_daanyyy Daniela Machado

- Warren…? - falou, hesitante - Lauren… - a voz dele ainda era exatamente como ela se lembrava, baixa e grave. Parecia, no mínimo, angustiado e tinha olheiras absurdas abaixo dos olhos verdes, como se não dormisse há dias. - O que está fazendo aqui? Achei que tivesse… você foi dado como morto depois de… - Eu sei - murmurou o mutante - será que eu posso entrar? Você é a única pessoa que pode me ajudar agora. A imagem de capa pertence a NEUTRALOMENS no Tumblr


Fan-Fiction Filme Nicht für Kinder unter 13 Jahren.

#258 #mutantes #anjo #Warren-Worthington-III #X-Men-Apocalipse #x-men #fora20
Kurzgeschichte
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One-Shot

Nota inicial:

Essa fic foi escrita para o desafio fora da caixa que conseguiu com toda a certeza me tirar da zona de conforto e eu amei <3

Avisos sobre o enredo: se passa após os acontecimentos de X-Men: Apocalipse e nosso querido anjo sobrevive por aqui, assim como nos quadrinhos. Sim, eu amei o Ben Hardy como Anjo e achei um desperdício matarem ele no filme. Sempre gostei muito do personagem nas HQs também. O enredo segue alguns princípios das HQs, outros do filme, e outras coisas eu mesma inventei, como, por exemplo, a Lauren. Qualquer dúvida, apenas me perguntem u.u

Boa leitura ^^


A garota assustou-se quando ouviu as batidas na porta da sacada de seu apartamento; quem faria isso às duas horas da manhã? Abriu apenas uma frestinha da porta silenciosamente e viu asas metálicas que reluziam sob o luar que eram desconhecidos por ela, porém a cabeleira loira e cacheada era inconfundível, ainda mais quando associada a alguém alado.

— Warren…? — falou, hesitante, se enrolando mais ainda no robe roxo que usava e ele virou-se para ela, confirmando as suas suspeitas

— Lauren… — a voz dele ainda era exatamente como ela se lembrava, baixa e grave. Parecia, no mínimo, angustiado e tinha olheiras absurdas abaixo dos olhos verdes, como se não dormisse há dias.

— O que está fazendo aqui? Achei que tivesse… você foi dado como morto depois de…

— Eu sei — murmurou — Será que eu posso entrar? Você é a única pessoa que pode me ajudar agora.

Ela abriu mais a porta, ainda receosa, não confortável com a ideia de dar-lhe as costas. Estava nervosa, já que, na última vez que ouvira notícias de Warren, ele estava do lado errado da força e aquelas asas… elas a assustavam um pouco. Era como se houvessem pegado o menino com cara de anjo rebelde de anos atrás e o transformado em um soldado sanguinário e… quebrado. Ela conseguia ver perfeitamente o quão quebrado ele estava por dentro. E isso machucava.

Lauren conhecia Worthington desde a adolescência, desde quando ele acreditava que sua mutação era uma maldição e que deveria ser contida. Sempre foram próximos e, apesar de ele sumir por tempos, voltava sempre que podia — ou precisava — para vê-la. Aquele era o maior período em que ele ficava fora e o mutante parecia temer que isso, além de suas tendências recentes de apoiar um genocida, pudesse obstruir a afeição que ela sentia por ele.

A garota respirou fundo, mexendo nas pontas decoradas dos dreads em seus cabelos e ficou apenas olhando para ele, sem saber o que dizer. Warren virou-se repentinamente para si, e ela se encolheu em uma reação involuntária, amedrontada, mas foi envolvida por um abraço receoso que, aos poucos, foi tornando-se mais apertado, até que ela sentiu que ele chorava.

Worthington nunca chorava.

Nem quando era criança e se machucava, nem quando estava muito triste, nem quando as pessoas o enxotavam de algum lugar por ter uma mutação tão aparente. Nem quando sua mãe e, posteriormente, seu pai morreram.

Nem todas as pessoas tinham a facilidade que ela teve para atravessar toda a cortina orgulhosa, briguenta e convencida de Warren. Ela sabia que, embaixo de tudo aquilo, existia um menininho assustado, rejeitado pelo mundo, que pensava ser amaldiçoado. Quando mostrou-lhe as asas pela primeira vez, Lauren olhou-o, maravilhada, afirmando que ele era lindo.

