Ele tinha cheiro de álcool. Forte. Também cheirava a suor e perfume de outras pessoas. Pensar nisso nunca o fazia muito bem, mas não era para tanto. Às vezes, se sentia um bobo, meio pirado, um completo louco por ainda se preocupar com aquilo. Mas naquela noite, diferente das outras quando Minseok fazia algum esforço para não levar lembranças dos seus outros encontros para os encontros que tinham, Kyungsoo conseguia contar na pele dele os hematomas. Comprimiu os lábios para se impedir de perguntar sobre as feridas nos joelhos e as manchas escuras no pescoço, pois sabia que Minseok não contaria.
Ele nunca contava. Só limitava-se a pedir um cigarro, balançar a cabeça e dizer que precisava dormir, que se Kyungsoo quisesse ficar, teria que fazer o trabalho inteiro sozinho. Mas Kyungsoo nunca o tocava nesses momentos, por mais que Minseok parecesse estranhamento acostumado a ser tocado o tempo inteiro. Talvez, fosse por isso que tinham conseguido arrastar aqueles encontros por tanto tempo. Havia ali, algum tipo de acordo. Um acordo que envolvia apenas toques consentidos, toques que Minseok pedia. Apenas Minseok, não Xiumin.
O dinheiro vinha como um bônus, como ele gostava de dizer. Faria tudo o que Kyungsoo pedisse de graça, mas o Do pagava mesmo assim. Odiava o tom de caridade que aquilo alcançava, preferia fingir que estava no controle, por isso, pagava. Às vezes, pagava por uma noite como aquela, quando deitavam ao lado um do outro e passavam o resto da noite fitando o teto. Pagava por companhia, apenas. Minseok era quem enfiava sexo em tudo, uma vez lhe disse e o outro se limitou a rir. Era um mau hábito.
E de maus hábitos ele entendia bem, em parte porque Minseok tinha vários. E todos vinham banhados em um charme meio torto. Umas coisinhas tão irritantes que Kyungsoo aprendera a tolerar. Talvez, por isso, demorasse a levar algumas coisas a sério, afinal, todas as coisas que Minseok dizia vinham envoltas em risadas, que descredibilizava tudo. Kyungsoo não acreditava em nada, preferia se proteger assim, mas secretamente desejava poder acreditar. Vez ou outra, Minseok sussurrava seu nome enquanto dormia.
Do mesmo jeitinho que sussurrava naquele momento, baixinho e baixinho e baixinho. Tão baixinho que Kyungsoo achou que tinha sonhado ou pensado, como o louco que era. Mas não disse nada sobre, apesar de querer. Só cuidou das feridas do seu amante. Minseok achou graça em algum momento, mas não disse mais nada. E Kyungsoo também não falou, em parte porque estava chateado. Sempre ficava chateado consigo mesmo por ter se enfiado naquela situação com um garoto de programa.
— Você quer tentar fazer alguma coisa? — Minseok perguntou depois de acender um cigarro.
Kyungsoo negou. O cheiro de cigarro alcançou seu olfato e ele desejou não sentir nada. A fumaça era amarga dentro da sua boca, fazia o pensar que era ele próprio quem fumava. Minseok soprou a fumaça para longe e jogou-se na cama, o cigarro espalhou cinzas sobre a colcha e Kyungsoo se perguntou, pela milésima vez, se valia a pena, se não era mais fácil sair por aquela porta e não voltar nunca mais. Pagar por um relacionamento era deprimente o suficiente, Sehun diria. Não pagar significava ficar sozinho, mas qual a diferença? Estava sentindo-se sozinho na presença de Minseok.
Kyungsoo fitou-o de cima, com os joelhos enfaixados e a marca arroxeada no seu pescoço, Minseok parecia menos do mesmo. A figura com quem tinha se acostumado era vivaz e atraente, era por aquilo que estava pagando, afinal. Mas o que tinha na cama era um garoto de cabelo borgonha desbotado e olhos de gato afiados. Ele o devoraria ali mesmo se pudesse, mas estava cansado demais para isso. Ambos estavam, percebeu e o buraco no peito cresceu de modo descomunal em apenas alguns minutos.
