lara-one Lara One

Ei você aí... Sim, você que está lendo isto... Não tem sorte em nada na vida? Você se considera uma garota azarada? Tudo bem, é que você ainda não conheceu Jasmine...


Fan-Fiction Series/Doramas/Soap Operas Nur für über 21-Jährige (Erwachsene).

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S06#16 - JASMINE

📷



INTRODUÇÃO AO EPISÓDIO:

Fade in.

Foco nas pernas torneadas que caminham rapidamente pela calçada, os quadris perfeitos. A saia curta de tecido leve e colorido, jaqueta jeans, cabelos louros e longos. A mochila nas costas. Nos pulsos, munhequeiras de tenista.

Os homens que passam, jovens ou velhos, vão se virando pra acompanha-la, alguns tropeçam, se batem uns nos outros. Aspiram o perfume dela no ar.

A jovem Jasmine, tentação em forma de menina, segue adiante, sem ligar pra eles. Passos rápidos, como quem foge, olhando pra todos os lados, como se visse o mundo pela primeira vez. Para na calçada, observando o sinal para atravessar. Olha para o ponto de ônibus interestadual. Abre um sorriso de alívio.

O rapaz alto e moreno, Alec Bailey, de camiseta regata e jeans, para ao lado dela, observando o sinal. Jasmine olha pra ele discretamente. O rapaz olha pra ela. Jasmine disfarça. O rapaz fica hipnotizado.

ALEC: - Oi.

JASMINE: - ... (VIRA O ROSTO)

ALEC: - Eu disse oi.

JASMINE: - (ESTÚPIDA) Não fale comigo.

ALEC: - ... Desculpe, é que você estava olhando pra mim...

JASMINE: - (SEM OLHAR PRA ELE) Não, eu não estava.

ALEC: - (APAIXONADO) Quer casar comigo?

JASMINE: - ...

ALEC: - (FASCINADO) Você é bonita. Você é linda! Eu te amo!

JASMINE: - Não fala comigo. Me ignore!!!!!

Alec sorri. Aproxima-se. Jasmine recua.

JASMINE: - Por favor, me deixa em paz, eu vou gritar! Não me toca!!!

ALEC: - Ei, você estava olhando pra mim! Agora quer inverter a situação? Você é louca é?

JASMINE: - Sou, mas me deixa em paz! Fica longe de mim!

Alec leva a mão até a mão dela, a segurando. Jasmine arregala os olhos assustada e puxa a mão. Alec desiste.

JASMINE: -(EM LÁGRIMAS) Por que foi fazer isso? Por quê??? Por que foi me tocar, idiota???? Eu pedi pra me ignorar!!!!!!

ALEC: - Louca!

O sinal abre. Jasmine olha pra ele.

JASMINE: -(NERVOSA) Espere! Não vá! Volte aqui!!!!!!!

Alec não liga, segue atravessando a rua e ergue o braço num gesto de 'se dane'. Jasmine fica gritando desesperada.

O ônibus dobra rapidamente a rua. Jasmine põe as mãos no rosto.

Som forte de buzina.

O ônibus passa por cima de Alec, esmagando o rapaz. Jasmine vira o rosto, chorando.

VINHETA DE ABERTURA: A VERDADE ESTÁ LÁ FORA




BLOCO 1:

Condado de Judas Lost the Boots - Indiana - 8:16 A.M.

Scully dirige o carro, séria e emburrada. Mulder - no seu visual novo de cabelos com gel, fios caídos pela testa, terno moderno, óculos escuros - observa a paisagem, chateado. Krycek de óculos escuros sentado no banco de trás, fazendo palavras cruzadas.

MULDER: -Eu não sou machista. É um hábito inconsciente de pegar as chaves e dirigir.

SCULLY: - ...

MULDER: - Se você me alertasse disso, numa boa... Precisava brigar comigo? Você sempre arruma um motivo pra brigar comigo, Scully. Parece que se sente feliz quando faz isso.

KRYCEK: - Asno com seis letras?

SCULLY: - Mulder.

MULDER: - Jerico. E já vou avisando, vamos ficar em quartos separados.

Krycek dá um sorriso e faz sinal de positivo pra Mulder. Scully olha pelo retrovisor. Krycek disfarça, fazendo as palavras cruzadas.

SCULLY: - (PROVOCANDO) Não tem problema. Fico no quarto do Alex.

Krycek enfia a revista na cara.

MULDER: - (PROVOCANDO) Acho que não. Ele vai ficar comigo.

Krycek dá com a revista na cabeça.

SCULLY: - Quer calar sua boca?

MULDER: - (BEIÇO) ...

KRYCEK: - Posso me intrometer?

SCULLY e MULDER: - Não!!!

KRYCEK: - (VOLTA PRAS PALAVRAS CRUZADAS)Ok...

MULDER: -Que droga de caso é esse que você arrumou?

SCULLY: - Não arrumei. Arrumaram pra nós. O filho de um político importante foi atropelado.

MULDER: - E eu com isso? Se a minha filha for atropelada vou chamar o FBI? Ou agora viramos para-médicos sem que eu soubesse?

Krycek abaixa os óculos escuros por sobre o nariz observando os dois.

SCULLY: - 'Eu com isso' é que o assunto foi considerado prioridade pelo Carter. Esse político paranoico acredita que alguém pagou o motorista do ônibus pra matar o filho dele. A verdade é que o ônibus perdeu os freios.

Krycek coloca a revista na frente do rosto e observa a briga por cima da revista.

MULDER: - (PEGA O CELULAR/ COMO SE FOSSE UM RÁDIO) Aqui é Emergência 911, enfermeiro Mulder na escuta. Estamos nos dirigindo para o local do acidente. A Dra. Scully está guiando a ambulância, mas já atropelou dois no meio do caminho...

SCULLY: - ... Vou ignorar você, Mulder. Eu queria apenas saber o que esse estorvo faz no banco de trás!

KRYCEK: - Quem é estorvo? Você não dizia que eu era um estorvo quando corria atrás de mim feito uma louca!!!

MULDER: -Ele vai nos ajudar.

SCULLY: - No quê? Ele nem é do FBI, nem deveria estar aqui. Vocês dois andam muito grudados ultimamente. Por isso eu acho o amor uma coisa linda!

Mulder vai abrir a boca, mas Krycek se adianta.

KRYCEK: - (IRRITADO)Está com ciúmes? Desculpe por trocar você pelo seu marido, mas ele é mais interessante! Pelo menos tem senso de humor e não fica reclamando de tudo o dia inteiro! E ainda me espera com cerveja gelada e divide comigo uma assinatura daSexy Girls!

SCULLY: - (IRRITADA) Vou ignorar você também, Alex! Aliás, você já está ignorado há muito tempo, desde que começou a andar com o Mulder e ficar idiota como ele! Ainda não entendi a de vocês dois!

Mulder num ar debochado cruza os braços observando a briga.

KRYCEK: -(IRRITADO) Não é a sua, com certeza! Mulder, bota uma focinheira nessa mulher porque não dá mais pra aguentar tanta mordida!!!

SCULLY: - (IRRITADA) Eu vou parar esse carro e jogar você pra fora, Alex Krycek!!!

MULDER: - (DEBOCHADO) Uh! Quando ela fala o nome completo a coisa vai engrossar!

KRYCEK: - (IRRITADO) Tenta!!! Você pode bancar a durona com o frouxo do seu marido, mas comigo a rédea é curta!!!

SCULLY: -(IRRITADA) E você, Fox Mulder? Vai ficar quieto aí?

MULDER: -E agora engrossou pro meu lado... Ok! O dia já começou ruim. Um atirador de elite numa escola em Maryland e o FBI nos dá essa droga de caso num lugar chamado Judas Perdeu as Botas! Isso nem é um caso! Eu queria o atirador de elite!

KRYCEK: - Quem não queria?

SCULLY: -Atiradores de elite não são um Arquivo X.

MULDER: - (IRRITADO) Nem atropelamentos! Eu devia estar atrás do atirador de elite! Eu entendo a cabeça do maluco.

SCULLY: - Não entende nem a sua cabeça, quanto mais a dos outros malucos, Mulder.

Krycek fica olhando pros dois como quem assiste uma partida de tênis.

MULDER: - (IRRITADO) Tô cansado disso!

SCULLY: - Conheço o discurso, Mulder. Vire o disco! Talvez tenhamos algo interessante além do atropelamento.

MULDER: - É? Vamos alegar que Christine, o carro assassino, ressuscitou e se incorporou num ônibus?

SCULLY: - Temos uma das testemunhas do acidente, uma garota de 17 anos. As outras testemunhas dizem que ela gritou chamando o garoto bem antes do ônibus dobrar a rua.

MULDER: - Está dizendo que a garota previu o acidente?

SCULLY: - Não estou dizendo nada. Talvez o pai do rapaz realmente tenha razão e essa menina sabia de algum plano pra matar o rapaz.

MULDER: - É. Vai ser interessante. Mais uma semana na minha vida chata e monótona, discutindo paranormalidade contra ciência e tentando não acabar algemado numa cama de motel sendo estuprado pela ex mulher. Poderia estar atrás do atirador de elite!

SCULLY: -(IRRITADA) Se abrir sua boca mais uma vez pra reclamar, eu jogo você também pra fora do carro!

MULDER: - Yhhhhhhaaaaaaa!!!!!! Desvia, Rato, lá vem mais ferradura!!!!

KRYCEK: - Mulder, quais as chances da baixinha aí jogar nós dois pra fora do carro?

MULDER: - Bom... Ela pode pegar a arma, mas conseguiria atirar em apenas um, até o outro tomar a arma dela. Na briga mesmo, seria difícil.

Scully cerra o cenho.

KRYCEK: - Quem sabe a gente joga a nanica chata pra fora do carro? Dá pra fazer isso com uma mão só e pelo vidro da janela. E assim voltamos pra Maryland e vamos atrás do atirador de elite?

Scully freia o carro, indignada. Os dois se assustam, indo pra frente, enquanto Scully vira-se rapidamente sacando a arma e mirando entre as pernas de Krycek enquanto leva a mão entre as pernas de Mulder.

SCULLY: - Vão sair agora desse carro ou eu terei de castrar os dois ao mesmo tempo?

Mulder faz cara de pânico. Krycek ergue as mãos.

SCULLY: - (DEBOCHADA) Ah! Ótimo que estamos nos entendendo!

Scully guarda a arma, liga o carro e toma a estrada. Silêncio completo.


Delegacia do Condado de Judas Lost the Boots – 9:05 A.M.

Mulder, Krycek e Scully entram na delegacia.

Uma confusão de policiais homens, aos encontrões uns nos outros, tentando espiar Jasmine pela porta da sala de interrogatório. Scully observa os policiais, incrédula.

SCULLY: -Agente federal, abram passagem por favor!!!

MULDER: - O que está havendo por aqui?

POLICIAL #1: - Já deu uma olhada no filezinho que tá aí dentro?

MULDER: -(CURIOSO) Tem filezinho aí dentro?

POLICIAL #2: - Queria ser do FBI agora, seus sortudos!

KRYCEK: - (CURIOSO) Nota?

POLICIAL #1: -Dez! Eu daria até mil! Artigo de primeira!

Scully cerra o cenho, furiosa. Krycek abre a porta e espia. Fecha a porta. Põe a mão no peito.

KRYCEK: - (DELIRANDO) Eu podia jurar que vi a Mena Suvari aí dentro!

MULDER: - (DEBOCHADO) Adoro esse tipo de "beleza americana"!

KRYCEK: - (SUSPIRA) Mena Suvari...

MULDER: - (DEBOCHADO) Já fiz 41 agora posso me permitir esse tipo de coisa própria pra idade. Quero duas de 18!

KRYCEK: - (PROVOCANDO) Duas pra mim e duas pra você.

Scully completamente irritada empurra todos e mostra a credencial.

SCULLY: - (AOS GRITOS) Vão trabalhar, seu bando de imprestáveis! O FBI chegou e agora está no caso!

Mulder e Krycek olham pra ela, assustados. Os policiais se dispersam.

SCULLY: -(IRRITADA) Eu fico impressionada com vocês dois a cada dia que passa! Nunca imaginei que fossem tão parecidos em cretinice!

KRYCEK: - Cretinice? Mena Suvari é Mena Suvari!

MULDER: - Concordo!

Scully puxa Mulder pelo braço. Puxa Krycek. Segura os dois.

SCULLY: - (FURIOSA) Aqui pra Mena Suvari! Eu vou entrar e vocês dois ficam aqui combinando o dia do casamento de vocês!

Um sujeito alto, meia idade, cabelos grisalhos, sósia do Richard Gere, surge no corredor. Scully solta os dois, abrindo um sorriso pro bonitão. Mulder e Krycek se entreolham incrédulos.

MULDER: - Começo a acreditar que nossa brincadeira de marido e amante está deixando ela acreditar demais no próprio ego... Agora ela tá pensando que é a Julia Roberts. Olha essa coisa feia e sem graça vindo aí!

KRYCEK: - Quem é esse Richard Gere dos pobres? Atiro nele agora ou espero o sorriso dele parar de brilhar mais que as lâmpadas?

Scully, olhando para o bonitão, discretamente chuta a canela de Mulder e acerta um cotovelaço em Krycek. Os dois recuam, segurando o grito. Jones se aproxima.

DELEGADO JONES: - Sou o delegado Jones. Você é a agente Scully?

SCULLY: - (SUSPIRA/ PROVOCANDO)Sim... Mas pode me chamar de Dana.

Mulder e Krycek olham incrédulos pra Scully que mantém os olhos no delegado.

DELEGADO JONES: - Você entra, "Dana". Os dois ficam aqui fora. A garota exigiu que fosse interrogada por uma policial mulher.

SCULLY: - (OLHANDO ATRAVESSADO PRA MULDER E KRYCEK) Imagino porque... Não a condeno.

O delegado se afasta. Scully entra, fechando a porta na cara de Mulder, que tentava espiar. Mulder esfrega o nariz.

MULDER: - Que gêniozinho!

KRYCEK: -Ela está furiosa com você, sabe o que isso significa, não é? Quando elas se irritam é porque estão doidinhas pra levar você pra cama.

MULDER: - (IRRITADO) Então por que ela também está irritada com você?

KRYCEK: - (SACANA) Posso abrir um sorriso de esperança?

MULDER: - Pode. Mas depois que eu quebrar todos os seus dentes!

Corte.


FLASH BACK:

Tela abre no hospital. A mulher no leito, olha chorando pro marido que segura a bebê nos braços, a cheirando ternamente, enquanto a embala.

MULHER: - (NERVOSA AOS GRITOS) Ela o matou!!!!!! Eu sei, ela o matou!!!!!

MARIDO: - Querida, por favor, você está estressada não sabe o que diz...

MULHER: - (GRITA) Tira ela daqui! Não é minha filha! Ela matou o irmão!!!!

MÉDICO: - Senhor Bright, sua esposa não vai aceitar a perda do filho... Lamentavelmente, não podemos salvar o gêmeo da menina...

MULHER: - (GRITA) Tira ela daqui!!!!!!! Eu não a quero!!!!!!!!!

O senhor Bright entrega a bebê ao médico. O médico sai da sala. O senhor Bright olha pra esposa, tenso. Começa a se asfixiar repentinamente. Cai morto em cima da cama, sob os gritos desesperados da mulher.

Corte.


A avó dorme com a boca aberta, sentada na poltrona. Jasmine criança observa pela janela, de joelhos sobre o sofá, os meninos brincando lá fora. A bola de basquete cai na varanda. Jasmine suspira.

GAROTO: - Ei!!!!!! Pode entregar a bola pra nós?

Jasmine olha pra avó. Olha pras escadas. Abre a porta e pega a bola. Vai até o portão e entrega ao menino. O menino pega a bola tocando na mão dela. Sorri.

GAROTO: - Você tem um perfume de flor...

Jasmine sorri. O garoto volta a brincar com os outros. Atravessa a rua. O caminhão do sorvete não consegue frear a tempo. A bola de basquete, suja de sangue, rola pela rua.

Fade to black.


TEMPO ATUAL:

Fade up.

SCULLY: - Jasmine, está me ouvindo?

Jasmine sai de suas lembranças, olhando pra Scully, sentada à sua frente, na sala de interrogatório da delegacia.

SCULLY: - Tudo bem com você?

JASMINE: - Sim, eu... O que estava falando?

SCULLY: - Perguntei se pratica tênis.

JASMINE: - Não. Por quê?

SCULLY: - (APONTA PRO PULSO DE JASMINE) ...

JASMINE: - Ah, não eu... Eu uso munhequeiras porque sofro de tendinite.

SCULLY: - Por que gritou antes de Alec Bailey ser atropelado?

JASMINE: - Sexto sentido.

SCULLY: - Como sabia que o ônibus estava sem freios e não ia parar?

JASMINE: - Não sabia.

SCULLY: - Então por que relutou em conversar com o policial Andrews e saiu correndo?

JASMINE: - Porque eu não tinha culpa alguma.

SCULLY: - Não parece. Pelo boletim de ocorrência consta que você fugiu do policial Andrews, ele a perseguiu e a algemou à força. Fuga do local é muito suspeito.

JASMINE: - Eu disse para o policial não fazer isso, mas ele foi chegando perto demais, eu tive que correr! Eu poderia vir pra delegacia sem ser presa, contaria tudo, mas queria falar com uma policial mulher, não queria que ele me tocasse!

SCULLY: - (REVOLTADA) Um policial tem ética ao efetuar qualquer prisão. Se é o que está sugerindo.

JASMINE: - (IMPACIENTE) Não estou sugerindo nada! Eu só queria ser presa por uma mulher! Só isso! É algum crime?

SCULLY: - Por que só se renderia se fosse uma policial mulher?

JASMINE: - (ATREVIDA) Porque sou lésbica! Agora posso ir? Eu não fiz nada!

SCULLY: - Fique à vontade!

Scully se levanta e sai da sala de interrogatório. Mulder parado no corredor, comendo sementes de girassol.

[Som: Romance Ideal - Paralamas do Sucesso]

[câmera lenta] Jasmine sai da sala de interrogatório. Mulder desvia a atenção pra ela e fica estático, olhar vidrado, num meio sorriso bobo. Jasmine caminha balançando os quadris, a saia curta oscilante, virando o rosto para trás, olhando pra Mulder num olhar que mistura ingenuidade e malícia. Sorri com seus lábios vermelhos. Mulder a acompanha com os olhos, hipnotizado. O piscar suave das pálpebras dela. Os fios de cabelos caindo pelo rosto. Mulder permanece encantado.

SCULLY: - Mulder?

MULDER: - (FORA DE ÓRBITA) ...

SCULLY: - (CERRA O CENHO) Mulder?

MULDER: -(FORA DE ÓRBITA) ...

SCULLY: - (INDIGNADA) Fox Mulder, você não tem jeito mesmo, sabia? É uma menina de 17 anos, seu tarado!

Mulder fecha os olhos, aspirando o perfume que ficou no ar, num sorriso bobo.

MULDER: - Jasmim...

SCULLY: - Tem uma filha, Mulder! Quero ver que moral vai ter pra dizer algo se algum dia um velho tarado der em cima da Victoria!

Mulder se acorda e olha incrédulo pra Scully. Krycek se aproxima.

KRYCEK: - Olha, eu tenho uma informação quentinha pra vocês dois. O policial que prendeu a garota, o tal Andrews, acaba de sofrer um acidente e... (PERTURBADO) Que perfume é esse?

MULDER: - (PERTURBADO) O cheiro do pecado, Rato. Da tentação...

KRYCEK: - (PERTURBADO) Jasmim...

Os dois ficam aspirando o ar, completamente hipnotizados. Scully cerra o cenho.

SCULLY: - (INDIGNADA) Parecem um bando de cachorros sentindo o cheiro de uma fêmea no cio! Maldita crise masculina dos quarenta! Começam a usar roupas da moda e se acham os garotões! Vocês dois são pervertidos e nojentos!

Scully solta um 'grrr' e sai pelo corredor, furiosa.

Mecânica do Jack – 11:16 A.M.

Fitas de isolamento, policiais no entorno. Dentro da oficina, o corpo do policial Andrews esmagado sob a viatura, que ainda está sobre o elevador pneumático.

O mecânico, jovem, todo sujo de graxa, um moreno de tirar o fôlego, sem camisa, músculos e tatuagens à mostra, limpa as mãos num pano, olhando discretamente pras pernas de Scully, que o observa com a sobrancelha erguida, num sorriso.Mulder e Krycek observam a cena do acidente. Scully se atém a observar as travas do elevador pneumático e o corpo musculoso do mecânico.

KRYCEK: - Como assim o elevador cedeu com o carro e caiu por cima do policial? Elevadores pneumáticos não caem assim!

JACK: - Eu não sei! Estava lá atrás pegando ferramentas. O policial disse que ia trocar o óleo ele mesmo. Estacionou a viatura em cima do elevador, depois foi pra baixo dele e... Acabou virando patê.

MULDER: - Tem certeza de que foi isso? Ou quer que eu chame algumas pessoas para verificarem se os equipamentos estão sendo revisados?

JACK: - Eu tô dizendo que nunca vi isso acontecer, o seu amigo aí tem razão, elevadores pneumáticos não caem assim em cima de pessoas...

SCULLY: - Ele tem razão, Mulder. As travas estão acionadas. Não dá pra explicar como isso caiu.

JACK: - Obrigado, dona.

SCULLY: - (SORRI BOBA) Não por isso.

Jack olha Scully de cima a baixo. Pisca o olho. Scully sorri. Mulder não percebe. Krycek percebe e se aproxima de Scully, envolvendo o braço nela.

KRYCEK: - Que morte estúpida, não concorda, 'amorzinho'?

Scully olha catatônica pra Krycek. Mulder olha pros dois.

MULDER: - (ENCIUMADO) Rato, acho melhor você ir fazer alguma coisa, não acha? Que tal verificar se já chegou alguém pra tirar o corpo daqui, 'amorzinho'?

KRYCEK: - Tirar o corpo do policial?

MULDER: - (IRRITADO) E o seu também, 'amorzinho'!

Krycek se aproxima de Mulder e cochicha.

KRYCEK: - O único corpo a ser tirado daqui com urgência é o do mecânico, 'amorzinho', se liga!

Mulder volta a atenção para o mecânico.

SCULLY: - Acho melhor chamarmos a perícia. Quero saber o que houve com essa máquina.

JACK: - Olha dona, eu até tenho explicação pra isso. Foi ela.

SCULLY: - Quem?

JACK: - A garota. Jasmine. Todos nessa cidade comentam que ela atrai a morte... Ela tem uma maldição.

