lara-one Lara One

O que pode acontecer quando o FBI cai em cima de nossos agentes, Skinner tira uma folga e Kersh começa a atacar o relacionamento de Mulder e Scully diante do novo diretor? Um caso chato, completamente burocrático, sem coisinhas, com muita ‘tensão nervosa’ e ainda muito estímulo auditivo provocando a imaginação de todos... e principalmente a de vocês... Um dia diferente no FBI...


Fan-Fiction Series/Doramas/Soap Operas Nur für über 21-Jährige (Erwachsene).

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S05#04 - LET ME HEAR...

(MAYBE I REAL UNDERSTAND)



INTRODUÇÃO AO EPISÓDIO:

FBI – 7:29 A.M.

[Som: The Clash – Should I Stay or Should I Go]

[Fade out]

Close dos pés masculinos calçados com sapatos chiquérrimos, descendo as escadas no compasso da música.

É Kersh descendo as escadas, numa fisionomia séria e furiosa. Caminha com uma pasta na mão, dirigindo-se até a sala dos Arquivos X. Depara-se com Chuck, de ouvido encostado na porta, rindo. Mais uns 10 agentes ali, também rindo baixinho, empolgados, na maior bagunça. Orelhas coladas na porta, na maior disputa de espaço, aos empurrões e risadinhas.

KERSH: - O que está acontecendo por aqui?

Eles levam um susto. Saem rapidamente, disfarçando. Kersh os fulmina com os olhos. Balança a cabeça negativamente, com a sua tradicional cara mal humorada. Aproxima-se da sala.

MULDER (OFF): - Ahhhhhhhhhhh, Scully!!!!!!!!!!!!!!!

Kersh para. Catatônico.

SCULLY (OFF): - Assim?

MULDER (OFF): - Não...

SCULLY (OFF): - Eu não consigo!

MULDER (OFF): - Scully, tem que ser com jeitinho! Devagarzinho...

SCULLY (OFF): - Assim?

MULDER (OFF): - Não. Espera aí, vamos começar novamente. Presta atenção, eu não vou repetir de novo ou sou o primeiro a explodir por aqui!

SCULLY (OFF): - Tá.

MULDER (OFF): - Pega. Mas pega de jeitinho... Assim...

Kersh tira os óculos, encostando mais o ouvido na porta, incrédulo.

SCULLY (OFF): - Peguei.

MULDER (OFF): - Agora segura com carinho. Pega direitinho, com cuidado... Assim... Fica calma, eu sei que é grande, mas você precisa segurar firme... Usa as duas mãos... Calma...

SCULLY (OFF): - Tô segurando... com todo o carinho.

Kersh fica boquiaberto. Olha pra porta. Coloca os óculos. Vira-se de novo e cola a orelha na porta, escutando.

MULDER (OFF): - Tá... Agora puxa bem devagar... Primeiro pra cima... isso... agora pra baixo, um pouquinho... calma...

SCULLY (OFF): - Assim?

MULDER (OFF): - Sim... Sim... Scully, você tem que levar pra cima e pra baixo. Tem que soltar...

SCULLY (OFF): - Tá... Vou tentar...

MULDER (OFF): - Cuidado, Scully! Isso aí não é pra você ficar brincando de qualquer jeito!

SCULLY (OFF): - Desculpe, Mulder. E agora?

MULDER (OFF): - Agora, com cuidado, quero que erga seu corpo.

SCULLY (OFF): - Tá bom assim?

MULDER (OFF): - Não tem outra posição melhor?

SCULLY (OFF): - É a única que consigo fazer estando em cima de você!!!

Kersh tira os óculos, incrédulo.

MULDER (OFF): - Você não é nenhum pouquinho criativa, não é, Scully? É só usar a cabeça e tentar imaginar!

SCULLY (OFF): - Mas Mulder, eu sou novata nisso! E agora?

MULDER (OFF): - Pega com a boca.

SCULLY (OFF): - ... Ahn... (BOCA CHEIA) 'Axim'?

MULDER (OFF): - É. Agora com cuidado, Scully, muito cuidado. Vai devagar... Ah, Deus!

SCULLY (OFF): - (BOCA CHEIA) O que eu 'faxo' agora, Mulder?

MULDER (OFF): - Solta bem devagar... Assim... Assim...

SCULLY (OFF): - Fiz certo?

MULDER (OFF): - Certinho. Agora quero que roce seu corpo por cima do meu. E vai descendo... assim... descendo aos pouquinhos... subindo... descendo... subindo... descendo...

SCULLY (OFF): - Mulder, isso é a coisa mais doida que eu já fiz!

MULDER (OFF): - Agora vai descendo com calma... Sem pressa...

SCULLY (OFF): - ... Oh, Deus!

MULDER (OFF): - Mexe um pouquinho mais!

SCULLY (OFF): - Eu não consigo mexer mais!

MULDER (OFF): - Mas nem pra mexer você serve?

SCULLY (OFF): - Para Mulder, ou eu vou morder você!

MULDER (OFF): - Au!

SCULLY (OFF): - Para, tá? Eu nunca fiz isso antes.

MULDER (OFF): - Tá legal, Scully. Ainda bem que sua primeira vez foi comigo. Sou um expert nessas coisas.

SCULLY (OFF): - Já fez muito disso?

MULDER (OFF): - Shi, até já perdi a conta!

SCULLY (OFF): - Quem estava no meu lugar?

MULDER (OFF): - Uma vez um homem.

Kersh arregala os olhos. Deixa a pasta cair no chão.

SCULLY (OFF): - Ahn?

MULDER (OFF): - Vai, Scully... Vai descendo... Mexe mais um pouquinho... Isso...

SCULLY (OFF): - (SORRI) Tô conseguindo!

MULDER (OFF): - Eu sei que tá. Força, Scully... Você tem que forçar...

SCULLY (OFF): - Mulder, tô com dor no corpo todo!

MULDER (OFF): - Já vai acabar, só mais um pouquinho... Deixa eu empurrar um pouco... Assim... Ai!... Scully, tá apertadinho...

SCULLY (OFF): - Eu te disse, você não me escuta... é apertadinho mesmo...

MULDER (OFF): - Vou forçar pra você, tá legal? ... Relaxa...

SCULLY (OFF): - Ai, Mulder! Você me machucou!

Kersh cerra os punhos enfurecido e entra porta à dentro.

KERSH: - Que diabos vocês dois pensam que estão fazend...

Corta para Mulder e Scully. Ele deitado no chão. Ela sobre ele, com a cabeça já em seus joelhos. Os dois amarrados, tentando se soltar. Close da bomba ao lado deles.

VINHETA DE ABERTURA: A VERDADE ESTÁ LA FORA... SÓ OUVINDO...



BLOCO 1:

Gabinete do diretor-assistente Walter Skinner – 8:11 A.M.

Scully cabisbaixa, morta de vergonha. Kersh sai batendo a porta. Skinner, sentado em sua cadeira, solta uma gargalhada. Mulder olha pra ele, debochado.

MULDER: - Tá se divertindo, né, ô aeroporto de mosquito?

SKINNER: - Hahahahahahaha... Imagino... hehehehe... A cara do Kersh... pensando... hahahahahahahaah... que vocês...