Enquanto ele soluçava em seu ombro, encharcando-lhe de lágrimas, ela levantou os braços lentamente, envolvendo-lhe a cintura com cuidado. Depois de alguns segundos, levou uma das mãos até os cachos de seus cabelos e os enrolou delicadamente em seus dedos, percebendo que todo o seu receio em relação a ele havia ficado para trás. Warren ainda era o mesmo.

Ninguém poderia dizer quanto tempo ficaram assim, abraçados, até que as lágrimas nos olhos dele secaram. Mesmo assim, não se soltaram de imediato e, quando o fizeram, foi um ato suave e gentil, em que se encararam por alguns segundos, antes de se sentarem no chão do apartamento, um de frente para o outro. Lauren não perguntou nada, apenas esperou que ele falasse em seu próprio tempo.

E ele contou.

Contou que se afundou na bebida depois de perder suas asas. Que tentou se matar. Que apocalipse o salvou. Que lutou contra os X-Men. Que, por um milagre, conseguiu se curar depois de ser ferido em batalha e fugiu. Que estava enlouquecendo sozinho e que os pesadelos não o deixavam dormir. Sonhava que Apocalipse voltava e que cobrava as asas que lhe deu. Que o pagamento era sangue inocente. E que, no pior momento, ouviu falar de um hospital qualquer parisiense em que pessoas eram curadas de lesões gravíssimas sem explicação.

— Na hora eu soube que era você — os olhos dele estavam marejados — Sempre soube que iria aprender a controlar os seus poderes. Não estava lá para ver isso, mas…

— O que quer que eu faça? — ela o corta, de repente. Não havia interrompido até então, ele falara como em um monólogo.

Ele pegou a mão dela e a pôs em seu peito, de modo que ela conseguia sentir seu coração batendo; estava acelerado e suas mãos tremiam pouco, mas o olhar ainda era firme, quase desesperado.

Warren realmente acreditava que aquela era sua única chance de redenção.

— Lauren… — a voz dele era cada vez mais baixa e rouca. Os olhos verdes dele brilhavam no escuro, quase como se houvesse luz jorrando deles. Como se ele fosse um anjo de verdade — Lauren você… você usa seus dons para… curar pessoas. A sua regressão os leva de volta até antes de estarem doentes, não é?

— Sim…? — ainda estava desconfiada e ninguém poderia culpá-la por isso.

— Quero… quero minhas… asas... de volta — ele parecia estar com o choro preso na garganta, então começou a sussurrar para que as palavras não fossem afetadas pela voz embargada.

— M-mas… você tem as suas asas… Apocalipse… ele deu elas a você, não deu? — não sabia porque estava sussurrando, mas pareceu adequado à conversa que estavam tendo. Lauren tivera muito trabalho para se manter na surdina; a maioria das pessoas acreditavam que havia recebido um milagre divino quando eram curadas.

Ele olhou com desgosto para as asas metálicas e um pequeno corte que elas haviam feito acidentalmente no estofado amarelo do sofá.

— Sabe tão bem quanto eu que essas não são minhas de verdade.

A amargura no tom era tão dilacerante que a mulher suspirou e, com a mão livre, acariciou a bochecha dele, a pele escura dela fazendo contraste com a clara dele. Warren deitou o rosto sobre o carinho e ela sentiu ele relaxar.

O encarou por alguns longos segundos; com os olhos fechados e o rosto cansado completamente relaxado pela primeira vez desde que chegara. Ela percebeu que aquelas asas eram a lembrança mais forte que ele tinha do maior erro da sua vida. Entendeu que ele jamais se consideraria redimido enquanto empunhasse a arma que lhe foi dada para destruir.

Posicionou ambas mãos no rosto dele, ajoelhou para ficar na altura de seus olhos, mas hesitou. Estava nervosa, já que nunca fizera alguém regredir tanto tempo

— Foi doloroso para ganhá-las? — sussurrou, mordendo os lábios, nervosa.

Ele não abriu os olhos, mas ela viu a expressão retorcida dele.

— Muito.

— Não podemos fazer isso aqui — ela suspirou e tirou as mãos da face alheia, pousando-as no colo, e se sentou em sua frente — Tem de ser em um lugar onde ninguém ouça.

Ele respirou fundo e a encarou, os olhos de um verde quase líquido, tão brilhantes que parecia que poderiam derreter a qualquer momento. Levantou-se e estendeu a mão para ela, a ajudando a se pôr em pé também. Seu olhar vagou para o robe fino de cetim roxo que ela vestia sobre o pijama curto da mesma cor e logo se desviou para o chão.

