lara-one Lara One

Os governos de todos os países mentem e seus governos ocultos, chamados de Sindicatos, influenciam decisões em todas as esferas, com seus projetos secretos. Você já se perguntou quem financia todos os projetos e operações quando percebe que todos os governos possuem dívidas e orçamentos fantasmas? Patrocinadores? Investidores? Por que as megacorporações privadas trabalham para eles? Afinal de contas, quem realmente governa os governos e financia os Sindicatos das Sombras? Uma luta que Mulder e Krycek vão ter que decidir se vale a pena lutar ou o inimigo agora é bem maior do que eles.


Fanfiction Series/Doramas/Soap Operas For over 18 only.

#x-files #arquivo-x #suspense #teoria-da-conspiração #mulder #scully #krycek #Coin-Johnny-Depp #Gabriel-Christopher-Walken #Miguel-Robert-Downey-Jr- #Leviathan-Josh-Holloway
1
5.3k VIEWS
Completed
reading time
AA Share

S07#11 - MATER CONSPIRATIO


📷



INTRODUÇÃO AO EPISÓDIO:

Rua Morgan, 322 – West Virginia – 7:35 PM

A mansão enorme. Os portões se abrem, deixando entrar a limusine.

Close da placa da limusine. É uma placa do governo dos Estados Unidos.

[Som de cliques de fotografia]

Os portões se fecham.

A lente da câmera fotográfica, para fora do vidro do carro estacionado na rua.

Dentro do carro, a respiração tensa que embacia os vidros.

[Som de coração batendo em ansiedade e medo]

Agora um carro de luxo se aproxima do portão.

[Novamente os cliques da câmera]

O carro entra, os portões são fechados.

Mãos com luvas negras, segurando a câmera.

[A respiração dele está descompassada]

O Professor Serling pega a garrafa de uísque no banco do passageiro e toma um grande gole. Passa o braço nos lábios. Olha seu rosto no retrovisor: Cansado, os olhos vermelhos de chorar.

Outro carro com placas do governo se aproxima. Serling ajeita a câmera. Ódio nos olhos.

PROF. SERLING: - Você ainda vai pagar por tudo o que fez, Willis... Agora eu sou apenas um professorzinho de merda...

VINHETA DE ABERTURA: A ORDEM DOS TREZE



BLOCO 1: REVELAÇÕES


Uma guerra mais antiga que o mundo:

A guerra dos Filhos da Luz contra os Filhos das Trevas


Rua Morgan, 322 – West Virginia – 10:15 PM

Noite de lua cheia. Céu limpo e estrelado.

The Gold Coin, impecavelmente vestido, sai da mansão segurando uma pasta de papeis e entrando num Bugatti. Atira a pasta no banco do carona. Tira o paletó, arranca a gravata e dobra as mangas da camisa social. Os portões se abrem e ele sai com o carro, tomando a rua. Liga o som.

[Som: R.E.M. - Losing my Religion]

Coin desce os vidros. Aspira o vento. Olha-se no retrovisor. Então abaixa a cabeça, saindo do foco.

Quando ele se ergue voltando ao foco, está de cabelos longos e negros, brincos numa orelha e lápis sob os olhos negros como o ônix. Ele gira o volante, tomando outra rua vazia. Unhas pintadas de preto. Anel de rubi no dedo. Uma tatuagem de uma cruz dourada na mão e a de uma rosa vermelho sangue com o caule cheio de espinhos na parte interna do braço. Coin batuca no volante ao som da música. Olha-se no retrovisor novamente.

THE GOLD COIN: - Olá, Lúcifer. (PISCA O OLHO) O anjo mais lindo e perfeito. A primeira e melhor criação do Pai... (ÓDIO) Pai... Aquele tirano!

Coin olha com mágoa para as estrelas. Então aspira o ar novamente, num semblante de desconfiança. Olha para a rua. Há alguém parado no meio da rua. Coin sorri com deboche e acelera o carro, mirando no sujeito.

O sujeito pula por cima do carro. Coin freia bruscamente, dando uma guinada no carro. Abre a porta, jogando a pasta no banco de trás. O sujeito entra e senta-se no carona, fechando a porta.

MIGUEL: - (DEBOCHE) Olá, "Johnny Boy", o mais lindo entre todos.

THE GOLD COIN: - (DEBOCHE) Olá, "Bobby Downey", o mais traidor entre todos.

Coin manobra o carro bruscamente, fazendo a volta e quase derrubando Miguel pela janela.

MIGUEL: - Precisamos conversar, Lúcifer.

Coin desliga o som.

THE GOLD COIN: - Concordo, Miguel. O que é Victoria Mulder?

MIGUEL: - Pergunta errada.

THE GOLD COIN: - Responda ou vai voar pela janela, anjinho. E sem asas.

MIGUEL: - Eu não sei.

THE GOLD COIN: - Acha que eu acredito nisso?

MIGUEL: - Bom, você começou uma guerra em nosso planeta dizendo que Deus escondia as coisas dos anjos, então...

Coin freia o carro e Miguel dá com a testa no vidro. Coin o agarra pela camisa, o encarando com ódio. Miguel olha pra cima e suspira.

THE GOLD COIN: - O que é aquela coisa? Tem nossa genética?

MIGUEL: - Sendo honesto, eu desconheço fêmeas na nossa espécie, então não faz sentido que seja uma de nós, visto que somos seres assexuados, mas com colhões para a guerra.

THE GOLD COIN: - (ÓDIO) Maldito seja você! Eu vou descobrir nem que tenha que retalhar aquela garotinha e você sabe que sou capaz de fazer isso! Eu não ligo, não me importo, o amor não é mais comigo!

MIGUEL: - Eu sei que é capaz. Não duvido de nada que venha de você. E sei que amor é tudo o que você não conhece mais. Você esqueceu dele quando a cobiça e a inveja entraram no seu peito junto com a minha espada!

Coin quase o esgana, o sacudindo pelo pescoço. Miguel segura as mãos dele.

THE GOLD COIN: - Seu arrogante miserável, dobre sua língua pra falar comigo!!! O que tramam lá em cima criando uma aberração dessas?

Miguel tira as mãos de Coin da sua camisa. Ajeita a camisa, revelando o anel de ônix e a cruz dourada tatuada na mão, igual a de Coin.

MIGUEL: - Eu não sei! Por que eu saberia? Nem é da minha competência saber o que Ele deseja!

THE GOLD COIN: - Você tem que saber porque ficou no meu lugar, seu traidor! Seu invejoso, sempre quis ser general! Está feliz, não está? Vacilão de merda, você não tem colhões pra guiar os exércitos de Sião! Foi a pior escolha que o Pai podia ter feito! E me alegro muito por isso, assim será fácil exterminar com todos vocês!

MIGUEL: - Quando ficar calmo, conversaremos na diplomacia e direi porque desci. Somos irmãos, ao que me consta. Um mínimo de respeito cairia bem da sua parte.

THE GOLD COIN: - Relembro a forma como você nasceu ou essa piada já está batida demais entre as hostes? O primeiro anjo nasceu perfeito, o segundo escorregando pelo piso e batendo a cabeça na parede. Por isso você não tem juízo!

MIGUEL: - Essa piada não tem mais graça. A piada mais engraçada é a do general que tinha tudo e trocou por um planetinha numa parte escura e abandonada do multiverso, achando que podia ser maior que quem o criou! Feliz agora? Está no buraco que tanto desejou. Podia estar conosco ainda, sendo o general. Eu nunca quis esse posto. Eu fui designado por ser o segundo! Não tenho inveja de você, eu tenho é piedade. Ainda o amo.

Coin abre a porta do carona.

THE GOLD COIN: - Desce! Desce ou chuto você, seu amor e sua piedade pra fora desse carro! Anda, seu miserável!!!

MIGUEL: - Eu vou descer, mas antes precisamos conversar sobre as coisas que está fazendo!

THE GOLD COIN: - As coisas que faço são problema meu. Livre arbítrio. Desce!!!

MIGUEL: - Lúcifer, para pra pensar!

THE GOLD COIN: - Ele mandou você, não é? Claro que mandou! O Tirano não tem colhões pra me encarar! Precisa mandar Miguel, o idiota e retardado do general dele!

MIGUEL: - Nosso Pai nem sabe que desci! Estou aqui por livre arbítrio! Posso ser punido por isso!

THE GOLD COIN: - Nosso pai? (RINDO) Seu pai! Pai de paspalhos angelicais, bando de frouxos que não questionam merda nenhuma! Ótimo se você cair! Quando precisar de lugar pra ficar, conte comigo. Um filho a mais ou a menos expulso de casa não fará diferença. Eu acolho você, sou o irmão mais velho. Venha para as trevas, meu querido. O meu lado da guerra é bem mais divertido!

MIGUEL: - (DEBOCHADO) O problema é que gosto de sol, sabe? Um bronzeado cai bem...

Coin avança com a mão fechada e Miguel recua erguendo as mãos.

MIGUEL: - Sério. Pare com isso. Desista. Sabe que não vai vencer. Não vamos permitir que toque nos nossos, entendeu?

THE GOLD COIN: - O problema é que os seus também vêm pra mim. Ou por não saberem a quem servem ou por opção. É fácil tirá-los da luz, eles também têm livre arbítrio. É uma merda, né?

MIGUEL: - Não, é algo como liberdade e como dizem aqui, democracia. Uma criação dotada disso já por si mesma revela sua falsa acusação de tirania ao nosso Pai. Ele nunca impôs nada.

THE GOLD COIN: - É? Tem certeza? Sigam o bem ou queimo vocês no inferno. Isso não me parece democrático!

MIGUEL: - Não distorça as verdades, Lúcifer. Você adora fazer isso! Uma coisa é dar liberdade e a outra avisar dos perigos do caminho errado! O mesmo que aconteceu com você em Sião é o que está acontecendo com os humanos! Foram avisados e alertados por amor, mas escolheram ver para crer! Uma vez vendo a lama, nunca mais saem da lama! Você saiu? Ahn?

THE GOLD COIN: - Desce agora do meu carro ou vou amassar a sua cara até virar sucata, "Homem de Ferro"! Anda!!!

Miguel desce do carro. Bate a porta. Abaixa-se, olhando pra Coin pela janela do carro.

MIGUEL: - Depois não diga que não avisei você, "Mãos de Tesoura". Vai se cortar todinho nessa história com as suas próprias mãos.

Coin arranca o carro, esmurrando o volante com raiva. Miguel fica parado na rua. Tira um bracelete de ouro do bolso e coloca no pulso, o bracelete automaticamente se fecha. Ele leva o pulso perto dos lábios.

MIGUEL: - Rafael, me suba. O surdo não quer ouvir nada mesmo.

RAFAEL (OFF): - Tem alguma confeitaria aberta perto de você?

Miguel ergue os olhos, indignado. Suspira.

MIGUEL: - Não, sem doces, criança. Agora me suba! Minha energia nesse planeta está sendo sugada mais rápido que você atacando um pote de jujubas!

A luz desce e Miguel desaparece nela.



Esquema tático dos Filhos das Trevas contra a raça humana


Edifício West End – Georgetown – Washington D.C. - 12:31 AM

Coin sai do elevador, entrando direto na sala de estar, falando ao celular. As luzes se acendem sozinhas, no apartamento moderno, bem decorado e luxuoso.

THE GOLD COIN: - (AO CELULAR) Muito suspeito descer aqui só pra falar abobrinhas... Pedir pra desistir da guerra... Concordo com você, Belial. Algumas vezes eu não sei se Miguel é tonto ou esperto demais, mas que eles estão armando alguma tenha certeza disso. Eles sempre estão armando... Acabo de chegar em casa.

Coin desliga. Guarda o celular no bolso e abre a porta de vidro da varanda. Senta-se na poltrona da sala de estar.

Um vento passa pelas cortinas. Uma forma humana se esquiva por trás delas, desaparecendo na parte escura do apartamento. Coin acende um cigarro. Estala o isqueiro e sopra a fumaça para o alto.

THE GOLD COIN: - O que tem pra mim, Belial?

BELIAL: - Rockfell está conversando com o filho de Strughold. Querem se livrar de Alex Krycek, para enfraquecer o apoio que Mulder tem e assim pegarem a criança-anjo. Strughold filho quer a liderança do Sindicato americano. Poder para experiências com regeneração e criação de órgãos. Os genes da menina, dependendo da evolução dela, podem auxiliar nisso. A verdade, General, é que eles secretamente intentam não apenas a parte médica, mas desenvolver híbridos altamente dedicados a guerra. Eles sabem que somos guerreiros invencíveis por questões genéticas. Querem ter seus próprios exércitos para lutar à altura conosco.

THE GOLD COIN: - E os Greys sabem disso? Porque o líder deles me disse que não sabe nada enquanto bloqueava seus pensamentos para que eu não os lesse.

BELIAL: - Os Greys sabem e ofereceram secretamente ajuda para os humanos, em troca de parte no processo genético. Como sempre desesperados para continuarem sua espécie, mesmo que precisem misturar seus genes com outra raça, já que não procriam mais e estão numa luta constante para evoluírem sua espécie. O líder Grey oferece ajuda aos humanos contra nós e se diz nosso aliado contra Sião. Nada confiáveis, como sempre.

THE GOLD COIN: - Certo, vou continuar bancando o idiota porque precisamos dos Greys ainda.

BELIAL: - Rockfell vai chamar você e Robinson para uma reunião com Strughold filho. Ele precisa do apoio de vocês para colocar o doutor no Sindicato. Se vocês o apoiarem, ele vai convocar uma reunião com a Ordem.

THE GOLD COIN: - Robinson vai apoiar, ele tem interesses financeiros na genética dessa criança.

A sombra humana se move pela escuridão, agora ocultando-se na parede.

THE GOLD COIN: - Obrigado pela informação, Tenente.

Coin inclina-se pra frente, apoiando os braços nas pernas, pensativo.

THE GOLD COIN: - Alberthi terá de concordar ou criarei atritos desnecessários. Concordando, a liderança do Sindicato passará para o filho de Strughold. Não mudará muito, já que os nossos estão lá, aparentando serem os homens do Sindicato, vigiando o processo todo. E a Ordem vai se reunir para discutir a situação de Strughold. E pra garantir que tudo dê certo, certamente farão um sacrifício humano, um sacrifício de luxúria e Rockfell já deve ter providenciado isso com o Sacerdote.

BELIAL: - Sim, já estão procurando uma vítima para sequestrar, chamaram o tal Smile novamente.

Coin sorri com o canto da boca. Reclina-se no sofá.

BELIAL: - Quais suas ordens, Lúcifer?

THE GOLD COIN: - Tenente, providencie para que a pessoa encarregada de arrumar a vítima a procure nas imediações da Virgínia, no distrito policial de Alex Krycek. Essa pessoa não pode conseguir o seu intento, crie uma situação de confusão em que ele erre a vítima escolhida, entre em desespero e acabe eliminando a vítima errada. Acione a polícia, ou seja, Krycek. Objetivo da sua missão: Quero que o sujeito se veja acuado a ponto de ferir o braço regenerado dele. Não importa se for preso, nada dirá sobre a Ordem ou o mataremos. Quero que o russo fique aleijado novamente, como deveria ter ficado. Um aleijão não servirá mais ao Mulder. Ele ficará infeliz e pode voltar a ser o rato mau que era. Problema da Ordem e do Sindicato resolvido. E uma alma a mais pra nós, provando que a misericórdia e o perdão são fraquezas inúteis, que ninguém merece chances e mais um ponto para as trevas.

BELIAL: - Temos um problema, General. Alex Krycek se redimiu, agora ele tem o selo de Sião e não podemos tocá-lo. Como vamos corrompe-lo?

THE GOLD COIN: - Como todo humano, eles só buscam a luz quando estão na pior. Eles nunca vigiam, portanto, bagunce a fé dele. Isso se faz dando felicidade exagerada, como fiz com Scully. Ele vai ficar tão entusiasmado que se esquecerá de Deus. Então o aflija em culpas passadas. O atormente. Faça com que ele encontre pessoas que apontem o dedo para os erros que cometeu, que o odeiem com todas as forças, que o façam sentir-se mal a ponto de desanimar e deprimir. Isso é fácil num planeta de juízes. Sirva-se bem de tanto ódio humano, mais forças você terá e menos forças o russo vai ter. Não se esqueça de tentar manter Mulder longe dele. Mulder é um atraso infeliz, ele anima Krycek a viver, lhe deu perdão total e amor fraterno, um coração bom como o de Mulder precisa ficar longe, para não continuar sendo a força positiva que alimenta o rato. Não será difícil, já que Mulder está dedicado a ser escritor e cheio de compromissos. Assim Alex Krycek perderá o selo de proteção e poderemos toca-lo. Essa jogada é estratégica, Tenente.

BELIAL: - Ódio é meu sobrenome. Vou sussurrar muitas palavras por aí e muitas sugestões de pensamentos. Sou especialista em orquestrar ações. Considere feito. Alex Krycek vai cair.


Delegacia de Polícia - Precinto 11 - Virgínia - 5:35 AM

Krycek sai da sala de homicídios. Um policial vem trazendo um sujeito preso.

Vemos a sombra humana se aproximando pelo chão e subindo pelo corpo do sujeito.

O sujeito olha incrédulo pra Krycek.

PRESO: - Alex Krycek?

Krycek olha pra ele. Arregala os olhos. O preso olha para o distintivo de Krycek.

PRESO: - (RINDO) Isso é piada?

KRYCEK: - (NERVOSO) Acho que está me confundindo...

PRESO: - (GRITA) Alex Krycek saindo pela porta da frente de uma delegacia? Essa é a piada do ano! Vocês conhecem esse cara? Matador de aluguel! Profissional!!! Nós dois trabalhamos juntos por um tempo, explodimos um depósito militar de aberrações para encobrir ações do governo paralelo. Matamos quatro inocentes. Lembra disso, Krycek? Seu russo traidor, mercenário, assassino, sabotador e pilantra, graduado em foder com a vida dos outros, principalmente a de agentes do FBI e da polícia! Seus coleguinhas sabem disso?

Toda a delegacia olha pra Krycek com questionamento nos olhos. O delegado Norris, servindo um café, solta a caneca e se aproxima.

NORRIS: - Tirem esse idiota daqui!

O policial leva o sujeito pelo braço. Krycek fecha os olhos.

NORRIS: - Ok, voltem ao trabalho. O Checov aqui foi do FBI e trabalhou muitas vezes disfarçado. E fez um bom trabalho, porque até aquele imbecil foi enganado!

Os policiais riem e voltam ao trabalho. Norris puxa Krycek pra fora da delegacia. Krycek leva as mãos ao rosto, desanimado.

KRYCEK: - Não minta por mim, Norris. Eu já contei minha vida pra você, sabe que o cara estava falando a verdade...

NORRIS: - O que sei é que ele estava falando sobre um cara morto e não sobre você. Eu não conheci o defunto, mas conheço quem está na minha frente. Sei que morreria defendendo essa corporação e arrisca todos os dias a sua vida pra ajudar a colocar rédeas na vagabundagem. É a sua maneira de dizer: mudem de vida que vale a pena, sou prova viva disso.

KRYCEK: - Norris, essas coisas vão acontecer sempre! Estou prendendo gente que trabalhou comigo, entende? O passado sempre vai bater na minha porta! Talvez eu devesse sair daqui ou então admitir pra todos que meu lugar deveria ser atrás das grades junto com aquele cara!

NORRIS: - Checov, olha pra mim.

Krycek olha para o delegado.

NORRIS: - Filho, não acha que já pagou uma pena enorme pelos crimes que cometeu? Nem precisou ser trancafiado pra isso. Quer que eu prenda você e o atire numa jaula até ser levado a julgamentos e terminar na prisão? Vai se sentir melhor?

KRYCEK: - Não me sentiria melhor, porque gosto do meu trabalho, mas aceito como uma justiça.

NORRIS: - Justiça? Certo. Vamos falar sobre a porra da justiça! Eu terei que prender muita gente, acionar FBI, CIA e Interpol, gente acusada de aliciar você. Sim, porque se você é culpado por ter entrado nisso, existem culpados que ofereceram isso a você. E não apenas a você, mas a outros também. Não adianta pegar o ladrão de galinha, precisa pegar é o aliciador, as cabeças da gangue. A não ser que esteja arrependido por ter saído disso tudo.

KRYCEK: - Não, nunca me arrependi. Meus arrependimentos são pelo passado, que não posso mudar. Mas nunca acreditarão em mim, Norris!

NORRIS: - Eu acredito e muita gente acredita em você, certo? Eu posso dizer que seu segredo está guardado comigo, mas eu prefiro dizer que seu passado não diz respeito a ninguém. O que você fez, quem foi e o que era não importa. Ninguém está acima das merdas da vida, certo? Nem eu que sou delegado! Eu não disse pra você que quando era jovem também fiz merda? O que me interessa e interessa pra eles lá dentro é o detetive Alex Krycek. E ele é um dos melhores que eu tenho aqui dentro. Agora vai pra casa. Sua família espera por você.

Norris dá um tapinha nas costas de Krycek.

NORRIS: - E tire as minhocas da cabeça, Checov! Minhocas só servem para atrapalhar a vida. Vá viver, você tem uma mulher linda e um filho pra criar!


Cemitério Hills - Virginia - 6:19 AM

[Som: Lyube - Ty Nesi Menya Reka]

A estátua de um anjo feminino, de cabelos longos, com as mãos em direção ao céu, clamando por justiça. Abaixo a inscrição da lápide: Rose (... - 2003)

Krycek se agacha e coloca o ramalhete de flores do campo, aos pés da lápide.

KRYCEK: - Toda vez que venho aqui, eu sempre peço desculpas por ainda não ter encontrado sua identidade e a sua família. Hoje não é diferente, Rose. Já pedi perdão por não pegar os seus assassinos, é que eles são intocáveis para a lei.

Krycek ajeita as flores. Tira um lenço do bolso e tira o pó da lápide.

KRYCEK: - Sou humano, Rose. Limitado. Sei que não terá a justiça dos homens, mas terá a justiça divina. Eu creio nisso.

Krycek se levanta. Coloca as mãos nos bolsos da jaqueta de couro.

KRYCEK: - Até mais, Rose.

Krycek sai andando por entre as lápides, então para em frente a outra. Senta-se ao lado. Ajeita as flores do campo sobre o túmulo.

Close na lápide: William Sanders - Amado marido e pai. (1967- 2003)

Krycek tira uma garrafinha de vodca da jaqueta e abre. Despeja um pouco na sepultura.

KRYCEK: -Za vospominaniya, comrade! (Às memórias, camarada!)

Krycek bebe um gole.

KRYCEK: - Então, parceiro... Continuando nosso assunto. Amanda está bem, seus meninos também estão e nada está faltando pra eles. (SORRI) O Kyle ganhou uma medalha no basebol, se você não sabe disso. Eu fui ao jogo. O seu garoto é bom, ele tem uma tacada forte e precisa, não tem bola ruim pra ele! Puxou a você. Está até parecido, tem o seu jeito. O Cristhian já puxou a sua mulher, ele é mais de ler e estudar. A última vez que os vi foi no mês passado, fizemos um churrasco na sua casa. Meu filho se encantou na sua coleção de tacos de basebol e quase causa um acidente com o vaso favorito da sua mulher.

Krycek suspira. Toma outro gole de vodca.

KRYCEK: - Sua escrivaninha continua lá. Sabe que nos mudamos pra uma nova delegacia, mas a escrivaninha foi junto. O Norris encerrou o caso da Rose, mas ainda guardo a pasta na sua gaveta. Pedi desculpas pra Rose novamente. Uma pena que nosso último caso juntos tenha ficado em aberto. São seis anos sem respostas. Ninguém a conhece. Ainda estou atrás da Ordem. Sei que não vou pegá-los, mas quanto mais você conhecer seu inimigo, mais chances tem de prever o que fará... Hoje um cara me reconheceu dos tempos em que eu era um bandido. Norris me salvou de novo. Mas isso me deixa aborrecido, inquieto... As coisas mudaram, eu sei, mas não é legal quando jogam na sua cara coisas das quais você já se arrependeu e quer esquecer... Você morreu no meu lugar, parceiro. Pessoas boas e decentes me ajudaram a sair daquela vida. O mínimo que posso fazer é tentar ser digno do sacrifício de vocês.

Residência dos Krycek – 7:05 AM

Krycek entra desanimado pela porta dos fundos. Aciona o alarme. Tira a jaqueta colocando no cabide e a arma na prateleira. Barbara se aproxima pé por pé e salta em cima dele, Krycek a segura com os braços e ela envolve as pernas nele.

BARBARA: - (SORRI) Bom dia, Ratoncito!

Os dois trocam um beijo.

KRYCEK: - Bom dia, Malyshka.

BARBARA: - O que foi? Que carinha triste é essa?

KRYCEK: - (SORRI SEM VONTADE) Cansaço.

BARBARA: - Isso não é cara de cansaço, é cara de desânimo. Aconteceu alguma coisa?

KRYCEK: - Nada pra se preocupar.

BARBARA: - Olha essas nuvens negras, energia ruim se encosta rápido, Ratoncito. Quer tomar café da manhã, comer um pedacinho de bolo? Hum? Fiz até pão, sabia? Aquele que você gosta. Receita da sua mãe que você me ensinou.

KRYCEK: - Não, só vou tomar um banho e dormir.

BARBARA: - Certeza? Posso alegrar essa carinha...

KRYCEK: - (SORRI) Malyshka... Ô minha Malyshka... Eu...

Ela o encara.

KRYCEK: - ... Eu só preciso do seu abraço e do seu sorriso me dizendo que "vai ficar tudo bem, Ratoncito". Só isso me basta.

Ela o abraça e sorri. Afaga os cabelos dele.

BARBARA: - Vai ficar tudo bem, Ratoncito. Hum?

Corte.


[Som: Lyube - Ty Nesi Menya Reka]

Krycek sentado debaixo do chuveiro, encolhido num canto, cabisbaixo e chorando.

Vemos a sombra humana se locomover pelo canto escuro do banheiro.

BELIAL: - (SUSSURRA) Você não vale nada. Só fez maldade, agora assuma as consequências dos seus atos. Todo o castigo é pouco pra você. Merece o inferno e sabe disso, não foi uma pessoa decente e jamais vai se perdoar. Ainda acha que os inocentes perdoaram você? O sangue deles clama por justiça! Você não tem direito a ser feliz! Deus vai castiga-lo como já está castigando!

Krycek chora calado.

BELIAL: - (SUSSURRA) Você não é nada para pensar que pode ser alguém decente. Desista dessa ilusão, volte a fazer o que é da sua natureza má. Alguns nascem para o bem, você nasceu para o mal. Assuma isso e seja feliz. Você gostava.

KRYCEK: - (CHORANDO) Não. Eu nunca gostei. Eu não tive escolha. Precisava sobreviver.

BELIAL: - (SUSSURRA) Devia ter se matado. Ainda pode fazer isso. Não há descanso para pessoas como você. Nem perdão verdadeiro. Tolo, acha mesmo que alguém pode perdoar os crimes que cometeu? Deus nunca vai perdoar! Todo o castigo que sofreu ainda é pouco pelo que fez. Deus vai continuar castigando você!



Esquema tático dos Filhos da Luz a favor da raça humana


Residência dos Krycek - 10:21 AM

Krycek na garagem mexendo na picape, com o capô aberto. Limpa as mãos em um pano. Então percebe Victoria parada na porta, segurando uma caixinha.

KRYCEK: - (SORRI) Scullyzinha? O que está fazendo aqui?

VICTORIA: - Mamãe deixou. Eu atravessei a rua e olhei para os dois lados.

KRYCEK: - Isso mesmo, sempre tem que olhar para os dois lados.

VICTORIA: - Trouxe isso pra você, tio Tchek. Eu que fiz.

Victoria entrega a caixinha. Krycek abre a caixinha, tirando um ratinho feito de crochê. Krycek abre um sorriso.

KRYCEK: - Nossa, isso ficou muito bonito! Foi você quem fez? Acho que comprou e está tentando me enganar.

VICTORIA: - Nah! Eu mesma fiz com sobras de linha da vovó. Gostou mesmo?

KRYCEK: - Gostei e vou pendurar no retrovisor do carro. O que acha?

VICTORIA: - Legal! Assim não vai esquecer de mim!

Krycek se agacha na frente de Victoria. Passa o dedo no nariz dela.

KRYCEK: - Eu nunca me esqueço de você, certo? Obrigado, Victoria. Ficou lindo mesmo. Você colou até bigode no ratinho? Nariz, olhos... É, você tem talento!

VICTORIA: - Tio Tchek, posso falar uma coisa só pra você?

KRYCEK: - Claro, somos amigos, não somos?

VICTORIA: - Sim! Olha só, toma cuidado, tá? Sua luzinha na testa tá ficando fraca e vagalumes não podem ficar sem luzinha porque não enxergam no escuro. Deus perdoa quando você se arrepende e você se arrependeu, não tem castigo, o perdão limpa tudo. Não fica triste quando coisas ruins começarem a acontecer, elas são permitidas para testar a fé e terminar com Papai do Céu dizendo: Viu, infeliz? Desista de tocar neles, os meus filhos humanos são bem melhores do que você. O amor sempre vencerá e será com eles.

Krycek questiona Victoria com os olhos.

VICTORIA: - Eu amo você, tio Tchek!

Victoria o abraça. Krycek abraça ela, emocionado.

KRYCEK: - Também amo você, Scullyzinha. Você é uma filha pra mim, sabia?

VICTORIA: - Eu sei. Posso sentir o amor das pessoas e saber quando elas mentem ou dizem a verdade. E você tem dito só a verdade. Não escuta mais as mentiras, certo?

Victoria dá as costas e sai correndo. Krycek fica sem entender nada. Olha para o ratinho de crochê e sorri.


Residência dos Mulder - 7:12 PM

Victoria sentada à mesa da cozinha, escrevendo no caderno. Mulder dando sopa pra Bryan, que está sentado na cadeirinha. Bryan tenta pegar a colher.

MULDER: - Não mesmo. Sabe a sujeira que isso dá e a sua mãe fica maluca porque você já tomou banho.

BRYAN: - Papai... Dá!

MULDER: - Papai não pode dar a colher porque o Bryan não sabe comer sozinho e enfia sopa até no nariz...

BRYAN: - É?

MULDER: - É. No nariz, na cara toda e na cozinha inteira. Aí teremos uma Scully louca.

BRYAN: - (RINDO) Câlly loca!!!

MULDER: - (SORRI) É, uma Scully bem louca.

VICTORIA: - Papai...

MULDER: - Fala, Pinguinho.

VICTORIA: - Uma menina disse pra mim hoje na escola que a irmã dela já está no secundário. E que lá eles têm que abrir a barriga dos sapinhos! Isso é verdade?

MULDER: - Bom, é verdade. Você abre a barriga dos sapinhos para estudar.

VICTORIA: - E por que não abrem a barriga das crianças pra estudar também?

MULDER: - Como assim?

VICTORIA: - Qual a diferença entre os sapinhos e nós? Eles sofrem também. Eu não quero ir pro secundário. Não vou matar os sapinhos!

Mulder olha ternamente pra filha.

MULDER: - Até você chegar ao secundário, talvez não usem mais sapinhos de verdade, mas imitações de sapinhos, hum?

BRYAN: - Apinhos!!!

MULDER: - É, Campeão, sapinhos! E pelo jeito sua irmã não tem vocação pra seguir a profissão da mãe de vocês.

VICTORIA: - Não tenho mesmo. Fico olhando aqueles livros da mamãe... Ela abria gente morta pra estudar?

MULDER: - Victoria, filha... O conhecimento das coisas envolve ter que fazer isso para aprender como funciona. Se os médicos podem ajudar as pessoas, como os biólogos podem ajudar os sapinhos, é porque alguns sapinhos e pessoas precisaram ser estudados antes para entender seus organismos. Não é justo? Não sei. Sei que é única maneira de entender um todo é compreender as partes. É o processo da ciência.

VICTORIA: - Ah, entendi... Não tem outro jeito?

MULDER: - Não. Eu por exemplo, não gosto muito de anatomia, o estudo do corpo humano. Mas tive que estudar cadáveres na faculdade. Mexer em cérebro de gente morta. Ugh! Eu não gosto não dessas coisas, mas tinha que fazer para conseguir concluir a faculdade. Depois no FBI, isso também me serviu muito. Então, certas coisas que você não gosta de fazer, muitas vezes são necessárias para você chegar aonde quer na sua profissão.

VICTORIA: - Eu nem sei o que vou ser quando crescer.

MULDER: - Eu sei. Adulta.

Victoria solta uma gargalhada. Bryan olha pra irmã e ri junto.

MULDER: - (SORRI) Não se apresse, Pinguinho. Eu na sua idade também nunca imaginei que seria psicólogo, agente do FBI... E menos ainda que seria escritor, detetive particular e pai de dois filhos maravilhosos. Nem que conheceria a sua mãe e me casaria com ela.

VICTORIA: - Ainda bem que casou com ela ou a gente não teria nascido.

MULDER: - É, viu? Tudo tem uma razão na vida. Até abrir sapinhos.

Victoria fecha o caderno.

VICTORIA: - Papai, terminei meu dever. A mamãe vai demorar?

MULDER: - Acho que não, porque o papai tem compromisso com a tia Barbie e vocês não podem ficar sozinhos.

VICTORIA: - Eu já jantei, já fiz meu dever... Posso tomar sorvete?

Bryan pula na cadeirinha.

BRYAN: - Veverte papai! Veverte!!!

MULDER: - Bando de malandros, devoradores de sorvete... Tá bom. Sorvete pra vocês.

Mulder se levanta, leva a colher e o prato de Bryan pra pia. Victoria corre e abre a geladeira.

VICTORIA: - Calda de chocolate... Aqui!!!! Tem de morango?

MULDER: - Tem. Olha bem aí dentro. Dá licença pro seu pai chegar no freezer?

Victoria chega mais para o lado, procurando. Mulder tira o sorvete.

VICTORIA: - Achei!

Scully entra na cozinha.

SCULLY: - Ahá! Criminosos atacando o meu sorvete! Peguei no flagra!!!

Mulder coloca o sorvete sobre a pia. Victoria fecha a geladeira. Mulder pega as taças no armário.

MULDER: - Eles jantaram, Victoria fez o dever de casa e acho que eles merecem, mamãe.

SCULLY: - E eu? Não mereço?

VICTORIA: - Mas você só gosta daquela gororoba de arroz gelado!

Mulder dá uma risada. Scully larga a bolsa na cadeira, faz uma cara de debochada e agarra Victoria, dando um beijo nela.

SCULLY: - Quem bom que você acha que é gororoba porque sobra mais pro seu pai e pra mim.

MULDER: - Verdade, Pinguinho. Aquilo é gostoso. E esqueci de comprar.

Scully solta Victoria e dá um beijo em Bryan.

SCULLY: - Como você esquece de comprar o meu gelado de arroz, Mulder?

MULDER: - Vai encarar o sorvete ou não?

Scully dá um beijo em Mulder.

SCULLY: - Manda! E se apresse porque a Barbara já está chegando.

MULDER: - E ela vai comer todo o sorvete?

Victoria solta uma gargalhada. Bryan ri junto. Scully coloca as mãos na cintura e olha debochada pra Mulder.

SCULLY: - Ela vai sair com você, esqueceu? Ahn? Depois de todo o sacrifício que ela e eu fizemos?

MULDER: - Acha que eu ia esquecer? Já tô até pronto! Nem reclamo mais da fatura do cartão!

Mulder entrega a colher de sorvete pra Scully.

MULDER: - Sirva os nossos filhos, Scully. Como diz a Victoria: Vazei!!!

Mulder beija Victoria e Bryan. Depois troca um selinho com Scully e sai pela porta dos fundos levando a jaqueta e as chaves do carro.

SCULLY: - O pai de vocês não tem jeito. Hum... Mais sorvete nos sobra! Que tal sorvete na sala assistindo televisão?

Victoria afirma positivo com a cabeça.


Residência dos Krycek - 9:19 PM.

Krycek na cozinha, segurando Dimi no braço direito, enquanto tira a mamadeira da panela. Dimi já com um ano, cabelo num topete, olhos verdes arregalados e atentos no que o pai faz. Krycek experimenta a temperatura do leite na mão. Então pega a mamadeira e leva até a boca do filho, que acena negativamente com a cabeça.

KRYCEK: - Como não, carinha? Isso é gostoso!

Krycek ergue a cabeça e abre a boca, apertando a mamadeira. Dimi observa. Krycek engole e olha pra Dimi.

KRYCEK: - Hum... Que delícia! É doce... Leite em pó... Olha que eu vou tomar tudinho!

Krycek tenta de novo e Dimi abre a boquinha e começa a tomar a mamadeira, já levando as mãos pra ajudar a segurar. Krycek sorri. Beija o filho.

KRYCEK: - Isso aí, pra crescer e ficar forte. Quem é o meu carinha, hum?

Dimi solta a mamadeira e dá um sorriso.

KRYCEK: - É, esse é o Dimi, o carinha do papai. O meu garotão!

Krycek coloca a mamadeira na boca do filho e se aproxima da porta da varanda, olhando pra Rasputin que já é um husky siberiano enorme. O cachorro mete o focinho na grama, rosna, espirra forte e ergue o nariz fazendo terra e grama voarem pra cima. Depois pula na volta, late e repete o processo, entretido na brincadeira dele.

KRYCEK: - Agora eu sei porque o gramado tem buracos... E a culpa é das marmotas.

Rasputin para. Vira a cabeça pro lado e encara Krycek.

KRYCEK: - Marmotas!!!

Rasputin salta e começa a latir e sai cheirando a grama, procurando por marmotas. Krycek segura o riso. Olha pra Dimi e tira a mamadeira, colocando no balcão.