MULDER: - Ora, tenha a santa paciência! Estou amarrado com a minha parceira desde as 5 da manhã, com uma bomba que ela teve que tirar do meu peito com a boca, o bureau inteiro já tinha descido até lá e ficaram rindo atrás da porta? Podíamos ter morrido!

SKINNER: - Agradeça ao Kersh. Se eu estivesse lá e ouvisse o que ele ouviu, ia sair de fininho também!

MULDER: - Olha aqui, ô Girafão...

SKINNER: - ???

MULDER: - É, eu tô sabendo da sua fama com as garotinhas inocentes por aí na internet. Seu safado, sem vergonha, aliciador de menores. Da próxima vez espero que coloquem uma bomba na privada da diretoria.

SKINNER: - Puxa, isso não é coisa que se deseje para um amigo.

MULDER: - Não falei de você. Falei do Kersh. Quem sabe explodem o maldito rabo dele e matem logo o desejo homo reprimido estampado naquela cara mal humorada.

Skinner começa a rir de novo. Scully segura o riso.

SKINNER: - Tá, tá bom... Me recuperando... ahn... e... hahahahahahahahahaha

MULDER: - (DEBOCHADO) Ah, assim não vai dar, sinceramente. Eu quero falar sério! Ninguém me respeita mais?

Skinner continua rindo. Scully olha pra Skinner. Olha pra Mulder. Então começa a rir aos poucos, tentando se segurar, mas solta gargalhadas de Gillian. Mulder olha pra ela.

MULDER: - (DEBOCHADO) Ah, é assim? Os dois estão contra mim? Eu tenho cara de palhaço, é?

Skinner e Scully olham pra Mulder e continuam rindo.

MULDER: - O que foi? Hein?

Kersh entra na sala. Eles se calam. Scully disfarça tirando fiapos do blazer, Skinner pega um papel pra ler.

KERSH: - Poderia vir aqui fora, agente Mulder?

MULDER: - Algum problema?

KERSH: - (FURIOSO) Quero que explique como um estranho entra no prédio do Bureau Federal de Investigação e amarra uma bomba em dois agentes sem ninguém ver nada!

MULDER: - (DEBOCHADO) Pois então, isso é o que digo sempre. Seguranças têm que andar em pares como agentes. Senão, quando o cara vai ao banheiro, uma merd... uma coisa dessas acontece.

KERSH: - E como não o viram entrar? O que faziam os dois juntos aqui, sozinhos, na madrugada?

MULDER: - Sexo oral vale?

Skinner coloca as duas mãos na boca. Enfia-se pra baixo da mesa. Scully enfia a cara nas cortinas, tentando não rir. Kersh fica mais fulo. Mulder, debochado, olha pra Kersh.

KERSH: - (IRRITADO) Agente Mulder, está sendo insubordinado!

MULDER: - Mas pergunta cretina só merece resposta imbecil! Estávamos trabalhando!

KERSH: - Não pense que não sei dos comentários aqui dentro.

MULDER: - Ora, eu não sabia que o senhor gostava de fofocas...

KERSH: - Agente Mulder!

MULDER: - Se eu quisesse fazer o que está sugerindo ia fazer em casa, confortavelmente, cercado de velas aromáticas, essência pelo corpo, champanhe, colchão no chão, lençóis de cetim preto e um sonzinho romântico dos anos 80 ao fundo. É ou não é Girafão??? Estou ou não certo? O Girafão sabe das coisas...

Skinner cai na gargalhada, enfiado debaixo da mesa. Kersh sai batendo a porta, indignado. Scully cai na gargalhada também. Mulder olha pra eles.

MULDER: - Aposto que faço vocês dois pararem de rir em menos de 1 minuto.

SKINNER: - Apost... hahahaha... tado!

Skinner abre a carteira, rindo, e coloca 10 dólares na mesa. Scully faz o mesmo. Mulder olha debochado pra eles. Tira o paletó. Começa a afrouxar a gravata.

MULDER: - Ok, todo mundo tirando a roupa! Vamos dar uma festinha privê aqui e eu dou as ordens.

Skinner fica sério. Scully olha pra ele com fúria e sai porta à fora. Mulder, assoviando, pega o paletó e os 20 dólares de cima da mesa de Skinner.

MULDER: - Valeu, ô Girafão. Vou juntar tudo e comprar uma peruca estilo Bob Marley pra você.

SKINNER: - Cai fora daqui, Mulder! E para de me chamar de Girafão!

MULDER: - Se quiser me ditar uma carta, tô lá embaixo. Mas não depilei as pernas hoje, Girafão...

Skinner atira uma caixa de lenços de papel nele. Começa a rir. Mulder sai, batendo a porta. A secretária olha pra ele. Ele atira beijinho. Ela sorri e abaixa a cabeça. Mulder sai pro corredor, dançando. Os agentes olham pra ele.

MULDER: - (DEBOCHADO) O que foi? Nunca viram o Estranho? Só porque tô com um pé na cova não posso dançar? Pois saibam que a morte é o começo de uma nova vida!

Eles abaixam a cabeça, disfarçando. Mulder entra rindo no elevador. Kersh grita.

KERSH: - Agente Mulder!

Os agentes todos saem pelos cantos. Mulder olha pra Kersh, enquanto segura a porta do elevador.

MULDER: - Sim, senhor?

KERSH: - Quer fazer piada vá fazer em casa! Aqui é o FBI, não é um circo!

Mulder dá um sorriso debochado e solta as portas do elevador. O elevador se fecha.

MULDER: - FBI... (FAZENDO VOZ FEMININA) Aqui é o FBI não é um circo! ... Idiota! Aposto que ele tem todos os discos do Village People... Macho macho man... ahn! Deve ter a gaveta entupida de cuecas de couro e óculos de sol coloridos.


9:17 A.M.

Câmera de aproximação pela sala atapetada e bem organizada. A foto de J. Edgar Hoover na parede. A bandeira americana num estandarte, ao lado da bandeira do FBI.

Close do balcão de madeira nobre, coberto de troféus dados pelo FBI.

Corta para Kersh, sentado à mesa redonda, numa cadeira estofada. Em sua mão, duas pastas.

Corta para Skinner, sentado à mesa, chupando o dedo, nervoso.

Corta para o Canceroso tragando profundamente o cigarro, em pé, ao fundo da sala.

Corta para Carter, o quarentão grisalho, com os dedos das mãos entrelaçados sobre a mesa, olhando-os com curiosidade.

Kersh coloca uma pasta sobre a mesa. Na capa da pasta, pode-se ler perfeitamente 'FBI - Agente Especial Fox William Mulder - dossiê pessoal: #118-366-047.

Kersh empurra a pasta que desliza sobre a mesa até as mãos do homem grisalho do FBI.

Kersh coloca a outra pasta sobre a mesa. Pode-se ler 'FBI – Agente Especial Dana Katherine Scully - dossiê pessoal: #121-627-161.

KERSH: - Diretor Carter, são estes dois. Estão nos causando transtornos aqui dentro. Estão sob responsabilidade do diretor-assistente Skinner. Mas Skinner finge não ver o problema e por isto solicitei esta reunião.

Carter pega a pasta de Mulder. Abre-a. Começa a ler em voz alta. O Canceroso o observa, atento.