Dedilhou as pernas descobertas de Minseok com a ponta dos dedos, subiu até a virilha e parou. Minseok o fitou com uma sobrancelha arqueada, desafiador. Ele sempre sabia como provocar só com um olhar ou um suspiro, mas daquela vez, tinha os lábios comprimidos e na mão, o cigarro se consumia. Kyungsoo o observou se aproximar dos lábios e sugar, soltar mais uma baforada de fumaça no ar. O Do quase pediu que parasse, mas se contentou em apenas inclinar-se entre as pernas do garoto de programa e deixar pedaços de beijos na pele. Minseok suspirou, apagou o cigarro contra a madeira do criado mudo, arrumou-se na cama e segurou o rosto de Kyungsoo entre as mãos.
— Você disse que não queria fazer nada. — falou e Kyungsoo inclinou a cabeça sobre uma das palmas como um cachorrinho pedindo carinho. Minseok achou graça.
— Eu não queria. — falou e deixou um beijo na pele que encontrou.
Era sempre complicado assim, pensou. Era complicado viver na sua pele, tendo seus pensamentos e cheio desse desejo de fazer Minseok seu, só seu. Seu Minseok. Não Xiumin, o codinome ridículo que ele usava para se disfarçar nesse mundo conturbado, mas Minseok, o garoto com olhos afiados que sempre o deixava de quatro tão rápido quanto qualquer um. O poder que ele tinha sobre si era tamanho, que não demorou até que Kyungsoo pedisse por um beijo.
Veio mais delicado do que esperava, Minseok não mordiscou seus lábios como sempre fazia, quando queria instigar. Provocar o suficiente para ser fodido com força. O que Kyungsoo teve foi o contrário. Era uma coisinha tão delicada, um ato diferente do que estava acostumado que o buraco no peito retrocedeu. Milésimos. Por milésimos de segundos o buraco no peito retrocedeu, depois, voltou a crescer quando Minseok se afastou e Kyungsoo o fitou nos olhos.
Ele parecia mais cansado naquele dia do que nos outros, não havia desejo no seu olhar nem vontade de alguma de continuar. Havia só movimentos calculados e sorrisos gelados dados aqui e ali para dar alguma quentura ao ato. Então, Kyungsoo parou.
— Vamos parar. — anunciou.
— Você quer parar?
— Você parece querer parar. — disse ao garoto e Minseok ficou em silêncio, concordava, mas parecia não querer falar.
— Sinto muito. — acabou se desculpando. — Pode pegar o dinheiro de volta.
Kyungsoo negou.
Só saiu de cima do corpo do garoto e ficou de pé, pescou seu casaco do chão do quartinho e o vestiu. A camisa estava amassada dos beijos simples trocados, mas mesmo Kyungsoo tinha que concordar que aquilo não havia acendido qualquer coisa em si. Estava procurando a fagulha, mas tudo o que teve foi o vazio no peito.
O sinto muito de Minseok ainda pesou nos seus ouvidos, mas disse nada em troca. Aceitou as desculpas com um gosto amargo na língua. Não parecia certo que ele fosse quem se desculpava, mas também não parecia certo que Kyungsoo pagasse para cuidar das feridas de terceiros no corpo de Minseok. Por isso, só aceitou tudo em silêncio. Colocou a camisa para dentro da calça e fechou o casaco. Estava frio lá fora. A primeira neve havia acabado de dar as caras em Seul.
— Eu te ligo. — ele se despediu e Minseok assentiu com certo medo de que ele nunca mais ligasse.
E enquanto ia para casa, Kyungsoo fitou o contato de Minseok no seu celular e decidiu que era hora de apagar. Aquilo não tinha futuro, por mais que gostassem da companhia um do outro, nada daquilo tinha realmente um futuro. Ele não era a porra de um príncipe encantado que iria salvar Minseok daquela vida. Ele era apenas, ele e Minseok era apenas, Minseok. Eram duas pessoas diferentes com vidas diferentes. Não se encaixavam em nada fora de uma cama. Seria um favor ao universo que não se vissem mais.
Deseja excluir o contato ‘Favorite’?
O dedo de Kyungsoo pairou sobre o sim.
Vielen Dank für das Lesen!
Wir können Inkspired kostenlos behalten, indem wir unseren Besuchern Werbung anzeigen. Bitte unterstützen Sie uns, indem Sie den AdBlocker auf die Whitelist setzen oder deaktivieren.
Laden Sie danach die Website neu, um Inkspired weiterhin normal zu verwenden.