KRYCEK: - Que maldição?

JACK: - Melhor falarem com a tia dela. Se querem eu dou o endereço. Mas fiquem longe da garota. É sentença de morte.

Mulder observa os calendários de mulheres nuas pelas paredes da oficina. Aponta pra um deles.

MULDER: -Quanto quer por esse?

Scully revira os olhos indignada.


Residência dos Bright – 2:27 P.M.

A mulher séria, de uns 65 anos, cabelos grisalhos e presos, de óculos, abre uma fresta da porta. Usa um crucifixo enorme no pescoço e roupas pretas. Mulder mostra a credencial.

MULDER: - Agentes Mulder e Scully, do FBI. Podemos falar com Jasmine?

KITTY: - Você não... (APONTA PRA SCULLY) Ela pode. Só que eu não faço a mínima ideia de onde Jasmine está. Ela sumiu.

SCULLY: - E... Podemos falar com a senhora?

MULDER: - (DEBOCHADO) Não "podemos". Só você pode, Scully. Acho que nessa cidade as mulheres têm aversão ao cromossomo Y ou são do clube da Jodie Foster. Bem que agora entendi o nome da cidade... Botas... Só não sei porque Judas e não Jodie.

Kitty abre a porta, olhando atravessado pra Mulder. Espanta os gatos do sofá. Mulder e Scully observam a pequena sala, cheia de livros religiosos, uma bíblia aberta sobre a lareira, imagens de santos.

KITTY: -Me chamo Kitty. E vivo um luto eterno. Quem morreu dessa vez?

Mulder e Scully se entreolham.

SCULLY: - Senhora Bright...

KITTY: - Senhorita.

SCULLY: - Senhorita Bright, ouvi alguns comentários sobre sua filha...

KITTY: - Sobrinha. A mãe de Jasmine a abandonou após a morte do meu irmão, no dia em que Jasmine nasceu. Minha mãe a criou, depois faleceu e eu fiquei com o demônio.

SCULLY: - Senhorita Bright...

MULDER: - O que quis dizer sobre eu não poder falar com Jasmine?

KITTY: - Agente Mulder, não quis ser grosseira, mas homem algum pode falar com Jasmine. O demônio nasceu com ela.

SCULLY: - Como assim?

KITTY: - Desde que nasceu Jasmine não pode ter contato com homens.

MULDER: - (DEBOCHADO) Alguma regra moral da família? Ou ela vai seguir o celibato?

KITTY: - Jasmine tem uma praga demoníaca. Todo homem que a toca acaba morrendo.

SCULLY: - O que quer dizer com isso?

KITTY: - (FAZ O SINAL DA CRUZ) Que o demônio está nela.

Mulder disfarça uma cara de deboche. Observa as fotos na estante. Em todas, Jasmine ao lado de mulheres.

KITTY: - Quando minha cunhada engravidou, eram gêmeos. O irmão de Jasmine nasceu morto. Quando Jasmine nasceu, meu irmão a tomou nos braços e morreu de um ataque cardíaco. O médico que fez o parto, morreu minutos depois, quando a luminária caiu em sua cabeça. Na infância, precisávamos manter os meninos longe dela. Algumas vezes era inevitável, um morria atropelado, o outro morria batendo a cabeça, alguma árvore ou raio que repentinamente caía.

MULDER: - Não acha que isso é superstição demais?

KITTY: - Não, agente Mulder. Eu sei que agora quem morreu foi Alec Bailey. E lamento muito por isso. Vou tirar Jasmine da escola para meninas e mandá-la pra um convento. Lá ficará na clausura, completamente longe de homens. Eu não posso mais continuar vivendo com isso!

MULDER: - Alguém da família pode ter feito algum feitiço contra Jasmine?

KITTY: - Está ofendendo a minha família, agente Mulder. Todos somos católicos. Incluindo a minha ex-cunhada, que preferiu ficar distante desse demônio.

Mulder retira um cartão do paletó.

MULDER: - Entregue isso a Jasmine. Ela precisa se apresentar na delegacia.

KITTY: - Se for prendê-la, considerarei uma benção. Mas deixe que sua parceira o faça. Não toque em Jasmine ou vai morrer. Como o policial que a prendeu e todos os outros infelizes.

MULDER: - Não se preocupe por Jasmine estar possuída pelo demônio... (OLHA DEBOCHADO PRA SCULLY) Sou perito em 'exorcismos'.

Scully o fuzila com os olhos.

Corte.


Mulder e Scully saem da casa. Scully com um beiço.

MULDER: - Acreditou naquela baboseira toda sobre o demônio?

SCULLY: - ...

MULDER: -(SURPRESO) Não... A cética Dana Scully?

SCULLY: - Mulder, só porque você não acredita em Deus, não significa que o demônio não exista. Você mesmo já foi possuído por ele!

MULDER: - Eu acredito em Deus, mas de forma diferente. E não fui possuído por ninguém não, eu não sou o Carter! E quer saber? Deixe o capeta em paz! Acredito que essa mulher ficou doida de tanto ajoelhar e beber água benta. E não duvidaria que seja amiga da Nancy e frequente o clube das frígidas moralistas.

SCULLY: - Por que está tão agressivo desse jeito?

MULDER: - Eu? Eu agressivo? Pensei que a agressividade viesse de sua parte. Afinal, é você quem não acredita mais em Deus. (DEBOCHADO) Quem sabe o diabo anda encostado em você? Ahn? Afinal só quer sexo, luxúria, prazer e se contenta em ferir, magoar e destruir todo mundo!

Mulder entra no carro. Scully fica parada, distante. Mulder buzina. Scully sacode a cabeça se acordando e entra no carro.

Corte.


[Som: Romance Ideal – Paralamas do Sucesso]

Jasmine solitária no alto da torre do castelo. Ela observa os campos pela janela, enquanto derruba lágrimas, vestida em roupas de princesa. Olha pras suas mãos presas com grilhões de ferro.

A grossa porta de aço e madeira se abre. Jasmine vira-se. Kitty entra, vestida de bruxa, carregando uma bandeja com uma pequena garrafa redonda. Coloca a garrafa sobre a mesa. Jasmine olha pra garrafa e grita amedrontada. Kitty sorri diabolicamente.

Um grande espelho na parede. Jasmine chora gritando por ajuda. Um vulto alto surge no espelho pelo lado de dentro. Alguém do outro lado do espelho tenta quebrá-lo. O espelho vai rachando e se partindo aos poucos, revelando Mulder, vestido de príncipe, com uma espada na cintura.

A garrafa se quebra ao chão. Os grilhões se arrebentam, deixando Jasmine livre.

Fade to black.


Fade up.

Jasmine se acorda, dormiu sentada no banco da praça. Passa as mãos no rosto.

JASMINE: - De novo esse sonho, sempre o mesmo sonho... (SORRI APAIXONADA) Mas dessa vez eu vi o rosto dele... Ele veio. Como o sonho disse que viria. Meu príncipe veio me salvar... É ele, o cara lindo que estava na delegacia me olhando...


Motel WTC - 10:36 P.M.

Close do estacionamento repleto de carros. Não há lugar nem pra uma moto.

Corta pra dentro do quarto. Scully dorme tranquila e confortavelmente na cama. Mulder, com cara de poucos amigos, com um saco de pedras de gelo contra o olho, sentado na poltrona. Krycek sentado no chão, procurando alguma coisa no notebook.

MULDER: - (MAL HUMORADO) Me responde uma coisa, 'amorzinho'. Num lugar chamado 'Judas perdeu as botas', qual a probabilidade de você vir a serviço e pegar o único motel da cidade lotado? Algo a ver com as Leis de Murphy? A coisa mais preocupante nisso tudo é o que significa WTC. Espero que não seja o que estou pensando...

KRYCEK: - Sempre leio os livros de registros dos motéis e os únicos com sobrenomes suspeitos registrados aqui são Mulder, um judeu, e um tal de Al Lamed, que deve ser palestino. As probabilidades dos dois se encontrarem e isso resultar em merda são assustadoras!

Mulder olha debochado pra Krycek. Scully começa a roncar. Krycek suspira.

MULDER: - Eu não vou mais cutuca-la. (APONTA PRO OLHO ROXO) Já tomei minha lição... Mulherzinha irritante, prepotente e teimosa. Eu não sei o que eu vi nessa mulher! Não sei aonde estava com a cabeça quando disse 'eu te amo'... Provavelmente em qualquer lugar da Terra. Se estivesse com a cabeça no espaço, ainda estaria no meu apartamento, no meu sofá e bem quietinho no meu canto com as minhas revistas.

KRYCEK: - Mulder, pare de reclamar, você é caído pela Scully, ela fisgou você direitinho. Não percebeu que ela melhorou bastante? Perdoou a mãe, a família, tem falado mais em Victoria e parece se recordar mais das coisas. E pra quem não podia ouvir o seu nome, agora pelo menos demonstra que ainda sente algo por você. Fica fazendo ciúmes com o delegado, o mecânico... Comigo.

MULDER: - E caidinha por você também.Parece que o juízo está voltando aos poucos, mas em compensação essa raiva por mim só aumenta e essa obsessão por você também. Eu posso ficar calado e imóvel o dia todo naquele porão que ela arruma alguma coisa pra se invocar comigo. E de repente, do nada, corre atrás de mim, me provoca ciúmes e me agarra. Tem mais alguma coisa aí, Rato, que eu não enxerguei ainda. Por isso estou me especializando em Transtorno Dissociativo de Personalidade. Talvez Patterson não tenha errado no diagnóstico. O método é que foi proposital pra ferrar com a mente da Scully.

KRYCEK: - A coisa toda se concentrou em nós dois, Mulder. Percebeu? Ela ficou de bem com todos, mas com a gente ainda tem essas ideias esquisitas. Mas leva tempo, você sabe. Bom que nossa tática esteja funcionando. Dar corda para as mentiras em que ela acredita.

MULDER: - É. E penso que se não fosse você descobrir isso rápido, a coisa podia ter ficado pior. Com o tempo a confusão mental dela poderia não mais ter volta. Obrigado, Krycek.

KRYCEK: - Zeramos nossas dívidas, Mulder. E sua especialização? Falta muito?

MULDER: - Falta sim. Eu não sei quanto tempo vai levar pra Scully recuperar totalmente a memória dela e... (TRISTE) Sendo otimista, acho que pego o diploma antes disso.

Krycek fecha o notebook. Olha pra Mulder com tristeza.

MULDER: - Eu nem sei de onde consigo tirar força e tempo pra estudar. Ainda bem que existe internet, facilita muito pra quem quase não tem tempo de ir à universidade. E a Baba... Ah, a Baba caiu do céu! Fico despreocupado porque sei que minha filha está segura e tendo uma vida normal de bebê com horários certos pra tudo... Isso já é um alívio!

Scully ronca mais alto. Mulder se levanta. Vai até o banheiro. Volta segurando um esfregão. Krycek observa, incrédulo. Mulder cutuca Scully com o cabo do esfregão, à distância. Krycek segura o riso. Scully se vira, dando um soco no nada e para de roncar. Mulder, sorri debochado. Aponta pra cabeça.

MULDER: - Inteligência de raposa. Sem socos dessa vez.

Mulder senta-se, emburrado. Observa Scully.

KRYCEK: - (COÇA A CABEÇA) Estou na crise da meia idade. Levei flores pra uma mulher. Isso soa desespero?

MULDER: - (SORRI) Bem vindo ao clube! Eu me tornei uma pilha sentimental. Eu já era sentimental, agora choro por qualquer coisa. Novelas mexicanas estão fora de cogitação.

KRYCEK: - E eu ando fazendo ginástica obsessivamente.

MULDER: - Se ficar careca, perco a minha dignidade.

KRYCEK: - Perde sua dignidade se tiver disfunção erétil.

MULDER: - Espero nunca perder essa dignidade...

Krycek se levanta rindo. Pega o notebook.

KRYCEK: - Boa noite, vou dormir no seu carro.

MULDER: - (PÂNICO) Não!!!

KRYCEK: -Por que não? Tá com medo de ficar sozinho com ela?

MULDER: - N-não é que... Eu...

KRYCEK: - Olha, Mulder, vocês dois estão me deixando louco! Eu pareço uma peteca nas mãos de vocês. Melhor! Um cabo de guerra! Scully me puxa pra ela, você me puxa pra você e eu no meio dessa confusão toda! Da próxima vez, traga outra pessoa pra te proteger dela, porque eu tenho mais o que fazer! Acha que Scully vai atacar você de novo?

MULDER: -Acho! Com você aqui ela se comporta, afinal você é o 'amante' dela. Deixa eu dormir com você! Por favor!

KRYCEK: -(SACANA) Agora sou seu amante também? Dormir com você? Assim, de conchinha e você vai ficar de costas pra mim? Vai arriscar? Eu ando na seca, Mulder...

MULDER: - Sem graça, Rato! Eu tô falando sério. Eu não quero ficar aqui sozinho com a Scully. Vai que a maluca me ataque e eu não consiga dar uma de machão...Eu durmo no banco da frente.

KRYCEK: -Sério? Eu fico com a sua traseira?

Mulder o fulmina com os olhos. Krycek começa a rir.

KRYCEK: - Você que me ensinou a não deixar a piada quicar sem fazer cesta. Sem chances. Enfrente seus demônios.

MULDER: -Eu não confio na minha fé pra tanto.

KRYCEK: - Mulder, você é bom em matemática? Um marmanjo de 1,84 metros está com medo de ser atacado por uma mulher de 1,60. Calcule.

MULDER: -É, já calculei e vai dar merda como sempre!

KRYCEK: - Se Scully atacar você, diz pra ela ir pro carro que eu não tenho medo de mulher. Ou quem sabe você vai dormir no carro e eu vou pra cama dormir com ela? Hum? Nós três resolvemos os nossos problemas.

Mulder atira o saco de gelo nele.

MULDER: -Esfrie seus "neurônios", Rato! Eu não tenho medo dela, tenho medo de mim!

Krycek sai rindo. Mulder olha pra Scully.

MULDER (OFF): - (EMBURRADO) Se ela pensa que eu vou deixar que isso aconteça de novo, eu juro que me tranco no banheiro e faço justiça com as próprias mãos. Mas não vou mais transar com ela. Durmo aqui a noite toda, vou pensar até no Bush pelado, mas que não vou sentir tesão e me deitar naquela cama, eu não vou! Eu posso me controlar. Posso sim!

Mulder se aconchega na poltrona e fecha os olhos.



12:17 A.M.

Scully de pijamas sai do banheiro. Mulder ainda sentado na poltrona, a acompanha com o rabo dos olhos, desconfiado. Scully sorri pra ele, piscando o olho.

SCULLY: - Vai dormir sentado? Vem pra cama, vem. Não vou morder você.

MULDER: -Você não morde, mas chupa.

SCULLY: - Vai começar?

Mulder se levanta. Anda pelo quarto. Fica de costas pra ela.

MULDER: - Eu queria que me deixasse mais a par desse caso...

Scully inclina a cabeça pro lado, olhando pro traseiro dele.

MULDER: - Estou perdido em suposições. Acho que deveria eu mesmo interrogar a garota.

SCULLY: - (LEVANDO AS MÃOS AO TRASEIRO DELE SEM TOCAR)

MULDER: - Estou com umas idéias absurdas na cabeça... Mas não fazem sentido...

Mulder se vira rapidamente, pressentindo. Scully pula em cima dele. Mulder desvia e ela cai na cama.

MULDER: - (DEBOCHADO) Que traiçoeira, Dana Scully! Atacando por trás? Tisc tisc... Scully, você parece uma viúva negra que atrai o macho para um ritual de acasalamento e depois o mata!

SCULLY: - Cala a boca, Mulder! Deita já nessa cama!

Scully deitada na cama bate com a mão no colchão, olhando atrevida pra ele.

MULDER: - (DEBOCHADO) Pergunta.

SCULLY: - Que pergunta? Isso lá é hora de pergunta?

MULDER: - Se eu sou um monstro, se eu sou um maldito alienígena, por que você prefere transar com o alienígena a transar com um homem? Hum? Ou eu sou um alienígena em outras categorias, mas pra aliviar o seu tesão, o alienígena aqui é imbatível?

SCULLY: - (CATATÔNICA) ...

MULDER: - É. Sua cara disse tudo.

SCULLY: - Nem preciso dizer nada. Seu ego é maior que o seu... Ah, você sabe!

MULDER: - Quando vai admitir na minha cara que transa comigo por que eu faço você ir às alturas, coisa que ninguém sabe fazer direito? Hum? Admita Scully, ninguém te faz gozar como eu faço.

SCULLY: - Prepotente, convencido... Sai já do meu quarto!

MULDER: - Eu admito. Você me faz ficar duro só de olhar pra você.

SCULLY: - Para!

MULDER: - Só consigo pensar em coisinhas com você. Até posso abrir o apetite fora, mas que eu só quero comer em casa, ah isso é inquestionável! Nada como a boa comidinha caseira, única, gostosa, deliciosa...

Scully se levanta. Mulder a empurra pra cima da cama. Scully fica assustada. Mulder começa a tirar a roupa.

SCULLY: - O que pensa que está fazendo? Eu já disse pra ir embora. Não quero mais nada com você!

MULDER: - Eu não vou embora. Eu quero transar com você. E nem me interessa se você quer. Eu quero. É só sexo, sem compromisso. Bem como você quer.

SCULLY: - (INCRÉDULA) ...

Mulder, só de cuecas se atira na cama, em cima dela. Scully tenta fugir, ele a segura pelos pulsos. Scully pressiona as pernas uma contra a outra e vira o rosto.

SCULLY: - Não vai ter nada de mim.

MULDER: - Aposto 100.

SCULLY: - Apostado. E mesmo que conseguir, eu vou fingir cada orgasmo!

MULDER: - Vai nada. Vai gritar feito uma louca nessa cama, se revirar todinha, me pedindo pra não parar, até que eu perca a respiração...

SCULLY: - ... Não vou não. Vou fingir.

MULDER: - (BEIJANDO O PESCOÇO DELA) ...

SCULLY: - Não estou sentindo nada... Lalalalala...

MULDER: - (MORDISCA A ORELHA DELA) Eu estou sentindo... (SUSSURRA) Sentindo o seu calor gostoso... Não sente isso? Hum?

SCULLY: - A hiperemia e congestão são caracterizados pelo aumento de volume sanguíneo em um tecido ou área afetada.

MULDER: - (SUSSURRA) O seu gosto selvagem...

SCULLY: - É dividida em: hiperemia ativa e hiperemia passiva ou congestão.

MULDER: - (SUSSURRA/ LAMBENDO A ORELHA DELA) ... Estou subindo nas paredes, vou dizer muita sujeira no seu ouvido... Também podemos fazer muita sujeira nesses lençóis.

SCULLY: - A-a primeira é ca-causada p-por uma dilatação arterial ou arteriolar... Q-que provoca um aumento do fluxo sanguíneo nos leitos capilares, com abertura da capilares inativos.

MULDER: - (SUSSURRA) Estou sentindo um aumento de fluxo sanguíneo por aqui... Não quer abrir seus capilares pra mim?

SCULLY: - (NERVOSA) Uh! A... a segunda de-decorre de diminuição... da da... diminuição da drenagem venosa.

MULDER: - (SUSSURRA) Quer brincar de médico? Ok. Eu começo. O Dr. Mulder vai começar prescrevendo uma 'endoscopia' completa, depois farei uma 'papilascopia' em você, com minhas papilas gustativas e termino aplicando uma 'injeçãozinha dolorida de benzetacil' no seu traseirinho...

SCULLY: - Uhhhhhhhhhhhh!!!! Eu pago 200!!!!!!!!

Scully o agarra enlouquecida. Vira-se sobre ele. Inclina a cabeça pra trás.

SCULLY: - Diz mais... Diz... Fala mais coisas obscenas nos meus ouvidinhos, seu tarado, asqueroso, nojento, vulgar!!!

Mulder vira-se por cima dela.

MULDER: -Não mesmo. Você fica por baixo, hoje eu mando aqui. Que exame você quer primeiro? Hum?

SCULLY: - (DEBOCHADA) De próstata?

MULDER: - Isso não teve graça, Scully. Eu sou o médico! E acho que vou começar brincando de ginecologista...

SCULLY: - Se usar luvas eu mato você!

MULDER: - (SACANA) E os dedinhos, os dentinhos e a linguinha? Pode?

SCULLY: - Uhhhhhhhhhhhhhhhh!!!!!!!!!!!!!! Pago 400!!!!!!!



BLOCO 2:

1:12 A.M.

Scully empurra Mulder pra fora do quarto, ele de jeans e camiseta colada no corpo. Atira o paletó na cara dele. Joga o coldre com a arma, a carteira e o celular em cima dele.

MULDER: - Ah é assim? Usa e joga fora? Sua mãe não lhe ensinou que o que se usa e joga fora é o preservativo e não o homem?

SCULLY: - Boa noite, Mulder!

MULDER: - Que mal tem em dormir comigo? Você já transou comigo, porque não posso dormir do seu lado? Qual o problema? Quem ronca é você!

Scully bate a porta na cara dele.

MULDER: - Me deve 800 dólares, Scully!!! E olha que se tivesse me deixado no quarto essa noite, pela manhã teria que me dar o seu salário do mês!!!

Mulder suspira. Vai pro carro. Entra no carro e reclina o banco do carona. Joga suas coisas no banco do motorista. Cruza os braços, tentando dormir. Krycek no banco traseiro se acorda.

KRYCEK: - (MEIO DORMINDO) Eu não acredito, Mulder! Fugiu dela?

MULDER: - Cedi aos desejos e me ferrei de novo. Eu disse que ia dar merda! Eu me conheço!

KRYCEK: - Não sei qual dos dois é a pólvora e o outro o fósforo! Vai dormir, Mulder! Ainda bem que não podem mais ter filhos porque vocês não sabem mesmo o que é televisão! Iriam repovoar a América inteira!

Krycek suspira e volta a dormir. O celular toca. Mulder procura o celular debaixo do paletó. Atende.

MULDER: -(AO CELULAR) Mulder.

DELEGADO JONES (OFF): - Agente, Mulder... Preciso que venha até aqui. Aconteceu outra morte relacionada com a garota.


Delegacia de Judas Lost the Boots - 1:44 A.M.

Mulder entra na sala de interrogatório, usando o coldre por cima da camiseta, segurando um copo de água. Jasmine sentada à mesa, cabisbaixa, vestida com uma saia curta plissada e uma camisa branca. Mulder fecha a porta. Senta-se de frente pra ela. Coloca o copo na frente de Jasmine.