CARTER: - Nome Completo: Fox William Mulder... Número da identificação JTT047101111... Tá... Posição atual agente especial... Divisão atual: Arquivos X... Arma: Smith and Wesson 1056, 9 mm, registro...

Skinner suspira. Carter continua lendo calmamente.

CARTER: - Telefone de contato: código 202... 555-0199 .... E-mail: [email protected] ...

Kersh suspira. Olha pra ele.

KERSH: - Senhor, acho mais interessante saber ...

CARTER: - Não me interrompa, diretor assistente. Sou uma pessoa muito detalhista e meticulosa... Informações pessoais... data de nascimento: 13 de Outubro de 1961... Local de nascimento: Chilmark, MA... Endereço atual... Hegal Place - Alexandria, VA ... Apartamento N.º 42...

O Canceroso olha pra Carter e abre um sorriso debochado. Acena negativamente a cabeça.

CARTER: - ... Peso: 78 kg ... Cor dos cabelos: Castanhos. Cor dos olhos: verdes... Marcas ou sinais: névus pigmentado na região geniana, lado medial... (OLHA PRA KERSH) O que é isso ? Região geniana?

KERSH: - (INDIGNADO) Uma pinta marrom na bochecha direita....

CARTER: - Ah!!!!!!!

Skinner abaixa a cabeça e segura o riso.

CARTER: - Estado Civil: solteiro ... Religião: judeu ... Nome do pai: William Mulder, falecido ... Nome da Mãe: Teena Mulder, falecida ... Irmãos: Samantha Ann Mulder... Em caso de emergência notificar agente Dana Scully...

Kersh ajeita-se na cadeira, impaciente. Cruza os braços. Skinner abre um sorriso que não pode segurar. Levanta-se.

SKINNER: - Com licença. Eu preciso pegar água.

Skinner sai da sala diante dos olhos do Canceroso, que segura o riso também. Carter continua.

CARTER: - Publicações: Em 1988 escreveu uma monografia sobre Assassinos Seriais e Ocultismo intitulada de "Serial killers and the Occult". Formação Acadêmica: Bacharel em psicologia na universidade de Oxford, 1982... Academia do FBI - Quântico, Virgínia, 1984... Histórico de trabalho no FBI: 1986 -psicologia completada... 1988 - divisão de crimes violentos...1991: divisão de Arquivos X... Maio de 1994: divisão de inteligência, comunicação... Novembro de 1994: divisão de Arquivos X...

O Canceroso acende outro cigarro. Suspira incrédulo.


Uma hora e meia depois...

[Som: The Clash – Should I Stay or Should I Go]

CARTER: - Telefone de contato: código 202... 555-6431, celular 555-3564 ... e-mail: [email protected]... Data de Nascimento: 23 de Fevereiro de 1964...

Skinner começa a morder os lábios, não se contendo. Olha pra Kersh. Kersh está quase dormindo.

CARTER: - Endereço atual: 3170 West 53 Road - Annapolis, MD... Apartamento N.º 35... Altura: 1,62 m Peso: Sem informações...

Carter sorri. Olha pra eles.

CARTER: - Mulheres...

Carter abaixa a cabeça e continua lendo.

CARTER: - Cor dos cabelos: ruivos... Cor dos olhos: azuis... Marcas ou sinais: não têm... Estado Civil: solteira... (SORRI) Hum... Onde está o telefone dela mesmo??? Ah, aqui!... Bem... Religião: católica romana... Nome do pai: William Scully, falecido... Nome da mãe: Margaret Scully... Irmãos: William Scully Jr., Melissa Scully, já falecida... Charles Scully... Em caso de emergência: notificar Margaret Scully... Publicações: "Einstein's Twin Paradox: "A New Interpretation by Dana Scully" ... Hum, inteligente a moça...

O Canceroso olha boquiaberto, incrédulo. Suspira. Skinner boceja.

CARTER: - Formação acadêmica: Física pela Universidade de Maryland em 1986... Médica, Residência em Patologia Legal, 1990... Academia do FBI no Quântico, Virgínia em 1992 ... Histórico de trabalho no FBI... 1990: Instrutora de Treinos na Academia do FBI em Quântico... 6 de Março de 1992: Departamento de Arquivos X... Maio de 1994: Instrutora de Treinos na Academia do FBI no Quântico... Novembro de 1994: Arquivos X...

Carter olha pra eles.

CARTER: - Impressão minha ou ambos sempre foram transferidos em épocas iguais? E por que voltaram depois? E por que tantas transferências? Só na ficha deles temos mais de três! O número de suspensões então é maior que a minha agenda telefônica!

KERSH: - Senhor, o assunto aqui não é este. Estes dois agentes, subordinados do Skinner, mantém um envolvimento amoroso secreto. Sabe que existem regras rígidas no Bureau quanto a isso.

CARTER: - ... Existem? Sério?

Skinner amassa a gravata com as mãos, mordendo os lábios, mal se aguentando pra rir.

KERSH: - Esse envolvimento é prejudicial nas investigações. Está afetando a faculdade mental deles. E além do mais, se abrir o envelope em anexo na pasta do agente Mulder, verá que ele está em fase terminal de câncer. Está com um tumor maligno no cérebro. Ele não tem mais saúde, resistência física, juízo ou razão para permanecer aqui dentro.

Carter olha pra Skinner, o questionando com os olhos.

CARTER: - Isso é verdade, Walter?

SKINNER: - (MEIO DORMINDO) ... O quê?

CARTER: - Que o agente Mulder está com câncer?

Kersh vira-se indignado pra Skinner.

KERSH: - Confesse tudo, Skinner! Não só o câncer como o envolvimento dele com Scully. Da última vez que fizemos um inquérito de apuração aqui dentro, todas as provas se encarregaram de sumir. E eles permaneceram impunes. Amanhã vai virar moda e teremos parceiros se beijando pelos corredores?

Carter olha pensativo para cima.

CARTER: - Não... Não seria uma coisa interessante no caso de dois parceiros homens...

KERSH: - Senhor, peço providências imediatas.

CARTER: - Mas eles não estão fazendo o serviço deles?

KERSH: - A agente Scully foi colocada no departamento de Arquivos X para contestar cientificamente as loucuras do agente Mulder. Se dormem juntos, acha que ela vai contestar alguma coisa? E se não sabe, senhor, o agente Mulder era um agente em ascensão no FBI quando se desviou para o paranormal.

Carter olha para o dossiê de Mulder.

CARTER: - Onde está escrito isso?

KERSH: - Ele é um sujeito obcecado. Primeiro afirmava que a irmã havia sido levada por extraterrestres. Agora diz que o filho foi levado. Ele não está preocupado com o FBI. Está aqui em causa própria.

CARTER: - Filho??? Que filho?? Aqui não fala que ele tenha filhos... Que extraterrestres? Aliás, que dia é hoje???

Skinner abaixa a cabeça, incrédulo.

KERSH: - O filho que ele teve com a agente Scully. E que misteriosamente o dossiê de inquérito sobre isso sumiu também.

CARTER: - E o que quer que eu faça? Demita os dois? Não posso fazer isso com um homem doente!

KERSH: - Transfira um deles. Mulder, já que ele está doente.

CARTER: - Alguém para o substituir?

KERSH: - Doggett. Doggett está esperando. E Diana Fowley também. Senhor me dê ouvidos, coloque meus agentes nos Arquivos X.

