Esquadrão da Revisão Follow blog

embaixadabr Inkspired Brasil Os autores estão indecisos, escondidos, com medo: a Gramática os ameaça de todas as formas. É neste cenário caótico que um esquadrão se formou: soldados competentes em busca de justiça, recrutando mercenários para lutarem ao seu lado e, juntos, combaterem o Obscurantismo. Assim, o Esquadrão da Revisão ergue-se contra a tirania da Gramatica para submetê-la aos autores. Entender como funciona a gramática normativa é a base de qualquer escritor. Passar a ideia da cabeça para o papel de forma harmônica é a maior dificuldade de muitos literatos. Nós queremos, neste blog, mostrar a vocês que a gramática não é uma tirana; ela não passa de uma ferramenta que serve para ajudá-los. Juntem-se ao nosso esquadrão para desvendar os mistérios da Gramática e de suas normas.

#revisão #gramática #EmbaixadaBrasil #acentuacao
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Verbos no pretérito: Ontem e antes de ontem

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Verbos no pretérito: Ontem e antes de ontem

Texto por Camy

Olá! Vamos continuar nosso assunto sobre verbos! Até agora, nós aprendemos o que são os verbos, a reconhecê-los numa frase e a conjugá-los em suas formas regulares no presente. Hoje analisaremos o pretérito. Falaremos sobre como usá-lo de forma apropriada, as maneiras de conjugá-lo no indicativo e no subjuntivo e sobre suas formas no particípio.

Café na mão? Tudo pronto? Então vamos lá!

Nós temos três pretéritos do indicativo na Língua Portuguesa: o pretérito perfeito, o pretérito imperfeito e o pretérito mais-que-perfeito. A conjugação de cada um deles não é muito complicada, o grande problema é a hora de usá-los.

Pretérito perfeito

Ele é usado sempre que nos referimos a uma ação concluída. É algo que já aconteceu, que está terminado.

1ª Conjugação no singular: Substituir o -ar final por -ei na primeira pessoa, o -r por -ste na segunda e o -ar por -ou na terceira.

Levantar → Eu levantei assim que o vi.

Amar → Tu o amaste por muitos anos.

Beijar → Ela o beijou às três da manhã.

Olhemos para o segundo exemplo agora: “tu o amaste por muitos anos”. Isso significa que, no tempo em que a pessoa diz isso, ela acredita que seu interlocutor já não ama mais a pessoa a quem se refere. “Amar” é uma ação concluída, terminada.

2ª Conjugação no singular: Substituir o -er final por -i na primeira pessoa, o -r por -ste na segunda e o -r por -u na terceira.

Sofrer → Eu sofri por ti.

Beber → Tu bebeste demais.

Morrer → Ela morreu ontem.

3ª Conjugação no singular: Substituir o -ir final por -i na primeira pessoa, o -r por -ste na segunda e por -u na terceira.

Sacudir → Eu sacudi os lençóis.

Mentir → Tu mentiste mal demais.

Dividir → Ele dividiu a comida.

Camy, por que você não apresentou os plurais? Simples! Porque as regras de plural são iguais para todas conjugações. Se vocês prestarem atenção, as regras para a formação da segunda pessoa do singular (tu) também são iguais!

1ª, 2ª e 3ª Conjugações no plural: Substituir o -r final por -mos na primeira pessoa, por -stes na segunda e acrescentar -am na terceira.

Chorar → Nós choramos a sua morte.

Apagar → Vós o apagastes de suas vidas.

Falar → Eles falaram sobre você.

Receber → Nós recebemos um prêmio.

Escrever → Vós escrevestes muito bem.

Bater → Eles bateram o carro.

Fugir → Nós fugimos de carro.

Dormir → Vós dormistes a tarde inteira.

Desistir → Eles desistiram de sair.

É interessante ver aqui que a primeira pessoa do plural no pretérito perfeito e no presente do indicativo se conjugam da mesma forma. O correto é “nós choramos” em ambos os tempos.

No fim, vocês só precisam prestar atenção mesmo na primeira e na terceira pessoas do singular (eu e ele/ela), que são as que mudam!

Pretérito imperfeito

É usado para falar sobre ações ainda em acontecimento no tempo pretérito ou que foram interrompidas.

Como pode ter uma ação em acontecimento se estamos falando em passado? Se é passado, já acabou, certo?

Depende. Ao contarmos uma história, tentamos colocar o leitor dentro dela. Isso significa que nós criamos um “tempo” para a história que estamos contando (e isso vale tanto para a narrativa quanto para uma anedota que alguém conta para outras pessoas). Dentro dessa linha temporal que criamos, as coisas podem ainda não ter terminado. Isso fará sentido daqui a pouco, observe:

1ª Conjugação no singular: Substituir o -r final por -va na primeira pessoa, o -vas por -va na segunda e o -ar por -ou na terceira.

1ª Conjugação no plural: Substituir o -r final por -vamos na primeira pessoa, por -veis na segunda e por -vam na terceira.

Levantar → Eu levantava às seis horas todos os dias.

Amar → Tu o amavas demais.

Beijar → Ela o beijava às três da manhã.

Chorar → Nós chorávamos a sua morte.

Apagar → Vós apagáveis seus exercícios.

Falar → Eles falavam sobre você.

Digamos que você está criando um contexto para sua história. “Eu levantava às seis horas todos os dias”. A história se passa dentro desse tempo em que a pessoa acordava às seis horas, é uma ação constante para o tempo narrativo. “Eu levantei às seis horas todos os dias” só fará sentido se no tempo em que a história se passa a pessoa já não fizer mais isso.

“Tu o amavas demais” mantém a ideia de que hoje a personagem não o ama mais. A história que ela vai contar, por outro lado, se passa no tempo em que aquele amor ainda existia.

“Ela o beijava às três da manhã” indica que ainda há o que ser dito. A personagem ainda está beijando quando algo os interrompe, ou quando um terceiro personagem aparece… Enfim, a narrativa precisa continuar, porque o “beijava” indica que a ação está em andamento naquela linha temporal.

Eu sei que o “apagáveis” está muito estranho, mas aí é porque o “vós” caiu em desuso e nós não estamos acostumados. Como escritores, à exceção de quem escreve histórias de época, não é preciso saber as conjugações nessa pessoa.

2ª Conjugação no singular: Substituir o -er final por -ia na primeira pessoa, o -r por -ias na segunda e o -r por -ia na terceira.

2ª Conjugação no plural: Substituir o -r final por -íamos na primeira pessoa, por -íeis na segunda e por -iam na terceira.

Sofrer → Eu sofria por ti.

Beber → Tu bebias demais.

Morrer → Ela morria quando ele chegou.

Receber → Nós recebíamos um prêmio.

Escrever → Vós escrevíeis muito bem.

Bater → Eles batiam o carro.