MULDER: -Senhorita Bright, sou o agente Mulder, do FBI.

JASMINE: - ... E daí?

MULDER: - Daí que eu podia estar dormindo, mas tenho que trabalhar porque uma certa jovem encrenqueira só arruma confusão!

JASMINE: - Não fiz nada. Posso ir?

MULDER: - Não.

Jasmine ergue o rosto. Ao ver que é Mulder, abre um sorriso de surpresa.

MULDER: - Recapitulando... (OLHA PRA ELA) O que foi?

JASMINE: -(SORRI APAIXONADA) Nada.

MULDER: - Se está achando engraçado esse olho roxo... Ganhei numa briga com um terrorista enorme e muito perigoso.

Jasmine olha para o coldre.

JASMINE: -(SORRI) Não é uma espada, mas é uma arma...

MULDER: - ???

Mulder sente-se zonzo. Começa a suar frio. Então evita olhar pra ela.

JASMINE: - (SORRI) É que eu conheço você...

MULDER: -(SÉRIO) É, eu sou muito famoso no seriado Cops. Você esteve presente na morte de Alec Bailey, do policial Stewart e agora... (LÊ O PAPEL SOBRE A MESA) ... (INCRÉDULO) Melissa "Killer"???

JASMINE: - Na verdade disseram que o nome dela é Peter Hostins.

MULDER: - Me diga o que aconteceu. Matou ele?

JASMINE: - (IRRITADA) Por que quer saber o que aconteceu? Já não leu nesse papel aí onde diz tudo? Ou é burro?

MULDER: - (DEBOCHADO/ OLHANDO PRA ELA) Sou burro, lido com burros o dia todo e tenho que olhar na cara deles quando os interrogo.

Ela cruza os braços.

JASMINE: - Eu estava andando no shopping e ela passou. Eu olhei pra ela, me chamou a atenção, nunca tinha visto um homem vestido de mulher por aqui. Ela se irritou e me agarrou pelos braços, disse umas ofensas e tomou o elevador panorâmico.

MULDER: - E o elevador do shopping center simplesmente caiu do quinto andar.

Jasmine pega o copo. Bebe alguns goles. Percorre os olhos pela camiseta justa de Mulder, os braços dele, as mãos. Coloca o copo sobre a mesa, nervosa. Mulder leva a mão até ela, ela recua rapidamente o braço antes que ele a toque. Mulder a observa.

JASMINE: - Isso me torna culpada?

MULDER: - Não.

JASMINE: - Ok, então posso ir? Estou cansada.

MULDER: - Qual o seu problema com indivíduos que possuem testosterona?

Jasmine olha pra Mulder com desejo. Disfarça o olhar.

MULDER: - Pode confiar em mim.

JASMINE: - Todos os policiais dizem isso... Eu quero confiar em você.

MULDER: - Ok, garota. Vamos ser diretos. Aonde você chega, acontece um acidente fatal com algum homem. Qual o seu problema com os homens?

JASMINE: - (ATREVIDA) A falta de um?

Mulder tranca a saliva, pegando o copo de água e tomando um gole, olhando nervoso pra ela.

MULDER: - (SÉRIO) ... Pessoas nessa cidade, incluindo sua tia beata dizem que você possui uma maldição. Eu até acredito em maldições, mas neste caso eu não estou acreditando.

Mulder se levanta.

MULDER: - Tem a madrugada toda pra decidir se vai me contar ou não. Lição número 1, mocinha: Dormir sentado é horrível, acredite.

Mulder sai, trancando a porta. Escora-se com as costas na porta, respirando com dificuldades, tirando o suor da testa.

Jasmine suspira. Observa a sala de interrogatório. Percebe o enorme espelho na parede. Olha pras janelas. Cruza os braços e fecha os olhos.


2:36 A.M.

Mulder observa Jasmine da outra sala, através do vidro do falso espelho. Jones ao lado dele, com as mãos nos bolsos das calças sociais. Jasmine cochilando sentada, acorda-se num sobressalto, tentando se localizar.

DELEGADO JONES: - Ela é estranha... Mas é linda! Eu diria perfeita...

MULDER: - Ouviu falar sobre essa coisa de maldição?

DELEGADO JONES: - Estou há um mês nessa cidade... Não tinha ouvido falar disso. Mas você não acredita nessa teoria, não é? Isso é besteira! A garota só ésedutora por natureza. Nessa idade elas gostam de brincar de ser mulher.

MULDER: - Acredito que ela tenha algum trauma psicológico, porque não permite que homens a toquem. Percebe-se que é meio nervosa.

DELEGADO JONES: - Ela é bonitinha, não acha? Uma tentação em forma de menina... Aquela saia curta pedindo por mãos afoitas... A doçura da ingenuidade misturada a curiosidade do amor... Ela cheira a sexo.

MULDER: - (FECHA OS OLHOS/ TENSO) ...

DELEGADO JONES: - Perturba qualquer homem... Faz qualquer sujeito perder o juízo... Vai ficar a noite toda aqui?

MULDER: -... Ela vai falar. Eu sou teimoso.

DELEGADO JONES: - Vai ficar aqui sozinho com ela, seu sortudo? É, você tem a oportunidade perfeita. Boa sorte! Não se preocupe, negarei tudo se ela criar problemas depois disso. Nem vi você aqui, parceiro.

Jones abre a porta.

JONES: -Ah! O ar-condicionado central está com problemas.

Jones sai da sala.

Mulder continua em pé, observando Jasmine pelo vidro. Ela se levanta. Aproxima-se do espelho. Ajeita os cabelos, virando o rosto de um lado pra outro. Mulder olha pra ela num sorriso. Jasmine abre a bolsa, retoca o batom vermelho, que ressalta ainda mais a pele alva. Aproxima o rosto do espelho, esfregando os lábios um no outro. Mulder leva a mão ao vidro, tocando o rosto dela. Jasmine termina de passar batom, e afasta-se de costas, olhando para o espelho num sorriso maroto. Mulder afasta-se de costas também, perturbado.

2:58 A.M.

Mulder anda pela delegacia vazia. Testa suada. Observa o mural com fotos de suspeitos. Boceja. Anda até o balcão da recepção. Vê um porta retratos sobre o balcão. Nele preso uma fita preta. Mulder se aproxima e olha pra foto de um velho policial fardado sorrindo.

MULDER: -Lamento, colega. Espero que não tenha morrido em ação... Eu é quem vou morrer se não conseguir um café por aqui!

Mulder percebe um velho rádio sobre o balcão. Liga e sintoniza.

[Som:Jerry Lee Lewis - Great Balls Of Fire]

Mulder mexe os braços e requebra em pausa como no início da música, pensando que é Elvis.

You shake my nerves and you rattle my brain...Too much love drives a man insane...
You broke my will... But what a thrill...Goodness gracious great balls of fire!

Mulder começa a dançar pela delegacia, estalando os dedos, requebrando e fazendo caras e bocas.

Senta-se na cadeira em frente a mesa. Começa a imitar Jerry Lee Lewis fingindo que a mesa é um piano. Empurra a cadeira com o traseiro e fica "tocando" em pé, enlouquecido.


3:17 A.M.

[Som: Romance Ideal – Paralamas do Sucesso]

Mulder anda pelo corredor da delegacia, cabisbaixo, triste e angustiado, com as mãos nos bolsos do jeans, chutando nada e falando sozinho.

MULDER: - (CARENTE) Me colocar pra fora do quarto, como se eu fosse um objeto usado... Lógico que eu gosto de sexo, mas eu ando preferindo um pouquinho de carinho e atenção. E você só me dá atenção quando a gente transa, Scully. O carinho do depois não vem, você me escorraça pra fora da cama como um animal pestilento... Eu só queria dormir nos seus braços, aconchegado, me sentir amado, seguro e menos vulnerável... Até o cachorro ganha mais carinho do que eu!

Mulder vê uma máquina de refrigerantes perto da sala de interrogatórios. Aproxima-se. Na máquina um cartaz "out of order". Mulder revira os olhos, desanimado. Sacode a gola da camiseta com calor. Escora-se com as costas na parede. Fecha os olhos.

DELEGADO JONES (OFF): - Vai ficar aqui sozinho com ela, seu sortudo? É, você tem a oportunidade perfeita...

Mulder abre os olhos e olha para a porta da sala de interrogatório. Aproxima-se e coloca a orelha na porta. Fecha os olhos, aspirando o perfume. Leva a mão à maçaneta. Desiste.

MULDER: - Não, "Jerry Lee"...


3:41 A.M.

Mulder entra na sala de interrogatórios segurando um copo de café e um pacote de lanche. Jasmine ergue o rosto olhando pra ele. Mulder coloca o pacote na frente dela.

MULDER: - Deve estar com fome, senhorita Bright.

JASMINE: - Me chame de Jasmine, Mulder.

MULDER: - ... Tem hambúrguer, batata frita e refrigerante aí dentro. E me chame de agente Mulder.

Mulder senta-se de frente pra ela, tomando um gole de café. Jasmine suspira olhando pra ele em lágrimas.

MULDER: - Não vai falar nada mesmo?

JASMINE: - Acreditaria se eu falasse? Você não vai entender.

MULDER: - Então me explica o que eu não consigo entender.

JASMINE: - Por que eu vou explicar o que você já deve saber? Sente, não sente? Eu sei que sente. Você fica nervoso na minha frente, Mulder. Como todos os outros. Sei que sua vontade é de me agarrar, mas peço que não faça isso.

Mulder se recosta na cadeira, levando as mãos ao rosto, num suspiro angustiado.

MULDER: - ... Jasmine, eu não entendo o que está havendo dentro de mim. Eu não sou esse tipo de canalha. E é só por isso que estou começando a acreditar que há algo paranormal acontecendo com você.

JASMINE: - ... Se eu falar, posso ir embora?

MULDER: - Palavra de escoteiro.

JASMINE: - Você não tem cara de quem foi escoteiro!

MULDER: - Eu menti.

JASMINE: - Eu também menti. Não vou falar. Prefiro ficar quieta e passar a noite na sua companhia, pelo menos me sinto protegida. E isso me incomoda, sabe?

MULDER: - Então vamos ficar por toda a eternidade aqui, um olhando pra cara do outro, já que isso incomoda você.

JASMINE: - Olhar pra você não me incomoda. Olhar pra mim incomoda você?

Mulder levanta-se.

JASMINE: - O que me incomoda é o que eu sinto por você, Mulder. Você mexe comigo. E eu nunca senti isso por ninguém.

Mulder respira fundo, fecha os olhos. Então sai e tranca a porta. Jasmine olha pro pacote e sorri meiga. Abre-o.


4:08 A.M.

[Som: Romance Ideal – Paralamas do Sucesso]

Mulder suando picos, sentado no corredor da delegacia. Braços cruzados, olhando para as paredes.

MULDER: - Que calor do inferno, nem um maldito ar-condicionado! Sem café, sem bebida gelada, sem dormir...

Mulder se levanta e abre a janela. Faz cara de pânico. Fecha a janela de novo.

MULDER: - Tá mais quente lá fora que aqui...

Mulder entra na sala ao lado da sala de interrogatório. Procura seu celular. Então desvia a atenção para o vidro.

Jasmine na sala de interrogatórios, sentada sobre a mesa, de frente para o espelho, com as pernas abertas, calcinha à mostra, balançando as pernas. A camisa desabotoada amarrada na altura dos seios, revelando um piercing no umbigo. Ela reclina o corpo para trás, sacudindo os cabelos.

Mulder perde a respiração e o equilíbrio sentando na mesa. Não consegue desviar os olhos. Jasmine olha para o espelho. Sorri. Aponta para o lanche. Faz um gesto de um coração com as mãos e dá um beijo, leva em direção ao espelho e depois ao peito.

Mulder fecha os olhos, angustiado. Vira-se de costas pro vidro. Respira ofegante, tentando se controlar.


7:38 A.M.

Scully entra na delegacia. Mulder sentado no banco do corredor, tomando café. Olheiras enormes.

SCULLY: - Por que não me disse que passaria a noite aqui?

MULDER: -(MAGOADO) E desde quando você se importa aonde eu durmo?

SCULLY: - ... Onde está a garota?

MULDER: - Na sala de interrogatório.

SCULLY: - Não pode mantê-la aqui sem uma acusação formal, Mulder! Assim que o advogado da garota chegar, você vai estar enrascado!

MULDER: - Ela não sai de lá enquanto não abrir a boca! E ponto final!

SCULLY: - Você está agindo estranhamente, Mulder.

MULDER: -(IRRITADO) Eu? Eu que estou estranho? Tem certeza?

SCULLY: - Vou falar com Jasmine.

MULDER: -(IRRITADO) Agora posso ir pro quarto e dormir um pouco?

Scully se afasta. Mulder levanta-se e joga o café na lixeira. Sai furioso da delegacia.


Motel WTC - 2:56 P.M.

Krycek abre a porta do quarto. Scully entra.

SCULLY: - Conseguiu descobrir alguma coisa com a escola de Jasmine?

KRYCEK: -Na verdade não existe essa escola. Acho que ela mentiu.

Scully põe a mão na testa, tonta.

KRYCEK: - O que há com você? É o calor?

Scully avança em Krycek, roubando um beijo e o empurra pra cama, subindo em cima dele. Começa a abrir as calças dele com urgência. Krycek arregala os olhos.

SCULLY: - (OLHOS FECHADOS) Eu quero você... Quero você... Agora!!!!!!

Krycek a empurra, saltando da cama, assustado e fechando as calças.

KRYCEK: -Eu não acreditava no Mulder, mas agora... Até eu tô com medo de você!

Scully, ofegante, bate no colchão.

SCULLY: - Mulder está na delegacia. Ele disse que não vai sair de lá tão cedo. Então temos muito tempo.

Krycek abre a boca, perplexo.

SCULLY: - ... Eu amo você, Alex!Eu preciso de você!

KRYCEK: - Você me ama? Você não ama ninguém! Eu não reconheço mais você, Scully. Você transa com o Mulder, depois quer transar comigo? O que acha que nós dois somos? Um joguinho pra você? Sabe de uma coisa? Você está brincando com os sentimentos do cara, entendeu? E sabe de outra coisa? Está brincando com os meus!

SCULLY: - Alex, eu...

KRYCEK: -(IRRITADO) Me escuta! Eu me apaixonei por você sim. Por um pouco de tempo, e tudo por causa daquele maldito sonho! Mas sabe, algumas vezes a gente se apaixona pela pessoa que idealiza, não pela pessoa de verdade, porque não a conhece realmente. E depois que eu conheci você de verdade, vi que era um engano. Você foi uma tentação, Scully. Apenas isso. Não temos nada em comum. Felizmente a vida foi dura pra mim, o que me tornou esperto e aprendi a não trocar uma amizade por um momento de prazer. Ou teria caído no seu jogo.

SCULLY: - (BEIÇO) ...

KRYCEK: - Há muito tempo já não vejo mais nada no meu coração, nem mesmo um pingo de respeito por você! Acha que respeito você e por isso não fui o canalha que você esperava? Não mesmo! Eu não fui canalha com você porque respeito o Mulder! E agora... Agora só vejo a mulher do meu amigo querendo me ferrar com ele! E se duvidar, em menos de um minuto Mulder vai entrar por essa porta, porque você mentiu pra mim e você vai achar tudo muito engraçado, pensando em como seria se eu estivesse com você nessa cama agora e ele nos pegasse no flagra! Eu sou um cara vivido, Scully. Eu tenho bagagem. Não me tire pra idiota!

Krycek a puxa da cama pelos braços. Scully grita.

KRYCEK: - (GRITA) Eu não sou o Mulder! Comigo não! Ele cede porque ama você, mas eu não tenho nada por você. Nada! E se ele não amasse você, eu treparia com você mesmo, como se fosse uma vagabunda qualquer, depois vestiria minhas calças e iria embora!

Krycek abre a porta e empurra Scully porta à fora. Bate a porta na cara dela. Scully sai rindo em direção a recepção, ao mesmo tempo em que Mulder estaciona o carro.

Mulder desce do carro e vai até o quarto. Entra. Krycek sentado na poltrona, olha pra ele seriamente.

MULDER: - Que cara é essa, Rato?

KRYCEK: - Eu admiro a sua inocência das coisas. É bom, eu queria ter um pouco disso e você me ensina isso algumas vezes, Mulder. Então me mantenha por perto, porque eu conheço as maldades da vida, mas eu não vou ensiná-las pra você, porque uma vez aprendidas, nunca mais você vai conseguir acreditar em nada e em ninguém.

MULDER: - Filosofia agora?

KRYCEK: - Você pode ter visto muita maldade, mas seus olhos viram muito mais a inocência. Ao contrário dos meus. Então eu sei quando a maldade está por perto. Não posso explicar, mas eu conheço a sensação. E sinto nos ossos quando as pessoas estão mal intencionadas. Abra seus olhos.

MULDER: - Eu sei a diferença entre inocência e maldade, Krycek.

KRYCEK: - É um bom começo, Mulder. E inclui se decepcionar com as pessoas.

Krycek se levanta, toca o ombro de Mulder e sai do quarto. Mulder senta-se na poltrona e fica pensativo.


Delegacia de Judas Lost the Boots– 4:25 P.M.

Mulder entra na sala de interrogatórios. Jasmine cabisbaixa, derrubando lágrimas.

MULDER: - Como foi sua noite? Sua manhã? Aliás, como vai ser o seu dia sentada aí, já que nem com a minha parceira você fala?

JASMINE: - ... Desde que nasci, mato os homens. Matei meu irmão, matei meu pai... Eu sou uma pessoa muito má, Mulder.

Jasmine começa a chorar. Mulder pega a caixa de lenços de papel e senta-se de frente pra ela. Entrega um lenço. Ela percebe a marca da aliança no dedo dele. Então chora mais ainda.

MULDER: -Ei, respira e me conta. Eu quero ajudar você.

Jasmine tenta se controlar, secando as lágrimas com o lenço. Inutilmente. Mulder olha pra ela com ternura.

MULDER: - Ok. Você mata os homens. Faz isso intencionalmente?

JASMINE: - Claro que não. Acha que sou feliz por isso?

MULDER: - Não se torture...

Mulder leva a mão à mão dela, inconscientemente. Jasmine afasta a mão rapidamente.

JASMINE: - Não me toque. Posso matar você.

MULDER: - Com um toque?

JASMINE: -É como eles morrem. Me tocando. Um contato apenas e já eram.

MULDER: - Me explique. Continuo sendo burro.

JASMINE: - (CHORANDO) Eu não sei porquê acontece. Sempre foi assim. Sempre... Antes mesmo de sair do útero da minha mãe. O meu irmão gêmeo foi a primeira vítima. Depois o médico, o meu pai... E eu era apenas um bebê. Conforme ia crescendo, essa maldição crescia junto, ficando pior. Até os meninos na minha infância, e nem tinha nada de maldade, sabe? Coisa de criança que quer fazer amizade, andar de bicicleta, jogar bola, brincar de pega-pega, essas coisas...

MULDER: - (SORRI TRISTE) ...

JASMINE: - Mas não podia, porque se eles me tocassem ou encostassem em mim... Morriam em algum acidente absurdo. Todos os homens que me tocam morrem... Então eu cresci, virei uma adolescente e as coisas só pioraram porque agora existe desejo da parte deles, e eu sinto como se eu exalasse esse desejo, mesmo não o fazendo.

MULDER: - Como um imã. É automático... Por duas vezes eu já tentei tocar em você, sem pensar.

JASMINE: - Sim, você descreveu bem. Como se eu fosse um imã sexual. Então eles tentam a todo o custo tocar em mim, mesmo que eu implore pra que não façam!

MULDER: -(ENTREGA OUTRO LENÇO) ... E se eles não tocarem você?

JASMINE: - Impossível! Eles não resistem!

MULDER: - E se eles não tocarem em você, mas você tocar neles? Acontece a mesma coisa?

JASMINE: - Sim, aconteceu quando eu era criança. Eu puxei um garoto pelos cabelos, ele queria acertar uma pedra no meu gatinho. Ele nem tocou em mim, saiu correndo de bicicleta, a correia simplesmente travou, ele voou e deu com a cabeça num tira-entulho e morreu! Depois disso nunca mais toquei neles. Juro pra você, eu não quero matar ninguém!

MULDER: - (INTRIGADO) E os acidentes acontecem junto a você, longe de você...

JASMINE: - Depois que saem de perto. Enquanto estão perto nada acontece... Acho que é pra que eu não morra junto, pra aumentar ainda mais a minha culpa e o meu castigo.

MULDER: - É, isso tem cara de maldição mesmo. Mas não faz sentido amaldiçoar um bebê que nem nasceu... Seus pais desejavam você?

JASMINE: - Minha avó dizia que sim.

MULDER: - Bem, você não tem como saber se houve alguma traição, uma amante ou um amante obcecado que possa não ter gostado que seus pais tivessem uma filha...

JASMINE: -Acho que não. Tia Kitty é irmã do meu pai e ela sempre disse que minha mãe e ele se amavam demais. Eu que estraguei tudo entre eles!

Mulder morde os lábios. Recosta-se na cadeira.

JASMINE: -Você não sabe o que é ser uma garota de 17 anos e não poder ter um namorado! Não poder ser amada, dar e receber um carinho... Não poder ir às festas como as outras meninas, não ter amigos, não poder se apaixonar... Toda a vez que saio de casa tenho que ficar fugindo dos homens, correndo para que eles não me toquem, sabendo que provoco isso neles! Você não pode fazer ideia do que é crescer ouvindo historinhas da Branca de Neve, da Bela Adormecida e chorar porque você sabe que nunca haverá um príncipe encantado. Porque se ele me tocar, já era! Eu nunca vou me casar, nunca terei filhos... Nunca!!!

MULDER: -(TRISTE) ...

JASMINE: - (CHORANDO) Eu sou uma azarada! É isso o que eu sou! A mais azarada de todas as garotas desse mundo! As outras meninas ficam com os rapazes, tem namorados, dançam, vão a todos os lugares pra se divertir, mas eu não posso. Sabe por quê? Porque o garoto que me tirar pra dançar vai morrer. Eu nunca beijei ninguém, não faço nem ideia do gosto de um beijo! E nunca farei ideia! Eu mato todos eles! Esse é o castigo que Deus me deu!

Mulder pega a caixa de lenços e coloca na frente dela.

MULDER: -Jasmine, não existe má sorte...

JASMINE: - Diz isso porque é casado! Você tem alguém! Isso é ter sorte!

MULDER: - Quem disse que sou casado?