— Troque de roupa — uma sombra de um sorriso apareceu no rosto do mutante e lembrou a Lauren do antigo Warren, que não perderia a oportunidade de fazer uma piadinha envolvendo pijamas sexy e robes de cetim — Definitivamente, isso não são roupas adequadas para o lugar onde vamos.

Ela lhe deu um sorriso leve e doce, um tanto nostálgico, antes de ir até o quarto e vestir um Jeans desbotado, coturnos pretos e uma blusa branca de mangas compridas, que contrastava com sua pele. Prendeu uma parte dos dreads para cima e pegou um casaco de moletom cinza claro, pois sabia que não iriam desfrutar do ar condicionado de um carro e que viajar com Worthington com conforto exigia, ao menos, algum agasalho.

O mutante a esperava na sacada.

Quando a viu, ele sorriu e cada pedacinho de seu rosto se iluminou.

— Você ainda usa — o murmúrio foi baixo, como se não fosse para ser ouvido. Mas foi — Achei que, depois de todo esse tempo…

— Eu valorizo os presentes que ganho — levantou uma sobrancelha e pôs as mãos na cintura — Ainda mais quando eles são lindos — mas logo ficou séria, tocando o colar de contas marrons em seu pescoço com as pontas dos dedos — Eu nunca esqueci de você, Warren.

Ele ficou olhando para a mulher por muito tempo, como se houvesse algum tipo de magnetismo que o prendesse ali. Se aproximou dela, que segurou em seu pescoço, pensando que fossem voar naquele instante. No entanto, ele a beijou.

Foi apenas um toque prolongado dos lábios, mas foi o suficiente para deixá-la em choque.

Já tinha acontecido antes; ele era o detentor da maioria das suas primeiras vezes: o primeiro porre, o primeiro beijo, a primeira… Não que isso viesse ao caso. Era fato que o ato dele não era novidade para ela, mas foi… diferente das outras vezes. Não era um ato de luxúria e sim de carinho. Foi tão doce que, por um momento, ela lembrou de sua paixão adolescente por ele e borboletas se agitaram como nunca antes em seu estômago.

Ele não permitiu que ela falasse; assim que separou os lábios dos dela, levantou voo, como se não houvesse feito nada, apertando a sua cintura com firmeza. Ela havia voado com ele tantas vezes que a sensação nem era mais vertiginosa. Até gostava do vento zunindo nos ouvidos e gelando seus braços, da sensação que estava prestes a cair, segurada apenas pelo abraço firme do homem que, especialmente nessas ocasiões, assemelhava-se a um anjo, deslizando acima dos prédios iluminados das cidades.

Não podia reclamar de sua vida em Paris, mas havia uma espécie de adrenalina que só se fazia presente quando Warren estava por perto. Voar era algo que a fazia sentir-se livre e distante dos problemas, como se nada pudesse lhe alcançar quando cortava os céus nos braços de Worthington.

O silêncio dele era estranho à moça. A verdade é que ele não queria saber o que estava se passando na mente dela. Sentia medo de que, quando pousassem, ela fugisse, ou, pior, desaparecesse, como uma ilusão se desfazendo. Talvez, sentir o calor de Lauren abraçada a si depois de tantos anos fosse só mais uma peça pregada por sua mente atormentada.

Balançou a cabeça e subiu uma das mãos pelas costas dela, embrenhando os dedos entre os dreads escuros, como se tentasse se convencer de que ela era real e estava ali, junto dele, novamente.

Estar com ela era como voltar no tempo, até uma época em que nada poderia atingi-los nem impedi-los de ser o que queriam ser. Lauren fazia parte da melhor época da sua vida, um era a rocha no oceano do outro. Sabia que poderia sempre ancorar em seu porto, caso precisasse.

Era isso que estava fazendo naquele momento.

Pousou com suavidade sobre a relva e soltou a garota também que, mesmo com a ajuda dos saltos das botas, mal alcançava seu queixo. Quase sorriu, lembrando de quando eram mais novos e a altura, ou a falta dela, incomodava-a. Era uma das coisas que ele mais gostava de pontuar em cada discussão que tinham: que ela não tinha nem tamanho para andar na montanha russa, por isso não podia discutir com ele.

A mutação de Lauren demorou para aparecer: ela tinha quase dezoito anos quando descobriu que podia regredir ou avançar. Isso a tornava praticamente imortal e muito poderosa, porque significava que ela poderia tornar alguém em um velho de noventa anos ou em um bebê de dois meses em questão de segundos. Ela controlava o efeito do tempo sobre os seres vivos. Poderia ser um poder avassalador e ela poderia ser uma heroína brilhante ou uma vilã terrível.