KRYCEK: - E aí, carinha? Vamos fazer hora até a mamãe chegar?

Krycek vai com o filho até o piano, perto das escadas de acesso ao porão. Senta-se ao piano e coloca Dimi sentado em sua perna. Aperta uma tecla. Dimi abre um sorriso. Krycek pega a mãozinha dele e ajeita o dedinho indicador apertando a tecla. Ele olha para o pai e acha graça.

KRYCEK: - (SORRI) Ah, você gosta, né?

Krycek toca com uma das mãos alguns acordes. Dimi com olhos perdidos no piano, pulando como quem tenta dançar e já levando a mão ao teclado.

KRYCEK: - Até ter idade para aprender, eu espero já ter aprendido pra ensinar você. Eu sempre quis tocar piano, mas era um instrumento caro demais... Legal, né? Quem sabe você realiza o sonho do seu pai?

Dimi solta sons de bebê, empolgado com o piano. Os dois distraídos nem percebem Barbara chegar da rua. Ela solta a bolsa silenciosamente sobre a mesa de jantar, olhando pra eles num sorriso.

KRYCEK: - Assim, papai ensina. Um dedinho... Assim... Dedinho bem firme. Oh... Já tocou um sol. (SORRI) Que legal! Dimi já está tocando piano!

Dimi sorri, pulando e querendo mais brincadeira. Barbara se aproxima por trás, espiando os dois.

KRYCEK: - Agora um dó... Isso... Agora o ré... (SORRI) Olha, você já sabe fazer uma música, filho!

Barbara senta-se no banco ao lado de Krycek. Ele se afasta um pouco dando espaço. Ela recosta a cabeça no ombro dele. Dimi nem percebe a mãe, entretido no piano e agora batendo as duas mãos no teclado.

KRYCEK: - Calma, carinha, pra ser Jerry Lee Lewis leva muito tempo!

Barbara solta uma risada. Dimi olha pra ela e ri.

BARBARA: - Aprendendo piano com o papai, filho? Que lindinho os meus meninos juntos!

Barbara e Krycek trocam um beijo. Dimi continua batendo as mãos nas teclas e rindo a cada som.

KRYCEK: - Como foram as coisas?

BARBARA: - Melhor do que eu esperava. Logicamente que desci do salto, você me conhece.

Krycek olha desconfiado pra ela.

BARBARA: - Não me olha assim, Ratoncito! A gente tem que brigar pelas coisas nesse mundo. E Scully entrou com 2.500 dólares do Mulder, né?

KRYCEK: - Resume a novela, não me enrola no suspense, eu não sou o Mulder.

BARBARA: - Ok, resumindo. Eles gostaram da história, do livro, acharam a qualidade da diagramação do Byers muito boa e a qualidade da impressão que a Scully pagou também. E como já está vendendo, porque Scully e eu saímos feito vendedoras de livros em livrarias e sites, logicamente a editora agora quer um contrato com o Mulder deixando em aberto uma nova edição e um próximo livro. Viram o dinheiro entrando, bastou!

KRYCEK: - Ou seja?

BARBARA: - Vendi o Mulder pra eles! E já fui categórica que qualquer assunto era comigo, a agente literária dele. Agora é torcer para o livro do Mulder cair no gosto das pessoas e fazer muito sucesso. E não vai ser difícil tendo uma editora ajudando na divulgação.

KRYCEK: - Então Mulder agora é oficialmente um escritor. Fico feliz por isso. Mas você é a agente dele?

BARBARA: - É. Legal né?

KRYCEK: - (SEGURANDO O RISO) Muito, com exceção de você ser a agente dele.

BARBARA: - Ai, Ratoncito! Para! (PROVOCANDO) O máximo que pode acontecer é Mulder e eu viajarmos sozinhos pra promover o livro dele.

KRYCEK: - Sei... Sozinhos. Livro. Humhum... Pego a minha arma agora e atravesso a rua pra atirar no rabo da raposa ou espero ele ficar famoso primeiro?

Barbara olha debochada pra ele. Se levanta e pega Dimi.

BARBARA: - Vem, Ratinho da mamãe. O Dimi já tomou a mamadeira?

KRYCEK: - E já tomou banho.

BARBARA: - Hum, prontinho pra nanar. E você, já tomou banho?

KRYCEK: - (SACANA) Não consigo esfregar as costas sozinho.

BARBARA: - Chispe pro banheiro, Ratoncito! Vou ninar nosso filhote e vamos conversar de pertinho naquela banheira. Você está de folga e sabe as minhas intenções. Vamos tentar?

KRYCEK: - Ah eu sei. São as mesmas minhas. Só quero ter a certeza de que você realmente acha a ideia boa, afinal agora além de jornalista você é agente literária e temos um bebê de pouco mais de um ano. Pensa bem. Pra mim não tem problema, quero saber se pra você não vai ter.

BARBARA: - Claro que não, já decidimos isso. Quem cria um, cria dois. E assim criamos todos de uma vez só. Vamos fazer bebezinho? Hum?

KRYCEK: - Como eu disse, eu encaro. E você? É o momento? Vai dar conta de bebê, outra gravidez e trabalho? E se o Mulder começar a vender livros e você realmente ter que atender toda a demanda de compromissos que isso vai envolver? Vai ficar histérica e me deixar louco e ficar botando a culpa no Mulder de novo? Ele não vai pagar fraldas dessa vez.

BARBARA: - (SORRI) Eu dou conta. Não sou criança, não quero expirar a validade do meu útero e acho que Dimi vai adorar ter um irmão. Você tem razão, não é bom ser filho único, é muito sozinho. E caso eu me sinta pressionada demais, eu peço licença pro Calvin e ele me libera do jornal até o neném nascer.

KRYCEK: - Ah! Não são marmotas escavando o nosso jardim. É o nosso cachorro. Vou deportar ele pra Sibéria para puxar trenós.

BARBARA: - Nem ouse brigar com o meu cachorrinho, Ratoncito! A grama cresce de novo. Eu deporto você antes de deportar o meu Rasputin. Ele é meu bruxo.

Krycek se levanta, fazendo cara de malvado.

KRYCEK: - Você vai ver quem é o seu bruxo...

Barbara apressa o passo indo pra sala, aos risos.

BARBARA: - Vamos correr, Dimi!!! O bruxo tá à solta com cara de rato malvado!!!

Dimi acha graça e grita a risadas altas. O celular de Barbara toca. Ela entrega Dimi pra Krycek.

BARBARA: - Coloca ele na cama, eu já subo. Aposto que é alguma coisa sobre o livro do Mulder.

Krycek sobe as escadas levando Dimi e brincando com ele. Barbara volta pra sala de jantar e abre a bolsa sobre a mesa. Atende.

BARBARA: - (AO CELULAR) Alô? (SÉRIA) Onde arrumou o meu número?



Esquema tático da conspiração mundial


RBN Television - Washington D.C. - 10:05 PM

Escritório todo decorado com vista panorâmica. Rockfell, com roupas sociais, fala ao celular, sentado na cadeira confortável. Atrás dele o quadro na parede com um cavaleiro templário e a cruz templária. O filho de Strughold, um homem de meia idade, sentado ao sofá e bebendo uísque. Coin parado no acesso a varanda do terraço, observando discretamente os dois.

ROCKFELL: - (AO CELULAR/ FALANDO COM CHARME) Barbara, minha querida, eu não sei do que você está falando... Não, eu nem faço ideia de quem são essas pessoas... Então, podemos jantar e conversar? Eu tenho uma proposta interessante para você...

Coin vai para o terraço. Tira a cigarreira do paletó, acende o cigarro e estala o isqueiro. Sopra a fumaça, olhando para a cidade. Robinson sentado numa poltrona, com as pernas sobre a mesa de centro.

ROBINSON: - O cigarro vai matar você, Alberthi.

THE GOLD COIN: - Existem maneiras de morrer bem piores do que esta.

ROBINSON: - O que falta ao homem? Descobrir a imortalidade. Isso seria bom.

THE GOLD COIN: - (SOPRA A FUMAÇA) Segredos divinos...

ROBINSON: - Vamos beber? O assunto lá dentro vai longe.

Robinson se levanta e serve uísque em dois copos. Entrega um pra Coin. Os dois brindam.

ROBINSON: - O que acha que ele quer conosco?

THE GOLD COIN: - O que todos eles querem, Robinson. Uma fatia de poder. E Rockfell parece bem disposto a ajudar.

ROBINSON: - Strughold sabe disso?

THE GOLD COIN: - Com certeza não.

ROBINSON: - É, Strughold está velho e ultrapassado e não quer deixar a cadeira do Sindicato das Sombras para o filho. Acho até mais interessante esse cara lá, na minha perspectiva de empresário farmacêutico. Ele é um médico renomado, aprendeu muito com o pai e está mais atualizado com nano medicina. Com o incentivo certo, ele poderá implementar seus estudos sobre regeneração de membros, que seu pai começou. Sabe que tenho interesse nessas pesquisas, Alberthi. É a minha área.

THE GOLD COIN: - Só espero que as cobaias que o Sindicato arrumar dessa vez não sejam "abduzidas". Essa desculpa está começando a ficar velha demais. Culpar alienígenas e usar a tecnologia deles é coisa da antiga Era do Canceroso.

ROBINSON: - Mas funcionava. Deixem se matar pelo conhecimento, Alberthi. Se eles querem criar vírus, aberrações mutantes e seja lá o que quiserem criar, quem ganha com isso somos nós. Eu ganho o antídoto e a patente da medicação e nós todos ganhamos mais uma dívida que o governo americano não tem dinheiro para pagar.

THE GOLD COIN: - Nova pandemia nos planos?

ROBINSON: - Com certeza. Pandemias dão lucro, diminuem a população e aumentam a dívida dos governos para conosco. Qual vírus vamos soltar? Pode escolher, tenho a cura para todos, mas sempre digo que não tenho, que levará tempo e assim ganho mais dinheiro deles. Você sabe como funciona.

THE GOLD COIN: - E quem vamos afundar dessa vez?

ROBINSON: - Todos. Começamos na Ásia para não chamar a atenção, afinal tudo sempre começa na Ásia... De lá é um pulo para a Europa e demais continentes. Já vá pensando em filmes de catástrofes para garantir sua bilheteria. (SORRI) Afinal, a ficção é um reflexo da realidade futura?

Rockfell e o filho de Strughold, se aproximam deles.

ROCKFELL: - Barbara continua arisca como uma gata. Mas não declinou. Vai pensar.

THE GOLD COIN: - Quer um conselho? Não mexa com Barbara Wallace... Mulher traída nunca perdoa. Ela arma emboscada até conseguir vingança.

ROBINSON: - Se o Alberthi, o playboy da turma falou...

ROCKFELL: - Vou jogar a armadilha com charme. Um bom vinho, boa conversa e ela vai esquecer que dorme com um rato russo e sujo. Eu me garanto. Olhem para mim e olhem pra Alex Krycek! Quem tem chances? O que ele pode oferecer para uma mulher ambiciosa? Uma vidinha de mãe, dona de casa e esposa de policial? Ela pode estar gostando disso, mas vai enjoar rapidinho.

THE GOLD COIN: - Nunca menospreze os sentimentos de uma mulher. Elas afundam você na mesma rapidez e proporção com que o erguem. Não vai conseguir trazer Barbara Wallace de volta para o seu lado, nem com todo o seu dinheiro e promessas. E estou tentando entender o que planejam com isso.

ROCKFELL: - Espero que não esteja pensando que estou apaixonado e louco e quero aquela vadia de volta. O Dr. Strughold aqui vai explicar para vocês o que ele me disse e acho que vão concordar em levar esse assunto até a Ordem. Por favor, vamos nos sentar.

Eles sentam-se.

DR. STRUGHOLD: - Senhores, nas últimas décadas, graças aos esforços de homens como meu pai e vocês, a medicina evoluiu. E não vamos discutir os métodos, esforços e sacrifícios sempre foram necessários. A ciência avançou, os tempos obscuros ficaram para trás. Exames e técnicas cirúrgicas estão se atualizando a cada dia. O diagnóstico precoce de certas doenças já pode ser acessado pelo DNA de cada pessoa. O que ainda não temos? E não me digam a cura para a Aids e o câncer, eu sei que temos isso e não nos interessa, curas não dão lucro, tratamentos sim.

ROBINSON: - Ainda não conseguimos regenerar membros e criar órgãos. Mas sei da pesquisa do seu pai e sei que ele conseguiu regenerar membros.

DR. STRUGHOLD: - E se eu disser a vocês que eu posso fazer isso? Além de regenerar membros, eu posso criar órgãos? Desde um pulmão novo até um coração?

Eles se entreolham.

ROBINSON: - O que precisa, Doutor?

DR. STRUGHOLD: - Cobaias, investimento e... A liderança do Sindicato das Sombras.

THE GOLD COIN: - E por que afastaríamos o seu pai disso?

DR. STRUGHOLD: - Porque meu pai não é mais o meu pai há muitos anos.

ROBINSON: - Como assim?

DR. STRUGHOLD: - Meu pai é um alienígena disfarçado dentro do Sindicato. E acredito que todos são alienígenas infiltrados. Não temos mais Spender, aquela cobra esperta. Eles estão livres para agirem contra nós e bisbilhotarem nossas operações.

Coin disfarça, bebendo uísque e observando o assunto.

ROCKFELL: - Tem provas disso?

DR. STRUGHOLD: - Muitas. Eu sou filho dele e posso dizer que meu pai já deve estar morto. Aquele lá não é o meu pai.

THE GOLD COIN: - Suspeita de alguma raça? Talvez os Greys... É típico deles.

DR. STRUGHOLD: - Não sei qual raça, mas é alienígena. E trouxe alguns fatos para mostrar e discutirmos. Quero aquela cadeira. E quero pessoas de confiança dos bastidores do governo. Quero trocar todos. O Sindicato está infectado por alienígenas e os interesses deles não são os nossos. O lugar deles é fomentando nossa tecnologia em acordos, mas sentarem na mesa de negociação do futuro desse país não faz parte disso.

THE GOLD COIN: - (SORRI) Isso é absurdo! Com quem andou conversando para ter uma ideia maluca dessas? Alienígenas infiltrados?

DR. STRUGHOLD: - Com Spender. E ao contrário do meu pai que tinha rixa com ele, apesar de não gostar do meu tio, eu sei que ele sempre foi o esperto da família. E se ele me diz que isso é verdade, eu sei que é verdade. Meu pai foi morto por Alex Krycek e alguma coisa entrou nele. Alguma forma de vida invisível. E você estava lá, Sr. Alberthi.

Todos olham pra Coin.

THE GOLD COIN: - Sim, eu estava lá e levei alguns tiros de Alex Krycek e acabei desmaiando e só não morri por um milagre! Está me acusando de alguma coisa, Doutor?

DR. STRUGHOLD: - Não estou acusando, Sr. Alberthi, longe disso. Estou esclarecendo para sabermos se o senhor não viu nada de estranho.

THE GOLD COIN: - Não, porque como eu disse, levei três tiros de Alex Krycek e apaguei. Achei que tinha morrido, nem queiram saber que experiência terrível foi aquela. O russo traidor entrou lá querendo executar todos por vingança, eles só escaparam porque correram. E quando o socorro chegou, tanto o russo quanto seu tio Spender já tinham fugido! Os dois traidores, me deixaram lá morrendo sem ajuda. Seu pai foi quem fez os primeiros socorros e foi graças a ele que estou vivo!

ROCKFELL: - (IMPRESSIONADO) Imagino, Alberthi. Eu nunca levei um tiro, mas não deve ser nada agradável...

THE GOLD COIN: - E não é. Então devo minha vida a Strughold e não consigo acreditar que o próprio filho dele queira tomar o seu lugar naquele sindicato, passar a perna no pai inventando essa maluquice de alienígenas infiltrados. Sabe que essa coisa de família é muito importante, não sabe?

DR. STRUGHOLD: - Eu vou provar para vocês que meu pai não é aquele sujeito que está lá e que se parece com ele. E vocês me darão razão e se livrarão de todos aqueles homens que estão lá porque eles não são humanos também. E pela minha denúncia, mostro fidelidade a vocês e acho que podem ao menos pensarem na minha proposta. Eu guiarei o consórcio e sabem que serei fiel à Ordem dos Treze. Eu sou o homem que vocês precisam e nunca mais terão problemas.

THE GOLD COIN: - E onde entra Barbara Wallace nessa história?

ROCKFELL: - Um meio para um fim. Não é ela o nosso interesse. É Alex Krycek. E se ele desaparecer? Ou então... Ele é policial. É fácil subornar tiras para colocarem drogas no armário dele. Exoneração, fim de carreira. Ou volta a fazer trabalho sujo, o que não vai querer por causa dela, ou vai para a cadeia. E ele sai do nosso caminho.

THE GOLD COIN: - O que a Ordem ganha com isso? Por que querem pegar Alex Krycek, por retaliação? Eu quero entender o que estão pensando. A aprovação depende dos treze. Me convençam do meu voto.

DR. STRUGHOLD: - Enquanto Alex Krycek estiver vivo, nunca chegaremos no Mulder. Precisamos matar a babá russa para chegar ao bebê chorão.

ROCKFELL: - Mulder e Krycek estão chegando perto demais da verdade sobre a Ordem, já entenderam que os Sindicatos são apenas braços nossos em diversos países. E eu tenho certeza absoluta que Krycek roubou meu telefone. Eu só não sabia quem ele era! Se soubesse não teria me descuidado no balcão do hotel.

THE GOLD COIN: - Já tentamos isso e terminamos com bons matadores profissionais dentro de sacos plásticos. Querem atingir um homem? Com a estratégia que o Sindicato das Sombras usava? Isso é patético e ultrapassado! Quanto mais tentarem separar os dois, mais juntos eles ficarão em volta do ninho!

DR. STRUGHOLD: - Eles atingiam Scully para ferir Mulder. Se atingirmos a Barbara vamos ferir Krycek.

ROCKFELL: - É o que eu penso.

THE GOLD COIN: - Por um tempo vai funcionar, mas com isso conseguirão apenas um homem ferido, sem nada a perder e com mais sede de vingança. Viram o que Mulder aprontou, inventou um câncer, acobertou o desaparecimento de Scully e tudo para terem a filha. Não, não é uma boa estratégia. Alex Krycek não tem o freio moral que Mulder tem, ele vai matar se preciso for e sem pensar duas vezes! E por que querem pegar o Mulder? Ele não tem mais utilidade alguma para vocês!

DR. STRUGHOLD: - Por alguma razão desconhecida, o Sindicato deu trégua a questão Mulder e garantiu a Spender que não tocará mais no filho dele e sua família. Mas a questão Mulder continua sendo vital para nós, como tem sido, desde a segunda guerra: A mutação da família Mulder com genes alienígenas que agora sabemos serem de Sião. Vocês entendem a importância disso?

ROBINSON: - Anjos... É claro que entendo! É a raça mais superior e perfeita entre todos esses alienígenas. Imagine ter genes angelicais a nossa disposição? Seria a solução para todos os nossos problemas!

THE GOLD COIN: - Mas continuamos com um problema. O quanto de anjo existe nela, porque em Mulder, não foi o suficiente para chegarmos a muitas respostas.

DR. STRUGHOLD: - É, mas os genes dessa criança originaram a vacina contra o óleo negro! Mulder sem querer colocou a filha em risco quando resolveu salvar a humanidade da contaminação. Que outros parasitas e doenças essa menina tem a cura em seus genes?

ROCKFELL: - Que arma de guerra um exército com genes assim... Imaginem anjos num campo de combate? Invencíveis!

Coin acende outro cigarro, calmamente.

DR. STRUGHOLD: - Se pegarmos Mulder, pegamos a filha dele. Essa é a utilidade para nós e para as minhas pesquisas sobre regeneração de membros e criação de órgãos. Eu quero aquela menina. Ela vai ser útil e acelerar com seus genes o processo todo! Essa raça se regenera. Posso criar órgãos e membros com os genes dela, que não serão rejeitados, entendem?

ROBINSON: - Ah! Agora comecei a entender o jogo. Tudo é para chegar até a menina!

THE GOLD COIN: - Continuo não vendo vantagem. Não sabemos a porcentagem genética de "anjo" nessa criança. Não quero arriscar sem garantias.

DR. STRUGHOLD: - Lhe dou garantias científicas, senhor Alberthi. Se Mulder tem algo de alienígena, sua filha tem mais. Embora não saibamos a porcentagem, podemos dizer que seria bem maior cruzando genes entre pai e filha. Uma mulher nasce com todos os óvulos que vai usar ou não durante a vida. No caso dela, aposto que pode regenerar até mesmo seus óvulos retirados, nos mantendo sempre abastecidos. Preciso apenas ter acesso a eles.

THE GOLD COIN: - E está disposto a fazer isso? Vamos pegar os dois?

DR. STRUGHOLD: - Não. Apenas a menina nos interessa. Ainda temos material da abdução de Mulder. Podemos inseminar nos óvulos, criar várias experiências em úteros humanos, implantando os fetos em abduções. Até ela ter idade para procriar e gerar um, que provavelmente será o melhor de todos e virá a ser outra matriz. Eu terei minhas experiências e vocês, soldados para uma guerra. E todos nós lucraremos com avanços em transplantes e regeneração de membros. O custo pode ser alto, mas os ganhos são infinitamente maiores. E temos um limite entre gerações para fazermos isso ou teremos problemas genéticos, ou talvez... Soluções impensadas que surgirão de anomalias.

THE GOLD COIN: - Se querem Mulder, não peguem a mulher, peguem o homem dele. Deixem Mulder sozinho. Ele está num ponto da vida que desistirá apenas para não colocar Scully nisto. E sozinho, Mulder não é nada. Apenas um inseto batendo com a cabeça numa lâmpada. Hora de quebrar a lâmpada, antes que dê mais luz ao Mulder sobre quem somos e o que planejamos. Alex Krycek sabe demais. Nisso concordamos. E está agitando o Mulder a descobrir mais verdades que não convém.

DR. STRUGHOLD: - E Mulder voltou a ser preocupação. Virou escritor e passou a revelar verdades que viu na vida. Ele agora é mais perigoso do que quando era um simples agente do FBI. Não tem mais freios. Está por conta falando o que quer e para quem quiser ouvir. E Alex Krycek ao lado dele só alimenta mais o monstro.

ROBINSON: - Puxaremos o freio tirando o combustível russo dele. Podemos tentar Barbara Wallace, mas não vamos ficar colocando esperanças nisto. Acidentes com policiais ocorrem todos os dias. Um assalto. Criminosos atirando... Problema eliminado. E Mulder fragilizado e sozinho. Fim de jogo. E ainda pegamos a menina.

ROCKFELL: - O que acha, Alberthi? Vai conosco defender isso diante da Ordem?

THE GOLD COIN: - Vocês têm meu voto e meu amém diante da Ordem. Acabem com a dupla. Matem Alex Krycek, ferrem com o Mulder e tomem a menina.


Edifício West End – Georgetown – Washington D.C. – 11:42 PM

Na sala de estar, no balcão do bar, Coin acende um cigarro e depois serve uma bebida. Leviathan caminha de um lado para outro, bem irritado e agressivo.

LEVIATHAN: - Eles querem nossos genes? Sabe o que isso significa? Dane-se o Tirano de Sião que teve a ideia idiota de criar essa menina! Eu não quero lutar contra macacos de igual pra igual! Eu quero ferrar com eles porque sou superior e posso!

Coin afrouxa a gravata e abre o botão da gola da camisa social.

THE GOLD COIN: - Nossos genes não. Eles não sabem quem somos, nem suspeitam do Alberthi. Querem os genes da coisa filha do Mulder. Aquela coisinha que nem sabemos até aonde pertence a nossa família. Logicamente permiti e aticei para não levantar suspeitas. Precisamos da Ordem para tomar o mundo. E quando eles tomarem o mundo, vamos tirar o doce da boca deles.

LEVIATHAN: - Lúcifer, você não vai permitir que essa macacada... Você é um general, não pode ferir o nosso código...

THE GOLD COIN: - Que se matem, Almirante! Eu não ligo para nenhum deles! Estou bancando o anjo da guarda pra cima daquela criança e isso não é algo que eu gosto. Eu não faço ideia do que ela seja, mas por via das dúvidas, melhor proteger nossa genética ou farão um segundo inferno e não admito concorrência! Esse planeta é nosso, caímos aqui e temos direitos! Eles são a escória, os vermes que vamos dominar até a extinção que virá pelas próprias mãos deles. Não queriam conhecimento? Esse é o preço!

Coin irritado senta-se na poltrona e cruza as pernas. Toma um gole de uísque.

THE GOLD COIN: - (ÓDIO) Por bem menos do que isso fomos expulsos de Sião. O preço do conhecimento que exigimos foi alto demais.

LEVIATHAN: - E a macacada pensa que daremos de graça? Nem o Deus deles dá nada de graça, nem para os soldados dele! Eu não duvido que o rei Tirano de Sião deve ter criado essa coisa só pra nos dar dor de cabeça!

THE GOLD COIN: - E que outro intento teria? Não nos basta o inferno de viver exilados nesse planeta com uma raça inferior, uma criação imbecil... Nos castiga a cada dia por um pingo de conhecimento que era direito meu adquirido! Não, mas ele não lembra quando vivia sozinho naquele planeta e resolveu me criar. Não... Ele jogou fora a sua primeira criação! Acha que terei piedade dessas criações posteriores e inferiores? Macacos mutados. Tenho nojo dessa macacada! Eu os odeio com todas as minhas forças!

Leviathan vai até o barzinho e procura algo no frigobar.

LEVIATHAN: - Por mim já tinha matado todos... E podemos fazer isso.

THE GOLD COIN: - Tem cerveja alemã. É podemos acabar com toda a raça humana agora mesmo, basta eu dar a ordem. E aí Sião manda Miguel acabar com a gente!

Leviathan pega uma cerveja e abre.

LEVIATHAN: - Calma, General. Diminuiu a ajuda dos nossos aliados nos trazendo minérios de fora, porque aumentou a esquadra de vigilância de Miguel ao redor da Terra e das raças aliadas deles. Mesmo assim nossos cientistas vão conseguir criar armas como tínhamos em Sião. E com elas, vamos matar nossos irmãos traidores da causa e quem estiver com eles. Eu quero a cabeça do Gabriel. O "Grilo Falante" é meu. E quero o rei traíra daqueles azulzinhos! Vou cortar cada um dos quatro braços dele! Estou praticando a cada vez que vejo estátuas hinduístas!

Leviathan bebe a cerveja.

THE GOLD COIN: - E quem vai roubar Ourino se só existe esse minério em Sião? Nem consta na tabela periódica de todas as outras raças, imagina na dos humanos? E a tecnologia da espada? Ahn? Não temos uma para fazer a engenharia reversa e descobrir como o sistema funciona. Eu nunca confiaria nos Greys pra fazerem isso, Belial já disse que continuam nos traindo. Eles também querem nossa tecnologia, não se engane. Os cinzas não são confiáveis, eles dizem estarem ao nosso lado, nos ajudam e permitimos sua pesquisa da espécie humana, mas sabe que existem limites que eles algumas vezes extrapolam e ainda mentem que não são aliados dos governos humanos. Não acredite que é só para a nossa segurança. Ninguém é confiável no multiverso. Só podemos confiar em nós mesmos.

Leviathan tira do bolso da camisa um envelope de suco de abacaxi em pó. Abre o envelope.

LEVIATHAN: - Bom, você sabe melhor que qualquer um sobre isso, já que além de general era relações públicas de Sião, estabelecendo regras de convivência e alianças... Bem, voltando ao assunto da menina Mulder. E o Tirano? Acha que estão vigiando a criança? Gabriel, Miguel, Rafael ou Uriel?

THE GOLD COIN: - Aquelas Tartarugas Ninjas nunca foram confiáveis, dormem na vigília! Nosso problema com eles vai esperar, agora temos essa merda pra resolver...

Leviathan faz fileiras com o suco em pó sobre o balcão. Depois enrola uma nota de dólar.

THE GOLD COIN: - (INCRÉDULO) Você está se drogando na minha casa?

LEVIATHAN: - Qual o problema, "Mr. Alberthi"? Se a polícia bater é suco de abacaxi!

THE GOLD COIN: - Isso deixa qualquer anjo louco e alucinado e não precisamos de anjos loucos e alucinados nesse momento. O que tem nessa merda que afeta o juízo de vocês? Ou melhor, quem foi que descobriu que cheirando esse negócio, e exatamente desse sabor, poderia ficar doidão?

LEVIATHAN: - Azazyel. E foi acidental.

THE GOLD COIN: - Ahn... Tinha que ser!

LEVIATHAN: - Ah, Lúcifer! O que mais temos nesse lugar é tempo pra descobrir coisas, e tem a ver com o que colocam nessa merda, sabor artificial, corante, estabilizante, sei lá, química não é a minha praia. Já que drogas comuns não surtem efeito na gente... Ou surtem efeito contrário. Você fuma tabaco para não sentir sono. Eu cheiro suco de abacaxi pra ficar doidão. Deveria experimentar.

THE GOLD COIN: - Vocês podem ficar doidões, mas eu sou um general, eu preciso cuidar das necessidades dos meus soldados e estar alerta o tempo todo contra nossos inimigos... Não posso me dar ao luxo de cheirar suco artificial de abacaxi em pó e muito menos de fechar os olhos. Não durmo há décadas. A última vez que tentei cochilar acordei com Azazyel do meu lado e ele não é dos nossos! Aquele Tom Cruise dos pobres, outro que você não deveria dar assunto porque ele não caiu conosco. A causa dele não é a nossa, a causa dele é a de Samyaza, aquele Antonio Banderas metido a charmosão das Arábias, outro traidor que eu mesmo vou matar quando tiver a chance e uma espada de Sião na mão. Portanto, pare de amizade com Azazyel, porque ele nos entregaria pra Sião em troca de perdão divino aos duzentos da segunda queda.

Leviathan senta-se no sofá e toma um gole de cerveja.

THE GOLD COIN: - A Ordem vai acabar com os que estão no Sindicato. O Dr. Strughold Júnior já revelou que todos não são as pessoas que eram, incluindo o pai dele. Eles pensam que são alienígenas invasores de corpos ou clones alienígenas. Nem desconfiam que são anjos.

Leviathan solta uma gargalhada.

THE GOLD COIN: - Diga a eles para voltarem a sua aparência normal e nunca mais voltarem para a vida dos que eles substituíram. Os idiotas vão ficar procurando por fotos e nunca acharão os supostos invasores de corpos ou clones. E nem o corpo verdadeiro dos envolvidos, já que sumimos com os cadáveres que Alex Krycek deixou.

LEVIATHAN: - Patético... Nós podemos enganar o cérebro deles para nos verem como quisermos. Eu acho que você acertou em usar a forma do Richard Gere, ele é um sujeito que transmite confiança... Os humanos complicam tudo, buscam explicações absurdas quando tudo é simples! Como a coisa das pirâmides... Adoro quando eles dizem "foi coisa de aliens, espaçonaves erguiam os blocos"...

Leviathan se revira de rir. Coin dá um sorriso.

THE GOLD COIN: - O que eu quero de você é que reúna os nossos, Almirante. Belial já está fazendo a parte dele e a minha ordem para você é proteja nossos interesses, mesmo que isso signifique desviar uma bala da cabeça daquele rato russo ou daquela raposa idiota. Quero o inferno inteiro na volta daqueles dois e da família deles. E logicamente... Toda proteção das trevas tem um preço. Não vamos fazer de graça. Vamos oferecer em troca de almas. Eles não sabem que aceitando ou não um pacto, nosso interesse está em protegê-los por causa de Victoria e da nossa genética que possivelmente existe nela. Matamos dois coelhos sem cajadada alguma.

LEVIATHAN: - (RINDO) Lúcifer, você sempre foi foda! Não tem pra ninguém com você, General.

THE GOLD COIN: - Estratégia, meu querido irmão. Toda a guerra não é vencida com embates corpo a corpo, mas na estratégia. E nisso, eles nunca me vencerão. Eu sou mais velho que este mundo. Eu ofereci a maçã. Agora comam nas minhas mãos, até que eu os esmague sem piedade, porque o amor não é mais comigo. Culpem Deus por isso. Ele começou essa merda toda quando me disse não e me chutou feito cachorro sarnento pra esse planeta fedido. Então vamos tomar a cadeia para nós! Não há espaço para duas raças aqui. E para o infortúnio deles, a nossa raça é superior. Enquanto eles ficam olhando para os céus buscando alienígenas acinzentados... Nós já estamos aqui desde que o mundo é mundo. E somos mais bonitos. E fomos do exército do criador. Não há chances. Eles querem tentar fazer anjos, sabem da nossa superioridade. E nunca permitiremos isso.

O celular de Coin toca. Coin pede silêncio com o indicador sobre os lábios. Atende.

THE GOLD COIN: - (AO CELULAR) De todas as pessoas nesse mundo, você é o último que eu imaginei que me ligaria.

Corta para uma cabana.

O Canceroso sentado numa poltrona, fumando um cigarro.

CANCEROSO: - (AO CELULAR) Já deve estar por dentro do assunto de que o filho de Strughold sabe que seu pai está morto e o Sindicato comprometido... (SORRI) Não se preocupe, Mr. Alberthi. Seu segredo está guardado comigo, eu não contei a ele toda a verdade, nem mencionei que somente cadáveres saíram daquela sala, mortos por Alex Krycek. Fui o único poupado, porque matar outro pai do Mulder deixaria o Rato com mais remorso...

THE GOLD COIN: - (AO CELULAR/ DEBOCHADO) Eu sempre disse que Krycek matou o pai errado. Ops, Krycek não. Você mandou apertar o gatilho na cabeça do seu melhor amigo, afinal de contas, o amigo era seu, não do Rato. Quem tem a culpa verdadeira, hum? Ah! Adoro essa falta de lealdade humana!

CANCEROSO: - (AO CELULAR) O filho de Strughold não sabe quem vocês são e que você está no meio disso, anjo da asa quebrada. Culpou os Greys?

A tela se divide entre Coin e o Canceroso.

THE GOLD COIN: - (AO CELULAR/ DEBOCHADO) O que quer em troca do segredo, Spender? Vida eterna? Um lugar mais refrescante no inferno? Ou clemência para a sua neta?

CANCEROSO: - (AO CELULAR) Você me deve um favor, encare assim. Um dia vou cobrar.

THE GOLD COIN: - (AO CELULAR) Eu não devo favores, eu os cobro. Jamais se esqueça de quem eu sou. Negociar comigo é um caminho sem retorno. Se eu me sentir ameaçado, amanhã você não abrirá seus olhos, Spender. Portanto, se quer respirar, mantenha sua boca no cigarro.

CANCEROSO: - (AO CELULAR/ SORRI) Trato feito, Mr. Alberthi. Eu cobrarei.

Os dois desligam ao mesmo tempo. Coin franze o cenho. O Canceroso leva o cigarro à boca.



BLOCO 2:


O resto é vida

Residência dos Krycek - 11:43 PM

Krycek desfaz a cama. Barbara sai do banheiro, numa camiseta, limpando os olhos e disfarçando, mas está abatida.

BARBARA: - Você não ficou chateado por ter tomado banho sozinho?

KRYCEK: - Não, você estava ao celular. Trabalho?

BARBARA: - Dimi dormiu?

KRYCEK: - O sono dos anjos... (SORRI) Você me deu um filho maravilhoso. Sorte demais eu tenho na vida.

BARBARA: - Eu que o diga, Alex... Algumas casam com o príncipe e depois ele vira sapo. Eu casei com o sapo e ele virou um príncipe.

KRYCEK: - Eu não virei príncipe. Continuo um sapo. Você me vê como um príncipe por causa desse seu coração apaixonado. A única certeza é que você é uma princesa. Vamos pra cama?

Krycek se deita na cama. Ergue o edredom. Barbara se deita de costas pra ele, Krycek a cobre e ela se aconchega contra ele. Krycek apoia o braço no travesseiro e a cabeça na mão. Com o braço esquerdo, envolve Barbara.

BARBARA: - Princesa... Que tipo de princesa eu seria, Ratoncito? Aquela estabanada sempre atrasada e que perde o sapatinho de cristal?

KRYCEK: - Você é a Pocahontas. Beleza exótica, extravagante e maluquinha.

Ela se aninha mais contra ele e fecha os olhos, num sorriso. Krycek beija o rosto dela e a envolve nos braços.

KRYCEK: - Tá quentinha?

BARBARA: - Agora tô, adoro seu abraço. E acho que desisti do nosso plano pra hoje.

KRYCEK: - Sem problemas, quando estiver preparada a gente tenta.

BARBARA: - ... Eu tô preparada, mas não tô no clima. E eu quero ter o que contar pro nosso filho sobre como ele nasceu e o quanto a gente desejava isso.

KRYCEK: - (SORRI) Curiosidade de bastidores?

BARBARA: - Acha que será outro menino?

KRYCEK: - Como vou saber?

BARBARA: - O pai é quem define o sexo.

KRYCEK: - Ah sim, concordo, mas pensei que isso era uma loteria. Quer dizer que basta mentalizar e sai o que decidirmos?

Barbara solta uma risada.

KRYCEK: - Ei, não, esse espermatozoide não, tem que ser aquele... Malyshka, você é doida, sabia? Eu não ligo se for menino ou menina. O que eu sei é que aquele carinha dormindo no outro quarto me trouxe um senso de responsabilidade que eu nunca pensei que teria. Não tem dia triste com ele. Não tem maldade no mundo. E não é bom ele ser sozinho. Filho único é muito triste, você tem irmãos, sabe que é mais divertido.