Aqui seguimos a mesma lógica. “Eu sofria” quando alguma coisa aconteceu. “Tu bebias naquele tempo em que…” e segue a história.

“Ela morria quando ele chegou” indica que a personagem ainda não estava morta, mas quase lá.

3ª Conjugação no singular: Substituir o -r final por -a na primeira pessoa, o -r por -as na segunda e por -a na terceira.

3ª Conjugação no plural: Substituir o -r final por -amos na primeira pessoa, por -eis na segunda e por -am na terceira.

Sacudir → Eu sacudia os lençóis.

Mentir → Tu mentias mal demais.

Dividir → Ele dividia a comida.

Fugir → Nós fugíamos de carro.

Dormir → Vós dormíeis a tarde inteira.

Desistir → Eles desistiam de sair.

É interessante perceber que a primeira e a terceira pessoas do singular (eu e ele/ela) sempre ficam iguais.

Notem também que os plurais da segunda e da terceira conjugações são formados da mesma maneira, com a diferença de que o “e” final vira “i” na segunda conjugação.

A Língua Portuguesa é constituída por padrões; não é preciso decorar todos os casos, porque eles se repetem. Além disso, vocês sempre podem recorrer ao Google quando estiverem em dúvida sobre como conjugar certo verbo. O mais importante aqui é que você entenda quando usar cada tempo verbal.

Pretérito mais-que-perfeito

Na hora de escrever uma história, quem escolhe ambientá-la no pretérito utiliza os pretéritos perfeito e imperfeito como sendo os tempos principais do texto. Isso significa que é com verbos nessas conjugações que a trama principal se desenvolverá. O pretérito mais-que-perfeito é utilizado quando o autor quer se referir a algo que aconteceu antes desse tempo de narrativa.

Digamos que a protagonista esteja se lembrando de algo que aconteceu dois dias antes do tempo de narrativa daquele capítulo. Todas as recordações, a cena de que ela se lembra, precisam estar no pretérito mais-que-perfeito, porque se passam antes.

Melhor parte: todas pessoas, de todas as conjugações, são formadas a partir das mesmas regras. É importante lembrar que as regras de acentuação mudam de acordo com a tonicidade das palavras, não com a conjugação. Para saber mais sobre acentuação, confira os dois primeiros textos deste blog.

1ª pessoa: Acrescentar -a ao final do verbo no singular e -amos no plural.

2ª pessoa: Acrescentar -as ao final do verbo no singular e -eis no plural.

3ª pessoa: Acrescentar -a ao final do verbo no singular e -am no plural.

Levantar → Eu levantara às seis horas.

Amar → Tu o amaras demais.

Beijar → Ela o beijara às três da manhã.

Chorar → Nós choráramos a sua morte.

Apagar → Vós apagáreis seus exercícios.

Falar → Eles falaram sobre você.

Sofrer → Eu sofrera por ti.

Beber → Tu beberas demais.

Morrer → Ela morrera quando ele chegou.

Receber → Nós recebêramos um prêmio.

Escrever → Vós escevêreis muito bem.

Bater → Eles bateram o carro.

Sacudir → Eu sacudira os lençóis.

Mentir → Tu mentiras mal demais.

Dividir → Ele dividira a comida.

Fugir → Nós fugíramos de carro.

Dormir → Vós dormíreis a tarde inteira.

Desistir → Eles desistiram de sair.

Quer fazer uma pausa? Agora é a hora! Encha sua xícara com mais café, alongue-se, respire um pouco. Pronto?

Pretérito imperfeito do subjuntivo

O subjuntivo tem apenas um pretérito. Ele é usado em casos de condição. Normalmente, utilizam-se orações no futuro do pretérito para completar essas frases (conversaremos mais sobre isso no próximo texto).

Vantagem: as regras de são as mesmas para todas as conjugações.

1ª pessoa: Substituir o -r final por -sse no singular e por -ssemos no plural.

2ª pessoa: Substituir o -r final por -sses no singular e por -sseis no plural.

3ª pessoa: Substituir o -r final por -sse no singular e por -ssem no plural.

Levantar → Se eu levantasse às seis horas todos os dias...

Amar → Se tu o amasses menos...

Beijar → Quando ela o beijasse às três da manhã...

Chorar → Se nós chorássemos a sua morte...

Apagar → Se vós apagásseis seus exercícios....

Falar → Caso eles falassem sobre você.

Sofrer → Se eu sofresse por ti...

Beber → Caso tu bebesses demais...

Morrer → Talvez ela morresse.

Receber → Se nós recebêssemos um prêmio...

Escrever → Quando vós escrevêsseis muito bem...

Bater → Se eles batessem o carro...

Sacudir → Caso eu sacudisse os lençóis...

Mentir → Se tu mentisses mal demais...

Dividir → Se ele dividisse a comida...

Fugir → Se nós fugíssemos de carro...

Dormir → Se vós dormísseis a tarde inteira...

Desistir → Talvez eles desistissem de sair...

Como deu para perceber, todos os exemplos exigem um contexto para que a frase faça sentido. “Talvez eles desistissem de sair, se eu lhes pedisse”. “Se nós fugíssemos de carro, realizaríamos todos os nossos sonhos”. Isso porque, como eu disse antes, este tipo de tempo costuma indicar condições.

Pode também indicar dúvida na resposta, como é o caso do exemplo dado antes. “Talvez eles desistissem de sair, se eu lhes pedisse.” Apesar de a ordem estar trocada, a condição é “se eu lhes pedisse”, e “talvez eles desistissem de sair” é a resposta, a dúvida. Não é tão difícil quanto parecia, certo?

E é assim que montamos os pretéritos na nossa língua. Lembrem-se sempre de que o mais importante é saber quando utilizá-los. A conjugação pode ser descoberta na Internet, porém se o autor não souber qual dos pretéritos utilizar em cada situação, seu texto pode ficar confuso.

Antes de encerrar, falaremos rapidinho sobre uma das formas nominais do verbo: o particípio.

Reconhecemos o particípio regular naqueles verbos terminados em -do (partido, chegado, fechado). Ele desempenha duas funções principais: a primeira é a de cumprir o mesmo papel do pretérito mais-que-perfeito (referir-se a uma ação que se passa antes do tempo da narrativa), a segunda é a de cumprir um papel parecido com o adjetivo.

“Ele havia sorrido para mim.” → pretérito

“O gato molhado miou.” → adjetivo

“Ele foi absolvido.” → adjetivo

É importante perceber que ele sempre vem acompanhado de outro verbo. Normalmente, o verbo que o acompanha é um auxiliar, como no primeiro caso. Às vezes, como em “o gato molhado miou”, isso muda. “Miar” é mais importante do que “molhar”, por isso “miar” não é auxiliar.

