mschneider21 Margot Schneider

Estórias que a Escola se Esquece de Contar – O Mundo - 9 O texto fala sobre a invenção e uso da guilhotina. Foi escrito de modo que adolescentes, crianças ou estrangeiros que queiram aprender português, possam compreender o significado de termos menos usados no dia a dia. Quando um termo menos usado aparece no texto, logo a seguir entre parênteses aparece um sinônimo para ele. No fim do texto há um teste divertido referente ao texto.


Non-fiction All public.

#Guilhotina #Pena-de-Morte #idade-média #punição #Jurista #Máquina-Mortífera
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A Guilhotina

"O acaso é, talvez, o pseudônimo de Deus, quando não quer assinar."

Théophile Gautier


Antigamente, a pena de morte (castigo, punição de morte) era aplicada com a finalidade de eliminar de vez o delinquente (1) da sociedade sem qualquer crítica ou reflexão. Na idade média, sentenciar pessoas à morte havia se tornado uma ação banal. Se alguém roubasse uma fruta da feira era enforcado. Se alguém fosse acusado de ser herege (contrário ao que a igreja prega), essa pessoa era queimada viva em praça pública. Se um nobre fosse culpado de qualquer ação contra a sociedade ou o Estado, ele era decapitado (tinha a cabeça cortada), se alguém cometesse um crime político, era esquartejado (cortado em pedaços). E mesmo em tempos de horror como estes, onde se matava tanto e na maioria das vezes injustamente, a criminalidade não deixava de acontecer nestes lugares.

Um dia um sensato italiano jurista (advogado), filósofo (2) e economista chamado Cesare Bonesana, mais conhecido como Cesare Beccaria, por ter sido ele o marquês de Beccaria, se pronunciou contra a tradição jurídica e a legislação penal de seu tempo. Beccaria criticou as torturas usadas como forma de se obter confissões do crime, condenou os julgamentos secretos e a prática de confiscar os bens do condenado. As idéias de Beccaria se espalharam pela Europa e foram elogiadas por várias personalidades da época como os filósofos Voltaire, Montesquieu, Diderot. Cesare Beccaria escreveu um livro que ficou célebre (famoso) no estudo do Direito Penal, “Dos Delitos e das Penas”. A obra foi lançada em 1764. Neste livro ele afirma que o castigo àquele que infringe (não respeita, transgride) a lei deve ser inevitável, mas que “não é a severidade da pena que traz o temor (medo, respeito), mas a certeza da punição”. Neste mesmo livro, Beccaria ressalta que “a prevenção dos crimes é melhor do que a punição”.

A guilhotina é um aparelho horroroso usado antigamente para aplicar a pena de morte por decapitação, ou seja, para cortar a cabeça do infrator (aquele que infringe a lei). O instrumento consiste em uma grande estrutura ereta (reta) na qual uma lâmina pesada é suspensa. Essa lâmina é levantada por uma corda, e fica mantida no alto até que a cabeça do condenado seja encaixada em uma cavidade que existe sobre uma barra na parte inferior do instrumento. Uma segunda barra com cavidade para a nuca é colocada sobre a cabeça da vítima impedindo-a de se mover. Quando a corda é liberada a lâmina afiada cai rapidamente de uma distância de 2 ou 3 metros, decepando (cortando) o pescoço da vítima. Uma cesta a frente do aparelho é colocada, onde a cabeça cai.


Logo que a guilhotina foi inventada, muito antes da revolução francesa que aconteceu em 1789, ela não tinha esse nome e ao invés de uma lâmina diagonal, ela tinha uma lâmina reta, e por isso nem sempre a máquina funcionava bem. A máquina caiu em desuso e o enforcamento ou o decepamento da cabeça com um machado eram os meios mais comum de aplicar a pena de morte.

Baseado nas novas idéias de Beccaria, o médico francês Joseph-Ignace Guillotin (1738-1814) sugeriu a volta do uso do tal aparelho com lâmina afiada para aplicação da pena de morte. Guillotin não era um homem ruim, só estava pensando no sofrimento dos condenados à morte; na agonia das vítimas por não terem uma morte rápida. Às vezes o enforcado custava a morrer e nem sempre o machado cortava a cabeça em um único golpe. Então um cirurgião da época, doutor Louis, teve a idéia de reinventar o antigo aparelho com lâmina, substituindo a lâmina ineficiente horizontal por uma diagonal. O ano era de 1792 quando Louis esboçou um projeto no papel e pediu a um fabricante de harpas que o construísse. A engenhoca (máquina precária, coisa complicada) seria chamada de "louison" – que vem do nome Louis, mas um jornal monarquista, conhecedor da sugestão de Guillotin, fez uma sátira (4) do projeto e cometeu o equívoco (erro) de dizer que “a tal máquina do suplício (tortura) deveria entrar em uso e seria chamada de guilhotina”! Coitado do médico. Tudo que queria era amenizar a dor dos condenados e ao invés disso teve desde então seu nome relacionado com a morte. Guillotin passou o resto da vida tentanto inutilmente desassociar seu nome da terrível máquina mortífera.

A guilhotina foi largamente usada depois da revolução francesa. Só entre 1792 e 1799, estima-se que 15 mil pessoas morreram na guilhotina. Nicolas Jacques Pelletier era o nome do primeiro condenado a guilhotina. Ele era um ladrão comum.

Entre os vários célebres que perderam suas cabeças na guilhotina estão Luis XVI (rei da França), Maria Antonieta (rainha consorte, mulher de Luis XVI), Georges Danton (advogado e político francês que se destacou no começo da revolução francesa), Lavoisieur (químico francês, que citou a frase: "Na Natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma."), Maximilien de Robespierre (advogado e político francês, foi uma das mais importantes personalidades da Revolução Francesa).