Barbara sorri. Krycek recosta a cabeça na nuca de Barbara.

KRYCEK: - Hoje eu me reconheço. Vejo o menino que eu era, o jovem que deveria ter sido, o adulto que poderia ser, mas respeito o velho que estou me tornando. Ele sobreviveu ao pesadelo para chegar a um sonho que nunca pensou sonhar. Encontrou uma sonhadora e resolveram sonhar juntos. É um sonho tão bom que espero que o dia em que eu tiver que partir, que eu possa morrer dentro dele. Não com uma bala na cabeça ou um tiro nas costas. Mas de velhice e feliz.

Barbara derruba lágrimas.

BARBARA: - Sabe que amo você. Amo nosso mundinho, as nossas coisas, a nossa vida, tudo o que criamos juntos, o nosso Ratinho. E o nosso cachorro!

KRYCEK: - Quem magoou a minha Pocahontas? Eu sei que ficou triste depois daquele telefonema.

BARBARA: - Nada... Só me abraça? Hum? Tô tristinha.

KRYCEK: - Percebi que ficou tristinha. Não quer falar sobre isso?

BARBARA: - Não.

Barbara se vira pra ele.

BARBARA: - Esquece o que eu disse. Faz amor comigo, faz?

KRYCEK: - Com você chorando desse jeito?

Ela seca as lágrimas e sorri. Ele sorri e a abraça. Barbara olha pra ele e o chama num beijo, o guiando pra cima dela.


Residência dos Mulder - 11:56 PM

Scully sentada na cama, de óculos, com o notebook aberto. Mulder entra no quarto com champanhe e duas taças, usando apenas as calças do pijama e fecha a porta com o pé. Scully desce os óculos num sorriso.

SCULLY: - Vamos comemorar, escritor? É isso?

MULDER: - É, vamos comemorar.

Scully fecha o notebook e coloca no criado mudo. Tira os óculos. Mulder senta-se na cama e entrega uma taça pra ela. Abre o champanhe. A rolha voa contra a porta fazendo barulho. Os dois se entreolham. Ficam quietinhos. Aguardam em silêncio, mas nada escutam.

SCULLY: - Acho que estão dormindo mesmo.

Mulder serve as taças.

MULDER: - Um brinde ao nosso livro. Acho que agora teremos mais que dois fãs.

SCULLY: - Eu só assessorei. O trabalho foi todo seu.

Os dois brindam.

SCULLY: - A Fox Mulder, um brilhante escritor e a seu livro Girassol & Canela.

MULDER: - A senhora Mulder por fazer parte da minha história.

Os dois trocam um beijo. Bebem. Mulder se arrasta pra cima dela e coloca o copo no criado mudo. Aproxima o rosto de Scully.

MULDER: - Posso fazer uma pergunta íntima, senhora Mulder?

SCULLY: - (SORRI) Hum... Depende.

MULDER: - Já transou com um escritor?

SCULLY: - Nunca. Tem diferença?

MULDER: - Tem. Escritores são bem mais criativos e rebeldes que agentes do FBI...

Mulder se enfia embaixo do lençol e Scully tenta não rir alto.


Residência dos Krycek - 1:23 AM

Barbara de costas pra Krycek, sem conseguir dormir, com os olhos cheios de lágrimas. Ele dorme abraçado e com a perna sobre ela. Barbara tenta se levantar, tirando o braço dele. Krycek acorda.

KRYCEK: - O que foi?

BARBARA: - Nada. Vou ao banheiro.

Ela se levanta e vai para o banheiro. Krycek a observa desconfiado.


Residência dos Mulder - 1:25 AM

Mulder atirado no tapete do quarto, rindo sozinho e a garrafa de champanhe vazia. Scully enrolada num lençol, deitada de lado, olhando pra ele e rindo junto.

MULDER: - Lembra disso? E depois você ficou rindo da minha cara na frente do Skinner.

SCULLY: - Claro que eu lembro! Nossa, Mulder, parece que essas coisas aconteceram ontem...

MULDER: - Parece né? Tudo passa tão rápido...

Scully brinca com os dedos no peito dele.

SCULLY: - Como chegamos aqui, Mulder?

MULDER: - (DEBOCHADO) Tá falando do tapete? Uma garrafa de bebida e você já está sem memória, Scully?

SCULLY: - (RINDO) Não! Estou falando de nós dois juntos. Não tinha nada pra dar certo, Mulder. E quando olho pra trás, eu acho tanta graça da gente que tenho ataques de riso, sabia? Colega.

Os dois riem.

MULDER: - Parceira... Ainda bem que foi cair no meu porão.

SCULLY: - É, aquele porão rendeu histórias!

MULDER: - Mais um champanhe, hum? Amanhã é sábado, Victoria não acorda cedo, sem escola...

SCULLY: - Mulder, você quer me deixar bêbada? Hum? Sabe que bêbada eu me transformo...

MULDER: - Que mal tem, Scully? Hum? Quer virar Dana?

Ela começa a rir. Mulder se levanta e sai silenciosamente do quarto. Scully deita-se com as costas no tapete, num sorriso, brilho nos olhos.


Residência dos Krycek - 1:56 AM

Barbara sai do banheiro, rosto lavado. Disfarça e caminha cabisbaixa até a cama. Se deita. Krycek olha pra ela desconfiado.

KRYCEK: - O que está acontecendo? Você está chateada.

BARBARA: - Nada. Vou dormir e esquecer.

KRYCEK: - Não vai, porque trouxe isso pra cama, portanto é coisa séria. Divide comigo. A gente sempre divide tudo, até seu pãozinho com manteiga.

BARBARA: - Se eu contar você vai ficar bravo. E Alex Krycek bravo vai arrumar confusão. E se arrumar confusão... Eu sei do que você é capaz. Certas coisas não mudam, Alex. Está aí dentro de você. É a sua defesa, seu jeito de lidar com as coisas. E isso pode me fazer perder você.

Krycek senta-se na cama, agora sério e com cara de bravo.

KRYCEK: - Acha que vou matar ou ferrar alguém, é isso? E que posso terminar morto.

BARBARA: - Acho. E sabe o que penso sobre sua antiga vida de mercenário.

KRYCEK: - Então é mais sério do que eu pensava. Pode desentalar da garganta, Malyshka. Você não me engana. Pode desembuchar.

Barbara senta-se na cama.

BARBARA: - Promete que vai apenas me escutar e não vai sair por aí atirando nas pessoas!!!

KRYCEK: - Depende das pessoas. Não posso prometer nada.

BARBARA: - Alex!

KRYCEK: - Barbara, eu prometo ouvir e podemos discutir a situação, mas dependendo do problema... Se tiver que usar medidas extremas...

BARBARA: - Por isso não gosto de contar as coisas pra você!

KRYCEK: - Não conta. Eu descubro. Quer ver? Pego agora o seu celular e descubro quem aborreceu você. Amanhã faço uma visitinha nada amigável, com minha arma dentro da jaqueta. Ameaço. Isso eu prometo. E caso torne a acontecer... Prometo que volto e atiro na nuca.

BARBARA: - Rockfell quer me ver.

Krycek olha incrédulo.

BARBARA: - Quer jantar comigo, diz que tem uma proposta...

KRYCEK: - E você vai?

BARBARA: - E por que eu iria? Ahn? Ele não me entregou ao Strughold daquela vez? Se não fosse você e o Mulder, eu teria morrido e você quase morreu por isso! Depois mandaram aqueles pistoleiros nos matar e tomar Victoria. Uma pessoa que faz uma coisa dessas não tem nome! E não precisa ser gênio pra saber que tem coisa aí.

KRYCEK: - Marca o jantar.

Barbara olha incrédula.

KRYCEK: - Mas quem irá sou eu.

BARBARA: - Ele só vai mentir! Nunca vai dizer algo que você queira ouvir! Não mesmo, Ratoncito! E se for uma cilada? Ahn? Então eu vou!

KRYCEK: - Só não vai dormir com ele pra arrancar confidências, porque aí já é azar demais pro meu lado! De novo não! Outra Marita e eu não aguento!

BARBARA: - Eu não sou a sua ex, aquela loura vagabunda! Eu sei como tirar informação sem abrir as minhas pernas! Eu odeio aquele desgraçado por tudo o que ele me fez! Ele teve meu coração e jogou fora. Acha que mudei de ideia? Acha que me importo com aquele asqueroso? É isso o que acha, Alex?

KRYCEK: - O que acho é que ele é baixo e vil demais como todos os caras metidos em conspirações e pode até mesmo tentar dopar você e até sequestrar você, só pra me atingir, como faziam com o Mulder e a Scully e eu sou testemunha viva disso porque trabalhei pra eles. Eu conheço essa gente podre, Malyshka, eles planejam, executam e ainda fazem você se tornar de vítima a culpada em questão de segundos. Se a Ordem está se movendo, é sinal que o Sindicato vai se mover. E sabemos quem eles querem. Então eu vou. E levarei Mulder escondido. Isso deixa você mais calma?

BARBARA: - Nada que envolva aquela gente me deixa mais calma. Então vamos falar com Scully e Mulder, depois decidiremos o que fazer. E meu voto é esquecer e ninguém ir.

KRYCEK: - O meu voto é Mulder e eu resolvermos essa merda toda e manter vocês e as crianças a salvo. Esse é o meu voto machista, de marido, pai e homem. E duvido que Mulder não vai concordar comigo. Isso é coisa pra homem resolver, não pra vocês. E pode deixar que eu falo com o Mulder.

BARBARA: - Certo, vão fazer trilha sozinhos nesse final de semana novamente? Beber, jogar conversa fora e contar piadas sujas? Olha pra minha cara se acredito nisso, Ratoncito! Tanto a Scully quanto eu sabemos que vocês dois estão se armando e planejando coisas sem o nosso conhecimento! Por isso andam feito duas comadres grudadas de cochichos pelos cantos e deixando a Nancy com mais minhoca na cabeça!

KRYCEK: - Não, Barbara. Nancy tem razão. A verdade é que Mulder e eu... (SEGURA O RISO) Nós dois temos um caso de longa data, somos bissexuais e mentimos pra vocês que vamos fazer trilha...

BARBARA: - Antes fosse tesão mesmo, seria bem menos preocupante!

Krycek arregala os olhos, olhando incrédulo pra ela.

BARBARA: - E agora que você soltou uma piada gay dessas, o que não é do seu feitio, e ainda pra servir de desculpa, eu fiquei mais preocupada ainda! A coisa é bem pior do que Scully e eu imaginávamos. E vocês vão abrir a boca, pode ter certeza. Greve de sexo pra você. E amanhã, depois que eu falar com a Scully, Mulder é quem vai fazer jejum na marra também!

KRYCEK: - Mas você não quer outro filho?

BARBARA: - O filho espera e não toca em mim! Você está de castigo até me contar essa história toda direito!

Barbara vira-se de costas pra ele. Krycek se deita de costas pra ela, num beiço.

BARBARA: - Não sei porque ficou aborrecido com a greve de sexo, afinal você e Mulder não são amantes? Não se encontram às escondidas pra transar? Não vão sentir falta. Se revezem, vai ser mais divertido!

KRYCEK: - Deus me livre do seu mau humor, Malyshka! E livre o meu rabo também!


Residência dos Mulder - 2:14 AM

No tapete do quarto, Scully rindo, já bêbada. Duas garrafas no chão e Mulder vem tropicando pelo quarto, já tonto, com a terceira garrafa.

MULDER: - Acho que estamos ficando fracos pra bebida.

Mulder vai sentar no tapete, mas erra a altura e vai com tudo, soltando um gemido. Scully começa a rir.

MULDER: - Au, quebrei minha bunda!

SCULLY: - Hum... Machucou sua bundinha, hum? Deixa a doutorazinha ver...

MULDER: - Deixa minha bunda em paz, Scully!

SCULLY: - Eu tenho que zelar pela minha propriedadezinha, Mulderzinho...

MULDER: - Ih!!! Diminutivos? Ferrou!!! Scully, você tá bêbada!!!

SCULLY: - Eu? Você tá bêbado! Eu nadinha, me dá essa garrafinha!

Scully pega a garrafa de Mulder e toma um gole. Olha perversa pra Mulder e passa a língua no gargalo da garrafa. Mulder faz cara de empolgado.

MULDER: - Uh!

Scully sorri sacana.

MULDER: - Eu acho que você tá bêbada, Scully... Me dá essa garrafa aqui!

Mulder toma um gole, Scully olha empolgada.

SCULLY: - Duvido você fazer.

MULDER: - Sua pervertida. Aposta o quê?

SCULLY: - (SACANA) Hum... Aquela coisinha que a gente faz com moranguinhos e chantilly que você adora.

MULDER: - (EMPOLGADO) Sério?

Scully morde os lábios e afirma com a cabeça. Mulder olha sacana pra ela. Então passa a língua no gargalo da garrafa, abocanha e bebe. Scully ergue as sobrancelhas, empolgada.

MULDER: - Agora vou buscar os morangos e o chantilly, você perdeu a aposta, Madonna.

Scully começa a rir. Mulder tenta se levantar, mas cai no tapete.

SCULLY: - Esquece os moranguinhos, Mulderzinho... Eu faço sem moranguinhos, mas você entra com o chantilly...

MULDER: - Uh!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Sério, Dana?

SCULLY: - Sério, Fox...

MULDER: - Tem certeza, Dana?

SCULLY: - Claro, Fox.

MULDER: - Dana...

SCULLY: - Fox...

MULDER: - Quem é essa gente?

Os dois começam a rir.


West Virgínia - Proximidades da Interestadual 90 - 9:23 AM

Mulder para o trailer 4x4 em frente ao penhasco. Só montanhas e florestas. Mulder está sério. Pega o celular e desliga. Joga no painel e liga o CD.

[Som: Adrian Gurvitz - Classic]

Mulder suspira. Krycek no carona, de jaqueta, com o braço apoiado na janela, olhar perdido na paisagem à frente. Os dois em silêncio. Mulder se levanta e vai pra trás do trailer. Krycek brinca com os dedos na janela. Mulder volta com duas cervejas e entrega uma pra Krycek. Senta-se e toma um gole. Depois recosta-se no banco e fecha os olhos. Krycek morde o polegar, pensamento longe, olhando pra paisagem.

MULDER: - ... Tá tudo errado, sabia?

KRYCEK: - ... É...

MULDER: - As duas fizeram o maior barraco. Greve de sexo? É isso o que eu mereço?

KRYCEK: - Nós merecemos.

MULDER: - ... As mulheres não entendem certas coisas. Não adianta você explicar, sempre vai ser machista aos olhos delas o fato de um homem querer proteger seu ninho. Não é assim na natureza? Não compete aos machos protegerem a família? Se não fizermos isso o que nos resta? Além de sustentar e proteger, acabou a utilidade do homem!

KRYCEK: - Concordo com você, Mulder. Acha que ligo pra greve de sexo? Eu que vou fazer greve de sexo! Em três dias aquela cubana rebelde enlouquece!

MULDER: - Nunca testei a teimosia da Scully, mas aposto que se aguenta por meses.

KRYCEK: - As duas estão desconfiadas.

MULDER: - ... Qual desculpa você deu?

KRYCEK: - Nós dois temos um caso.

MULDER: - Ah, você entregou o jogo? Rato, eu não pedi pra você esconder isso? Vai sair falando pra todo mundo? Azar o seu, você tem mais a perder do que eu que não ligo para o que os outros pensam.

KRYCEK: - Então, vamos fugir juntos? Eu arrumo um emprego de músico num barzinho e você fica em casa escrevendo.

MULDER: - É... Toalhas molhadas na cama, roupas sujas acumulando e a tampa do vaso levantada todos os dias... Não. Com você não daria certo, você é mais chato que a minha mulher!

KRYCEK: - E você? Que desculpa deu?

MULDER: - Viemos pescar.

KRYCEK: - Isso sim foi mais boiola! Completamente boiola porque nem vara de pescar nós trouxemos!

MULDER: - Não veio outra coisa na cabeça. Eu não gosto de ocultar as coisas da Scully.

KRYCEK: - E eu não tô é gostando de estar sozinho com você nesse carro e com essa trilha sonora de motel. Saio correndo agora?

MULDER: - Nem me liguei na música! É que música romântica me deixa calmo.

Mulder desliga o CD.

MULDER: - Tomei um porre ontem e fiquei tão bêbado que fiz sexo oral com uma garrafa.

KRYCEK: - Agora mesmo é que eu vou saltar pra fora desse carro! Eu sempre disse que você tem sérios problemas sexuais pra resolver!

Os dois começam a rir.

KRYCEK: - Tá Mulder, chega de palhaçada. Estou tão aborrecido quanto você.

MULDER: - (DEBOCHADO) A proposta pra fugir comigo ainda está de pé.

KRYCEK: - Lamento, você é mais bagunceiro que a minha mulher.

Krycek tira um papel do bolso. Entrega pra Mulder.

KRYCEK: - O endereço do restaurante e o horário. Minha vontade é deixar você ir jantar com ele e ficar esperando do lado de fora com um rifle de precisão. Um tiro na cabeça daquele idiota do Rockfell e problema resolvido.

MULDER: - Fala sério, Rato. Você também tem gana do cara porque é o ex-namorado da sua mulher. O ciúme só aumenta o pacote.

KRYCEK: - Não é ciúme, Mulder. Depois de tudo o que ela me contou sobre as coisas que passou com aquele desgraçado, eu tenho vontade de socar aquele filho da mãe!

MULDER: - Não aprendeu que pra cada um que você matar, outro surgirá no esquema deles?

KRYCEK: - Eu disse que minha vontade é matar, eu não disse que o mataria. Eu não quero mais fazer isso. Não é sobre quebrar uma promessa com a Barbara, porque eu já quebrei uma vez. É sobre o Dimitri. Agora entendo o que você tentava me dizer sobre o quanto a vida muda quando se tem um filho. E minha vida mudou, meu filho é tudo pra mim. O resto que se dane!

MULDER: - Krycek, se matar resolvesse, você jantaria com o cara e eu atiraria nele. Também posso fazer isso.

KRYCEK: - Sei que pode, nunca disse que não poderia. Só digo que não convém sujar suas mãos com sangue. Deixa isso pra mim, é o nosso acordo.

MULDER: - Para de me poupar como se eu fosse o caçula aqui! Você é mais novo do que eu! Era o nosso acordo, mas agora a coisa mudou, você também tem um filho. Eu disse pra você que as coisas mudam. Quando se é apenas dois, você até pode se dar ao luxo de arriscar sua vida, mas quando envolve um filho, isso já é família. Muda tudo. Estamos de igual pra igual agora. Dimi precisa ter um pai, como Victoria e Bryan precisam. E quem defenderá os nossos por nós?

KRYCEK: - Ninguém. Estamos sozinhos.

MULDER: - Exato. Então nós temos que fazer o que tiver que fazer pra defender os nossos. Gostem as baixinhas ou não, isso é dever de homem, é a coisa de honrar as calças.

KRYCEK: - Eu... Eu não sei o que fazer, Mulder. A única coisa que eu tenho certeza absoluta é de que não vou fugir e me esconder feito um rato como eu fazia. O ninho cresceu. E não quero matar mais ninguém. Chega disso. Só se realmente não tiver outro jeito. Como policial pode acontecer, mas não mais como vingança ou justiça.

MULDER: - E a minha única certeza é de que não vou bancar o idiota como eu fazia, arriscando minha vida em nome da verdade... Rato, nós dois amadurecemos na porrada.

KRYCEK: - ... Vamos acampar aqui?

MULDER: - É. E vamos fazer escalada naquela montanha, porque isso me ajuda a pensar e manter a forma física. Scully pensa que é vaidade... Isso nada tem a ver com vaidade, tem a ver com idade pegando e aqueles sacanas mandando caras mais novos atrás da gente. Eu quero continuar dando porrada neles pra defender os meus.

KRYCEK: - Comecei aulas de box... Tive que dar um tempo das aulas de piano. Primeiro o dever, depois a diversão.

MULDER: - E a Barbara concordou?

KRYCEK: - Eu disse que era necessário por causa da polícia. Mulder, até onde estamos indo nessa mentira para proteger as garotas da verdade? Eu que fui um mentiroso já não estou gostando disso! Acho que é a hora de falar pra elas o que sabemos.

MULDER: - Nem eu gosto disso, Rato. Só não quero envolver a Scully porque eu tenho medo de perdê-la. Scully vai alegar que é tão preparada quanto eu, o que é verdade, mas ela é a mãe dos meus filhos, eu não quero que se arrisque, porque se algo acontecer comigo, pelo menos as crianças terão a mãe com elas. E agradeço que você mantém silêncio com a sua mulher sobre isso só por minha causa. Sabe que Barbara entenderia a situação, mas também sabe que ela contaria pra Scully. Você tá nessa mentira só pra me ajudar!

KRYCEK: - Mulder, nós não casamos com mulheres idiotas, ok? Elas não ficam o dia todo fazendo compras, em salão de beleza e contando fofoca e vantagem. Nossas garotas têm cérebro, e a minha tem notícias coladas no nariz o tempo todo e mais cedo ou mais tarde vai ligar os pontos. Você não pode enganar uma mulher que pensa. Não por muito tempo.

MULDER: - Quer saber de uma coisa? Dane-se! Vamos voltar e pensar em como contar a verdade pra elas. Eu admito a minha culpa pra sua mulher e tiro o seu da reta. Eu também não estou mais aguentando viver com isso. Já dei umas dicas pra Scully do que está havendo, mas não sei se ela acredita.

KRYCEK: - É, mas se ela não acreditar o problema é dela. E se você não contar, o problema é seu. Precisamos fazer uma reunião os quatro. Não adianta envolver Skinner e os Pistoleiros nisso. O problema da Ordem somos nós dois.

MULDER: - Na verdade sabemos que o problema mesmo é Victoria. Você não precisava estar passando por isso. Podia sair com sua família do país. Você não me deve nada, Krycek. O passado ficou pra trás. Você já teve sua vingança contra eles. O que faz aqui?

KRYCEK: - Ah sim, e deixar o meu irmão se ferrar sozinho contra esses caras? Não é culpa, Mulder. Não é mais culpa das coisas que fiz contra você. Agora é...

Mulder sorri.

MULDER: - Duas caixas de cervejas que você não fala.

KRYCEK: - ... Duas?

MULDER: - É. Duas. E importada.

KRYCEK: - Isso tá ficando caro.

MULDER: - É...

KRYCEK: - Mulder. Isso... Isso é apego. Isso é... (IRRITADO) Puta merda, Mulder! Eu te amo, cara! É isso o que quer ouvir?

Mulder segura o riso.

MULDER: - Qual cerveja você prefere? Irlandesa ou alemã?

KRYCEK: - Prefiro esganar você por me fazer dizer isso!

MULDER: - Relaxa, Ratoncito, porque a recíproca é verdadeira. Viramos irmãos pelo destino. Nos apegamos emocionalmente, isso acontece. Criamos um vínculo quando percebemos que tínhamos mais coisas em comum do que pensávamos, a mesma idade, os mesmos gostos... Até pra mulheres! E viramos uma família, "tio Tchek". E quem diria que isso poderia acontecer? Hum?

KRYCEK: - Se há uma década atrás alguma vidente lesse o meu futuro e me dissesse que isso iria acontecer, eu ia morrer de rir da cara dela. Ou internaria a criatura num sanatório!

MULDER: - (DEBOCHADO) Essa recíproca também é verdadeira.

Mulder liga o carro. Krycek liga o CD. Mulder olha debochado.

KRYCEK: - Admito, também gosto de música romântica dos anos 80. E me dá essa garrafa aqui antes que você resolva atacá-la. Você tá ficando estranho, mais do que já era!

MULDER: - É, vai que eu ataque a garrafa e você se empolgue?

KRYCEK: - O problema não é eu me empolgar, Mulder. É que você vai se apaixonar e eu já tenho problemas o suficiente, não preciso de você me perseguindo com cara de cachorro abandonado e implorando amor!

MULDER: - É, mas não fui eu quem disse eu te amo.

Os dois começam a rir.

MULDER: - Rato, preciso de ajuda. Minha filha quer uma casa na árvore.

KRYCEK: - E pelo que sei você não sabe fazer nem casa pra cachorro...

MULDER: - Scully fofoqueira...


Residência dos Mulder - 11:32 AM

Barbara e Scully paradas na porta da cozinha, olhando para o quintal.

[Som de marteladas e serra]

SCULLY: - Bom, Alex saber cortar tábuas e pelo menos o Mulder sabe martelar.

BARBARA: - Tá ficando parecida com uma casa na árvore. Pelo menos isso.

SCULLY: - O que deu neles pra cancelarem a pescaria? Vontade de brincar de marceneiros?

BARBARA: - Isso está estranho, Scully. Eu só não fico insistindo na verdade porque você sabe como o Ratoncito fica uma fera. Ele não é o seu marido que faz piadinhas e enrola você discretamente com charme e bom humor. O meu homem fica de cara amarrada, me ignorando a semana inteira e reclamando das coisas fora do lugar só pra não dar espaço pra eu questionar nada. Ô gênio difícil!

SCULLY: - Sei que Krycek tem gênio difícil, mas pelo menos não é teimoso feito mula.

BARBARA: - Claro que é! Quando enfia uma coisa na cabeça nem reza brava resolve!

SCULLY: - Estão criando residências embaixo das nossas casas. Você notou, né?

BARBARA: - Claro que notei! Cada semana tem coisa diferente chegando. Perguntei se ele estava pensando em se mudar para o búnquer, olhou pra mim com uma cara brava e desceu com uma TV de 58 polegadas! O que posso pensar? Devem estar arrumando um lugar pra fugirem das mulheres quando a gente esquenta com eles.

SCULLY: - Sabe o que acho? Quando esses dois envelhecerem, vamos ter que ter muita paciência. Lembra daquele filme com o Walter Matthau e o Jack Lemmon, "Dois Velhos Rabugentos"?

As duas riem.

BARBARA: - Vou olhar nossa lasanha no forno, antes que dê problema...

Barbara veste a luva térmica e abre o forno. Scully volta pra pia e começa a lavar verduras.

SCULLY: - Você vai encontrar com o Rockfell?

BARBARA: - Não. Eu sei que não vale o risco, ele nunca vai dizer nada que eu queira saber. Não quero ser humilhada novamente. E não quero que Alex vá e nem acho seguro o Mulder ir. E como vou impedir?

SCULLY: - Segura o seu rato que eu seguro a minha raposa. Você sabe como sossegar sua fera e eu sei como sossegar a minha. Acho que vou comprar mais champanhe, morangos e chantili.

Barbara fecha o forno e tira a luva.

BARBARA: - Você tem sorte, sabe? Nem assim eu seguro aquele rei da teimosia. O Ratoncito não se deixa enrolar.

SCULLY: - E o Dimi? Hum? Algumas vezes a gente precisa usar a tática dos filhos.

BARBARA: - E funciona?

SCULLY: - Muito. Faz um drama que vai ficar viúva com um filho pequeno que vai crescer sem o pai. Isso vai mexer com ele. Ele perdeu o pai, sabe o que é isso.

BARBARA: - Mas não é um golpe baixo? Usar os medos dele...

SCULLY: - Barbara, não acho que seja golpe baixo. Golpe baixo é o que esses homens estão fazendo pra ferrar nossos maridos. Nossa intenção é os proteger, então vale tudo para segurar os teimosos, entende? Nós é que temos que ter jogo de cintura e apelar pra qualquer coisa que tire essa ideia maluca da cabeça deles.

BARBARA: - Acho que você tem razão, Scully. Prefiro fazer isso a perder o amor da minha vida. Mesmo sendo um cabeça dura... Eu amo aquele teimoso! E se ele morrer? Eu sofrerei e o Dimi também, porque ele é todo daquele pai dele. De certa forma não estou enrolando o Alex, estarei sendo sincera. Quem vai sofrer pra vida toda é o Dimi.

SCULLY: - Exatamente. Tá vendo? Com o tempo você vai descobrindo coisas sobre a pessoa com quem está casada. Sempre vai haver surpresas, pode acreditar. Mas isso faz parte, você vai conhecendo mais e mais seu marido e aprendendo a lidar com ele.

Mulder dá um berro. Scully suspira.

SCULLY: - Precisa ser gênio pra saber que Mulder acertou o dedo com o martelo?

BARBARA: - (RINDO) Não.

SCULLY: - Viu o que eu disse? Com o tempo você conhece o artigo com quem se casou. Agora vou deixar a salada de lado e virar médica... Só aguarda. Um... Dois...

MULDER: - (GRITA) Scullllieeeeeeeeeeeeeeee!!!!!!!!!!

SCULLY: - (RINDO) Eu não disse? Com o tempo, você até profetiza!


2:35 PM

Victoria na casa da árvore. Scully se aproxima com duas almofadas. Olha pra cima.

SCULLY: - Filha, a mamãe vai colocar no elevador, tá? Essa casa vai ficar linda!

Barbara mete a cabeça pra fora da janela da casa da árvore.

BARBARA: - Scully, coloca uma manta também pra gente fazer um sofá.

SCULLY: - Vocês duas vão parar de pedir coisas? Eu quero subir aí também!

VICTORIA: - Tem certeza de que a casa é pra eu brincar ou vocês duas também querem se esconder aqui dentro?

BARBARA: - Ótima ideia, Tory! Sua mãe e eu pagaremos uma diária quando quisermos fugir dos maridos. Hum? Você vai ganhar dinheiro e poderá decorar a casa toda!

VICTORIA: - Vai sobrar dinheiro, pelo jeito vou ficar rica!

As duas olham pra baixo. Barbara faz sinal pra Scully que se vira. Barbara puxa o celular e começa a filmar. Victoria segura o riso.

Krycek dormindo na rede. Mulder se aproxima pé por pé com uma bombinha. Scully ergue os olhos e suspira.

SCULLY: - Definitivamente, Mulder não teve infância.

Mulder acende a bombinha e larga embaixo da rede e sai correndo. Quando a bombinha explode, Krycek dá um pulo, acorda assustado se enroscando na rede e caindo no chão. Risada geral. Krycek sentado no chão, com cara de poucos amigos.

KRYCEK: - Me aguarda, Mulder!!!


3:24 PM

O carro de Mulder no pátio, com as portas e o capô aberto. Mulder com a cara enfiada dentro do capô, o motor ligado, ele checando alguma coisa. Krycek vem agachado, de mansinho. Leva a mão e aperta a buzina do carro.

Mulder toma um susto tão grande que bate a cabeça na tampa do capô. Krycek sai correndo, rindo alto. Mulder pega a mangueira e sai atrás dele.

MULDER: - Vem aqui, Ratinho, Ratinho!!! Vem!!! Tenho uma surpresa pra você!!!


Dois dias depois...

Rua Cedars – Virgínia - 4:17 AM

Krycek sentado na picape. Bishop ao lado dele, brincando com o ratinho de crochê pendurado no retrovisor.

BISHOP: - Sabe de uma coisa? Não deveria usar seu carro quando estamos à paisana. Tem os carros do distrito.

KRYCEK: - Confio mais nessa belezinha de motor potente. A mecânica aqui é garantida. Acha que o cara vai voltar mesmo ou vamos pra delegacia?

BISHOP: - Acho que ele deu no pé.

RADIO (OFF): - Viatura 1-3-5 na escuta?

KRYCEK: - A 1-3-5 não tá no chamado da Dickens?

BISHOP: - Sim. A noite está bem agitada para os policiais. Em compensação para os detetives...

Krycek pega o rádio.

KRYCEK: - (AO RÁDIO) Detetive Krycek na escuta, 1-3-5 em ocorrência. Qual a situação?

RÁDIO (OFF): - Queixa de barulho na república Belle. Festa de estudantes e ninguém consegue dormir por lá, nem os vizinhos.

Bishop começa a rir.

KRYCEK: - (AO RÁDIO) Positivo. O detetive Bishop e eu estamos a caminho.


Belle Residence Hall - Alojamento estudantil - Virginia - 4:34 AM

[Som: Blur - Song 2]

Dentro de um quarto, a festa está bem animada entre seis universitários. Bebidas alcoólicas, música alta, drogas e muita pegação entre casais.

A janela e a porta de vidro fechadas. A fumaça das drogas cria uma neblina no ambiente, que mal se distingue quem é quem. Os jovens se divertem, despreocupados e alheios a tudo. Josh agarrado em Vivian, os dois em um beijo de língua, sentados no chão, perto da janela, ele segurando um baseado. Stephanie dividindo outro baseado com Lauren. As duas riem alto e depois trocam um beijo na boca. Mike em cima de uma das camas dançando e sacudindo a cabeça, enquanto segura a garrafa. Lorna pula na cama, seminua, puxando outro baseado.

Corta para o corredor.

Liz, a nerd dos óculos grossos, que se aproxima pelo corredor, vestida de pijamas. Cara de poucos amigos. Bate na porta do quarto, irritada. Ninguém atende. Bate novamente. Nada. Irritada, abre a porta num supetão. A fumaça vem toda em seu rosto. Liz, consegue ver os seis jovens e então fecha a porta rapidamente e recosta-se na parede, tentando toma ar e pegando a bombinha de asma de dentro do bolso do casaco. Aspira a bombinha.

Agora tentando se acalmar para respirar, ela abre a porta novamente. Observa lá dentro. O sujeito alto e forte no meio da fumaça. Parado com um facão. Liz olha pra ele. Depois para os seis jovens.

LIZ: - Dá pra baixar o volume um pouco?

Eles riem e até atiram almofadas e copos descartáveis nela. O sujeito permanece parado no centro do quarto. Lorna salta da cama e bate a porta na cara de Liz. Ela suspira. Volta pelo corredor.

A porta do elevador se abre. Krycek e Bishop passam por Liz, que olha pra eles. Krycek mascando chicletes e com as mãos nos bolsos da jaqueta. Bishop de sobretudo, terno e gravata. Os dois param na porta do quarto. Liz fica observando. Krycek aproxima o nariz da porta e depois se afasta, com cara de nojo.

KRYCEK: - Eu odeio esse cheiro de estrume queimado.

BISHOP: - Nunca foi jovem e cometeu infrações, parceiro?

KRYCEK: - Eu já fiz muita merda, mas nunca fumei merda. Eu sabia me drogar, empoava o nariz. Isso aí só dá zoeira na cabeça e moleza no corpo.

BISHOP: - Cocaína? Sério? E nunca viciou?

KRYCEK: - Quem não vicia com drogas, Bishop? Fiquei limpo no exército russo. Quando batia a fissura enterrava a cara na neve da Sibéria antes que eles notassem e me atirassem pelado pra fora do alojamento, com direito a banho gelado de balde a 45 graus negativos. Isso recupera qualquer drogado!

Bishop segura o riso e bate à porta. Nenhuma resposta. Olha pra Krycek.

BISHOP: - É, a coisa tá boa aí dentro. A música é legal, mas é uma pena não estarmos na Sibéria.

Krycek puxa o distintivo.

KRYCEK: - Adoro estragar festinhas. Ainda mais quando os vizinhos denunciam o excesso de barulho.

BISHOP: - Espera, "lobo mau". Deixa eu tentar do meu jeito diplomático, batendo na porta dos porquinhos. Se não rolar, você assopra a casa toda.

Bishop bate novamente. Nada. Então começa uma gritaria. Bishop e Krycek se entreolham e já puxam as armas. Krycek mete o pé na porta, arrombando.

Música alta, fumaça e nenhum movimento. Krycek tenta afastar a fumaça do nariz, enquanto mira a arma pelo ambiente. Bishop vai abrir a porta de vidro, mas tropeça em algo. Como nada vê, ele abre a porta de vidro. Aos poucos a fumaça se dissipa revelando os seis jovens mortos a golpes de facão.

Krycek e Bishop se entreolham assustados.

LIZ: - (GRITA) Tem um cara correndo no jardim com um facão!!!!

Krycek e Bishop saem correndo pela porta de vidro.

Corte.


[Som: Blur - Song 2]

Krycek corre pelo jardim, pula uma cerca. Fala ao rádio.

KRYCEK: - (OFEGANTE) Ele está indo para o campus! Vai pela entrada oeste!!!

Krycek segue correndo, quase alcançando Smile: um cara branco, forte, careca e tatuado. Smile olha pra trás e dá um sorriso. Continua correndo com o facão na mão.

Vemos a sombra humana que acompanha Smile, correndo na mesma rapidez que ele.

Krycek, já irritado, acelera mais e se atira em cima das costas de Smile, que rola no gramado, dando uma cotovelada em Krycek e tentando se desvencilhar.

BELIAL (OFF): - No braço esquerdo, acerta no braço esquerdo!

Smile ergue o facão e acerta no braço esquerdo de Krycek, que puxa a arma e mira na cabeça dele. Smile se ajoelha e solta o facão, levando as mãos atrás da cabeça, num sorriso cínico. Krycek vê sua jaqueta cortada e o sangue que sai por ela.

KRYCEK: - (FURIOSO) Perdeu, otário!!! Respira e meto uma bala na porra da sua cabeça!!!!


X-Files Investigations - 7:00 AM

Mulder sai do elevador. Vem pelo corredor, segurando um copo de café e revirando o bolso, procurando as chaves. Se aproxima da porta. Tira as chaves do bolso e vira a placa para "aberto". Abre a porta.

Mulder percebe um envelope pardo no chão. Fica desconfiado. Guarda as chaves no bolso e pega o envelope. Fecha a porta. Passa pela recepção e vai para sua sala. Coloca o café na escrivaninha e se atira na cadeira, reclinando-se. Abre o envelope. Começa a tirar fotos de dentro dele. A primeira é de um muro de pedra com o número 322. O resto são fotos de placas de carro.

