cici Cinthia Pimenta

Alexander é filho de pais muito conservadores e após uma longa conversa com Thomas decide finalmente abrir o jogo com eles e contar que está apaixonado... Por seu melhor amigo. Infelizmente as coisas não vão como esperado, o preconceito de seu pai vai além de seu amor pelo filho. Alex se vê perdido, sem saber que caminho seguir, o caminho do pecado, como dissera seu pai, ou o caminho que seu pai prepara para ele no futuro. — Se for pecado te amar, viverei nesse pecado. — É o nosso pecado!


Short Story Not for children under 13.

#romance #lgbt #conto #preconceito
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Nosso pecado

Nada de mestres ou reis quando o ritual começa, não há inocência mais doce do que nosso suave pecado, na loucura imundície desta triste cena mundana, só então sou humano, só então me torno puro...





Encarava-se no espelho, olhando cada detalhe de seu próprio corpo e as marcas roxas que o mesmo continha, seu lábio cortado e ainda sangrando e um pequeno corte próximo ao seu olho esquerdo. Fechou os olhos tentando conter as lagrimas que vinham, se ele entrasse em seu quarto e o visse chorar seria mais uma surra.


Virou-se de costas para o espelho, ficar vendo o estrago só lhe doía mais a alma por tamanha magoa, respirou fundo e dolorido caminhou até o banheiro onde tirou as únicas peças de roupa que ainda cobria seu corpo, ligou o chuveiro e entrou debaixo d’água morna, aos poucos relaxava cada músculo dolorido, mas não lhe tirava à dor física, muito menos a dor que continha em sua alma.


Imundo, como ousa dizer tamanha pecaminosidade?” dissera seu pai horas atrás ao ouvir o filho contar sobre sua homossexualidade. “Repugnante!” continuará a ofender dessa vez acertando o garoto com os punhos cerrados.


Seus olhos escuros procuraram pela mãe e ao encontrarem a mulher a mesma mantinha-se quieta, de cabeça baixa e olhos fechados com força, soube naquele momento que estava só e que não teria ajuda, cada palavra saída da boca do homem doía duas vezes mais que as pancadas recebidas pelo corpo.


Sentou-se no chão do box e chorou tentando lavar a alma, tentando expulsar a dor junto com as lagrimas e soluços, olhou para o teto e lembrou-se dos olhos verdes alegres que sempre arrancavam seus mais sinceros sorrisos e entre o choro um pequeno sorriso surgiu em seu lábio cortado, não era de alegria e nem de felicidade, mas de conforto, sabia que ao vê-lo no dia seguinte talvez as coisas melhorariam, mas não entendia por que o mesmo ainda não havia o respondido.


Após longos minutos juntou suas poucas forças para se levantar, desligou o chuveiro e enrolou a toalha na cintura, ao sair pela porta do banheiro viu sua mãe, os olhos da baixa mulher estavam vermelhos indicando que havia chorado, seu coração se apertou, “ela chorou de desgosto?” se perguntou encarando-a.


— Alex...


— Caroline! –a voz rouca e alta invadiram os ouvidos do garoto que por reflexo e medo se encolheu. — Venha, não quero que fale com isso. –o desprezo presente em sua voz só fez Alexander sentir-se mais diminuído.


— Mãe... –arriscou-se a chama-la, mas a mesma deu de costas e voltou a descer as escadas com o homem logo atrás.


Respirou fundo e caminhou para seu quarto, onde após trancar a porta se trocou e deitou na cama caindo facilmente no sono, porém um sono conturbado por pesadelos de reais palavras ditas.


[...]


Atordoado por fortes batidas na porta Alexander se levantou sem muita noção de que horas eram, mais batidas na porta o fez temer, mas mesmo com medo destrancou a porta e a abriu. Caroline rapidamente abraçou o garoto e chorava pedindo perdão, Alex apesar de surpreso e sentindo dor com o aperto retribuiu o forte abraço carinhoso da mãe, a mulher se afastou e pousou as mãos sobre o rosto ferido e pálido do filho, sentindo grande culpa em seu peito.


— Desculpe querido, é minha culpa.


— Mãe, não é sua culpa...


— É sim. –o cortou. — Eu deveria tê-lo impedido, mas não tive coragem, eu deveria ter enfrentado ele.