Alguns verbos possuem dois particípios: o regular e o irregular. Como os verbos auxiliares sempre são ou “ter” e “haver”, ou “ser” e “estar”, há uma regra específica para os verbos chamados abundantes (que têm mais de um particípio):

Verbos Irregulares: acompanham os verbos “ser” e “estar”.

Verbos Regulares: acompanham os verbos “ter” e “haver”.

“O trabalho foi feito.

Havia trazido um pacote de salgadinho.”

“A encomenda está entregue.”

“Eu tinha entregado um bolo para ele.”

Não é difícil, certo?

Para encerrar, vou deixar o exemplo do uso correto de alguns verbos irregulares que eu vejo serem utilizados de forma inadequada por aí:

“Ele interveio antes que algo de ruim acontecesse.” (não é interviu)

“A rainha manteve a cabeça erguida.” (não manteu)

“O homem reouve seus documentos naquele dia, e eu reouve os meus.” (não reaviu ou reaveu, tampouco reavi)

“Eu me contive para que não brigássemos” (não conti)

“Talvez corresse em sua direção” (não corre-se)

“Havia chegado tarde” (não chego)

“Haviam soltado pipas naquela tarde” (não solto)

“Pipas foram soltas” (não soltadas)

É bacana ver as conjugações de verbos que não utilizamos muito. Aqui temos uma lista com 291 verbos irregulares conjugados, para quem quiser dar uma olhada.

Espero que agora seja mais fácil escrever aquelas cenas de reminiscências em suas histórias, visto que agora já sabem quando usar cada tempo verbal.

Como sempre, quaisquer dúvidas, só precisam deixar aí nos comentários ;)

Um beijão para todos!


Revisão por Anne Liberton


Referências

BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. 37. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira; Lucerna, 2009.

ARAÚJO, Ana Paula de. Particípio. Info Escola, [S.l.] [entre 2006 e 2018]. Disponível em: <https://www.infoescola.com/portugues/participio-2/>. Acesso em: 3 out. 2018.

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March 2, 2021, midnight 0 Report Embed 3
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Primeiro contato com os verbos: Conhecendo os modos e flexões no presente

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Primeiro contato com os verbos: Conhecendo os modos e flexões no presente

Texto por Camy

Olá, gente linda! Hoje vamos falar sobre algo de extrema importância na hora de escrever: os verbos. Eles são o centro da grande maioria das nossas frases e não há como desenvolver uma história sem os utilizar. Como o assunto é muito extenso, vamos dividi-lo em três partes. Neste começo trataremos da definição, da sua importância e de noções gerais sobre os modos e as formas nominais, tudo isso com foco no tempo presente. Nos próximos textos abordaremos o pretérito e o futuro.

Camy, espera aí! E a conjugação?

Tenho dois sites ótimos para você: conjuga-me e conjugação. Você com certeza encontrará o que procura num deles. Meu objetivo é explicar como a conjugação é feita e o que cada tempo e modo realmente significa. Sabendo isso, é possível conjugar qualquer verbo regular (os irregulares podem nos dar dor de cabeça, mas isso é assunto para mais tarde). Não vejo motivo para encher isso aqui com tabelas que vocês podem encontrar com facilidade no Google.

Pronto? Café em mãos? Ótimo!

O que são verbos, afinal? Verbos são aquelas palavras que indicam ação, estado ou fenômeno. Eles têm três terminações em suas formas infinitivas (quando não estão conjugados): ar, er e ir. O diferencial do verbo para as outras classes é que ele pode ser flexionado em pessoa (eu, tu, ele, nós, vós, eles), tempo (pretérito, presente e futuro), número (singular ou plural), voz (ativa ou passiva) e modo (indicativo, subjuntivo e imperativo); além disso, há também as formas nominais do verbo (infinitivo, gerúndio e particípio). “Chuva” e “chover”, por exemplo, são palavras com um sentido bastante parecido. A chuva é a água caindo do céu em si, a “coisa” (substantivo). Chover é o ato, o fenômeno (verbo).

Mas, Camy, não tem como conjugar “chuva”! Não existe “eu chovi, tu chovestes”.

Verdade, não podemos conjugar fenômenos da natureza em todas as pessoas, mas na terceira, sim. Além disso, nós podemos modificar “chover” para indicar tempo. Olha só:

Choveram flores ontem. (elas choveram - pretérito do indicativo)

Que chova semana que vem! (presente do subjuntivo)

Está chovendo! (presente, gerúndio)

Três dias atrás, havia chovido. (pretérito, particípio)

Recapitulando: verbos exprimem ação, estado ou fenômeno, possuem três terminações e podem ser flexionados em pessoa, tempo, número, modo e voz. Beleza? Não é tão difícil, vamos lá!

Camy, espera! Você disse três terminações: ar, er e ir. Mas e “pôr”? Não é verbo também?

Sim! “Pôr” é um verbo (eu ponho, tu pões, ele põe...) e se enquadra na segunda conjugação: er. É possível perceber esse “e” em algumas flexões, como em “põe”, por exemplo. Isso porque originalmente o verbo era “poer”, não “pôr”. Isso aqui é mais uma curiosidade do que qualquer outra coisa.

Acho que assim já temos uma noção do que é o verbo e de como ele funciona, certo? Ok. Vamos, então, entender por que ele é tão importante na hora de escrever. Os verbos compõem a classe de palavras que mais contém informações num termo. Quando estamos desenvolvendo uma cena, é importante sermos concisos para que possamos passar a ideia desejada sem deixarmos a narrativa maçante.

Vamos tratar com exemplos que fica mais simples, ok?

Entendíamos muito bem o que estava acontecendo.

Temos três verbos aqui. O primeiro é “entendíamos”, que está conjugado na primeira pessoa do plural (nós), então sabemos que o narrador está incluído; “-ia” aponta que o verbo está conjugado no pretérito imperfeito do indicativo (que veremos mais a fundo no próximo post). Só com essa palavra, percebemos que:

1) “Nós” está subentendido;

2) O que é narrado está no passado.

“Estava acontecendo” são os dois outros verbos (estar e acontecer) que aqui se juntam numa locução verbal. Isso significa que há um verbo mais importante que o outro; um auxiliar e um principal. O auxiliar basicamente acompanha o principal e ajuda a complementar seu sentido; nem tudo pode ser expresso por um verbo só. Estar é o verbo auxiliar, acontecer é o principal. O tempo é indicado pelo auxiliar: “-va” indica o pretérito imperfeito do indicativo. A terminação “-ndo” indica o gerúndio, que sempre aponta ações simultâneas (que acontecem ao mesmo tempo). Assim, percebemos o seguinte: (Nós) entendemos o que se passava ao mesmo tempo que a cena em si acontecia (tudo isso no passado).

