jace_beleren Lucas Vitoriano

Lesta é mais uma voadora, um grupo de pessoas que, usando de asas criadas artificialmente, voa entre as ilhas do Santuário dos Ventos, entregando mensagens para os Senhores da Terra, os lideres de cada ilha.


Fan-Fiction Bücher Alles öffentlich.

#Sauntuário-dos-ventos
Kurzgeschichte
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Capítulo único

Notas do autor: Este conto se passa no maravilhoso universo de "Santuário dos ventos", um livro escrito por George R.R. Martin e Lisa Tuttle. Acho uma pena que muita gente conheça Game of Throne, mas poucas falem Santuário dos Ventos, outra história maravilhosa escrita por Martin. Espero, com esse conto, dar um gostinho e uma ideia geral do universo desse livro.


*****


Lesta ainda estava deslumbrada com Stormtown. Em toda sua vida, nunca havia visto uma cidade tão grande, rica e diversificada. Amberly menor, a ilha em que nascera e vivera até seus dezesseis anos, não era nada se comparada a Stormtown, a esplendorosa cidade da Grande Shotan, a mais poderosa ilha de todo Santuário dos Ventos.

Tudo em Stormtown era grandioso, desde suas feiras, variadas, com todo tipo de alimentos, tecidos e armas a venda, até seus templos erguidos em mármore, colossais construções que mais pareciam imensas geleiras, frias e brancas com seu esplendor contagiante. De todos os lugares, porém, nenhum se comparava a mansão da Senhora da Terra, a líder política e militar da ilha. O lugar era simplesmente magnifico, com vitrais coloridos que distorciam os raios do sol, dando-lhes um ar quase místico. O local era imenso, repleto de escadas, cômodos e corredores. Lesta sabia que, se não tivesse sido guiada por dois soldados, ainda estaria perdida a procura dos aposentes da Senhora da Terra.

No momento, Lesta encontrava-se na pedra dos voadores, um enorme precipício aonde, todos os dias, uma dúzia de voadores alçava voo ou então pousava, planando acima do ar com suas elegantes asas prateadas. Ela também era uma voadora, e como toda voadora amava o toque carinhoso do vento em seu rosto, balançando seus cabelos e beijando sua pele como um amante insepravel. Tinha dezesseis anos, pele bronzeada e longos cabelos negros. Brincos com penas de pombos enfeitavam seu rosto. No pulso esquerdo, um bracelete de ouro branco brilhava sutilmente.

Ela ainda pensava em sua visita a mansão da Senhora da Terra, mas não era a opulência do lugar que prendia seus pensamentos, mas sim a própria Senhora da Terra e sua personalidade envolvente e ameaçadora. Aquela mulher não comandava a ilha mais poderosa do Santuário dos Ventos a toa, era uma pessoa firme, gentil quando necessário, mas sem nunca deixar de ser imponente. Seus olhos eram cinzas escuros, como um céu nublado, suas palavras, embora educadas, impunham o poder de quem as pronunciava. Seu encontro com a Senhora da Terra fora breve, apenas o tempo suficiente para que ela transmitisse a mensagem para Lesta e essa a memorizasse. Tudo não durou mais que dez minutos, incluindo as formalidades comuns entre ambas. Agora, diante da imensidão do céu, Lesta refletia sobre o ocorrido.

A mensagem não era nada demais, tratava de política, quase todas as mensagens eram sobre política. Lesta balançou a cabeça devagar, procurando com esse gesto afastar as lembranças do encontro com a Senhora da Terra. Precisava estar de mente vazia para abraçar os ventos e voar pelo céu. Cuidadosamente, começou a desdobrar as asas que estavam acopladas em suas costas. O trabalho era demorado e necessitava cuidado e atenção. O tecido prateado das asas brilhava sutilmente ao sol, um material raro, quase inquebrável, que não mais podia ser fabricado, por isso as asas eram tão valiosas.

Quando terminou de desdobrá-las, as mesmas estavam abertas, magnificas em seu esplendor prateado. Cada asa tinha a envergadura de três metros. Lesta acoplou-as em cada uma das mãos, fechando seus pulsos com força nos encaixes. Fechou os olhos por breves segundos, sentindo mais uma vez a caricia do vento. Abriu-os de uma vez, correu em direção ao penhasco e então, em completa paz e entusiasmo, saltou.

Era dessa parte que mais gostava, o momento em que se jogava para o céu e era acolhida pelos braços gentis do vento. Lesta aproveitou uma corrente de ar descendente e planou para baixo, movendo-se preguiçosamente em direção ao mar. Seus cabelos se agitavam livremente, ela contemplou algumas gaivotas que voavam baixo, meia dúzia delas. Suas irmãs do voo. Passou pertinho delas, movendo-se um pouco para esquerda e sendo guinada para cima por uma corrente de ar ascendente.

Como todo voador, Lesta adorava voar. Só sentia-se realmente viva quando estava nos braços do vento ou nos de um amante. Ela subiu graciosamente, o ar ficou mais gélido e Lesta o inspirou com força e gosto. Depois de aproximadamente uma hora, Grande Shotan não passava de um ponto pequeno de terra atrás dela. Com suas asas, Lesta conseguia transformar até a mais poderosa das ilhas em um mero ponto no horizonte.