CARTER: - (PENSATIVO) Hum... Gosto de Doggett...

CANCEROSO: - (SÉRIO) Quero o meu com mostarda.

Skinner vira-se pro Canceroso, incrédulo. O Canceroso solta a fumaça num sorriso debochado. Skinner levanta-se.

SKINNER: - Não podem fazer isso. Não estão julgando a competência deles. Estão julgando a vida particular. E isto não interessa a ninguém!

KERSH: - São agentes federais. Eles têm regras de conduta a serem seguidas, tanto aqui dentro como no banheiro da casa deles!

Carter observa os dois. Skinner olha pra Carter.

SKINNER: - Eu vou dizer uma coisa, senhor. O diretor assistente Kersh tem uma rixa pessoal com o agente Mulder. E se alguém está com as faculdades mentais afetadas aqui dentro, este é o Kersh!

Kersh levanta-se. Os dois olham-se loucos pra se esmurrarem. Carter levanta-se.

CARTER: - Senhores, por favor. Contenham-se... Voltem para suas salas.

KERSH: - O que vai fazer a respeito disso?

CARTER: - Tomarei providências, mas primeiro quero pensar no assunto.

KERSH: - Ele deve ir! Não deveria deixar o agente Mulder no FBI!

Skinner sai porta à fora. Kersh também sai. O Canceroso aproxima-se. Olha para Carter.

CANCEROSO: - Senhor Carter, ambos sabemos que não é um idiota.

CARTER: - ... Quem, eu???

CANCEROSO: - Mas quero que saiba, que sua atitude está sendo observada.

CARTER: - ... (OLHOS ARREGALADOS)

CANCEROSO: - Um dedo em cima de um dos dois, senhor Carter, e nós teremos uma conversinha séria. Tente separá-los, senhor Carter. E verá o que significa a expressão 'meu bafo de nicotina no seu cangote'.Acho que me entendeu.

O Canceroso apaga o cigarro em cima da mesa, na frente de Carter, olhando-o com deboche. Sai da sala. Carter o acompanha com os olhos, assustado.


Arquivos X - 10:29 A.M.

Mulder solta o papel em cima da mesa.

MULDER: - Você pode acreditar numa coisa dessas?

SCULLY: - (OLHANDO PRA ELE COM CARA DE PIDONA) ...

MULDER: - Scully, eu vou te dizer uma coisa.

SCULLY: - (SUSPIRA/ OLHANDO PRA PORTA)

MULDER: - Estou mais sujo no Bureau, mais queimado, mais sem palavra que qualquer sujeito que já pisou ou venha pisar por aqui dentro.

SCULLY: - Mulder...

MULDER: - Mas duas semanas de suspensão por causa de uma besteira? Estou indignado com isso, sabia? Olha, Scully, acho que realmente é melhor ficar longe de mim. Eu sou um problema ambulante. Você deveria ir pra Quântico, me deixar quieto aqui ou vou acabar com a sua carreira. Devo ir ou ficar?

SCULLY: - (DEBOCHADA) A pergunta encerra uma única pergunta e mais ainda: a resposta óbvia e única.

MULDER: - Ahn???

Batidas na porta.

MULDER: - Quem é?

KERSH: - O diretor-assistente.

Mulder e Scully rapidamente abrem gavetas, colocando papéis por cima da mesa, tentando mostrar serviço. Kersh entra, segurando uma pasta de papéis.

KERSH: - Esqueçam a suspensão. Preciso do serviço de vocês.

Mulder olha pra ele desconfiado. Cruza os braços com um ar de superioridade.

MULDER: - (ARROGANTE) Já requisitou ao Skinner? Sem ordem assinada do Skinner, sem Mulder e Scully. Nananinanão.

KERSH: - Acha que não conheço os procedimentos do Bureau, agente Mulder? Dessa vez não há Skinner aqui pra proteger vocês dois.

Mulder faz cara de pânico. Scully olha pra ele. Morde os lábios.

KERSH: - Skinner está fora. Não sabe disso?

Mulder arregala os olhos, assustado.

KERSH: - Pediu uma semana de folga. Está com problemas de saúde para resolver. Portanto, vocês dois voltaram pra mim. E tenham a certeza de que essa semana vai ser o inferno.

Scully suspira. Kersh larga a pasta sobre a mesa de Mulder.

KERSH: - Quero que leiam isso. Em 20 minutos pego vocês. Vamos resolver um caso.

MULDER: - (INCRÉDULO/ PÂNICO) 'Vamos'?

Kersh olha pra ele.

KERSH: - Algum problema, agente Mulder?

MULDER: - Não, nenhum. Absolutamente.

Kersh sai, fechando a porta. Mulder olha em pânico pra Scully.

MULDER: - Entendeu? O 'vamos' inclui eu, você e o mau humor dele. (DEBOCHADO) Scully, eu não gostei muito desse trio aí.

SCULLY: - Para que caso nos designaram?

Scully levanta-se curiosa e pega a pasta. Abre-a. Senta-se sobre a mesa de Mulder.

SCULLY: - ... Hum...

MULDER: - O que é?

SCULLY: - Vigiar atividades ligadas à máfia.

MULDER: - (MALICIOSO) Sabe de uma coisa?

Scully olha pra ele. Mulder olha debochado pra ela. Aproxima-se. Passa a mão em suas pernas.

MULDER: - Você poderia ficar sentadinha aí, contanto que ficasse um pouquinho mais de frente pra mim, assim, com as pernas abertas...

SCULLY: - Mulder, tira a mão das minhas coxas! Para!

MULDER: - Scully, acho que estou com meus hormônios à flor da pele.

SCULLY: - E vai ficar, porque teremos uma semana com Kersh. Já imaginou?

Mulder faz cara de pânico. Senta-se na cadeira. Põe as mãos no rosto.

MULDER: - Eu mato o Girafão! Isso não vai ficar barato! Vou sabotar o modem dele!

Scully pula da mesa. Corre até a porta. Mulder olha pra ela com curiosidade. Scully tranca a porta. Escora-se de costas na porta e abre os braços, olhando pra ele.

SCULLY: - (DESESPERADA) Pelo amor de 'euzinha', Mulder!

MULDER: - ???

SCULLY: - (DESESPERADA) Se vamos ter uma semana em jejum, compensa isso agora! Eu não vou aguentar!!!!!!!!

MULDER: - Aqui? Mas estamos no FBI, Scully. Não podemos, não é racional, seguro e...

SCULLY: - (FURIOSA) Mulder! Eu vou colocar isso no meu relatório!

MULDER: - Ihhhaaaaaaaaaaa!!!!!! Apaga a luz, mulher... Deixa o raposão aqui resolver o teu problema! Urgências 'médicas' são comigo mesmo!


BLOCO 2:

Nova Iorque – 5:16 P.M.

Mulder e Scully sentados no banco do táxi. Kersh entre os dois. Mulder olhando pela janela, com a mão apoiando o rosto, indignado. Kersh lendo papéis. Scully com o rosto virado pra janela, num desespero visível de quem quer se atirar pela porta do carro. Kersh observa a mão de Mulder, com a aliança. Olha pra ele.

KERSH: - Você se casou?

Scully morde os lábios. Fecha os olhos, tensa. Mulder olha pra Kersh.

