Primeiro
Antes que o sol despontasse por entre os troncos das árvores, Aliuqá desceu do galho onde descansava: Ele se deixou repousar por um longo momento, já sabendo que precisaria de toda a reserva de suas energias para enfrentar o percurso mais a frente.
Em passos decididos, porém incômodos causados pelo sapato apertando seus pés sensíveis, Aliuqá caminhou o pequeno trecho que não mais escondida a luz do sol – como normalmente acontecia quando se estar mais profundo na floresta. Estando mais próximo da extremidade norte; saída pra quem vem do Sul e entrada pra quem vem do Norte. Dali, ele já poderia ver a saída.
Poucos tempo depois, Aliuqá deixou a última fileira de árvores, não tão apertada quanto o resto da floresta, para se deparar com um arco grosseiro feito de pedras enormes e precariamente empilhadas, com o nome ‘AISLADA' riscado _ provavelmente com outra pedra, pequena e pontuda.
Ao atravessar o arco, ele avistou casas e cabanas, eram poucas e suas estruturas são pequenas. Aislada é conhecida pelo obscuro passado que causou seu exílio da proteção do Reino onde ela pertence; não bastando ser cercada pela amaldiçoada Floresta Vermelha, anos depois da grande guerra, a pitoresca cidade foi abnegada pelo antigo rei e deixada a própria sorte, longe da barreira mágica protetora.
Aliuqá andou sem pressa pela estrada de terra, não demorando a alcançar o que parecia ser centro da cidade: há barracas com vários tipos de produtos, desde comida a objetos que Aliuqá não poderia dizer o que eram de onde estava. Há também cabanas, lojas e mais a frente, uma igreja. Olhando ao redor, absorveu com tristeza o quão fraco era o comércio por ali, quase não havendo visitantes.
Não foi surpresa quando, após andar tão pouco tempo, alcançou a saída de Aislada, que sua faixa da é tão pobre e mal cuidada quanto a entrada, rapidamente saindo dos limites da cidade.
Firme em sua caminhada, Aliuqá acessou o caminho de cascalho para as altas montanhas Hill of Nort; no topo desta estaria o primeiro grande desafio da sua jornada: Atravessar a barreira.
A muito tempo atrás, tempo este que ninguém sabe ao certo quando, foi construída uma barreira mágica ao redor do Reino Keller: Dentro desta barreira existem quatro cidades, duas ao leste e uma ao oeste do Reino, tendo apenas uma dentro das muralhas do rei. Ninguém sabe exatamente como a barreira foi construída, nem por quem, mas acredita-se que algum descendente direto dos dragões tenha algo a ver com a criação de uma magia tão poderosa, e perdida para o resto do mundo.
Para os Kelleranos, é contado que o Rei Brian Keller, fundador de Keller, perguntou para Marnien, seu Dragão companheiro, se havia uma magia poderosa o suficiente para segurar invasores. Algumas versões da história diz que Marnien não achou nada que pudesse ser tão forte assim, mas que quando ele morreu, seu espírito ficou em Alair para proteger os descendentes de Brian. Outra versão bem conhecida, e a mais acreditada, é que Marnien usou toda a sua magia para proteger Keller quando Brian morreu entre seus braços. No entanto, não há nada que possa comprovar qualquer uma dessas lendas.
Gold, a cidade dentro do Castelo, é habitada maioritariamente pela nobreza e os militares, além da família Real.
Dentro do Castelo Negro, Arie, o atual Rei, se encontra na sala do trono, em reunião com seus conselheiros, despreocupado com toda a segurança do castelo, que está sendo aplicada pelo chefe de segurança, Dylan, que por sua vez, detém o apoio dos Príncipes; Airon e Ellis.
“Aislada não tem nossa proteção, irmão.” Ellis disse, “Se o Rei Lucas invadi-la, não teremos como impedi-lo.”
Ele estava insistindo no assunto desde que o conselheiro do Rei havia convocado a reunião ao qual a Rainha Emma e a Princesa Haley participavam.
“Não cabe a nós fazermos nada.” Airon se repetiu, cansado da teimosia do irmão. “Mesmo que nosso pai decida entregar a cidade, poderíamos apenas obedecê-lo.”
O rosto do outro ficou horrorizado. “Não há nada além de uma invasão nos esperando se entregarmos nossa cidade a ele.” Fez uma careta. “É certeza que ele vai tentar um golpe para tomar nosso reino.”
Airon, ainda que prestasse atenção no falatório do irmão, tinha seus olhos vasculhando o redor do castelo, inclusive as janelas e os jardins.
“Por mais ardiloso que ele seja, não há como ele nos vencer. Estamos protegidos.”