—Mãe, não! –pousou sua mão sobre a da mulher que ainda estava em seu rosto. — Por favor, não o enfrente, não quero que nada aconteça à senhora. Prometa-me que não fará nada!


— Querido...


— Me prometa mãe!


— Tudo bem... –murmurou abaixando o rosto. — Prometo. Está com dor?


— Não muito. –desviou os olhos da mãe, não sabia mentir para ela.


— Alex, vá deitar trarei algo para você comer. –sorriu carinhosamente, mesmo que ainda se culpasse por não ter impedido o marido.


— Onde ele está? –perguntou e Caroline respirou fundo sabendo de quem o filho perguntava.


— Eu não sei, acredito que ele saiu para beber. –o semblante triste da mulher já deixava claro que a noite não seria fácil.


— Eu sinto muito por isso, não deveria ter dito nada.


— Não diga isso, jamais seria feliz se não mostrasse quem você realmente é!


— E por acaso tem como ser feliz vivendo debaixo do mesmo teto que ele? Ele me odeia só por que sou gay! –praticamente gritou, saber que o pai o odiava por algo tão irrelevante ao seu ver, o deixava mais chateado ainda.


— As coisas irão se resolver, eu te prometo Alex!


[...]


As vozes da TV se misturavam a risadas na sala, em um sofá um casal já de idade riam com o filme de animação que as filhas haviam pedido para assistirem naquela noite, no outro sofá um garoto estava esparramado ocupando todo o espaço e no tapete as gêmeas riam junto aos pais enquanto assistiam.


— Eu estou com fome. –resmungou uma das garotas e a outra concordou.


— Já preparo algo pra vocês. –o garoto se levantou e caminhou preguiçosamente até a cozinha.


Abriu o armário pegando o pão e da geladeira tirou a geleia, as irmãs eram alérgicas a amendoim, por isso o sanduíche das pequenas eram feitos somente com geleia. Após preparar os sanduíches não só das irmãs como os dos pais e o dele mesmo, encheu três copos com suco de laranja e duas xícaras com café.


Fazendo duas viagens entregou o lanche das irmãs e dos pais, voltou à cozinha onde pegou o seu subindo direto para seu quarto, assim que entrou desviou de algumas roupas jogadas pelo chão colocou o prato e o copo em cima da escrivaninha, pegou o celular que estava carregando agora com bateria o suficiente para ligar Thomas liga o aparelho, enquanto o mesmo ligava pegou seu prato e copo e sentou-se na cama.


Assim que o aparelho ligou apitou algumas vezes, Thomas viu ter algumas mensagens, sorriu ao ver que eram de Alex, mas estranhou, o garoto nunca lhe mandava muitas mensagens. Eram sete ao total.


“Thomas preciso da sua ajuda!”


“Thomas ele enlouqueceu, o que eu faço?”


“O que eu faço? Por favor, me ajuda.”


“Cadê você?”


“Me responde droga!”


“Preciso de você.”


Thomas não parou para ler a ultima, desesperado se levantou pegando a jaqueta e desceu as escadas correndo, ouviu o pai perguntando aonde ia, mas não tinha tempo para responder pegou a bicicleta que estava enfrente de casa e começou a pedalar pelas ruas mal iluminadas, até chegar a um bairro nobre, o garoto pedalava o mais rápido que podia.


Ao parar enfrente a enorme casa hesitou em se aproximar, respirou fundo caminhando até a porta e ficou encarando-a, olhou para o gramado deu a volta na casa até parar debaixo a varando do quarto de Alex, com dificuldade escalou até a mesma, já havia perdido as contas de quantas vezes havia feito aquilo e mesmo assim tinha dificuldade ao subir.


Bateu de leve na porta de vidro coberta por uma fina cortina branca, mas não ouviu nada e não viu nenhum movimento no quarto escuro, rezando para que estivesse aberta puxou a porta que se abriu, aliviado o loiro sorriu entrando, olhou pelo quarto arrumado e na cama viu o moreno deitado, se aproximou podendo ver os machucados no rosto, por segundos perdeu o ar dos pulmões sentindo-se culpado por ter pressionado o garoto a contar para os pais.