MULDER: - Não.

KERSH: - E essa aliança?

MULDER: - (DEBOCHADO) Ah! Isso? É a última moda entre os frequentadores homossexuais da boate Blue Moon. Sabe a Blue Moon, neh? Loucademia de Polícia...

Scully prende o riso virando o rosto pra janela. Kersh olha pra Mulder de cima a abaixo e se afasta mais pra perto de Scully, com medo. Mulder olha pra ele sério, erguendo as sobrancelhas. Kersh olha pra Scully. Mulder segura o riso e vira o rosto pra janela.

O táxi para em frente ao hotel. Os três descem. Kersh num sobretudo impecável, ajeitando-o com as mãos. O taxista retira as malas e coloca na calçada. Kersh olha pra Mulder.

KERSH: - Ajeite sua gravata, agente Mulder. Você trabalha para o FBI. É a imagem do FBI que está passando.

Mulder olha pra cima, franzindo a boca, irritado. Ajeita a gravata. O porteiro vem pegar as malas. Kersh entra na frente. Mulder e Scully caminham atrás dele. Kersh para na recepção. Mostra a credencial.

KERSH: - FBI. Reservamos três quartos.

Mulder vira-se de costas pra Kersh, olha pra Scully e abre a boca simulando dizer 'socorro!'. Sinaliza com os dedos um 'três', numa cara de pânico. Scully põe a mão na boca, rindo. Kersh olha pra eles. Eles ficam sérios, disfarçando.

KERSH: - Vamos deixar nossas coisas no hotel. Depois mostrarei o prédio onde faremos a vigia. Vocês se dividirão em turnos. Quando um não estiver trabalhando, estará descansando. Me entenderam?

MULDER: - (PÂNICO) Doze horas pra cada um?

KERSH: - Exatamente. Doze horas. Algum problema, agente Mulder?

MULDER: - Não, nenhum exatamente. Pelo menos nessa masmorra tem banheiro?


[Som: The Clash – Should I Stay or Should I Go]

Corta pra eles descendo do elevador. Mulder irritado. Eles se dirigem aos quartos. Kersh fica no quarto do meio, deixando Mulder e Scully separados. Ela abre a porta de seu quarto e olha pra Mulder, desesperada. Mulder ameaça dar com a cabeça na parede, mas desiste.


8:18 P.M.

Kersh abre a porta do apartamento vazio. Entra. Scully entra atrás dele. Há apenas uma poltrona, de frente para a janela, com uma mesinha ao lado. Na parede, um quadro com uma vaquinha malhada num pasto. Kersh aproxima-se da janela.

KERSH: - Vou mostrar o alvo.

Kersh olha pra trás.

KERSH: - (GRITA FURIOSO) Agente Mulder!!!!!!!!!!!

Mulder entra, carregando tanto equipamento, que caminha com as pernas flexionadas pro lado. Não consegue nem olhar por onde anda. Aproxima-se da janela.

KERSH: - Quero que vigiem as atividades daqui. Estão vendo aquela janela ali, ao lado daquela varanda com um vaso?

SCULLY: - Sim.

MULDER: - Não.

Kersh olha pra Mulder. Ele ainda segura os equipamentos e realmente não pode ver nada.

KERSH: - Quer largar isso no chão?

MULDER: - Se 'alguém' pudesse me ajudar...

KERSH: - Agente Scully, ajude seu parceiro.

Scully olha pra Kersh, incrédula.

KERSH: - E cuidado com isso, ou sairá do salário de vocês.


10:14 P.M.

Mulder, sentado na poltrona, olhando pelo telescópio, que transpassa uma fresta da grossa cortina fechada. Gravata frouxa, usando um sobretudo, mascando chiclete.

MULDER: - Esse filho da mãe, ele me paga... Ah, ele me paga... Não pensa ele que isso vai ficar assim, barato, sem vingança... Esse anticoncepcional ambulante... Ou daqui à pouco vai me promover a limpador de privadas... Mas eu me vingo... Ah eu me vingo... De um jeito ou de outro, aquele maldito gay enrustido...

Scully entra. Carrega uma sacola grande e um pacote de lanchonete. Mulder vira-se.

MULDER: - Ora, se não é a minha bela e adorável agente Scully, o colírio dos meus olhos... Como conseguiu se livrar do mala sem alça?

Scully abre a sacola.

SCULLY: - Foi dormir, estava cansado.

MULDER: - Ah! Cansado? (DEBOCHADO) Pobrezinho... É por isso que todo mundo quer ser diretor-assistente, pra viver cansado, dormindo em hotel de primeira e não fazer nada. O que é isso?

SCULLY: - Trouxe um cobertor pra você. Está frio. E também comprei comida.

MULDER: - Scully, você é um anjo! Me dá isso aqui, tô doido de fome.

Scully entrega o pacote pra ele. Mulder abre rapidamente, agarrando o hambúrguer. Scully coloca o cobertor sobre o braço da poltrona. Olha pela sala.

SCULLY: - Pelo menos tem uma poltrona. E uma vaquinha.

Mulder dá uma bocada enorme no hambúrguer rapidamente.

SCULLY: - Nossa, está com fome mesmo!

MULDER: - (BOCA CHEIA) Eu tô com raiva! Isso sim! Muita raiva! E isso me deixa com fome!

SCULLY: - Mulder, vai ter que se acalmar. Não adianta fazer nada.

MULDER: - Minha vontade é de colocar ele aqui, amarrado, passando frio e fome enquanto observa aquela italianada 'desgraciatta' comendo macarrão com almôndega, bebendo vinho importado e fazendo a festa!

SCULLY: - (SUSPIRA) ... Mulder...

MULDER: - Ahn?

SCULLY: - (FAZENDO BEIÇO PRA CHORAR) Eu tô sofrendo!

MULDER: - Ah, não sofre não. Vem aqui.

Ela senta-se no colo dele, fazendo beiço. Ele aproxima o hambúrguer da boca de Scully.

MULDER: - Quer hambúrguer?

SCULLY: - Não. (ANGUSTIADA) Eu quero você, um copo de vinho e a nossa cama! Ficar quentinha, dormindo coladinha em você... Mas onde estou? Em Nova Iorque, vigiando mafiosos e na companhia do capeta disfarçado de diretor-assistente!

MULDER: - (OLHA PRA ELA COM PIEDADE)

SCULLY: - (DESESPERADA/ FAZENDO BEIÇO DE CHORO) Mulder, eu quero morrer!

MULDER: - (DEBOCHADO) Não, não quer não. Vai pro hotel, toma um banho gostoso, coloca seu pijaminha, agarra o travesseiro e faz justiça com os dedos pensando em mim!

SCULLY: - Mulder!!!!!

MULDER: - (RINDO) ...

SCULLY: - Não... (BEIÇO) Não é a mesma coisa...

Ele larga o hambúrguer na mesa. Abraça-a.

SCULLY: - (MANHOSA) Eu tô sofrendo. Eu tô.

MULDER: - Oh, tadinha, não sofre...

SCULLY: - Eu vou ficar aqui com você.

MULDER: - Tá louca? Vai dormir no chão?

SCULLY: - Vou!

MULDER: - Vai nada. E outra coisa. Eu faço 18 horas.

SCULLY: - Não!

