ayzu-saki Ayzu Saki

"É uma mensagem." Nedzu afirmou, olhando a foto do garoto em sua mesa. A pose nervosa, um sorriso sem graça no rosto. Parecendo tão comum, mas na verdade tão extraordinário. "Um pedido." "Um pedido?" "Sim. Ainda estou aqui, venha me encontrar." Onde várias pessoas começaram a sonhar com um garoto que não conhecem e uma vida que nunca existiu. Como se pode amar uma pessoa que não é real? [Izuku Midoriya tem uma quirk] [Spoilers manga 272] [TodoDeku] [Izuku Midoriya & Classe-A] [Izuku Midoriya & Eri] [Izuku Midoriya & Aizawa]


Fanfiction Anime/Manga Not for children under 13.

#bnha-fanfic #tododeku #izuku-tem-uma-quirk
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Capítulo Único

Os últimos dias haviam sido exaustivos para Shoto. Com todo o desastre de Kamino, a queda de All Might, lidar com o mau humor de Endeavor por ter finalmente o que queria e ainda por cima a mudança para os dormitórios, ele achava que merecia uma boa noite de sono.

Quando finalmente conseguiu fugir da interação com seus colegas muito animados e deitar em seu futon, achou que teria seu desejo de horas de sono ininterruptos atendido, mas não era para ser.

Pensou em ignorar a batida leve na porta, mas por fim se ergueu com um som nada feliz.

Que morreu em sua boca ao abrir a porta.

"Ah, Midoriya?"

O outro garoto sorriu, mas notou de imediato que havia algo de errado. Por uma, Izuku não parecia do tipo de se impor à alguém a essa hora da noite. Bater em você até que criasse juízo sim, se impor jamais.

A linguagem corporal dele também estava toda errada: os braços cruzados no peito, se abraçando, como se estivesse se segurando daquela forma para não se quebrar. Os olhos estavam olhando para os próprios pés, jogando o cabelo por cima do seu rosto e escondendo sua expressão.

"Midoriya?" Shoto estendeu o braço, então o abaixou, sem saber o que fazer. Ele não era bom em lidar com pessoas. "Izuku?"

"Eu posso entrar?"

A voz dele saiu vulnerável. Shoto abriu mais a porta e lhe deu espaço. Notou que ele estava tremendo, a pele terrivelmente pálida. Não lembrava de ele estar assim horas atrás. Ele parecia feliz, envolvido com os outros. Aliviado.

"Pode sentar." Ofereceu ao redor de forma desconfortável, apontando o futon.

O outro hesitou um passo, mas sentou de pernas cruzadas ali, ainda se abraçando.

Shoto não estava gostando nada daquilo. Havia algo de claramente errado. Não era certo ver Izuku assim, não lhe caia bem.

"Alguma coisa aconteceu?"

O outro garoto não respondeu por um bom tempo, mas Shoto sabia ser paciente. Sentou ao lado dele, as pernas dos dois batendo, todo o sono esquecido no momento. Se perguntava se aquilo envolvia o que havia acontecido em Kamino, seu tempo com os vilões até ser resgatado. Sabia que Aizawa-sensei devia ter falado com ele sobre isso, certo? A polícia com certeza havia conversado. Talvez com Bakugou? Os dois tinham algum tipo de relação estranha de quase amizade ou algo assim.

Ainda assim, ele havia procurado Shoto.

Tentou abafar o sentimento estranho de satisfação com isso.

"Sabe quando às vezes..." Izuku começou, a voz em um tom quase ausente. Shoto o olhou com atenção. "Quando às vezes você fica pensando nas coisas que poderiam ter acontecido?"

Franziu o cenho com isso, assentindo devagar, mesmo que não, não tivesse certeza do que ele falava.

Os olhos verdes o observaram finalmente e notou que estavam avermelhados. Izuku havia chorado, tinha certeza. Não que fosse algo absurdo, ele estava sempre chorando, mas dessa vez havia algo diferente. Algo de muito errado.