JASMINE: -(MAGOADA) Você tem a marca de uma aliança no dedo. E deve ser um canalha porque a tirou!

MULDER: - (SORRI TRISTE) Eu só consegui tirar a aliança, mas as marcas permanecem. A pior delas não é a que ficou no dedo...

JASMINE: - Desculpe, eu não podia imaginar que...

MULDER: -A vida é assim, você ganha algumas vezes e perde outras. O que importa é continuar lutando pelo que você acredita. A vida não é um conto de fadas, Jasmine. A vida algumas vezes dá e depois tira. Pode ser dura, cruel e cansativa, mas não temos opção a não ser levantar da cama e seguir em frente.

Mulder olha para as munhequeiras nos pulsos dela.

MULDER: -Sofre de tendinite, por isso usa essas coisas?

JASMINE: - ...É.

MULDER: - Jasmine, já tentou consultar um paranormal pra ajudar você?

JASMINE: -Não acredita nisso, não é?

MULDER: - Eu acredito que há algo de errado com você, mas não é questão do destino. E quero ajuda-la. Não está certo isso. Nenhum Deus castiga, esqueça as concepções cristãs. Você não foi escolhida por qualquer força superior para ser uma pessoa infeliz. Isso não existe! A felicidade está dentro da gente, você a constrói e precisa lutar por ela.

JASMINE: - (OLHA PRA ELE APAIXONADA) ...

Mulder leva a mão até a mão dela. Jasmine recua. Mulder ri dele mesmo.

MULDER: - Desculpe, é inconsciente.Você é uma garota bonita, Jasmine, tem uma vida inteira pela frente, não pode simplesmente se conformar com essa situação. Ninguém vai ajudar você, se você não começar a se ajudar.

JASMINE: - Não existe ajuda pra mim, Mulder. E depois, vou alegar o quê pra beata da minha tia? Que vou a uma sessão espírita, numa bruxa ou sei lá o quê?

MULDER: -(SORRI) E a beata da titia precisa ficar sabendo?

JASMINE: -(SORRI) Está me ensinando a mentir, policial?

MULDER: -(SORRI) Eu já tive 17 anos. E era muito feio e sem graça! Mas era bem mais esperto que você.

Mulder se levanta.

MULDER: - Pode ir. Está liberada.

JASMINE: - Não quero. Eu sabia que se contasse a verdade você ia me liberar... Por isso relutei. Eu não quero ir embora.

MULDER: - ???

JASMINE: - Pelo menos aqui não causo dano a ninguém... E você cuida de mim, se importa comigo. Quero ficar perto de você, Mulder.

MULDER: -Jasmine... Não vai poder morar numa sala de interrogatório pro resto da vida.

JASMINE: - Por que você acredita em mim? Por que quer me ajudar?

MULDER: - Você me contou a verdade. Sabe que pode matar os homens e então foge deles para não lhes causar dano. Evita provocá-los, sabe que jamais os terá...

Mulder morde os lábios, incomodado.

MULDER: - Você é uma boa garota, Jasmine. Inocente das coisas. E está numa fase complicada de descobertas e não pode se permitir à elas pela sua condição... Então, desejar alguém não é errado. Nem é errado brincar com isso para passar o tempo numa sala de interrogatório.

JASMINE: -(ARREGALA OS OLHOS) ...

MULDER: -(CULPADO/ FECHA OS OLHOS) Lição número dois, mocinha: Aquilo ali não é um espelho de verdade... E eu sou voyeur.

Mulder sai desatinado da sala. Jasmine o acompanha com os olhos. Desvia a atenção para o espelho. Mete as mãos no rosto, envergonhada.


Motel WTC - 5:36 P.M.

Scully sentada na varanda, ao lado da porta do quarto. Krycek sai do quarto e entrega a chave pra ela.

KRYCEK: -Estou voltando agora pra Washington. Eu não vou ficar aqui com você desse jeito. Tem algo de errado, porque desconheço essa figura patética e vulgar que você se tornou. Não questiona isso? Você está doente, Scully. Muito doente. Você não sabe quem é. Ora é uma coisa, ora é outra. Muda de personalidade em questão de minutos. Observe isso.

Scully entra no quarto e bate a porta na cara dele. Krycek caminha até a recepção. O Gerente olha pra ele.

KRYCEK: - Nenhum quarto disponível ainda?

GERENTE: - Lamento.

KRYCEK: - Sabe aonde posso alugar um carro? Acho que comecei a gostar de dormir em carros...


Delegacia de Judas Lost the Boots– 6:28 P.M.

Mulder entra na recepção. Alguns policiais cochicham num bolinho, sem o perceberem.

POLICIAL #4: - Até que a agente federal é bem engraçadinha. Pra onde ela foi?

Mulder olha pra eles, incrédulo. A policial ajeita alguns arquivos.

MULDER: - Onde está o delegado?

POLICIAL MULHER: -(SÉRIA) Será que só você não sabe?

A policial sai da sala. Mulder fica desconfiado.


6:35 P.M.

Mulder entra na sala ao lado da sala do interrogatório. Senta-se na cadeira. Pega o celular. Aperta uma tecla, desconfiado. O número chama, mas ninguém atende.

MULDER: - (MAGOADO) Droga, Scully! Eu não acredito que você e aquele cara... Um delegado?

Mulder guarda o celular. Olha pelo vidro. Jasmine sentada, olhando para o espelho. Mulder abaixa a cabeça.

[Som: Romance Ideal – Paralamas do Sucesso]

Mulder respira fundo. Passa as mãos no rosto. Inclina a cabeça pra trás, tentando se controlar. Levanta-se. Anda de um lado pra outro, com as mãos na cintura. Dirige a atenção para o vidro. Jasmine, parada em frente ao espelho, ajeita os cabelos. Mulder a observa com ternura. Os dois de frente um pro outro. Jasmine se observa. Ajeita a camisa. Ergue a gola da camisa, faz pose, beiço. Mulder a observa, num sorriso bobo.

Jasmine leva os dedos até os botões, abrindo-os lentamente. Mulder fica sério. Ela aproxima-se mais do espelho, os lábios vermelhos, rosto inocente. Recosta os seios com o sutiã de renda branca contra o espelho, num olhar de malícia e ingenuidade. Mulder, instintivamente passa as mãos por sobre os seios dela. Jasmine fecha os olhos, aproximando os lábios do espelho. Mulder toca os lábios no vidro, sobre os lábios dela, fechando os olhos. Jasmine se afasta, fechando a camisa. Mulder olha pra ela com desejo.

JASMINE: -Agora que eu sei que você está aí, meu príncipe... Se não tem outro jeito, eu viverei nessa sala para o resto da vida só pra ter você.

Jasmine recua, olhando pro espelho. Mulder sente-se culpado. Vira-se de costas pro vidro, tenso. Fecha os olhos angustiado.


8:12 P.M.

Mulder sentado no corredor da delegacia, toma um café. Olhar perdido no nada. A policial passa por ele.

MULDER: - Me faz um favor?

POLICIAL MULHER: - Claro.

MULDER: - Pode liberar a garota.

Mulder se levanta. Vira-se e vê Scully chegando com o delegado Jones, os dois conversando e rindo. Mulder amassa o copo na mão. Respira fundo. Atira o copo no lixo. Toma coragem e vai até eles. O delegado se afasta, entrando na sala. Scully olha pra Mulder.

SCULLY: - Oi. Jasmine falou mais alguma coisa?

MULDER: - Mandei soltá-la.

SCULLY: - Fez a coisa certa, Mulder.

MULDER: -(JOGANDO) Quer jantar comigo?

SCULLY: - Não, eu... Eu acabei de jantar. Alex voltou pra Washington... Bom, acho que não temos mais nada a fazer aqui. Vamos voltar pro motel?

MULDER: -Bem, soltei Jasmine... Mas eu vou até a casa dela para conversamos... Ah, não vou dormir no motel hoje.

SCULLY: -(SURPRESA) Não? Aonde vai dormir?

Mulder sorri enigmático e sai. Scully cruza os braços, num beiço de desconfiança.

10:32 P.M.

Mulder estaciona o carro na clareira da floresta. Apaga os faróis. Pega um saco de compras no banco do passageiro. Retira uma garrafa de uísque. Despeja mais da metade pela janela. Toma um gole. Atira a garrafa no banco de trás. Puxa de dentro do pacote uma tira de preservativos coloridos, abre o porta luvas, jogando os preservativos lá dentro. Fecha o porta luvas. Inclina o banco. Ajeita-se, fechando os olhos.

MULDER: -Vou ferrar a minha coluna, mas que isso vai ser divertido vai. Você vai ter que aprender a me respeitar, Scully.


Motel WTC - 7:24 A.M.

Mulder estaciona o carro. Olha pro quarto. Olha pro motel. Vê um varal de roupas. Sorri maquiavélico.

Corte.


Scully, escovando os dentes, liga a televisão. Olha pela janela do quarto e percebe o carro de Mulder. Tira a escova da boca e sai pra fora do quarto. Mulder sai do carro, todo desarrumado.

MULDER: - Bom dia, parceira!

SCULLY: - ... Está chegando agora?

MULDER: - Sim. Posso usar o quarto?

SCULLY: -(INCRÉDULA) Passou a noite toda com Jasmine?

Mulder entra no quarto e põe as mãos na boca pra não rir alto.

Scully do lado de fora, ergue a sobrancelha, desconfiada. Ela olha pro carro, olha pra porta do quarto, olha pro carro, olha pra porta do quarto, numa fisionomia de intriga. Mulder sai do quarto, ela disfarça. Mulder atira as chaves do carro.

MULDER: - Caso você precise sair. Vou dormir, estou cansado. Me liga se tiver novidades.

SCULLY: -(CERRA O CENHO) Não quer tomar café comigo?

MULDER: -(BOCEJA) Não, preciso dormir, passei a noite inteira acordado. Estou exausto!

Mulder volta pro quarto, deixando Scully com a sensação de que o disponível já era.


9:37 A.M.

Scully vem andando pela varanda, segurando uma pasta. Para na frente da porta do quarto. Faz um beiço. Vai pro carro. Entra. Observa a porta do quarto.

SCULLY: - Como pode dizer que me ama? Canalha! ... Caia na real, Dana Scully. Você o mandou sair da sua vida, ele tem o direito de continuar com a dele... (TRISTE) ... Ele só está vivendo... Afinal, foi você quem mandou ele viver a vida dele...

Scully liga o carro. Vira-se e coloca a pasta no banco de trás. Então percebe a garrafa de uísque. E um pedaço de tecido vermelho entre o banco. Curiosa leva a mão até o banco e puxa a calcinha vermelha. Olha incrédula. Abre o porta luvas e atira a calcinha lá dentro, irritada. Então percebe os preservativos. Olha pra porta do quarto.

SCULLY: -(ENCIUMADA) Eu não acredito! A farra foi grande, não foi, seu... Seu cachorro asqueroso! Por que tenho a sensação de que ele soltou aquele projeto de vadia justamente pra fazer farra com ela? (IRRITADA) Logo com uma menina de 17 anos? Uma ninfeta? (BEIÇO) Por que estou com ciúmes desse idiota? E por que diabos ando excitada por ele? ... Droga, Dana! (ESMURRA O VOLANTE) Droga!!!!!!!!! Perdeu os dois em menos de 24 horas!!!

Scully dá a partida e sai do motel, furiosa, quase atropelando um homem.

Corta para a mulher com bobs na cabeça, que sai da administração do motel, ao lado do gerente.

SRA. FLAMMERS: - E eu quero que tome providências! Hoje roubaram minha calcinha do varal! Amanhã vão roubar o quê? Que tipo de maluco está hospedado nessa espelunca? Melhor avisar a polícia que tem um tarado ladrão de calcinhas na cidade!


3:14 P.M.

Mulder se acorda com as batidas na porta. Levanta-se, só de cuecas. Abre a porta.

SCULLY: - (FERINA) Oi. Lembra-se de Jasmine? Aquela garota que ainda cheira a leite?

MULDER: - (DEBOCHADO) Eu poderia dar uma resposta pra você sobre leite e fazer cesta de 3 pontos, mas como piadinhas sobre seringueiros e tirar leite do pau estão ultrapassadas, eu vou calar minha boca suja só por cavalheirismo.

SCULLY: - (IRÔNICA) A sua ninfetinha, aquela garota que serve pra ser sua filha... Bem, ela aprontou de novo.

MULDER: - O que foi agora?

SCULLY: - Está novamente na delegacia. Foi fazer queixa. Ah, não se preocupe, não foi acusar você de pedofilia!

MULDER: - Como você é maldosa, Scully! Jasmine não é criança...

SCULLY: - Ah eu sou maldosa? E você, o que é? Um velho tarado e inseguro?

MULDER: - Eu? Eu sou um cara divorciado que não deve explicações pra ex-mulher! Seu reinado acabou, Bruxa Malvada do Oeste. Pegue a sua vassoura e voe pra longe da minha vida!

Scully olha pra mão dele e não vê a aliança.

MULDER: - (DEBOCHADO) Sabe aquela coisa de comer sorvete de creme por anos?

SCULLY: - O-O q-que tem?

MULDER: - Você se acostuma. Todos os dias come sorvete de creme achando aquilo a oitava maravilha do mundo. Não existe nada mais gostoso do que sorvete de creme... Até que você descobre que existe baunilha.

SCULLY: - Vou dizer o que você é, Mulder. Um completo idiota! Acha que essas ninfetinhas querem algo mais do que a sua carteira? Ahn?

MULDER: - Eu acho que ela não quer minha carteira. Sabe que sou tira.

SCULLY: - Então ela quer é fazer você de idiota! Sabe bem o que ela quer. Você tem emprego, uma casa, um carro, vida estável. Elas costumam enrolar os idiotas quarentões, engravidam e fazem os babacas as sustentarem com pensão!

MULDER: - Sério? Sem problemas. Eu não me importo em ter mais filhos.

SCULLY: - Ah quer mais filhos? Ah sim, e ela pode dar a você quantos você quiser. Acontece que eu não sou a única por aqui a ter problemas com fecundação!

MULDER: - (DEBOCHADO) Eu sei disso. Todos os dias quando minha filha faz alguma coisa pra eu rir, eu digo: Victoria, você não pode ser humorista filha, porque você não foi gozada.

SCULLY: - (IRRITADA) Não tem vergonha nessa sua cara? Mulder, ela é uma menina! Acha que quando ela tiver trinta anos você ainda vai estar garoto? É isso? Ela troca você por um que não sofra de artrite!!!

MULDER: - Não sei porque está tão preocupada se sou eu quem vai se dar mal. E além do mais, garotas de 17 anos já não são mais criancinhas. Você era? E o Douglas? Ah, não, você tinha 16 se me recordo. Era mais nova que Jasmine.

SCULLY: - (O FULMINA COM OS OLHOS) ... Douglas tinha quase a minha idade!

MULDER: - É mesmo! Foi depois que você começou a sair com os caras mais velhos, mais experientes... (IGNORANDO) Vou colocar a roupa e já vamos pra delegacia. Acalme-se Scully, você anda muito estressadinha. É por que Krycek foi embora?

SCULLY: - (IRRITADA)Dane-se Krycek, você e a Mena Suvari!!!


Delegacia de Judas Lost the Boots –4:37 P.M.

Na sala de interrogatório, Scully fulmina Jasmine com os olhos.

MULDER: - Então esse cara está seguindo você...

JASMINE: - É. Ele avisou que vai me matar.

SCULLY: - Não me surpreende, já que você mata todos eles mesmo. Aliás, começo a duvidar disso, já que com um 'certo sujeito aí' você foi bem inofensiva. Vai alegar o quê? Que não foi contato físico porque o látex interferiu?

Mulder olha incrédulo pra Scully. Scully sai batendo a porta.

MULDER: - O desenhista vai vir até aqui e fazer um retrato falado do cara que ameaçou você. Descreva todos os detalhes que lembra.

JASMINE: - ... Do que ela estava falando?

MULDER: - Não ligue pra ela. Está de mal humor. Só pra variar.

JASMINE: - ... Ela é a sua esposa, não é?

MULDER: - Ex-esposa.

Mulder abre a porta pra sair, mas desiste e fecha, permanecendo parado, de costas pra Jasmine. Silêncio de segundos.

MULDER: - Como sabia que eu... Estava atrás desse espelho novamente?

JASMINE: - Não sabia. Imaginei que estivesse. Queria mesmo que estivesse.

MULDER: - (VIRA-SE PRA ELA) Sei qual é o seu problema, Jasmine. Pelo menos comigo. Você cheira a vida. Cheira a juventude. Tudo o que eu já não tenho mais. Caras como eu, que se questionam o que fizeram da sua vida, veem em você algum tipo de vida que desperdiçaram. Veem uma chance de carinho que já não têm.

JASMINE: - Desde que vi você, eu... Eu fiquei surpresa, porque você é o príncipe dos meus sonhos. É de onde o conheço. Você aparece nos meus sonhos. Quase todas as noites... Você existe. E veio me salvar.

MULDER: - Eu não sou príncipe algum. Não existem príncipes. Tenho mais defeitos do que qualquer homem que tenha conhecido. Não salvo nem a mim mesmo!

JASMINE: - Nunca conheci um homem.

MULDER: - Jasmine, pare por favor! Você consegue me fazer ultrapassar os limites do bom senso. Ainda amo minha mulher e estou tentando salvar meu casamento.

JASMINE: - Não podemos nos tocar, mas pelo menos eu pude sentir através daquele espelho o que nunca senti antes. E que nunca sentirei.

MULDER: - Você não me conhece. Não sabe nada de mim. O que diz é uma irresponsabilidade, e eu já não tenho mais idade pra ser irresponsável.

JASMINE: - Mas aposto que assim como eu, você tem vontade de jogar tudo pra cima todos os dias e sair por aí curtindo as coisas comuns que nunca pode curtir!

MULDER: - Lição número 3, mocinha: Não espere que um cara da minha idade vá querer algum relacionamento imaturo com uma garota como você. Só vai querer sexo. E acredite, se não me custasse a vida, eu bem que toparia!

JASMINE: - (MAGOADA) ...

MULDER: - Menina, descreva o suspeito ao desenhista. Depois vá pra sua casa. Eu tenho minha vida pra levar. Nossos mundos são diferentes, nosso tempo é diferente. Eu sou um homem, você uma criança. Quem tem tudo pra sair magoado nisso sou eu.

JASMINE: - ... Não me chame de criança. As coisas que imagino com você não se aplicam a sentimentos que crianças têm.

Mulder sai perturbado. Jasmine abaixa a cabeça, triste.


5:36 P.M.

Scully sentada no corredor da delegacia, comendo um chocolate. Jones se aproxima com dois copos de chá. Senta-se ao lado dela.

DELEGADO JONES: - Aceita?

SCULLY: -Sim, obrigada...

DELEGADO JONES: - Dana, saímos pra jantar e... Por que faz tanto drama, eu não pedi você em casamento, apenas sugeri que passássemos uma noite juntos. E eu respeito você, nem toquei e nem cheguei perto.

SCULLY: - Estou me divorciando, ainda sinto atração pelo meu ex-marido e ainda por cima não tiro outro homem da cabeça. Eu não seria justa com você.

Jones se levanta. Coloca as mãos nos bolsos, encostando-se na parede.

DELEGADO JONES: - Não peço que seja justa comigo. Só quero ter você por uma noite.

SCULLY: - Sou uma mulher complicada.

Jones sorri.

DELEGADO JONES: - Eu posso descomplicar você. Por que reluta em se entregar? É apenas uma noite.

SCULLY: -Por que se interessou por mim?

DELEGADO JONES: - Estou há um mês nessa cidade, tempo suficiente pra saber que não há mulheres interessantes por aqui. Você apareceu, fiquei encantado.

Mulder passa pelo corredor, olhando pra Jones. Entra no banheiro, irritado.

SCULLY: - O clima não está bom. Acho que vou voltar pro motel.

DELEGADO JONES: - Quer carona?

SCULLY: - Não, vou de táxi.


Motel WTC - 6:24 P.M.

Scully vem caminhando pela varanda, com um pacote de comida chinesa e um refrigerante. Com dificuldades coloca a chave na porta. O Gerente e a Sra. Flammers se aproximam.

GERENTE: - Desculpe incomodá-la senhora, mas... Como é que vou dizer isso... Por acaso alguma lingerie da senhora sumiu sem deixar vestígios?

SCULLY: - (BOQUIABERTA) C-como???

SRA. FLAMMERS: - Tem um ladrão de calcinhas à solta no motel.

SCULLY: - (INCRÉDULA) Quantas ele roubou?

GERENTE: - Por enquanto apenas a calcinha da senhora Flammers....

SRA. FLAMMERS: - Uma calcinha de renda, vermelha. Mas é bom não facilitar. Imagina se é um tarado? Acho melhor avisar a polícia.

SCULLY: -Sou agente federal (MOSTRA O DISTINTIVO) Vou ficar atenta... Engraçado... Uma calcinha apareceu no meu carro. Segure isto, vou buscar.

O Gerente fica parado segurando o pacote. Scully tira as chaves do bolso e abre o carro. Pega a calcinha. Volta pra perto deles. Ergue a calcinha.

SCULLY: - Por acaso não seria essa?

SRA. FLAMMERS: - A minha calcinha! Como foi parar no seu carro?

SCULLY: - (SEGURANDO O RISO) Há tarados pra tudo, senhora Flammers. Mas ficarei de olho nesse 'ladrão misterioso' de calcinhas.

O Gerente entrega o pacote pra Scully. Ele e a Sra. Flammers se afastam.

SCULLY: -(RINDO) Mulder... Ponto pra você, seu moleque crescido! Eu caí feito patinha!


Corta para o outro lado da rua.

Krycek, de óculos escuros, sentado dentro de um carro, observa Scully atentamente.



BLOCO 3:

Delegacia de Judas Lost the Boots –7:11 P.M.

Mulder anda pela sala, nervoso, suando. Tira o paletó, afrouxa a gravata, abre o botão do colarinho. Observa Jasmine sentada na sala de interrogatório. Mulder fica de frente para o vidro, colocando as mãos na cintura. Jasmine brinca com um copo de refrigerante, lambendo e chupando o canudinho sensualmente. Mulder respira fundo e sai da sala. Entra na sala de interrogatório. Bate a porta atrás de si.

MULDER: -(IRRITADO) Por que faz isso?

JASMINE: - O quê?

MULDER: - Por que vive se insinuando pra mim?

JASMINE: - Não sei do que está falando.

Mulder empurra a mesa. Jasmine arregala os olhos. Levanta-se.

