biblioteca, deixando-o para seguir para sua próxima aula.
— São sim.
— Então eu vou abrir depois, e você vai comer comigo.
Namjoon fechou a caixa e refez o laço que a contornava, deixando-a próxima ao buquê.
— Boa noite, vocês já sabem o que vão escolher?
Um homem um pouco mais velho que os dois foi até a mesa para retirar os pedidos. Observando de longe, ele já tinha percebido o clima que envolvia os dois e até se perguntava se eles estavam comemorando alguma data especial.
Depois de escolher o que comer e fazer o pedido, os estudantes entraram em sua bolha particular durante a noite inteira.
Enquanto ouvia Seokjin falar algo sobre seu amigo Jimin, o mais novo tentava não se perder na intensidade que estava exposta para si.
Kim Seokjin era intenso em cada mínimo detalhe, em cada traço seu. Tudo em si exalava uma energia que envolvia cada parte de Namjoon, mantendo-o preso a si e a qualquer coisa que existisse entre ambos. Não era ruim, muito longe disso, mesmo que a sensação fosse exatamente a de estar preso.
Namjoon descobriu que gostava de como a voz de Seokjin soava logo de manhã, gostava de ouvir sua risada escandalosa, mesmo que o mais velho tentasse disfarçar toda vez, gostava de saber sobre suas preferências de gêneros de filmes e livros, gostava de ouvi-lo falar sobre alguma matéria que ambos tinham, mostrando toda sua inteligência, e gostava de ter sua atenção.
Kim Namjoon descobriu estar apaixonado por cada pequeno detalhe do Kim, até por sua pequena cicatriz localizada entre sua pálpebra e sua sobrancelha esquerda, e descobriu que não demoraria muito para que ele se apaixonasse inteiramente por Kim Seokjin.
— Você acredita em destino, Namjoon-ah?
A voz que tanto ocupou seu pensamento chamou sua atenção. Ambos já tinham finalizado suas refeições e apenas estavam aproveitando a companhia um do outro.
— Acredito sim – o mais novo respondeu sorrindo.
— Você vai me achar muito emocionado se eu disser que acho que tava no nosso destino nos encontrarmos desse jeito?
Namjoon sorriu e puxou a mão do mais velho, prendendo-a em sua palma e deixando um beijo na pele alva.
— Não se você prometer não me achar emocionado por pensar que isso aqui pode ser muito mais do que uma amizade.
— Isso aqui?
O mais novo assentiu e soltou a mão presa à sua. Namjoon guiou a palma macia até a própria bochecha e a deixou ali, sentindo o toque esquentar sua pele.
— Nós dois, Seokjin. Não sei qual é o tipo de liberdade que você vai me dar, ou quais são suas intenções ao sair pra jantar comigo, mas eu não quero só sua amizade.
Imaginar que Namjoon estava realmente querendo algo a mais consigo era uma coisa, ouvi-lo falando abertamente sobre isso era bem diferente. Não que fosse ruim, estava longe disso, mas falar tornava reais suas expectativas e desejos.
Porque em oito dias ele teve certeza de que nenhuma outra pessoa conseguiria sua atenção da forma que Namjoon conseguiu, nenhuma outra pessoa mexeria com seu coração fazendo-o acelerar com tanta facilidade como Namjoon.
Ele desejava continuar a ouvir sobre as estrelas, desejava passar uma noite com o mais novo apenas as observando no céu e sendo agraciado pela voz que falaria as mais variadas curiosidades. Ele desejava andar de mãos dadas com o homem que seria seu namorado, e esse namorado somente poderia ser Kim Namjoon.
— Não sei se você tá querendo dizer que quer algo casual ou que quer algo sério.
— Sério. Eu quero algo sério com você, é tudo que eu posso querer depois de te admirar por meses.
O mais novo estava absorto na paz que o toque de Seokjin emanava quando deixou escapar. Não era sua intenção compartilhar aquilo tão cedo, já que ele não queria afastar Seokjin logo na primeira oportunidade que ambos tinham. Namjoon ficou envergonhado novamente, ouvindo um riso soprado do mais velho.
— Você varia de um homem confiante e destemido pra um homem tímido.
— Desculpa, é que eu esperei por isso e não quero fazer nada errado.
— Não se desculpe. – Seokjin usou sua mão para levantar o rosto do outro Kim e fazê-lo olhá-lo nos olhos. – Eu acho um charme.
Kim Seokjin e Kim Namjoon saíram de mãos dadas do restaurante, deixando o buquê e a caixa de chocolates dentro do carro do mais novo estacionado ali e escolhendo caminhar pelas ruas envoltas no clima fresco daquela noite.
