Mesmo contra a minha vontade, cá estou em uma aventura noturna e solitária, andando por estes caminhos de pedra, acidentados e escuros. O medo me faz querer voltar e quando meu corpo se movimenta em um semicírculo para retornar pelo mesmo caminho que fiz, eu sinto algo estranho à espreita e retomo meu caminho. Seguindo em frente e acelerando os passos a cada instante para fugir do mal que me persegue.
O terror se intensifica quando eu escuto um som rouco através das sombras. O som é como um grunhido que só poderia ser produzido por hediondas cordas vocais. Ao passo que caminho o grunhido se reforça e o hálito da fera toca os pelos de minha nuca. De início eu rezo mesmo sendo descrente, mas rapidamente me vejo ofegante enquanto tento negociar minha salvação com alguma entidade. E então eu paro... há algo do meu lado.
Todo meu corpo está paralisado, o frio sobe pela minha espinha e a saliva desce arranhando pela minha garganta. Já não consigo mais respirar e meu coração de tão acelerado parece que parou de bater. A criatura fala alguma coisa para mim, mas eu não consigo compreender suas palavras, elas não se parecem com nada que eu já tenha ouvido e se mostram impossíveis para eu reproduzir.
Ouso olhar para o lado e vejo uma forma aterradora. Muito larga, com duas cabeças, quatro braços longuíssimos e parecia não possuir pernas. Abaixo de seu tronco havia uma massa extensa com esferas que davam a impressão de deslizarem o corpo para frente numa movimentação que remete a dos caramujos.
A primeira cabeça se limita a olhar para frente e a segunda está voltada para mim, é ela quem profere as impronunciáveis palavras. Seus olhos são totalmente negros e vasculham meu corpo enquanto sondam a minha alma. Ele sente meu medo e parece gostar disso. Uma de suas mãos se volta para a minha face e ela não se parece com mãos humanas, no lugar dos dedos está apenas um comprido cilindro com um furo no meio. Acho que sei o que ele quer. Reúno tudo que tenho o mais rápido que consigo e entrego. Aquela coisa estende a sua outra mão, esta possui dedos longos e ossudos, e pega as minhas oferendas.
A segunda cabeça continua me encarando e então a primeira também se volta para mim. Seus olhos são finos e avermelhados como sangue e não são tão assustadores como os da outra cabeça. Foi um breve instante que pareceu durar milênios até que a criatura se moveu e sumiu nas trevas.
Continuo em choque e demoro um tempo para perceber que ainda estou vivo. Começo a respirar um pouco aliviado pois aquele ser, que parecia ter vindo de éons esquecidos ou até mesmo do próprio inferno, buscava por bens materiais e não pela minha vida. Pelo menos neste encontro.
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