Eu sei que parece um pouco confuso agora, porém vamos trabalhar com vários exemplos até o final desse assunto e acredito que tudo se encaixe até lá. É importante conhecer todos os modos para que possamos trabalhar a conjugação; deixe-me apresentá-los a você:

Indicativo: Certezas, fatos. É o que já aconteceu, está acontecendo ou acontecerá em breve.

Subjuntivo: Incertezas. Talvez aconteça, depende de algo para acontecer no futuro ou para que tivesse acontecido no passado.

Imperativo: Ordem, comando.

Além disso tudo, o verbo também pode aparecer em uma das suas formas nominais. Antes de trabalharmos conjugação, vamos dar uma olhadinha nelas:

Infinitivo: É quando o verbo aparece com a sua terminação -ar, -er ou -ir. Amar, beber, sorrir, por exemplo.

Gerúndio: Indica uma ação em andamento. Sua terminação é -ndo. Amando, bebendo, sorrindo.

Particípio: Sempre exige um verbo auxiliar (ter ou haver). Nos verbos regulares, sua terminação é -do. Amado, bebido, sorrido.

Ok, isso encerra a primeira parte do texto, que focava em lhe apresentar os elementos com os quais vamos trabalhar a partir daqui. Agora você tem uma noção bem básica de como os verbos funcionam, portanto é hora de aprofundar esses conhecimentos. A fim de não sobrecarregar ninguém, o resto do texto abordará apenas exemplos com verbos no presente. No próximo texto, abordaremos o pretérito e, a seguir, o futuro. Desse jeito, acredito eu, poderemos falar sobre o que realmente é preciso saber a respeito de verbos na hora de escrever uma história.

O presente é o que acontece agora. Não o que se passou ontem, não o que acontecerá semana que vem, mas o hoje. Algumas pessoas gostam de escrever neste tempo, apesar de, ao menos em plataformas virtuais (em especial se tratando de fanfictions), o pretérito ainda ser mais comum.

Indicativo: Como eu disse antes, o presente do indicativo aponta certezas. Lembram-se de que falei sobre todos os verbos serem separados em três grupos, cada qual com sua terminação? Pois é, agora isso será importante. Tudo que eu mostrar a seguir se refere aos verbos regulares.

1ª Conjugação no singular: Substituir o -ar final por -o na primeira pessoa, o -r por -s na segunda e eliminar o -r na terceira.

1ª Conjugação no plural: Substituir o -r final por -mos na primeira pessoa, por -is na segunda e por -m na terceira.

Costumamos fazer essas associações de forma automática, porque o português é nossa língua materna.

Digitar → Eu digito muito devagar.

Falar → Tu ainda falas com ela?

Achar → Ela acha que sim.

Amar → Nós amamos você.

Cantar → Vós cantais bem.

Fechar → Eles não fecham os olhos quando beijam.

Perceberam que algumas dessas frases não representam ações que necessariamente acontecem neste instante? Por exemplo, “eles não fecham os olhos quando beijam” é uma frase que pode ser usada numa conversa que se passa três dias depois do dito beijo. Isso é porque o presente pode ser visto como recente, não apenas como imediato. Eles não fecham os olhos sempre que beijam, em todos os beijos dados nos últimos tempos e nos que serão dados num futuro próximo também, porque é algo que se repete. Não temos um nome específico para esse fenômeno na língua portuguesa, mas o que já vem acontecendo há um tempo e provavelmente será repetido no futuro tende a ser dito no presente.

“Nós amamos você”, por exemplo, se enquadra nesse mesmo quesito: o amor não existe neste único momento, ele é uma constante na vida dessas pessoas.

As regras da segunda conjugação são muito parecidas com as da primeira, veja:

2ª Conjugação no singular: Substituir o -er final por -o na primeira pessoa, o -r por -s na segunda e elimina o -r na terceira.

2ª Conjugação no plural: Substituir o -r final por -mos na primeira pessoa, por -is na segunda e por -m na terceira.

Beber: Eu bebo suco de laranja.

Viver: Tu vives muito bem.

Vender: Ela vende carros usados.

Aprender: Nós aprendemos a cozinhar na escola.

Escrever: Vós escreveis muito rápido.

Correr: Eles correm todas as tardes.

A terceira conjugação é diferente das outras duas porque muitas vezes sua vogal muda de i para e.

3ª Conjugação no singular: Substituir o -ir final por -o na primeira pessoa, por -s na segunda e por -e na terceira.

3ª Conjugação no plural: Substituir o -r final por -mos na primeira pessoa, por -is na segunda e o -ir final por -em.

Sacudir: Eu sacudo os lençóis.

Mentir: Tu mentes mal demais.

Dividir: Ele divide a comida.

Fugir: Nós fugimos de carro.

Dormir: Vós dormis a tarde inteira.

Desistir: Eles desistem de sair.

A questão com a terceira conjugação é que ela abriga muitos verbos irregulares, como sorrir, cair, sair, ir, vir, pedir etc. Como dito no começo, existem diversos sites com a conjugação correta deles e não é minha intenção passar tabelas aqui. Falaremos apenas sobre um verbo irregular hoje: ir.

Por que o ir? Bom, porque ele não foge às regras apenas na conjugação gramatical, ele também age como verbo auxiliar e, mesmo conjugado no tempo presente, refere-se ao futuro.

Comecemos pelo gramatical, conjugando “ir” no presente do indicativo: eu vou, tu vais, ele vai, nós vamos, vós ides, eles vão. A única pessoa do discurso que lembra mais ou menos a forma infinitiva (ir) é o vós, entretanto ele está em desuso nos dias de hoje.

Nos exemplos a seguir, percebam que “ir” faz referência ao tempo futuro, mesmo estando conjugado no presente:

Vamos à praia amanhã?

Eles vão na viagem de semana que vem?

A gramática normativa nos manda utilizar “iremos” e “irão”, respectivamente, nesses dois exemplos. No Brasil, porém, o futuro do verbo “ir” é pouquíssimo utilizado (e isso apenas acontece em momentos formais ou quando é preciso escrever um texto acadêmico).

A bem da verdade, no cotidiano brasileiro, o futuro de forma geral é utilizado muito pouco. O mais comum é construirmos as frases utilizando o verbo “ir” como auxiliar. Veja:

Vamos ir à praia amanhã?

Você vai querer um sorvete?

Ele vai pedir a mão dela em casamento!

Todas essas frases estão com o verbo auxiliar conjugado no presente, porém se referem a um fato futuro. Na hora das descrições (principalmente se seu texto estiver em terceira pessoa), é bom evitar esse tipo de construção, porque o exagero de “vai” pode deixar o texto um tanto poluído e repetitivo. Em diálogos, por outro lado, é aconselhável utilizá-las para que a conversa entre os personagens saia natural (afinal, quem diz “Você quererá um sorvete?”?).