"Tudo...tudo que podia ter sido diferente. Se eu tivesse tomado outra decisão, virado em outra esquina. Talvez tenha um outro eu por aí, em outro universo, vivendo a vida que eu deveria ter vivido, sabe?"

"Midoriya, não está fazendo muito sentido."

Ouviu uma risada com isso, o outro garoto abraçando os joelhos contra o peito.

"É." A voz dele saiu ausente. "Acho que não, né? Só estou pensando."

Shoto fez um som de entendimento, ainda mais intrigado com toda a situação.

"Acho melhor eu ir."

Shoto quase assentiu em concordância, mas pausou. Havia uma sensação estranha em seu peito que dizia que se deixasse Izuku sair por aquela porta não o veria mais.

Era irracional, mas o medo gelou em sua barriga.

"Pode ficar, se quiser." Ofereceu muito rápido e recebeu uma expressão de alívio em resposta. Soube ali que fez a coisa certa, mesmo sem entender o que acontecia.

Os dois se organizaram enquanto puxava outro futon para Midoriya, talvez mais perto do dele do que seria próprio, mas eram amigos.

Izuku era seu amigo. E ele queria seu amigo bem. Izuku estava claramente com medo de ficar sozinho no momento, por alguma razão.

Os dois deitaram em silêncio e depois de algum tempo estendeu a mão para ele no escuro, que a agarrou de imediato. Parecia certo.

Estava resvalando para o sono quando ouviu um sussurro, perto do seu ouvido, tão baixo que se perguntava se realmente havia o ouvido:

"Eu ainda estou aqui."

..................................................................................

Shoto acordou na enfermaria. Se sentia confuso e com uma dor de cabeça terrível.

Recovery Girl fez um som exasperado com a língua, surgindo de algum lugar quando tentou se erguer.

Ela saiu por algum tempo após o checar, ignorando suas perguntas de como havia ido parar ali. A última coisa que lembrava era estar dormindo em seu futon, segurando a mão de Izuku.

Aizawa-sensei surgiu em companhia da heroína, uma expressão estóica no rosto, se não o conhecesse bem.

"O que aconteceu?"

Os olhos dele se abriram levemente, a testa franzida em preocupação.

"Não se lembra?"

Negou, se sentindo intrigado. Sua cabeça ainda doía, mas não queria voltar a dormir no momento, não sem entender o que estava acontecendo.

"Você sofreu um acidente durante o treinamento ontem e bateu a cabeça. Passou a noite na enfermaria."

E com isso ele começou a dar um sermão sobre segurança. Aparentemente Shoto havia perdido o controle da sua quirk e derrubado uma parede em si mesmo. Era um pouco vergonhoso. E intrigante, há tempos não perdia controle da sua quirk, desde que havia passado a usar os dois lados dela. Quando questionou isso, Aizawa-sensei o olhou de forma estranha, como se tivesse dito algo errado.

"Desde quando usa os dois lados da sua quirk, garoto?"

Ergueu as sobrancelhas em surpresa ao ouvir isso. Tinha certeza que já havia usado seu fogo várias vezes depois do festival esportivo, como Aizawa-sensei não sabia disso?

Balançou a cabeça, que doeu mais com o movimento. Recovery Girl suspirou com isso e mesmo com seus protestos lhe deu um beijo estalado na testa.

No mesmo momento a dor se foi, mas um sono terrível o abateu. Não se importaria em qualquer outro momento, mas ainda se sentia terrivelmente confuso e queria respostas.

Com a voz sonolenta, lutando contra o sono sob o olhar exasperados dos dois heróis por sua teimosia, fez a próxima pergunta que o intrigava, porque a última pessoa que lembrava de estar com ele era Izuku.

"Onde está Midoriya?"

Aizawa-sensei franziu o cenho, confuso, os dois heróis trocando um olhar preocupado sob sua cabeça.

"Quem é Midoriya?"

.....................................................

Izuku Midoriya não havia sempre estado na Classe 1-A, muito menos na vida de Shoto. Na verdade, até o festival esportivo, Shoto não sabia da sua existência. Eles estudavam no mesmo colégio, possuíam professores em comum, sonhos em comum, mas até o momento crucial eles mal coexistiam no mesmo universo.

