Naquele dia, ainda não tinha amanhecido quando a galinha resolveu levar seus filhotes para ciscar um pouco fora do galinheiro. Como ela vivesse perto da praia, estava lá, apreciando o mar, rodeada pelos cinco pintinhos, quando avistou uma imensa tartaruga. Era uma fêmea que, depois de desovar e encobrir os ovos na areia, preparava-se para voltar ao oceano.
Indignada, a galinha dirigiu-se à gigante de casca dura:
- Muito bonito, hein! Vai abandonar seus filhotes? Que tipo de mãe é você?
Sua voz, um pouco trêmula, fez os pintinhos se alojarem logo sob suas asas, afinal sabiam que ela estava brava. A tartaruga, sem mexer uma ruga do rosto, respondeu:
- Sou a mãe de que eles precisam. Nem mais, nem menos.
- Mas como pode dizer isso? – continuou a penosa, cacarejando sem parar. – Não percebe que os ovos precisam ser protegidos?
Antes mesmo que acabasse de falar, a galinha viu uma cobra sair da mata e, em movimentos rápidos, desenterrar um ovo e devorá-lo inteirinho.
- Olhe só! Você virou as costas e perdeu um filho! Isso é um absurdo!
A tartaruga, porém, mais preocupada em escapar do sol que começava a nascer, continuava andando sem se importar com a barulheira da gorduchinha de penas brancas, que continuou:
- E depois, quando os bebês chegarem? Quem vai ajudá-los a dar os primeiros passos? A conseguir os primeiros alimentos? Eles vão morrer, sua desnaturada!
Enquanto esse monólogo se desenrolava, uma águia aproveitou o descuido da cobra e a fisgou para o almoço. Os pintinhos, assustados, sumiram entre as penas da asa da mãe.
- Ouça o que estou falando! Toda mãe precisa amparar sua cria, é uma lei natural! Veja os meus filhos, estão crescendo fortes, gordinhos, protegidos no galinheiro, com ração de qualidade, longe das raposas e de outros predadores. Além do mais, arranjo uma tremenda briga com quem se meter com eles.
E como nada adiantasse, a galinha apelou para a ofensa pessoal:
- Pare agora, sua cascuda jurássica!
A tartaruga, então, parou. Dobrou o longo pescoço na direção da família de galináceos e, com certa tristeza, respondeu:
- Em partes, invejo a senhora, dona galinha, pelo tempo maravilhoso que passará com sua cria.
- Ah, agora está concordando comigo, não é? – retrucou a ave, toda metida.
A outra mãe deu um suspiro e continuou sua triste reflexão:
- A vida é cruel. Nascer é um risco, que nós, bichos, não temos como controlar, pois procriamos por instinto... Infelizmente, sei que poucos dos meus filhotes sobreviverão aos desafios da natureza. Porém, para estes a vida será longa e livre! Poderão explorar terra e água, conhecerão os oceanos e seguirão o caminho que escolherem. E os seus filhotes? Vão ciscar a vida toda embaixo das suas asas?
A galinha ainda tentou retrucar:
- Pelo menos comigo estarão protegidos!
- Oras, para que tanta arrogância? Eles crescerão por alguns meses, receberão proteção pelo tempo necessário para a carne ganhar peso e suculência. Depois, todos terminarão numa panela, sem que a senhora possa fazer nada.
E assim a tartaruga deu por encerrada aquela conversa. Caminhou até o mar e sumiu.
MORAL DA HISTÓRIA: Só pode dar o mundo aos filhos quem primeiro deu os filhos ao mundo.
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