MULDER: - Eu não vou deixar você sentada aqui, passando frio o dia todo! Isso não é coisa que se faça com a minha mulher, a mãe do meu filho! Por isso tô dizendo que é sacanagem pra cima da gente! Com tantos desocupados lá, só escalam nós dois e pra turnos de 12 horas cada um? Isso foi retaliação!

Ela se abraça nele. Começa a chorar.

MULDER: - Scully?

SCULLY: - ... (CHORANDO/ ANGUSTIADA)

MULDER: - (APIEDADO) Scully...

SCULLY: - Eu tô cansada disso! Eu não quero mais brincar de agente do FBI!

MULDER: - Você não vai brincar por muito tempo. É passageiro, aguenta mais uns meses.

SCULLY: - (CHORANDO)

MULDER: - Eu sei que você tá carente, se sentindo sozinha. Mas eu tô aqui, a gente vai sair dessa juntos. Não chora... Hum?

SCULLY: - (ELA SECA AS LÁGRIMAS)

MULDER: - E não vai dar esse gosto pro Kersh. Ele quer ferrar conosco. Vamos ser mais espertos.

Ela sai do colo dele. Ele se levanta. Abre as cortinas, revelando a linda noite estrelada.

SCULLY: - Mulder, o quê...

MULDER: - Psiu. Tranca a porta. Apaga as luzes.

Scully tranca a porta. Desliga as luzes. O ambiente fica na penumbra. Mulder estende o cobertor no chão, encostado da parede onde está o quadro da vaquinha. Senta-se, recostando-se na parede.

MULDER: - Não tem vinho, mas tem refrigerante e o Mulderzinho aqui. Basta?

SCULLY: - Mulder, mas você tem que vigiar...

MULDER: - Ah, que se danem! Eu tô pouco me lixando! Como se a gente fosse acabar com a máfia mesmo...

Scully olha pra ele, nervosa. Indecisa.

SCULLY: - Isso não é correto...

MULDER: - E me diz se é correto ficar 12 horas sentado nessa poltrona criando calos no traseiro?

SCULLY: - (DESESPERADA) Não! Não cria calos nesse traseiro maravilhoso!

Ele sorri debochado.

MULDER: - É maravilhoso, é?

SCULLY: - Humhum...

Mulder bate no cobertor. Ela olha pra mão dele.

MULDER: - Vem aqui, vem, vou te mostrar o que mais há de maravilhoso por aqui.

SCULLY: - Sério?

MULDER: - Sério. Muito sério.

SCULLY: - (BEIÇO/ MANHOSA) Eu quero o meu Raposão!

Ela sorri safada e corre pra perto dele. Senta-se a seu lado. Mulder escora as costas contra a parede. Envolve o braço nela. Ela vira-se, colocando a perna sobre Mulder, se aconchegando nele.

MULDER: - Tá sofrendo ainda?

SCULLY: - Não. Agora não. Ah, Mulder... E tudo que eu queria era a minha casinha na Virgínia, com um jardim cheio de flores e você enfeitando minha vida com o nosso filho.

MULDER: - Calma, Scully. Seus dias de desânimo estão chegando ao fim.

Scully suspira. Aconchega-se mais em Mulder e fecha os olhos. Ele afaga seus cabelos. Os dois ficam em silêncio.

[Gritos]

Mulder e Scully olham um pro outro.

CASSY (OFF): - Oh, Deus!!!!! Oh meu Deus! Assim, assim, meu amor!!!!!!!! Assim!!!!!!!!! Uauuuuuuuuuuuuu........

Os dois se viram pra parede. Mulder numa cara de pânico. Scully incrédula. Mulder olha pra ela.

MULDER: - (DEBOCHADO) Eu hein? É sua parente?

SCULLY: - ???

CASSY (OFF): - Oh, meu deus, assim..... hum..... gostoso...

Os dois arregalam os olhos, olhando ao mesmo tempo pra parede. Mulder olha pra Scully debochadamente. Ela abaixa a cabeça.

MULDER: - A coisa tá pegando fogo aí do lado.

SCULLY: - ...

MULDER: - Scully, não se choque.

SCULLY: - ... Poderia pegar fogo aqui também...

MULDER: - Não temos cama. Portanto não tem grades.

SCULLY: - Hum... E pra que servem suas costas?

MULDER: - Tá falando sério?

SCULLY: - Acha que tô brincando?


[Som: The Clash – Should I Stay or Should I Go]

Mulder a agarra, ela começa a rir. Ele beija o pescoço dela enlouquecido. Ela vai se deitando. Tentando tirar o sobretudo dele.

MULDER: - (RINDO) Calma, mulher!

SCULLY: - Calma nada, eu tô fora de mim!

MULDER: - O que te deu hoje? Fazia tempo que você não ficava tão doidona...

SCULLY: - Tesão! Eu estou subindo pelas paredes, Mulder! Estou desesperada!!!!!!!!!!! É aquela coisa do mais difícil fica mais interessante...

MULDER: - (DEBOCHADO) Uau, pra você ser tão espontânea e dizer 'tesão' sem ficar corada, o caso é sério mesmo! Deixa comigo, Scully, eu resolvo o teu problema...

Ela o empurra. Tira o casaco, abre a blusa e começa a erguer a saia. Mulder olha pra ela.

MULDER: - (EMPOLGADO) Adoro quando você fica louca... Mas me deixa tirar a roupa!

SCULLY: - Que tirar a roupa o quê! Eu não posso esperar! (BEICINHO SEXY) Vem ficar louquinho, Mulder... Aqui, vem, rapidinho... Vem, meu Mumuzinho...

MULDER: - (DEBOCHADO) E as longuinhas?

SCULLY: - Rapidinhas me bastam diante da situação. Como diria o adágio popular, mais vale uma rapidinha garantida do que duas longuinhas incertas... isso é uma atitude completamente racional, Mulder.

MULDER: - (DEBOCHADO) Tudo bem, eu concordo com você, está com toda a razão... Não há nada de anormal aqui, exceto a nossa alta taxa de hormônios gritando pelos poros.

SCULLY: - (HISTÉRICA) Cala a boca Mulder!!!!!!!!!!! Age!

Os dois se agarram, rolando um por cima do outro.


30 minutos depois...

Abre o foco no quadro da vaquinha, que se move na parede, de um lado pra outro.

Corta para Mulder, vestido e sentado sobre o cobertor. Braços cruzados. Cabisbaixo, frustrado, indignado. Scully, fecha a blusa, fisionomia de desânimo. Suspira, irritada.

CASSY (OFF): - Oh, Deus!!!!!!!!! Assim!!!!!!!! Assim, faz assim!!!!!!! Hummmmmmm, isso é ótimooooooooooooo!!!!!!! Yahoooooooooooooooooo!!!!!!!!!

Mulder olha pra Scully.

MULDER: - (IRRITADO) Posso matar esses dois?

SCULLY: - Eles não têm culpa se nós não conseguimos transar.

MULDER: - Eles têm culpa porque estão atrapalhando a minha concentração!

SCULLY: - ...

MULDER: - (PÂNICO) Scully, isso nunca aconteceu comigo antes...

SCULLY: - Me poupe, Mulder. Já aconteceu. Mas não se preocupe, isso é normal. Acontece.

MULDER: - Não comigo!