Até o festival, quando Midoriya limpou o chão com Shoto e o ajudou a começar a superar seus monstros e se aceitar. Midoriya não havia ganhado o festival, mas havia chamado atenção o bastante para ser aceito na classe de heróis alguns meses depois.

"Todoroki-kun, ninguém ainda foi aceito na classe de heróis depois do festival. Há um garoto que estão de olho, mas o nome dele não é Midoriya."

Isso não fazia sentido. Shoto olhou para os heróis ao redor, Kayama-sensei, Yamada-sensei e o próprio diretor Nedzu. Como eles não poderiam lembrar de Midoriya?

"Qual a quirk dele?" Diretor Nedzu perguntou de forma intrigada. Pelo menos ele parecia estar o levando a sério. Quando quirks existiam, uma coisa assim poderia bem ser culpa de uma delas. Talvez uma quirk de esquecimento?

"Respiração de fogo. "

Os heróis se olharam e o diretor negou com a cabeça. Shoto se sentiu ainda mais agitado.

"Ele foi sequestrado pelos vilões no acampamento. Como não lembram dele?"

Os heróis o olharam ainda mais preocupados. Kayama-sensei falou de forma cuidadosa, o olhando com intensidade.

"Todoroki-kun, Bakugou foi o aluno sequestrado pelos vilões. Você, inclusive, estava entre os alunos que foram para o resgate dele."

"Não. Não faz sentido." Cruzou os braços. Bakugou havia organizado o resgate. Ele e Izuku tinham uma rivalidade por anos, antes mesmo de U.A, mas eram amigos também. "Bakugou! Pergunte ao Bakugou, ele conhece Midoriya."

.....................................

Bakugou lembrava de Midoriya, porém não como Shoto esperava.

"De onde diabos ouviu esse nome?"

Os olhos vermelhos estavam agitados, os braços tensos, olhando de Shoto para Aizawa-sensei e os outros professores com a expressão agitada. Mais do isso, havia algo nele, nos olhos dele, que fez o peito de Shoto gelar.

Era a primeira vez que via Bakugou quase triste.

"Ele estuda aqui, ninguém lembra dele, mas ele estuda aqui."

Se surpreendeu quando o outro avançou nele, sendo seguro firmemente por Aizawa-sensei.

"Bakugou! O que foi isso?"

"Isso não é brincadeira, seu maldito!" Bakugou se agitou mais, os olhos vermelhos no seu rosto. Ele empurrou sensei e cruzou os braços. "Não sei o que diabos está pensando, mas se pensa que pode brincar com algo assim..."

"Bakugou, Todoroki não está brincando. Estamos tentando entender o que aconteceu. Reconhece esse nome?"

Bakugou apertou os braços com força, olhando de um para outro na sala da direção, até fixar o olhar em Shoto. E novamente estava ali, por baixo de toda a raiva, aquele sentimento que o deixou desconfortável.

"É, eu sei quem é. E ele com certeza não estuda aqui e nunca estudou."

"Pode nos dizer onde ele está? Talvez possamos entender porque Todoroki sabe tanto sobre ele."

Bakugou desviou os olhos para a janela, a mandíbula apertada. Quando ele respondeu, sua voz era baixa, o mais baixo que qualquer um deles já havia ouvido.

"No cemitério."

Os olhos vermelhos fitaram Shoto novamente e ele entendeu o sentimento ali, finalmente. Era culpa.

"Ele morreu, há mais de um ano."

..............................................................

Izuku Midoriya havia morrido em um ataque de vilão no último ano do secundário. Ele havia sufocado até a morte debaixo de uma ponte e o vilão havia usado seu corpo como marionete por dias até ser pego.

Ele nunca havia entrada em U.A, ele não possuía uma quirk de fogo e Shoto com certeza nunca havia o visto na vida.

Shoto olhou o lápide, com um nome e data. Aizawa-sensei estava ao seu lado, uma mão em seu ombro. Shoto não havia acreditado até estar ali. Mesmo com o quarto de Izuku sendo ocupado por outra pessoa no dormitório e todos dizendo que nunca o viram.