Subjuntivo: O subjuntivo indica dúvidas, incertezas e às vezes desejos. O presente aqui funciona da mesma maneira que no indicativo: representa todo o contexto atual da pessoa, não necessariamente o que acontece naquele instante. Uma dica para fazer a conjugação no presente do subjuntivo é colocar um que ou um talvez antes do verbo. A primeira e a terceira pessoa do singular sempre são iguais (eu e ele).

1ª Conjugação no singular: Para formar a primeira e a terceira pessoas, é preciso retirar o -ar final e substituí-lo por -e. Para a segunda, substituir o -ar final por -es.

1ª Conjugação no plural: Substituir -ar por -emos na primeira pessoa, por -eis na segunda e por -em na terceira.

DigitarTalvez eu digite muito devagar.

FalarQue tu fales com ele de novo!

AcharTalvez ela ache que sim.

Amar → Espero que nós o amemos tanto quanto você.

CantarTalvez vós canteis melhor em dupla.

Fechar → Que eles não fechem os olhos dessa vez!

2ª Conjugação no singular: Para a primeira e terceira pessoas, substituir o -er final por -a. Para a segunda, substituí-lo por -as.

2ª Conjugação no plural: Para a primeira pessoa, substituir o -er final por -amos. Para a segunda, por -ais e para a terceira, por -am.

Beber: Que eu beba tequila hoje!

Querer: Talvez tu queiras muitas besteiras.

Vender: Que ela venda todos os seus desenhos!

Viver: Talvez nós vivamos para ver isso.

Escrever: Talvez vós escrevais muito rápido para a máquina.

Correr: Desejo que eles corram até cansar…

Percebe que aqui houve uma inversão? Os verbos terminados em -ar ficam conjugados com -e, e os verbos terminados em -er são conjugados com -a!

3ª Conjugação no singular: Para a primeira e terceira pessoas, substituir o -ir final por -a. Para a segunda, substituí-lo por -as.

3ª Conjugação no plural: Para a primeira pessoa, substituir o -ir final por -amos. Para a segunda, por -ais e para a terceira, por -am.

Sacudir: Que eu me sacuda toda nesta festa!

Imprimir: Desejo que tu imprimas isto para mim, por favor.

Dividir: Talvez ele divida a comida… É só perguntar com jeitinho.

Fugir: Que nós fujamos de carro, então! Estou exausta!

Dormir: Que vós durmais à noite tão bem quanto durante o dia!

Garantir: Talvez eles nos garantam segurança...

Como deu para perceber, a terceira conjugação aparece igual à segunda! Parece muita coisa para entender, mas na verdade quase tudo que eu falei aqui é natural ao falante do português brasileiro.

E é isso, acabamos essa primeira parte!

Deu para entender o indicativo, o subjuntivo e suas diferenças? Qualquer coisa, deem um grito na hora dos comentários!

Não vencemos o conteúdo, é claro, porém acredito que eu tenha conseguido pincelar um pouquinho de cada coisa. Minha intenção é não o sobrecarregar com informações demais, por isso nos limitamos a noções gerais, indicativo, subjuntivo, gerúndio e presente nesta primeira parte. Na próxima, falaremos sobre particípio e pretérito. Espero que tenham entendido direitinho, e qualquer coisa deixem um comentário!

Um beijo e um queijo a quem conseguiu terminar isto aqui :*

Revisão por Anne Liberton

Referências

BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. 37. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira; Lucerna, 2009.

TEMPOS verbais. Só Português, Rede Virtuous, Porto Alegre, [entre 2007 e 2018]. Disponível em: <https://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf60.php>. Acesso em: 8 ago. 2018.

INFINITIVO, gerúndio e particípio. Q.I. Educação, [S.l.], 2010. Disponível em: <https://www.qieducacao.com/2011/06/infinitivo-gerundio-e-participio.html>. Acesso em: 8 ago. 2018.

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Feb. 23, 2021, midnight 0 Report Embed 2
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Pronomes: dúvidas frequentes


Pronomes: dúvidas frequentes


Texto por Camy


Olá, pessoas! Hoje nós finalizaremos os textos sobre pronomes. O objetivo aqui é retomar o mais importante do que foi dito até agora e aprofundar partes que não foram muito exploradas. Pegue seu café e se prepare, porque hoje teremos muitas informações para assimilar!


Comecemos pela colocação pronominal! Existem diversas regras e algumas delas são ultrapassadas e não harmonizam bem com o português brasileiro. Lembrem-se que o mais importante numa história é fazer com que as palavras se encaixem; no fim, as frases precisam soar bem se lidas em voz alta.


Temos três possibilidades de colocação: próclise (o pronome vem antes do verbo), mesóclise (o pronome vem no meio do verbo) e a ênclise (o pronome vem depois do verbo).


Regra principal: Esqueçam a mesóclise.


A menos que esteja ambientando sua história num tempo histórico ou país em que a mesóclise seja usada, ignore-a. Mesmo quando bem utilizada, ela destoa da escrita da maior parte dos escritores brasileiros e deixa o texto com um rebuscado falso e nada atraente. Eu usei mesóclise por dois anos antes de perceber que não fazia sentido nenhum manter essa construção nos meus textos, porque não me acrescentava em nada.


Claro que há exceções. Se você é uma daquelas raras pessoas que consegue harmonizar a mesóclise em seu texto, parabéns. Faça o que é melhor para sua história. Aos outros, repito: esqueçam-na. Eu sei que parece radical, mas olhem os exemplos a seguir:


“Amanda queria uma bolsa e consegui-la-ia.”

Acha-los-ia nem que fosse no inferno.”

Beijar-te-ei no dia em que nos encontrarmos.”


Consegue ver o apelo de que falei antes? Essa construção não é nada natural e trava a leitura. Não faz sentido utilizar mesóclise em seu texto, não importa o que a gramática diga. Se você discorda, deixe um comentário expondo seu ponto de vista, porque eu não vejo um ponto positivo em utilizá-la em histórias contemporâneas. É claro que tudo depende de contexto, e textos históricos não se enquadram ao que eu estou falando, porque eles se passam num tempo em que essas construções eram comuns.


De acordo com a gramática, a forma natural da nossa língua é a ênclise. Ou seja, a menos que tenhamos um elemento que puxe o pronome para frente, ele sempre ficará depois do verbo. Vários gramáticos acreditam que isso talvez ainda seja verídico para Portugal, porém que não se aplica mais ao Brasil. Eu concordo com eles, na língua falada nós não utilizamos mais os pronomes depois do verbo. Na escrita, por outro lado, eu ainda vejo (e utilizo) a ênclise na maior parte das vezes, porque isso ajuda a deixar o texto mais harmônico. Em textos acadêmicos, ela aparece bastante (às vezes até demais), e na literatura também é uma ótima ferramenta para evitar repetição.


