Aquela torre estava de pé há tantos anos, havia sido o lar de outros monarcas, de outras rainhas, de concubinas e escravas. Nas paredes de pedra estavam gravados nomes dos que passaram por lá, os lamentos de prisioneiros que nunca pisaram fora dali e os desenhos de uma criança que nasceu amaldiçoada.

Não se parecia com o gêmeo, Luhan, também não tinha muita coisa da rainha Chanwhee, mas lembrava em detalhes um pouco do pai, Heechul. Era alguma coisa nos olhos ou, talvez, fosse o tom do cabelo, o jeito como trincava o maxilar ou a fala límpida, dura. Baekhyun era meio daquele jeito. Uma versão mais selvagem e despreocupada do pai.

A primeira neve não veio em dezembro. Surgiu no meio de junho, cortou o verão pelo meio e nos deixou preocupados. Meus pais e avós falaram alguma coisa sobre aquecimento global e eu bem quis acreditar neles, mas no fundo eu sabia a verdade: Kim Minseok estava infeliz.

Muitos anos antes, quando os humanos não passavam de cachorrinhos loucos para agradar, Chen tinha sido uma divindade. Um dos cinco generais do Céu, mas por conta da sua curiosidade havia sucumbido as artes das trevas e por isso, rebaixado a um demônio. Haviam sido tempos difíceis, mas estranhamente poderosos. Ele havia tentado reais ao longo dos séculos, roubado suas almas e promovido guerras, alimentado-se de sangue e vingança...

O dinheiro vinha como um bônus, como ele gostava de dizer. Faria tudo o que Kyungsoo pedisse de graça, mas o Do pagava mesmo assim. Odiava o tom de caridade que aquilo alcançava, preferia fingir que estava no controle, por isso, pagava. Às vezes, pagava por uma noite como aquela, quando deitavam ao lado um do outro e passavam o resto da noite fitando o teto. Pagava por companhia, apenas. Minseok era quem enfiava sexo em tudo, uma vez lhe disse e o outro se limitou a rir. Era um mal hábito.

Ele gostava, para seu desprazer, da forma como o silêncio o cobria. Não afastava o frio nem a fome ou a sede, só servia para deixa-lo amortecido, cada dia mais perdido em pensamentos e medos. A respiração da mãe costumava embalar seus sonhos bons, mas depois que tudo se tornou silêncio, Minseok sequer conseguia dormir. Ele apenas permanecia, pairando um pouco acima de si mesmo, perdido em sensações que o deixavam enojado.

Ele só queria que durasse. Havia rezado para todos os deuses possíveis, desejado aquilo com todas as forças que tinha. Era um pedido simples, um mantra preso na sua boca todas as vezes que deitava para dormir ao lado do namorado. Por favor, faça durar. Não durou. E no fim, era isso que mais machucava.

Ele tinha uma cicatriz no rosto. Um corte irregular na bochecha direita, surgia debaixo do olho e ia até o queixo. Feio. Esbranquiçado. Com as bordas tremidas como se a pessoa que tivesse feito aquilo não tivesse a mão firme. Deve ter tremido de ansiedade, Baekhyun pensou. A certeza de estar machucando alguém, de ter sangue nas mãos deve o ter cegado. A adrenalina correndo solta pelo corpo. Uma explosão de sensações que Baekhyun nunca quis experimentar.

Minseok descobriu que o amava no segundo que ele se aproximou e segurou suas mãos algemadas. Sob o chuva, o cheiro de noite e suor e terra e sangue, Baekhyun o fitou naquele milésimo de segundo pesaroso, triste demais para esconder e tão cheio de saudade que o ômega sentiu seu coração estremecer e os olhos ficarem úmidos, a boca se abriu e as palavras saíram tão baixinhas, abafadas por toda aquela confusão que bem poderia perdoar Baekhyun mais tarde por não ter escutado.

Não foi surpresa quando o gato apareceu na janela da sua casa, arranhando o vidro e com os olhos brilhando em travessura. Refletia o que estava em si. Então, meio sorrindo colocou o bichano pra dentro, deixou-o na sua cama e riu com o rosto contra o travesseiro quando encontrou o pedaço de papel preso na coleira do animal. Baekhyun realmente não estava brincando quando disse que daria um jeito de falar consigo.