"O prato favorito dele é Katsudon. Ele escreve jornais, com análise de quirks. Ele mora com a mãe."

Aizawa-sensei apertou seu ombro em conforto e Shoto apenas se sentia muito confuso. Bakugou estava no carro. Ele não havia saído, apenas apontando onde era a lápide. Midoriya parecia um assunto delicado para ele.

Shoto não tinha ideia do que estava acontecendo, como sabia tudo aquilo e ninguém conseguia explicar também.

Não tinha explicação o terrível luto que sentia por alguém que nunca havia conhecido.

...................................................

A vida continuou por algum tempo depois disso. Shoto e Bakugou não falaram mais sobre o assunto e nem os professores, mas nenhum deles esqueceu de todo a situação.

Por algum tempo Shoto pensou em visitar Inko Midoriya, que havia se mudado depois da morte trágica do filho, mas nunca teve coragem.

A única mudança real foi a surpresa de todos quando Shoto apareceu usando sua quirk por completo, algo que aparentemente até então não havia feito. A primeira vez que havia interagido com os outros também foi recebido com espanto. Para Shoto era natural, não importava o que falassem, Izuku havia sido real para ele e as mudanças que ele conseguiu nele também.

A vida continuou, até uma manhã de domingo, semanas antes do teste da licença provisória, quando Uraraka desceu para cozinha, sonolenta e tropeçando, olhando ao redor, procurando alguém.

"Alguém viu o Deku?"

Kaminari piscou lentamente do balcão: "Quem?"

"Deku." Uraraka franziu o cenho. "Izuku Midoriya?"

Shoto quebrou a xícara que lavava.

...............................................

Diferente de Shoto, Uraraka havia chorado. Muito. Assim como Shoto, ela só havia acreditado quando viu a lápide.

"Ele ama o All Might, o quarto dele era todo dele. E ele... e ele é muito esperto! A quirk dele é parecida com a minha, então ele sempre me ajudava..."

"Parecida com a sua?" Aizawa-sensei perguntou, olhando para Shoto, que também se sentia confuso.

"É." Ela soluçou. "Ele levitava objetos."

....................................................

Iida foi o próximo. E ele ficou tão estressado quanto Uraraka, sua mente lógica tentando compreender quando alguém lhe dizia que seu melhor amigo não existia. Ou havia existido, mas nunca o conhecido.

"Ele me salvou de Stain."

Shoto lembrava disso. Os dois haviam estado lá.

Aizawa-sensei passou a mão no rosto, exausto: "Os heróis em campo salvaram você, Iida. Eles chegaram a tempo."

Iida negou teimosamente, os olhos agitados no herói: "A quirk dele é cura, ele me curou quando Stain me atacou. Como não pode lembrar dele?"

Aizawa-sensei trocou um olhar com diretor Nedzu ao ouvir isso.

........................................................

Kirishima foi o próximo e depois Yaoyorozu. Shoto notava Bakugou cada vez mais agitado sempre que um deles falava sobre Midoriya. Talvez porque ele o conhecendo por tanto tempo ainda não havia passado pelo o mesmo que eles.

Talvez ele estivesse com medo. Talvez ele quisesse o ver também, Shoto não sabia dizer.

Eles haviam estudado juntos a vida inteira, crescido juntos e Shoto percebia que por alguma razão Bakugou se culpava pelo o que havia acontecido.

Quando Yaoyorozu saiu da sala, o rosto banhado em lágrimas, eles se reuniram na sala do dormitório. Os outros já sabiam da situação, mas ninguém sabia o que dizer ou explicar o que havia acontecido, ninguém lembrava dele além deles.

"Sabe, ele me disse uma coisa, quando o vi pela última vez." Uraraka falou quietamente, encolhida contra Iida, o rosto muito pálido. "Ele me disse..."

"...Eu ainda estou aqui." Yaoyorozu a interrompeu. Os cinco se olharam, assentindo em concordância. "Todos nós?"

Eles não entendiam o que isso significava.

.................................................

Shoto não passou no teste da licença provisória. Nem Bakugou.