A voadora seguiu seu voo tranquila, os ventos estavam calmos e agradáveis, perfeitos para voar. Lesta seguiu sem pensar em nada em especial, apenas aproveitando o prazer daquele momento mágico. Embaixo, o mar refletia a luz do sol, de vez em quando era possível ver o vulto grandioso de uma cila, um peixe marinho de tamanho colossal, tão grande quanto um navio comerciante. Lesta sempre se perguntou se, para as cilas, a sensação de deslizar pelas águas era tão boa quanto a que ela sentia ao voar.

Algumas ilhas surgiram no horizonte, a maioria pequena demais para ser identificada, mesmo assim, Lesta reconheceu a forma triangular e humilde de Lisle, um local a qual ela já havia viajado dúzias de vezes. Ela se aproximava de seu destino, Stonebowl. Teria que entregar sua mensagem ao Senhor da Terra de lá, um homem cauteloso demais para o gosto de Lesta, mas, felizmente, gentil demais também. Não era uma má pessoa, mas era, indiscutivelmente, um mau governante.

Lesta elevou-se vinte metros, alcançando a altura das nuvens e ultrapassando um pássaro do sol que voava solitariamente. A ave era esplendorosa, uma criatura rara e bela de se ver. Tinha penas douradas lustrosas, as pontas levemente avermelhadas. Sua cauda era longa, assemelhando-se a uma trilha de fogo que a seguia pelos céus. Um sorriso surgiu no rosto de Lesta. Ela se permitiu admirar o pássaro por longos segundos. Esse foi seu erro.

Lesta começou a cair, lentamente. Ela ergueu os braços procurando alguma corrente de vento, mas não havia nenhuma. Era o que os voadores chamavam de ar parado, o maior medo deles. Em ocasiões assim, o vento os abandonava, deixando-os a mercê de uma queda fatal.

Ela se desesperou sentindo que perdia altura, caindo mais e mais. Acima dela, o pássaro do sol voava calmamente, de forma orgulhosa e suave, como se estivesse a zombar dela. Essa era a diferença entre um voador e um pássaro, os voadores estavam submissos aos caprichos do vento enquanto os pássaros reinavam sobre ele.

- Não! - gritou em desespero, seus braços agitando-se com força, em uma tentativa inútil de impedir sua queda.

O mar azul aproximava-se rápida e ameaçadoramente, prometendo-lhe abraçá-la de uma forma nada gentil. Lesta fechou os olhos no último instante, mas isso não a impediu de sentir a dor esmagadora da queda. Com a velocidade em que caia, seu corpo se chocou com tanta força contra a água que fora como se tivesse atingido chão solido. Tudo que sentiu foi o impacto, seus ossos sendo esmagados com uma pressão avassaladora. Perdeu a consciência por alguns segundos, afogando-se em uma escuridão profunda. Quando seus sentidos retornaram, sentia dor em cada centímetro de seu corpo, abriu os olhos devagar, com muito esforço, e percebeu que ainda estava se afogando, mas não apenas em escuridão e sim nas solitárias e frias águas do oceano.

Já afundava a uns dez metros de profundidade. Sua mão direita se ergueu, tentando em vão alcançar a superfície que lhe fugia mais a cada segundo. Lesta abriu sua boca em um lamurio, mas isso só fez com que engolisse água salgada. Debateu-se inutilmente, desesperada, suas lágrimas misturando-se a imensidão do oceano, perdendo-se naquele vazio azul.

Lentamente ela afundou, seu corpo ficando mais pesado, suas forças esvaindo-se. Lesta perdeu a vontade de lutar, sabia que seu fim era inevitável. Em breve, se juntaria aos incontáveis voadores que pereciam no mar todos os anos, uma morte solitária e cruel.

Sua visão ficou turva. Antes de perder a consciência, vislumbrou uma sombra solitária voando acima dela, acima da superfície. Era o pássaro do sol, só podia ser, a única testemunha de seu fim. Foi então que Lesta percebeu, com um sorriso fraco nos lábios, que ao menos morreria com suas asas, uma felicidade egoísta ela sabia, pois privaria voadores futuros de terem suas asas, mesmo assim, aquilo era um consolo, uma proteção aconchegante para sua partida.

Aliviada, rendendo-se ao abraço imponente do oceano, Lesta afundou para se unir ao infinito azul, sua tumba, assim como a de suas asas prateadas.

19. Februar 2020 01:10 0 Bericht Einbetten Follow einer Story
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Das Ende

Über den Autor

Lucas Vitoriano Sou escritor, tendo alguns contos publicados. Além disso, sempre que possível posto alguma coisa aqui também. Amo animes, filmes da disney e mitologia grega. Para acompanhar meu trabalho visitem meu perfil no instagram @l.vitoriano ou meu perfil de literatura @pensandoescritor. Espero vocêsl á!

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