MULDER: - Olha aqui, não se faça de inocente pra cima de mim porque eu sei que você sabe que estou naquela maldita sala do outro lado desse espelho! Então por que me provoca?

JASMINE: - Porque eu gosto de você e sei que você não vai me tocar como os outros tentam, você sabe da minha maldição. E se não tem outra maneira de ter você...

Mulder avança. Jasmine recua assustada, até se encostar na parede.

JASMINE: -(DESESPERADA) Não toca em mim! Eu não quero que você morra!!!

Mulder firma as duas mãos na parede, deixando ela entre os braços dele, sem toca-la. Mulder aproxima o rosto. Jasmine arregala os olhos assustada.

MULDER: - Sabe qual é o problema de pivetinhas como você? Ahn? Vocês ficam se oferecendo, provocando, fazendo todo o charme do mundo e na hora em que o cara agride, ele é tarado e sem vergonha. E vocês correm pra chorar na saia da mamãe. E nós pra primeira delegacia e algemados!

JASMINE: - ...

Mulder aproxima os lábios da orelha de Jasmine. Ela fecha os olhos, trêmula.

MULDER: - (SUSSURRA) Lição número 4, mocinha: Não provoque um homem se tem medo de ir até o fim.

Mulder se afasta dela. Sai da sala, sério. Jasmine pálida e assustada, continua contra a parede.


Motel WTC – 7:47 P.M.

Mulder deitado na cama, ainda vestido, camisa aberta sem a gravata. Muda os canais sem prestar atenção.

MULDER: - Mulder, admita, seja sensato, você está perturbado porque está só e se sentindo um nada. Porque Scully não quer você. É isso. É só carência. É completamente psicológico e emocional. Alguém lhe sorri, é a promessa de uma atenção que você não tem mais e você então se sente tentado. Não, não vale a pena. Ela tem 17 anos e nenhum juízo e você vai morrer. Quem tem que ter juízo aqui é você. Ela não é mais uma criança, mas também não é uma mulher...

Scully entra. Mulder se levanta da cama.

MULDER: - Posso pedir um favor? Apenas me dê um abraço, porque eu tô desabando de tanta solidão. Eu só quero um carinho.

SCULLY: - ...

MULDER: - ... Eu fingi tudo aquilo pra causar ciúmes em você. Não transei com a menina. Acho que no fundo você sabe que sou incapaz de cometer uma traição. Eu só quero chamar a sua atenção, Scully. Eu quero apenas dizer que eu te amo, que eu preciso de você e que dói saber que você está tão perto, mas ao mesmo tempo tão distante... Eu... Não precisa me prometer nada. Não precisa ficar comigo amanhã. Só por hoje, não me deixa sozinho. Eu estou cansado de chorar por você e procurar o seu corpo a noite toda pra abraçar. Me diz o que quer de mim, e eu serei o que você quer.

SCULLY: - Acabou?

Scully o empurra pra fora do quarto e bate a porta na cara dele. Mulder abaixa a cabeça, segurando as lágrimas.

8:36 P.M.

[Som: Paralamas do Sucesso - Romance Ideal]

Mulder sentado dentro do carro, estacionado no escuro, faróis desligados. O olhar dele perdido num ponto de fuga.

MULDER (OFF): - O que eu faço aqui, perdendo a minha sanidade mental?

Mulder se recosta no banco. Vira o rosto observando a casa de Jasmine. As luzes da sala acesas. Mulder volta a olhar pra rua. Fecha os olhos.


Residência dos Bright - 8:37 P.M.

Kitty anda pela sala, bobs na cabeça, com a bíblia aberta na mão. Jasmine, cabisbaixa, sentada no sofá brincando com os gatos.

KITTY: -Achou realmente que não voltaria mais pra casa? Que eu não encontraria você, se por onde você passa deixa um rastro de sangue? Agora não vai me escapar! Você traiu minha confiança, garota! Eu disse pra não sair de casa, confiei que cumpriria nosso acordo, mas não... Você não me escuta! Eu sei porque Alec Bailey morreu! Você estava fugindo, não estava? E isso atrapalhou seus planos! Deus é justo!!!

JASMINE: - Sim, eu ia pegar o maldito ônibus que matou ele! E prefiro ficar naquela delegacia que nessa casa!

KITTY: - Agora chega! Você vai pra um convento! Eu não posso mais permitir nenhuma morte por sua culpa! Por seu castigo, sua mundana!

JASMINE: - Eu não sou culpada!!!!! Eu não pedi pra nascer desse jeito!!!!!

KITTY: - (LENDO A BÍBLIA) ... E que, quando for outra vez, o meu Deus me humilhe perante vós, e chore eu sobre muitos daqueles que dantes pecaram, e ainda não se arrependeram da impureza, prostituição e lascívia que cometeram.

JASMINE: - (MÃOS NOS OUVIDOS) Eu não sou prostituta!!!!!!!! (CHORANDO) Você diz essas coisas todas porque tem inveja de mim!!!!! Inveja! Você inveja a minha beleza!!!! Nunca ninguém quis você, nunca homem algum se interessou por você, sua carola infeliz!!!!!!!!!

Kitty acerta um bofete na garota.

KITTY: - Vá pro seu quarto, sua concupiscente! Amanhã vai arrumar suas malas. "Pelo que foram retidas as chuvas copiosas, e não houve chuva tardia; contudo tens a fronte de uma prostituta, e não queres ter vergonha"!!!

Jasmine sobe as escadas chorando. Kitty vai atrás dela. Leva a mão ao bolso e retira uma chave.


9:03 P.M.

Mulder sentado dentro do carro, olhando pra casa. Jasmine desce pela janela do sótão, numa corda de lençóis, com uma mochila nas costas. Mulder olha incrédulo. Segura o riso. Jasmine sai pelo jardim e pula o muro. Mulder a acompanha num olhar surpreso. Jasmine chega até a calçada. Prende os cabelos. Respira fundo.

O homem aproxima-se rapidamente pela calçada, puxando a arma e mirando em Jasmine. Jasmine arregala os olhos, imóvel.

MR. BAILEY: - Sua desgraçada... Você matou meu filho!

Mulder puxa a arma. Abre silenciosamente a porta do carro. Desce. Bailey percebe. Envolve o braço no pescoço de Jasmine e coloca a arma na cabeça dela. Mulder para no meio da rua.

MR. BAILEY: - Não tente me impedir! Eu vou acabar com a desgraça dos homens dessa cidade!

Mulder larga a arma no chão. Ergue as mãos, olhando pra Bailey. Se aproxima com cautela.

MULDER: - Senhor Bailey, vamos conversar...

MR. BAILEY: - (NERVOSO) Não quero conversar! Não há nada pra conversar!

MULDER: - Existem outros métodos. O FBI e a polícia local já estão tomando providências...

MR. BAILEY: - (NERVOSO) ... Polícia...

MULDER: - O delegado Jones está no caso...

MR. BAILEY: - (NERVOSO) Não conheço nenhum delegado Jones! Pare aí! Não se aproxime!

Mulder para. Jasmine, olhos amedrontados, quase se asfixiando. Bailey aperta a arma contra a têmpora da garota. Jasmine fecha os olhos.

MR. BAILEY: - (CHORANDO) Meu filho morreu por culpa dela!!!

MULDER: - Seu filho morreu, sr. Bailey, mas foi por um acidente. Não quer criar mais desgraça, não é mesmo?

MR. BAILEY: - Não me fale em acidente, policial, quando o meu filho foi tirado de mim por causa dessa amaldiçoada pelo capeta!!! Ela sim é uma desgraça!!! Ela desgraça a vida de qualquer homem!!! E-esse... (CHEIRA O PESCOÇO DE JASMINE) Esse maldito perfume!!! Isso... Enlouquece!!!

MULDER: - (SE APROXIMANDO) Sr. Bailey, por favor, vamos conversar como adultos. O senhor não vai querer se envolver em um escândalo e acabar preso. Isso não trará seu filho de volta.

MR. BAILEY: - (CHORANDO/ PERTURBADO)

MULDER: - Entendo o que está passando, mas não é assim que vai fazer justiça ao seu filho. Senhor Bailey, abaixe a arma. Vamos conversar. Faça apenas o que estou dizendo. Abaixe a arma e fique perto de Jasmine, entendeu?

Bailey solta Jasmine e a arma. Sai correndo pela calçada, desesperado. Mulder entra em pânico. Jasmine fecha os olhos. Mulder olha pra Bailey correndo. Arregala os olhos. Grita.

Foco em Bailey que ao correr não percebe o hidrante à sua frente. Tropeça no hidrante e cai, batendo a cabeça no cordão da calçada e quebrando o pescoço.

Jasmine vira o rosto, chorando. Mulder corre até Bailey, que tem os reflexos trêmulos. Mulder puxa o celular rapidamente. Agacha-se ao lado de Bailey.

MULDER: - Aqui é o agente Mulder do FBI solicitando uma ambulância para a rua...

Bailey fecha os olhos. O corpo para de tremer. Mulder toma o pulso dele.

MULDER: - Esqueça a ambulância. Mande um carro funerário.

Mulder olha incrédulo pra Jasmine, que trêmula e aterrorizada, fica olhando pra ele enquanto chora.


9:17 P.M.

O rosto de Bailey coberto com o paletó de Mulder. Jasmine sentada no cordão da calçada, olhos inchados e vermelhos de tanto chorar. Mulder senta-se mais afastado, olhando pra ela com tristeza.

MULDER: - Eles já devem estar chegando...

JASMINE: - Eu o matei! Ele me tocou! Agora acredita em mim?

MULDER: - Jasmine, eu lamento...

JASMINE: - Eu devia morrer! Minha tia está certa, meu lugar é longe dos homens!!!

Mulder se aproxima dela. Jasmine se afasta.

JASMINE: - Não, por favor! Eu gosto de você, tudo o que eu mais queria era o seu abraço, mas viu o que aconteceu com ele!!!

Jasmine abaixa a cabeça. Mulder, impotente, sem poder consola-la. Mulder tira o celular do bolso e aperta uma tecla. Aguarda.

MULDER: - ... Scully... (REVIRA OS OLHOS) ... (IRRITADO) Poupe seu discurso, não liguei pra você me humilhar! Eu liguei pra dizer que o pai de Alec Bailey está morto na minha frente!

Mulder desliga e guarda o celular no bolso. Jasmine olha pra ele.

JASMINE: - Você a traiu e ela não pode perdoar? Foi isso?

MULDER: - Não. Ela não pode me perdoar por eu ser quem eu sou...

JASMINE: - O que deu errado, Mulder?

MULDER: - Eu poderia simplesmente culpar o psicólogo dela por todas as desgraças, mas ele não causou o dano que a fez buscar ajuda. Só tem um culpado nisso. Eu. Ouvi ela dizer a alguém que eu a sufoco. E ela tem razão.

JASMINE: - Você é muito ciumento? Fica em cima dela o tempo todo, ela não pode ter amigos, sair sozinha, é daqueles que procuram coisas no celular da mulher, no computador...

MULDER: - (SORRI)Não é isso. (SUSPIRA/ TRISTE) Acho que mulher nenhuma aguenta um cara que sente a necessidade dela o tempo inteiro, desde no trabalho até na vida pessoal. Acho que ela cansou de mim. Quem deveria ter ido se tratar era eu.


9:36 P.M.

O corpo de Bailey é levado pelo furgão do necrotério. Scully acompanha com os olhos. Jasmine sentada na calçada. Mulder sentado perto dela.

SCULLY: - Morte imbecil. Todas foram mortes imbecis.

Mulder olha pra ela. Kitty sai da casa. Puxa Jasmine pelos cabelos.

KITTY: - Levanta daí, demônio! Foi a última vez que você trouxe desgraça pra alguém!

Scully arregala os olhos.

JASMINE: - Me solta!

KITTY: - Vou levar você agora mesmo pro convento!

Mulder se levanta.

MULDER: - Ela é testemunha de um acidente. Não pode sair da cidade.

KITTY: - Acidente? Ainda acredita em acidente? (PRA SCULLY) Avise seu amigo para ficar longe dessa bruxa. Ou vai terminar como todos os outros!

SCULLY: - Não pode forçar a garota a fazer o que não quer. Ela ainda é menor de idade legalmente, mas não o é psicologicamente. Está infringindo a lei dos direitos humanos na frente do FBI, senhorita Bright. Portanto solte Jasmine. Isso é agressão física e mental!

Mulder olha pra Scully. Kitty solta Jasmine, que se senta na calçada novamente. Mulder senta-se perto dela.

MULDER: - (PREOCUPADO) Quer algo pra beber?

JASMINE: - Não.

O Delegado Jones, mascando chicletes, aproxima-se. Para à frente de Mulder, num olhar de desafio.

DELEGADO JONES: - Viu o que aconteceu?

MULDER: - Presenciei tudo. Jasmine nem tocou em Bailey quando ele tropeçou no hidrante e quebrou o pescoço.

DELEGADO JONES: - Que morte estúpida! Como ele não viu o hidrante?

MULDER: - ...Acidentes acontecem.

Jones e Scully trocam olhares. Ela embaraçada, algumas vezes tensa. Mulder se levanta ficando frente a frente com Jones. Aproxima-se do rosto dele.

MULDER: - (SUSSURRA) Magoe a Scully e eu vou machucar você. Entendeu?


Delegacia de Judas Lost the Boots –11:11 P.M.

Mulder entra na sala de interrogatório, com dois copos de chá. Entrega um pra Scully, outro pra Jasmine.

MULDER: - Eu tenho uma ideia. Pode parecer uma ideia louca, mas acho que vai dar certo.

SCULLY: - Que ideia?

MULDER: - Podemos levar Jasmine em uma sessão espiritual. Alguns médiuns podem descobrir o que há de errado com ela.

SCULLY: - Boa sorte.

MULDER: - Gostaria muito que fosse comigo.

SCULLY: - Por quê? Por que pode não se controlar perto dela, está louco pra toca-la e vai acabar cometendo suicídio quando fizer isso?

MULDER: - Porque eu acho que ia fazer bem até pra você, Scully.

SCULLY: - Você não pode sair com uma menor por aí, sem autorização legal da tia dela, que é a pessoa responsável por Jasmine!

MULDER: - Jasmine, sua tia se oporia se fôssemos à igreja?

SCULLY: - Vocês não vão a igreja!

MULDER: - Ela não precisa saber.

Jasmine sorri. Scully encara Mulder.

SCULLY: - Se quer se meter em encrenca, o problema é todo seu. Está parecendo um adolescente irresponsável, Fox Mulder! Tente pensar com a cabeça de cima e não com a de baixo!

Scully sai da sala, batendo a porta. Mulder, embaraçado, olha pra Jasmine.

MULDER: - Eu... Acho que ela tem razão.

JASMINE: - Sobre ???

MULDER: - Estou me metendo na vida dos outros, não tenho esse direito.

JASMINE: - (ATREVIDA) Ah! Pensei que fosse sobre estar pensando com a cabeça de baixo.

MULDER: - (DESCONCERTADO) Jasmine, só você pode saber o que é melhor pra você. Se quiser seguir o que sua tia quer é problema seu... Vá pra casa, não temos nada contra você.

JASMINE: - Eu não quero ir pra casa!!!

MULDER: - O motel está cheio, então... Euvou pedir que arranjem uma cama pra você numa cela.

JASMINE: - (ATREVIDA)Eu quero ir pra sua cama.

MULDER: - (TENSO) Eu... Eu vou falar com o delegado pra providenciar algum lugar pra você junto ao juizado de menores.

JASMINE: - (DESESPERADA) Me ajuda com essa maldição!!! Me leva embora daqui!!! Eu quero ir embora desse lugar com você!!! A gente não precisa se tocar, damos um jeito como fazemos aqui. Mulder, eu sei que posso fazer você feliz! Você e eu merecemos a felicidade. Me dá uma chance!

Mulder sai nervoso da sala.





11:31 P.M.

Mulder lava o rosto na pia do banheiro, demoradamente. Deixa a água correr nas mãos, o rosto mergulhado nelas.

DELEGADO JONES: - Nervoso?

Mulder ergue o rosto. Pega as toalhas de papel.

MULDER: - Não.

DELEGADO JONES: - Ok, vamos falar seriamente. Você e Dana estão separados. Ela está tentando fazer a vida e você fica ao redor, atrapalhando tudo. Não se dá conta do quanto é egoísta? Está aí com os hormônios saltando por aquela menina e eu acho isso muito compreensível. Então por que não se resolve com a garota de uma vez e deixa Dana livre?

MULDER: - Isso nada tem a ver com Scully. E quem você pensa que é pra me dar conselhos?

DELEGADO JONES: - Quer você queira ou não, Dana precisa viver. Longe de você, que é um maldito mentiroso e egoísta. Você fica acusando Dana de usá-lo, mas e se dá conta de que a está usando também? Você a está privando de coisas que está doido pra fazer!!!

MULDER: - (RAIVA) Você não sabe nada de nós, delegado.

DELEGADO JONES: - Posso saber pouco de vocês dois. Mas eu sei o tanto de dor que está causando na vida de Dana. E eu quero que você caia fora da vida dela, porque você é um câncer que a corrói todos os dias!

Mulder o agarra pelo colarinho. Encosta Jones contra a parede.

MULDER: - Eu vou dizer uma coisa pra você, seu imbecil. Fique longe da Scully. Porque eu posso matar você e dar um jeito de esconder o corpo.

DELEGADO JONES: - Instinto assassino, agente Mulder? Isso é bom, eu gosto.

Mulder o solta. Abre a porta.

DELEGADO JONES: -Acho melhor você liberar seus hormônios com a garotinha. É o que está precisando. Admita! Melhor morrer que viver infernizando a vida da sua ex-mulher! E ela pode criar a filha de vocês, muito melhor que você!

Mulder para.

DELEGADO JONES: -Eu sei que isso se passa na sua cabeça, mesmo que lhe custe a vida, dar uma boa trepada com Jasmine. Afinal de contas, você está abandonado, sozinho, tudo o que mais quer no momento é se sentir homem de verdade. Vamos, sei disso. Também sou homem.

MULDER: - Não, você não é homem. Você é um tipo de canalha que tem bom papo e boa pinta... Providencie um local pra garota passar a noite.

DELEGADO JONES: - Por que não providencia você? A leve pra sua cama.

MULDER: - (O ENCARA) ... Não. Não vou dar um murro em você. Não vale a pena.

Mulder sai do banheiro. Vê Scully pegando um refrigerante da máquina. Aproxima-se.

MULDER: - Posso falar algo com você?

SCULLY: - Diga.

MULDER: - Não quero que pense que sou egoísta e que estou tentando manipular sua vida, oprimindo você ou com ciúmes infantis. Mas cuide-se com Jones. Não é o tipo de homem que você pensa. É só mais um canalha interessado em sexo de graça.

Mulder se afasta. Scully o acompanha com os olhos. Jones sai do banheiro. Scully olha pra ele. Jones lhe sorri com charme. Scully fica pensativa.


11:43 P.M.

Mulder dirige o carro. Jasmine sentada no banco do carona. Entre eles uma folha de caixa de papelão.

JASMINE: - Ideia boa a sua. Assim podemos nos olhar por cima do papelão, mas você não pode me tocar, nem corre o risco da tentação de esbarrar a mão em mim.

MULDER: - Acho melhor ficar em casa esta noite. Sua tia não vai poder tirar você da cidade.

JASMINE: - Por que está me ajudando, Mulder?

MULDER: - Já disse, eu faria isso por qualquer pessoa. Eu ajudo quem precisa. Não é nenhum favor especial e com segundas intenções, Jasmine.

JASMINE: - Por que se preocupa com o que eu poderia pensar de você?

MULDER: - Porque muitas vezes as pessoas fazem pré-julgamento das outras. Mesmo que você se faça claro, os pré-julgamentos acontecem. Imagina se não deixa claro as suas intenções?

Mulder dirige atento a estrada. Jasmine mexe no som.

JASMINE: - Posso ligar o rádio?

MULDER: - Pode.

[Som: Coldplay - Clocks]

Mulder começa a rir.

JASMINE: -Não gosta de Coldplay?

MULDER: -Tá brincando! Adoro! (DEBOCHADO) É que eu já estava me preparando psicologicamente para ouvir Spice Girls, Avril Lavigne ou Christina Aguilera...

JASMINE: - Ah, por favor! Que juízo você faz de mim, Mulder! Acha que sou uma patricinha? Você é que parece um mauricinho! Fica melhor de jeans e camiseta.

Mulder segura o riso.

JASMINE: - Só porque sou uma garota não quer dizer que não curta rock. Você não me conhece mesmo! Você gosta de rock?

MULDER: - Eu cresci ouvindo Elvis! (DEBOCHADO) Ah, droga! Entreguei minha idade!

Jasmine começa a rir.

JASMINE: - Legal o seu carro.

MULDER: - Não é meu, é do FBI.

Jasmine abre o porta luvas.

JASMINE: - Hum... Você tem uma vida bem agitada.

Mulder olha pra ela. Jasmine sustenta a tira de preservativos. Mulder fica em pânico.

JASMINE: - Não precisa explicar, eu não deveria mexer em suas coisas.

MULDER: - ... Isso daí é... Ah, deixa pra lá! Você não vai entender...

JASMINE: - (SEGURA O RISO) Você estudou? Fez faculdade?

MULDER: - (EMBARAÇADO) Psicologia.

JASMINE: - (SORRI) Só podia ser! Você é bom, sabia? Tem paciência, sabe escutar as pessoas, tem vontade de ajudá-las...Eu quero ser veterinária. Adoro os animais.

MULDER: - É uma boa carreira... Eu estou fazendo especialização. Mas é um segredo nosso, ok? Achei que precisava me atualizar na área sobre Transtorno Dissociativo de Personalidade.

JASMINE: - Por que logo esse assunto?

Jasmine percebe a carteira de Mulder sobre o painel. A pega discretamente. Abre e começa a olhar os documentos.

MULDER: - Quero entender até onde isso vai como doença e se os tratamentos hipnóticos não causam sequelas irreversíveis.

JASMINE: - (RINDO) Você nasceu em 13 de outubro de 1961? Nossa! Eu nem pensava em nascer nessa época! Dizem que os anos 60 foram incríveis!

MULDER: - (INCRÉDULO) Você é muito curiosa, sabia? Não te ensinaram que é feio mexer no que é dos outros?

JASMINE: - Sou uma adolescente muito curiosa... Hum, ficou bem nessa foto. Nasceu em Chilmark, Massachusetts?

MULDER: - Sim.

JASMINE: -Você tem uma filha? É ela nessa foto?