Mulder coloca todas as fotos sobre a escrivaninha. Procura algum remetente, mas o envelope não tem nada escrito. Mulder coloca o envelope sobre a mesa e pega as fotos. Olha uma por uma, curioso. Se detém na foto do número.

MULDER: - 322... Se ao menos tivesse o nome da rua...


Delegacia de Polícia - Precinto 11 - Divisão de Homicídios - Virgínia - 7:10 AM

No mural da sala, fotos de procurados. E fotos da jovem loira e bonita, morta e encontrada no parque com um símbolo satânico desenhado na barriga. Numa foto, close do tornozelo dela com a tatuagem de uma rosa. Um bilhete ao pé das fotos: "Rose".

A escrivaninha do falecido detetive Sanders, com a foto dele e um vaso com uma flor. Intocada, como um tributo e recordação do departamento.

Smile está em pé e algemado, olhando para o mural.

SMILE: - Falta o meu rosto lindo ali!

Krycek, furioso, o arrasta para fora da sala. Dois policiais se aproximam.

KRYCEK: - Tratamento "VIP" pra esse.

POLICIAL: - Ah! Temos um VIP! Pode deixar, detetive.

SMILE: - (DEBOCHADO) É, sou bastante importante! (RINDO) Meu advogado vai me tirar daqui! Sou inocente!

Bishop passa por eles, sem paletó, com o coldre por sobre a camisa e o jornal na mão.

BISHOP: - A testemunha chegou pra depor. E o que é VIP? Very Important People?

KRYCEK: - Very Insane Prick!

SMILE: - (GRITA) Fodido é você! Vou te mostrar quem vai levar picada aqui...

Krycek o segura pela gola da camiseta, num olhar insano. O sujeito tira o sorriso do rosto.

KRYCEK: - Reza pra ir pra prisão, Smile. Porque aqui fora, eu vou achar você até no inferno e você não vai sorrir nunca mais por falta de dentes! Joga esse "Jason" imbecil na cela!

SMILE: - Vamos nos ver, detetive! Pode apostar que vamos! Você e o seu amante negro!

Bishop enrola o jornal na mão e acerta com toda a força na nuca de Smile, que chega a ir pra frente. O policial leva Smile, que ri alto. Krycek, irritado, tira a jaqueta e senta-se na cadeira. Olha preocupado para o braço com um corte, o sangue já seco. Cerra os lábios com dor.

BISHOP: - A cena do crime está isolada, eu vou pra lá e você para o hospital. Peço pra testemunha voltar amanhã.

KRYCEK: - (RAIVA) Filho da puta, logo o meu braço esquerdo! Eu não quero hospital. Não foi fundo.

BISHOP: - Não brinca com isso. O facão estava cheio de sangue, você não sabe se aquela garotada não tinha doença contagiosa e nem sabe se isso não vai inflamar ou causar tétano. Vamos para o hospital agora.

KRYCEK: - Chama a testemunha aqui. Você vai pra cena do crime e eu pego o depoimento dela e depois vou pro hospital, ok?

Bishop pega a jaqueta de Krycek.

BISHOP: - Pegamos o depoimento depois. Conheço a sua mulher, se você ficar aí sangrando, ela vai vir até aqui me dar uma surra por não ter levado você para o hospital. Anda! Eu deixo você lá e ligo pra ela. E vou pra cena do crime.

O celular de Krycek toca.

BISHOP: - Rádio patroa? Viu o que eu disse?

Krycek olha o visor.

KRYCEK: - Não, mas igual tem cheiro de encrenca. (ATENDE) Fala, Mulder... Não, por que eu enviaria algo pra você no seu escritório se eu moro na frente da sua casa?

Bishop veste o paletó.

KRYCEK: - (AO CELULAR) Faz assim, envia as fotos por e-mail ou o número das placas, pode ser? Não, eu não dormi ainda, nem fui pra casa e tô com um probleminha aqui... Tá... Humhum... Combinado.

Krycek desliga.

BISHOP: - Vamos? Ou ligo agora para o Norris levar você pro hospital?

KRYCEK: - Tá bom, tá bom! Mas deixa o Norris dormir ou vamos os dois pro hospital!

Chambers entra na sala com uma caixa de donuts.

CHAMBERS: - Bom di... a... Nossa, que plantão de merda foi o de vocês?

BISHOP: - Vou levar nosso amigo "Checov" pro hospital. Tenho uma cena de crime pra investigar e uma testemunha pra dispensar. E os outros colegas da homicídios já foram pra casa.

CHAMBERS: - Eu levo o Checov. Anda, Checov!

KRYCEK: - Quanta frescura, eu tô bem! Um curativo resolve.

CHAMBERS: - Ligo para o Norris vir fazer um curativo? Ahn? O delegado não é uma ótima enfermeira. Uma vez costurou o dedo de um policial com linha de pesca e anzol.

Krycek revira os olhos, irritado. Sai da sala. Chambers larga a caixa de donuts e vai atrás dele.


Escola Irving Allen - 8:00 AM

Scully tira o cinto de segurança e desce do carro. Victoria e Darius saem do carro e entram na escola correndo. Scully sorri e vai atrás deles.

Serling segurando o livro de Mulder. Ele espia Scully pela persiana do escritório. Vira-se de costas para a janela, nervoso.


Hospital Mercy - 8:07 AM

Barbara entra esbaforida na emergência, quase tendo um ataque. Procura com os olhos. Krycek sentado numa sala, a enfermeira Giles termina o curativo. Barbara entra assustada, com olhos em lágrimas.

BARBARA: - Ratoncito!!!

Barbara se abraça no pescoço de Krycek, o enchendo de beijos. A enfermeira abaixa a cabeça e sorri.

KRYCEK: - Menos, Barbara, menos...

BARBARA: - (PREOCUPADA) Foi grave?

ENFERMEIRA: - Não, ele teve sorte, apenas alguns pontos. Acho que a jaqueta ajudou.

BARBARA: - Ainda bem que dei essa jaqueta pra você. Agora vou comprar uma armadura medieval!

KRYCEK: - Vai ter que se acostumar com isso, você se casou com um policial. Essas coisas acontecem. Ai! Cuidado aí, Giles!

ENFERMEIRA: - Prontinho. E fique longe de encrencas, detetive.

BARBARA: - Cadê? Hum? Quero ver se está com você mesmo!

Krycek faz uma cara séria e tira o terço dela do bolso. Barbara leva a mão ao peito.

BARBARA: - Viu? Podia ter sido pior. A Virgem protegeu você. Imagina se acertasse no pescoço?

ENFERMEIRA: - Já pode ir pra casa, detetive. Não esqueça de tomar a medicação.

Krycek se levanta. Barbara pega os frascos de medicamentos.

BARBARA: - Vem, você está cansado. Vou fazer uma sopinha e você vai comer e dormir.

KRYCEK: - Mas eu não estou doente, Malyshka! Onde está o Dimi?

BARBARA: -Ai, nossa! Saí com tanta pressa que esqueci o nosso filho!

Krycek olha assustado pra ela. Barbara começa a rir.

BARBARA: - Sou louca, mas nem tanto, Ratoncito. Deixei Dimi com os Pistoleiros.

Krycek olha incrédulo.

BARBARA: - Langly é ótimo com crianças, Dimi curte Ramones, então está tudo bem. Vem, vamos pra casa descansar.

KRYCEK: - Obrigado, enfermeira Giles.

A enfermeira sorri. Krycek envolve o braço na cintura de Barbara e eles saem da sala.


Escola Irving Allen - 8:29 AM

O Prof. Serling sentado à mesa. Scully sentada de frente pra ele.

SCULLY: - Peço desculpas se pareço inoportuna, mas gosto de saber como Victoria está indo na escola.

PROF. SERLING: - De maneira alguma, gostaria que todos os pais se preocupassem dessa maneira com seus filhos. Victoria é ótima aluna.

SCULLY: - E o comportamento dela?

PROF. SERLING: - Excepcional. Prestativa, atenciosa com todos, cordial.

SCULLY: - E sobre o "problema" dela? Victoria tem sido inconveniente dizendo coisas que não deveria dizer ou fazendo coisas que não deveria...

PROF. SERLING: - Entendo a sua preocupação, senhora Mulder. Eu não acho bom reprimir certos "talentos" da sua filha. Portanto, quando ela os manifesta, o que não é algo constante... A orientação que dei a senhorita Phillis é para discretamente me informar e eu converso com Victoria.

SCULLY: - Fico mais tranquila com isso, prof. Serling. E ela é muito curiosa e faz comentários não muito pertinentes a idade. Algumas vezes não sei como agir. Acho que ela busca muito conhecimento em livros que geralmente não chamam a atenção de crianças e mais as coisas que prediz e...

PROF. SERLING: - A senhora tem uma superdotada em casa, vamos optar por esse termo, embora não seja o correto. Por mais que tente afastá-la do conhecimento que ela deseja, não creio que surtirá efeito. Acredito que deva deixar Victoria seguir sua curiosidade. Entendo sua objeção e a do seu esposo, mas gostaria de novamente sugerir que Victoria fizesse algumas provas. Eu acredito realmente que ela poderia estar no secundário. Bastaria algumas aulas de conteúdo e tenho certeza absoluta que qualquer escola admitiria sua filha. E da maneira como as coisas vão progredindo, acho que com aulas suplementares, uma universidade aos dez anos não seria improvável.

SCULLY: - Mas ela tem apenas oito anos! E no fundo é somente uma garotinha e...

PROF. SERLING: - Entendo, senhora Mulder. Ela se comporta como uma criança, tem atividades de criança, gosta de ser criança e age como uma, mas o cérebro dela é mais rápido que seu desenvolvimento físico, mental e psicológico. A minha preocupação é com a frustração dela. É como se a escola fosse um guia do que deve ser aprendido e não um local para aprendizado. Por exemplo, quando a srta. Phillis disse que iria ensinar a tabuada, na aula seguinte Victoria já veio com a tabuada inteira decorada.

SCULLY: - Sério? Ela não me falou nada sobre isso... Nem pediu ajuda!

PROF. SERLING: - Victoria busca por si própria aprender, é da natureza dela. E funciona. Sua filha é uma criança que não gosta de incomodar, ela acha que é inoportuna e, portanto, se isola para aprender, sem pedir ajuda. Como tem muita facilidade...

Scully suspira.

PROF. SERLING: - Até as outras crianças entenderem e decorarem a tabuada do um e do dois, Victoria ficará um tempo enorme entediada sem atividades. O que tenho feito? Como ela decorou toda a tabuada, a deixo um tempo em sala, porque parece que ajudar os colegas a aprenderem a deixa empolgada e ela é paciente pra isso, talvez terá uma professora na família.

Scully sorri.

PROF. SERLING: - Quando ela cansa, a srta. Phillis a manda pra minha sala e seguimos adiante. Victoria já sabe somar, diminuir, dividir, multiplicar e tenho dado essas tarefas a ela. E estou matando o tempo com isso, pois na verdade, eu já poderia ensinar equações básicas.

Scully morde os lábios.

PROF. SERLING: - O que posso sugerir é que a senhora e seu marido conversem com Victoria e decidam com ela o que é melhor pra ela. Se Victoria quer continuar como está, tudo bem. Sei que ela tem amiguinhos, como a senhora disse, é uma criança e precisa de brincadeiras da idade. Mas se ela achar que é mais importante seguir adiante, não creio que devam impedi-la. É uma decisão difícil, imagino, mas é algo que vocês precisam resolver.

SCULLY: - Pelo Mulder, Victoria seguiria adiante nos estudos. Admito, eu tenho medo. Não sei se isso seria bom pra ela, embora me cause orgulho em ter uma filha tão inteligente assim. É que o senhor sabe que há fases na vida e toda a fase é importante. Meu receio é que Victoria esqueça de viver e se torne aquelas crianças prodígios cheias de problemas na vida adulta por nunca terem vivido uma infância normal. Mulder se preocupa com isso, mas diferente de mim, ele acredita que Victoria possa ter uma infância e ser um gênio na escola. Conversei com ela sobre isso e vejo que os olhinhos dela ficam indecisos. Creio que vamos ter que conversar novamente. Também não quero ser a mãe que obriga a filha a fazer o que não deseja.

PROF. SERLING: - Como eu disse, não é uma decisão fácil para nenhum de vocês. E senhora Mulder, também não é uma decisão de vida ou morte. Ela pode querer e desistir ou pode querer depois. O importante é que ela decida. Pareço um louco dizendo a uma mãe para que deixe sua filha de oito anos decidir o que quer da vida, mas...

SCULLY: - (SORRI) Eu sei, mas estamos falando da Victoria.

PROF. SERLING: - ... Posso ser indiscreto, senhora Mulder?

Scully olha pra ele.

PROF. SERLING: - Algumas vezes noto pelo seu olhar e suas reações que isso a incomoda. De maneira alguma estou julgando a senhora, eu mesmo não saberia como agir se Victoria fosse minha filha. Só quero dizer para não ter medo. Ela é especial. Nós sabemos disso. Há um futuro profetizado pra ela, como para as outras crianças e mesmo que isso a aborreça, é algo acima do poder humano decidir. Se permita descobrir isso com sua filha, por mais que seu coração de mãe queira fazer de conta que as coisas não são como são. A senhora é uma mãe maravilhosa, Victoria fala muito sobre a mãe dela, tudo o que senhora faz é melhor do que as outras mães, não pense que apenas o pai é a referência dela. Sua filha lhe estima muito. O que sinto é que ela não tem com a senhora a intimidade que tem com o pai. Mas isso é construído.

SCULLY: - Algumas coisas aconteceram em meu casamento quando Victoria era bebê e temo que no fundo ela guarde isso na memória. Inconsciente ou não...

PROF. SERLING: - Não acho que seja isso. Tente puxá-la mais para o seu lado um pouco. Penso que é carência de atenção, coisa comum a qualquer criança que deixa de ser filha única para ter um irmão disputando os pais que eram só dela, acho que me entende. Algo completamente científico e natural, não há nada sobrenatural nisso.

Scully sorri. Olha pra foto no porta-retratos sobre a mesa: Serling mais jovem, com a esposa, dois meninos e uma bebê.

PROF. SERLING: - Eu sei que seu marido é bastante ocupado, mas eu gostaria de falar com ele, trocar umas ideias, nada sobre Victoria, fique tranquila.

SCULLY: - Peço desculpas novamente, professor. Já disse ao Mulder para vir aqui, mas sempre aparece alguma coisa que o impede. Agora está envolvido com o livro dele e...

PROF. SERLING: - Tudo bem. Certas coisas têm o seu tempo próprio. A propósito, gostei muito do livro do seu marido. Na verdade, como sei sobre Victoria... Agora vejo mais sentido nas coisas que eu desconhecia sobre a natureza dela.

SCULLY: - Professor Serling, eu reitero meu pedido que mantenha sigilo sobre a natureza de Victoria e seus "talentos", por questões de segurança que o senhor bem sabe, já explodiram sua escola para matar minha filha e as outras crianças e...

PROF. SERLING: - Fique calma, senhora Mulder. Eu torno a dizer que o segredo sobre a sua filha está bem guardado. Seu inimigo é o meu inimigo, acredite. Prezo pela segurança dela e de Darius e Megan. São como filhos pra mim. Eu daria minha vida para protegê-los, pode estar certa disso.

SCULLY: - Ainda não entendo como um físico com a sua capacidade toda, acabou como diretor de uma escola primária...

PROF. SERLING: - (SORRI) Gosto de crianças. Nelas existe uma coisa chamada esperança de dias melhores, pessoas melhores, um mundo melhor. Coisas que a teoria da relatividade não me proporciona. Me sinto mais seguro em meio a inocência e no dever de proteger essa inocência das maldades lá fora. Como um pai que protege seus filhos.

Scully se levanta. Serling se levanta também, num sorriso.

SCULLY: - Obrigada. Não precisa me acompanhar.

Scully sai, fechando a porta. Serling tira o sorriso do rosto e olha para o porta-retratos.

PROF. SERLING: - Ou como um pai que deveria ter protegido seus filhos...

Serling senta-se. Abre a gaveta e pega uma garrafinha de bebida e começa a beber. Seu olhar fica insano, com ódio.



BLOCO 3:

Antigo esconderijo de Alex Krycek - 10:11 A.M.

Mulder com uma mochila no ombro. Leva a mão ao bolso e tira as chaves. Procura uma entre elas, coloca na fechadura e entra no depósito. Tranca a porta. Vai até a cozinha.

Há um notebook sobre a mesa. Mulder o liga. Abre a geladeira e tira uma cerveja. Senta-se à mesa. Puxa o celular e lê as mensagens. Olha para a tela do notebook e clica no programa de conversação. Volta a atenção para o celular. Frohike aparece na tela, ajeitando a câmera, com Dimi no colo, que tenta pegar o microfone.

FROHIKE (OFF): - Impressionante você. Estou há duas casas da sua e nem aparece pra dizer oi. Aonde está?

MULDER: - No antigo depósito do Rato. Agora é a sede do Clube do Bolinha. Ei, é o camundongo Dimi? O que ele faz aí?

FROHIKE (OFF): - Está aprendendo a hackear sistemas, mas o negócio dele é Ramones.

Mulder coloca o celular sobre a mesa.

MULDER: - Como está morar na casa de visitas de Susanne Modeski? (DEBOCHADO) Tudo isso para ficar perto do Byers? O amor é lindo!

FROHIKE (OFF): - Nossa toca não é mais confiável, desde que aqueles malucos tentaram nos matar. Montamos a editora aqui, tem mais espaço e o Langly tá adorando ter piscina. Sabe como são as crianças...

MULDER: - É, uma vez na vida suburbana e você desiste dos bairros...

FROHIKE (OFF): - Isso não tem nada a ver com vida suburbana. Eu moraria na minha Kombi se pudesse, mas esses dois não gostam muito de aventuras na estrada. Imagine Susanne Modeski hippie?

Mulder começa a rir.

MULDER: - É, ela pegou o Byers e não acredito que viraria hippie por mais amor que tenha ao "John". Nem ele viraria. Suburbanos, você sabe. Admita que isso criou um problemão entre vocês, quase a ponto de separar o trio.

FROHIKE (OFF): - Já foi pior o atrito. Eu não disse que mulher só arruma confusão quando entra no meio dos homens? Mas ele fica com ela na casa deles e Langly e eu aqui nos fundos. Continuamos nosso trabalho. Não gosto de frescuras de madames, ele podia ter se apaixonado por uma hippie maluca, não acha? Seria mais interessante. O que tem pra mim?

MULDER: - Eu não tenho mais acesso ao sistema do FBI, mas já tenho as informações que tirei dos arquivos deles antes de perder o acesso. E a informação que preciso está com um selo confidencial do Pentágono, como segredos de segurança nacional.

FROHIKE (OFF): - O que está procurando, Mulder? Quem vamos hackear? O Pentágono? Está louco?

MULDER: - Adoro estar louco. Preciso de informações sobre John Allen Serling. Tudo o que tenho sobre ele diz que é astrônomo e físico, doutor em física quântica, trabalhou para a NASA e depois como civil para o exército. Em quê, não faço ideia.

Dimi percebe o monitor e dá um sorriso encarando Mulder com curiosidade. Mulder acena pra ele. Dimi leva as mãos à boca, mordendo os dedinhos e rindo, se babando todo.

FROHIKE (OFF): - Quem é esse cara?

MULDER: - Diretor da escola da minha filha. E isso me deixa muito, mas muito desconfiado que um cara com toda essa capacidade se esconda atrás de uma mesa para lidar com a pirralhada, entende? Não faz sentido. Ele desenvolveu um projeto que foi recusado, chamado Projeto Gênesis. Ele afirma que existem provas de que somos criados por alienígenas, provas deixadas para trás, que com uma equipe certa de exploradores sabendo o que procuram, eles poderiam descobrir.

FROHIKE (OFF): - Deuses astronautas? Já tentou falar com ele?

MULDER: - Não tenho tempo. Mantenho Scully de olhos nele, embora ela ache Serling uma pessoa confiável e ele tem sido, com relação a Victoria. Tem ajudado muito que minha filha se sinta bem numa escola que não a trate como uma aberração da natureza.

FROHIKE (OFF): - Desconfia da segurança de Victoria?

MULDER: - Você entendeu. Não sei se estão usando Serling para vigiar a minha filha. Talvez ele trabalhe para o Sindicato. Eu não acredito que ele seja da Ordem dos Treze. Fumacinha me deu algumas informações, mas como sempre, eu não acredito no mentiroso. Ele disse que Serling faz parte de uma resistência à Nova Ordem, foi desacreditado dos meios acadêmicos e virou inimigo número um desse país. Mas não disse o motivo. E sempre há um motivo. E quando olho para o sujeito, não vejo nada demais, a não ser que parece mais um maluco. E fico pensando, lembra que explodiram a escola dele? Será que somente para matarem a minha filha e as crianças da profecia ou porque ele estava na lista?

FROHIKE (OFF): - Ou porque todos estavam na lista?

MULDER: - Tem como descobrir a ficha real desse cara? Ele pode ser aliado ou é um inimigo?

FROHIKE (OFF): - Posso tentar, Langly e eu precisamos de um pouco de ação. Mas faremos isso longe daqui. Não vou arriscar que nos rastreiem.

MULDER: - Certo. Me mantenha informado sobre o que descobrir. Sem pressa, por hora o Rato e eu temos outros assuntos pra resolver. Até sexta, vejo vocês no boliche. (ACENA) Dimi, tchau pro tio Mulder.

Mulder desliga o chat. Abre o navegador. Digita "John Serling". Recosta-se na cadeira. Bebe a cerveja olhando pra tela. Clica num site. Arregala os olhos. Pega o celular rapidamente.


Residência dos Mulder - 10:46 AM.

Scully sai da lavanderia com um cesto de roupas limpas e pega o celular sobre a mesa.

SCULLY: - (AO CELULAR) Fala Mulder... Ocupada? Claro que estou ocupada, já viu mulher dentro de casa que não esteja ocupada? O que quer?

Scully cerra o cenho. Larga o cesto sobre a mesa e senta-se.

SCULLY: - (AO CELULAR) Pronto, estou sentada... Como assim, Mulder? ... Não, eu nunca perguntei, isso é uma coisa pessoal demais, não acha? ... Serling tem uma foto da esposa e dos três filhos sobre a mesa, é uma foto antiga, as crianças já devem ter crescido, eu sei que ele é viúvo e que mantém a escola em memória da esposa que era pedagoga e fundou aquilo... (INCRÉDULA) Obituário?

Scully dirige a atenção para o agapórnis que está pousado sobre o armário, bicando uma banana no cesto de frutas. Scully se levanta e leva o dedo até ele.

SCULLY: - (AO CELULAR) Mulder, não enrola, que obituário? ... Oh meu Deus! E-eu nunca imaginei que a família dele tivesse morrido... Como assim todos ao mesmo tempo? Acidente de carro? ... Sim, bastante estranho... Mulder, não está pensando que ele é um serial killer que matou a família inteira... Por que de repente esse interesse todo novamente pelo Serling? ... Não, ele até disse que gostaria de falar com você sobre outros assuntos que não a Victoria e eu não sei mais como enrolar, porque você nunca vai lá falar com ele, apenas nas reuniões de pais e sai rapidamente...

O agapórnis sobe na mão de Scully e ela o coloca no ombro.

SCULLY: - (AO CELULAR) Mulder, deveria tentar falar com as pessoas e fazer amizades, sabia? Pode descobrir mais coisas que tentando revirar a vida delas pela internet! ... Ok, não vou fazer almoço mesmo, hoje é dia de comida chinesa, dia de "soborô"... É, dia de tudo o que "sobrou" na geladeira.

Scully suspira. Desliga. Tira o agapórnis do ombro, abre a porta da cozinha e o faz voar pra rua. Volta e pega o cesto.

SCULLY: - Por que Mulder não vai lá e fala com o Serling? Santa paciência! Que mania de perseguição que esse homem tem, parece um bicho do mato, fugindo das pessoas! Eu só quero ver ele como escritor, correndo dos fãs! Ai meu Deus, esqueci a chaleira no fogo!!!

Scully desliga a chaleira, o telefone da casa toca. Scully atende e vê o agapórnis novamente bicando a banana.

SCULLY: - É hoje! Ikito, quem sabe você vai namorar a sua esposa, ahn? Ela tá lá fora na árvore. (ATENDE) Alô... Oi mamãe! Não, eu estava tirando as roupas da secadora... Sim, todos estão bem e a senhora?

Bryan começa a chorar.

BRYAN: - Mama!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

SCULLY: - (AO TELEFONE) Espera, mamãe, deixa eu pegar o filhote de Mulder que já está gritando por mim feito o pai dele! E dar uma banana pro Ikito antes que ele estrague todas! ... Fugir? (SORRI) Eles não fogem... Não sei, pergunta pra sua neta que brigou com a gente por causa da gaiola. Eles voam pro quintal, passam o dia por ali e quando ela chama, eles voltam e dormem na lavanderia com a coelha. De manhã ela os leva pra rua de novo...

BRYAN: - Mamaaaaaaaaaaaaaaaaaa!!!!!!!!!!!!!!!


Antigo esconderijo de Alex Krycek - 1:11 PM

Mulder tira os lanches do pacote e coloca em cima da mesa. Senta-se, pegando um hambúrguer e colocando catchup até nos dedos. Dá uma dentada com prazer.

MULDER: - (BOCA CHEIA) Sabe quanto tempo faz que não como fast food? (PENSATIVO) ... Acho que uns três meses. (IMITANDO SCULLY) Olha sua taxa de colesterol, cuidado com os triglicérides, desse jeito vai acabar tendo diabetes...

Krycek senta-se, abrindo uma lata de refrigerante.

KRYCEK: - E esse brinquinho aí? Resolveu me copiar?

MULDER: - Presente da minha filha. Agora eu sou o rebelde e você o caretão.

KRYCEK: - Admita que veio almoçar comigo só pra comer porcaria.

MULDER: - Admita que a Barbara também enche o seu saco.

KRYCEK: - Não. Eu sou o fiscal lá em casa. E hoje abri exceção por sua causa.

MULDER: - Ok, "amorzinho", mas eu estou levando os exercícios a sério. Não quero ficar um velho caído apanhando de garoto novo e você sabe que temos que proteger os nossos. Preciso melhorar a minha direita. Como está a sua?

KRYCEK: - Apenas a minha direita é confiável.

Mulder olha preocupado para o braço esquerdo de Krycek.

MULDER: - Como está isso? Foi sério?

KRYCEK: - Não, só levei uns pontos, medicamentos e uma porcaria de vacina contra tétano!

MULDER: - (DEBOCHADO) Pobre do Ratoncito... Levou uma picada no traseiro.

KRYCEK: - Foi no braço. Quem gosta de levar picada no traseiro é você, "Raposito".

MULDER: - (DEBOCHADO) Doeu muito, "amorzinho"? Ou o enfermeiro foi gentil na aplicação?

KRYCEK: - (DEBOCHADO) Ah! Ele mandou lembranças pra você. Faz tempo que não vê seu traseiro na agulha dele.

MULDER: - Você sabe que minha fama como agente começou na Crimes Violentos por ter capturado o desgraçado do John Barnett? Que acabou servindo de cobaia para o Sindicato em experiências de rejuvenescimento nas mãos do Strughold... Eles descobriram ali como regenerar membros perdidos. Pra sua sorte.

KRYCEK: - Minha sorte? Eu fui usado pra uma experiência, uma retaliação do Fumacinha. Podia ter dado errado, eles reverteram o envelhecimento precoce, mas não tinham certeza se as células se dividiriam... Tinha a forma de um braço quando implantaram, mas não havia divisão entre os dedos. Levou dias com bandagens e eu achando que acabaria com um braço inútil de salamandra.

MULDER: - Fico pensando que tecnologia esses caras possuem e que poderia ajudar tanto as pessoas. Imagina quem perdeu as pernas podendo voltar a andar? Quem perdeu os braços? Aparentemente seu braço novo parece ter nascido com você.

KRYCEK: - Algumas vezes dói por nada. A força não era como antes. Nada é cem por cento. Espero que com o tempo não fique pior. O filho da mãe foi acertar logo esse braço! Bom, perdi o braço por merecimento. Foi justo.

MULDER: - Acho que desejar o mal pra alguém não é justiça, entende?

KRYCEK: - Chame como quiser, Mulder. Mente, corpo e alma com suas cicatrizes eternas.

MULDER: - E o camundongo Dimi? Hum? Está fazendo a parte dele na sua vida?

KRYCEK: - (SORRI) Tô apaixonado por aquele carinha, Mulder. Quando eu chego em casa, ele está lá sentado no tapete, no meio dos brinquedos e olha pra mim abrindo um sorriso sincero com poucos dentes. Meu coração derrete na hora. Esqueço qualquer coisa.

MULDER: - (SORRI) Ter filhos foi a melhor coisa que eu tive na vida. Nunca pensei que isso mudaria o Mulder. Nunca imaginei que eu pudesse ter aqueles dois... Menos ainda que eu pudesse lidar com a coisa de ser pai... Pai. Palavra pesada, Rato. O peso dela me atormenta. Não porque eu seja um pai agora, mas... Por não ter tido um para me ensinar a ser pai. Os dois que tive me traíram. Um tentou me matar e teria conseguido se você não estivesse naquele hospital e religasse o oxigênio. E o outro, o menos pior, era um beberrão mentiroso. Mãe... Essa é outra palavra. O amor ali era só da minha parte. O resto era a Samantha.

Mulder enche os olhos de lágrimas.

KRYCEK: - Mulder, não seja tão duro com você mesmo. Sabe que teve coisas boas e ruins, talvez mais ruins que boas, mas você está se saindo bem. Você é um cara que ama incondicionalmente, uma pessoa boa de coração, olha eu aqui na sua frente! Estaria aqui sem o seu perdão que me salvou de mim mesmo? Os seus filhos amam você, eu sou testemunha do pai que você foi, ali sozinho com a Victoria, um bebê ainda... Você é um superpai. Espero que eu me saia bem.

MULDER: - Se eu que não tive exemplo paterno estou tentando, você que teve um pai exemplar que amava você... Certamente terá sucesso com o Dimi.

KRYCEK: - É, eu tento... Esse assunto aborrece você, Mulder, eu sei que dói e incomoda. Então vamos a outro. Agora temos pouca coisa pra fazer, a pior parte foi instalar sistemas de comunicação e água potável. No mais é comprar os itens da lista de coisas úteis para se ter num búnquer. Precisamos comprar colchões novos e ferramentas.

MULDER: - Já comprei material de primeiros-socorros. Armas e munições temos.

KRYCEK: - É. Algumas pessoas pensam em zumbis ou guerra nuclear. Nós pensamos na Nova Ordem Mundial.

Mulder solta o hambúrguer e pega o envelope pardo da mochila. Empurra por sobre a mesa. Pega o hambúrguer de volta. Krycek pega o envelope e abre. Tira as fotos, olhando cada uma.

KRYCEK: - Somente placas de carros?

MULDER: - E a foto do número de uma casa. Algumas placas são governamentais.

KRYCEK: - ... Não faz ideia de quem mandou isso pra você?

MULDER: - O velho fumacento? Garganta?

KRYCEK: - ... Treze fotos de placas, Mulder.

MULDER: - (DESCONFIADO) ...

KRYCEK: - Está pensando no que estou pensando?

MULDER: - O velho mentiu? O desgraçado disse que não sabia quem faz parte da Ordem dos Treze!

KRYCEK: - Foi o que ele me disse... E se não foi ele, quem mandaria isso pra você?

MULDER: - Olha Rato, a minha paranoia só aumenta. Pode ser um plano para nos tirarem do caminho certo. Você tem como checar as placas no sistema da polícia?

KRYCEK: - Eu faço isso hoje à noite. Se as placas começarem a bater com nomes que nós já temos...

MULDER: - Saberemos quem são esses caras. Todos os treze.

Krycek tira um papel do bolso. Entrega pra Mulder.

KRYCEK: - Agora você vai pirar. Mais um nome da Ordem: Chandler West II.

Mulder solta o hambúrguer olhando incrédulo. Krycek leva uma batatinha à boca.

MULDER: - Espera... Espera aí. Repete.

KRYCEK: - É... Como nunca desconfiamos? Não sei.

MULDER: - Rato, esse é o pai do garoto Chandler West envolvido na profecia do Homem Mariposa, com minha filha e aquelas quatro crianças, incluindo Megan Robinson, a filha do Robert Robinson que também é da Ordem dos Treze!

KRYCEK: - Ele mesmo, Mulder. O marido da senhora April West, aquela senhora inglesa, gentil e educada que bebeu conosco naquele bar, antes de você tomar um porre de vodca russa. Aquela que nos disse pra não falar com o marido porque ele não acreditava nessas coisas e nos colocaria pra correr. Eles tiraram o garoto rapidamente da escola do Serling e voltaram pra Londres. Agora sabemos que não era por medo do Homem Mariposa voltar. Era por medo da sua filha e da profecia de união deles.

Mulder empurra o hambúrguer. Coloca as mãos no rosto. Krycek pega seu hambúrguer e começa a comer.

MULDER: - Tem certeza disso?

KRYCEK: - Absoluta. Sabe como descobri?

MULDER: - Não faço a mínima ideia!

KRYCEK: - Tive que ir ao banco resolver um problema com a minha conta corrente, erraram meu sobrenome. Enquanto o gerente resolvia o assunto, fiquei sentado de frente pra mesa dele e bati o olho numa lista de números de telefone anexada no mural. Eu tenho memória boa pra números. Sabia que já tinha visto aquele número. Estava ali como sendo um dos números da sede de um banco parceiro em Londres, chamado West Bank.

Mulder suspira, incrédulo.

KRYCEK: - Verifiquei na minha caderneta, era um dos números suspeitos que a Barbara encontrou no celular do Rockfell, um número em Londres que não existia mais. Quando o gerente voltou, perguntei se ele poderia me dar o número do West Bank em Londres. Saí do banco e liguei para o número que o gerente me deu. Eu disse a atendente que estava tentando um número deles e que não conseguia ligação, passei o número e a mulher prontamente mudou o atendimento para uma total simpatia, dizendo que o número pessoal do senhor West, o presidente do banco, havia mudado.

MULDER: - ... Eu... Eu perdi o apetite.

KRYCEK: - Acho melhor se alimentar, Mulder, porque a coisa vai mais além. Conversando com a Barbara que sabe mais de notícia que você e eu, Chandler West é dono de uma rede de bancos espalhados pelo mundo com diversos nomes e é um banqueiro-chave dentro do Fundo Monetário Internacional, o FMI, administrando dívidas governamentais de diversos países em desenvolvimento. Chega pra você? Quer mais provas?

MULDER: - Puta que pariu, Rato! Você achou o cara do dinheiro da Ordem dos Treze!

KRYCEK: - Agora pensa. Nós temos o Robinson, o cara dos laboratórios farmacêuticos. O Rockfell, o cara da mídia e comunicação. Alberthi, o cara do cinema e publicidade. Octaviano Rosso, cardeal e assessor no Vaticano e West, o cara da economia. É um cartel mundial, Mulder! Estão mesmo concentrando empresas com outros nomes para escaparem de leis contra cartéis, e se tivéssemos como verificar, provavelmente eles se ajudam emprestando nomes de laranjas para continuarem comprando e tomando empresas em áreas vitais para a sobrevivência humana. É nisso que devemos focar para descobrir os outros!

MULDER: - Tem razão. A conspiração é tão grande que nos perdemos. O que não me faz sentido é o Vaticano como empresa.

KRYCEK: - Mulder, não como empresa, mas como organização, afinal todos sempre esperam a última palavra do Papa! É uma estrutura religiosa, científica e também econômica, eles têm o próprio banco, um observatório de astronomia, uma biblioteca cheia de segredos e sabe-se lá mais o quê! Fechados numa instituição em forma de país que influencia o mundo inteiro. É como o Alberthi, o nosso Moedinha, que trabalha com ideologias para vender disfarçadas de filmes. São áreas vitais!

MULDER: - Então falta o cara dos alimentos. O cara da tecnologia... Quais são as áreas vitais pra sobrevivência humana? Remédios, comida, tecnologia, economia, imprensa, cultura, religião... Rato, estamos fodidos! Isso vai além do que pensamos! E todos são satanistas! Essa é a ligação?

KRYCEK: - É o que sabemos até agora. Todos servem ao Moedinha e não sabem que ele é o próprio Lúcifer! Como o velho Spender disse, isso está além de qualquer poder que o homem possa ter. Ele vai usar esses caras pra chegar ao topo. E quando estiver lá...

MULDER: - Imagina discutir isso com a Scully? Hum? Eu já pareço estranho e louco por falar em deuses astronautas! Pensa se Scully vai aceitar que o diabo vai mesmo sentar no trono do mundo e não da forma figurativa bíblica que ela acredita? Maldito alienígena desgraçado! Ele move todas as peças do jogo a favor dele e os outros jogadores nem percebem que não tem como ganhar a partida!

KRYCEK: - Mulder, você sabe que sou ortodoxo, não praticante e a minha visão da Bíblia é como a sua. Nós temos outros livros excluídos que eu acho fundamentais para um elo de ligação sobre essa guerra travada entre Deus e o Diabo. Os católicos têm 46 livros, os protestantes têm 39. Nós ortodoxos temos 78. E os ortodoxos etíopes ainda consideram o livro de Enoque. E não precisamos falar o que ele contém, não é mesmo?