Após verbos, não utilizamos pronomes retos (eu, tu, ele, nós, vós, eles). Por isso, “vendeu ele” ou “comprou ela” são construções a serem evitadas na hora da narrativa. Além de irem contra a gramática, elas não soam bem e costumam causar muita repetição no texto e deixá-lo poluído. A fim de evitar isso, fazemos o que eu acabei de fazer com o “deixar ele [o texto]”: utilizamos os pronomes oblíquos. “Deixar ele: deixá-lo”. Em diálogos, por outro lado, o autor pode escolher por não utilizar esse recurso a fim de manter a naturalidade da conversa.


Há uma regra: se não há elemento que puxe próclise, é ênclise. Não se iniciam frases com pronomes, porque não há nada que os puxe para frente. Eu recomendo que ignorem essa regra na hora dos diálogos, porque os deixa muito artificiais. Dica: se há vírgula na palavra anterior ao verbo, é ênclise.


Amo-te mais que tudo.”

“Gostaria de vê-lo sempre bem.”

“Queria que a amizade entre os dois permanecesse dessa forma para sempre, mantivesse-se forte como naquele momento.”

“Sorriu, fazendo-se de difícil.”

Seguiu-a pelo caminho esburacado.”


O primeiro exemplo é de um diálogo, provavelmente, já que a frase costuma ser dita para outra pessoa. No nosso século, ninguém mais fala assim no cotidiano, nem as avós. Soa artificial. “Te amo mais que tudo” é bem mais agradável ao ouvido, porém gramaticalmente inadequada. No que diz respeito aos pronomes, escolham sempre a harmonia e deixem a gramática um pouco de lado.


O segundo, o quarto e o quinto exemplos já são muito mais agradáveis e corriqueiros. Em narrativas, são as melhores formas de evitar repetir demais palavras como “ele”, que já aparecem bastante por serem as que usamos para nos referirmos aos personagens. Em diálogos, eu aconselharia a trocar a segunda para “Gostaria de te ver sempre bem”, ou “Gostaria de ver ele sempre bem”, porque parece mais natural, mas isso é assunto para o Tecendo Histórias.


O terceiro exemplo está gramaticalmente correto, como o primeiro, mas não tem harmonia nenhuma. Sendo honesta, eu reformularia a frase inteira para remover o segundo verbo, mas digamos que eu queira mantê-lo na frase. Eu disse que a vírgula manda o pronome para o fim do verbo, e isso está correto, porém nesse caso há um estranho “-sse-se” ao final. Eu colocaria o pronome para frente, mesmo sabendo que isso é contra a gramática normativa, porque o leitor conseguiria deslizar os olhos com mais facilidade nessa frase.


Mas, afinal, o que puxa próclise?


Palavras negativas (não, nunca, jamais…), afirmativas (sim, com certeza, sempre…), pronomes indefinidos (tudo, alguém…), pronomes relativos (que, se…) advérbios (qualquer um terminado em -mente, quando, assim…).


Na verdade, as palavras negativas e as afirmativas são advérbios e eu poderia ter juntado tudo num item só. Organizei dessa maneira porque é mais fácil pensar em “palavras negativas” e “palavras positivas” do que em advérbios, ao menos para quem tem dificuldades com nomenclaturas. Essas são ótimas dicas para quem gosta de escrever textos literários, porém se você estiver estudando para o vestibular, precisará procurar mais informações em outros lugares.


“Nunca mais me diga isso!” (palavra negativa)

“Eu sempre te vi como meu melhor amigo.” (palavra afirmativa)

“Provavelmente lhe contaria mais tarde.” (advérbio)

“Tudo se resolveu como queriam.” (pronome)


Também puxam próclise orações exclamativas, interrogativas ou optativas (que exprimem desejo. Elas basicamente têm um “que” subentendido).


“Você se sente bem?!”

“Quem me dera!”

“Deus te abençoe” (que Deus te abençoe)


Algumas frases têm construção pronta, como as seguintes:

-> Em + pronome + verbo no gerúndio:

“Em se tratando de pronomes, é assim que funciona”


-> Preposição + pronome + verbo no infinitivo (flexionado ou não)

“Por me desrespeitarem, serão castigados.”

“Para te agradar, comprei um bolo.”


Se você prestou atenção, deve ter percebido que pronomes pessoais e pronomes demonstrativos não puxam próclise. Eu, particularmente, puxo próclise quando qualquer pronome aparece na frase porque soa melhor para mim. “Eu amo-te” me parece errado demais. Os pronomes demonstrativos, por outro lado, não ficam ruins em ênclise:


Aquelas pessoas estranhavam-se.”

“As mesmas crianças batendo-se de novo.” (apesar de, aqui, eu preferir próclise)

Esse estranho chamou-me de canto.”

Cabe ao autor decidir como se sente mais confortável, nesses casos. Como deu para perceber, não é nenhum bicho de sete cabeças. Ainda assim, são regras importantes e é bom manter certa atenção sobre elas, porque segui-las ajuda muito na hora de manter o texto coeso. Mas lembrem-se: harmonia, na hora da colocação pronominal, é mais importante que gramática. Eu recomendo que você pesquise em alguns outros sites macetes de como decorar essas regras ou mesmo para vê-las de forma mais profunda, porque para se decidir se quer ou não seguir a gramática normativa, é essencial que você a domine.

Entendeu como a colocação funciona? Ótimo! Hora do café. Levante-se, pegue mais uma xícara, alongue os braços e se prepare para a próxima rodada. Pronto?

Os pronomes demonstrativos sempre causam mais dúvidas, em especial este, esse e suas variações, por isso resolvi aprofundá-los neste último texto. Esses pronomes se referem a objetos, pessoas ou acontecimentos em tempo, espaço ou mesmo no próprio texto. Trabalhemos com essas diferenças para que fique mais simples de todos entenderem.

Tempo

Este: presente. É o que acontece agora ou que ainda está acontecendo ou que acontecerá em breve. Esta semana é a semana em que escrevo o texto que você lê agora.

Esse: pretérito recente. É o que já aconteceu. As frases precisam de certo contexto para que possamos compreender a que termo o pronome se refere. “Fui passear semana passada. Isso foi muito especial.”

Aquele: pretérito não-recente. É o que já aconteceu há muito tempo, que está distante. “Quando eu tinha seis anos, fomos à praia. Aquela foi uma viagem muito especial”.

Espaço

Este: É o que está ao alcance da sua mão, ou muito perto. É o celular ou computador em que lê este texto, a roupa que usa.

Esse: É o que está um pouco mais distante. Pode se encontrar na porta ou mesmo do outro lado da sala.

Aquele: É o que está bem longe, como em outro cômodo ou casa.

Texto

Eu separei isto aqui porque acho essencial e o que mais usamos, na verdade.

