hunterprirosen HunterPri Rosen

A vida é efêmera como uma borboleta. E essa é a história de uma delas descobrindo a vida.


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Kurzgeschichte
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Capítulo Único

"A morte chega rápido, pois breve é toda vida."
Fernando Pessoa


Tudo começou com um pontinho despretensioso dentre centenas de outros no meio da floresta tropical. De repente, a vida eclodiu junto ao orvalho, e ela era alguém na imensidão verde. Alguém pequenina, criatura muito frágil, mas repleta de instintos e muita curiosidade. Alguém que, enquanto explorava aquele berço de tronco, galhos e folhas, deu-se ao luxo de sonhar com o mundo fora dele.

Como a maioria das crianças, aquela minúscula criatura também se arrastava por toda a parte e ficava maravilhada com as coisas mais simples que descobria a cada dia. O vento que balançava as folhas, o sabor destas, a textura firme da árvore sob seu corpo rastejante, as gotas de chuva que escorriam, tudo era fascinante e grande novidade.

Também como toda criança que crescia, ela pescava histórias interessantes no ar e depois ficava remoendo em seu pequeno universo da fantasia. Foi assim que a lagarta ouviu falar da belíssima cachoeira pela primeira vez. E, desde então, decidiu que iria conhecer aquele lugar um dia.

Segundo as borboletas que sempre voavam por ali, a cachoeira ficava muito, muito distante. Seria perigoso e provavelmente impossível rastejar até lá, pois a lagarta ficaria exposta demais aos predadores. Entretanto, quando tivesse suas asas, poderia vencer boas distâncias e, com a atenção redobrada, desviar dos perigos que surgissem pelo caminho.

Por isso, à medida em que ia crescendo, a lagarta sonhava em crescer ainda mais. Pois crescer significava liberdade. E liberdade significava ir mais longe para ver o mundo além daquele onde vivia. Ser livre era o caminho para realizar o seu sonho de encontrar a magnífica cachoeira!

Para crescer bem e voar rumo ao desconhecido, alimentou-se direitinho com uma variedade saborosa de folhas e flores. Obedecendo aos preceitos sussurrados pela Mãe Natureza, acumulou energia, escondeu-se de inimigos e se preparou para a vida adulta da melhor maneira que conseguiu ao construir uma base sólida ao seu redor. Então, veio a reclusão dentro do casulo mágico.

O tempo passou. Depressa como a vida costuma passar. E numa manhã ensolarada como tantas outras, a metamorfose aconteceu.

A lagarta costumava se sentir pequena em relação ao mundo antes da crisálida. Agora que havia chegado à fase adulta de fato, transformando-se numa exuberante borboleta e alçado o primeiro voo, sentia-se ainda mais.

Por um momento, quis voltar às pressas para o conforto do casulo. O mundo visto da copa das árvores, apesar de lindo, era muito assustador e ela se sentia insignificante. Porém, o momento de choque durou pouco. E uma vez que a jovem borboleta se acalmou, pôde lembrar do motivo pelo qual ansiava tanto por ser adulta. Agora poderia perseguir o seu sonho. Agora poderia voar até ele.

O problema é que quando alguém nasce, nascem também as expectativas ao seu redor. Expectativas que aumentam cada vez mais, conforme a fase adulta se aproxima. E com a lagarta não foi diferente. Desde pequenina, ouviu da Mãe Natureza que ela tinha um papel a perseguir, um objetivo para o qual fora feita, um caminho que deveria trilhar antes que a chama da vida se apagasse.

Assim, a jovem e sonhadora borboleta viu-se presa num infausto conflito. Ser aquilo que esperavam dela, voar em busca de um parceiro com quem acasalar e aceitar que só possuía uma função no mundo? Ou voar mais alto, em busca de si mesma, perseguindo o que mais desejava para a sua breve vida?

Esse era o ponto. A vida era efêmera. A borboleta sentia, através de seus instintos primitivos, que havia um relógio tiquetaqueando por perto. E quando a última badalada soasse, não haveria espaço para arrependimentos.