MULDER: - Enoque andou com as sentinelas de Sião e viu a segunda queda dos anjos... Rato, vocês utilizam a Septuaginta, usada na época de Jesus, a mais antiga tradução em grego do texto hebreu do Antigo Testamento. Na igreja católica eles não aceitam essa versão por que não há relatos de que Cristo e os apóstolos reconheciam todos os livros que nela estavam presentes e porque os apóstolos não deixaram nenhuma instrução sobre eles. Absurdo! Cortaram e esmiuçaram a verdade toda, traduziram como queriam e agora... Agora é essa bagunça! Se matam por religiões e a merda toda vai acontecer quer eles entendam ou não! Essa guerra é política, Rato. Lúcifer pisou no calo de Deus e acabou aqui. E enquanto as pessoas ficarem olhando com olhos religiosos não vão compreender a coisa toda.

KRYCEK: - Não tem como mudar isso, Mulder. É a história do mundo. Não há como lutar, quem acreditaria em nós? Isso mexe com crenças enraizadas há milênios! O desgraçado está aqui desde que Adão e Eva existiam! E a Nova Ordem é o plano que ele alimentou. E vai concluir, não tenha dúvidas, porque qualquer Bíblia diz isso, que ele sentaria no trono desse mundo, ou seja, desse planeta. Mas também sabemos que a derrota dele é prevista.

MULDER: - Eu não sei sobre a derrota dele, Rato, mas sei que o Moedinha não está sozinho. Dizem que 1/4 dos anjos caíram com ele. Como não sabemos o total de anjos para calcular o que seja essa porcentagem... Merda! É muito exército para lutar contra e sem armas e nem sabemos como matar os desgraçados! É uma causa perdida! Acho que por isso Deus disse pra descansar e confiar Nele. A coisa é com Ele, porque com a gente... Todos os exércitos da Terra nunca dariam conta!

KRYCEK: - Mulder, não temos como lutar contra eles. Isso tudo é grande demais pra dois caras. O que podemos fazer é defender os nossos filhos até a morte e preparar um futuro alternativo pra eles sobreviverem a essa merda de Nova Ordem Mundial. É matar ou morrer. E se eu tiver que matar pra salvar minha família, eu vou matar, não tenha dúvidas, por mais que eu não queira fazer isso. Não podemos matar anjos, eu nem sei se eles morrem.

MULDER: - Concordo com você. Estamos ficando velhos, podemos sumir, temos economia suficiente pra viver até no meio da selva com nossas garotas. Mas e as crianças? Eles têm a vida inteira pela frente. Sonhos, conquistas... Não é justo privá-los disso tudo numa cabana no meio do Alasca, entende?

KRYCEK: - Entendo. E a melhor forma de ajudarmos as crianças é deixar opções pra elas. Ouro é opção a chip de compra e venda e sabemos que isso virá, porque o Fumacinha já deixou quatro chips pra você com aqueles títulos ao portador. Um búnquer é esconderijo se precisarem. Quando eles derrubarem a economia americana, esse Estado que a Ordem vai criar, autoritário e repressivo, não terá mais nenhum inimigo. Esse país vai comer nas mãos deles e dançar a valsa que o resto da América dança há muito tempo e que a Europa já está dançando. Fim do império, Mulder. Acontece de tempos em tempos com todos os impérios no mundo. A Rússia já foi. A Europa está indo pro brejo. O próximo a cair é os Estados Unidos. Se a China não for antes, mas os chineses estão se preparando com ouro nos cofres e doenças que agora sabemos quem fomenta pra eles. E você me achava um traidor russo. Como se sente sabendo que americanos traem a pátria deles todos os dias?

MULDER: - O patriotismo é uma ilusão, Krycek. Estamos voltando a era da barbárie, do cada um por si. Basta ver os governantes que aparecem e a violência que eles incitam entre o próprio povo. A coisa só vai piorar. Vamos ter novos Hitlers sentados em tronos e dando as cartas. Eu não vejo um futuro bom. Não vejo mesmo. Scully me critica quando eu brigo com essas tecnologias modernas de celulares e redes sociais e com a necessidade que impuseram das pessoas terem isso. A cada dia elas se tornam mais dependentes desses aparelhos para fazerem as coisas. Eu não consigo mais trabalhar sem isso! Posso até voltar a era dos arquivos de papel, ao telefone comum e me tornar um eremita no mundo da tecnologia. E vou morrer de fome, porque os meus clientes querem o número do meu celular, marcar hora por e-mail e ver meu perfil na rede social, meu portfolio na internet. É uma rede mesmo!

KRYCEK: - E pesca todos os peixes, Mulder. Não tem mais como voltar atrás e fugir disso. Nós mesmos fomos fisgados pelas facilidades que isso nos trouxe.

MULDER: - Isso tudo não me cheira bem, Rato. É muito conhecimento dado em quantidade, as pessoas não têm tempo e discernimento para digerir. Eu não quero estar vivo pra ver gerações idiotas que não conseguem pensar porque tudo está pronto na frente delas. O pronto é suspeito. Você precisa construir o conhecimento dentro de você.

KRYCEK: - Gado, Mulder. O povo é gado, um rebanho útil. Ele vai de um lado ao outro, conforme a necessidade de água e pasto. Apenas isso. O velho pão e circo. Não importa se comunista ou socialista, ou seja, o termo que definem. Todos os regimes objetivam um rebanho para guiar. Nós somos do rebanho. Acha mesmo que sozinhos vamos derrotar todo o esquema? Não tem como. É dispender energia em nada. Então, vamos fazer a nossa parte no que pudermos e viver a vida. Deixar algo para os nossos filhos lembrarem com orgulho da gente. A Nova Ordem vai chegar. Já está batendo na porta. E vai entrar fácil num mundo de mimados acostumados a tudo pronto que não veem nada na frente do nariz.

MULDER: - Apenas a tela do smartphone... Se as garotas nos veem falando isso vão nos chamar de velhos resmungões e ultrapassados.

KRYCEK: - Prefiro ser um resmungão ultrapassado do que um idiota burro e manipulado.

Os dois tocam as mãos rindo, num gesto de "estamos juntos".


Delegacia de Polícia - Precinto 11 - Virgínia - 3:21 PM

Krycek se aproxima da sala de interrogatório. Bishop olha surpreso.

BISHOP: - O que faz aqui? Como está o seu braço?

KRYCEK: - Acha que vou deixar você sozinho nessa? Nem é nosso turno, mas é nosso caso. E esse filho da mãe me deve muito mais que uma jaqueta de couro e horas no hospital!

BISHOP: - Eu peguei o depoimento da nossa testemunha, Elizabeth Anderson.

KRYCEK: - Ela reconheceu o Smile?

BISHOP: -Liz não pode afirmar com certeza, porque o quarto estava muito escuro e enfumaçado. Entretanto disse que ele se encaixa na altura e porte físico. Contou que da primeira vez que entrou no quarto, não viu o assassino. Em questão de segundos, ela voltou e viu ele parado, achou estranho, mas como os colegas são estranhos... Provavelmente os jovens estavam muito drogados para não repararem num penetra. Estou esperando o resultado de DNA encontrado no facão. O legista já confirmou que se encaixa com a arma do crime. Ele deve ter entrado furtivamente no quarto, pela porta de vidro, por onde fugiu.

KRYCEK: - E a cena do crime?

BISHOP: - Nenhuma digital. Usou luvas. Tudo o que temos é apenas uma testemunha confusa e um cara correndo com um facão que atacou você. Se não houver outro DNA no facão a não ser o seu, não teremos nada, nem provas circunstanciais. Não temos nenhum motivo para os assassinatos e o filho da mãe não disse uma só palavra até agora. Ninguém na república o associou com qualquer uma das seis vítimas. E ele não tem passagem na polícia e trabalha como jardineiro nas redondezas do local do crime. Já tem um álibi para o uso do facão.

KRYCEK: - Que merda!

BISHOP: - Nos facilitaria se ele assumisse a culpa, mas eles nunca nos facilitam nada.

KRYCEK: - Vamos dar uma prensa nesse filho da mãe.

BISHOP: - O cretino pediu um advogado. O advogado está aí dentro com ele. Só podemos manter Smile aqui por agredir um policial e resistir a prisão. O tempo corre, se o advogado conseguir tirar o filho da mãe antes do DNA chegar, pode apostar que ele vai sumir. Foi ele, sabemos que foi ele. Só não sabemos por que cometeu essa chacina.

KRYCEK: - (RESPIRA FUNDO) Vamos nessa! Já vi que esse vai ser um daqueles casos arrastados...

Krycek abre a porta. Entra. Bishop entra depois dele, fechando a porta. Os dois sentam-se à mesa, de frente para Smile algemado e o advogado ao lado dele.

KRYCEK: - Detetives Krycek e Bishop.

ADVOGADO: - Dr. Jones. Meu cliente não precisa estar algemado. Não há provas de que ele seja um criminoso perigoso.

Krycek dobra e ergue a manga da camisa.

KRYCEK: - Acho ele bem perigoso. O que fazia nas imediações da cena de uma chacina? Por que fugiu quando eu mandei parar?

ADVOGADO: - Não precisa responder, Smile. Meu cliente não tinha ciência de tal crime.

KRYCEK: - Precisa responder sim, ou tem alguma coisa a esconder?

Smile sorri debochado.

SMILE: - Eu estava trabalhando, sou jardineiro.

KRYCEK: - De madrugada? Nossa, você é um trabalhador dedicado mesmo.

ADVOGADO: - Não vou tolerar ironias ao meu cliente, detetive Krycek. Tenho provas que meu cliente diz a verdade.

O advogado tira um papel do bolso.

ADVOGADO: - Pode ligar pra esse número e falar com o senhor Sherman. Ele vai confirmar que meu cliente estava podando galhos de suas árvores. Ele é roteirista e como trabalha a madrugada toda escrevendo, prefere que Smile trabalhe nesse período para ver se tudo está como ele deseja que esteja. E se não tem testemunhas, motivo e provas, vamos pagar a fiança e tirar meu cliente daqui, antes que ele os processe por abuso de autoridade.

KRYCEK: - Ele correu! Quem foge da polícia tem culpa!

ADVOGADO: - Até eu correria de um policial armado correndo atrás de mim sem motivo algum.

KRYCEK: - Ele não estava trabalhando, estava correndo pelo jardim daquela república com um facão, pulou uma cerca, resistiu a minha ordem de parar, fugiu e ainda me atacou.

ADVOGADO: - Além de você, alguma testemunha viu isso?

BISHOP: - Eu vi isso.

ADVOGADO: - Além da polícia truculenta alguém mais viu isso? Alguém mais pode reconhecer e colocar meu cliente na cena do crime? Acho que não.

SMILE: - É mentira deles, doutor! Esses caras querem achar um culpado porque não tem competência pra encontrarem um maníaco que matou aqueles jovens. Quantos foram mesmo?

Krycek se levanta da cadeira, ensandecido. Bishop o segura.


4:14 PM

O policial parado ao lado da porta. Krycek sai furioso da sala de interrogatório. Bishop atrás dele. Krycek se recosta na parede.

BISHOP: - Filho da puta mentiroso! Você ouviu o que o ele disse? Que nós estamos o colocando na cena de um crime só porque ele resistiu à prisão e agrediu você. Nem a testemunha dizendo que viu alguém correndo vai servir pra nós!

KRYCEK: - Motivo... Motivo... Motivo... Precisamos de um motivo, uma ligação...

BISHOP: - Vou pegar a foto dele e enviar aos parentes para ver se alguém o reconhece.

O advogado sai da sala e segue o corredor. O policial entra. Krycek anda de um lado pra outro, passa a mão nos cabelos. O policial sai com Smile algemado da sala. Smile passa por eles e sorri. Krycek o fulmina com os olhos. Observa Smile se afastando. Algo lhe chama a atenção.

KRYCEK: - Bishop... Ele tá usando um tênis Kilder?

BISHOP: - É. Eu tenho um. Bom pra correr. Por quê?

KRYCEK: - (PENSATIVO) ... Acha que seria tamanho 44?

BISHOP: - Pode ser, por quê? Não encontramos pegadas.

KRYCEK: - Quero aqueles tênis.

BISHOP: - O que está pegando, parceiro?

KRYCEK: - Nada. Só umas ideias. Quem tá na cela ao lado dele?

BISHOP: - Está vazia.

Krycek percebe Mulder entrando na delegacia.

KRYCEK: - (SORRI SACANA) Acho que vou prender alguém hoje...

Bishop interroga Krycek com o olhar. Krycek vai até Mulder.

MULDER: - E aí? Sobrou um tempo pra verificar as placas?

KRYCEK: - Ainda não, mas quem sabe você tá a fim de ir em cana por uma hora?

Mulder olha incrédulo pra Krycek.


4:37 PM

Krycek empurra Mulder algemado pelo corredor de celas.

MULDER: - (AOS GRITOS/ IRRITADO) Eu não fiz nada! Aquela vadia tá me ferrando! Ela caiu em cima da faca!!! Eu juro!!!

Krycek leva Mulder pelo braço até a cela ao lado de Smile, que observa a cena. Krycek abre a cela e empurra Mulder pra dentro. Tranca a cela.

KRYCEK: - Vamos, já conhece a rotina. Você não é novato.

Mulder faz uma cara de indignado e coloca as mãos nas grades. Krycek abre e tira as algemas dele.

KRYCEK: - Não aguento mais ver essa sua cara ferrada aqui, tá entendendo? Espero que volte pra prisão e atirem você no corredor da morte, matador de prostitutas!

Mulder se afasta da cela.

KRYCEK: - Vai ficar aí pra refrescar sua memória. Depois a gente conversa.

Mulder se agarra nas barras de ferro.

MULDER: - (RAIVA/ GRITA) Seu filho da puta!!! Vocês tiras são todos uns filhos da puta!!! E você é o maior deles, Krycek!!! Eu vou te pegar, seu monte de merda russa!!! É uma promessa!!!

Mulder tenta sacudir as barras da cela, enfurecido. Smile olha pra ele. Mulder faz cara de malvado e olha pra Smile.

MULDER: - O que foi? Por que tá me encarando? Ahn? Você é fresco? Quer me chupar, careca? É isso?

Smile avança nas grades que dividem as celas. Mulder avança nele pelas grades. Smile tenta chutá-lo, Mulder se agacha e arranca o tênis do pé dele. Se afasta sacudindo o tênis e sorrindo debochado.

MULDER: - Oh minha Cinderela! Peguei seu sapatinho de cristal?

Smile, furioso, sacode as barras.

SMILE: - (GRITA) Devolva meu tênis agora, seu filho da puta!

MULDER: - (GRITA) Vem pegar, vem, bichona!

SMILE: - (GRITA) Eu vou matar você, seu merda! Você não sabe com quem está se metendo!

MULDER: - (GRITA) É? E nem você! (BATE NO PEITO) Aqui, malandro! Dez anos cumpridos por esfaquear uma vadia! Vai arrumar briga comigo, Cinderela? Ahn? Eu mato você por entre essas grades!

A discussão começa. Krycek volta.

KRYCEK: - (GRITA) Ei! Que merda tá pegando aqui? Quem começou essa zona?

SMILE: - (GRITA) Filho da puta, devolve meu tênis!

MULDER: - (GRITA) Essa bichona careca atirou o tênis na minha cabeça!

SMILE: - (GRITA) Filho da mãe fodido e mentiroso!!! Eu vou te matar!!!

KRYCEK: - (GRITA) Chega!!! Anda, Phil! Anda que não tenho a noite toda pra perder com briguinhas de maricas!

Krycek puxa as algemas e abre a cela. Mulder, segurando o tênis, estende as mãos. Krycek o algema.

KRYCEK: - (IRRITADO/ GRITA) Ainda tenho que bancar babá de merdas como vocês? Ahn? Sempre criando confusão, Phil?

SMILE: - (GRITA) Me dá o meu tênis, cretino viado!

MULDER: - (PEITANDO/ GRITA) Do que me chamou, Cinderela? Ahn?

KRYCEK: - (GRITA) Chega os dois! Anda, Phil!

Smile com raiva, tira o outro tênis e atira por entre as barras, quase acertando na cabeça de Mulder.

MULDER: - (DEBOCHADO) Errou!!!!

Smile avança nas grades, tentando agarrar Mulder, que é só deboche e provocação. Krycek pega o outro tênis e empurra Mulder pelo corredor.

KRYCEK: - (GRITA) Vamos, seu merda, vou colocar você aonde não vai encher o meu saco pelo resto da noite!

MULDER: - (GRITA) Quero meu advogado!!!

SMILE: - (GRITA) Me devolve os meus tênis! Eu não vou ficar descalço!!!

KRYCEK: - (GRITA) Problema seu! Vocês dois já me deram dor de cabeça o suficiente por uma noite. Anda Phil!!!

Krycek sai empurrando Mulder pelo corredor.

Corte.


Na sala do departamento de homicídios, Mulder se atira na cadeira, olhando debochado pra Krycek, que coloca o par de tênis dentro de um saco plástico.

MULDER: - E aí? Mereço o Oscar? Mais alguns minutos e eu rangia os dentes gritando por "Clarice"... Olha, Rato, se queria tanto um par de tênis de marca, eu mesmo podia dar um de presente pra você.

KRYCEK: - (RINDO) Eu queria apenas um pé e você conseguiu o par daquele filho da mãe?

MULDER: - Admita, eu sou um ótimo matador de prostitutas... E aí, foi o Cinderela quem acertou o facão em você? Ele deixou pegadas na cena do crime? Me conta, sou curioso. Ainda sinto coceira quando vejo algum crime. O agente do FBI nunca morreu, mesmo que o FBI tenha morrido pra ele.

KRYCEK: - Você me ensinou a coisa de seguir o instinto. Chame isso de instinto.

Krycek vê Bishop se aproximando. Sinaliza silêncio pra Mulder.

BISHOP: - Pode me dizer o que está acontecendo? Por que quis os tênis do cara? Nem encontramos pegadas!

KRYCEK: - O último caso que Sanders e eu estávamos investigando, antes dele morrer, era o caso da Rose, que nunca resolvi. A garota morta e jogada no parque, vítima de um ritual satânico, eu contei pra você, as fotos dela ainda estão no mural. A única pista que tivemos foram dois pares de pegadas, tamanho 42 e 44, de um tênis Kilder.

BISHOP: - Mas isso é um tiro no escuro! Mais da metade da cidade usa esses tênis! Aquele filho da mãe não me parece satanista ou eles também usam facões? Não vejo relação alguma.

Mulder morde o polegar, pensativo.

KRYCEK: - Mas acho que vale a pena tentar, não acha? Temos os moldes das pegadas...

BISHOP: - Vou até a sala do arquivo morto pegar a caixa do caso Rose e tirar os moldes. Me dê esse saco, já vou fazer uma visita pra um amigo na perícia técnica.

Bishop sai da sala levando os tênis. Krycek entrega uma pasta pra Mulder.

KRYCEK: - Dá uma olhada nisso e me dá sua opinião de especialista, Mulder. É o caso de homicídio múltiplo envolvendo Jannes Johanson, vulgo Smile. Filho de imigrantes alemães, o cara tem uma suástica tatuada no braço.

Mulder abre a pasta. Faz cara de nojo.

MULDER: - Seis jovens mortos a golpes de facão? Pelas fotos dos corpos ele nem precisou se esforçar muito. Golpes certeiros. Coisa de profissional. Qual o tamanho da ficha dele?

KRYCEK: - Acha que ele já fez isso?

MULDER: - Com certeza. Não é trabalho de amador.

KRYCEK: - As digitais dele nem constam no sistema. Nem multa de trânsito. Um santo.

MULDER: - Aquele neonazista agressivo não tem ficha? Isso é piada! Aquele sujeito é perigoso, eu vi isso nos olhos dele, no modo de falar e agir. Ele não é novato nisso.

KRYCEK: - Se fosse minha opinião, até poderia ser motivo de risada, mas vindo de um perito em perfil comportamental do FBI...

MULDER: - "Ex-perito", Rato.

KRYCEK: - Ainda perito, apenas "ex-FBI", Mulder. A credencial se foi, o policial continua.

MULDER: - Motivo do crime?

KRYCEK: - Nenhum, nada o liga com as vítimas. Estou esperando o resultado do DNA no facão. Foi ele, só não tenho como provar.

MULDER: - Testemunhas?

KRYCEK: - Apenas uma que não consegue afirmar se era ou não ele.

Mulder fecha a pasta e se aproxima do mural, olhando as fotos de Rose.

MULDER: - Por que viu uma ligação? Apenas pelo tênis e o tamanho do pé? Ou porque ela era uma jovem, provavelmente também universitária, o cara tem sobrenome alemão, nos remetendo a Strughold e o Sindicato e com isso a Ordem?

KRYCEK: - Leu a minha mente. Tudo é circunstancial...

MULDER: - Mas tudo é possível até que se prove o contrário. Você fez certo, Rato. Ele pode não ser satanista, mas pode muito bem trabalhar pegando garotas pra eles e descartando corpos. O que me diz que talvez, a garota que ele queria pegar, não conseguiu e a coisa fugiu do controle e ele matou todos.

KRYCEK: - Está roubando os meus palpites, Mulder?

MULDER: - Posso ligar para o Donald e mandar isso por fax.

KRYCEK: - E o FBI não vai se meter e espalhar a merda no ventilador aqui dentro pra cima de mim?

MULDER: - Não. Vou pedir ao Don pra checar esse cara no FBI e cruzar com assassinatos no mesmo estilo e desaparecimentos de garotas universitárias nessa região. Vou precisar de tudo o que tem aqui, fotos, relatório da necropsia, dados... E um fax. Com sorte esse cara tá envolvido com a Ordem dos Treze.

KRYCEK: - Certo. Pode usar esse aí. Eu vou buscar café e depois vamos entrar no sistema e checar aquelas placas. O Bishop vai demorar. Não quero que ele veja que estamos investigando a Ordem. Chega de envolver gente inocente, eles sempre acabam pegando as pessoas que a gente estima.


Edifício West End – Georgetown – Washington D.C. - 5:32 PM

The Gold Coin, usando roupas casuais e pés descalços, está no terraço regando rosas. Richard, o motorista, se aproxima, segurando o quepe contra o corpo, um livro e um envelope na mão.

RICHARD: - Boa noite, senhor Alberthi.

THE GOLD COIN: - Boa noite, Richard. O que acha delas? Estão bonitas?

RICHARD: - (SORRI) Belas e perfumadas.

Coin sorri orgulhoso.

THE GOLD COIN: - Essa é uma Middlemist Vermelha, de origem chinesa, muito rara... Pensei que já estivesse em casa. Combinamos algo para hoje?

RICHARD: - Não, senhor... Eu optei por ir comprar o livro que me pediu para trazer amanhã. Pensei que talvez o senhor estivesse sem leitura para a noite, então...

Coin solta o regador e pega o livro.

THE GOLD COIN: - (SORRI) Obrigado, Richard.

RICHARD: - E o porteiro pediu para lhe entregar esta correspondência. Agora com sua licença... Boa noite.

Richard sai.

THE GOLD COIN: - Admiro a educação e o respeito... Quem sabe se colocar em seu devido lugar.

Coin coloca o livro debaixo do braço e abre o envelope rapidamente. Retira um papel. Começa a ler até arregalar os olhos. Amassa o papel e o envelope. Furioso, desce as escadas entrando na sala de estar e indo para a cozinha.

A faxineira leva um susto. Ele abre a lixeira com o pé e atira os papéis amassados, com raiva. Volta para a sala, atirando-se na poltrona, colocando os pés descalços sobre a mesa de centro e olhando pra capa do livro. É o livro de Mulder.

THE GOLD COIN: - Prevejo dor de cabeça nessa leitura... Girassol & Canela... Ah, que romântico, me dá vontade até de vomitar!

Coin abre o livro.

FAXINEIRA: - Senhor Alberthi?

Coin suspira, irritado.

FAXINEIRA: - O senhor deveria ter porta-retratos nessa casa, mas não vejo nenhum.

Coin olha incrédulo.

FAXINEIRA: - Fotos alegram o ambiente, fotos de família, de amigos...

THE GOLD COIN: - Não tenho família e nem amigos, ok?

FAXINEIRA: - Fotos suas... O senhor é um homem bonito. Uma pena que seja tão sozinho...

Coin agora olha mais incrédulo. Ela sorri, piscando o olho. Coin cerra o cenho. Ela sorri sem graça e volta aos afazeres.

THE GOLD COIN: - (MURMURANDO) Macaca petulante e atrevida... Por isso prefiro serviçais masculinos.

Coin volta a atenção para o livro. Começa a ler. A faxineira liga o aspirador. Coin vira o rosto, incrédulo, olhando para a mulher que está aspirando a sala de jantar. Coin revira os olhos e volta a ler.

THE GOLD COIN: - (MURMURANDO) ... Acho que você vai me confirmar coisas bem interessantes com esse livro, Mulder.

O barulho é tanto que incomoda. Coin vira-se para trás.

THE GOLD COIN: - Ei!!! Pode desligar essa coisa? Estou tentando me concentrar aqui!

A faxineira não escuta. Coin, irritado, pega uma almofada, ameaça atirar, mas desiste. Então ergue a mão em direção à faxineira. Ela leva a mão ao traseiro e arregala os olhos. Desliga rapidamente o aspirador e corre para o banheiro. Coin sorri. Volta ao livro.

THE GOLD COIN: - Agora posso ler, não serei interrompido tão cedo... Mas antes...

Coin pega o celular da mesa de centro e aperta uma tecla.

THE GOLD COIN: - (AO CELULAR/ IRRITADO) ... Sou eu, Le Beau. Quero que demita essa faxineira que você arrumou e me arrume outra, homem e hetero de preferência ou alguma velhinha porque eu já estou começando a ficar irritado com essas mulheres que você arruma! É a quinta faxineira em um mês! ... Estou rindo? Não, não estou rindo, portanto não tem graça alguma! Não quero mais ver a cara dessa infeliz por aqui, qualquer outra abusada ou qualquer purpurina saltitante assim como você, ou atravesso o país e agarro a sua jugular, está me entendendo? Pelo amor Dele! Resolva isso ou demito você!

Coin desliga o celular. Volta a leitura do livro.

THE GOLD COIN: - Não fazem mais serviçais como antigamente. Ah saudades da antiguidade... Um erro e você mandava enforcar!


Delegacia de Polícia - Precinto 11 - Divisão de Homicídios - Virgínia - 6:00 PM

Krycek sentado em frente ao computador em sua mesa. Mulder ao lado dele, com uma caneta. Os dois frustrados.

KRYCEK: - ... Placa do governo, Pentágono... General Thomas Willis.

MULDER: - Uh! General? Não está fechando com o perfil da Ordem. Pelo menos até checarmos a ficha desse cara.

Krycek entrega a foto, Mulder anota o nome atrás. Krycek digita alguma coisa.

KRYCEK: - Thomas Willis... Nada, Mulder. Nem multa. Como os outros. E alguns nem constam no sistema da polícia porque são estrangeiros sem residência aqui.

MULDER: - O FBI tem mais informação. Vou ter que incomodar o Skinner.

Krycek pega outra foto. Começa a digitar.

KRYCEK: - Mais placa de autoridades... Vamos ver... O carro pertence a embaixada do Catar...

MULDER: - Aonde fica isso?

KRYCEK: - Oriente médio.

MULDER: - Um embaixador do Catar? Mas isso também não fecha com a Ordem! Muçulmanos satanistas? Acho que essas fotos querem nos dizer outra coisa.

KRYCEK: - Ok, temos empresários, um general, dois embaixadores e placas que batem com Rockfell, Robinson, West e Coin. Sem contar na placa da embaixada do Vaticano, que fecha com o tal arcebispo Rosso. Mas tem coisa solta aqui. Quer que eu mande esse envelope e as fotos pra análise? Se encontrarmos digitais saberemos quem mandou e perguntamos diretamente pra ele o que está tentando nos dizer.

MULDER: - Tente, mas não acho que vá dar em alguma coisa. Nem essa casa, não dá pra saber aonde se reúnem e nem porquê estão se reunindo... Número 322... Isso pode ser em qualquer lugar dos Estados Unidos! Acha que tem algo a ver com terrorismo? Por que um general do Pentágono estaria falando com o Catar?

KRYCEK: - E com a China? Mulder, achamos donos de multinacionais importantíssimas aqui, tecnologia, agricultura, aeroespacial... Só o general e os dois embaixadores não fazem sentido. O resto pode muito bem ser da Ordem. Mas aí temos apenas dez nomes.

MULDER: - Rato, aposto que esses três fecham os treze. Preciso checar as fichas desses caras e encontrar uma ligação com a Ordem, e quero os endereços de todos eles e vamos ter a rua do nosso número 322. Vou ligar pro Skinner.

Mulder puxa o celular.


Residência dos Mulder – Quarto de Victoria - 6:48 PM

[Som: R.E.M. – Everybody Hurts]

Close no aparelho de CD sobre a janela. Victoria sobe no parapeito da janela. Leva o pé até a escadinha da trepadeira e sobe para o telhado da casa. Senta-se sobre as pernas, olhando o pôr-do-sol, com olhos tristes. Se embala com a música.

VICTORIA: - (CANTANDO) 'Cause everybody hurts... Take comfort in your friends... Everybody hurts... Hold on*.

(*Pois todo mundo sofre, ganhe conforto em seus amigos. Todo mundo sofre. Aguente firme).

Victoria suspira triste. Os dois agapórnis pousam nos ombros dela. Ela acaricia eles com o dedinho, um de cada vez.

VICTORIA: - Por que precisa haver tanta maldade? Tanta dor? Tantas pessoas sofrendo? Não seria maravilhoso se todos fossem felizes? Se o mal não existisse?

Uma sombra se projeta sobre ela. Victoria sorri. Gabriel senta-se ao lado dela.

GABRIEL: - O que você faz na escola?

VICTORIA: - Aprendo coisas, anjinho.

GABRIEL: - E por que precisa aprender coisas?

VICTORIA: - Para ter entendimento delas.

GABRIEL: - Assim é o mundo, pequena. Uma escola.

Gabriel estende o dedo. Um dos agapórnis pousa no dedo dele. Gabriel brinca com ele.

VICTORIA: - Não podia ser diferente? Ter apenas a hora do recreio?

GABRIEL: - Era para ser uma eterna hora do recreio, com merenda à vontade, mas o bonitão orgulhoso estragou tudo, enchendo de conteúdo, provas surpresas, desespero e notas baixas.

VICTORIA: - Lúcifer...

Gabriel olha para o pôr-do-sol.

GABRIEL: - É. Se ele não estragasse tudo... Isso aqui ainda seria um paraíso. Sem dor, sem morte, sem tristezas... As pessoas não conheceriam o mal, nem as trevas... Toda a família sempre tem um que estraga a festa dos outros.

Os dois ficam em silêncio. Gabriel estende o braço e os dois agapórnis voam, entrando pela janela do quarto. Gabriel envolve o braço em Victoria e aponta para o sol que some no horizonte.

GABRIEL: - Assim é a vida nesse planeta. A luz desaparece, dando espaço para as trevas, mas sempre volta a aparecer no outro dia. Ninguém pode apagar a luz, ela é para todos. Contudo, você pode escolher fechar seus olhos para não ver a luz, é uma opção sua, seu livre-arbítrio. Mas em nada vai afetar a existência da luz ou a escolha dos outros em vê-la.

VICTORIA: - Entendo. Você não pode decidir pelos outros.

GABRIEL: - Exatamente, pequena. Cada um escolhe o que deseja ver. Você não pode interferir nisso e mesmo que tentasse, não seria bem-sucedida. Admire a lua, admire a escuridão, mas mantenha o sol na sua vida. É ele quem faz brotar a vida.

VICTORIA: - Tio Tchek vai ficar aleijado?

GABRIEL: - Você o alertou como eu disse?

VICTORIA: - Sim.

GABRIEL: - A luz e as trevas. Cada um escolhe o que deseja ver.

VICTORIA: - Eu não posso intervir, é isso?

GABRIEL: - Para tudo existem leis nesse multiverso, para haver ordem ou seria um caos. Até a física tem leis, não tem? Não podemos desobedecer nenhuma Lei. A primeira diretriz é a não-interferência. Sei que dói, não queremos os ver sofrer, mas não é nossa escolha, é escolha deles. Isso precisa ser respeitado. Se você não respeita o livre-arbítrio das pessoas, dá razão a Lúcifer para acusar Deus de tirania com sua criação. O que faz um tirano?

VICTORIA: - Um tirano é um ditador, como Hitler foi. Um tirano impõe regras que as pessoas precisam seguir sem poder de escolha. Não importa se para o bem de todos ou não.

GABRIEL: - Exatamente. E foi essa a acusação de Lúcifer diante do multiverso. Não podemos dar razão a ele.

VICTORIA: - E se o tio Tchek escolher o sol e mesmo assim as trevas conseguirem seu intento? Eu já vi acontecer com o papai e a mamãe.

GABRIEL: - Então já sabe o que pode fazer, não sabe? Nessa situação podemos interferir. É uma permissão que eles nos dão por terem escolhido a luz. Com a permissão deles, nós podemos. É como um pedido de ajuda, alguém chama por você, você socorre. Assim funciona a oração, que até agora eles não entendem direito, não é uma ladainha pronta e repetida, sem sentido algum. É abrir o coração e pedir ajuda, assim eles nos dão permissão para agirmos. Como dão permissão ao bonitão lá, quando ficam quietos e não pedem ajuda pra nós. Ou quando ficam chamando por ele ou coisas obscuras. Energias iguais se atraem. Tudo é energia. Trevas buscam trevas, luz busca luz. E saiba de uma coisa, pequena: Você se torna responsável por quem você ajuda.

VICTORIA: - Tipo uma babá?

GABRIEL: - É, tipo uma babá. Eu sou responsável por você e por muitos. Você será responsável por todos a quem ajudou. Pode escolher não ajudar para não ter responsabilidades.

VICTORIA: - Mas se posso ajudar, por que não ajudaria? Só para não me responsabilizar? Todas as pessoas precisam de ajuda.

Gabriel olha ternamente para Victoria. A aperta mais contra si, beijando a testa dela.

GABRIEL: - Todas as pessoas? Até as que já erraram? Até mesmo seu inimigo? Os "malditos pecadores"?

VICTORIA: - Principalmente, né? Como você pode ajudar quem está bem? Pra que serve o perdão? Se até Deus perdoa o mais vil, como eu poderia não perdoar? Foi o que meus pais me ensinaram, Gabriel. Meu pai me ensinou muito sobre o perdão quando ele perdoou o tio Tchek por todas as coisas e olha que não foram poucas. E o tio Tchek me ensinou que algumas pessoas realmente não são más, elas anseiam por uma mão estendida e uma chance. Eu vi isso dentro dele. Como também já vi gente com maldade pura, sem vontade de mudar.

GABRIEL: - (SORRI) Seus pais... Eles são os pais certos pra você. Eu amo você, garotinha, você me deixa orgulhoso, num sentido bom da palavra. Então, é por isso que os anjos vivem de guarda. Soldados precisam guardar os civis. Entendeu?

VICTORIA: - Entendi agora o que significa verdadeiramente o termo anjo da guarda. Não tem nada de engraçadinho e bonitinho nisso.

GABRIEL: - Nem cabelos louros encaracolados, olhos azuis, asas brancas e carinha inocente de criança. Não somos inocentes, nem crianças e nem somos todos arianos. Existe uma guerra, pequena. Uma guerra antiga da qual muitos de nós já morreram e derramaram seu sangue para salvar os seus e os humanos. Já perdemos algumas batalhas importantes nesse planeta, batalhas que não dependiam da nossa escolha, mas deles mesmos... O que importa é a vitória ao fim da guerra, Serafim.

VICTORIA: - (SORRI) Serafim?

GABRIEL: - (SORRI) É. Combina com você.

VICTORIA: - Gostei... Serafim... Soa bonito. O que é Serafim?

GABRIEL: - Não tente descobrir isso agora, deixei escapar. Por isso me apelidaram de Grilo Falante... Algumas vezes eu falo demais.

Os dois riem.

VICTORIA: - Gabriel, eu sou uma menina ou um anjo? Ou as duas coisas?

GABRIEL: - Serafim, coisas vão acontecer, elas precisam acontecer, pode parecer que estejamos surdos para você, mas não tenha medo, não se desespere com a falta de respostas porque tudo tem seu tempo e motivo. Eu sempre estarei por perto. E se a coisa ficar feia para o seu lado, você sabe como nos chamar. Chame mesmo, aí descemos em bando para proteger você. Agora tenho que ir. (PISCA O OLHO) Da próxima vez, traga jujubas.

Victoria sorri. Gabriel se levanta. Aciona o bracelete de ouro e desaparece. Victoria olha triste para a casa de Krycek.


7:32 PM

Victoria desce as escadas. Mulder sentado na sala, pensativo. Ergue o olhar pra filha e sorri. Ela senta-se no colo dele e se abraça no pescoço do pai. Mulder envolve os braços nela e beija-lhe a cabeça.

MULDER: - O que tá pegando, Pedaço de Mim? Hum? Parece tão tristinha...

VICTORIA: - Eu te amo, papai.

MULDER: -(SORRI) Nossa! Que coração de pai resiste a uma declaração assim?

VICTORIA: - Você é o melhor pai que eu poderia ter.

MULDER: - (SORRI BOBO) Eu? Tem certeza? Ganhei meu dia!

Victoria beija Mulder no rosto.

MULDER: - Você é a melhor filha do mundo. Eu te amo, Pinguinho.

Mulder dá outro beijo nela.

VICTORIA: - No que você estava pensando, papai?

MULDER: - No que sempre penso. Em como ajudar as pessoas. Um caso meio complicado aí, não é agradável comentar com você.

VICTORIA: - Porque tem sangue né? Gente que morreu?

MULDER: - E gente malvada.

VICTORIA: - No fundo você e eu pensamos nas mesmas coisas, em ajudar as pessoas e lutamos contra o mesmo inimigo. Ele é a raiz de todo o mal aqui.