A pena de morte foi abolida na França em 1981. No Brasil, oficialmente, a pena de morte não é mais aplicada desde a proclamação da república, em 1889.

Em vários países do mundo, como China, Coréia do Norte, Coréia do Sul, Emirados Árabes Unidos, Filipinas, Iêmen, Índia, Indonésia, Irã, Iraque, Japão, Jordânia, Kasaquistão, Kuwait, Kirgizstão, Laos, Líbano, Malásia, Mongólia, Paquistão, Singapura, Síria, Taiwan, Tailândia, Vietnã, Estados Unidos da América, Turquia, etc. a pena de morte é aplicada, mas em canto algum do mundo ainda se faz uso da guilhotina.


Notas:

1 – Delinquente: alguém que pratica qualquer ato contra a lei.

2 – Filósofo: alguém que se ocupa da filosofia, ou seja, que estuda os problemas básicos relacionados à existência, ao conhecimento, à verdade e aos valores morais. Pessoa que tem por objetivo determinar a escala de valores.

3 – Diderot: foi um filósofo e escritor francês que se tornou célebre por lançar a primeira obra que descrevia toda o conhecimento produzido pela humanidade até sua época. À essa obra ele chamou de Encyclopédie. Por isso adotamos o nome „enciclopédia“ para o mesmo tipo de obra. A Encyclopédie de Diderot levou 21 anos para ser editada, e é composta por 28 volumes.

4 – Sátira: zombaria; composição literária que debocha, ridiculariza os costumes de uma época ou da sociedade.

5 - Théophile Gautier: foi um escritor, poeta, jornalista e crítico literário francês nascido em 1811 e falecido em 1872.



Teste seu conhecimento:


1 - Quem foi Cesare Beccaria?

1. Um jurista italiano, filósofo e economista que se pronunciou contra a tradição jurídica e a legislação penal de seu tempo;

2. Um jurista francês, filósofo e economista que teve a brilhante idéia de inventar a guilhotina;

3. Um jurista italiano, filósofo e economista que criticou o uso da guilhotina;


2 - Quem escreveu “Dos Delitos e das Penas”?

1. Voltaire;

2. Cesare Beccaria;

3. Emílio Papiniano;


3 - O que foi a guilhotina?

1. Um instrumento com uma grande lâmina, inventada por um cabelereiro sem talento com a tesoura, para cortar os cabelos dos clientes mais rápido e por um preço mais barato. Infelizmente a engenhoca não funcionava muito bem e acabava decepando as cabeças dos aventureiros clientes;

2. Um instrumento grande com uma lâmina afiada, inventada para cortar mais rapidamente os vegetais na cozinha;

3. Um instrumento oficial de execução na França, largamente usado durante a revolução francesa;


4 - Qual das opções abaixo aponta três ilustres personagens da história que perderam suas cabeças na guilhotina?

1. Abraham Lincoln; Voltaire; Jean-Jacques Rousseau ;

2. Maximilien de Robespierre; Georges Danton; Napoleão Bonaparte;

3. Maria Antonieta; Lavoisieur; Georges Danton;


5 – Em que ano aboliram a pena de morte na França?

1. 1789;

2. 1981;

3. 1881;


6 - Quais das opções abaixo aponta três países onde legalmente ainda se aplica a pena de morte?

1. China; Brasil; Índia;

2. Singapura; Irã; Dinamarca;

3. Estados Unidos da América; Turquia; Indonésia;


7 - O que significa o termo “delinquente”?

1. alguém que suja as ruas;

2. alguém que pratica qualquer ato contra a lei;

3. alguém que rouba;


8 - O que fez o francês Diderot de importante?

1. Escreveu a primeira enciclopédia da história e à ela chamou de “Encyclopédie”, por isso adotamos o mesmo nome para publicações futuras do mesmo gênero;

2. Escreveu uma enciclopédia onde ele listava todas as pessoas que foram guilhotinadas;

3. Escreveu um código penal novo chamado “Dos Delitos e das Penas”;


9 - O que é uma sátira?

1. Composição literária que debocha, ridiculariza costumes de uma época ou da sociedade;

2. Uma figura mitológica da Grécia;

3. Uma composição musical alegre que fala dos costumes engraçados da época da revolução francesa;


10 - Qual das opções abaixo descreve resumidamente quem foi Maximilien de Robespierre?

1. advogado e político francês, foi o construtor da prisão Conciergerie e da guilhotina;

2. advogado e político francês, defendeu junto com Beccaria o uso desenfreado da guilhotina durante o regime do terror;

3. advogado e político francês, foi uma das mais importantes personalidades da Revolução Francesa;


11 - Qual destas famosas frases se atribui à Lavoisieur?

1. “Se a revolução esta errada então o rei esta certo, mas se a revolução esta certa então o rei esta errado”;

2. “Na Natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”;

3. “O mundo jamais será tranquilo enquanto não se extinguir o patriotismo da raça humana”;



March 9, 2021, 2:54 p.m. 1 Report Embed Follow story
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The End

Meet the author

Margot Schneider Margot Schneider é o pseudônimo adotado pela escritora brasileira, nascida em Santos. Mudou-se para São Paulo, estudou Ciências da Computação o que lhe permitiu mais tarde trabalhar como desenvolvedora de sistemas de informação na Suíça, onde mora desde o ano 2000. A escritora adora tocar piano, violão, ler, viajar, conhecer gente, conversar, aprender outras culturas, novas línguas e atualmente só usa os computadores para trocar e-mails e escrever, mais uma paixão descoberta.

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Maria da Graça Feliciano Maria da Graça Feliciano
Adorei, muito agradável de ler
January 12, 2021, 19:04
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