MULDER: - (SORRI) Ela mesma. Victoria. Já estou com saudades...

JASMINE: - Nome bonito. Que idade ela tem?

MULDER: - Um ano e três meses.

JASMINE: - A agente Scully deixa você ir visitar a menina?

MULDER: - Não. Eu fiquei com a guarda da nossa filha.

JASMINE: -Você deve ser um ótimo pai. Ela é uma gracinha, sorridente. Parecida com você.

MULDER: -Todo mundo diz isso, mas acho que Victoria tem as feições da mãe dela.

JASMINE: - Não mesmo. Ela é sua cara. Até a cor dos olhos. Os cabelos... A expressão é da mãe, mas o resto...

MULDER: -Dizem que os filhos ficam idênticos aos pais. Espero que ela não me siga na profissão.

JASMINE: - Ela lembra a agente Scully no jeitinho de olhar... Que gracinha! Tem um sorriso meigo.

MULDER: - Quem olha a foto diz 'que anjinho'. Mas o anjinho é terrível.

JASMINE: - Só tem ela?

MULDER: - Sim.

Jasmine coloca a carteira sobre o painel do carro.

JASMINE: - Não pensa em ter mais filhos? Acho que deve ser um pai extremamente amoroso.

MULDER: - Não penso mais nada. Enquanto as coisas entre Scully e eu não se resolverem, não dá pra fazer planos.

JASMINE: - Entendo... Eu não lembro do meu pai. Mas todos que o conheceram diziam que ele era muito amoroso com as crianças. Que quando eu nasci, ele ficou muito feliz... E eu o matei.

MULDER: - Jasmine, você não pode se culpar pelas coisas que acontecem. Você não tem domínio sobre elas.

JASMINE: - Eu me culpo por ele, por minha mãe ter me abandonado, meu irmão ter nascido morto, pelos homens que morreram...

MULDER: - Jasmine, acredite quando eu digo que a culpa só vai atrapalhar mais a sua vida, ok? Eu trabalho com coisas inexplicáveis há muitos anos. Mas confesso que você é o primeiro caso que conheço nessas características insólitas. Estou sem teorias sobre a sua maldição.

Mulder estaciona o carro na frente da casa.

MULDER: - Vou esperar você entrar.

JASMINE: - Lhe daria um beijo se isso não matasse você.

Jasmine sai do carro, olhando pra Mulder, com aquele seu olhar de malícia e ingenuidade. Fecha a porta. Mulder a acompanha com os olhos. Ela retira as chaves da bolsa e abre a porta. Entra. Dá uma última olhada pra Mulder e fecha a porta. Mulder suspira, passando as mãos no rosto.

MULDER: - Controle-se Fox Mulder... Não vai agir feito um velho ridículo que não sabe o seu lugar... (ESMURRA O VOLANTE) Não sei porquê me vem à cabeça aquela cena clássica dos desenhos do lobo assoviando e saltando os olhos diante da Chapeuzinho Vermelho! Coisa mais ridícula, Mulder!

Mulder toma a estrada. Jasmine abre a porta e sai pra rua novamente. Apressa o passo, olhando pra casa, nervosa. Toma a rua e segue até a praça. Senta-se no banco da praça, ajeitando a bolsa sobre o colo. Cruza os braços e fecha os olhos.

JASMINE: - (SORRI) E ele acha que dormir sentado é sacrifício... Pra mim é costume.


Motel WTC - 1:17 A.M.

Mulder digita alguma coisa no notebook, enquanto come sementes de girassol. Olhos atentos na tela. Scully entra no quarto.

MULDER: - Descobri porque o nome dessa espelunca é WTC.

SCULLY: - Não vou mais tocar em você e estou falando sério.

MULDER: - Sei...

SCULLY: - Você pensa que me conhece, mas não me conhece, Mulder. Assim que voltarmos, eu vou pedir uma reunião com Skinner. Vou sair do FBI. Se você não sai, eu saio. Pensei que pudéssemos separar as coisas, mas nem eu e nem você estamos conseguindo fazer isso. Eu já disse que você me faz mal. Você não pode imaginar o quanto me faz mal ficar com você. Mulder, por favor, precisa entender! Eu sei que está tentando se fazer de durão pra me conquistar! Eu não sou burra!

MULDER: - ...

SCULLY: - Mas desista porque não há mais nada a ser conquistado. Você está apenas se magoando! Mulder, por favor, me deixe em paz. Me esqueça! Arrume outra pessoa pra você. Olha, sinceramente, me faz muito feliz se você está a fim daquela garota... Saiba que eu não vou me opor, eu quero que seja feliz.

MULDER: - Você fala como se não me conhecesse, Scully. Sabe que eu não sou de entregar meu coração e a minha confiança facilmente. Eu depositei todos os meus sonhos e expectativas em nossa relação. O amor é egoísta sim. Eu vou ser egoísta, porque não quero perder você.

SCULLY: - Você já me perdeu, Mulder! Há muito tempo. Pare e reflita isso! Olha pra nós dois! Tudo que temos é sexo! Apenas pele!

MULDER: - Não, eu não quero acreditar nisso. E não vou acreditar. Porque você faz sexo comigo, mas eu faço amor com você!

SCULLY: - ... Mulder, precisamos falar sobre nossa filha.

MULDER: - (MEDO) Não... Você não vai tira-la de mim, tá entendendo? Eu juro que mato você se tentar sumir com Victoria!

SCULLY: - Eu não quero a guarda de Victoria. Não estou em condições psicológicas pra isso. O que eu quero, como mãe dela, é apenas o direito de ver minha filha.

MULDER: - A aberração? É? Agora você quer ver a aberração?

SCULLY: - Mulder, não torne as coisas mais difíceis, por favor!

MULDER: - Scully, posso parecer idiota, mas eu não sou. Por que tanto interesse repentino na Victoria? Não é apenas saudade, eu não acredito nisso. Se sentisse saudade e se a amasse de verdade nunca a teria chamado de aberração e a abandonado, enquanto ela gritava por você aos prantos! Essa cena está aqui, viva, dentro da minha cabeça e me machuca até hoje!

SCULLY: - ... Nada que eu possa falar justificaria o que fiz...

MULDER: - ...

SCULLY: - Mulder, quero encarar meus medos. Enfrenta-los. E Victoria é um dos meus medos. Eu não sei o que ela é. Mas gostaria de saber.

MULDER: - Ela é uma criança.

SCULLY: - Não é uma criança comum e você sabe disso!

MULDER: - Estou ficando doido ou você está me pedindo pra estudar Victoria como se ela fosse uma cobaia? É isso? Estou captando suas intenções?

SCULLY: - Não é isso! Eu quero ver até onde ela é normal e saber o que há de errado com ela! Mulder, não sabemos nada sobre a mutação genética que fizeram com você, nem sabemos nada sobre a genética de Victoria! E se ela apresentar doenças? E se um dia não conseguirmos achar a causa dessas doenças? O que vamos fazer? Sabe até onde a paranormalidade dela não se voltará contra nós?

MULDER: - (INCRÉDULO) Você está insinuando que eu não devo confiar na minha própria filha?

SCULLY: - Mulder, sejamos racionais, por favor. Estou dizendo que... Nem sabemos onde começa e onde termina o que há de humano dentro dela.

Mulder, completamente ofendido, levanta-se e abre a porta.

MULDER: - (ÓDIO) Se tocar um dedo na minha filha eu te mato! Tá me ouvindo? Você foi longe demais!!! Pode fazer o que quiser comigo, mas não com a minha filha! Ela não é um objeto de estudo! Ela é um ser humano!

SCULLY: - Sabe que ela não é um ser humano Mulder! Sabe que ela é um híbrido de um híbrido! Victoria nunca ficou doente! Nunca teve nada a não ser cólicas e febre! Não se pergunta sobre isso? Lembra-se das vacinas? Eu podia tê-la matado se tivesse vacinado nossa filha com as vacinas comuns para bebês!!!! Ela tem imunidade natural a doenças comuns e a coisas que eu desconheço cientificamente!

MULDER: - Ela é a filha do monstro sim, Scully. E vai continuar sendo até o fim da minha vida. Ela sangra como você e eu! Ela ama como você e eu! E se move objetos com a mente ou se projeta pra fora do corpo, isso não faz diferença alguma pra mim porque ela é meu sangue, ela é minha filha e eu a amo!!!!!

Mulder empurra Scully porta à fora. Fecha a porta, em estado de nervos. Põe as mãos no rosto. Começa a chorar.

MULDER: - (GRITA EM PRANTOS) Pra mim chega!!! Eu não aguento mais pensar com o coração!!! Acabou!!!


1:45 A.M.

Mulder sai do quarto. Olhos vermelhos de chorar. Entra no carro.

Corta para o outro lado da rua. Dentro do carro Krycek olha apiedado pra Mulder. Abaixa a cabeça. Pega o celular e liga. Aguarda até cair a ligação.

KRYCEK: -(PREOCUPADO) É, pra não atender você tá numa pior, Mulder...

Mulder sai com o carro. Krycek olha pro celular. Fica pensativo. Abre um sorriso bobo.

KRYCEK: - Eu não tenho medo de mulher.

Krycek liga. Aguarda.

KRYCEK: - (AO CELULAR) ... Oi... É, sou eu... Eu sei que não dorme cedo... Não. Estou em um lugar chamado Judas Perdeu as Botas... (RINDO) É sério, Barbara! Existe! ... Ah, não pergunte, apenas adivinhe o que vim fazer aqui... (RINDO) É, o Mulder e a Scully precisam do amante deles... (SORRI) Você é folgada, garota! Na verdade eles pensam que fui embora daqui, mas tem algo me incomodando... Não sei, instinto... É, aquilo que você chama de faro jornalístico e eu chamo de faro pra encrenca... Dentro do carro, vigiando a Scully... Cada vez mais esquisita, se quer saber e o Mulder está se acabando com isso. Nenhuma novidade pra mim?... Bom, fica aí pesquisando, pelo menos você tem como ocupar a cabeça. Trancou as portas? ... Fique com aquele taco de basebol em prontidão... Claro que me preocupo com você... Porque eu me preocupo, oras!




BLOCO 4:

2:23 A.M.

Scully abre a porta do quarto, vestida com um robe e os cabelos molhados.

DELEGADO JONES: - Seu parceiro conseguiu um lugar pra garota?

SCULLY: - ... (NERVOSA) Entra.

Jones entra. Fecha a porta. Scully passa as mãos no rosto, preocupada.

DELEGADO JONES: - Ciúmes?

SCULLY: - Não. Estou com medo da encrenca judicial que Mulder pode arrumar por ser bondoso demais com as pessoas. Já cansei de dizer a Mulder que ele precisa pensar primeiro em si e não nos outros. Todas as vezes que ele tenta ajudar alguém sai sempre machucado.

DELEGADO JONES: - Acho que não deveria ficar preocupada com Mulder... Penso que a intenção dele não é bem... O tipo de ajuda que você está pensando.

SCULLY: - (OLHA PRA ELE/ RÍSPIDA) Eu não sei bem quem você pensa que é pra vir até aqui insinuar que Mulder está ajudando aquela menina com intenções indecorosas, porque este não é o Mulder que eu conheço!

Scully abre a porta. Vira o rosto.

SCULLY: - Saia já daqui!

DELEGADO JONES: -Eu só não quero que você se magoe mais com ele, Dana. Só quero ser seu amigo.

SCULLY: - Eu só tenho um amigo verdadeiro e ele se chama Fox Mulder. Pouco importa que estamos separados, pouco me importa que nossas opiniões não combinem, ou que nosso casamento não tenha dado certo. Mas Mulder é meu amigo e não admito que ninguém insinue nada a respeito da natureza altruísta, doce e inocente dele!

DELEGADO JONES: - Não está sendo imprudente ao colocar sua mão no fogo por Mulder?

Corta pra porta. Krycek parado atrás da porta, escutando.

SCULLY: - Eu coloco o meu pescoço na guilhotina por Mulder! Eu conheço Mulder. Eu sei quem ele é. Ele pode até estar tentado a cometer uma besteira, mas ele não irá até o fim!

DELEGADO JONES: - Não pode saber. Aquela noite em que jantamos você me disse que Mulder havia traído você.

SCULLY: -Eu estava enganada! Saia, você não é digno da minha consideração por vir até aqui pra falar mal do Mulder. Se Mulder se sente atraído por aquela garota é porque eu estou sendo estúpida com ele. E quer saber? Espero realmente que Mulder encontre alguém que o faça feliz!

DELEGADO JONES: - Desculpe, Dana. Eu não quis ofender você, lamento que tenha pensado assim. Eu só... Eu apenas gostei de você e estou tentando ganhar a luta.

SCULLY: - Joga assim? Não há luta a ser ganha, porque eu não sou um prêmio!

DELEGADO JONES: - ... Como posso me desculpar pela minha grosseria? Me dá uma chance, eu... Dana, estou apaixonado por você. Você mesmo me disse que queria encontrar alguém, eu também quero... Olha, eu... Eu me mudo pra Washington pra ficar perto de você.

SCULLY: - Olha, Jones, eu não quero ser grosseira com você. Mas já disse a minha situação. Estou dividida entre dois homens e não sinto nada por você. Não posso magoar mais ninguém. Aceitei seu convite pra jantar porque eu gosto de sair, gosto de conversar, mas não foi com nenhuma intenção de caráter sentimental.

DELEGADO JONES: -Viva, Dana. Não pense que terá muito tempo pra viver. Aproveite tudo. Se permita... Mulder está vivendo... Acha justo que ele se divirta enquanto você não? Hum? E se eu agarrasse você agora? É disso que gosta?

SCULLY: - (GRITA) Sai daqui!!!

Krycek entra no quarto.

KRYCEK: - Lamento interromper a conversa, mas...

Krycek puxa Jones pelo terno e o empurra bruscamente porta à fora.

KRYCEK: - Acabou o seu tempo! E se eu pegar você com a minha garota de novo, eu corto suas bolas! Me entendeu, ô bonitão? Cai fora!

DELEGADO JONES: - Espero que seja feliz com seus dois homens, Dana Scully. (OLHA PRA KRYCEK) Bom divertimento. É sua chance, não é? Mulder não está aqui.

KRYCEK: - ...

DELEGADO JONES: -Ela está sozinha. Admita pra si mesmo que a ideia convém. Mas no fundo, bem lá no fundo... Você tem outras ideias... Não é só ela, não é mesmo? O que anda fazendo, Alex Krycek? Menino levado...

KRYCEK: - (OLHANDO FIXAMENTE PRA ELE) ...

DELEGADO JONES: - Vai garoto sortudo. Ela é toda sua. A outra namorada você pode não ter...

Krycek empurra Jones e fecha a porta, perturbado. Olha pra Scully, que senta-se na cama, confusa.

KRYCEK: - (IRRITADO)Merda! Que droga foi essa? Como ele... O que anda falando para os outros?

Scully ainda confusa.

KRYCEK: -Scully, você está bem?

SCULLY: - Ahn?

KRYCEK: - Pra onde foi o Mulder?

SCULLY: - O que faz aqui?

KRYCEK: - Salvando a donzela indefesa das garras do dragão... Que sujeito esquisito! Ele me dá arrepios!

SCULLY: - O que houve?

KRYCEK: - Como assim o que houve? Mais um pouco e esse cara agarrava você e conseguia o que queria à força!

SCULLY: - Por que se importa?

KRYCEK: - Questão de consideração com Mulder. Ele me ajuda a cuidar da minha princesa e eu ajudo a cuidar da princesa dele. Você tem razão quando nos chama de animais. Trabalhamos em bando pra proteger nossas fêmeas.

Scully sorri, pondo as mãos no rosto. Ajeita o robe.

SCULLY: - Sabe que ouvindo você dizer isso é muito engraçado?

KRYCEK: - Não sabe pra onde Mulder foi?

SCULLY: - Eu não sei... Alex, estou meio zonza, preciso dormir.

Scully se deita, ainda vestida com o robe. Fecha os olhos. Krycek coloca o lençol por cima dela. Então sai do quarto, fechando a porta. Vai até a recepção. Em segundos, o carro de Mulder chega. Mulder desce. Aproxima-se da porta de Scully. Bate. Scully, vestida em seu tailleur abre a porta.

SCULLY: - O que quer aqui?

MULDER: - Pensei em conversar como dois adultos.

SCULLY: - Lamento. Pensou errado. Nem diversão eu quero mais com você. Preferia que estivesse morto, Mulder. É... Porque estando morto, eu posso ter a chance de viver em paz.

Scully bate a porta na cara de Mulder. Mulder suspira. Cabisbaixo, anda até o carro. Olha pra porta do quarto. Volta. Ameaça bater, mas aproxima-se da janela. As cortinas entreabertas. Mulder vê Jones dormindo ao lado de Scully que está vestida com um robe. Mulder põe a mão sobre os lábios. Recua, incrédulo, enchendo os olhos de lágrimas.


3:16 A.M.

Jasmine se acorda, sentada no banco da praça. Mulder sentado longe dela, empinando a garrafa de uísque. Já meio bêbado.

JASMINE: - Como me achou?

MULDER: - Sou policial...

JASMINE: -...

MULDER: - Na verdade segui o seu cheiro. Costuma dormir aqui?

JASMINE: - É. Agora sabe meus segredos.

MULDER: - Não culpo você. Não tem lugar pra dormir nessa cidade!

Mulder toma mais um gole, afrouxa a gravata. Senta-se mais perto dela. Jasmine recua um pouco.

MULDER: - Não cresça. Não vale a pena. Exceto porque você sai de casa, se livra de 99% de estresse familiar, pode fazer toda a bagunça do mundo, comer a hora que quiser, sair e voltar quando quiser e sem ouvir sermão.

JASMINE: - (RINDO) ...

MULDER: - De resto não vale a pena crescer... Você cresce e percebe que a vida é um monte de blocos de montar. Um dia você se descuida, deixa a janela aberta por um minuto e o vento derruba tudo o que você levou muito tempo para construir. E você fica olhando para os blocos espalhados pelo chão, tenta, mas sabe que não conseguirá mais montar o que havia construído. Pode até ficar parecido, mas nunca será igual ao que era.

JASMINE: - Tá infeliz porque ama demais sua ex-mulher, não é?

MULDER: -Eu tô carente, cansado e deprimido. Amar não significa nada. Você pode amar alguém feito uma doença e nunca ter essa pessoa. Como pode ter alguém e não amar. A felicidade independe de amor. Depende de momentos que você inventa. Porque na realidade, essa besteira de felicidade são momentos que vão ao vento, deixando apenas aquele perfume do que se foi no ar. E você fica se perguntando onde errou, onde está errando e nega veementemente que o melhor é enterrar o passado e partir pro futuro. Pois o que foi já era e não voltará nunca mais...

JASMINE: - ...

MULDER: - Já dizia Kierkgaard, Freud, Camus... Acho que Sartre disse também... O suicida é um corajoso. Covarde é quem teme a morte. Pra que viver se não vê mais sentido em nada, se vive feito uma múmia perambulando pelo mundo, mentindo que resiste? Não é mais fácil admitir que você é um fraco, um perdedor e que está de saco cheio com a vida? Aliás, que vida? Admito, eu já tentei o suicídio uma vez... É, eu sei que tenho sérios problemas de auto-estima.

JASMINE: -(SUSPIRA TRISTE) Mulder...

MULDER: - Onde está o chamado livre arbítrio do homem, que prega as escrituras, se você tem que se limitar a viver e nem pode optar a desistir sob pena de uma suposta punição espiritual? Então você não é livre. A pior dor é a dor de existir! Mesmo que desista da vida, você continuará existindo em algum lugar. Não há o que possa fazer contra isso. Você é eterno. E isso dói.

JASMINE: - Acho que você já bebeu demais...

MULDER: - É, já estou no estágio da filosofia... Quer um gole?

Mulder entrega a garrafa. Jasmine toma um gole e faz careta.

MULDER: - Não me denuncie por dar bebida alcoólica a uma menor. Mas como dizia meu pai, antes um adulto o faça experimentar por curiosidade do que você vá pra rua com estranhos buscar por necessidade.

JASMINE: - Estamos na rua e você não é adulto.

MULDER: - (DEBOCHADO) É. Sou Peter Pan. Me devolva a garrafa.

Jasmine começa a rir. Afasta a garrafa pra longe dele. Mulder olha pro céu.

MULDER: - Passei metade da minha vida buscando aqueles caras lá em cima... Buscando a verdade...

JASMINE: -(EMPOLGADA) Alienígenas? Sério? E encontrou?

MULDER: - Encontrei mais perguntas que respostas. A única coisa boa que encontrei foi ela. E agora ela se foi. Levando toda a minha verdade com ela. Só uma verdade ela me deixou: que sem ela eu não sei mais viver... Vá pra casa, Jasmine. É tarde demais pra uma garota estar na rua na companhia de um bêbado deprimido.

JASMINE: - Não quero ir pra casa.

MULDER: - Por que não quer ir pra casa?

JASMINE: - Eu detesto a Kitty. Aquela beata louca!

MULDER: - Por pior que seja a casa da gente, sempre será a casa da gente.

JASMINE: - Diz isso porque não sabe da situação.

MULDER: - Pagaria um quarto de hotel pra você se houvesse um hotel com quarto vago nessa cidade. Acha que estou fazendo o quê na rua? Um único quarto disponível e ela me põe pra fora... Pra dormir com aquele idiota do Richard Gere... O pior é que ele não tem grana e nem a Julia Roberts... Por que as mulheres preferem os canalhas, mesmo sabendo que vão se ferrar?

JASMINE: - Nem todas preferem os canalhas... Mulder, quer me ajudar? Me dá uma carona até a próxima cidade. Eu me viro depois. Eu preciso fugir daqui antes que a Kitty me coloque num convento.

MULDER: - E como vai viver? Vai trabalhar no quê, se sustentar como? Desconheço uma cidade com apenas mulheres. E você não pode tocar em nenhum homem. Uma hora vai acontecer de novo e você vai seguir por aí provocando acidentes?

JASMINE: - Juro pra você que vou morar no meio do mato! Eu me viro! Mas não posso mais ficar aqui. Prefiro ser uma eremita livre a ser uma eremita religiosa.

MULDER: -Foi o argumento mais convincente que alguém já me deu. Acho que você não ia ficar sexy vestida de pinguim. Além do mais, você ia acabar com a vocação de qualquer padre... É, acho que vou ter que ajudar a igreja católica a continuar existindo... O Papa me deve essa!

Mulder se levanta. Tira as chaves do bolso. Jasmine se levanta empolgada.

MULDER: -Eu devo estar doido ou muito bêbado!