Todos acordaram no meio da madrugada com uma explosão vindo do quarto de Bakugou.

Kirishima foi o primeiro a chegar lá, sua quirk o protegendo enquanto o outro destruia tudo ao redor. Alguém havia corrido para chamar Aizawa-sensei. Bakugou estava gritando e gritando, chamando o nome de Midoriya sem parar.

Shoto paralisou na porta, olhando a parede e chão coberto de folhas escritas.

Uma delas grudou em seu pé e se agachou para a pegar, prendendo o ar ao ver o que estava escrito, linhas e linhas de forma repetitiva.

"Eu ainda estou aqui eu ainda estou aqui eu ainda estou aqui."

Aquando Aizawa-sensei chegou e finalmente desativou a quirk de Bakugou, ele caiu nos braços de Kirishima. Aizawa-sensei mandou todos saírem, fechando a porta.

Era a primeira vez que havia visto Bakugou chorar na vida.

...............................................

Nos dias seguintes ninguém tocou no assunto, então se surpreendeu quando Bakugou o procurou após uma das sessões dos dois.

Bakugou não lembrava de ter escrito as folhas, mas lembrava do sonho.

"Eu lutei com ele. Eu lembro dele em USJ, no acampamento, em Kamino. Ele sempre esteve lá."

"Você lembra da quirk dele?"

Bakugou o olhou de forma estranha, mas assentiu devagar, as mãos no bolso enquanto caminhavam até o dormitório.

"É, eu lembro."

................................................

Foi Bakugou que percebeu pela primeira vez que em comum entre eles havia Kamino. Todos que haviam estado em Kamino haviam sonhado com Izuku. Todos eles tinham uma história diferente com algumas coisas em comum.

Sempre uma quirk diferente, um momento diferente em que ele entrava na classe de heróis. E sempre a mesma frase de despedida: Eu ainda estou aqui.

Os professores estavam intrigados, investigando, eles sabiam, mas a surpresa veio quando All Might, em sua forma magra e doentia, o procurou em certa tarde, a expressão cansada e triste no rosto.

Ele também havia sonhado com Izuku.

...............................................

Dessa vez Shoto sabia que estava sonhando, porque era um sonho comum seu. Estava em casa, observando a si mesmo olhando sua mãe na cozinha no telefone. Ele sabia como aquele sonho terminava. Ainda podia sentir a dor em seu rosto e no seu peito ao ouvir as palavras dela.

Quando o sonho chegava no clímax, uma mão tocou a sua. Olhou para o lado e Izuku estava ali, com seu moletom do All Might e olhos grandes e verdes. Ele sorriu para Shoto e o puxou pela mão, para longe do barulho da chaleira e dos gritos.

Shoto o seguiu quietamente, dando um passo para fora da casa e entrando em ruas estranhas, a mão quente na sua.

"Está tudo bem, Shoto." A voz dele falou suavemente, ecoando nas ruas iluminadas pelos postes. "Eu estou aqui."

Shoto apertou sua mão de volta e foi puxado para um abraço reconfortante. A voz dele sussurrou em seu ouvido, ecoando em sua cabeça de novo e de novo.

"Eu ainda estou aqui."

......................................

Shoto passou a sonhar com Izuku todas as noites. Os cenários mudavam, mas ele sempre estava lá, segurando sua mão, ou surgindo ao seu lado quando precisava. Seu moletom de All Might enquanto falava a frase icônica, espantando seus medos e lhe motivando.

No fim de cada sonho, no entanto, ele sempre dizia a mesma coisa: "Eu ainda estou aqui."

E a cada noite a frase se tornava mais rápida e desesperada.

.......................................

"Estamos perdendo ele." Uraraka comentou do fim da mesa, olheiras no rosto pálido. Nenhum deles parecia estar dormindo bem. Os professores estavam mais e mais preocupados.

Shoto lembrou do último sonho.

A piscina de U.A estava congelada e Izuku estava nela, tentando achar uma saída. Por mais que tentasse Shoto não conseguia derreter o gelo. O rosto dele surgia na superfície, os olhos muito abertos, o reflexo da sua mão batendo para tentar sair: "Eu ainda estou aqui."