Ellis bufou. “Uma merda que estamos.” Retrucou, “E mesmo que se estivermos, nosso povo não está e haverá muitas mortes durante a batalha.”
Airon concordou. Ellis pode ver no rosto jovial do irmão o quanto ele também estava preocupado – mesmo que ele tente esconder com uma submissão falsa.
A conversa foi interrompida com a chegada do guarda que substituiria Ellis na vigília. Ele acenou para o guarda em reconhecimento, se despediu do irmão e seguiu para a saída do castelo.
Parou sua caminhada quando um soprar de vento passou pelo seu lado. Não seria nada de mais, nada que merecesse sua atenção, se ele não estivesse justamente descendo as escadas e por ali não houvesse janela que justificasse o correr do vento.
Buscando não demonstrar sua suspeita, desceu três degraus simulando uma continuava em sua caminhada anterior. Ao alcançar o terceiro degrau, se virou, retirou a sua espada e a lançou em direção a parede. Em milésimos de segundos, ela foi parada antes de chegar no alvo, caindo no chão em seguida.
Imediatamente correu escada acima, pegou sua espada e tateou o ar para segurar o que quer que estivesse ali.
Não demorou muito, seus dedos circularam o que parecia ser tecido, puxou para seu peitoral o que tinha pegado e o prendeu entre seu corpo e sua espada.
“O que é você?” perguntou arfante.
Diante dos seus olhos, uma pessoa alta apareceu, de fato, ele tinha quase o seu tamanho. O homem estava usando algo parecido com as suas próprias roupas, vestes nobres que não são fáceis de encontrar ou acessíveis financeiramente, um capuz cobria seus cabelos e parte da sua face. Ellis conseguiu ver o perfil de seu rosto, e tudo o que seus olhos avistaram, estava inexpressivo. O invasor não respondeu à pergunta de Ellis, tão pouco.
Rápido e rasteiro, o homem saiu da imobilização do Príncipe. Silencioso, ele girou os pés e acertou o braço esquerdo de Ellis, causando um desequilíbrio que foi seguido a batida do corpo do príncipe na parede, tamanha foi a força do golpe.
O ser desconhecido voltou a ficar invisível no segundo em que subiu mais um degrau. Com o cenho franzido, Ellis pegou a espada, que caiu quando seu dono foi golpeado, e correu escada acima.
Não demorou muito para sentir uma rasteira que causou uma queda dura, seu cotovelo esquerdo se chocando com o chão. O invasor voltou a estar visível, de frente para si, as sobras tampando seus olhos. Não querendo admitir, Ellis sentiu uma pontada de preocupação: Já estavam no saguão do segundo andar do castelo, próximo de mais ao local onde Airon estava.
Levantou-se com um impulso, assim que seu pé esquerdo tocou o cão, Ellis virou o corpo; com a perna esticada ao máximo, mirou o chute na cabeça do outro.
A pessoa, no entanto, se desviou com graciosidade. O príncipe parou seus movimentos para assistir, sem perceber que isso não era algo propício para o momento, simplesmente porque alguém possuidor de tamanha altura não deveria ser suave como uma pluma.
Ficaram parados frente a frente. Ellis, que geralmente não gosta de pessoas, a não ser sua própria família, não deixou de estranhar seu próprio interesse: A cor de pele dele chamou sua atenção desde o momento em que ele ficou visível; é escura e parecia brilhar em um dourado com a luz da lâmpada mais próxima. Esse tom não é comum em Keller, tanto que nunca tinha visto alguém assim antes.
“Você não pertence a esse reino.” Ele afirmou com certeza. “O que faz aqui?” grunhiu.
Silêncio.
O capuz no rosto dele impediu que visse algo além da bochecha e queixo pontudo, ambos pintados com linhas vermelhas, da boca de lábios grossos e pouco do nariz – onde uma joia incomum estava atravessada no septo –. Ele não sorria, sua expressão corporal não revelava suas intenções, nada nele dizia sua possível motivação de invadir o castelo.
Uma carranca tomou conta da expressão já comumente fechada de Ellis. Como esse ser conseguiu invadir o castelo? Como sequer passou pelas muralhas?
Um novo movimento dele chamou sua atenção. O dedo indicador direito dele se mexeu contra a mão esquerda como se ele estivesse escrevendo alguma coisa. Ellis contraiu a sobrancelha, mostrando sua raiva, e correu em direção a figura encapuzada, sua espada empunhada, pronta para cortar o peito dele.