JASMINE: - (PREOCUPADA) Ainda tá com o papelão no carro? Sabe como é. Ou vou no banco de trás?

MULDER: -(DEBOCHADO) Sim, o papelão está no carro. E no banco de trás, me acredite, a tentação vai ser maior. Eu já bebi, posso me distrair imaginando coisas e bater o carro.

Jasmine começa a rir.

MULDER: - (DEBOCHADO)Papelão é o que estou fazendo pra variar... Anda, menina!

Jasmine sorri e segue Mulder até o carro.


Motel WTC – 5:04 A.M.

Krycek entra no quarto. Fecha a porta. Scully dormindo. Krycek senta-se na poltrona. O celular dele toca. Krycek tira o celular do bolso e olha para o visor. Sorri. Atende.

KRYCEK: - (AO CELULAR) Oi... (PREOCUPADO) E quem era na porta? ... (SEGURA O RISO) Sei. Você é uma mulher muito perigosa, Barbara Wallace. Pobre do cachorro da vizinha. Vai pensar duas vezes antes de arranhar sua porta... Eu? Atrás do Mulder que sumiu... Não, o máximo da confusão até agora foi que tive de expulsar o Richard Gere do quarto da Scully... (RINDO) Ficou interessada é? ... O chato do delegado... (SÉRIO) Repete o que você disse, Barbara...

Krycek dá um tapa na testa. Desliga o celular e sai às pressas do quarto.


Motel e Café Tio Barney - Condado de Clyde – 5:19 A.M.

Jasmine entra no quarto. Mulder entra atrás dela, segurando o paletó sobre o ombro e rindo.

JASMINE: - (RINDO) Viu a cara da garçonete? (MUDA A VOZ) Café bem forte? E sua filha vai querer o quê, senhor?

Mulder se encosta na parede, rindo alto.

MULDER: - Eu nem poderia ter uma filha com a sua idade! Eu tinha complexo com crianças!

JASMINE: - Sério? Por quê?

MULDER: - Odiava imaginar que podia ter um filho e perpetuar a raça desgraçada do meu pai.

JASMINE: - Isso é paranoia!

MULDER: - Eu sei, sou psicólogo. Não percebeu ainda que os psicólogos são mais loucos que os pacientes?

Os dois começam a rir. Mulder sai do quarto. Olha pra ela.

MULDER: - Eu vou cochilar um pouco no carro e partirei antes de você acordar. Procure ajuda de uma médium. Alguém que possa descobrir o que aconteceu com você. Sabendo o que é, pode se livrar dessa maldição. (SORRI) E seja feliz. O máximo que puder.

JASMINE: - Obrigada pelo que fez por mim, meu príncipe. Eu nunca me esquecerei de você.

MULDER: -Eu também fiz por mim, princesa. Sempre quis fugir de casa. É como se estivesse tendo a chance de salvar o Mulder adolescente. Libertando-o pra vida que ele achava não ter direito de aproveitar porque sua irmã também não teve.

JASMINE: - ... ???

MULDER: - Deixa pra lá. A história é longa demais. Viva por mim, ok? Aproveite bem sua idade, eu não pude aproveitar a minha.

JASMINE: - Mulder... Eu... Eu só lamento que nossa história não tenha o final feliz. Que eu não possa dar um beijo no príncipe que me salvou. E isso era tudo o que eu mais queria.

MULDER: - Tudo bem, o seu príncipe salvou você de carro e nem espada tinha. Péssimo príncipe você arrumou!

Jasmine sorri. Mulder fecha a porta. Caminha até o carro, vestindo o paletó. Escora-se no carro observando as estrelas, pensativo.

SCULLY (OFF): - Nem diversão eu quero mais com você. Preferia que estivesse morto, Mulder. É... Porque estando morto, eu posso ter a chance de viver em paz.

Mulder abaixa a cabeça e começa a chorar.

Corte.


[Som: Romance Ideal – Paralamas do Sucesso]

Jasmine, só de camiseta, levanta-se da cama e abre a porta. Olha pra Mulder, parado ali, derrubando lágrimas. Mulder aproxima-se dela. Jasmine acena negativamente com a cabeça e vai recuando. Mulder a agarra, empurrando-a contra a parede, devorando os lábios dela num beijo desesperado. Jasmine arregala os olhos, mal conseguindo retribuir o beijo, toda atrapalhada. Mulder solta os lábios dela, recostando sua testa na testa da garota.

JASMINE: - (SUSSURRA/ OLHOS EM LÁGRIMAS) Por que fez isso, meu príncipe? Agora você vai morrer...

MULDER: - (SUSSURRA/ OLHOS EM LÁGRIMAS) Que diferença faz? Não quero mais viver.

JASMINE: - (SUSSURRA/ OLHOS EM LÁGRIMAS) Não quero que morra... O mundo vai ficar um lugar bem mais triste sem você.

MULDER: - (SUSSURRA/ OLHOS EM LÁGRIMAS) O mundo não liga se existo ou não existo. Se não me quer, eu vou embora. Mas só se você não me quiser. Eu morreria hoje, só por um abraço e um carinho.

JASMINE: - (SUSSURRA/ OLHOS EM LÁGRIMAS) Eu não posso mentir e você já me tocou.

Mulder aspira o rosto dela, suavemente, acariciando-a com o nariz. Jasmine fecha os olhos, envolvendo os braços nele.

MULDER: - (SUSSURRA) Eu não arrisquei minha vida apenas por um beijo...

JASMINE: - (SUSSURRA) Nem deixarei que morra apenas por isso. Como no meu sonho, você quebrou o espelho. Só você poderia quebrá-lo, meu príncipe.

Jasmine leva as mãos ao peito dele, passando as mãos curiosas pelo tecido da camisa, num sorriso apreensivo. Mulder fecha os olhos aspirando o perfume dela no ar.

JASMINE: - Mulder, eu quero você... Eu não sei se terei outra chance de sentir e viver isso. Nem pela minha condição e nem com um homem maravilhoso como você por quem me sinto apaixonada.

Mulder meio zonzo com o cheiro, a voz e o toque dela, num conflito entre razão e emoção, toma o rosto dela nas mãos. Olha nos olhos dela.

MULDER: -Jasmine, você me enlouquece, é lógico que eu quero... Mas não tenho esse direito. Um dia você vai encontrar um rapaz que amará você muito, da maneira que merece ser amada, e você dois vão descobrir juntos esse momento.

Mulder leva os cabelos dela pra trás, olhando nos olhos dela. Jasmine apaixonada, derrubando lágrimas, pega a mão dele e a afaga com o rosto, fechando os olhos.

MULDER: -Você ainda é jovem, não entende certas coisas da vida, mas um dia você vai amadurecer e vai entender o que estou dizendo. Então você vai lembrar de nós, desse momento e vai dizer que eu tinha razão. E vai poder sorrir pensando em mim.

Mulder recosta o rosto no ombro dela. Jasmine o envolve nos braços. Faz carinhos no cabelo dele. Mulder fecha os olhos.

MULDER: - Isso já me basta... Sentir que sou importante pra alguém. Sentir que sou amado...

JASMINE: - E se você quebrou minha maldição? Não é assim que funciona nas fábulas? O príncipe beija a princesa e quebra sua maldição.

MULDER: - Eu não tenho nenhuma teoria pra isso.

JASMINE: - Então me beija de novo. Só pra garantir.

Mulder olha pra ela. Sorri. Jasmine leva os lábios até o lábios dele. Os dois se beijam. Jasmine pega a mão dele e coloca sobre o seio. Mulder afasta os lábios, olhando nos olhos dela. Jasmine mantém a mão dele contra si, olhando séria nos olhos dele.

JASMINE: - Aprecio seu caráter e cavalheirismo como homem adulto, mas eu quero o garoto que não viveu que está dentro de você. Se chegou até aqui, pelo menos morra por muito.

Jasmine puxa Mulder pela gravata, o chamando pra um beijo.

Corte.


Mulder cai por cima de Jasmine sobre a cama. Devora os lábios dela. Jasmine o agarra com desejo, envolvendo as pernas nele. Mulder se afasta, tirando o paletó.

JASMINE: - Você é o primeiro homem que me toca.

MULDER: - E daí? Você é minha primeira virgem.

JASMINE: - (RINDO) Mentiroso!

MULDER: -É sério. Acredite, eu tô com mais medo do que você.

Jasmine, rindo, se arrasta na cama, deitando com a cabeça no travesseiro. Mulder se aconchega contra ela, colocando a perna e o braço por cima dela. Jasmine o envolve nos braços, fazendo carinhos nele. Mulder fecha os olhos.

MULDER: -Me quer apenas por sexo ou pela minha pessoa?

JASMINE: - Importa pra você?

MULDER: - Faz toda uma diferença.

JASMINE: - Eu gosto de você.

MULDER: - Por quê? O que um cara como eu tem pra despertar algum interesse numa garota linda como você?

JASMINE: - Quer uma lista?

MULDER: - (SORRI/ OLHOS FECHADOS) Tem lista?

JASMINE: - Lógico que tem! Quando vi você a primeira vez na delegacia... Nossa! Um quarentão, homem mesmo, nada de moleque besta que nem sabe agradar uma garota e passa mais tempo jogando videogame que aprendendo a tratar uma mulher...

MULDER: - (SORRI) Pobre dos garotos, Jasmine. Eles custam mais a amadurecer. As garotas amadurecem mais cedo.

JASMINE: - Alto, moreno, olhos verdes... Um sorriso lindo... Um cara lindo... Fiquei mexida na hora. Aí depois que descobri que você era o príncipe do meu sonho... Com o tempo vi outras coisas adoráveis. Você tem senso de humor, altruísmo, sabe quando ser louco e quando ser sensato... É carinhoso, cuidadoso... Apaixonado pela filha, o que me diz que é um ótimo pai e se é um ótimo pai, é um ótimo homem... Cavalheiro, cordial, mas também um voyeur excitante e muito sexy... Beija bem...

Mulder começa a rir.

JASMINE: -Gosta de rock e do Coldplay... Que mulher não se apaixonaria? Se você não morrer, a gente pode ficar juntos.

MULDER: - (RINDO) Acho que estou enlouquecendo... Eu sou policial e estou indo pra cama com uma menor!

JASMINE: - (SORRI) Você seria doido se largasse tudo e fugisse comigo. Se ficar perto de mim, temos uma chance. É só não desgrudar. Aí procuramos alguém pra tirar essa maldição... E a história pode ter o final feliz.

MULDER: - Aposte que se eu não tivesse minha filha, eu jogava tudo pro alto e sumiria com você. Até cachorro abandonado aprende a gostar do novo dono quando é escorraçado pelo antigo.

Mulder faz carinhos no braço dela. Jasmine fecha os olhos, acariciando os cabelos dele. Mulder brinca com a munhequeira no pulso dela. Ela afasta a mão rapidamente.

MULDER: - O que foi?

JASMINE: - Nada.

MULDER: - (DESCONFIADO) Eu já toquei você. Portanto, qual o problema?

Jasmine vira-se de costas pra ele. Mulder toma a mão dela.

MULDER: - Você não tem tendinite, nem joga tênis. Você se auto-mutila ou tentou suicídio?

Jasmine começa a chorar. Mulder retira a munhequeira. Arregala os olhos ao ver as grossas marcas de grilhões na pele dela, ainda pouco cicatrizadas.

MULDER: - O que significa isso?

JASMINE: - Nada. Me machuquei.

MULDER: - Isso não está nem cicatrizado.

JASMINE: - (RETIRA A MÃO)

MULDER: - Quem fez isso com você?

JASMINE: - Ninguém.

MULDER: - Sua tia acorrentava você? Era assim que mantinha você em casa, longe dos homens? É isso o que está me escondendo?

Mulder senta-se na cama, perplexo, com as mãos no rosto.

MULDER: - É por isso que você queria fugir... E não queria voltar pra casa. Preferia ficar na praça, na sala de interrogatório. Porque ela mantinha você em cárcere privado.

Jasmine senta-se na cama. Tira a outra munhequeira, revelando o outro pulso também machucado. Fica cabisbaixa, derrubando lágrimas e olhando para os pulsos.

JASMINE: - Quando eu tinha dez anos, minha avó morreu e tia Kitty ficou como minha responsável. Então ela me prendeu no sótão. Foram sete anos de prisão... Eu via o mundo apenas pela janela. Pelos livros, pelas revistas, pelas músicas altas que o vizinho escutava... O vizinho é fã do Coldplay, tem um poster no quarto, que eu via da minha janela, foi como eu descobri o nome da banda...Sem televisão ou rádio porque é coisa do capeta.

MULDER: - (ATORDOADO) ...

JASMINE: - Depois que eu fiz 17 anos, pensei que teria alguma chance pra sobreviver lá fora, já tinha idade suficiente pra isso. Decidi que precisava fugir ou passaria o resto da vida ali. Esperei ela me trazer o café. Quando ela saiu, passei a margarina do pão nos pulsos e... Feri meus pulsos, mas me soltei. Juntei minhas coisas naquela mochila e fugi pela janela, rumo ao mundo. Então Alec Bailey se meteu em meu caminho e estragou meus planos.

Mulder morde os lábios segurando as lágrimas.

JASMINE: -Quando você me levou pra casa, tia Kitty me trancou no sótão novamente. Mas eu tinha guardado a maionese do lanche que você me trouxe, e consegui fugir de novo, até que o pai de Bailey me pegou e você estava lá e viu o resto da história.

MULDER: - (INCRÉDULO) Por que não me disse isso antes? Por que me escondeu uma coisa séria como essa?

JASMINE: - ... Eu não queria envolver você, você ia acabar me tocando e morrendo por isso! Não tem convento algum, é a ameça que ela usa. Ela vai me prender novamente naquele sótão. Eu só quero fugir, Mulder. Ver esse mundo, ter a minha vida. Se tia Kitty for presa, eu vou pra algum abrigo de menores e não quero mais me sentir presa. Eu quero viver tudo o que eu não vivi até agora! Por isso eu prefiro dormir sentada num banco de praça, numa delegacia, a ter que dormir sentada no chão aos pés de uma cama. E sua presença me fez sentir protegida da maldade da minha tia. Lição número 5, mocinho: Seu coração gentil me libertou. Ainda acha que não é o meu príncipe? Que não temos o direito de viver esse momento?

Mulder a abraça fortemente. Jasmine sorri entre lágrimas.

JASMINE: - Eu quero sorrir hoje. Quero aproveitar esse momento com você. Eu preciso me sentir segura, amada... Assim como você tá precisando.

MULDER: - Jasmine, transar com você faz de mim um kamikaze?

JASMINE: - O que está fazendo nenhum homem faria sabendo das consequências.

MULDER: - Eu disse, hoje eu topo morrer por um carinho...

JASMINE: - E eu entendo. Porque também aceitaria a morte por esse preço.

MULDER: - Você vai embora... E eu vou morrer. Portanto... É a sua primeira vez e a minha última. Então, sem pressa. Que seja inesquecível.

JASMINE: - (APAIXONADA) Você é louco, Mulder... E eu adoro isso em você!

Corte.


Mulder, ajoelhado na cama, afrouxa a gravata. Jasmine se reclina com os cotovelos no colchão, observando ele com curiosidade. Mulder tira a gravata e joga pra trás, numa cara de deboche. Jasmine sorri. Mulder começa a desabotoar a camisa, olhando pra Jasmine. Ela sorri, colocando o travesseiro sobre o rosto. Mulder sorri. Ela atira o travesseiro no chão e ajoelha-se na cama, ajudando ele a abrir a camisa. Mulder desce a camisa. Jasmine se deita na cama, apreensiva, olhando pra ele. Mulder joga a camisa pra trás, mas esquece de desabotoar uma das mangas e a camisa fica presa. Jasmine ri alto. Mulder, num ar debochado, desabotoa o punho e atira a camisa no chão. Jasmine olha marota pra ele.

MULDER: - Eu tô doido mesmo. Não posso estar no meu juízo perfeito. Você me tira a razão.

Jasmine sorri. Mulder leva a mão ao rosto dela, a chamando pra um beijo. Jasmine se entrega ao beijo. Mulder aprofunda o beijo com a língua, inclinando-se sobre ela. Jasmine permite. Mulder desliza as mãos em carícias pelo corpo dela e os lábios pelo pescoço e ombro de Jasmine, que suspira. Mulder leva as mãos até a camiseta de Jasmine, a erguendo.

MULDER: - (SORRI SURPRESO) Uau! O que temos por aqui, um piercing no umbigo?

JASMINE: - (RINDO) Eu vi uma foto numa vitrine e achei legal. Resolvi fazer como uma forma de sair desse lugar deixando o passado para trás. Gostou?

MULDER: - (SORRI SACANA) Não provei ainda...

Ela solta uma risada. Mulder desliza os lábios pela barriga de Jasmine. Leva a língua ao piercing no umbigo. Jasmine fecha os olhos, se contorcendo.

JASMINE: - (RINDO) Hum... Isso é bom...

MULDER: - (SORRI) Claro que é bom... É como sorvete, depois que você experimenta fica viciado.

JASMINE: - (RINDO) Mas eu não posso mais fazer isso. Onde vai haver outro kamikaze?

MULDER: -(SORRI) Sempre tem um Mulder maluco perdido nas esquinas da vida...

Mulder sobe os lábios pelo corpo dela. Jasmine tira a camiseta, ficando apenas de lingerie.

JASMINE: - (SORRI) Seja bonzinho comigo.

MULDER: - Eu sempre sou bonzinho... Espera. Tem alguma coisa me incomodando aqui... (LEVA A MÃO AO BOLSO DAS CALÇAS) ...

JASMINE: - (RINDO) ...

MULDER: - (SORRI) Não se empolgue ainda, não é o que está pensando... Eu tô me segurando pra isso durar mais tempo.

Mulder leva a mão ao bolso das calças, tirando algumas moedas e as coloca no criado mudo. Volta a beijar Jasmine, que passa as mãos nas costas dele. Mulder beija o pescoço dela, levando suas mãos pelo corpo dela. Jasmine suspira, retribuindo em carícias no corpo dele. Mulder dirige a atenção pras moedas sobre o criado mudo.Lembranças vem em sua mente.

DELEGADO JONES (OFF): - Ela é bonitinha, não acha? Uma tentação em forma de menina... Aquela saia curta pedindo por mãos afoitas... A doçura da ingenuidade misturada a curiosidade do amor... Ela cheira a sexo.... Vai ficar aqui sozinho com ela, seu sortudo? É, você tem a oportunidade perfeita. Boa sorte!

DELEGADO JONES (OFF): - Eu sei que isso se passa na sua cabeça, mesmo que lhe custe a vida, dar uma boa trepada com Jasmine. Afinal de contas, você está abandonado, sozinho, tudo o que mais quer no momento é se sentir homem de verdade. Vamos, sei disso. Também sou homem.

Jasmine desliza as mãos pelas costas de Mulder. Começa a beijar o peito dele. Mulder deita-se de costas, fechando os olhos. Jasmine sobe nele e começa a explorar o peito de Mulder com os lábios e mãos. Mulder envolve a mão nos cabelos de Jasmine. Abre os olhos fitando o nada. Mais lembranças.

DELEGADO JONES (OFF): -Ok, vamos falar seriamente. Você e Dana estão separados. Ela está tentando fazer a vida e você fica ao redor, atrapalhando tudo. Não se dá conta do quanto é egoísta? Está aí com os hormônios saltando por aquela menina e eu acho isso muito compreensível. Então por que não se resolve com a garota de uma vez e deixa Dana livre?

DELEGADO JONES (OFF): -Quer você queira ou não, Dana precisa viver. Longe de você, que é um maldito mentiroso e egoísta. Você fica acusando Dana de usá-lo, mas e se dá conta de que a está usando também? Você a está privando de coisas que está doido pra fazer!!! Posso saber pouco de vocês dois. Mas eu sei o tanto de dor que está causando na vida de Dana. E eu quero que você caia fora da vida dela, porque você é um câncer que a corrói todos os dias!

Mulder começa a ficar perturbado. Jasmine continua lhe fazendo carícias.

DELEGADO JONES (OFF): -Instinto assassino, agente Mulder? Isso é bom, eu gosto.

DELEGADO JONES (OFF): -Acho melhor você liberar seus hormônios com a garotinha. É o que está precisando. Admita! Melhor morrer que viver infernizando a vida da sua ex-mulher! E ela pode criar a filha de vocês, muito melhor que você!

Mulder fecha os olhos, incomodado. Jasmine continua explorando o corpo dele. Mulder perdido em lembranças.

FLASH BACK:

Mulder desce do carro. Aproxima-se da porta de Scully. Bate. Scully, vestida em seu tailleur abre a porta.

SCULLY: - O que quer aqui?

MULDER: - Pensei em conversar como dois adultos.

SCULLY: - Lamento. Pensou errado. Nem diversão eu quero mais com você. Preferia que estivesse morto, Mulder. É... Porque estando morto, eu posso ter a chance de viver em paz.

Scully bate a porta na cara de Mulder. Mulder suspira. Cabisbaixo, anda até o carro. Olha pra porta do quarto. Volta. Ameaça bater, mas aproxima-se da janela. As cortinas entreabertas. Mulder vê Jones dormindo ao lado de Scully que está vestida com um robe. Mulder põe a mão sobre os lábios. Recua, incrédulo, enchendo os olhos de lágrimas.


TEMPO REAL:

Mulder abre os olhos.

MULDER: - Como ela podia estar vestida num tailleur e em questão de segundos, estar vestida num robe?

JASMINE: - Do que está falando?

Jasmine acaricia o rosto de Mulder. Mulder fecha os olhos.

MULDER (OFF): - O delegado Jones está no caso...

MR. BAILEY (OFF): - (NERVOSO) Não conheço nenhum delegado Jones! Pare aí! Não se aproxime!

MULDER (OFF): - Onde está o delegado?

POLICIAL MULHER (OFF): - (SÉRIA) Será que só você não sabe?

MULDER (OFF): - Lamento, colega. Espero que não tenha morrido em ação... Eu é quem vou morrer se não conseguir um café por aqui!

Mulder empurra Jasmine. Jasmine olha assustada pra ele.

JASMINE: - O que eu fiz de errado? Não tá gostando?

MULDER: - Acredite, Jasmine, eu tô gostando, mas a gente precisa parar com isso agora.Droga, Jasmine! Como eu não vi isso antes?

JASMINE: - O quê?

MULDER: - Preciso ir. Fique aqui, estará segura.

Mulder se levanta e começa a vestir a camisa.

JASMINE: -(DESESPERADA) Não vá! Você vai morrer!!!