No entanto, a garota dificilmente utilizava seu dom, nem sobre si mesma. Usava nos outros e, sempre que podia, salvava vidas com ele, fazendo-os regredir até antes de ficarem doentes.

Era algo gentil demais para se fazer com aqueles que, além de discriminá-la primeiro pela cor da pele, a condenariam se soubessem sobre os dons que possuía. Ela trabalhava em um hospital infantil, como enfermeira, e se mantinha perto das pessoas que ela julgava precisarem de seus cuidados.

Lauren sempre fez o melhor por aquilo que acreditava ser certo e nunca cobrou nada, nem mesmo reconhecimento, pelo que fazia.

Ela dizia que ele parecia um anjo, contudo tinha muito mais a essência de um do que ele.

— Onde estamos? — a garota perguntou, curiosa, olhando em volta.

— Em uma reserva florestal perto de Londres — respondeu calmamente — Ninguém vem aqui. Pelo menos não a essa hora.

— Tem certeza de que é isso que você quer? — o olhar dela vasculhou o rosto dele à procura do menor sinal de insegurança, o que não foi encontrado — Nunca fiz alguém regredir tanto tempo. Pode ter efeitos colaterais.

— Tenho — a palavra saiu como um suspiro.

Ainda estavam próximos, então quando levantou as mãos e posicionou-as sobre suas têmporas, tudo o que ele soube fazer foi fechar os olhos e derreter sob o toque leve e suave dela.

Esperou pela dor horrível, a mesma de quando recebera as asas de Apocalipse, mas ela não veio, não a princípio. A primeira coisa que percebeu foi uma sensação de dormência, que partia de onde as mãos dela lhe tocavam, se espalhando por cada centímetro de sua pele.

Então ele sentiu. A dor avassaladora de quando as asas metálicas voltaram para dentro da carne, rasgando, quebrando, dilacerando seu corpo, e entendeu porque não poderiam fazer isso no apartamento de Lauren; eles seriam descobertos com toda a certeza quando o primeiro grito saísse de sua boca e isso não demorou a acontecer. Gritava como se estivessem enfiando facas em sua carne e remexendo-as em suas entranhas, porque essa era a sensação. Suas têmporas queimavam onde Lauren fazia pressão e ele podia ouvir a voz dela murmurando, nervosa e chorosa, que logo ia passar, que já estava no fim.

Até que acabou e os dois caíram sobre a grama macia, ambos ofegantes e suados, como se houvessem corrido uma maratona.

— V-você… está bem…? — ela perguntou, angustiada.

Ele estava deitado de costas, respirando com dificuldade e com os olhos fechados. Mas estava obviamente vivo.

A mulher se levantou aos tropeços para ajoelhar-se ao seu lado, tocando em sua face com cuidado, as mãos tremendo e geladas, e a primeira coisa que o mutante viu ao abrir os olhos foi o rosto banhado em lágrimas dela.

— Meu Deus, Worthington… — ela falou entre um sorriso choroso — Você me assustou. Achei que tivesse te matado.

— Definitivamente não é uma experiência agradável — ele riu fraco e levantou uma das mãos para acariciar suavemente o maxilar dela — Se você me matasse, como ia voltar para Paris?

Ela ainda estava chorosa, mas seu riso ainda assim foi espontâneo.

— Acredite, essa era minha maior preocupação! — a ironia tingiu a voz da garota, mesmo baixa como estava.

Warren se sentou devagar antes de olhar com cuidado — e certa hesitação — para as asas. E ali estavam elas, brancas e fortes, como ele se lembrava, capazes de levá-lo onde quisesse. Lauren, que estava sentada sobre uma de suas pernas, levantou as mãos e tocou-as, sentindo as penas macias e sedosas sob os dedos e a pele quente logo abaixo. Deslizou os dedos devagar pela asa esquerda, começando pela pena grande na ponta, passando pela dobra da junta, cuja ponta formava um tipo de garra, até o ombro dele, causando um arrepio e arrancando um suspiro suave do homem.

Ele sentia falta de perceber as asas como uma parte do corpo, de ter sensibilidade nelas; fazia tanto tempo que não era tocado daquela forma e o olhar maravilhado dela o fazia sentir-se apreciado de uma forma que não lembrava de ser por nenhuma outra pessoa no mundo.