Os olhos castanho-esverdeado do príncipe não conseguiu ver quando o corpo alvo, que deveria estar na sua frente, desviou de si e foi para suas costas; Ellis não pôde fazer nada além de ser tomado por uma sensação de queda, como se a gravidade de repente não existisse e seu corpo estivesse caindo de um prédio, porém, ao mesmo tempo, seu corpo parecia ser liquido escorrendo ao seu redor.
Alguma coisa estava errada. Airon sentiu um arrepio, um daqueles que sobem pela sua espinha e faz seu corpo tremer por inteiro. Buscou ao seu redor alguma coisa, qualquer uma, que explicasse a sensação ruim que tomou seu coração.
Depois que Ellis desceu para o térreo, Airon subiu para a torre leste. Dylan, o chefe de segurança interna, pediu sua presença na torre mais distante e também a mais próxima dos calabouços.
Ele andou por alguns minutos antes do sentimento ruim tomar seu peito. Estava prestes a subir o último lance de escadas, mas ficou parado no corredor sentindo-se em conflito sem saber o que fazer: Deveria seguir seu instinto ou deveria continuar em direção a torre?
A decisão não estava em suas mãos, no entanto. Repentinamente, ele sentiu seu corpo ser arremessado para o lado, batendo contra a estatua que enfeitava um dos cantos do corredor.
Depois que a passagem foi desbloqueada, alguém passou no seu campo de visão antes de desaparecer.
Atordoado, porém consciente de que havia um invasor no castelo, Airon se apressou em se levantar e perseguir o invasor. Foi difícil achar o ser que estava invisível, porém foi treinado desde pequeno a identificar magia assim que ela for usada perto de si.
Impediu que a criatura chegasse até o final da escadaria, onde Dylan estava o esperando. Entre os degraus e as curvas das paredes, lutaram bravamente. O ser não poderia ser identificado por causa do capuz cobrindo sua face e das roupas comuns de Keller; porém era perceptível pela sua cor e aparência que ele não pertence ao reino.
Não havia espadas ou qualquer tipo de arma com ele; usando os braços, as pernas e as mãos, a defesa que aparentou ser falha e arriscada no começo, agora inexplicavelmente se mostrava mais eficaz que a armadura do príncipe. Talvez fosse magia, mas Airon não acreditava muito nisso – tirando o momento em que o seguiu a partir do rastro da sua magia, Airon não sentiu mais nenhuma energia pulsante ao redor dele, o que, provavelmente, significa que ele não está utilizando magia durante a luta.
E o príncipe sabe que magos tem um recurso magico moderado; por vim do seu sangue descendente de outras criaturas mágicas, só pode ser utilizada enquanto o humano tiver energia para comandá-la e controlá-la, ou seja, é um recurso limitado.
Mas se ele não estava usando magia, como então poderia ser possível que sua espada não danificasse seu o corpo? Quem era essa pessoa?
Suas análises e sua luta foram interrompidas pelo próprio ser desconhecido. Ele se afastou bastante, retirou a luva que estava usando e voltou a desaparecer.
Airon piscou confuso por alguns segundos antes de se concentrar em buscar a energia pulsante que a magia dispersava ao redor de quem a usava, no entanto sua reação foi lenta de mais. Ele já estava atrás de si, a mão dele tocou suas costas com muita suavidade, mas com firmeza.
Uma estranha leveza tomou seu copo. Airon sentia como se seu corpo fosse líquido e estivesse escorrendo para o chão. Não conseguia controlar, cada segundo que passava, menos ele sentia seu corpo físico. E doía, doía como se estivesse derretendo, mas ao mesmo tempo, era como se o peso do mundo não existisse mais e ele estivesse liberto.
Depois disso, restou um grande nada.
Na grande sala do rei, Arie e seus conselheiros estavam discutindo o mesmo assunto a horas.
“Vamos demorar apenas alguns dias para aumentar o alcance da barreira.” Haley se repetiu, debatendo com o conselheiro mais velho e mais teimoso, Cleiton. “Quando ela estiver estabelecida, Lucas será incapaz de ultrapassá-la.”
“E mesmo assim ele teria alguns dias para invadir.” Claiton rebateu mais uma vez a Princesa. “Caso ele faça isso, estaremos desprotegidos porque nosso mago estará ocupado tentando aumentar a barreira. Me diga, Princesa, o que faremos se isso acontecer?”
O deboche, mal disfarçado em seriedade, dele irritou profundamente Arie. Quieto, assistiu sua filha abrir um grande sorriso cínico.
“Como um grande espadachim do reino, poderoso o suficiente para acender ao cargo de conselheiro chefe, acredito que o senhor Cleiton poça proteger grande parte do povo de Keller sozinho.” Haley despretensiosamente relaxou sua postura e cruzou os braços. “Ou estou errada?”