CASSY (OFF): - (GRITANDO) Ohhhhhhh!!!!!!!!!!! Vai, vai, vai!!!!!!!!!! Uhuhuhu!!!!!!!!

MULDER: - E eu preciso de concentração, porque meu esforço é maior!

SCULLY: - (SUSPIRA/ DESANIMADA)

MULDER: - Já imaginou o quanto de trabalho meu cérebro tem pra conseguir erguer isso tudo????

Ela olha pras calças dele. Olha pra ele, debochada.

SCULLY: - Seu cérebro, Mulder, merece o prêmio de funcionário exemplar do ano.

MULDER: - (INDIGNADO) Vai, vai rindo.

CASSY (OFF): - Você é o melhor!!!!!!!!! Oh deus, acaba comigo... agora, agora... assim, assim! Ohhhhhhhhhh!!!!!!!!

Mulder bate forte na parede, irritado.

MULDER: - (GRITA) Querem calar essa maldita boca????

SCULLY: - ... (SUSPIRA/DESANIMADA) Estamos bebendo o nosso próprio veneno, Mulder. Agora sentimos o que nossos vizinhos sentem. Entende por que eu quero morar numa casa????

MULDER: - (ABAIXA A CABEÇA) Eu desisto!

Scully olha pra ele.

MULDER: - Agora eu terei que ser o pessimista por aqui, Scully. Acho que tudo está voltando a ser como era antes. Alguém ou alguma coisa entre a gente pra atrapalhar tudo: abelhas, Frank Black, diretores-assistentes, FBI, gente daqui e dali... E essa maluca aí ao lado! (SUSPIRA) Eu não vou resistir...

Scully olha pra ele com piedade. O quadro balança tanto que cai na cabeça de Mulder.

MULDER: - Au!

Scully põe as mãos na boca, rindo. Mulder esfrega a cabeça e atira o quadro longe.

MULDER: - (INDIGNADO) Eu mereço! Tudo cai na minha cabeça, já notou???

SCULLY: - (RINDO)

MULDER: - Até a foto da Diana Fowley!!!

SCULLY: - Mulder...

MULDER: - É, vai começar tudo de novo... Eu é que não quero mais brincar de agente do FBI.

Mulder levanta-se. Caminha até a janela. Fecha as cortinas. Senta-se na poltrona e fica observando a máfia pelo telescópio. Scully suspira. Levanta-se.

SCULLY: - Vou voltar pro hotel.

MULDER: - Tá.

SCULLY: - Chego cedo, trago o seu café.

Mulder olha pra ela. Scully abre a porta. Vira-se pra ele, com um sorriso maroto. Mulder olha pra ela, intrigado.

MULDER: - O que foi?

SCULLY: - (SAFADA)

MULDER: - (RINDO/ CURIOSO) O que foi?

SCULLY: - Bate uma pra mim.

Ela sai rápido, fechando a porta. Ele fica catatônico, limpando o ouvido com o dedo.

MULDER: - (SÉRIO) Estou ouvindo coisas... É a idade... Só pode ser a idade... Ou essas batidas diárias na cabeça... Ela jamais diria alguma coisa assim... Falta de sexo faz isso, sei muito bem! Vivi anos ouvindo e vendo coisas que não existiam... Estou ficando louco...

Mulder vira-se pro telescópio novamente. Cassy continua gritando no apartamento ao lado. Mulder suspira.


3:37 P.M.

Scully sentada na poltrona, observando a máfia por um binóculo. Come um pacote de amendoins com cobertura de chocolate.

SCULLY: - ...Hum... Acho que a coisa tá melhorando... Quem é o gostosão??? ... Nossa! Que traseiro! ... Ah, lindinho, por que optar pela vida criminosa enquanto tem uma policial aqui que poderia te dar uma vida honesta e cheia de 'faz-me rir'???

Scully abaixa o binóculo. Toma um gole de água na garrafa. Volta a observar.

SCULLY: - ... Hum, não acha que é dinheiro demais pra carregar na mala? Vão negociar drogas??? ... Não... O que é isso??? Jóias??? Ai, amorzinho, essa pulseira que você tá mostrando pro chefão combinaria muito com meu vestido bege de gala...

Scully coloca outro amendoim na boca, sedutoramente. Chupa-o. Revira-o na boca, olhando pelo binóculo.

SCULLY: - Se não pode evitar essa situação chata, relaxe e goze... Tente ser criativo, distrair-se... Hum, eu não acredito! Meu Deus! Isso não pode ser real! Vou ler o cartaz de novo. Só isso por uma camisola de renda como aquela??? Tenho que ir até aquela loja... Pena que não dá pra ver por aqui todas as cores disponíveis...

A porta abre-se. Kersh entra.

KERSH: - Agente Scully?

Ela abaixa o binóculo rapidamente. Engole o amendoim inteiro, se engasgando. Levanta-se, bate no peito. Kersh olha pra ela. Scully tosse e olha pra ele.

SCULLY: - (ENGASGADA) ... Sim... Ahan... Senhor?

KERSH: - Preciso voltar a Washington imediatamente. Quero relatórios sobre a vigília. Se um de vocês arredar o pé dessa janela, considerem-se punidos. Informe isto ao agente Mulder.

SCULLY: - Sim, senhor.

KERSH: - E outra coisa, agente Scully. Não é meu dever dizer isto, mas costumo faze-lo quando envolve agentes nos quais eu acredito.

Scully ergue as sobrancelhas, prestando atenção nele.

KERSH: - Costumo sempre orientar meus agentes quanto a procedimentos corretos dentro do bureau. Não tenho nada a ver com o que você faz fora do trabalho, mas deveria pensar mil vezes antes de sujar sua carreira promissora no FBI envolvendo-se com um colega que para se registrar oficialmente como bastardo falta pouco.

Scully continua olhando pra ele. Kersh sai, batendo a porta. Scully atira o binóculo na poltrona. Põe as mãos na cintura. Olha pra porta.

SCULLY: - (INDIGNADA) Quem você pensa que é pra chamar o Mulder de bastardo? Hein? O que você está pensando? Eu não devo nada pra ninguém, ninguém tem nada a ver com quem eu durmo, com quem eu vivo, com droga nenhuma da minha vida! Vá cuidar da sua, seu maldito mal humorado, coloque uma mulher nesse corpo e pare de meter seu bico na vida alheia!

Ela respira fundo. Assopra o cabelo que lhe cai nos olhos.

SCULLY: - Pronto. Agora tô mais calma.

Scully pega o binóculo. Senta-se na poltrona. Continua observando. Então afasta o binóculo do rosto.

SCULLY: - (SURPRESA) O que eu estou fazendo?

Scully olha maquiavelicamente pro nada. Abre um sorriso, passando a língua nos lábios. Revira as mãos uma na outra.

SCULLY: - Como eu sou tolinha... Ele foi pra Washington... Hehehehehe....


City Town - Hotel – 4:58 P.M.

[Som: The Clash - Should I Stay or Should I Go]

Scully entra sorrateiramente no quarto. Tranca a porta. Começa a se despir, atirando as roupas no chão.

Close das roupas de Mulder atiradas pelo chão e uma toalha molhada. As roupas dela caindo por sobre as dele.