Sentou-se na beirada da cama e com delicadeza tocou os negros cabelos de Alexander desceu os dedos até acariciar seu rosto, devagar Alex abriu os olhos e encarou os olhos claros de Thomas por um momento se sentando em seguida, logo sentiu os braços do loiro o cercarem dentro de um abraço quente e acolhedor, deitando a testa sobre o ombro do outro, Alex deixou as lagrimas saírem mais uma vez.


[...]


— Ele disse que é o maior pecado que eu poderia cometer. –Thomas encara Alex digerindo suas palavras.


— Não acredite nessas palavras, nenhuma forma de amor pode ser julgada como pecado. –falou e viu o outro se calar.


Alex e Thomas estavam deitados lado a lado na cama encarando o teto, o loiro suspira e se vira para encarar o moreno que parecia perdido em seus pensamentos, já estavam calados a minutos, os olhos escuros de Alex normalmente brilhantes estavam foscos e o rosto rígido sem expressão, Thomas para chamar atenção do outro o cutucou com o cotovelo.


— O que foi? –perguntou Alex ainda encarando o teto.


— O que você vai fazer? –perguntou um tanto receoso quanto a resposta.


Alex o encarou e logo percebeu a preocupação de amado, sorriu tentando conforta-lo, mas Thomas permaneceu sério o encarando.


— Não irei desistir de você Tommy! –o loiro sorriu, mas ficou sério logo em seguida.


— Mas seu pai não vai permitir...


— Eu sei, e tem algo que não te contei. –o cortou sentando-se e ficando de costas.


— E o que seria? –Thomas permaneceu deitado, se fosse algo ruim, pelo menos já estava deitado.


— Ele disse que se eu continuar com essa ideia teria que sair da casa dele... Ou eu esquecia essa história e continuava como seu herdeiro. –Alex permaneceu de costas.


— Mas e nós? Ele não pode fazer isso! Que droga ele pensa que é? –o loiro se exaltou fazendo Alex o encarar. — Depois de tudo que eu fiz pra poder ter você... Isso não é justo.


— Thomas...


— Isso tá errado Alexander! Deveria estar dando tudo certo para nós, agora que eu consegui... –o loiro parou e mordeu o lábio inferior abaixando os olhos.


— Conseguiu... –falou Alex esperando eu o outro continuasse.


— Esquece, do que adianta? Você provavelmente vai pra Europa estudar pra seguir com os negócios do seu pai e...


— Você não me ouviu direito, não é? –perguntou atraindo o olhar de Thomas.


— O que quer dizer? –perguntou de volta franzindo o cenho.


— Eu disse que não vou desistir de você e não vou mesmo! –sorriu para o outro e se aproximou olhando nos olhos verdes que tanto o alegravam. — Não importa o que ele diga, quantos milhões eu não terei, eu não vou fazer o que ele quer!


Thomas encarando os olhos negros do outro sorriu e acariciou o ferido rosto pálido, sempre fora encantado com a beleza do outro, a pele pálida, os lábios vermelhos, olhos escuros e brilhantes, aproximou-se e colou seus lábios ao do moreno, tinha todo cuidado ao beija-lo não queria ferir mais sua boca, mesmo que sua vontade era morder os lábios do moreno; Alex empurrou o loiro com cuidado fazendo-o se deitar e ficou por cima do mesmo, seus dedos ágeis acariciavam a pele macia do outro e sem se importar com o corte que ardia intensificou o beijo querendo que tudo fosse tão quente quanto à noite anterior, mas aos poucos Thomas foi parando e com alguns selinhos fez o moreno parar.


— Não é o melhor momento para isso. – disse e Alex bufou se deitando ao seu lado.


— Eu te amo. –Thomas encarou o moreno incrédulo, ele nunca havia lhe dito isso, era um simples “eu também”, mas não dessa vez, ele havia dito com todas as letras.


— O-O que? –perguntou enquanto um enorme sorriso surgia em seu rosto.


— Você ouviu. –Alex desviou os olhos fazendo o loiro rir.


— Por favor, repete. –pediu mas foi ignorado, se aproximou do moreno e beijou seu pescoço. — Repete para mim Alex... Por favor... –mordeu de leve o lóbulo do outro que se arrepiou e olhou nos olhos verdes de Thomas.


— Eu te amo, Thomas e se for pecado te amar, viverei nesse pecado!


— É o nosso pecado!

Sept. 11, 2020, 4:14 p.m. 0 Report Embed Follow story
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The End

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