— Agora sim, você pode se chamar de anjo novamente — ela o olhou nos olhos por alguns segundos e ele pegou a mão que estava em seu ombro e a segurou entre as suas, traçando uma linha com a ponta do dedo desde a veia azulada no pulso até a palma, para depois depositar um beijo ali, como se lhe agradecesse pelo que havia feito.

— Você está mais perto dos céus do que eu jamais vou estar — sentia uma vontade absurda de beijá-la, mas não faria isso a menos que ela tomasse a iniciativa; não iria bagunçar a vida dela mais do que já fizera. Não pertenciam ao mesmo mundo da mesma forma que não pertenciam um ao outro.

Ficaram assim, se olhando, por algum tempo ainda, até que um raio de sol iluminou o horizonte, pintando tudo à volta dos dois em amarelo e laranja. Warren parecia feito de ouro sob o sol e o fato de estar percebendo isso com tanta evidência incomodava Lauren. O que estava fazendo, olhando para ele daquela forma?! Só podia estar enlouquecendo!

Ou talvez o susto de perdê-lo e depois ver que o que havia acontecido com ele era muito pior que isso a tivesse despertado para o porquê de sempre ter se importado.

Se levantaram e ela agarrou-se ao seu pescoço de novo, enquanto voavam em círculos, ganhando altitude. Quando voava com ela, Warren sempre se policiava para não ir muito alto nem muito rápido para que a garota pudesse respirar sem dificuldades. Também tomava o cuidado de virá-la de frente para si para poder protegê-la do vento, escondendo-a em seu peito.

Mas ela não queria deixar de olhar para seu rosto naquele dia.

Lauren sentia o calor emanando da pele dele, contrastando com o frio da madrugada. Arriscou dar uma olhadinha para baixo e sentiu um arrepio percorrer-lhe a espinha pela altura; uma queda dali a transformaria em geléia. Agarrou-se mais a ele, sentindo cheiro suave de perfume, sobressaindo-se ao cheiro natural de sua pele e relaxou um pouco. Aquilo lhe era familiar.

Warren lhe era familiar.

Não demorou para que estivessem novamente no apartamento dela, em Paris. Ele pousou na sacada e os dois ficaram apenas se encarando, como se memorizassem todos os detalhes um do outro, até que Lauren pigarreou e fez um gesto para a porta atrás de si. Só queria dizer alguma coisa para acabar com aquela sensação de que algo estava prestes a acontecer

— Então, é… Warren, será que você quer entrar um pouco? — falou, meio nervosa, porque os olhos dele ainda examinavam cada pedacinho dela — Eu… poderíamos comer alguma coisa e você pode descansar um pouco também… pode ficar aqui pelo tempo que precisar… se você quiser, é claro.

O mutante assentiu e lhe deu um sorriso de canto entrando logo atrás dela, aproveitando para prestar mais atenção a sua volta: o apartamento era pintado de branco, com os rodapés de madeira envernizada, o piso da sala era todo coberto por um tapete fofo, um sofá amarelo e dois puffs na mesma cor chamavam atenção e, claro, a mesinha de centro, com um arranjo de lavanda, maçanilha e capim cidreira a decoranda, exalando um cheiro gostoso pelo ambiente. As paredes eram decoradas com telas coloridas e não muito grandes, que ele sabia serem todas pintadas por ela.

Uma era especialmente chamativa por ser maior que as outras: um enorme anjo, perdendo as penas das asas, caía do céu em direção ao mar revolto. Warren estacou em frente ao quadro de moldura dourada sentindo certa vertigem ao ver a imagem pintada ali.

Lauren percebeu.

— Não é você, antes que pense isso — falou, segurando o pulso dele — É Ícaro. Voou tão perto do sol que as asas, por serem feitas com cera de abelha, derreteram.

O mutante encarou a tela por longos segundos antes de falar.

— Eu recebi um poder maior do que qualquer outro que eu já havia experimentado e abusei dele — o olhar distante do mutante a fazia se perguntar se ele havia realmente a escutado. Ficou em silêncio por muito tempo, encarando a pintura até se virar para ela repentinamente — Você lembra quando… quando nós éramos mais novos e eu me chamei de anjo vingador e decidi que eu salvaria os injustiçados por Deus? — ela assentiu, sentindo os olhos marejarem; aquela não era uma boa memória — Você me disse que eu estava sendo pretensioso em me chamar daquela forma.

— E você me disse que era um desperdício alguém ter um poder como o meu e não querer expandir os limites dele — o sorriso saiu amargo e duro, falso por conta das lágrimas — Eu lembro bem disso.