Grupos de jovens e casais passavam pelos dois homens de mãos dadas presos em sua bolha particular. Namjoon agora era o responsável por manter um assunto entre eles, falando sobre como a paisagem dos parques das proximidades era tão linda que sua vontade era de ir até lá para fotografar quase todos os dias.
Seokjin descobriu que esse era o passatempo do mais novo, era a fotografia que o mantinha bem em meio ao estresse do curso que ambos tinham escolhido. Ele prometeu um dia deixar-se ser capturado pelas lentes do outro Kim, convencido pela forma que Namjoon falou sobre o que gostava.
O mais velho entendeu o valor que aquele passatempo tinha, e se apaixonou pela ideia quando Namjoon falou com tanta paixão sobre querer mostrar para o maior número de pessoas possível como a vida é linda. Seu olhar brilhava ao falar da simplicidade de cada detalhe que compunha a vida e a tornava tão complexa.
Kim Seokjin desejou poder ver o brilho daquele olhar todos os dias.
— Eu to tão feliz hoje, hyung.
Namjoon parou de caminhar e puxou levemente Seokjin para que os dois ficassem um de frente para o outro
— Eu também, Namjoon-ah.
— Quero poder fazer isso com você sempre, quero poder segurar na sua mão enquanto a gente anda pelas ruas da cidade, quero poder ver o brilho e a intensidade de seus olhos. – O mais novo tocou as bochechas do outro Kim. – Eu quero me apaixonar por você, pelo homem maravilhoso que você é, e quero ser o suficiente para que você se apaixone por mim também.
Algumas gotas de água começavam a cair do céu quando Seokjin usou as palmas para tocar as costas do mais novo e o aproximar de si.
— Continua sendo esse homem maravilhoso pra você ver só, em dois dias eu vou estar perdidamente apaixonado.
Namjoon sorriu com a ideia de ser o responsável por despertar aquele sentimento em Seokjin.
E foi pensando nisso que o mais novo tomou coragem de fazer o que desejava desde a primeira vez que viu Seokjin.
Os lábios se encontraram ao mesmo tempo em que a chuva iniciou. O calor compartilhado pelo toque sutil das peles se misturava ao frio das gotas que molhavam ambos, tornando o momento perfeito.
Seokjin sentiu seu coração se entregar pela primeira vez, e com uma facilidade que ele não achava ser possível. Namjoon tinha uma energia diferente, uma que combinava perfeitamente com a sua, uma que deixava tudo mais leve e mais marcante, ao mesmo tempo. Talvez fosse por isso que sentir o deslizar de seus lábios pareceu tão certo, tão único.
Foi natural a forma com que as mãos de Namjoon desceram para tocar e abraçar a cintura do mais velho, aproximando ainda mais os corpos e o mantendo ali, tendo seus ombros abraçados quando Seokjin subiu as mãos e as usou para tocar a sua nuca.
O abraço se intensificou, assim como a chuva que engrossava e parecia testar a vontade do futuro casal em reproduzir uma cena de filme. Os corações batiam com pressa, felizes por partilharem de um sentimento tão novo e tão forte, felizes por saber que teriam um chance de construir algo somente deles.
Seokjin queria mais do contato, queria continuar com o beijo calmo que trocavam, mas a chuva parecia ficar mais intensa a cada segundo e isso passou a atrapalhar.
Namjoon se afastou brevemente enquanto sorria satisfeito por estar nos braços do homem que ganhava cada vez mais espaço em seu coração, e deixou um último selar nos lábios levemente coloridos antes de entrelaçar suas mãos e passar a correr em direção ao carro.
Os dois jovens riam, genuinamente felizes e gratos pelo que estavam acontecendo, pouco se importando caso seus sapatos ficassem ainda mais molhados quando pulavam em alguma poça d’água, ou pouco se preocupando se ficariam doentes por ficar com as roupas encharcadas.
A história de Kim Namjoon e Kim Seokjin começou de uma forma simples, mas não convencional, quando um ato comum como uma carona acabou fracassando e se transformando em um ‘encontro’ improvisado dentro de um carro sem bateria, tendo a tempestade como trilha sonora.
E agora ela ganhava força de uma forma simples e convencional, com direito a um encontro em um restaurante, buquê de flores e caixa de bombom de presente, além do beijo romântico na chuva. Seokjin estava vivendo tudo aquilo que viu nos filmes clichês que tanto assistia com o amigo e que tanto desejou que não acontecesse consigo, mas que, por fim, não se importava nem um pouco de repetir quantos clichês fossem.
Desde que fossem com Namjoon.
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