Ele não estaria lá por muito tempo.

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Quando Shie Hassaikai caiu, uma garotinha foi resgatada pelo time de heróis. Shoto, que ainda estava fazendo as aulas para sua licença, só saberia disso bem depois.

Durante o resgate, Mirio Togata, sucessor de All Might, havia perdido uma de suas quirks, mas no fim havia conseguido terminar a missão de resgate.

Quando a pequena Eri foi enrolada em sua capa e levada ao hospital, o jovem herói havia dito o quanto ela foi corajosa. Com a voz inocente a garotinha havia comentado algo que havia paralisado Eraserhead, que estava na ambulância controlando sua quirk:

"Izuku disse que vocês viriam, então não precisava ficar com medo."

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Nos dias que se seguiram, todos os heróis que estavam na luta contra Shie Hassaikai começaram a sonhar com Izuku Midoriya.

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"É uma quirk telepática." Nedzu falou, olhando os heróis ao redor da mesa. "Pelo o impacto de alcance, uma quirk extraordinária."

"Por que alguém usaria uma criança morta para isso?" Yamada questionou, agitado.

Nedzu olhou para Aizawa, que suspirou em assentimento.

"Nem todas as informações entre as pessoas batem, mas as que batem foram conferidas por Inko Midoriya e algumas coisas só ele saberia. "

"O que quer dizer?"

"Que apenas Midoriya poderia estar mandando esses sonhos. Que há uma chance que de alguma forma ele esteja vivo, mas como houve cremação não se pode verificar."

Naomasa havia feito parte do caso, em razão de All Might estar envolvido. O homem se sentia culpado por ter sido um vilão que deixou escapar que matou a criança. Ele havia assegurado que o corpo que encontraram era de Midoriya, mas como nenhum teste havia sido feito, sempre haveria a dúvida.

"E esses sonhos? O que significam?" Kayama perguntou quietamente, pensativa. "Eu ainda estou aqui."

"É uma mensagem." Nedzu afirmou, olhando a foto do garoto em sua mesa. A pose nervosa, um sorriso sem graça no rosto. Parecendo tão comum, mas na verdade tão extraordinário. "Um pedido."

"Um pedido?"

"Sim. Ainda estou aqui, venha me encontrar."

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A resposta para tantas perguntas começou a surgir com Kurogiri, ou na verdade, Oboro Shirakumo.

Quando o encontro extremamente emocional terminou, Aizawa pensou em Midoriya. Se eles haviam roubado o corpo de seu amigo e o transformado em um noumu, quantos mais eles podiam ter feito da mesma forma?

Porém, por qual razão eles roubariam o corpo de um garoto sem quirk?

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Shoto Todoroki respondeu essa pergunta, sem nem mesmo perceber.

Aizawa sabia que as crianças se juntavam para falar sobre Midoriya, sobre os sonhos. Ele estava com um olho extra neles, sabendo que eles eram problemáticos o bastante para tentar um resgate sem nem mesmo saber o que estava acontecendo.

"Ele falou sobre a Eri, perguntou se ela estava bem."

Aizawa suspirou da porta. A garotinha, que havia se tornado agora parte de U.A, de quem era guardião, sempre perguntava por Izuku. Aparentemente ela havia sonhado por semanas com ele, ele era a razão de ela não odiar tanto a própria quirk e ter fugido e pedido ajuda.

"Ele me perguntou sobre o pai dele." Todoroki comentou, parecendo desconfortável em interagir com os outros, mas tentando. "Disse para ter cuidado com o pai dele."

"Hisashi Midoriya?" Bakugou, parecendo ainda menos confortável, bufou de onde estava no balcão, a expressão de desgosto. "O maldito está na América. Nem mesmo apareceu para o enterro."

................................................

Hisashi Midoriya, segundo a pesquisa de Nedzu, nunca existiu.

Ele surgiu do nada anos atrás e retornou ao nada alguns anos depois. A única foto dele era de longe, porque de acordo com Inko Midoriya ele nunca tirava fotos. E isso não era suspeito?