MULDER: - Ei, Pinguinho, você não deve pensar nessas coisas, deve se divertir. Hum? Tem muito tempo para pensar nisso quando crescer.

VICTORIA: - Papai, o tempo é relativo, já diz o Einstein.

MULDER: -(SURPRESO) Já consegue entender as "historinhas" do Einstein?

VICTORIA: - Um pouco, mas não são historinhas. São teorias interessantes, mas não entendo aquelas contas dele! Parecem aqueles rabiscos do professor Serling!

Mulder sorri e abraça mais forte a filha, apoiando o queixo na cabeça dela.

MULDER: - Eu nunca quebrei minhas promessas com você, Pinguinho. E não quebrarei essa também. Aos poucos, você vai ter mais da presença do seu pai aqui dentro de casa.

VICTORIA: - Eu sei. E obrigada pela casinha na árvore! Ficou linda! Tio Tchek disse que depois vai colocar umas prateleiras. Antes eu quero pintar a casinha. O Darius e a Megan vão ajudar.

MULDER: - (SORRI) Quando estiver arrumada me convide pra fazer uma visita. Pode servir bolinho de terra com chá de água suja que eu não ligo.

VICTORIA: - (RINDO) Seu bobo, eu vou servir biscoitos e suco! Já tá quase arrumada, papai. A mamãe tá me ajudando a organizar.

MULDER: - Sua mãe está se livrando do que não quer mais e tem pena de colocar fora, fazendo da sua casinha o depósito de lixo dela. Cuidado.

Os dois riem. Scully mete a cara para fora da porta da cozinha.

SCULLY: - Docinho, você quer alguns copos para a casinha? Seus amigos podem querer tomar alguma coisa... Tem uns pratinhos legais também, eram meus de quando eu ainda era solteira...

MULDER: - (DEBOCHADO) Eu não disse? (GRITA) Depois é o judeu aqui que não joga nada fora!!!

VICTORIA: - Papai, eu posso levar aquele aparelho de CD?

MULDER: - Claro, eu dei pra você. E de onde vai tirar os CD's?

Victoria sorri.

MULDER: - Espertinha. Arrumei sócia nos meus CD's... Menina folgada.

VICTORIA: - Eu peguei emprestado um CD de uma banda chamada R.E.M., que eu gostei muito, mas não entendi o nome da banda.

MULDER: - Eles eram uma banda de rock alternativo, surgida na Geórgia. R.E.M. significa movimento rápido dos olhos, uma fase do sono onde temos os sonhos mais nítidos.

Mulder ergue a mão mexendo os dedos, numa cara de malvado.

MULDER: - Olha a aranha assassina!!!! Ela pega crianças que mexem nos CD's dos pais!

Mulder começa a fazer cócegas em Victoria que ri alto, tentando se desvencilhar.


Delegacia de Polícia – Precinto 11 – Divisão de Homicídios – Virgínia - 9:11 PM

Krycek em pé, segurando uma caneca de café e observando as fotos de Rose no mural. Bishop entra na sala sacudindo um envelope.

BISHOP: - Ei, parceiro. Resultado do DNA no facão.

Krycek vira-se rapidamente.

BISHOP: - (SORRI) Encontraram o DNA de todas as vítimas e mais o seu. Agora Smile só sai daqui direto para a correção. Aquele advogado não vai safar o pescoço do desgraçado.

KRYCEK: -E os tênis?

BISHOP: - Ainda não temos resposta.

KRYCEK: - Vou falar com o Smile. Você pode ligar para os parentes das vítimas e dizer que pegamos o cara?

BISHOP: - Claro, vai ser bom dar um pouco de conforto para eles.

Krycek sai da sala.


Sala de interrogatório – 9:22 PM

Smile sorri debochado, algemado, sentado de frente pra Krycek, que empurra para ele um refrigerante sobre a mesa. Smile olha para o refrigerante e ri alto.

KRYCEK: - Pode beber.

SMILE: - Quero o meu advogado. Não vou falar nada sem a presença dele. Eu tenho direitos e você precisa respeitá-los, detetive de merda. Não vou beber essa coisa pra você ter acesso ao meu DNA. Esse truque é velho.

KRYCEK: -Não preciso do seu DNA, tenho suas digitais no facão e encontramos nele o DNA dos seis jovens. Já avisamos o seu advogado, logo ele estará aqui.

Krycek se ajeita na cadeira.

KRYCEK: -Eu vou abrir meu coração, Smile. Como sempre faço quando vejo caras como você sentados nessa sala. Dinheiro bom, não é? Quantia alta para apenas um serviço. Traz conforto, uma vida folgada, sem preocupações comuns a todas as pessoas. Elas levariam meses de trabalho, cinco ou seis dias por semana, para ganharem o que você ganha em apenas um serviço de talvez, uma hora ou menos... Dizem que é ganhar dinheiro fácil, mas não é fácil porque você nunca fecha seus olhos à noite, ou preocupado que apagarão você ou por lembrar dos rostos das pessoas que você matou ou que você ferrou. Você não tem sonhos, tem pesadelos.

Smile permanece quieto.

KRYCEK: - Não é fácil. Nunca foi. As promessas foram interessantes, elas servem para quem está no desespero ou para quem não se encaixa na sociedade. Quem liga? É apenas mais um trabalho como o de qualquer pessoa. Ele termina, você recebe e fica vivendo sua vida até chamarem você novamente para outro serviço. Os anos passam, você um dia percebe que só sabe fazer aquilo e tudo bem, o que mais a vida tem para oferecer a não ser sobreviver? Todos sobrevivemos! Quem você pensa que é para se comparar ao resto da sociedade? Eles são uns trouxas que acordam todos os dias, vão para o trabalho, depois voltam para a casa e abrem uma cerveja, assistindo televisão com a mulher e os filhos. Até ficarem velhos. Essa vida não serve para você.

Smile encara Krycek.

KRYCEK: - Mas lá no fundo, oculto bem dentro de você, está uma inveja dessas pessoas comuns. A vida delas é mais dura que a sua, mas elas dormem preocupadas apenas com as contas do mês, enquanto você dorme perturbado pelas vidas que tirou. Você as inveja porque elas têm um lar, uma mulher, filhos... Churrascos aos finais de semana, enquanto você só tem uma vadia de vez em quando para transar, pedir pra ela mentir que te ama e sentir-se amado e normal por algumas horas, rindo, comendo, bebendo, transando e sendo importante pra alguém. Quando a festa acaba, você veste suas calças, paga a vadia, pega sua arma e volta pro buraco aonde se esconde, pensando em coisas que nunca vai ter, a não ser que pague por elas.

SMILE: - ...

KRYCEK: -Aí você também pensa que os caras pra quem você trabalha... Eles têm muito mais que você. Uma vida social, residência fixa, não vivem escondidos como você. Eles têm filhos, esposa e até amantes... Eles vivem a vida normal das pessoas comuns e pagam pra você cometer os crimes deles, e isso é injusto. Você nem sabe em que merda está metido, porque eles nunca dizem a verdade. Eles apenas jogam o envelope com dinheiro na sua cara, dizem o que você deve fazer e voltam pra família e a vida legal deles, enquanto você volta pra sua vida de merda. Sozinho com seus pesadelos e culpas, porque eles dormem em paz. Eles não vêem o sangue nem o cadáver, nem ouvem a vítima implorar por sua vida. Essas vozes ecoam apenas na sua lembrança, eles lembram apenas do cara vivo e do porquê o marcaram pra morrer.

Smile vira o rosto.

KRYCEK: - E você volta sempre pensando se o seu buraco ainda é seguro, se não é hora de arrumar outro para se esconder... Enquanto eles não se escondem, eles vivem. E pousam de gente boa, em largos sorrisos e você... Você é odiado pelas pessoas, porque elas veem você como o vilão da história toda. Você é a cara do mal, você é quem comete o crime, a arma está na sua mão. As pessoas nunca culpam os mandantes, elas culpam os executores. Se esquecem que você é apenas um peão cumprindo ordens, é o seu serviço. Como culpam os pedreiros quando o muro fica torto, enquanto os engenheiros criaram a planta, afinal a corda sempre arrebenta no lado mais fraco. Por isso você faz conhecidos nos bares e não amigos. Se esconde dos vizinhos. Ou acabaria contando o que faz e seria julgado, perdendo os amigos e correndo o risco da polícia bater na sua porta.

SMILE: - ...

KRYCEK: -Você não pode ser você. Então encara um personagem. Até porque quando se dá conta da solidão e do vazio que é a sua vida, você senta debaixo do chuveiro e chora feito criança questionando porque sobrou pra você os restos. Quando percebe que foi enganado e iludido, já perdeu muito da sua essência e não tem mais como voltar atrás. Eles matarão você se tentar isso. Os caras pra quem trabalha podem estar pensando que você já fez muitos serviços para eles, talvez já esteja na hora de eliminar você porque sabe demais, testemunhou muitas coisas, pode abrir a boca se for pego, afinal é normal querer safar sua pele e eles são os mandantes... Ou pensa que numa hora os tiras pegarão você, que terá de reagir e poderá terminar morto. Só há dois destinos: a morte ou a prisão. E eles lá fora tem tantas escolhas...

SMILE: - Não estou entendendo esse papo.

KRYCEK: - Está, eu sei que está.

SMILE: -Você não é meu amigo, só quer vir com papinho pra me ferrar. Eu não vou confessar nada.

KRYCEK: - Não precisa confessar nada. Eu já sei que matou seis jovens. Acho que estava atrás de apenas uma garota, mas as coisas saíram erradas. Isso acontece. O quarto de Liz era ao lado, ela era a vítima escolhida por eles. Você errou de quarto e precisou matar as testemunhas.

SMILE: - ...

KRYCEK: - Acontece infelizmente. Existem riscos nesse trabalho. Algumas vezes você mata a pessoa errada.

SMILE: - Você não sabe porra nenhuma! Você é um tira! Sai daqui e volta pra sua casa, pra sua mulher, seus filhos e sua vidinha de merda, tentando sobreviver com essa droga de salário!

KRYCEK: - (SORRI) Graças à Deus, Smile. Amo a minha vidinha de merda. Amo chegar em casa e ter minha esposa me esperando, amo nossas briguinhas, amo nosso filho e amo o nosso cachorro, as noites de televisão e os finais de semana de churrasco com amigos verdadeiros, que eu posso dar as costas sem pensar em tomar um tiro.

SMILE: - (RINDO) Você é patético, detetive!

KRYCEK: - Eu sei que você já matou mais. Você arruma garotas para alguém que paga por isso. Eles fazem sacrifícios satânicos e depois mandam você desovar o corpo. Você lava bem o cadáver, tira qualquer vestígio de DNA, usa sabão em pó, afinal a criatura está morta mesmo, e depois a joga por aí... Talvez num parque. Depois volta, pega sua grana pelo serviço e vai pro seu buraco. Lembra da moça loura com a rosa tatuada no tornozelo? Porque eu lembro.

SMILE: - Não sei do que está falando. E nem você sabe ou não estaria jogando comigo pra ver se eu falo alguma coisa! Isso vai contra a primeira emenda! Eu não vou fabricar provas contra mim mesmo!

KRYCEK: - Você é um filho da mãe desgraçado, cretino, assassino e mentiroso. Mas eu não vim aqui julgar você pelas merdas que faz, não sou juiz, sou policial, meu dever é parar você antes que faça mais merdas. E agora, deixando o policial de lado, meu dever como ex mercenário, filho da mãe desgraçado, cretino, assassino e mentiroso é dizer pra você que a vidinha de merda vale a pena. E não é um sonho. É uma realidade ao toque da sua mão. Basta decidir que chega. E as escolhas aparecerão.

Krycek se levanta. Smile o encara.

KRYCEK: - Já estive no seu lugar.

SMILE: - Se esteve, me solta! Me deixa fugir!

KRYCEK: - Não posso fazer isso. Alguém tem que parar você, como pararam a mim. E alguém tem que dizer que você pode ter outra vida, como alguém me disse. O melhor seria parar os caras que colocaram você nisto, como os caras que me colocaram numa merda, e acredite, são os mesmos! Mas sabemos que pegar esses caras não é fácil. Você pode pagar com sua vida. É um risco a correr. E é uma decisão pessoal.

SMILE: - Não vou cair no seu jogo! Quero o meu advogado!

KRYCEK: - Não precisa acreditar em mim, Smile. Uma criança me disse que as coisas sempre acontecem por um bom motivo. Isso me é suficiente para nunca mais querer estar sentado no seu lugar. O lado de cá é muito menos doloroso e solitário.

SMILE: - ...

KRYCEK: - Eu só quero o nome dela. É tudo o que peço pra você. Apenas o nome da jovem da rosa tatuada. Somente isso, para dar um nome pra ela numa lápide e poder encontrar sua família. É tudo o que peço, o nome da garota. Pode me sussurrar. Pode escrever na parede da cela. Não há acusação e provas contra você nesse caso. Para a polícia, o seu caso nem sequer tem relação com o caso dessa garota... Smile, apenas o nome. É só o que eu preciso. Apenas o nome dela.

Krycek coloca um giz sobre a mesa.

KRYCEK: - Escreva na parede da cela, debaixo da cama... Prisioneiros escrevem o nome das namoradas, é normal, não criará provas contra você. Apenas o nome dela.

Smile começa a rir. Krycek sai da sala.


BLOCO 4:

Residência dos Krycek - 4:20 PM

Barbara termina de arrumar a mesa para o café da tarde. Dimi sentado no tapete, brincando com seus brinquedos. Barbara volta pra cozinha, pega um petisco na gaveta. Rasputin vem correndo.

BARBARA: - Que faro, não é? Já sabe a hora do petisco, seu malandro?

Ele late e pula na volta dela. Dimi dirige a atenção pro cachorro.

BARBARA: - Não mesmo, Rasputin! Senta ou não ganha. Vamos ser educados como a Victoria ensinou.

O cachorro senta-se. Barbara coloca o petisco na boca dele. Rasputin se deita e fica comendo o petisco de pedaços.

BARBARA: - Isso, come devagar, seu glutão peludo, sapeca e lindo! Meu bruxo!

Krycek entra, cabelos molhados, camisa social e calças jeans. Faz um carinho no cachorro. Dimi com o mordedor na boca, se babando todo e estendendo a mão para o pai. Krycek pega ele no colo.

BARBARA: - Ratoncito, acabei de passar café. Hoje você não vai voltar pro trabalho antes de comer alguma coisa. Nem prestigiou o pão que eu fiz pra você! Vai terminar anêmico se não se alimentar direito!

Krycek passa a mão na barriga.

KRYCEK: - Vou é terminar velho e gordo se deixar você na cozinha!

BARBARA: -Que bom, assim as outras não vão olhar pro que é meu! Anda, dá o Dimi aqui!

Krycek senta-se com Dimi. Ajeita ele em sua perna.

KRYCEK: - Não mesmo, o Dimi vai tomar café com o papa dele.

BARBARA: - Vai nada, Dimi vem com a mama!

Barbara estende as mãos, Dimi vira o rosto e segura-se na camisa do pai. Krycek sorri. Barbara coloca as mãos na cintura.

BARBARA: -Alexander e Dimitri Krycek, isso é um complô de pai e filho? Hum? Impressionante! Passei aquele mico enorme no banco de trás da picape, de pernas abertas e toda arreganhada, berrando feito louca de dor, com a Scully encarando minha periquita e o Mulder fazendo piadinhas escrotas e agora esse garoto vive colado no pai dele que só ficou filmando tudo tremendo de medo e com cara de idiota?

Krycek começa a rir. Tira o mordedor da mão de Dimi e entrega um biscoito. Dimi pega o biscoito e leva à boca, se babando todo.

KRYCEK: - Mama tá com ciúmes de você, carinha.

BARBARA: - Pelo jeito vou ter que fazer um filho só pra mim, porque esse aí é todo Alex Krycek. Puxa saco!

Barbara senta-se. Serve a xícara pra Krycek e depois para ela.

BARBARA: -Eu fico é feliz de ver o meu Ratoncito todo bobão lambendo a cria. Gosta do papa né, filho?

Dimi sorri. Barbara corta uma fatia de pão e prepara pra Krycek. Coloca ao lado da xícara.

BARBARA: - Vou cortar o cabelo desse menino. É cabelo demais! Ele vive suando!

KRYCEK: - Deixa o cabelo dele em paz, Malyshka. Meu garotão tem um cabelo bonito!

BARBARA: - É muito topete, já passou da conta. E vou aproveitar e fazer o mesmo com o Rasputin. Tá muito peludo e está quente demais.

KRYCEK: - Não demora e faz o mesmo comigo.

BARBARA: - Não, você não é um rato peludo. É um rato pelado!

Ela começa a rir. Krycek faz cara de bravo. Ela ri mais ainda.

BARBARA: - Podia deixar um cavanhaque crescer, vai combinar com esses grisalhinhos que estão nascendo... Nossa! Me molhei todinha!

KRYCEK: - (RINDO) Barbara, para! Respeita o Dimi.

BARBARA: - Ele nem entende o que estamos falando. Depois vou dar um banho nele, limpar e cortar as unhas. E vai começar o berreiro.

KRYCEK: - Sério, filho? Ainda não gosta de cortar as unhas? Mas como vai tocar piano com unhas compridas? Não dá.

BARBARA: - É, tem que cortar as unhas, tomar banho e ficar cheiroso pra esperar o papa. Seu papa não gosta de meninos fedidos.

KRYCEK: - Ô Barbara, que pecado! Ele não tá fedido. (CHEIRA DIMI) Ele tá cheirando a talco e leite em pó.

BARBARA: - Cheirinho mais gostoso do mundo... Mas tem que tomar banho pra esperar o papa e ficar mais cheiroso ainda.

Dimi olha para Krycek.

KRYCEK: - Acho que hoje eu chego mais cedo e...

DIMI: - Papa.

Barbara arregala os olhos, com surpresa. Krycek olha para o filho, num sorriso e enchendo os olhos de lágrimas.

BARBARA: - Ai meu Deus! Fala de novo! Fala! Papa!!!! Que voz linda ele tem!!!

KRYCEK: - Fala filho. Papa.

Dimi sorrindo alterna a atenção entre os pais.

BARBARA: - Papa. Ai filhinho, fala de novo! Quero ouvir sua voz!

Dimi olha para o biscoito. Barbara olha ternamente pra um Krycek emocionado e feliz.

BARBARA: - Pronto, já perdeu a graça. Só vai falar quando der na telha. E como eu disse, depois de tudo, qual a primeira palavra que o puxa saco aprende?

KRYCEK: - Pelo menos não foi "Ratoncito". Encare assim e fique feliz, pois Dimi falou papai em russo: "papa". Ou você não gosta mais de russos?

Krycek começa a rir. Se levanta, dá um beijo em Dimi e o entrega pra Barbara.

KRYCEK: - Vou me arrumar, minha cubana bella y muy hermosa. Preciso chegar mais cedo.

BARBARA: - (BEIÇO) Ai, já? Queria tanto você em casa, Ratoncito...

Dimi começa a chorar, estendendo as mãos pra Krycek.

DIMI: - Papa!

Krycek desiste. Pega o filho no colo. Dimi para de chorar. Barbara começa a rir.

BARBARA: - Viu, papa? Agora quero ver você sair pra trabalhar sem causar comoção no seu fã. Ganhei um aliado pra segurar você em casa! Ty trakhnul sebya, Krysa*!!!(* Se fodeu, Ratazana!)

KRYCEK: - (RINDO)Ah, palavrão em russo você aprende rápido, né?

Corte.


Barbara sentada no chão com Dimi sentado na frente dela. Krycek sentado no lado oposto, chamando Dimi com as mãos.

KRYCEK: - Vem no papa, vem!

Dimi sai engatinhando e vai até Krycek, que o pega e o ergue no alto, o agitando. Dimi dá risada. Krycek o coloca sentado no chão. Barbara o chama com as mãos.

BARBARA: - Vem na mama, vem!

Dimi vai engatinhando até ela, rindo com a brincadeira.

BARBARA: -(RINDO) Ainda não cansou disso, filho lindo? Hum?

Barbara o ergue e dá beijos nele. Dimi dá risadas. Barbara o coloca no chão, Krycek o chama e ele vai de novo até o pai. Krycek se levanta com ele nos braços.

KRYCEK: - Tá, vamos caminhar um pouco, mas só um pouco.

Krycek o segura pelos bracinhos, colocando os pés do filho sobre os seus. Vai andando devagar. Dimi está eufórico.

KRYCEK: - Oh, um passinho de cada vez e estamos caminhando...

Barbara coloca uma bola de plástico na frente de Krycek.

KRYCEK: - Oh, vamos chutar a bola, filho... Êêê!!! Dimi chutou a bola!

Dimi dobra e estende as pernas várias vezes, empolgado. Barbara coloca a bola novamente na frente de Krycek.

KRYCEK: - De novo, lá vai o Dimi, pronto pra bater um pênalti e... Gol!!!!!!!!!

Dimi dá risadas altas. Barbara ri com a felicidade do filho. Pega a bola e coloca na frente de Krycek.

BARBARA: - Chuta pra mama, Dimi! Chuta. Manda que eu sou a goleira! No passarás!

KRYCEK: - Dimi vai chutar pra mama e... (RINDO) Gol!!! Mama levou um frango dos mais feios!

BARBARA: - (RINDO) Mama leva frango só pelo Dimi.

Krycek ergue o filho nos braços. Então morde os lábios.

KRYCEK: -Barbara, pega o Dimi rápido!!! O meu braço tá doendo muito. Tô com medo de deixar o Dimi cair. Tá me faltando força!!!

Barbara pega Dimi rapidamente. Krycek leva a mão ao braço. Dimi ameaça chorar. Barbara o embala. Olha preocupada pra Krycek.

BARBARA: - Amor, tá tudo bem?

KRYCEK: - Vou tomar o remédio.

Krycek vai pra cozinha, pega o frasco de medicamentos e toma dois comprimidos. Barbara preocupada.

BARBARA: - Você tá abusando, eu disse! Nem tirou os pontos ainda! Eu sei que adora brincar com o seu filho, mas agora precisa repousar.

Krycek segura o frasco de medicamentos, numa expressão de dor.

BARBARA: -Ratoncito, você devia ficar em casa.

KRYCEK: - Não, posso. Hoje encerro o caso do Smile, tenho que estar lá quando o levarem pra prisão.

Barbara olha para o relógio na parede.

BARBARA: - Então vai logo, você vai se atrasar... E não esquece o seu lanche!

KRYCEK: -Eu não vou levar, hoje eu volto mais cedo. Distrai o Dimi ou não vou conseguir sair. Ele vai chorar de novo.

Krycek dá um beijo no filho. Dimi faz beicinho pra chorar.

BARBARA: - Me liga depois, Grandão. Bom trabalho.

Os dois trocam um beijo. Barbara vai indo para a porta da varanda.

BARBARA: - Olha Dimi! Olha lá o Rasputin! Rasputin seu bobão, o que você tá fazendo no jardim? Vamos procurar as marmotas? Cadê a marmota, filho? Cadê?

Krycek sorri olhando pra eles. Com o coração apertado, veste o paletó, coloca o frasco de medicamentos no bolso e pega as chaves do carro, saindo em silêncio e fechando a porta.


Residência dos Mulder - 6:14 PM

Mulder, sentado à escrivaninha, falando ao celular e abrindo o e-mail no notebook.

MULDER: - (AO CELULAR) Chegou Skinner... Hum... Eu sei, já aventei essa possibilidade, mas não creio que seja uma armadilha... Não, o Rato está envolvido num caso de homicídio múltiplo e achamos que tem ligação com a Ordem dos Treze... Também pensei o mesmo que você, pelos tijolos do muro... Sim, parece ser uma construção antiga, deve ficar por Washington ou arredores, mas existem centenas de mansões da época da guerra civil... Certo, vou deixar você a par disso. Valeu, Skinner!

Mulder desliga. Começa a ler o e-mail.

MULDER: - O atual embaixador do Catar é Amir Alsaab, herdeiro da petrolífera Alsaab Company, uma multinacional de petróleo. (SORRI) É, combustível é um setor importante para o mundo... General Thomas Willis, faz parte da cúpula do Pentágono, assessor militar da Casa Branca e representante militar na ONU, ex coordenador de projetos secretos da Força Aérea em... Dreamland...

Mulder cerra os punhos, empolgado, socando o ar.

MULDER: - Yes!!!!!!!!!!!!!!!!!!! Faz todo o sentido! O Rato vai surtar! Temos todos os nomes de quem faz parte da Ordem dos Treze! Queria beijar a bunda do cara que me mandou essas fotos!!!

Mulder leva as mãos atrás da cabeça, olhando para a lista no e-mail.

MULDER: - A ligação entre eles é a importância no cenário mundial e satanismo. Continua sem sentido, Mulder. Por que caras assim seriam satanistas? Hum? Um bispo satanista? Islâmico satanista? General satanista? Banqueiro satanista? Merda, isso não faz sentido!

Scully entra no sótão com uma caneca de café. Mulder fecha rapidamente o notebook e disfarça.

SCULLY: - Café?

MULDER: - (SORRI) Sempre. E café com ruiva é melhor ainda.

SCULLY: - Greve de sexo, esqueceu?

Scully senta no colo dele, entregando a xícara.

SCULLY: - Eu realmente quero acreditar que fechou esse notebook quando entrei porque estava em algum site de pornografia. Hum? Me diz que estava fazendo isso.

MULDER: - ...

Scully se levanta.

SCULLY: - Ótimo! Mulder abandonou seus hábitos antigos, o que me faz pressupor que se não é pornografia, também não são aliens?

Mulder desvia o olhar.

MULDER: - Pesquisa.

SCULLY: - Pesquisa? Sabia que quando você mente desvia o olhar?

MULDER: - Sério?

SCULLY: - Sério. Chega, Mulder. O que está havendo? Eu sei que está investigando alguma coisa com o Krycek, que estão feito dois paranoicos com o fim do mundo!

MULDER: - (RINDO) Quê?

SCULLY: - Búnqueres. Água, alimentos, colchões, medicamentos, armas, barras de ouro... Ou algum ataque zumbi está previsto?

MULDER: - Não tem zumbis, Scully. Não mais do que já tem nessa sociedade cega que vive com a cara num smartphone. Se os aliens descessem agora eles nem notariam!

SCULLY: - Sindicato. Ordem dos Treze. Estou chegando perto.

MULDER: - Scully...

SCULLY: - Ahá! Aquela coisa de Nova Ordem Mundial. É isso, não é?

Scully puxa a cadeira, cruza os braços e as pernas e encara Mulder.

SCULLY: - Pode começar a falar, Fox Mulder! Qual o segredinho que Krycek e você estão escondendo?

MULDER: - (DEBOCHADO) Scully, eu quero o divórcio, não é nada com você. Não é fácil admitir isso, mas... Krycek e eu estamos apaixonados e vamos fugir juntos pra Sibéria.

Mulder se levanta e sai do sótão, segurando o riso. Scully abre a boca, incrédula.


Delegacia de Polícia – Precinto 11 – Divisão de Homicídios – Virgínia - 6:21 PM

Bishop sentado à mesa, aguardando a papelada que sai aos poucos da impressora. Krycek parado na janela, observando o carro de polícia levando Smile.

BISHOP: - Por que revirou a cela dele?

KRYCEK: - Pensei que ele deixaria algo pra mim. Algo que pedi. Mas ele não deixou. Se fosse eu no lugar dele... Eu teria deixado. (SORRI) É... Essa é a diferença. Eu teria deixado.

BISHOP: - Caso encerrado. Ele vai ficar enjaulado até o julgamento. No mínimo vai pegar perpétua.

KRYCEK: - Não vai. Ele negou tudo, mesmo depois das provas. Não confessou nada. Vai se safar.

BISHOP: - Tá maluco, Krycek? Ele nunca vai se safar, nem com o melhor advogado da cidade! O cara matou seis pessoas a golpes de facão, temos as provas, homicídio qualificado sem motivo algum, nenhum tribunal vai aliviar pra ele.

KRYCEK: - ... Espera e você vai ver. Alguém vai interceptar a viatura. Ou talvez ele vá escapar enquanto aguarda julgamento. Ele nunca vai chegar diante do juiz. Nunca.

Bishop acena negativamente com a cabeça e junta a papelada. Assina.

BISHOP: - Leia e assine o relatório. Depois coloca na sala do Norris. Os resultados dos tênis não chegaram ainda, portanto, não podemos reabrir um caso morto.

Krycek olha pra foto de Rose no mural.

KRYCEK: - Não importa. Nunca pegaremos os verdadeiros culpados. Smile é apenas um meio para um fim, até virar bode expiatório e ser morto.

BISHOP: - Parceiro, você tá bem? Quer ir pra casa? Aliás devia estar em casa!

Bishop sai da sala. Krycek respira fundo e então sorri cansado.

KRYCEK: - Eu teria deixado... O rato russo traidor e assassino, ainda assim teria deixado...


Residência dos Krycek – 9:32 PM

Barbara desce as escadas, pé por pé, de camisola curtinha, tamanco de saltos com pompons e falando baixo ao celular.

BARBARA: - (SUSSURRANDO/ AO CELULAR) No mamacita, no quiero que Dimi se despierte... Si, si... Comenzó a llorar cuando Alex se fue a trabajar... (SORRI) Dijo hoy su primera palabra: ¡Papa!

Barbara escuta a porta da cozinha fechando.

BARBARA: - (SUSSURRANDO/ AO CELULAR) Necesito colgar ahora. Mañana hablamos... Besos al papacito!

Barbara desliga o celular e coloca no aparador da sala. Pega o guarda-chuva e ergue, avançando até a cozinha, silenciosamente. Vê Krycek, perto do balcão da cozinha, tirando o paletó. Ela leva a mão ao peito, solta a respiração e o guarda-chuva.

BARBARA: - Credo, Ratoncito! Você me deu um susto!

KRYCEK: - Eu disse que ia chegar mais cedo.

BARBARA: - Mas não tão cedo!

KRYCEK: -(SORRI) E você ia me matar com o guarda-chuva, "Pinguim"?

Ela leva a mão aos lábios e ri.

KRYCEK: -E o Dimi?

BARBARA: - Tomou banho, mamadeira e já dormiu. E aí, encerrou o caso?

KRYCEK: - Encerrei... Malyshka, eu sei que você tá fazendo greve de sexo, mas a gente pode fazer outra coisa? Hum? É cedo pra dormir.

Barbara olha séria. Krycek leva a mão ao aparelho de som sobre o balcão.

[Som: Philipp Kirkorov - Zhestokaya Lyubov]

Barbara abaixa a cabeça e sorri. Krycek toma a mão dela e começam a dançar. Barbara recosta a cabeça no peito dele, fechando os olhos. Krycek beija a cabeça dela, apoia o queixo e fecha os olhos. Os dois dançam lentamente.

KRYCEK: - Ya lyublyu tebya, moya Malyshka*. (*Eu te amo, my Baby.)

Ela sorri. Ele beija a cabeça dela novamente, depois recosta o rosto, fazendo carinho.

KRYCEK: -A melhor parte do meu dia é voltar pra casa. Eu só não sabia que amar doía tanto.

Barbara olha pra ele, apaixonada. Passa a mão no peito dele, por sobre a camisa, pousando os lábios num beijo. Recosta a testa.

BARBARA: - Desde a primeira vez em que vi você, eu sabia que você seria o amor da minha vida. Só não sabia se conseguiria conquistar o russo esquivo, fugitivo, cheio de segredos e mistérios. O bonitão sério e invocado, da jaqueta de couro, brinco na orelha e uma automática debaixo da jaqueta. Pensei, maldita jornalista policial, se apaixona logo por um bandido de olhos verdes e fala mansa. E russo. Cubana com russo, a história já provou que é uma mistura explosiva, camarada.

KRYCEK: -Eu achava que você era mexicana. E pensei, droga, ela é latina e quente, eu russo e frio, isso nunca vai dar certo. Ela é passional e eu escondo as emoções. Ela é uma gata linda, dez anos mais nova, mulher demais pro meu caminhão, não tô com essa bola toda. Ela é jornalista, só quer me usar como informante, descobrir meus segredos e sair gritando por aí.

Ele envolve os braços nela, ela coloca as mãos no peito dele, se aninhando.

KRYCEK: - Nosso relacionamento se baseou na honestidade desde o início. Você disse que me amava, queria tentar e eu aceitei. Não fiz promessas, eu não amava você. Então o tempo mostrou o quanto a gente tinha em comum. Como não me apaixonar por quem me compreendeu e decifrou? Que mesmo sabendo do meu passado, nunca me condenou, me ajudou a ser alguém melhor... Eu nunca tive uma mulher como você, Malyshka. Que se importasse comigo de verdade. Que estivesse disposta a juntar os meus cacos e fazer casa no meu coração.

BARBARA: -O medo que eu tinha era você ir embora porque não me amava ou dar um tiro na própria cabeça por não conseguir lutar contra seus demônios. A certeza que eu tinha era que deveria ajudar você a superar tudo. Ai, Alex... A verdade mesmo só a gente sabe. Na nossa intimidade, você me conhece e eu conheço você. Meu Ratoncito romântico, ninguém nem suspeita desse seu lado sensível. Chega a ser engraçado, porque quem vê você lá fora, todo sério e invocado, morre de medo e nunca imaginaria como você é entre quatro paredes. Devem achar que você é estúpido comigo, ignorante, insensível, canalha e até mulherengo...

KRYCEK: -Não estraga a minha fama de mau, Malyshka! Sou o badboy, certo? Gera respeito.

Krycek olha pra ela e sorri. Barbara sorri olhando pra ele. Ele leva a mão aos cabelos dela, ajeitando atrás da orelha, olhando apaixonado nos olhos dela.

KRYCEK: - Nem sei mais quem era aquele cara, Barbara. Sete anos longe daquela vida. Quase uma década. Tempo suficiente para curar as feridas e enterrar o passado.

Barbara vira-se de costas. Ele a envolve pela cintura, apoia o queixo no ombro dela e continuam dançando de olhos fechados e segurando as mãos. Krycek canta o refrão da música, sussurrando no ouvido dela.

KRYCEK: -A ya i ne znal, chto lyubovʹ mozhet bytʹ zhestokoy... A serdtse takim odinokim... Ya ne znal... Ya ne znal*... (*Mas eu não sabia, que o amor pode ser cruel... E o coração pode ser tão solitário... Eu não sabia... Eu não sabia...)

Corte.

[Som: Philipp Kirkorov - Zhestokaya Lyubov]

Barbara cai por cima de Krycek no sofá, perto do piano. Krycek segura o rosto dela nas mãos, eles trocam um beijo ávido. Ela senta sobre ele, abrindo os botões da camisa e levando os lábios ao peito dele, em beijinhos suaves. Ele fecha os olhos, envolvendo a mão nos cabelos dela. Barbara procura com seus lábios os lábios dele. Esfrega seu nariz no dele e depois olha em seus olhos. Então toma os lábios dele. Krycek se vira sobre ela, ainda a beijando apaixonado. Solta os lábios, descendo-os pelo pescoço e o corpo dela, fazendo carinhos com as mãos, na pele que se arrepia. Barbara, já ofegante, revira o corpo, abre as pernas, envolvendo os dedos nos cabelos dele e fechando os olhos, num sorriso.


Residência dos Mulder – 10:21 PM

Mulder deitado na cama, segurando o controle remoto e assistindo televisão. Scully deitada de camisola, de costas pra ele, olhos fechados.

MULDER: - (DEBOCHADO) Depois de uma década as coisas esfriam.

SCULLY: - Do que está falando?

MULDER: - Nada.

Scully franze os lábios sem abrir os olhos.

MULDER: - No início é aquela coisa louca. Sexo pela casa toda. Depois é greve de sexo.

Scully abre os olhos. Senta-se na cama.

SCULLY: - Então, vai contar o que eu quero saber ou vai dormir assistindo...

Scully olha para a televisão. Ergue a sobrancelha.

SCULLY: - ... Um padre falando?

MULDER: - É a coisa mais broxante que achei na programação. Estava assistindo um documentário sobre leões, mas eles resolveram começar a fazer coisinhas.

SCULLY: - Por que os homens não vivem sem sexo?

MULDER: - Por que as mulheres vivem sem?

SCULLY: - Não tem nada pra você, Mulder. Está de castigo até me contar o que está tramando com o Krycek. Vocês dois estão de castigo.

MULDER: - Ah sim, quer apostar que aqueles dois estão se divertindo e a gente aqui assistindo televisão?

Scully afofa o travesseiro e se deita de costas pra ele. Fecha os olhos.

SCULLY: - Estão nada!

MULDER: - Scully, você esqueceu quando a gente estava no início da relação? Hum? Alguém mantinha a palavra? Aqueles dois ainda estão na fase do pega-pega!

SCULLY: - Problema da Barbara se ela cede aos caprichos do Krycek. Você continua de castigo.

MULDER: - Como pode ser tão má?

Scully segura o riso.

MULDER: - Tá bom. Vou assistir o padre falando, depois tem a missa...

SCULLY: - Isso aí, assim você reza um pouco. Jejum, Mulder. Jejum e abstinência caem bem.

MULDER: - Tira o meu almoço e jantar, mas não tira a minha sobremesa, Scully. Isso é crueldade contra os animais. Sabe que posso denunciar você para a sociedade protetora das raposas?

SCULLY: - Mulder, se não calar a boca, eu mesma vou fazer um casaco de pele com você.

MULDER: - Uh! Bruxa ruiva malvada! Deixa... Uma hora você vai vir se esfregando e vou deixar você na mão.

SCULLY: - Sem problema, Mulder. A minha mão e eu nos divertiremos sozinhas. Ah! Tem o vibrador. Aquele que eu comprei e você medrou, nem deixou eu tirar da embalagem.