Este: É o que você ainda não disse. Menos comum, normalmente vem junto de dois pontos. “Meu prêmio é este: uma barra de chocolate.” “O problema da minha cidade é esta falta de saneamento básico.”

Esse: É o que já foi dito no texto. Muito mais comum, porque o costume é retomarmos o que já dissemos. “Uma barra de chocolate, esse é meu prêmio.” “A falta de saneamento básico. Esse é o grande problema.”

Aquele: Pouquíssimo utilizado hoje em dia, porém explicarei para desencargo de consciência. Quando tivermos três elementos numa frase, como três nomes, o aquele se refere ao mais distante da nova frase (o esse ao do meio, o este ao mais próximo do ponto final). “Manuela, Allan e Kauê vieram à praia. Aquela usava biquíni, esse calção e este carregava uma prancha.” Como dá para perceber, a frase pode ficar confusa justamente por muitos não fazerem diferença entre esse e este, e caiu em desuso.

Durante este texto, eu utilizo “isso” ou “esse” em diversos momentos, podem cuidar. Depois que você entende a lógica por trás desses pronomes (os demonstrativos), eles não parecem tão difíceis, certo?

Agora que a parte mais pesada passou, vamos falar sobre os maiores erros que o pessoal costuma cometer no que diz respeito aos pronomes:

- Uso de mesmo/mesma.

Já aprendemos a diferença entre o pronome pessoal (eu, tu, ele…) e pronome demonstrativo (mesmo, aquele, isso…), certo? Muitas pessoas utilizam a expressão “o mesmo” ou “a mesma” como se fosse um pronome pessoal. Infelizmente, o erro já foi tão espalhado que até temos “Antes de entrar no elevador, verifique se o mesmo encontra-se parado no andar”. Para quem já está familiarizado com o uso padrão dos pronomes, ter “o mesmo” numa posição assim não agrada. Sugiro que evitem o uso desse pronome sempre que ele puder ser substituído por “ele” ou “ela”. Isso ajuda a deixar o texto mais gostoso aos leitores críticos.

- Uso de onde/aonde

Este aqui é bem comum e causa muita discórdia. Entretanto, é bastante simples de usar: aonde indica movimento. É a junção de “a” + “onde”, sendo “a” a preposição que vem acompanhada ao verbo. Por outro lado, onde representa locais físicos, lugares.

“Vai aonde?” (quem vai, vai a algum lugar.)

Onde você está?” (quem está em algum lugar, já chegou; está parado.)

Vale lembrar que onde não se refere a tempo ou lugares não-físicos, como sites da internet. Em caso de dúvida, substitua por “em que”, porque ambos têm quase o mesmo significado.

“O sonho onde eu era uma astronauta foi bacana.” → “O sonho em que eu era uma astronauta foi bacana.

- cujo

Não se usa artigo depois de cujo. Repito: não se usa artigo definido depois de cujo.

“O escritor cujo o livro eu comprei” → “O escritor cujo livro eu comprei”.

“A menina de cuja a franja eu gosto” → “A menina de cuja franja eu gosto.”

E é isto! Acredito que tenhamos conseguido abordar o mais importante sobre os pronomes neste último texto (que eu estou mexendo agora, que está sendo utilizado neste instante, por isso o “este”). Aqui, eu quis tirar as dúvidas finais e encerrar a parte de pronomes do nosso blog. Quaisquer dúvidas, fiquem à vontade para comentar!

Um beijo e um queijo para todos! :*

Revisão por: Karimy

Referências

MOREIRA, Daniele Fernanda Feliz. Colocação Pronominal. Info Escola, [S.l.] [entre 2006 e 2018]. Disponível em: <https://www.infoescola.com/portugues/colocacao-pronominal/>. Acesso em: 22 ago. 2018.

VILARINHO, Sabrina. Esse ou Este. Brasil Escola, Rede Omnia, Goiânia, [201-]. Disponível em: <https://brasilescola.uol.com.br/gramatica/esse-ou-este.htm>. Acesso em: 22 ago. 2018.

MARCONDES, Solange L. Mesmo: você sabe utilizar o pronome? UOL Educação, São Paulo, 2007. Disponível em: <https://educacao.uol.com.br/disciplinas/portugues/mesmo-voce-sabe-utilizar-o-pronome.htm>. Acesso em: 22 ago. 2018.

Aug. 30, 2018, 1:25 p.m. 0 Report Embed 1
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Ainda mais sobre pronomes: interrogativos, relativos, indefinidos e reflexivos

Ainda mais sobre pronomes: interrogativos, relativos, indefinidos e reflexivos.


Texto por XixisssUchiha


Oi, todo mundo!


Estamos de volta para continuar nossa conversa sobre pronomes. Como você pôde ver pelo título, hoje conheceremos melhor mais quatro tipos deles e então, no próximo texto, vamos retomar e aprofundar algumas questões para tentarmos minimizar ao máximo as dúvidas sobre esse assunto.


Começaremos pelos pronomes indefinidos. Eles são pronomes que se aplicam à 3ª pessoa do discurso e são utilizados em situações em que se queira exprimir sentido vago ou quantidade indeterminada. Existem diversos pronomes indefinidos e eles podem ser invariáveis (alguém, ninguém, tudo, nada, algo, cada, outrem), variáveis apenas em número (qualquer/quaisquer, bastante/bastantes) ou variáveis em número e gênero (algum(s)/alguma(s), nenhum(s)/nenhuma(s), todo(s)/toda(s), muito(s)/muita(s), pouco(s)/pouca(s), vários/várias, tanto(s)/tanta(s), quanto(s)/quanta(s), outro(s)/outra(s), certo(s)/certa(s)).


Alguns pronomes indefinidos sempre irão atuar como pronomes substantivos, isto é, sempre irão substituir um nome. É o caso de: alguém, ninguém, tudo, nada, outrem.


Pode ficar tranquilo, já está tudo arrumado.


No caso acima, o pronome tudo está substituindo o que quer que tenha sido arrumado, que poderá ser compreendido pelo contexto mais geral no restante do texto. Esse tipo de uso torna a construção mais sucinta, pois nos poupa de ter que enumerar todos os elementos a que se faz referência.


Por outro lado, alguns deles sempre serão pronomes adjetivos, ou seja, sempre estarão acompanhando um nome. Se encaixam nesse caso: cada, qualquer, certo, algum, nenhum.


Encontrei algumas fotos antigas. (acompanha o substantivo fotos).