A vida também era única. Só havia uma chance para vivê-la, uma chance para buscar a felicidade antes que as luzes se apagassem, uma única e preciosa oportunidade de trilhar o próprio futuro com os próprios passos. Ou, no caso da borboleta, com suas asas coloridas.

Ela não precisou pensar muito, afinal. No fundo, sempre soube o que queria.

Determinada, encheu-se de coragem e agarrou a chance. Porque se havia uma obrigação que realmente importava era escrever o seu destino como assim o desejava.

Prometeu a si mesma aproveitar cada minuto precioso que tivesse pela frente e viver da melhor maneira possível cada um de seus dias.

De peito aberto e asas também, a borboleta deu as costas para as expectativas postas nela enquanto crescia e ascendeu livre rumo às expectativas que desenhava em seu coração.

Voou alto entre as árvores e rasante entre as flores que margeavam pelo chão. Provou do néctar daquelas que achou mais belas e se aqueceu com a luz poderosa do astro rei que jogava lindos raios pela floresta. Bebericou de poças d’água, do orvalho também e arriscou um ou outro pouso no lombo de animais fascinantes que conheceu pelo caminho.

Ao enfim alcançar a sonhada cachoeira, dias depois, pouco importou que seus olhos não fossem capazes de captar todos os detalhes que olhos de outras espécies poderiam enxergar. O lugar era simplesmente lindo, de qualquer jeito e mais do que ela havia imaginado. Naquele momento, a borboleta soube que a jornada valeu a pena.

Maravilhada pelo frescor cristalino da paisagem, pousou numa rocha junto à margem e olhou para o alto. Para as imponentes cascatas que caíam infinitamente, parecendo nunca se cansarem. E foi ao fazer isso que ela avistou as montanhas e sentiu uma comichão irresistível. Queria mais daquela aventura chamada vida. Queria voar ainda mais alto.

Sem pestanejar, a destemida borboleta foi em busca do novo sonho e de mais felicidade. Logo, estava provando mais flores pelo caminho, pousando em mais lombos e bebericando mais orvalho. Sentiu o sol em toda a sua magnitude lhe dando mais impulso e seguiu sempre adiante.

No entanto, o caminho mostrou-se mais tortuoso dessa vez. Ela teve que ser mais cautelosa e desviar de mais predadores enquanto trilhava seu destino. Ainda assim, a borboleta não desistiu e a recompensa enfim veio.

Lá de cima, do topo das montanhas, pôde ver o mundo inteiro. Lá de cima, ela pôde senti-lo por inteiro também, mesmo que fosse incapaz de defini-lo com a justiça que merecia. Imenso não chegava perto. Belo, certamente um eufemismo. Ela apenas o sentia, por toda a parte e dentro de si mesma. A sensação era maravilhosa.

Maravilhosa também era a maneira como o mundo olhava de volta para a borboleta. Parecia chamá-la para novas aventuras. Um convite para mais sonhos e realizações que a atingiu em cheio.

Ela decidiu que iria, claro. Porém, antes queria contemplar toda a vastidão dali de cima e saborear o momento de alegria mais um pouco.

Por toda a parte, o relógio do tempo continuava tiquetaqueando implacável. E a cada nova badalada, a borboleta reforçava a promessa de ser feliz.

Foi pensando nisso que ela logo absorveu mais calor do Sol, esticou o corpo com elegância, bateu as asas coloridas e voou alto mais uma vez.


Notas Finais:

Oneshot participante do desafio de novembro do perfil @DesafiosFanfics (Spirit), cujo tema é: Frases.

Era para se inspirar em duas frases, uma obrigatória e outra dentre 5 opções dadas pelas regras.

A frase obrigatória é: "Você só vive uma vez, é sua obrigação aproveitar a vida da melhor forma possível."

E escolhi esta: "Tão fácil sentir, mas difícil definir."

Capa feita pela minha amiga Debora Marques.