MULDER: - Eu não vou competir com um vibrador!

SCULLY: - Quem falou em competição? O vibrador era pra você, Mulder.

Mulder faz cara de pânico. Scully afunda o rosto no travesseiro pra rir. Mulder, emburrado, vira-se de costas pra ela.

SCULLY: - Então? Topa? Sexo hoje só se for inversão de papéis. Fetiche cai bem. Hum, até fiquei excitada... Podemos brincar de eletricista. Sabe a coisa do fio terra?

Mulder rapidamente vira o traseiro para o colchão. Scully segura-se pra não rir. Mulder desliga a TV.

MULDER: - Você me dá medo, Scully! Boa noite!


Residência dos Krycek – 10:56 PM

Krycek, só de calças jeans, sentado no tapete e recostado no sofá. Barbara ao lado, trocando o curativo no braço dele.

BARBARA: - Hum, tá limpinho e bonitinho. Acho que vai cicatrizar rápido...

Barbara beija o curativo. Krycek sorri.

BARBARA: - Pronto, com amor cura mais rápido ainda. Meu Deus, Ratoncito, cada vez que você sai por aquela porta para trabalhar, meu coração fica apertado. Agora eu sei o que é ser casada com um policial. É insônia e medo do telefone tocar na madrugada.

KRYCEK: - Mas pelo menos se eu morrer, morrerei com honra, por estar fazendo a coisa certa. Você será uma viúva que poderá sair pela rua sem levar cuspidas na cara.

BARBARA: - Não pretendo ser viúva. Quero nós dois velhinhos, babando nos netos e se metendo na vida dos filhos.

Krycek sorri. Os dois trocam um beijo. Krycek leva a taça de vinho à boca. Barbara se recosta no sofá e pega a outra taça de vinho.

BARBARA: - Deve ser frustrante pegar um sujeito desses, sabendo o que ele fez e não ter como acusa-lo.

KRYCEK: - Eu não ia acusa-lo pela morte da Rose, não tenho provas. Eu só queria que ele me dissesse o nome dela. Não seria uma justiça, mas pelo menos eu saberia quem ela é, colocaria um nome naquele túmulo, encontraria a família... Então nessa hora coisas vieram na minha cabeça. Se eu estivesse no lugar dele, sabendo que o detetive na minha frente não tinha provas contra mim, eu não falaria naquele momento porque poderiam estar gravando... Mas eu teria deixado um bilhete na cela ou o nome escrito na parede, qualquer coisa. Isso não me incriminaria, entende? Contudo, daria uma resposta ao cara.

Krycek toma um gole de vinho. Barbara se recosta nele.

KRYCEK: - Eu teria dado o nome. E pensando nisso percebi que o certo mesmo seria se fazer de bobo como Smile fez, só que eu não faria. E lembrei de coisas do passado. Das vezes que burlei regras do Sindicato, dei informações ao Mulder, não atirei na cara dele... Isso me fez pensar que eu não era igual ao Smile. Eu não era igual a qualquer um deles. No fundo, por mais cretino que eu fosse, eu me arrisquei várias vezes fazendo a coisa certa. Nunca tinha pensado nisso, enxergado isso...

Barbara sorri.

KRYCEK: - No fundo, dentro do canalha que eu era, havia a minha natureza. Quieta, mas não adormecida. Uma natureza que contradizia a perversidade e me fazia ter atitudes que, pelo correto na lei dos canalhas, não deveria existir. Eu teria dado o nome, só para ajudar o detetive a encontrar a família dela. Eu me colocaria no lugar dele. Mas tudo o que falei para o Smile, ele ignorou, mesmo sabendo ser verdade. O que me fez pensar que existe gente ruim mesmo, que não quer mudar.

BARBARA: - Aliviou seu coração, Ratoncito? Hum? Saber que havia um pouco de luz dentro do sujeito do passado? Comparar o velho Krycek com Smile?

KRYCEK: - Aliviou, Malyshka... Muito. Aliviou perceber que eu não era o pior dos canalhas. Existe gente bem pior do que eu era.

O celular de Krycek faz barulho. Ele pega o celular do chão e olha a mensagem. Sorri triste. Solta o celular.

KRYCEK: - Bishop... Smile fugiu. Um grupo interceptou a viatura e o levou.

BARBARA: - Como você disse que aconteceria.

Krycek a abraça e beija os cabelos dela.

BARBARA: - Amor, e se os tênis baterem com o molde das pegadas?

KRYCEK: - Então terei algo para ligar Smile ao caso Rose. Agora ele é um foragido da polícia, vai dar um tempo longe daqui. Já deve estar no Canadá. Eles vão protege-lo até não precisarem mais dos serviços dele. Depois... Vão se livrar dele. É como funciona.

BARBARA: - Vamos pra cama? Hum? Quero dormir nos seus braços. Sabe que só isso cura minha insônia.

Krycek sorri e se levanta. Estende a mão e ajuda Barbara a se levantar.


Residência dos Mulder - 12:21 AM

Mulder insone. Scully deitada de costas, com olhos abertos. Mulder pensativo, olhando para o teto.

SCULLY: - Mulder, qual o problema?

MULDER: - Nada. Estou sem sono.

SCULLY: - Aposto que está doido pra voltar ao computador. Deve estar com a cabeça cheia de minhocas, pensando em coisas que não deveria pensar. As mesmas coisas que não quer me contar.

MULDER: - ... Só estou eufórico e ao mesmo tempo preocupado, porque a alegria do conhecimento se compara ao pavor de saber demais.

Scully se vira pra ele.

SCULLY: - Do que está falando, Mulder?

MULDER: - Nada. Não quero falar. Pode ao menos respeitar a minha vontade de ficar quieto?

SCULLY: - Por que não ocupa sua mente com outra coisa?

MULDER: - (DEBOCHADO) Porque a única outra coisa que ocupa a minha mente você não tá a fim.

Scully vira-se de costas pra ele. Fecha os olhos.

SCULLY: - Me conta o que está aprontando com o Krycek e esse impasse termina. E não venha com piadinhas bissexuais! Você pode me chamar de cruel, mas estou em nervos, preocupada que você esteja mexendo em coisas que não deveria mexer! E sabemos como isso termina. Você é uma criança, Mulder. Se está quieto, posso ter a certeza de que está aprontando. E se está aprontando, sempre vai haver retaliação. E não é a da minha parte que me preocupa.

MULDER: - Estou apenas sendo homem e fazendo coisas que homens fazem, ok?

SCULLY: - Por isso mesmo estou preocupada. Homem só faz merda! Tanto vai a raposa ao moinho que um dia deixa o focinho. Entendeu?

Mulder vira-se de costas pra ela. Continua pensativo.


Residência dos Krycek –7:01 AM

Krycek entra no banheiro, mordendo os lábios. Pega um copo e coloca água. Toma dois comprimidos do frasco e engole com água.

Krycek percebe os riscos roxos em seu braço. Ergue rapidamente a manga da camiseta e vê que eles saem da ferida e se espalham pelo braço. Krycek fecha os olhos, angustiado. Respira fundo. Pega o copo com a mão esquerda, mas não fecha os dedos. Ele força, mas os dedos não respondem. Dobra o braço e solta um gemido, segurando rapidamente o braço.

Dimi começa a chorar.

Krycek sai rapidamente do banheiro, atravessa o quarto e entra no quarto do filho. Se aproxima do berço.

KRYCEK: - Ei, o que foi, carinha?

Dimi estende os braços pra ele. Krycek tenta pegar o filho, mas não consegue. Então senta-se ao lado do berço, levando a mão direita sobre Dimi e o acalmando, com os olhos em lágrimas.

KRYCEK: - Vai ficar tudo bem, Dimi... Eu vou poder segurar e abraçar você de novo. Vai ficar tudo bem, filho... Eu prometi ensinar piano pra você, não prometi? Hum?

Corte.


Krycek entra no quarto. Barbara dormindo. Ele vai até o closet e veste uma jaqueta, com dificuldades. Barbara se acorda e senta-se na cama. Olha a hora no celular. Boceja.

BARBARA: - (SONOLENTA) Ratoncito, fica mais uns minutinhos na cama... Hum? Vem me abraçar, vem.

KRYCEK: - (ANGUSTIADO) Eu preciso ir, Malyshka.

Ele disfarça e sai rapidamente do quarto. Barbara deita-se novamente, fechando os olhos e abraçando o travesseiro dele.


Residência dos Mulder – 7:21 AM

Scully abre a porta dos fundos.

KRYCEK: - Tá sozinha?

SCULLY: - Com as crianças. Mulder foi ao mercado, esqueceu o leite.

Krycek tira a jaqueta. Scully arregala os olhos ao ver o braço dele.

SCULLY: - Oh, meu Deus Alex! O que...

KRYCEK: - (ANGUSTIADO) Eu não sei... Alguma coisa deu errado, começou depois que fui ferido. Me diz que meu braço não está gangrenando. Me diz que não vou perder meu braço novamente, Scully!

Scully puxa a cadeira e o faz sentar. Examina o braço dele.

SCULLY: - É o braço que...

KRYCEK: - Sim, o que perdi.

SCULLY: - Sente dor, está sensível?

KRYCEK: - Sim. Parece que meus dedos estão inchando.

SCULLY: - Estão mesmo, mas o braço não... É muito estranho. Pode ter sido uma bactéria na lâmina, mas... Você tomou as medicações, recebeu tratamento no hospital??? Trocou o curativo?

KRYCEK: - Sim, Scully. Fiz tudo isso, tomei até antitetânica! Meus dedos estão adormecidos e não fecham mais.

Scully toca o braço dele. Krycek grita de dor. Scully morde os lábios.

SCULLY: - Alex... E-eu nem como dizer isso, mas... Precisa ir pra um hospital agora.

Krycek abaixa a cabeça e começa a derrubar lágrimas. Scully fica aflita, sem saber o que fazer. Puxa uma cadeira e senta-se de frente pra ele.

SCULLY: - Como ficou assim tão rápido?

KRYCEK: - Scully, eu não sei que merda eles fizeram, entende? Foi uma experiência. E-eu sempre evitei machucar esse braço, eu tinha medo de que algo acontecesse e... Aconteceu.

SCULLY: - Precisa mesmo ir ao hospital. Eu levo você. Barbara sabe disso?

KRYCEK: - Não, ela não sabe que vai ter um marido aleijado e que minha carreira na polícia acabou e eu tô pouco me lixando pra tudo isso! O que dói mesmo é que nunca mais vou poder abraçar o meu filho!

Scully fecha os olhos, já em lágrimas.

KRYCEK: - Eu disse, não disse? Você colhe o que planta. Ainda estou colhendo meus erros! Pagando por tudo o que fiz. Meu Deus, até quando eu vou ter que pagar pelo meu passado?

MULDER: - (SÉRIO) Enquanto eu viver, nunca mais.

Mulder entra e coloca as compras sobre a mesa. Olha para o braço de Krycek.

KRYCEK: - Perdeu o parceiro, Mulder. Ainda tenho a direita pra atirar, mas não pode mais confiar sua vida a um aleijado.

MULDER: - Scully, não há como reverter isso? Hum?

SCULLY: - Mulder, eu nem sei como conseguiram criar um braço novo para o Krycek, quanto mais reverter esse processo de gangrena porque a situação aqui é especial. Podemos tentar o tratamento comum a todos os casos, antibióticos intravenosos, remoção de tecido morto, oxigeno terapia hiperbárica... Mas não temos garantia que vá funcionar.

MULDER: - Strughold sabe.

KRYCEK: - É, mas aquele desgraçado não é mais ele! Está morto!

MULDER: - Vou ligar pro Fumacinha.

KRYCEK: - Não! Chega, Mulder! Chega de dever favores a essa gente! Não há acordo com eles, entendeu? Pra cada pedido sempre tem algo em troca. É como negociar com o demônio! Talvez possam restaurar o meu braço, mas pedirão sua filha em troca disso!

Mulder fica angustiado. Scully anda de um lado pra outro, aflita, mordendo os lábios e sem saber o que fazer.

KRYCEK: - Eu nem devia ter vindo. Desculpem. Fiquem fora disso.

Krycek sai porta à fora.

MULDER: - Scully, não há outra maneira?

SCULLY: - Não, Mulder. Está gangrenando e se não tratarmos logo, as chances diminuem e será necessário cortar o braço dele para evitar um choque séptico. Uma infecção bacteriana originada no tecido com gangrena acaba por se espalhar pelo corpo levando fatalmente à morte. Podemos primeiramente tentar a cirurgia reconstrutiva.

Mulder abaixa a cabeça, em negação, angustiado.

SCULLY: - Mulder, é sério. Nunca vi isso. Existem três tipos de gangrena, seca, úmida e gasosa. Cada uma se origina de forma diferente e ele apresenta duas delas, aparentemente. A mão dele está inchando, sendo gangrena úmida, o braço secando como o tipo seca. Eu não sei o que fizeram para regenerar o braço de Krycek, mas certamente eles sabem como impedir o processo todo. O que faremos?

Mulder puxa o celular. Scully olha pra ele, angustiada. Mulder aperta uma tecla.

MULDER: - (AO CELULAR) ... Sou eu. Precisamos conversar. O braço de Krycek está gangrenando, tem alguma solução e o que quer em troca, "pai"?

Scully abaixa a cabeça, mordendo os lábios. Mulder desliga.

SCULLY: - O que o Fumacinha disse, Mulder?

MULDER: - Que vai entrar em contato... Eu vou atrás do Rato, Scully. Antes que ele enlouqueça. De certa forma, eu tenho minha parcela de culpa nisso.

SCULLY: - Mulder, não vai começar a...

MULDER: - Sim, eu tenho! Foi a minha maldita busca pela verdade que me fez leva-lo até Tunguska!

SCULLY: - Ele foi porque queria ir! Já tinha planejado isso, Mulder!

MULDER: - É, ele tinha planejado e eu não fazia ideia das outras contas que ele tinha pra acertar por lá! Ele pode ter armado como sempre fazia, Scully. Mas você já pensou por que ele me queria em Tunguska? Porque os russos queriam testar o óleo negro em mim, eles desconfiavam da minha imunidade, queriam uma vacina antes dos americanos, já que o cretino do Spender não tinha pressa em salvar ninguém, a não ser o próprio rabo! Vai condená-lo por isso também? Eu tô cansado, sabe? Cansado das pessoas não entenderem a merda toda desse jogo absurdo que a gente foi obrigado a jogar! E se quer saber, dane-se o passado, porque se começarmos a revirá-lo, eu vou encontrar muitas culpas próprias que eu quero esquecer!

SCULLY: - Mulder...

MULDER: - A começar por você! Você é a minha maior culpa, porque eu envolvi você na minha verdade e olha tudo que aconteceu! Ahn? Perdeu sua irmã, seus óvulos, ganhou um câncer, uma gravidez não esperada e teve um filho arrancado de dentro de você! Acho que eu tenho tanta culpa quanto o Krycek! A única diferença entre nós dois foi o lado em que jogamos, porque as merdas foram enormes em ambos os lados!

SCULLY: - Mulder, eu fui atrás de você por uma escolha! Você não tem culpa alguma!

MULDER: - Sério? Tem certeza? Então você fez pior do que o Rato. Você teve a opção de saltar fora e não quis. Você tem mais culpa ainda.

SCULLY: - Eu não acho que seja culpada por isso, Mulder!

MULDER: - Então não olhe para a culpa dos outros, Scully. Ele se sente culpado, eu me sinto culpado, quando na verdade os culpados verdadeiros tomavam champanhe enquanto os peões idiotas brigavam entre si. Quem luta, morre e se ferra são os soldados. Os generais ficam atrás das mesas, seguros, brincando de guerra. E se visualizar isso na sua cabeça, vai começar a entender quem eram os soldados idiotas.

Mulder sai porta à fora. Scully passa as mãos nos cabelos.

SCULLY: - Como se eu não soubesse que nós fomos os idiotas!


Residência dos Krycek – 9:13 AM

Dimi, de pijamas, brincando no tapete. Rasputin deitado ao lado dele, observando. Barbara vem do quintal com o cesto de roupas vazio.

BARBARA: - Bebê, você está brincando?

Dimi olha pra ela e sorri.

BARBARA: - Mama vai terminar a roupa e a gente vai passear de carrinho até o mercado, tá bom? Tomar ar e comprar frutas.

Krycek entra, deixando a porta aberta.

BARBARA: - Ratoncito, deixei sua xícara na mesa, você nem tomou café...

KRYCEK: - Precisamos conversar.

Barbara solta o cesto no balcão. Senta-se no banco. Krycek senta-se de frente pra ela.

KRYCEK: - Eu...

Ele abaixa a cabeça, segurando as lágrimas. Barbara começa a ficar tensa.

KRYCEK: - Se por acaso eu... Eu sofresse um infortúnio...

BARBARA: - Alex, o que está tentando me dizer?

Krycek não consegue falar. Tira a jaqueta, com dor. Barbara ao olhar o braço dele, enche os olhos de lágrimas e leva a mão à boca. Os riscos roxos aumentaram.

Mulder se aproxima da porta aberta e recua ao ver os dois.

KRYCEK: - ... Você não merece ter um marido inútil dentro de casa. Um aleijado que não vai poder mais abraçar você pra acalmar sua insônia e nem agarrar você quando salta em cima de mim. Nem cozinhar, limpar e ajudar. Que não vai mais poder cuidar nosso filho. Não vou mais abraçar o Dimi ou ensiná-lo a caminhar, tocar piano, violão... Haverá limitações, que eu tentarei de todas as formas minimizar. Reaprender. Eu já passei por isso...

BARBARA: - ...

KRYCEK: - (CHORANDO) Perdi meu braço, Barbara. É ele ou minha vida.

Barbara se levanta e se abraça nele, chorando. Mulder abaixa a cabeça, angustiado.

BARBARA: - Não diz mais nada, nem ouse dizer nada! Eu amo você e nada vai mudar. Nada, entendeu? Vamos enfrentar isso juntos, você nunca será um inútil, nunca, entendeu?

Os dois choram juntos e calados. Mulder recua em silêncio.

Corte.


[Som: R.E.M. - Drive]

O carro de Mulder estacionado na frente da sua casa. Mulder sentado dentro do carro, franzindo o cenho, segurando o choro, algumas vezes respirando fundo.

MULDER (OFF): - What if I ride? What if you walk? What if you rock around the clock? Tick-tock. Tick-tock*.

(*E se eu montar? E se você caminhar? E se você dançar ao redor do relógio? Tic-tac. Tic-tac.)

Mulder leva as mãos ao rosto, numa angústia visível. Esmurra o volante do carro. Então dirige a atenção pra Barbara que entra na picape de Krycek. Ela dá ré, levando as latas de lixo e toma a rua às pressas, completamente transtornada. Mulder olha para o som do carro, a faixa da música diz "Drive". Mulder liga o carro.


RBN Television - Washington D.C. - 10:55 AM

A secretária abre a porta. Barbara entra no gabinete, segurando a bolsa. Rockfell se levanta da cadeira indo ao encontro dela, todo sorriso.

ROCKFELL: - Quando a secretária disse Barbara Wallace está aqui... Quase não acreditei.

BARBARA: - (SÉRIA) Barbara Wallace Krycek.

Rockfell estende a mão para o sofá, num sorriso. Barbara senta-se, segurando a bolsa contra o corpo. Ele senta-se no outro sofá.

ROCKFELL: - Sempre linda...

BARBARA: - Poupe seus elogios cínicos, não estou aqui por você. Estou pelo meu marido.

ROCKFELL: - Ah! Você se casou com um mercenário que pensa que virou policial.

BARBARA: - Não, eu me casei com um homem maravilhoso e que me ama. Eu sei de tudo. Não me trate como uma idiota.

ROCKFELL: - Do que está falando?

BARBARA: - Das garotas que vocês pegam para fazerem rituais satânicos. Que Smile é o cara que faz isso pra vocês. O mesmo cara que feriu Alex e começo a achar que foi proposital! Confessa!

ROCKFELL: - Eu nem faço ideia do que você está falando. Seu marido se feriu? É grave?

BARBARA: - Justamente no braço esquerdo? Isso não me parece coincidência, me parece intencional.

ROCKFELL: - Juro que não sabia disso. Quer dizer que ele vai perder o braço? Nossa! Vai ser barra pra você, uma mulher linda e cheia de vida... Ter que conviver com um aleijado e limitado... Bom, ele não trata você com a pompa que uma mulher da sua estirpe merece. Você decaiu, Barbara. Essa vidinha de suburbana não lhe cai bem.

Barbara olha com ódio pra Rockfell.

BARBARA: - Sei que tem ligações com o Sindicato das Sombras. E sei que eles sabem como curar o braço do Alex, porque foram eles mesmos que o restauraram. E não perca seu tempo mentindo que não conhece a família Strughold porque eu sei que conhece. Você permitiu que aquele safado me sequestrasse para pegar a filha do Mulder. Deu ordens pra me matar. Strughold mesmo confessou na minha cara.

ROCKFELL: - Strughold está morto. Pode ficar tranquila.

BARBARA: - Eu sei que ele está, mas ele tem um filho médico que aprendeu tudo o que seu pai fazia.

ROCKFELL: - Barbara querida, o que está querendo...

BARBARA: - Quero que você fale com ele e recupere o braço do Alex.

ROCKFELL: - Supondo que sei do que está falando... O que eu ganharia em troca?

BARBARA: - Salve o Alex e a gente conversa. Você me convidou pra jantar porque tinha uma proposta a fazer. Faça. Estou aqui. Me diga o que quer. Eu farei, mas quero que recuperem o braço do meu marido.

Rockfell se levanta. Senta-se na mesa de centro, de frente pra Barbara. Olha pra ela num sorriso. Barbara séria, vira o rosto. Ele leva a mão ao rosto dela e Barbara dá um tapa no braço dele, o afastando.

ROCKFELL: - Sempre uma gatinha arisca... Não é agindo assim que vai conseguir minha ajuda. Se posso ajudar...

Rockfell leva as mãos aos joelhos dela. Barbara enche os olhos de lágrimas, mantendo o rosto virado. Ele leva as mãos por baixo do vestido, afagando as coxas. Barbara fecha os olhos, derrubando as lágrimas.

ROCKFELL: - Minha proposta é trazer você de volta a emissora... Minha eterna musa do jornal das oito... Minha âncora favorita... Nosso público e eu sentimos a sua falta.

Ele se levanta e senta-se ao lado de Barbara, que está humilhada. Ele aproxima o rosto do pescoço dela.

ROCKFELL: - Você volta para a RBN... (BEIJA O OMBRO DELA) Volta a ser âncora do jornal das oito... (DESCE A ALÇA DO VESTIDO) Salário a altura do seu profissionalismo, mais benefícios, viagens... (PASSA O DEDO ENTRE OS SEIOS DELA) Algumas joias, roupas de grife condizentes com esse corpo tão lindo e tão maltratado com trapos de liquidação... (LEVA A LÍNGUA NA ORELHA DELA) E pede divórcio... Sabe que tudo tem um preço.

Ele leva a mão entre as pernas dela. Barbara segura o choro.

ROCKFELL: - Você é uma formadora de opinião, tem um público fiel que acredita em tudo o que você diz, isso me convém... Você vem para o meu lado e eu falo com o Dr. Strughold para curar o braço do seu rato de estimação, mas isso significa que você vai deixa-lo. Temos um acordo?

Barbara se levanta.

BARBARA: - (ANGUSTIADA/ EM LÁGRIMAS) Cure o Alex. Eu aceito.

Rockfell se levanta, num sorriso. Vai até a porta e a abre. Barbara vai atrás dele, Rockfell a empurra.

ROCKFELL: - Senhorita Ulla, estou em reunião. Anote os recados e não me interrompa.

Rockfell fecha a porta, Barbara olha assustada, em lágrimas. Ele puxa o celular do bolso. Mostra pra ela o nome do Dr. Strughold. Ameaça levar o dedo para ligar, mas não o faz. Barbara vai recuando. Ele a agarra com violência, Barbara tenta se livrar, deixa a bolsa cair e acerta um tapa na cara dele. Rockfell leva a mão ao rosto, num sorriso diabólico.

ROCKFELL: - Quer mesmo o braço do seu marido de volta? Está a um toque do meu dedo. Então seja boazinha, me deixe aproveitar a diversão. Pagamento adiantado. Quando eu terminar de gozar, eu ligo. Estamos entendidos?

Ele a vira de bruços sobre a escrivaninha, com violência, erguendo o vestido dela, enquanto abre as calças. Barbara fecha os olhos, chorando calada, cerrando os punhos com ódio.

A porta se abre num chute. Rockfell se assusta. Mulder com a arma em punho mirando em Rockfell.

MULDER: - (GRITA/ ÓDIO) Pega essa porcaria e guarda dentro das calças antes que eu atire no seu pinto e você tenha que juntá-lo do chão!!!

Barbara chora, ainda jogada sobre a escrivaninha. Rockfell fecha as calças e ergue as mãos, recuando com medo.

MULDER: - (GRITA/ ÓDIO) Filho da puta!!!Vou ensinar você a respeitar uma mulher!!!

Mulder agarra Rockfell pelo paletó, empurrando ele pela sala.

MULDER: - (FORA DE SI) Seu desgraçado, miserável...

ROCKFELL: -(GRITA) Sai agora da minha sala, você não é mais um agente do FBI!

MULDER: -(FURIOSO) Ah, você me conhece? Porque eu tô conhecendo a sua cara asquerosa hoje!

Mulder puxa Rockfell e acerta a cabeça dele contra a parede. Rockfell, tonto, com a testa sangrando. Mulder o agarra e leva até a janela aberta, colocando metade do corpo de Rockfell para fora e mirando a arma na cabeça dele. A secretária entra assustada.

SECRETÁRIA: - Vou chamar a segurança, sr. Rockfell!!!

MULDER: - (GRITA/ FURIOSO) Isso! Chame a segurança e chame a polícia! Precinto 11, detetive Alex Krycek. Ele vai adorar atender essa ocorrência!!!

ROCKFELL: - (TENSO) Senhorita Ulla, é apenas um mal-entendido, certo? Nada de polícia! Por favor, eu resolvo! Agora saia!

A secretária sai desconfiada. Mulder aperta a arma na cabeça de Rockfell, que fecha os olhos, nervoso.

MULDER: -Eu voltarei. É uma promessa.

Mulder o puxa pra fora da janela e acerta um soco. Rockfell cai no chão, assustado, sem reagir. Mulder guarda a arma, se aproxima de Barbara, que está em choque, desce o vestido dela e a ajuda a se levantar. Barbara se abraça nele chorando. Mulder afaga os cabelos dela. Olha para o quadro na parede com um cavaleiro templário e a cruz templária.

MULDER: - Vem, vamos sair daqui.

Mulder pega a bolsa dela do chão. Os dois saem abraçados. Mulder aperta o botão do elevador. Os dois entram. O outro elevador chega. A porta se abre e os seguranças saem armados.

Corte.


Mulder sentado dentro do carro. Entrega uma garrafa de água pra Barbara, sentada ao lado dele, segurando a bolsa, olhos inchados de chorar. Ela pega a garrafa com as mãos trêmulas.

MULDER: - Beba, vai ajudar a se acalmar.

Ela bebe alguns goles.

BARBARA: - Obrigada... Você me salvou, Mulder.

MULDER: - Krycek também salvou a Scully muitas vezes. Não precisa agradecer, somos amigos. Eu vi você saindo de casa feito uma maluca, imaginei que faria uma loucura e resolvi seguir você. O que veio fazer aqui? Negociar a cura do Krycek?

Barbara afirma com a cabeça. Mulder respira fundo.

BARBARA: - (ÓDIO) Ele tinha como ajudar. Ele podia. Bastava uma ligação.

MULDER: - E sexo não consensual. Fiz errado salvando você?

BARBARA: - Mulder, você fez o certo.

Mulder abaixa a cabeça.

BARBARA: - Eu... (CHORANDO) Eu não estou tomando anticoncepcionais, Alex e eu estamos tentando outro bebê... Imagina se... Deus! Eu me mataria!

Mulder põe as mãos no rosto. Desce as mãos pelo rosto, em nervos.

BARBARA: - Você me salvou de novo, amigo.

Barbara respira fundo, tentando se acalmar.

BARBARA: - Para salvar o Alex... Pensei que poderia negociar de igual pra igual, mas... Ver aquele cretino na minha frente... Eu travei. Eu perdi a reação, eu bloqueei só lembrando das coisas que passei nas mãos dele! Eu podia ter reagido, chutado, dito que só faria aquilo depois que ele devolvesse o braço do Alex, mas não... O medo me deixou paralisada.

MULDER: - O Rato me disse que odiava esse cara pelas coisas que ele fez pra você, eu pensava que eram ciúmes, mas agora eu faço ideia... Hoje eu entendi contra quem estou lutando. Ele são piores que o Sindicato, eles não têm limites. Eles não prestam contas, eles são os donos do mundo.

BARBARA: - Basta nascer com uma vagina para que os homens sintam-se poderosos sobre você e se achem no direito de humilhar e tomar o que querem.

MULDER: - Lamento, Barbara. Nem posso dizer que você está errada, porque infelizmente a maioria dos homens é assim...

BARBARA: - ... Você não é. E nem o Alex. Ele nunca seria capaz de fazer uma coisa dessas, nem quando era um bandido.

MULDER: - Não posso dizer que está enganada, porque conheço o Krycek há mais anos que você e realmente ele era capaz de qualquer coisa, mas isso não. E olha que ele teve chances de fazer até com a Scully, mas o Rato nunca foi baixo a esse ponto.

BARBARA: - Meu Ratoncito... Nunca fui tratada como uma pessoa, apenas como um pedaço de carne, até conhecer o Alex. E você sabe como sou tratada por ele, feito uma princesa. Eu conheci o inferno e o paraíso nas duas únicas relações amorosas que tive. As aparências enganam não é? As pessoas veem Rockfell bem vestido, educado nas melhores universidades, dono de um conglomerado de comunicação e pensam: Ele é uma boa pessoa. Aí veem o Alex com um passado de crimes, uma jaqueta de couro, brinco na orelha, sem nem ter concluído os estudos e pensam: Esse não vale nada.

MULDER: - Nunca julgue o livro pela capa. Se fosse assim o que eu teria para ter chamado a atenção da Scully? O estranho versus os normais.

Os dois riem.

MULDER: - Barbara, eu entendo você. Eu também passaria dos limites pra salvar a Scully. Você não para pra pensar, você vai no calor do momento. Eu sou assim também. Se me derem uma solução, eu pago o preço. Agora você vai concordar comigo, porque você é diferente da Scully. Entende que isso é perigoso demais para envolver mulheres? Não é machismo, é proteção. Esses caras são capazes de qualquer coisa. Scully já sofreu horrores nas mãos do Sindicato, você acha que quero ela do meu lado lutando contra a Ordem dos Treze? Eles são a mater conspiratio! Tudo o que nos aconteceu foi permitido por eles! A cadeia da conspiração começa nesses caras e vai descendo até terminar nos Kryceks da vida.

BARBARA: - Eu sei, Mulder. Eu tenho noção disso. Nem questiono mais o Alex, eu só o abraço e o conforto, é o que posso fazer pra ajudar, ser o porto seguro do meu homem, renovar as forças dele, porque ele luta todos os dias para proteger a mulher e o filho. Seja o que for que vocês dois estiverem fazendo é para nos proteger. Não querem nos envolver por medo. Se algo acontecer será com vocês e não com as mães dos filhos de vocês. Ela poderá continuar cuidando do ninho. E isso não é um desmerecimento do papel da mulher.

MULDER: - Nem vou pedir para dizer isso pra sua amiga, porque ela vai brigar com você. Na cabeça da Scully ela tem que ser igual a mim, o homem, porque fazer papel de mulher é um desmerecimento, um ultraje, é admitir uma inferioridade que eu não sei de onde ela tira isso. Scully se diz feminista, mas fazendo isso me soa machismo, o feminista sou eu! Algumas vezes eu queria que a Scully tivesse um pouco do senso das coisas que você tem. Vocês mulheres fazem tudo, nós homens somos limitados a prover e cuidar. E até isso ela quer tirar de mim! Meu casamento tá virando competição, com beiço e interrogatório todo o dia.

BARBARA: - Eu posso falar com a Scully, com jeitinho.

MULDER: - Não, ela vai soltar os cachorros em você. Ela tinha mudado, mas já começou de novo. Eu não acho que seja o pior dos maridos pra ela me tratar assim. Eu vou resolver isso, já passou da hora. Enquanto aquela ruiva teimosa não souber o que Krycek e eu estamos fazendo, ela vai continuar de beiço pela casa. Eu sei que não é legal esconder as coisas de quem você ama, mas quando esconder envolve proteger?

Mulder liga o carro. Barbara abaixa a cabeça, segurando as lágrimas.

BARBARA: - Não conta o que houve pro Alex. Ou ele vai perder a cabeça e fazer merda. E quem vai perder é ele. Mais do que já perdeu...

MULDER: - Vou deixar você em casa. Scully foi pra lá ficar com o Dimi, Krycek teve que ir pra delegacia. Vou resolver algumas coisas e vou atrás do seu marido.



Residência dos Krycek – 12:56 PM

Debaixo do chuveiro, Barbara chora calada, quase rasgando a pele de tanto se esfregar.

Scully sentada no vaso, segurando a toalha e derrubando lágrimas. Scully se levanta, abre o box. Fecha o chuveiro e abre a toalha. Envolve no corpo de Barbara, que começa a esmurrar a parede aos gritos histéricos. Scully puxa a amiga de frente pra ela e a abraça com força e com um olhar de tristeza. Barbara se abraça nela, chorando como criança.

SCULLY: -Aquele canalha mexeu com traumas que você guardou. Vem, vou dar um calmante pra você... Vai ficar tudo bem, amiga... Vai ficar tudo bem...

Barbara chega a soluçar. Scully afaga os cabelos dela.

BARBARA: -(CHORANDO) Eu não pude fazer nada pelo Alex!

SCULLY: - Eu sei o que é ser humilhada por um homem. Eu entendo o sacrifício que se faz por quem a gente ama. Eu teria feito o mesmo pelo Mulder. Podia ter sido pior, ok? Ele podia ter estuprado você.

BARBARA: - (CHORANDO) Eu fui idiota, não fui? Pode dizer.

SCULLY: - Foi idiota sim, tanto quanto eu seria idiota se fosse o Mulder que estivesse na situação do Alex. Vem, é melhor você deitar um pouco. Não se preocupe com o Dimi, eu vou ficar por aqui.


2:11 PM

Na frente da delegacia, Mulder abre a porta do carro. Krycek entra, segurando uma garrafa de água. Mulder toma a rua, nervoso. Então estaciona o carro. Fica triste e cabisbaixo. Krycek toma dois comprimidos com a água.

MULDER: - (FRUSTRADO) O Fumacinha disse que alguém lhe devia um favor, mas não ia queimar esse favor para salvar a sua pele.

KRYCEK: - (OLHA PRA MULDER) E você achou que a resposta seria outra, Mulder? Hum? Acha mesmo que alguém nesse jogo, além de você, se importa comigo?

Mulder esmurra o volante com raiva.

MULDER: - Malditos desgraçados! Malditos, malditos, malditos!

Mulder está fora de si.

KRYCEK: - Não se sinta culpado, você tentou tudo o que podia. Vou fazer o que Scully disse. É melhor estar vivo e sem um braço que com dois braços e morto. Tantas pessoas vivem assim ou pior, Mulder. E vivem. Elas superam a si mesmas. Certo? Eu vou superar, já passei por merdas enormes e não vai ser isso que vai me fazer desistir. E já passei por essa merda antes, ok? Uma prótese resolve esteticamente. Só que dessa vez eu tenho apoio emocional. Tenho uma mulher e um filho que me amam. Antes eu não tinha nada. E é assim que estou encarando a situação.

MULDER: - Não é justo! Não é! Entendeu? Estamos chegando na droga da verdade sobre a mãe das conspirações! E se mandaram aquele cara acertar o seu braço de propósito?

KRYCEK: - Mulder, esses homens são espertos, mas eles não têm uma bola de cristal. Eles não poderiam forjar tudo isso para me atingir. Não tem como. Eles mandaram Smile pegar uma garota, não teriam como prever que ele cometeria um erro, e que eu, justamente eu atenderia a ocorrência... Eles queriam o serviço feito! Eles podem forjar situações, mas não nesse nível.

MULDER: - (PENSATIVO) Eles não têm bola de cristal, mas conheço alguém que tem e poderia forjar isso pra ferrar você e me atingir...

THE GOLD COIN: -(DEBOCHADO) Problemas, meninos? Seu anjo da guarda chegou.

Os dois se viram assustados para trás. Coin sentado no banco de trás, olhando pra eles num sorriso debochado. Krycek leva a mão ao bolso puxando a arma e Mulder se vira para agarrá-lo. Coin recua contra o banco.

MULDER: - (FURIOSO) Basta pensar no diabo e ele aparece!

THE GOLD COIN: - Estou aqui para oferecer ajuda e sou tratado desse jeito?

MULDER: - (FURIOSO) Alienígena desgraçado, mentiroso e covarde! Eu ainda vou provar que se você sangra, também pode morrer!!!

THE GOLD COIN: - Controle seus ímpetos, Fox Mulder. Vim em paz. Como está seu braço, Alex Krycek?

Krycek não olha pra trás. Observa Coin pelo retrovisor, com medo. Mulder percebe.

MULDER: - Não precisa ter medo do diabo, Krycek. Ele é um mágico barato, cheio de truques baratos e nem revela a sua verdadeira face. Fica brincando de ator de cinema.