Cleiton cerrou os dentes. “Eu posso, senhorita Haley, proteger uma cidade inteira sozinho, contra soldados, mas não contra magos.”
A boca dela abriu em uma fileira de dentes arreganhados, os olhos âmbar brilhando em satisfação.
“Eu posso, senhor Cleiton, lutar contra magos, contra soldados, contra reis. Faço isso desde meus poucos sete anos, sou experiente e se eu digo que a barreira é a melhor escolha, é porque eu cuidadosamente ponderei sobre nossas opiniões e esse é o caminho com maior probabilidade de sucesso.” Sua mão foi para sua espada, sempre presa em sua cintura, descansando ali. “Dar nossa cidade, na fronteira com o reino Saza, de mão beijada ao rei, é declarar com todas as letras que não lutaremos pelas nossas terras. No momento seguinte Lucas estará aqui no castelo para matar o rei.”
Cleiton fez um gesto de desdém com a mão. “Aislada foi exilada da barreira pelo rei Augustos, foi uma ordem dele.” Seu tom sugeriu que a conversa havia acabado ali. “Lucas não poderá entrar aqui, não chegaria nem no pico das montanhas Hill of Nort, estamos seguros. Deixe que ele tenha aquela cidade pobre.”
Haley semicerrou os olhos. Arie sorriu ladino, já sabendo o que viria a seguir.
“Augustos morreu.” Enfatizou. “A menos que ele saia do caixão e lute para reivindicar o trono, suas ordem estão tão mortas quanto ele. Minha cidade, do meu reino, não vai ser dada aos lobos para ser escravizada.” Praticamente rosnou.
O rosto vermelho como pimenta de Cleiton deixou claro sua raiva com as palavras da Princesa.
“Como você ousa falar assim do seu avô?” ele murmurou entre dentes.
Haley não poderia se importar menos. “Algo que eu disse esta errado?” perguntou.
Emma tomou a frente da discussão. “Haley está certa. Não permitirei que invadam as minhas terras.” Ela se virou para o conselheiro. “Adiamos de mais as decisões sobre Aislada e deixamos chegar nesse ponto, o que foi um erro imensurável.” A rainha se levantou do seu trono, ao lado esquerdo do marido, mas antes que ela disse algo, as grandes portas foram abertas bruscamente e por ela entrou um guarda. Ele correu para o rei, afobado.
“Suas majestades.” Saudou com uma reverência atrapalhada. “Desculpe interromper sua reunião, mas o assunto é de estrema urgência.”
Arie se levantou. Não é comum que interrompam suas reuniões, por tanto, se preocupou imediatamente.
“O que aconteceu de tamanha urgência?” Emma perguntou também preocupada.
“Invadiram o castelo!” anunciou.
Todos ficaram imóveis, perplexos.
“Lucas se moveu?” Cleiton perguntou a ninguém em específico. Sua voz estava trêmula.
“Pelo o que se sabe, é apenas uma pessoa.” O guarda respondeu. Isso chocou ainda mais a todos.
“Quem se atreveria em invadir o reino mais poderoso de Alair sozinho?” Charles, outro conselheiro, perguntou. Ele estava escandalizado com tamanha ousadia.
“A pergunta certa, senhor Charles, é quem foi poderoso o suficiente para passar pela barreira sem rompê-la ou nos alertar sobre.” Emma respondeu tensa.
Haley saiu do seu lugar, ao lado da rainha, e andou até o guarda. Seu rosto estava sério como nunca esteve.
“Onde estão os Príncipes?”
O guarda se remexeu de forma nervosa. “Os príncipes Ellis e Airon foram encontrados desacordados nas escadarias leste.”
O cenho dela franziu. Haley mordeu o lábio inferior com força. “Onde está Hazel?”
“O príncipe Hazel está em seu quarto. Há dois soldados guardando a entrada e dois do lado de fora, na janela.”
A expressão tensa dela amenizou um pouco. Haley poderia gargalhar sobre a cara emburrada e a pose birrenta do seu irmãozinho, que ela tem certeza que ele esta fazendo nesse exato momento por estar preso, mas ter seus irmão mais velhos caídos retirou qualquer graça que a situação poderia ter.
Ela se virou e se ajoelhou perante seus pais.
“Meu Rei, Minha Rainha, peço permissão para parar o invasor.” Pediu.
Emma não estava certa se poderia se arriscar assim. Dois dos seus bebês já estavam machucados a ponto de estarem desacordados. O invasor, seja homem ou mulher, se mostrou muito habilidoso, mesmo que Haley seja a humana mais poderosa no reino, ainda era perigoso.