Além disso, é interessante notar que os pronomes indefinidos assumem diferentes valores a depender do contexto. Como assim valores? Exatamente da maneira mais simples: certos pronomes indefinidos têm um sentido afirmativo de existência (alguém, algo) e outros um sentido negativo (nenhum, ninguém, nada). O pronome algum, porém, pode assumir ambos os sentidos, de acordo com sua posição na frase. Vamos ver alguns exemplos para ficar mais claro:


Não temos nada para conversar! (sentido negativo, não há o que ser conversado)

Alguém anotou o que o professor disse? (sentido positivo)

Algum desses livros é seu? (sentido positivo, pronome antes do substantivo livros)

Não encontrei livro algum na sala. (sentido negativo, pronome após o substantivo livros).


Temos ainda as locuções pronominais indefinidas, que são grupos de palavras que atuam como pronomes indefinidos, como: cada um, qualquer um, seja quem for, alguma coisa, quem quer que etc.


Quem quer que tenha te contado isso, estava mentindo.


Trocando em miúdos: os pronomes indefinidos são aqueles que utilizados quando não podemos determinar de quem ou do que se fala, bem como quando queremos falar de quantidades sem as especificar. Eles são interessantes na escrita quando não queremos, por exemplo, apontar uma data específica para algum evento.


“Já fazia algumas horas que Lilian esperava pela ligação, mas seu telefone insistia em não tocar”


Ok, vamos seguir em frente, agora falando dos pronomes interrogativos, cujo nome já dá a pista da função. Eles são utilizados para a formação de perguntas, diretas ou indiretas, e referem-se à 3ª pessoa do discurso. Nós temos quatro pronomes interrogativos: que, quem (que são invariáveis, ou seja, não mudam nem em número nem em gênero), qual (que pode variar em número para quais) e quanto (que pode variar em gênero e número: quantos, quanta, quantas).


Qual pronome interrogativo será utilizado depende da natureza do objeto da pergunta. Vamos explicar melhor:


O pronome que é utilizado para se referir principalmente a coisas, materiais ou não.


O que significa isso?


Quem, por outro lado, se refere a pessoas:


Eu quero saber de quem foi a ideia de vir pra esse lugar.


Os pronomes qual e quanto e seus derivados podem se referir tanto a coisas quanto a pessoas. O uso deles difere a partir do contexto da frase. Quando se quer passar uma ideia de seleção/categorização, utiliza-se o primeiro:


Qual é mesmo aquela marca de ketchup de que você gosta?


Já quando a ideia for de quantidade, utiliza-se o outro:


Quantas pessoas já confirmaram a presença no casamento?


Ufa, mais um tipo agora. Aguente firme! Vamos falar sobre sobre os pronomes relativos. Esses pronomes sempre se referem, isto é, se relacionam, a um termo citado anteriormente — por isso são chamados relativos. São eles: qual, o/a(s) qual (quais), cujo/cuja(s), que, onde, quanto/quanta(s).


Os pronomes relativos são muito importantes para nós, escritores, já que são bastante utilizados para evitar repetições e trazer mais fluidez ao texto. Por exemplo:


A Igreja estava toda decorada com flores que exalavam perfumes únicos e intensos.


Se não tivéssemos o pronome que para utilizar na construção dessa sentença, ela teria que ser desmembrada: “A Igreja estava toda decorada com flores. As flores exalavam perfumes únicos e intensos”. A repetição até poderia ser evitada com o pronome elas, por exemplo, mas a fluidez do texto ainda estaria prejudicada, percebe?


Que é o pronome relativo mais comum e pode se referir tanto a coisas quanto a pessoas (assim como o qual e suas variações). Quem, que se refere a pessoas, deverá sempre ser precedido de preposição (a quem/de quem).


Onde transmite ideia de lugar e pode se juntar com preposição (aonde/de onde/donde), conferindo uma ideia de movimento. Aqui é preciso ter muita atenção! É obrigatório que, ao usar o pronome onde, a referência antecedente seja um lugar físico. Não é incomum que este pronome seja utilizado fazendo referência a outro tipo de situação e isso, segundo as normas gramaticais, não é adequado. Muito provavelmente você já viu alguma construção semelhante a esta:


O outono era a época do ano onde Jack se sentia mais confortável.


É justamente isso que devemos evitar. Na frase acima, onde está se referindo a outono, porém tal substantivo não indica um lugar e sim uma estação do ano. Nesse caso o adequado é utilizar um pronome que se refira a coisas:


O outono era a época do ano na qual Jack se sentia mais confortável.


Respire fundo e venha conosco conhecer o último tipo de pronome: os reflexivos. É bem simples de entender: esses pronomes são utilizados quando o sujeito tanto pratica quanto recebe a ação. São pronomes reflexivos por excelência: se, si, consigo. Mas, além deles, os pronomes oblíquos átonos me, te, nos e vos também assumem essa função.


Yuri olhou-se no espelho mais uma vez antes de sair do quarto.

Naquele momento percebemos que havíamos nos preocupado à toa. Ela estava ótima.


Quando há mais de um sujeito praticando e recebendo a ação um sobre outro, os pronomes reflexivos assumem um caráter recíproco.


Qualquer um podia ver que aqueles dois se amavam.


Nesses casos nós corremos o risco de ter que lidar com ambiguidades. Por exemplo:


Mel e Ana enganaram-se.


Mel e Ana enganaram uma a outra ou ambas se enganaram a respeito de uma terceira coisa? Não dá pra saber, não é? Por conta disso, é interessante associar o pronome a uma expressão que dê fim a essa ambiguidade:


Mel e Ana enganaram-se entre si.


Esses e os demais pronomes que abordamos nessas últimas postagens têm ainda mais particularidades. A ideia aqui não é mostrar absolutamente tudo, até porque ficaria muito extenso. Mas no próximo texto, o último sobre esse tópico, vamos reforçar algumas questões essenciais e explorar melhor como os pronomes podem nos ajudar a melhorar nossa escrita.


Nos vemos lá, então. Até!


Revisão por Camy


Referências

BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. 37. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira; Lucerna, 2009.

PRONOMES indefinidos. Norma culta, Rede 7Graus, Matosinhos, entre 2007 e 2018. Disponível em: <https://www.normaculta.com.br/pronomes-indefinidos/>. Acesso em: 26 jul. 2018

PRONOMES interrogativos. Norma culta, Rede 7Graus, Matosinhos, entre 2007 e 2018. Disponível em: <https://www.normaculta.com.br/pronomes-interrogativos/>. Acesso em: 26 jul. 2018.

PRONOMES relativos. Norma culta, Rede 7Graus, Matosinhos, entre 2007 e 2018. Disponível em: <https://www.normaculta.com.br/pronomes-relativos/>. Acesso em: 28 jul. 2018.

FERNANDES, Márcia. PRONOMES reflexivos. Toda matéria: conteúdos escolares, Rede 7Graus, entre 2011 e 2018. Disponível em: <https://www.todamateria.com.br/pronomes-reflexivos/>. Acesso em: 06 ago. 2018. 

Aug. 15, 2018, 9:10 p.m. 0 Report Embed 1
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