MULDER: - Você tem razão e eu não posso morrer agora. Não agora. Coloca sua roupa e vem comigo. Eu explico tudo no caminho. Você me protege e eu protejo você.


Delegacia de Judas Lost the Boots – 8:59 A.M.

Mulder entra na delegacia de mãos dadas com Jasmine. A policial que conversa com Krycek no balcão, arregala os olhos. Krycek vira-se. Ao ver Mulder com Jasmine, leva a mão à testa.

KRYCEK: -Mulder, que merda você fez? Perdeu o juízo? Mulder, seu desgraçado infeliz, você levou a sério demais a coisa de ser o "Terror da Virgínia", ok? Espero que não morra a qualquer momento deixando essa merda toda nas minhas mãos! Eu tenho algo importante pra dizer...

Krycek aspira o ar, num sorriso bobo, olhando pra Jasmine.

MULDER: - Já sei o que vai dizer, Krycek. E enquanto Jasmine estiver perto de mim, nada vai me acontecer. Não posso desgrudar dela. E você fique afastado dela para não cometer besteira.

KRYCEK: - A mesma que você cometeu? Espero que tenha valido a pena morrer... (SUSPIRA) Pela Mena Suvari... Ah vale!

MULDER: - Krycek, pra longe, ok? Já está afetando você!

JASMINE: - (TRISTE) Pelo jeito do seu amigo aí, a minha maldição continua...

Krycek se afasta um pouco. Mulder olha para o porta-retratos no balcão. O telefone da delegacia começa a tocar.

MULDER: -Como o delegado morreu?

POLICIAL MULHER: -Ele teve uma parada cardíaca.

MULDER: - E há quanto tempo estão sem delegado?

POLICIAL MULHER: - Há um mês. Eu estava explicando ao seu parceiro aí... Desculpe, preciso atender.

A policial se afasta pra atender o telefone.

MULDER: - Nunca existiu um delegado Jones. Era ele. O cara da moeda!

KRYCEK: - Era o que eu estava tentando avisar, mas você deixou o celular desligado... (OLHA PRA JASMINE) ... Bom, é compreensível...

MULDER: - (IRRITADO)Idiota! Eu sou um idiota!

KRYCEK: - Eu sou o idiota aqui, porque Barbara havia me dito uma vez que Albert se parecia com o Richard Gere e eu achei que era brincadeira!

Mulder chama Krycek com a mão. Sem desgrudar da mão de Jasmine, se afasta um pouco dela e começa a cochichar com Krycek.

MULDER: -O filho da mãe estava tentando me separar da Scully. Ele ficou o tempo todo dando em cima dela, tentando Scully, e me jogando pra cima da Jasmine. O desgraçado parece o capeta do jeito que me tentou a cometer o crime! E eu quase que cometo!

KRYCEK: - (PENSATIVO) Mulder... Ele não tentou só você.

MULDER: - (PÂNICO) ...

KRYCEK: - Ficou falando que eu deveria aproveitar sua ausência pra ter a Scully... Ele deu a entender que sabia coisas sobre mim, até pensei que Scully tivesse falado alguma coisa pra ele. Quando cheguei lá, ele estava tentando Scully a transar com ele.

MULDER: - Eu vi Scully com ele na cama. Eu já nem sei se era com a Scully que falei, eu... Eu sei lá... Não faz sentido... Ela não podia estar dormindo vestida de um jeito e ter ido abrir a porta vestida de outro bem acordada e...

KRYCEK: - Impossível, Mulder! Scully não dormiu com ele. Quando eu cheguei, o expulsei do quarto, ainda coloquei Scully pra dormir, ela disse que estava se sentindo tonta...

Os dois se olham assustados. Mulder volta pra perto de Jasmine.

KRYCEK: - Eu tenho medo desse cara. Ele é satanista. Não sei que droga ele invoca, mas eu avisei você que estava com a sensação de maldade na volta.

MULDER: - Rato, vaipro motel. Pega a Scully. Me encontre na frente da casa de Jasmine. Pegue tudo, porque vamos dar o fora dessa cidade o mais rápido possível!

KRYCEK: - Vamos embora agora! Leve ela com você.

MULDER: - Eu preciso fazer uma coisa antes, me espere com Scully na frente da casa dela, ok?

Jasmine os observa.

KRYCEK: - Mulder, você entendeu que vai morrer? Não vai poder ficar o tempo todo agarrado nessa garota.

MULDER: - Quando isso acontecer, me promete uma coisa. Cuida da Scully e da Victoria pra mim.

KRYCEK: - Mulder...

MULDER: - Eu sei que está apaixonado pela Barbara. Espero que vocês se entendam e sejam felizes. Mas cuida das minhas meninas por mim, ok?

KRYCEK: - (RESPIRA FUNDO)Eu prometo, Mulder.

MULDER: -(TRISTE) Não me condene pelo que fiz, Krycek. Você não sabe o desespero que me assombra.

KRYCEK: -(SORRI SEM GRAÇA) Quem sou eu pra condenar alguém, Mulder?

Krycek leva a mão no bolso de trás do jeans e tira um par de algemas. Tira a chave também. Entrega pra Mulder.

KRYCEK: -Coloque isso nela e em você.Só pra garantir. E Mulder... Não use essa chave. Só se realmente não tiver outra escolha. Enquanto está vivo, as escolhas existem.

Krycek dá um tapa nas costas de Mulder e sai da delegacia.


Residência dos Bailey - 9:39 A.M.

Kitty abre a porta. Mulder entra algemado em Jasmine.

MULDER: - Podemos conversar?

KITTY: - Ah, meu Deus! Você tocou nela! Seu desgraçado, você tocou nela! Eu vou processar você, está me entendendo? Vou chamar a polícia agora!

Mulder olha pra Jasmine.

MULDER: - Vamos pegar suas coisas?

Jasmine sorri. Kitty se põe na frente deles.

KITTY: - Você vai morrer seu imbecil! Não tem vergonha na sua cara? Ela é uma menina, você um velho!!!

MULDER: - (DEBOCHADO) Eu sei. E vou levar ela embora comigo. Pode me processar. Com sorte eu fico vivo pra pagar a fiança, o processo não sei.

Jasmine começa a rir. Kitty nervosa, olha pra todos os lados. Se aproxima de costas pra lareira.

JASMINE: - Meu príncipe veio me salvar, sua bruxa velha!

Kitty sorri.

KITTY: - E quem vai salvá-lo?

Kitty pega o atiçador e acerta vários golpes na cabeça de Mulder.

Corte.


Jasmine chorando ao lado de Mulder, que está desacordado no chão, com a cabeça sangrando. Kitty se aproxima dela e acerta várias bofetadas.

KITTY: - Quem pensa que é, sua prostituta perdida?

Kitty revira os bolsos de Mulder e acha a chave das algemas. Mostra pra Jasmine, num sorriso.

JASMINE: - (DESESPERADA) Não!!!!!!

Jasmine se atira em cima de Mulder. Kitty a puxa pelos cabelos. Jasmine tenta impedir, com socos, tapas e mordidas. Kitty acerta o atiçador na cabeça dela. Jasmine cai desmaiada em cima de Mulder. Kitty abre as algemas.

KITTY: -Depois que ele morrer, você volta para o seu sótão. Não antes de um banho bem frio para esfriar seus hormônios adolescentes e pecaminosos.

Kitty arrasta Mulder pra longe de Jasmine.


10:11 A.M.

Kitty abre a porta. Krycek e Scully parados ali.

KITTY: - Pois não?

KRYCEK: -Podemos conversar com Jasmine?

KITTY: - Não sei onde ela está.

SCULLY: - Estranho... Meu parceiro disse que viria com ela até aqui.

KITTY: - Não sei disso. Nem os vi.

Scully empurra Kitty e entra na casa. Krycek atrás dela.

KITTY: -Vocês não tem um mandado pra invadir a minha casa! Saiam agora daqui!

SCULLY: - Senhorita Bright...

KRYCEK: - Temos sim.

Scully olha incrédula pra Krycek que retira um papel dobrado do bolso e mostra pra Kitty, que começa a ficar nervosa. Krycek troca um olhar com Scully, pisca o olho e guarda o papel. Scully afirma com a cabeça.

KITTY: - Eu não sei o que está havendo. Mas se quer prender alguém, prenda aquele demônio e o parceiro de vocês! Seja o que for, essa mentirosa está inventando coisas para me culpar!!!!

Krycek sai pela casa, abrindo portas. Kitty fica nervosa e corre pra porta de entrada. Scully se põe na frente da porta. Tranca a porta e segura a chave.

SCULLY: - Estou armada, senhorita Bright! O que fez com o Mulder? Ahn? Se não disser, eu juro que atiro em você e digo que reagiu!

KRYCEK: - (GRITA) Achei ele! Na cozinha!

Corte.


Scully tenta acordar Mulder, que está caído no chão.

SCULLY: - Mulder... Mulder, acorda. Está me ouvindo?

Mulder abre os olhos.

MULDER: - Onde está Jasmine?

SCULLY: - Krycek e eu reviramos a casa toda, ela não está aqui, Mulder.

MULDER: -Scully, você não sabe o que aquela louca faz com a garota...

Mulder se levanta, quase caindo. Scully o ajuda.


Corte.

Na sala, Kitty discute com Krycek.

KITTY: - Eu já falei, a freira veio aqui e a levou!

KRYCEK: - Freira rápida essa. Tem certeza de que não era o Batman?

KITTY: - Eu sou a tia de Jasmine! Eu tenho a guarda dela. Nunca faria mal pra minha sobrinha, seja lá o que aquela desmiolada falou pra vocês!

Scully e Mulder entram na sala.

SCULLY: - Senhorita Bright, acho melhor ficar calada. Temos uma acusação de que está mantendo uma menor em cativeiro!

KITTY: - Eu não vou me calar! Já que querem me processar também vou processar seu parceiro! Ele estava com ela! Sabia disso? Sabia que esse seu colega aí é um aproveitador de menores? (APONTA PRA MULDER) Vou chamar a polícia e denunciar você por abuso sexual! Isso é estupro!

Mulder vai abrir a boca, Scully se adianta.

SCULLY: - Pode processá-lo. Sou médica, faço todos os exames legais e calo sua boca no mesmo instante. Além disso, processo você por perjúrio e por manter uma menor em cárcere privado. Vamos ver quem vai pra cadeia!

Mulder olha pra Scully, incrédulo. Scully pisca o olho e lhe sorri com ternura. Mulder devolve um sorriso meigo, olhando pra ela, apaixonado. Scully respira fundo, feliz. Krycek observa os dois e segura o riso. Mulder olha para as escadas. Kitty percebe. Kitty corre subindo as escadas. Scully corre atrás dela.

SCULLY: - Volte aqui, senhorita Bright! Não tem pra onde fugir!

Mulder, num insight, sobe as escadas correndo. Tropeça no último degrau. Krycek vira o rosto, pressentindo o pior. Scully, mais rápida, segura Mulder antes que ele bata com a cabeça na quina de um balcão. Os dois trocam um olhar assustado.

SCULLY: - (NERVOSA)Mulder... Tome cuidado.

MULDER: -(MEDO) Essa foi por muito pouco. Que morte idiota eu teria.

Kitty puxa uma cordinha e desce a escada do sótão. Sobe rapidamente. Mulder sobe atrás dela, mas ela tranca o alçapão do sótão. Mulder dá de ombros, mas não consegue abrir.

SCULLY: -Mulder, tome cuidado! Eu vou descer! Ela vai fugir pela janela!

Scully desce às pressas, puxando a arma. Mulder tenta arrombar o alçapão. Krycek aproxima-se.

KRYCEK: - Quer ajuda?

MULDER: - Não! Ajude a Scully!

Mulder consegue arrombar o alçapão e entra no sótão.

Jasmine, mãos acorrentadas, parada na janela, olhando pra fora e derrubando lágrimas. Kitty acuada, com as mãos atrás das costas, olha pra Mulder.

KITTY: - Não... Não... Vocês todos são uns demônios! (GRITA) Todos!!!!!!!! Todos uns miseráveis, uns malditos miseráveis felizes e belos!!! Eu roguei uma maldição pra você sim, sua vadia! Você e sua mãe tiraram o meu irmão de mim! Vocês eram lindas! Por causa de uma gravidez, ele voltou pra sua mãe! Se você não tivesse nascido, desgraçada, meu irmão estaria comigo! Se eu não podia ter filhos e um marido, porque eu sempre fui feia, você nunca teria!!!!!!!!

MULDER: - (IRRITADO) Você é louca. Completamente louca!!!

Kitty começa a rir. Leva às mãos à frente do corpo, segurando a pequena garrafa redonda dos sonhos de Jasmine.

KITTY: - Sabe o que é isso? Sua maldição, prostituta. E agora, eu vou invocar uma maldição pra todos eles também!

Mulder arregala os olhos. Jasmine grita desesperada, tentando se soltar. Mulder avança em Kitty, os dois brigando pela garrafa. Mulder vence, pegando a garrafa, mas Kitty puxa de volta e sem querer deixa a garrafa cair ao chão. Mulder recua assustado, acompanhando algo no chão, que desce as escadas do sótão rapidamente que nem é possível acompanhar com os olhos. Mulder olha pra Kitty. Kitty acena negativamente com a cabeça e recua, tropeçando e caindo pela janela. Jasmine olha pra Mulder. Mulder olha pra ela, os dois incrédulos e assustados.

Corte.


Scully e Krycek em frente a porta da frente, observando o corpo de Kitty transpassado pelas grades do jardim. O pequeno diabinho sai correndo pra fora da casa, passando entre eles e sumindo entre os arbustos. Krycek e Scully olham um pro outro, assustados.


4:11 P.M.

Jasmine, mochila nas costas, parada perto do ônibus. Mulder em frente a ela, com uma bandagem na cabeça e as mãos nas costas segurando um embrulho. Scully e Krycek mais atrás.

MULDER: - Se precisar de algo... Tem meu número. Ligue.

Mulder entrega o embrulho pra Jasmine.

JASMINE: - (SORRI/ CURIOSA) O que é?

MULDER: - (SORRI) Pra você. Mas só abra quando estiver na estrada.

Jasmine abraça Mulder. Mulder retribui o abraço. Os dois se afastam.

MULDER: - Vou sentir saudades.

JASMINE: - Eu também... Agradeço tudo o que você fez por mim, Mulder. Pena que não tenhamos...

MULDER: -Agradeço pelo que você fez por mim. Eu não era o cara certo. Mas me diverti. Jasmine, nem sempre a brincadeira precisa ir até o fim pra ser divertida.

JASMINE: - (SORRI) Fico feliz que tenha acabado com a maldição antes de morrer... Eu sabia que você era um cavalheiro. Que era o príncipe que me salvaria das garras da bruxa que me mantinha na torre do castelo.

MULDER: - (SORRI) Esqueci a espada e o cavalo, Lady Jasmine... Me promete que vai ser feliz? Que vai viver intensamente? Vai correr atrás dos seus sonhos?

JASMINE: - Se me prometer que também vai ser feliz, viver intensamente e... (OLHA PRA SCULLY) E vai continuar correndo atrás do seu sonho.

MULDER: -Eu prometo. Aprendi algo com você. Que a vida tem que ser mais engraçada. Estava ficando muito sério.

JASMINE: - ... Os contos de amor sempre terminam com o príncipe beijando a princesa e vivendo felizes para sempre. Não vamos terminar juntos, mas eu tenho direito ao último beijo?

Mulder olha pra trás. Scully disfarça e olha para outro lado. Mulder olha pra Jasmine. Aproxima os lábios, beijando-a suavemente. Krycek olha incrédulo pra Scully. Scully pisca o olho pra ele. Krycek acena negativamente com a cabeça.

KRYCEK: - Vocês dois me deixam maluco... Larguei vocês!

Mulder solta os lábios de Jasmine, olhando ternamente pra ela. Jasmine passa a mão no rosto dele. Entra no ônibus. Mulder, parado, a observa triste. Scully se aproxima, com as mãos atrás do corpo e dá um encontrão proposital em Mulder.

SCULLY: - (DEBOCHADA) Ela é muito nova pra você, 'Jerry Lee'. E nem tinha 'grandes bolas de fogo'. Ela o teria derrubado no primeiro round. Placar desmoralizante: Zero para o quarentão e 10 para a ninfeta.

MULDER: - (DEBOCHADO) Tem certeza?

SCULLY: -Não. Mas acho mais engraçado esculhambar você sexualmente.

Jasmine acena pra eles pela janela do ônibus. Eles acenam pra ela. Jasmine atira um beijo pra Mulder. Mulder atira outro. O ônibus parte. Krycek se aproxima.

KRYCEK: - Ainda não entendi o que aconteceu. Eu vi, mas nem sei se eu vi o que penso ter visto...

MULDER: - O que você viu é o fruto de um pacto de troca que as pessoas fazem com o diabo. Na maioria das vezes, as pessoas pedem riqueza, mas pedem outras coisas também, e em troca dão a alma ao diabo.

KRYCEK: - Mas aquilo que saiu correndo...

MULDER: - Após feito o pacto a pessoa tem que conseguir um ovo que dele nascerá um diabinho, mas não se trata de um simples ovo de galinha, e sim um ovo fecundado pelo próprio diabo. Segundo a literatura sobre o assunto, o Diabinho da Garrafa nasce de um ovo colocado não por uma galinha e sim por um galo, e esse ovo seria do tamanho de um ovo de codorna.

SCULLY: - (REVIRA OS OLHOS) Você não acredita nessa besteira, Mulder!

MULDER: - Dizem que pra conseguir o suposto ovo, a pessoa deve procura-lo durante o período da quaresma, e na primeira sexta-feira vai até uma encruzilhada, à meia noite, com o ovo debaixo do braço esquerdo. Após passar o horário retorna para casa e deita-se na cama. No fim de 40 dias aproximadamente, o ovo é chocado e nascerá o diabinho. A pessoa coloca-o logo na garrafa e fecha. Com o passar dos anos o diabinho satisfaz o pedido do seu dono, e no final da vida leva a pessoa para o inferno.

SCULLY: -(INCRÉDULA) Mulder, o fato de eu não ter uma explicação científica pra isso não prova que essa loucura que você diz exista! Galos colocando ovos, ovos fecundados pelo diabo, pactos em encruzilhadas... Isso é completamente ilógico e nada racional!

MULDER: - (DEBOCHADO) É o que a literatura diz, Scully. Agora se eu acredito no que a literatura diz, isso é outra coisa bem diferente.

Krycek se afasta, coçando a cabeça, completamente perdido e intrigado. Volta. Olha debochado pra Mulder.

KRYCEK: - Já que você teve o direito de beijar alguém... Será que eu também tenho?

Mulder olha debochado pra ele.

MULDER: - Pode me beijar também 'amorzinho'. Sei que é costume russo.

Mulder faz beicinho. Scully ri. Krycek ergue a mão com repulsa.

KRYCEK: - Sem graça! Eu queria beijar uma princesa e não um sapo!

Krycek se afasta. Mulder olha pra Scully.

MULDER: - Por que colocou a mão no fogo por mim quando disse aquilo pra Kitty?

SCULLY: - Porque eu sabia que não tinha transado com Jasmine.

MULDER: - E como sabia, se eu estive num motel com ela? Quem garante a você que não transamos?

SCULLY: - Eu conheço você, Fox Mulder. Nunca vai até o fim, você fica culpado, começa a pensar e refletir.

MULDER: -(SÉRIO) Eu ia fazer.

SCULLY: - Eu sei. Não o culpo. Ela era uma tentação e...

MULDER: - E se eu tivesse feito, mudaria algo entre nós? Quer dizer, se você me amasse, isso mudaria a confiança que tem em mim?

SCULLY: - Mulder, se eu amasse você ainda... Bem... Eu perdoava. Eu dei a chance de isso acontecer. Praticamente atirei você nos braços dela.

MULDER: -Mas e sem esse tipo de argumento... Me acha um canalha?

SCULLY: - Não, não acho. Em circunstâncias normais, se estivéssemos juntos, eu perdoaria e... Mulder, sei que a única menina má que você gosta é aquela menina má muito experiente. Completamente experiente... (PISCA O OLHO) Shake, baby... Shake... Oh, yes!

Scully se afasta. Mulder dá um sorriso.

Corte.

[Som: Coldplay - Clocks]

A mochila e o pacote de presente aberto sobre o banco ao lado, revelando uma caixa de Discman. Um CD do Coldplay.

Jasmine sentada dentro do ônibus, segurando o aparelho e com os fones no ouvido. Jasmine abre a mochila e retira a gravata de Mulder. A envolve no pescoço, levando uma ponta ao nariz, aspirando o perfume. Olha pela janela num sorriso.

Corte.


Krycek dirige o carro. Scully no banco do carona. Mulder atrás. Scully observa a paisagem. Mulder a observa. Scully leva a mão à perna de Krycek. Krycek empurra a mão dela. Scully insiste e novamente Krycek a afasta, olhando pra Mulder pelo retrovisor, que observa calado a cena.

KRYCEK: - O "tempo" já mudou novamente, Mulder.

MULDER: - Percebi. Vai fazer alguma coisa hoje à noite? Temos algo pra fazer juntos.

KRYCEK: - Eu sei. Passo na sua casa... Achou sua gravata?

MULDER: - Revirei tudo e nada. Só posso ter esquecido no motel.

Scully cerra o cenho.

SCULLY: - Ah! Vocês tem algo pra fazerem juntos... Já esqueceu sua ninfetinha e resolveu voltar pro seu amante, Mulder?

KRYCEK: - Eu estou dirigindo agora, Scully. Quer ficar na estrada? Porque se me chamar de gay eu chuto você pra fora desse carro!

SCULLY: - Eu só quero entender qual é a de vocês dois! Que tanto encontro e conversinha! Quem se apaixonou primeiro, ahn? Aposto que o Mulder!

Mulder reclina-se no banco, fechando os olhos, em lembranças.

MULDER (OFF): - Eu? Eu agressivo? Pensei que a agressividade viesse de sua parte. Afinal, é você quem não acredita mais em Deus. (DEBOCHADO) Quem sabe o diabo anda encostado em você? Ahn? Afinal só quer sexo, luxúria, prazer e se contenta em ferir, magoar e destruir todo mundo!

X

11/10/2002





12. Oktober 2019 13:00 0 Bericht Einbetten Follow einer Story
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Das Ende

Über den Autor

Lara One As fanfics da L. One são escritas em forma de roteiro adaptado, em episódios e dispostas por temporadas, como uma série de verdade. Uma alternativa shipper à mitologia da série de televisão Arquivo X.

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