Se eu tivesse de imaginar um novo Robinson, não o colocaria numa ilha deserta, mas numa cidade de doze milhões de habitantes cuja língua e escrita não soubesse decifrar: aí está, creio eu, a forma moderna do mito.
Roland Barthes
Pode ser conhecida como microficção, microcontos ou micro-histórias. Ela faz parte da literatura pós-modernista e, devido a sua aproximação fragmentária, pode ser considerada um embrião em formato de narrativa que se caracteriza em nosso século. A brevidade é a sua condição principal conduzida através de velocidade, por sentimentos explícitos ou histórias em poucas letras. Nela não há começo, nem meio ou fim.
Dentre todos estes elementos, nenhum é exclusivo desse tipo de narrativa, podem ser encontrados em muitos gêneros literários. O importante é, nesse pequeno espaço de escrita, fazer a alquimia para cativar leitores.
Caros escritores, a microficção é super híbrida, como diria Rui Costa e André Sebastião (2008) em Primeira Antologia de Microficção Portuguesa, “confunde os gêneros e deixa-nos (bem) perdidos no caminho para qualquer definição”. Pode ser escrito a partir de qualquer gênero as suas microficções, desde que seja breve.
Os autores Jorge Luis Borges e Bioy Casares publicaram, em 1953, Cuentos breves e extraordinários, uma antologia de microficções e fragmentos de diversas línguas, culturas e épocas, o texto está composto por pequenas narrações, mas de grandes dimensões, possui grande impacto na literatura e nos estudos literários do momento.
Eis algumas das microficções dos autores:
A aniquilação dos ogros
A vida de uma tribo inteira de ogros pode ser concentrada em duas abelhas. O segredo, no entanto, era revelado por um ogro a uma princesa cativa, que fingia temer não ser imortal. Nós ogros não morremos, disse o ogro para tranquilizá-la. Não somos imortais, mas nossa morte depende de um segredo que nenhum ser humano vai adivinhar. Eu vou revelar a você, para que você não sofra. Olhe para aquela lagoa: no seu melhor no fundo, no centro, existe um pilar de vidro, no topo do qual, por baixo da água, repousam duas abelhas. Sim, um homem pode mergulhar nas águas e voltar à terra com as abelhas e dar-lhes liberdade, assim todos nós ogros vamos morrer. Mas quem vai adivinhar este segredo? Não se desculpe; você pode me considerar imortal, então a princesa revelou o segredo ao herói. Ele soltou as abelhas e todos os ogros morreram, cada um em seu próprio palácio.
DER TRAUM EIN LEBEN
O diálogo ocorreu em Adrogué. Meu sobrinho Miguel, de cinco ou seis anos, estava sentado no chão brincando com o gato. Como todas as manhãs, perguntei a ele:
-O que você sonhou na noite passada?
Ele respondeu:
-Eu sonhei que havia me perdido em uma floresta e que enfim encontrei uma casinha de madeira. A porta se abriu e você saiu. Com súbita curiosidade, ele me perguntou: "Diga-me, o que você estava fazendo naquela casinha?".
Sonho de Chuang Tzu
Chuang Tzu sonhou que era uma borboleta e não sabia ao acordar se era um homem que sonhava em ser uma borboleta ou uma borboleta que agora sonhava em ser homem.
Perceberam caros escritores? Com o pouco podemos impactar em palavras e assim temos microficções garantidas.
Texto por: Ruana Aretha Beckman
March 16, 2021, 2:21 p.m. 0 Report Embed 1We can keep Inkspired for free by displaying Ads to our visitors. Please, support us by whitelisting or deactivating the AdBlocker.
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