THE GOLD COIN: - Quer seu braço de volta, Alex Krycek? Podemos negociar.

KRYCEK: - Não quero negociar nada com você.

MULDER: - O que quer negociar? Minha filha? Vai começar novamente com...

THE GOLD COIN: - Quero Spender morto. Matem ele e Krycek terá seu braço novamente. É um pedido bastante razoável, acho que concordam.

Krycek e Mulder se entreolham.

THE GOLD COIN: - Quero que os dois façam o serviço.

Coin entrega um envelope pra Mulder.

THE GOLD COIN: - Passagens de avião para o Canadá, reservas num hotel cinco estrelas e o endereço de uma cabana em Banff. Pra você será fácil, Alex... Afinal já matou um pai do Mulder. E pra você, Mulder, será fácil também, afinal ele nunca foi seu pai realmente.

KRYCEK: - O que vai ganhar com a morte dele?

MULDER: - Boa pergunta! O velho está fora e não tem incomodado ninguém.

THE GOLD COIN: - O que ganho ou não é assunto meu. Assim que ele estiver morto, e saberei se está realmente, porque eu tenho olhos em todos os lugares... Krycek terá seu braço curado. Eu mesmo curarei. Sou um anjo e posso fazer isso num estalar de dedos. Mas apressem-se. Curar é uma coisa. Regenerar é outra e isso não depende dos meus talentos. Se acham que eu sou o diabo, não imaginam como é o filho do Strughold.

Mulder e Krycek se entreolham. Mulder olha para trás. Coin sumiu. Mulder olha pra Krycek.

MULDER: -(ANGUSTIADO) ... A decisão é sua.

KRYCEK: - (ANGUSTIADO) Não. É sua. É o seu pai. E eu jurei que não mataria seu outro pai, Mulder. Eu não quero esse sangue nas minhas mãos novamente. Não vou negociar com o diabo e nem você vai. Não percebe o jogo dele? Ele quer nossas almas, Mulder! Pode até devolver o meu braço, mas acha que vou dormir em paz? Não mesmo!

MULDER: - Não me venha com visão religiosa da coisa quando eu já sei a verdade sobre eles! Coisas do tipo é melhor entrar maneta no céu que com duas mãos no inferno.

KRYCEK: - E isso muda a verdade? Vender a alma pra ele é se vender pra ele! Ele sempre vai cobrar mais e mais, até não sobrar sanidade alguma em você! Mulder, ele é uma inteligência superior, não brinque com esse cara. Ele nunca dá ponto sem nó e talvez você esteja certo mesmo. Ele calculou tudo até aqui, até a minha desgraça, como calculou daquela vez com a Scully! Acredita mesmo que vou dar essa vitória pra ele? Perco o braço, mas o Moedinha não vai vencer!

Mulder esmurra o volante, perturbado. Os dois ficam em silêncio.

Residência dos Krycek – 3:56 PM

Scully na cozinha de Barbara, recostada no balcão, braços cruzados, num olhar de ódio. Mulder entra.

MULDER: - A Baba está lá em casa com o Bryan e o Dimi... Victoria acabou de chegar da escola e...

SCULLY: - Liguei pra Baba ficar com as crianças. Ela não vai voltar pra agência hoje.

Mulder olha pra Scully a interrogando com os olhos.

SCULLY: - Agora vamos ter uma conversa séria, Mulder! Que diabos está acontecendo? E não tenta mentir, não desvia o assunto e não me dá as costas!

Mulder faz cara de pânico.

SCULLY: - (RAIVA) Vocês acham que fazem sacrifícios pela família? Acham mesmo? Pois não imaginam os sacrifícios que a gente faz por vocês! Eu tive que sedar a Barbara!

MULDER: - Eu posso imaginar, ok? Fui eu quem salvou ela de ser estuprada por aquele canalha!

Krycek entra. Olha pra eles.

KRYCEK: - O que está acontecendo?

MULDER: - Nada. Erramos de casa. Já estamos saind...

SCULLY: - Não! Não vamos sair daqui até vocês dois contarem que droga está acontecendo! Passou da brincadeira, entendeu?

KRYCEK: - E quem está brincando aqui?

SCULLY: - Por que arrumaram os búnqueres? O que estão investigando às escondidas? Estão mexendo com gente perigosa! Gente capaz de qualquer coisa! Gente que está retaliando vocês, a começar pelo braço do Krycek!

Krycek vai até a cozinha, abre o armário ao lado de Scully. Tira uma garrafa de vodca. Scully o ajuda, pegando três copos e a garrafa.

SCULLY: - Ótimo, porque também estou precisando!

Mulder abaixa a cabeça. Scully senta-se no sofá do estar íntimo e serve os copos. Barbara entra, vestida num robe de banho, olhos inchados. Krycek ao vê-la, aproxima-se angustiado.

KRYCEK: - Malyshka... O que aconteceu?

BARBARA: - (SORRI) Nada, amor da minha vida.

KRYCEK: - (TRISTE) Eu sei porque está assim...

Mulder olha pra Barbara, que devolve um olhar implorando silêncio. Depois olha pra Scully, que entende. Barbara segura o choro e abraça Krycek, que leva o braço direito, a apertando contra si, beijando-a nos cabelos. Scully empina um copo de vodca e serve outro.

SCULLY: - Ótimo. Agora que estamos todos aqui, comecem a falar. Porque se não falarem, eu vou sair daqui, pegar o carro e ir pedir ajuda para o Skinner!

Mulder pega um copo de vodca, empina num gole. Vai até a porta da varanda, respira fundo. Coloca as mãos na cintura.

MULDER: - Antes de mais nada, Barbara... Quero dizer que Krycek nada contou pra você porque eu pedi a ele. Eu temia que você contasse pra Scully. O que ocultei da minha mulher foi apenas para protege-la. E eu sei que ela não entende isso.

Scully olha irritada pra Mulder.

MULDER: - Como sabem, a mãe de todas as conspirações se chama Ordem dos Treze, composta por treze homens importantes, empresários, que detém segmentos econômicos estratégicos para a sobrevivência humana. Eles são satanistas. Krycek e eu descobrimos mais nomes. Agora sabemos os nomes de todos eles.

BARBARA: -Como chegaram aos treze nomes?

MULDER: - Alguém colocou debaixo da porta da agência treze fotos de placas de carros entrando numa mesma casa e uma foto do número da casa. O Rato checou as placas e chegou aos nomes. Passei os nomes pro Skinner que mandou as informações. Chequei as informações e descobri endereços e nenhum mora em uma casa de número 322, portanto, deve ser o local aonde se encontram. Nomes importantes apareceram, como um bispo do Vaticano, um general do Pentágono, empresários de diversas partes do mundo e Chandler West, pai do menino que está na profecia juntamente com Victoria e a filha do Robinson, que também faz parte da Ordem com Rockfell e Coin, o popular senhor Alberthi.

Scully fecha os olhos.

SCULLY: - Quem mandou as fotos, Mulder?

MULDER: - Não sei.

KRYCEK: - Não encontrei digitais no envelope e nas fotos. O cara que as enviou tomou cuidado para não ser identificado.

BARBARA: - Fumacinha?

MULDER: - Ele me disse que não. Ele não sabe a identidade de todos esses caras.

SCULLY: - E se for uma armadilha?

MULDER: - Pensamos nisso, mas não faz sentido. Talvez quem enviou tenha medo de se expor. Precisamos encontrar esse cara, mas não sabemos por onde começar. Sobre o búnquer. Em alguns anos, esses caras tomarão o poder do mundo, por mais impossível que pareça. Eles têm muitos governos nas mãos. Trabalharam muito para endividá-los.

KRYCEK: - A Nova Ordem Mundial. Um governo regendo os outros. Uma ditadura. Perseguições. Chips de rastreamento, compra e venda. Estamos tentando deixar um lugar e ouro para nossos filhos terem como sobreviver a esse horror. Ouro não é rastreado. Nunca será.

MULDER: - Principalmente sabendo que a Ordem quer Victoria. E se eles querem minha filha é porque ela vai incomodar. E eu não quero morrer sem deixar um futuro garantido para os meus filhos. Nem o Rato quer. O que estamos fazendo é criando um lugar seguro, a fim de proteger nossas famílias quando isso começar, até podermos fugir... Eles virão atrás de nós, podem ter certeza disso.

KRYCEK: - Assim teremos um local seguro para esperar até a hora em que desistam de nos procurarem. Depois fugiremos pelo esgoto. Já traçamos um plano de fuga. Deixaremos nossos trailers no estacionamento há três quadras daqui. O próximo passo é encontrarmos algum local ermo para comprar uma cabana. E isso decidiremos com vocês. Por isso é importante que Mulder aprenda coisas básicas, como mecânica e consertos, porque não poderemos nos expor e aparecer muito. Como vivem as pessoas no Alasca e na Sibéria. Elas se viram sozinhas porque tudo é muito longe e de difícil acesso.

Scully olha incrédula.

MULDER: -Algo como plantar, colher, caçar e criar galinhas. E os búnqueres servirão também como um local seguro para nossos filhos terem aonde se esconder quando precisarem. Eles vão crescer, precisam estudar, vão querer ver o mundo e precisam ter um local na cidade para fugirem se algo der errado.

SCULLY: - Vocês dois enlouqueceram!

MULDER: -Colocar o chip no corpo é perigoso, principalmente Victoria. Eles terão como ser rastreados e pegos. O Fumacinha alertou que o chip pode ser anexado sob a pele com um fita especial, porque uma vez colocado o chip subcutâneo...

KRYCEK: - Não podem tirar sem que libere uma toxina no organismo. E sem chip, eles não podem comprar nem comida. Portanto, melhor ter ouro. Não é o futuro que queríamos deixar pra eles, mas é o que podemos fazer para melhorar a vida deles e dos filhos deles.

Barbara se abraça em Krycek. Scully abaixa a cabeça, desanimada.

KRYCEK: - Não sabemos quando vai acontecer, apenas que vai acontecer. Podemos não estar mais vivos, mas nossos filhos e os filhos deles estarão. É o que podemos deixar de herança para eles e nossos descendentes. Vale todo o esforço pelo futuro.

SCULLY: - Meu Deus! Vocês realmente têm certeza disso?

MULDER: - Temos, Scully. Eu sei que você não acredita, sei que pensa que ficamos doidos. A única forma de saber o que a Ordem está fazendo é conhecendo melhor quem eles são. Porque depois que eles dominarem o mundo, Coin vai tomar o doce deles. Então imagine esse planeta tomado por alienígenas superiores a nós. Um mundo subjugado pelas trevas. Que chances as crianças terão? Ahn?

Scully põe as mãos no rosto.

SCULLY: - Era melhor não saber disso.

MULDER: - Eu vou pra casa, fazer a mala. Preciso ir ao Canadá.

SCULLY: - Quê?

Krycek segura Mulder.

KRYCEK: - (FURIOSO) Eu não vou com você! Entendeu? Eu não vou matar mais ninguém, nem mesmo aquele desgraçado!

MULDER: - Ótimo. Fique com as garotas e proteja nossas famílias. Eu vou sozinho.

BARBARA: - Ir aonde? Do que estão falando?

KRYCEK: - (FURIOSO) Você não vai, entendeu? Não vai!!!! Eu não vou permitir que suje suas mãos com o sangue do seu pai! Vai ter que me matar primeiro se quiser sair por aquela porta!

SCULLY: - O que está acontecendo?

MULDER: - (IRRITADO) Ele já tentou me matar, eu posso mata-lo!!!

KRYCEK: - (GRITA) Não, não pode! Porque no fundo você gosta dele, apesar dos pesares! Por mais merda que ele seja, ainda é seu pai! (RESPIRA FUNDO) Mulder, me escuta, por favor, deixa a teimosia de lado e me escuta.

Mulder vai saindo, Krycek o puxa pelo braço.

KRYCEK: - Mulder, não percebe? Ahn? Você mesmo disse que ele não queimaria um favor comigo. Se ele tem um favor pendente, pode acreditar que é um grande favor! E quem poderia dever algum favor pra ele? Ahn? Raciocina, Mulder! Por que Coin quer o velho morto?

MULDER: - Acha que Coin deve favores ao Fumacinha?

KRYCEK: - Mulder, o velho é o único que sabe a verdade sobre quem é Coin! Se alguém pode abrir a boca e ser acreditado é ele!

MULDER: - Ele me disse que aqueles anjos que estavam se passando pelos homens do Sindicato sumiram! Que o filho do Strughold vai assumir o Sindicato com novos homens e...

KRYCEK: - Agora sim eu tenho mais certeza ainda sobre o que estou dizendo! Mulder e se o velho abre a boca para o filho do Strughold? Ahn? Ele como responsável pelo Sindicato vai até a Ordem entregar a identidade real do Coin! O Moedinha não quer arriscar! Quer o velho morto! O que Coin ganha com isso, além de eliminar o Fumacinha? A sua alma, Mulder!!! Por mais canalha que seu pai seja, você vai cometer uma infração contra Deus! Lembra do mandamento?

MULDER: - (ALTERADO/ GRITA) Não me venha jogar mandamentos na minha cara, Rato! Não matarás é um deles e você nunca deu ouvidos!!!

Krycek acerta um soco em Mulder, que cai por cima da mesa. Mulder olha assustado pra ele. Scully e Barbara se entreolham sem entender nada.

KRYCEK: - (IRRITADO/ AOS GRITOS) Vem, não liga se só tenho um braço, não se sinta um covarde por me bater! Anda! Vem que eu vou acertar sua cara até recuperar o juízo! Meu braço não vale a alma de ninguém! É apenas um braço, eu ainda tenho outro! Você não pode negociar com o diabo, Mulder!!!

SCULLY: - Do que estão falando?

KRYCEK: - Coin ofereceu ajuda em troca da morte do Fumacinha! E foi categórico em dizer que queria nós dois no serviço! Eu não vou! E Mulder não vai sair daqui!

SCULLY: -(IRRITADA) Ah, mas não vai mesmo!

MULDER: - Eu não acho justo que Krycek perca o braço! Antes ele que aquele desgraçado que me ferrou a vida toda!

KRYCEK: - E eu, não ferrei com você também? Ahn? Qual a diferença?

Mulder começa a chorar.

MULDER: - (REVOLTADO/ MAGOADO) Você me salvou quando ele queria me matar. Essa é a diferença!

KRYCEK: - Mulder, me escuta, você está abalado, todos aqui estamos abalados, ok? Mas vamos fazer a coisa certa. E matar o velho não é a coisa certa.

BARBARA: - Mulder, escute o Alex. Você mesmo admitiu pra mim que também é impulsivo. Agora é hora de pensar, ou você vai meter os pés pelas mãos como eu fiz!

SCULLY: - Escute os dois, já que nada do que eu falar vai convencer você! Mulder, coloque seu juízo no lugar!

Krycek tira a jaqueta, o braço agora seco e quase que totalmente roxo. Barbara se recosta no balcão e começa a chorar. Krycek senta-se na outra cadeira, cabisbaixo. Scully fica nervosa olhando pra Mulder chorando, Barbara chorando e Krycek sem saber o que fazer.

SCULLY: - Alex, vamos para o hospital, antes que o pior aconteça.

BARBARA: - E se Rockfell ligar?

MULDER: - Ele não vai ligar, Barbara!!!!

KRYCEK: - O que Rockfell tem a ver com isso? Alguém pode me explicar?

Scully senta-se numa cadeira. Põe as mãos no rosto.

SCULLY: - Meu Deus! O pesadelo só começou! Barbara conta de uma vez. Essa coisa de segredos não funciona em casamentos! (OLHA IRRITADA PRA MULDER) Melhor a verdade sempre!

MULDER: - (SECANDO AS LÁGRIMAS) Me perdoa, tá? Eu sei que prometi sempre contar a verdade, mas eu ocultei por amor a você! Scully, eu quero proteger você, por favor, me deixa ser homem e cuidar de você e dos nossos filhos! Olha pra você, acha que estou louco e neurótico! Mudaria alguma coisa se eu tivesse contado antes?

KRYCEK: - Que verdade, Barbara? Você foi falar com ele? Pedir favores?

BARBARA: - Eu não tinha outra alternativa pra salvar você!

Barbara volta a chorar. Scully se levanta.

SCULLY: - Ok, ok. Vamos nos centrar numa solução! Ninguém vai nos ajudar!

KRYCEK: - Vou para o hospital agora, essa é a solução mais prática.

MULDER: - Krycek... Eu não me importo em fazer isso pra salvar você.

BARBARA: - Eu faria qualquer sacrifício pra salvar o braço do Alex, mas isso não, Mulder. Matar seu pai não. Alex tem razão.

KRYCEK: - Não sei o que Rockfell prometeu, Malyshka, mas não vai cumprir! Esperar ajuda de Rockfell ou Coin é um tiro no escuro! Um é um diabo e o outro é o próprio demônio!

MULDER: - (PERTURBADO) Eu tô ficando louco! Não sei o que fazer!

KRYCEK: - Eu já disse o que fazer. O braço é meu, eu decido! Vá pra casa conversar com sua mulher e façam as pazes. Preciso do seu cérebro e instinto funcionando e doido desse jeito você não ajuda em nada, Mulder! Eu vou para o hospital resolver isso. Só fica de olho na minha família, eles estarão sozinhos aqui. Ninguém vai matar mais ninguém. Chega! Chega de sangue, pelo amor de Deus!

Krycek se levanta, perturbado, olhos marejados, segurando o choro.

KRYCEK: - Eu não valho o sacrifício de nenhum de vocês! É apenas um braço, eu já o perdi, vou me adaptar novamente! Chega de sangue, de negociações, de sacrifícios... Sempre terminamos sofrendo com isso! Não podemos negociar com eles, nem com o diabo... (OLHA PRA BARBARA) O que negociou com ele?

Barbara fica calada. Os olhos de Krycek começam a brilhar de ódio. Scully morde os lábios. Krycek se levanta.

KRYCEK: - (GRITA/ ÓDIO) Não... Não, não, não!!!!!!!!!!!!!!

Agora é Mulder quem segura Krycek.

KRYCEK: - Você não fez isso pra me salvar, fez?

Barbara se levanta e se atira no sofá. Tenta não chorar, mas coloca o braço no encosto e abaixa a cabeça, chorando. Krycek derrubando lágrimas e cerrando o punho.

MULDER: - Ok. Agora temos mais um pra matar.

Scully se põe na frente da porta.

SCULLY: - Será que eu sou a única aqui dentro usando a razão? Ahn? Podemos nos acalmar e discutir possibilidades antes de pegar as armas e sair atirando?

Krycek se levanta, segurando o braço que já não se movimenta mais. Senta-se ao lado de Barbara. Leva a mão aos cabelos dela, a puxando contra si. Barbara se abraça nele, chorando, enquanto ele em silêncio a consola afagando seus cabelos.

KRYCEK: - O que ele fez para você? Hum?

SCULLY: - Barbara foi implorar e negociar para salvar você, coisa que eu também teria feito pelo Mulder. Rockfell quer que ela volte ao jornal dele e deixe você, assim Strughold devolverá o seu braço. E ela faria, não duvide disso! Como eu faria também se estivesse no lugar dela! Mas o cretino, filho da mãe, tentou estuprá-la e só não conseguiu porque Mulder chegou há tempo.

BARBARA: - Ratoncito, me perdoa...

KRYCEK: - Você não tem culpa de nada, Barbara. É uma ovelha tentando jogar com lobos. Por isso não queremos envolver vocês nisso, esses caras são capazes de tudo. Mulder, obrigado.

MULDER: -Não me agradeça, Rato. Eu quero matar esses caras. Eu juro que eu quero matar!

KRYCEK: - Eu tenho motivos pra matar aquele filho da mãe por ter encostado na minha mulher e mesmo assim não vou fazer isso! Sabe porquê? Porque eu vou pegá-lo de outro jeito! Não vou mais sair atirando e matando como um executor, a vingança não me levou a nada! Quando me vinguei do Sindicato, abri as portas para o Coin infiltrar anjos dele lá dentro, entendeu? Chega de vingança e sangue. Vamos ter que usar o cérebro agora. E você é o cérebro aqui, Mulder!

SCULLY: - Graças à Deus, alguém finalmente falou a minha língua!Mulder, estamos nas mãos deles agora, ok? A solução é Alex perder o braço. Ou vai perder a mulher e você perder sua alma. Até aonde vamos com isso? Hum? Krycek tem razão. Chega de sangue. Chega de negociações. Nós sempre saímos perdendo! Parece fácil falar, mas não é! Eu sinto muito por você, Alex, mas precisamos pensar que você vai perder a Barbara também, porque ela está a um passo de voltar lá e se submeter a sabe Deus o quê pra salvar você!

Krycek olha incrédulo pra Barbara.

BARBARA: - Eu aceito tudo, desde que você fique bem.

KRYCEK: - Você pirou de vez?

MULDER: - Agora eu vou ter que dizer novamente que você é impulsiva! E acrescentar: doida!

BARBARA: - Pelo menos você não vai precisar matar o seu próprio pai, porque igual também está louco além de ser impulsivo!

SCULLY: - Alex, ela já está sofrendo e vai sofrer mais ainda tendo que abandonar a família que ela tanto desejou. Mulder, eu me coloco no lugar dela. No dele e no seu. Por favor, deixa as coisas como estão. Existe uma justiça maior lá em cima, mesmo que você não acredite ou acha que é letárgica. Não é.

Scully abraça Mulder.

SCULLY: - Vamos continuar lutando, Mulder. Não me poupe de mais nada. Estamos juntos, sempre foi assim, não é porque eu estou correndo atrás dos meus sonhos que vou abandonar a nossa causa! Nossa, entendeu? Estou no meio disso, assim como todos aqui estão! Vamos sim lutar juntos contra esses homens, mas dentro das nossas limitações. Não somos mais parte da lei e do que adiantaria ainda ser parte dela, se eles estão acima das leis?

Mulder cutuca Scully. Sinaliza com a cabeça. Scully olha para Krycek e Barbara, com as testas coladas.

BARBARA: - Depois que Strughold curar você, eu volto, quebro a promessa e...

KRYCEK: - Barbara, não faz isso. Eu imploro. Tá tudo bem, certo?

BARBARA: - Não está não. Amor, eu prometo, tá? Cuida do Dimi. É só até você ter seu braço novamente, eu fujo dele, eu dou um jeito, a gente vai ser uma família de novo...

Scully suspira olhando pra Mulder. Mulder abaixa a cabeça, levando a mão e procurando a mão dela. Mulder aperta a mão dela na sua. Scully aperta a mão dele.

SCULLY: - Não, chega disso, eu não aguento mais, é um déjà vu de nós dois! Barbara me escuta! Não faça essa besteira! Entendo seus motivos, mas não faça isso, por favor!

MULDER: - Barbara, eles querem afastar vocês dois. Como tentaram conosco.

SCULLY: - Inúmeras vezes. Porque sabem que vocês dois são uma força.

KRYCEK: - Escute o que eles estão dizendo, Malyshka. Eles falam com propriedade. Eu sou testemunha. Não vá embora. Não vai me ajudar fazendo isso. Vai é fazer o que eles querem.

BARBARA: - Mas se eu posso salvar o seu braço...

SCULLY: - Barbara, eles estão mentindo. O intento é machucar e separar vocês dois, por que ajudariam o Alex? Entende?

MULDER: - Acha mesmo que aquele cara vai ajudar você? Não me pareceu que ele tivesse boas intenções.

BARBARA: - Ele é um porco! Mas eu tô desesperada, eu não quero o Alex triste, entendem isso?

KRYCEK: - Minha maior tristeza não é perder um braço. É perder você. Entende isso?

MULDER: - Ainda posso ir para o Canadá.

KRYCEK/ SCULLY/ BARBARA: - Não!!!

Mulder se cala, abaixa a cabeça.

MULDER: - Rato, a decisão é sua. Eu faço por você.

KRYCEK: - Agora estamos nos entendendo. A decisão é minha. E eu decido que perderei esse braço, mas não perderei a mulher que eu amo e a alma do meu maior amigo. Posso viver sem um braço, não posso é viver sem a Barbara e conviver sabendo que o Mulder vendeu sua alma ao diabo por minha causa. Podem respeitar isso?

SCULLY: - Posso levar você ao hospital.

KRYCEK: - Aceito, Scully. Me dá uns quinze minutos, preciso falar com a Barbara.

Scully puxa Mulder pela mão, que sai frustrado, impotente e segurando as lágrimas. Krycek olha pra Barbara.

KRYCEK: - Malyshka, olha pra mim. Para de chorar. Eu não gosto de ver você assim.

Barbara olha pra ele, secando as lágrimas.

KRYCEK: - Você me disse que não se importa em continuar casada comigo. As coisas vão mudar, mas estarei aqui sempre do seu lado e ao lado do nosso garoto. Somos uma família, certo? Você me ensinou isso. Você me ensinou tanta coisa. Uma delas foi amar você. Não me tire isso agora. Não tire a única felicidade que eu tenho. Você e Dimi são a minha força. Os motivos que tenho pra ser uma pessoa melhor.

BARBARA: - ...

KRYCEK: - Não quero que você caia e não quero que o Mulder caia. Não tem nada bom na queda, entende? Eu já estive lá, eu sei do que estou falando. É triste, vazio, frio, solitário e escuro. É bom que Mulder permaneça íntegro e justo, assim como é bom que você permaneça íntegra e justa. Você é a minha alegria e o Mulder é a alegria da Scully. Vida que segue, Malyshka. Viver é um verbo de ação, portanto, coisas acontecem. Boas ou ruins. Só depende da gente como encarar essas coisas. Sozinho eu não vou conseguir, mas com você e Dimi, eu posso enfrentar o mundo, mesmo com apenas um braço. O que importa mesmo é que o amor venceu hoje. Venceu o ódio, a vingança. Deixa isso pra eles. Eu não tenho mais tempo para essas coisas.

Barbara o abraça forte. Beija a testa dele.

BARBARA: - Estou com você, Ratoncito. Eu prometi. Na saúde e na doença, na alegria e na tristeza. A gente vai passar por isso juntos. Eu amo você.

Barbara passa o dedo no nariz dele. Krycek sorri. Barbara se levanta.

BARBARA: - Vou me vestir e vamos para o hospital.

Barbara sai. Krycek se levanta. Leva a mão ao braço, com dor. Senta-se na poltrona. Olha para o braço secando e ficando quase totalmente roxo. Os dedos que não mais se movimentam, inchados. Krycek respira fundo. Perde o olhar no nada, num sorriso.

VICTORIA: - Tio Tchek?

Krycek leva um susto. Victoria parada ao lado dele, com uma caixinha. Krycek tenta esconder o braço para que ela não se assuste.

KRYCEK: - (SORRI) O que faz aqui, Scullyzinha?

VICTORIA: - Me deixaram vir dar um presente para você.

KRYCEK: - (SEGURANDO A DOR/ DANDO UM SORRISO) Outro ratinho de crochê?

VICTORIA: - Nah! Quer ser curado?

KRYCEK: - Claro. Vai rezar por mim?

Victoria leva a mão rapidamente na testa de Krycek e a outra sobre o braço dele.

VICTORIA: - Vosstanovit!* (*Restaure!)

Victoria se afasta, num sorriso. Krycek olha para seu braço, o roxo vai sumindo, o braço vai tomando forma até ficar normal novamente. Krycek arregala os olhos, olhando para Victoria com espanto e certo terror.


Residência dos Mulder – 10:38 PM

No sótão, Mulder sentado em sua cadeira, mordendo o polegar e observando Victoria que dorme no velho sofá de couro. Scully em pé, braços cruzados, escorada na parede, olhando nervosa para a filha. Os dois trocam um olhar de perturbação, sem conseguirem dizer uma só palavra. Scully se aproxima do sofá e senta-se no chão. Ajeita a manta sobre a filha. Arruma os cabelos dela para trás da orelha. Enche os olhos de lágrimas.

SCULLY: - (VOZ EMBARGADA) O que o destino reserva pra ela? Hum? Meu bebê não se encaixa no mundo normal. E-eu sinto que ela é nossa filha, mas não é nossa, Victoria é do mundo, do céu, das coisas sagradas e temo que as pessoas comecem a vê-la como uma santa, alguém de quem podem obter milagres e isso chamaria demais a atenção.

MULDER: - Não se preocupe, ela não é Jesus Cristo.

SCULLY: - Mas sabemos como a história Dele acabou. E eu não quero chorar com minha filha morta nos meus braços.

MULDER: - Já pensou que tudo o que fizemos até aqui foi por ela? Quando penso nisso acho graça. Com tantas profissões no mundo e o que escolhemos fazer quando jovens? Hum? Victoria tem dois ex-agentes do FBI de guarda em tempo integral.

Scully passa a mão no rosto de Victoria, olhando-a com amor e derrubando lágrimas.

SCULLY: - Ela é o meu presente especial, dado por você e com o carimbo dos céus, Mulder. Ela é a promessa Dele ao seu avô, já pensou nisso? Se tudo começou lá, Victoria pode ser o ápice dessa promessa. Eu mantenho meus olhos maternos na criança porque se eu olhar pra ela pelo que significa, eu nem teria coragem de olhar em seus olhos.

MULDER: - Scully, não seria melhor começar a modificar a sua visão religiosa das coisas? Hum? Como estava fazendo antes?

SCULLY: - É assim que você faz para não sofrer?

MULDER: - É assim que eu faço e não sei se é para não sofrer. Contudo é mais lógico e reconfortante. Fica mais fácil lidar com a situação. Se ficar pensando que ela pode ressuscitar pessoas, curar braços e sabe lá mais o quê... Isso não significa que ela seja um anjo completo, apenas que tem poderes acima dos nossos. E se você acabar de joelhos na frente dela, isso não é ser mãe. Ela precisa da mãe dela. Nossa missão além de proteger é educar.

Scully beija o rosto da filha e se levanta.

SCULLY: - Eu vou até a casa da Barbara conversar com eles. Bryan está dormindo. Vou deixar a porta aberta, caso ele acorde, você ouvirá.

MULDER: - Tá. Aposto que os dois devem estar chocados até agora.

SCULLY: - Mulder... Eu disse que a justiça divina funciona. Não importa como você veja Deus, se uma divindade etérea ou um alienígena. Espero que hoje tenha entendido isso. Porque Krycek entendeu. O caminho é outro. E vamos seguir juntos. A verdade sempre aparecerá, Mulder. Pode demorar, mas a mentira não dura para sempre. Não há nada oculto que não há de ser revelado. Promessa bíblica.

Scully sai, deixando a porta aberta. Mulder sorri, olhando pra Victoria.

MULDER: - Pinguinho, minha eterna caixinha de surpresas.

Mulder vira-se para a escrivaninha. Olha pras fotos das placas. Pega a foto do número 322.

MULDER: - Onde vocês se escondem e o que esse cara que mandou as fotos tentou me dizer? O que vocês têm em comum que não fecha com o que sabemos? Satanistas... Como caras como vocês entraram nessa? Aquele idiota do Rockfell tem até um quadro dos templários, o que significa que é um católico devoto... (RINDO) Tão católico quanto o bispo conspirador deles? Embora pelo jeito como trata uma mulher, só faltou amarrá-la e castigá-la, isso é digno da Opus Dei! A esposa do West disse que o marido era maçônico...

Mulder tira o sorriso dos lábios. Arregala os olhos. Levanta-se rapidamente, vai até a estante e pega um livro. Vemos na capa: Ordens Secretas. Mulder folheia rápido e vê a foto de um cavaleiro templário sob o título: Ordem dos Templários. Folheia novamente: Opus Dei no Vaticano. Folheia novamente.

Vemos o número 322: Ordem da Caveira e Ossos.

Mulder fecha os olhos.

MULDER: - O elo de ligação... Todos são de ordens secretas...


Dois dias depois...

Delegacia de Polícia - Precinto 11 - Divisão de homicídios - Virginia - 6:45 PM

Krycek sentado à mesa, olhando pra mesa de Sanders. Liz bate na porta aberta. Krycek olha pra ela.

LIZ: - Detetive, posso falar com o senhor?

KRYCEK: - Claro. Entre.

Krycek se levanta. Liz entra, segurando a bolsa e ajeitando os óculos grossos.

KRYCEK: - Sente-se. Elizabeth Lindson.

LIZ: - (SORRI) Liz, por favor. Não, eu estou indo pra faculdade. Só queria agradecer por terem pego o cara que matou meus colegas. Ele disse por que fez isso?

KRYCEK: - Temos suspeitas, mas apenas isso.

Liz anda pela sala. Olha para as fotos de Rose no mural.

LIZ: - Eu conheço ela.

Krycek se aproxima, incrédulo.

KRYCEK: - Tem certeza?

LIZ: - Absoluta. A tatuagem, até comentei que o vermelho da rosa era tão vivo. Ela era tímida e séria, eu até fiz uma piadinha se ela era virgem e ela perguntou qual era o problema. Eu sou feia, até entendo que os caras não me queiram, mas ela... Ela era linda! Meu Deus, quem fez isso com ela? Por isso ela nunca mais apareceu na república?

KRYCEK: - Espera. Ela era universitária e morava na mesma república que você?

LIZ: - Sim, ela era minha colega de quarto. Chegou da Croácia para um intercâmbio e no outro dia sumiu. Pensei que tivesse desistido, já que as roupas dela sumiram todas do nosso quarto. Ela se chamava Andrija Smirnoffy. Lembro bem disso. Parecia o nome da vodca.

Krycek sorri aliviado. Olha para a foto.

KRYCEK: - Olá, Andrija "Rose" Smirnoffy. Liz, pode me falar mais sobre a Andrija? Quer um café?


Rua Morgan, 322 – West Virginia – 7:58 PM

Uma mesa de reunião. Ambiente na penumbra. Treze homens encapuzados e sentados à mesa. Aos poucos, eles tiram o capuz.

ROCKFELL: - Sábia decisão, colegas. Agora o Doutor está liderando o Sindicato Americano. E ele estava certo. Alguma raça alienígena se infiltrou, porque todos os homens, incluindo Strughold, sumiram repentinamente. Agora temos humanos como nós lá dentro.

THE GOLD COIN: - Só espero que o traidor do Spender não volte. Ainda acho que foi ele quem infiltrou os alienígenas, apenas para dar tempo de paz ao Mulder e filha.

ROBINSON: -Não voltará. Está marcado para morrer. Eliminamos Smile, já era hora. O imbecil cometeu um erro imperdoável. Ficamos sem uma virgem para sacrificar ao mestre. Acredito que por isso tenhamos sido punidos e não fomos bem sucedidos em acabar com Alex Krycek.

O velhote com cara doce e gentil se manifesta.

BISPO ROSSO: - Podemos confiar que a situação nesse país está finalmente controlada? Preciso voltar ao Vaticano.

ROCKFELL: - Está. Agora o Doutor começará suas experiências, vamos financiá-lo. Passamos a responsabilidade de cuidar da situação Mulder e Krycek para o Sindicato novamente. Se a coisa fugir de controle, entramos em ação.

O sujeito sério e refinado se manifesta.

WEST: - E a menina-anjo? Também é problema deles?

ROBINSON: - Eles vão pegar a menina pra nós. É do interesse deles também. Um bom local seria a escola. Posso usar minha filha pra isso, crianças são fáceis de enganar e Megan vive grudada naquela menina.

O sujeito magro e mal encarado toma a palavra.

GENERAL WILLIS: - Não com Serling como cão de guarda. Pode ter virado um bêbado inútil afogado em culpas e mágoas, mas ainda é o Serling. Ele tem algo nosso. E é assunto meu. E enquanto o medroso permanecer calado, ficará vivo.

WEST: - Bem, então, vamos aos problemas de adultos e deixemos os restos para Sindicatos. Prosseguimos a leitura da agenda global. Começamos pela África. Como está o financiamento de armas para os conflitos internos religiosos?

GENERAL WILLIS: - Ogoverno americano está provendo discretamente com o orçamento destinado para ajuda de guerra. A empresa do Krause venceu novamente a licitação deles. Estão se endividando mais conosco.

KRAUSE: - Sempre.

WEST: - Confere. Pediram empréstimos ao FMI. Próxima pauta: América latina.

CHANG: -Ah, essa é fácil. Basta corromper governos!

Eles riem.

ROCKFELL: - Sim e depois criar algumas mágoas políticas, estimulando a entrada de aprendizes de ditadores em todos os países, a começar por aqui. Negros em cadeiras presidenciais... Era o que me faltava! Precisamos de um empresário como nós, que pense como a gente, mas um idiota manipulável!

THE GOLD COIN: - (DEBOCHADO) Conheço um. Tem um topete louro e grande, porém menor que o próprio ego, se esconde numa torre e em programas de televisão.

ROBINSON: - (DEBOCHADO) Alberthi, você está demitido!

Eles riem alto.


Quatro meses depois...

Cemitério Hills - Virgínia - 2:13 PM

[Som: Lyube - Ty Nesi Menya Reka]

Krycek deposita as flores no túmulo aos pés do anjo. Agora na lápide vemos escrito: AndrijaSmirnoffy (1986-2003). Amada filha. Saudades eternas.

Krycek se levanta. Barbara com Dimi no colo, afaga a barriga ainda pouco pronunciada.

O casal croata ao lado deles. O homem aperta a mão de Krycek, em agradecimento.A mulher abraça Krycek, com força, chorando.



X

02/12/2020


Dec. 2, 2020, 8:07 p.m. 0 Report Embed Follow story
1
The End

Meet the author

Lara One As fanfics da L. One são escritas em forma de roteiro adaptado, em episódios e dispostas por temporadas, como uma série de verdade. Uma alternativa shipper à mitologia da série de televisão Arquivo X.

Comment something

Post!
No comments yet. Be the first to say something!
~