Obrigada por ler ♥

4. November 2019 19:53 8 Bericht Einbetten Follow einer Story
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Das Ende

Über den Autor

HunterPri Rosen You know who I am. Oi? Caçula de três irmãs, apaixonada por dogs, lufana. Sou Hunter, Whovian, Grimmster, fã de Friends e de mais uma pá de séries. Adoro filmes de suspense, terror sobrenatural e clássicos de ação. AMO livros e fan(fictions) de vários gêneros.

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Amanda Luna De Carvalho Amanda Luna De Carvalho
Olá, tudo bem? Faço parte do Sistema de Verificação e venho lhe parabenizar pela Verificação da sua história. Primeiro de tudo, que lindo conto é esse que li realmente. É muito bonito e acolhedor. A transformação da lagarta em borboleta e suas motivações mais íntimas, são belamente expressadas nesse texto primoroso. Chega parecer uma reflexão do que não devemos deixar de lado durante uma existência inteira. A coerência está apropriada. A estrutura empregada está ótima e a maneira como tudo é entremeado faz com que pensemos na brevidade da vida. Não devemos reprimir nossos anseios, indo em busca da felicidade, sem pensar em preocupações. Claro, sem passar por cima do limite de ninguém. A liberdade é algo indispensável para qualquer pessoa ir a procura do que ama de verdade. Seu conto tendo como personagem central uma borboleta, mostra um arquétipo do que determinados seres humanos são em sua mais bela essência. Aquilo que mais almejamos que é vivenciar tudo em sua mais pura plenitude. A cena em que a borboleta alcança seus sonhos é ricamente ilustrada daquilo que seu coração sentiu ao conquistar aquilo que queria. A gramática está primorosa e não notei nenhum deslize. Congratulações pela ortografia e gramática perfeitas. Devo dizer que tudo está excelentemente escrito. Seu conto parece como uma lição de vida e como devanear é tão importante quanto respirar. Uma vida sem vontades é como perambular pelo mundo sem ensejo algum. Desejo que continue escrevendo seus contos e tenha muita sorte no que escrever futuramente. Até mais!
June 01, 2020, 02:47

  • HunterPri Rosen HunterPri Rosen
    Moça do céu *-* Li seu comentário há dias e ainda estou processando, sabe? kkkk Queria responder à altura, fazer um textão de agradecimento, mas no momento ando tão bloqueada pra escrever que até responder direitinho tá difícil :-/ Mas vamos lá porque eu não me perdoaria em deixar essa belezura esperando mais tempo por resposta hihihihi Esse conto foi uma das últimas coisas que escrevi, foi especial demais pra mim e tive um feedback tão positivo que me senti orgulhosa pela história da borboleta sonhadora *-* Um desses feedbacks é o seu, simplesmente amei a sua análise e aqueceu o meu coração de verdade <3 Sério, até printei e mandei pra uma amiga kkkkkk Muito obrigada pelas palavras, saiba que fiquei muito, muito, muito feliz ao ler isso, viu? Espero voltar a escrever em breve. Vou lembrar do seu comentário lindo enquanto tento vencer o bloqueio. Beijos e valeu demais! #SomosTodosBorboletas hahahhaha June 18, 2020, 23:40
Rodrigo Borges Rodrigo Borges
Adorei a sua personificação da borboleta, e achei que a frase que você escolheu para se basear combina perfeitamente com o que você escreveu. Minha parte favorita é quando se menciona o "astro rei" ^^, gostei bastante dessa expressão. Belo trabalho, sério.
November 04, 2019, 23:57

  • HunterPri Rosen HunterPri Rosen
    Oieee! Muito obrigada por ter lido e pelo feedback, fico muito feliz que gostou :-) Tentei escrever ontem, mas não fluiu. Hoje o astro rei iluminou minhas ideias e pimba! Gostei muito de escrever isso, amei o tema do desafio e fiquei muito feliz com seu comentário. Valeu mesmo! November 05, 2019, 00:04
Rafael Reis Rafael Reis
Muito boa!
November 04, 2019, 20:31

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