Quando All Might viu a foto seu rosto perdeu toda a cor.

..................................................

Dias antes de prepararem a invasão no hospital, Aizawa finalmente visitou o Tártaro.

All for one o recebeu com a mesma acidez de sempre, um sorriso cruel e uma expressão de quem sabia mais do que todos podiam imaginar.

Uma expressão que mudou após alguns minutos de conversa, quando Inko Midoriya apareceu na sala, a expressão muito séria para uma pequena mulher que parecia sempre tão nervosa.

"Olá, Hisashi."

...........................................

O último sonho que Shoto teve com Izuku Midoriya foi um dia antes da invasão no hospital.

Os dois estavam debaixo de uma ponte, pichada e suja. Izuku estava sentado no chão, olhando para um ponto de forma fixa.

Mesmo quando Shoto se aproximou e se sentou ao seu lado, ele continuava olhando o ponto.

Shoto notou que era um caderno, jogado e queimado, as folhas molhadas e coladas.

"Foi ali que eu morri." Izuku sussurrou. "Ele saiu dali, daquele bueiro. Eu não tive chance alguma. Se ao menos eu tivesse virado em outra esquina."

"Se eu tivesse tomado outra decisão, virado em outra esquina. Talvez tenha um outro eu por aí, em outro universo, vivendo a vida que eu deveria ter vivido, sabe?"

A respiração dele acelerou e Shoto segurou sua mão, sem saber o que dizer.

"Sabe o que foi o mais irônico? Minha quirk apareceu segundos antes, quando eu estava morrendo. Podia ter sido respiração de fogo, podia ter sido telecinese. Ou cura, ou qualquer coisa, mas não foi. Tudo o que eu pude fazer com ela foi ouvir o que ele pensava antes de me matar. Ouvir que ele não sentia remorso nenhum, que eu não era nada além de mais um."

"Eu sinto muito." E o que haveria mais de se falar do que isso? Shoto não sabia.

"Está tudo bem." Izuku sorriu em sua direção, o rosto muito pálido e coberto de lágrimas. "Só doeu no começo."

"Não. Não está." Apertou a mão do outro com força e a cabeça dele caiu em seu ombro. Os dois ficaram assim por muito tempo, vendo a chuva caindo fora da ponte.

Shoto o puxou para ele o abraçou com força. Como Izuku não podia ser real?

"Eu ainda estou aqui, Shoto."

Shoto amava Izuku. Isso era real.

Se ao menos fosse o bastante.

"Eu ainda estou aqui."

....................................................

Hisashi Midoriya, na verdade All For One, em um ato que talvez até pensasse ser algum tipo de sentimento paternal, havia decidido que seu filho não iria ficar morto.

Por isso, havia ordenado que o corpo dele fosse roubado e substituído antes de ser cremado. Sua transformação não foi como as outras, seu corpo não foi mudado, ou deformado. Talvez, na mente dele tenha sido um ato de amor, deixar o filho ser usado como experimento por um médico cruel e louco, Aizawa não saberia dizer.

Ele com certeza não conhecia o filho o bastante para saber da sua teimosia, como mesmo durante aquele coma forçado, ele tentaria alcançar ajuda. Eles o perderam em Kamino, nunca souberam que ele esteve lá entre os noumus naquele galpão e foi levado. Eles o perderam em Shie Hassaikai, quando seu corpo esteve sob os cuidados da Yakuza, sendo estudado em troca da aliança, até Shigakari o pegar de volta ao descobrir que o estranho noumu era importante para seu amado sensei.

Eles haviam o perdido duas vezes, o deixado escapar entre os dedos.

Quando Aizawa entrou no hospital, onde uma luta histórica tomaria palco, com destruição, perdas e mudanças profundas na sociedade, havia outro tubo ao lado de Shigakari.

Um corpo flutuava na água, preso a cabos e aparelhos, uma máscara no rosto pequeno e sardento, cabelos verdes flutuando na água escura. Ali, tão perto, a voz dele parecia ecoar na mente de cada herói ao redor, de cada estudante que evacuava as pessoas na cidade.