Arie segurou com delicadeza se braço, fazendo uma massagem leve para dispersar sua apreensão. Olhou para ele, encontrando os olhos âmbar expressivos. Assentiu e soltou as mãos, relaxando seus ombros.
“Permissão concedida.” Arie respondeu.
Depois de uma rápida reverencia, Haley saiu apressada da sala. Seja quem for, essa pessoa irá pagar pelo o que fez ao seus irmãos.
Arie olhou para seu lado direito. O tigre, que sempre estava deitado ao lado do trono, observando, agora estava levantado. Os olhos azuis dele encaravam a entrada da sala, como se ele estivesse ponderando sobre alguma coisa. Alguns minutos depois o tigre saiu, caminhando calmo, como o felino que era, sumindo pelo corredor em frente a sala.
O Rei voltou a se sentar.
Aliuqá finalmente alcançou a torre leste.
No bolso do sobretudo que ele está usando, duas joias redondas e brilhantes estão guardadas com muito cuidado.
Perto do arco de pedra da entrada da torre leste, um homem mais velho que os príncipes, e com uma armadura mais pesada, estava parado. Os olhos castanhos dele estavam atentos fitando a escadaria.
Aliuqá parou sua caminhada, estando visível agora por não tentar se esconder com magia; depois de ser interrompido duas vezes seguidas, achou melhor guardar sua energia para sua fuga.
A pose do homem mudou imediatamente quando lhe viu. Aliuqá não demonstrou qualquer emoção em sua face, continuou parado analisando o guarda.
Dylan retirou a espada da bainha e a apontou em sua direção. Aliuqá aguardou pacientemente o primeiro passo do guarda, analisando com atenção os movimentos corporais de seu combatente.
Ficaram em silêncio, imóveis, por alguns minutos. Dylan fez o primeiro movimento; com uma boa precisão, ele girou a espada que passou a centímetros do rosto de Aliuqá.
O moreno, se esquivou com facilidade. Em seguida, usou sua perna esquerda como ponto de equilíbrio e atacou o guarda com a direita. Dylan se viu obrigado a recuar, mas não se deixou abater, logo usando seus punhos como apoio para uma secessão de ataques.
Aliuqá previu sem problemas os movimentos. Defendeu-se de todos eles com elegância e fluidez. Dylan não teve tempo para admirar o controle corporal do seu oponente, pois no segundo seguinte, um chute na sua cabeça foi executado com precisão, acertando sua têmpora, o que o deixou desacordado momentaneamente.
Aliuqá deixou o corpo caído e entrou na torre leste. Andou por alguns segundos antes de se deparar com as grandes e maciças portas de madeira.
Antes que pudesse entrar, o moreno foi impedido por vários guardas que chegaram na torre naquele exato momento.
Olhou por entre o capuz a quantidade e o nível da guarda do Castelo. Dentre todos que estavam ali, apenas a pessoa a frente deles representavam perigo para ele – por ser um Wakaano, criado em grande parte de sua vida em Newaka, aldeia do seu pai e dos seus avós, o controle do seu corpo e da sua magia são mais altos do que a média.
Aquela pessoa que lhe olhava firme era perigosa, no entanto. Ela provavelmente é a Princesa que todos comentam; muito habilidosa, esperta, melhor espadachim e arqueira do Reino de Keller.
Pensou rapidamente no que deveria fazer agora. A melhor opção seria enfrentar todos em busca de seu intento, ou deveria fugir e voltar outro dia?
Ao usar sua magia para derrotar os guardas e a princesa, Aliuqá corria grande chance de esgotar sua energia, o que prejudicaria sua fuga. Essa alternativa estava fora de questão. E para ser bem sincero, o Wakaano não acredita poder ganhar contra a incesa sem usar de sua magia.
Pesou os prós e contras durante os poucos segundos que teve antes de Haley atacar. Aliuqá desviou e correu para longe dela. Alguns aguardas tentaram lhe parar, mas o moreno não teve dificuldades em tira-los do caminho com alguns chutes e socos.
Decidiu por fugir, infelizmente as chances estavam mais contra ele do que a favor nessa luta.
Desceu as escadas correndo, pulou pela primeira janela que viu, usando sua magia para criar duas grandes asas de pura energia. Bateu as asas extracorpóreas com força, pegou velocidade e voou em direção ao sul do Reino, buscando as altas árvores com folhas cor de fogo da Floresta Vermelha sabendo que era ali que Staphanus estava lhe esperando.
Uma coruja anormalmente grande com penugem negra não demorou a lhe alcançar, voando ao seu lado.
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