— Eu nunca estive mais errado — ele a segurou pelos ombros e encarou profundamente os olhos castanhos dela — Você fez muito mais pelas pessoas do que eu… você nunca se importou com o que elas pensavam ou faziam, com o que elas diriam quando saíssem dali. Você só ajudava.

— Você salvou muitos mutantes também… — ele pôs um dedo sobre os lábios da mulher a pedindo para se calar.

— Exato. Mutantes. Percebe a diferença? — ele acaricia o rosto dela com a mesma mão que antes cobria sua boca — Sua bondade não é seletiva. A minha é. Ela é para mim, para aliviar a minha insatisfação com o mundo. Não para melhorá-lo.

— Warren…

— Lauren, acho que eu amo você — soltou de repente. Por alguns longos segundos, ela ficou em silêncio processando a informação até que ele acrescentou depois de uma risadinha sem o menor humor — Acho que sempre amei. Mas meu orgulho nunca me deixou ser sincero comigo mesmo.

— Lúcifer caiu por orgulho — ela soltou sem pensar e ele riu quando a viu cobrir a boca pela frase petulante. Aquilo não era o tipo de coisa que se deveria falar para alguém que havia acabado de se declarar — Desculpe. Eu… eu não sei… Warren, eu...

— Você não precisa dizer que me ama também, Lauren — ele brincava com uma das contas presas nas pontas dos dreads negros dela — Eu pensei muito nisso antes de vir para cá. Eu queria te falar isso desde que… desde que te vi. Mas não parecia certo.

— Eu sei — mordeu os lábios — Preferia que não houvesse dito.

— Acho que eu mereço ouvir isso — o suspiro foi dolorido e decepcionado, contudo, o tom estava bastante conformado.

A mutante mordeu os lábios novamente e desviou o olhar do dele, antes de afirmar, com a voz bastante afetada.

— Você diz que me ama de novo, apesar de dessa vez ter um sentido diferente das outras, mas… — ela fez uma pausa em que uma lágrima solitária escorreu por sua bochecha quando voltou a fitar a imensidão esverdeada que eram os olhos de Worthington — Mas isso nunca é o suficiente para te fazer ficar.

— Eu me perdi tantas vezes... — ele secou o rosto dela com o polegar — Mas eu sempre voltei para você.

Aquilo foi a gota d'água para ela, que a fez chorar abertamente, sufocando um soluço na manga do casaco e se encolhendo, como se sentisse dor. Depois de alguns segundos, porém, ela ergueu os olhos castanhos que brilhavam em raiva, se aproximando como se fosse bater nele.

Mas o que aconteceu foi um beijo, cheio de desejo, que o fez cambalear e quase cair no meio da sala, coisa que ela não permitiu, ao empurrá-lo contra a parede fria.

— O que você… — ela não o deixou terminar, sufocando as palavras com sua boca, para falar se afastar o suficiente apenas para sussurrar sobre os lábios dele:

— Não me faça pensar sobre o que eu estou fazendo — e o agarrou novamente, o empurrando para seu quarto — Eu quero você. Eu sempre quero você.

E, pelo menos naquele momento, eles esqueceram-se que em algum momento seriam apenas duas pessoas vivendo suas vidas, em seus próprios mundos, com seus amigos, paixões, trabalhos e problemas. No fundo, ambos sempre souberam que não pertenciam ao mesmo mundo, mas desfrutavam de breves vislumbres de outra vida cada vez que estavam juntos, como se um fosse a conexão do outro com uma realidade diferente, mais calma para Warren e mais emocionante para Lauren.

Mas sabiam também que, depois desses breves vislumbres, cada um voltaria para sua própria realidade e Lauren acordaria na manhã seguinte sozinha, como se ele nunca houvesse estado ali. Exceto por uma pena muito branca sobre o travesseiro e um bilhete:

"Tenho algumas coisas para consertar e pessoas para salvar, mas prometo voltar para você. Sempre vou voltar para você.

W.W."

18. März 2020 19:06 2 Bericht Einbetten Follow einer Story
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Das Ende

Über den Autor

Daniela Machado Amo ler e escrever e meu gênero preferido para escrita é one-shot/conto. Amo ler originais, mas não recuso uma boa fanfic também, né amores? hahah Se você boa curte música, filmes de heróis e artes (desenhos, pinturas, fanarts, etc.) vamos ser amigos (as)? You're welcome to my dark place <3

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