O tubo de Shigakari quebrou em pedaços, mas o dele ficou intacto, nenhum herói o tocou.

Quando Aizawa tocou no vidro em meio ao caos, desligando os aparelhos, olhos verdes se abriram para o mundo pela primeira em muito tempo, o fitando diretamente.

Em alguns minutos tudo ali se tornaria cinzas desintegradas e começaria a luta da vida deles.

Em alguns momentos muitos morreriam.

Naquele momento, Izuku Midoriya ainda estava ali. E finalmente havia sido encontrado.

"Está tudo bem." Aizawa sussurrou, pegando o garoto nos braços. "Sabe o porquê?"

Izuku Midoriya sorriu e pela primeira vez em muito tempo se sentiu real.

"Você está aqui."

May 25, 2020, 3:23 a.m. 3 Report Embed Follow story
16
The End

Meet the author

Ayzu Saki Detesto o tempo, sempre adianto meu relógio para nunca me atrasar, e ainda assim me atraso. Detesto o tempo, porque ele não cura as coisas, só passa. Queria domar o tempo mesmo, para viver todo o que quero viver e não pode caber na minha vida. Essa é a minha sina, e um monte de histórias não terminadas no fundo da gaveta.

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Post!
Flor 🪷 Flor 🪷
Nossa, a sua fanfic foi excepcional! Eu fiquei apaixonado por ela e pela sua escrita. Acho que vou precisar de um tempo para recuperar o fôlego. Parabéns pela sua obra!
May 22, 2021, 22:29
Isís Marchetti Isís Marchetti
Olá, tudo bem? Faço parte do Sistema de Verificação e venho lhe parabenizar pela Verificação da sua história. Eu confesso que ainda estou impactada com essa história, foi surreal e uma leitura realmente agradável. O jeito que você envolveu cada personagem e os sonhos para poder mostrar que ele estava ali, em algum lugar, e pedindo para ser encontrado de alguma forma, foi realmente fascinante. A forma que você usou Shoto como um meio de mostrar o que estava acontecendo foi incrível, porque podemos sentir a ligação que os dois tinham, foi sensacional. Nedzu provavelmente achou que iria enlouquecer, coitado. Quanto ao Bakugou, eu realmente fiquei triste por ele, imagina como deve ter sido, sempre se culpando por algo e aí vem alguém e diz que a pessoa existe e está ali, em algum lugar, é para derrubar os sentidos de qualquer um. Eu não sei como é a personalidade deles no anime, mas a maneira que você deixou evidente de como eles são em sua história, ficou claro que Shoto é um tanto quanto mais reservado, Midoriya é mais amável e Bakugou é aquele que tem senso de responsabilidade. Eu me coloquei no lugar de cada um deles, sentindo o desejo, a necessidade e o desespero de saber o que estava realmente acontecendo e o que era o significado de tudo aquilo. Eu fiquei tão agoniada que desejava que eles pudessem encontrá-lo fisicamente logo. E então a cereja do bolo veio com o próprio pai sendo o vilão, ficou show de bola! A forma que você foi pulando as cenas também ficou de fácil entendimento, assim como a cena final em que Midoryia estava dentro do vidro e assim que foi desligado ele abriu os olhos, foi maravilhoso! Um texto tão bem construído e desenvolvido, podemos sentir cada emoção que ele nos passa. Parabéns pela história incrível e pela sua gramática e domínio. Fiquei encantada! Eu não conheço o anime, mas essa história com certeza me instigou a conhecê-lo melhor, obrigada por isso! Desejo sucesso em suas histórias e que você possa cativar várias pessoas, assim como me encantou! Abraços.
May 26, 2020, 19:09
Machadorisos . Machadorisos .
Sabe quando tu acaba de ler algo e sente que precisa de algum tempo para voltar ao 'normal'? Ou quando tu fica tão impactado que não sabe nem o que dizer? Então. Essa história bateu na minha cara de um jeito que não consigo nem elogiar.. pq eu não sei a forma correta de elogiar algo assim. Então... obrigada por isso.
May 25, 2020, 23:09
~