Corta para Mulder que está dormindo, atirado de costas na cama, só de cuecas boxer. Lábios semi-abertos, mostrando cansaço. Scully, só de lingerie, caminha lentamente até o banheiro, enquanto vai desatando o sutiã. Olha maquiavélica pra Mulder.

SCULLY: - Tolinha, Dana... Como você é tolinha...

Ela entra no banheiro, saindo de foco. Atira pro quarto o sutiã e a calcinha.


BLOCO 3:

5:11 P.M.

Scully sai do banheiro, enrolada na toalha. Pega o edredom e estende por sobre Mulder. Atira a toalha que acerta em cima da câmera, e vai caindo aos poucos, até revelar a imagem dela deitada ao lado dele, encolhendo-se na cama, puxando o edredom até o pescoço.

Scully olha pra Mulder. Sorri. Afasta o edredom de cima dele. Vira-se de lado, observando-o. Apoia o cotovelo na cama e a cabeça na mão, admirando-o dormir. Mulder está ferrado no sono. Ela desliza a mão por seu peito. Brinca com seus pelos. Beija-lhe o mamilo. Ele se vira de costas pra ela, ainda dormindo. Ela desce a mão pelo abdômen dele, afagando-lhe, enquanto observa seu rosto. Então dá um sorriso e desce a mão pra dentro das cuecas dele. Mulder esboça um sorriso, ainda de olhos fechados.

MULDER: - O que você está procurando aí?

SCULLY: - Meu brinquedinho preferido.

Mulder abre os olhos em pânico. Deita-se de costas. Olha pra ela, que continua com a mão dentro das cuecas dele.

MULDER: - (PÂNICO) O que você está fazendo aí???

SCULLY: - Que mal tem? Não gosta?

MULDER: - Não, não é isso, eu digo... O que você tá fazendo aqui comigo??? Quem está vigiando a máfia?

SCULLY: - Hum, meu anjo da guarda.

MULDER: - Scully, você ficou louca?

SCULLY: - Eu? Louca? (DEBOCHADA) Eu sou uma pessoa que acredita piamente em paranormalidade por isso deixei meu anjo por lá.

MULDER: - E o Kersh?

SCULLY: - Voltou pra Washington.

MULDER: - Scully, tem certeza de que você está bem?

SCULLY: - Por quê?

MULDER: - Sei lá. Você tá agindo esquisito... Não é da sua índole contrariar ordens e... Bom, me agredir sexualmente eu já não diria, é hábito... Você é maluquinha, sabia?

Ela sorri, enquanto fica brincando com a mão dentro das cuecas dele.

MULDER: - (PÂNICO) E se o Kersh voltar?

SCULLY: - Acha que eu sou tolinha? Liguei pra secretária do Skinner. Quando ele tirar o pé de lá, ela me liga.

MULDER: - (DEBOCHADO) A união feminina me surpreende.

SCULLY: - Ficaria surpreso com muitas coisas que as mulheres podem fazer quando querem.

MULDER: - (DEBOCHADO) Tipo invadir propriedade particular sem permissão?

SCULLY: - Que propriedade particular, Mulder? Isso é meu, esse corpo me pertence!

MULDER: - Vou comprar uma cueca com uma estampa: Não ultrapasse. Propriedade federal.

SCULLY: - Acha que vai adiantar? Aprendi com você a invadir propriedades federais.

MULDER: - Ah, é? Vai usar meus métodos contra mim mesmo?

SCULLY: - Deveria comprar uma cueca com a frase: a verdade está aqui dentro. E é muito, mas muito maior do que imaginam...

Ele fecha os olhos. Ela continua brincando com ele.

MULDER: - E a louca? Continua gritando?

SCULLY: - Parece que não estão pra brincadeira. Controlei no relógio e passaram mais de duas horas numa gritaria... Ele é bom.

MULDER: - Por que ele?

SCULLY: - Ora, pra fazer ela gritar daquele jeito? Deve ser muito quente.

MULDER: - É, vou obter umas dicas com o sujeito.

SCULLY: - Hum... Eu acho que não precisa. Se melhorar, Mulder, vai acabar estragando.

MULDER: - ... (ABRE OS OLHOS)

SCULLY: - ...

MULDER: - (SÉRIO) Vai ficar me provocando?

SCULLY: - Que culpa eu tenho se eu gosto de fazer isso?

MULDER: - (FECHA OS OLHOS) Hum, Scully...

Ele vira o rosto no travesseiro. Ela vai pra baixo do edredom.


Corta para o corredor do hotel.

[Som: The Clash – Should I Stay or Should I Go]

Foco nos pés calçados com sapatos chiquérrimos que se aproximam do quarto de Mulder, ao compasso da música.

Corta para o quarto. Batidas na porta.

CARTER: - Agente Mulder? É o diretor Carter.

Scully tira a cabeça de baixo do edredom numa fisionomia de pânico. Os dois saltam da cama, ela levando o edredom contra o corpo.

CARTER: - Agente Mulder! Sei que está aí!

MULDER: - (GRITA) Já vai!

Os dois estão catando roupas pelo chão, desesperados e nervosos. Mulder atira as roupas de Scully em cima dela. Scully solta o edredom e segura as roupas contra o corpo.

SCULLY: - (NERVOSA) E agora?

MULDER: - (NERVOSO) Eu te disse que você é doida!

SCULLY: - Mas ia imaginar que esse desgraçado ia bater aqui?

MULDER: - Se o Carter nos pegar juntos, você sabe o que vai acontecer!

SCULLY: - (DEBOCHADA)Mulder, e se admitíssemos pro Carter que estamos tendo um relacionamento escondido? Não seria justo esconder dele por tanto tempo, quase todo mundo sabe que estamos juntos, só ele não vê isso...

MULDER: - Ficou doida é? Carter é o último que tem que saber que estamos juntos! É mais do que justo esconder isso dele sim. Pode contar pro mundo todo, mas pra ele não. E depois, ele deve desconfiar, mas finge que não vê. Carter não quer admitir nada entre nós dois!

SCULLY: - (APAVORADA) Ai, o Carter nos odeia!

MULDER: - Ele não odeia, só não nos quer juntos!

Mulder a empurra pra dentro do armário.

SCULLY: - (DENGOSA) Aiiiii! Machucou euzinha!

MULDER: - (IRRITADO) Fica aí, sua maluca tarada!

SCULLY: - Mas eu estou nua!!!!!!!!!

Mulder fecha a porta do armário. Veste um robe. Abre a porta na maior cara dura. Carter olha pra ele.

MULDER: - Desculpe, diretor, estava dormindo.

CARTER: - Puxa, eu sabia que deveria ter ido falar primeiramente com a agente Scully. Volte a dormir. Vou falar com ela. Ela está lá na vigilância e...

Carter vira-se pra ir embora e Mulder o puxa pra dentro do quarto, rapidamente.

MULDER: - (PÂNICO) Não, não, eu já dormi o que chegue. Aceita um café?

CARTER: - Aceito.

MULDER: - Ótimo. Vou colocar uma roupa e vamos tomar um café.

Mulder pega as roupas e corre pro banheiro. Carter anda pelo quarto. Abre as cortinas da varanda.

CARTER: - Um bonito pôr de sol...

MULDER: - Sim, realmente.

CARTER: - Gostaria de estar na praia...

MULDER: - Quem não gostaria?

CARTER: - Joga squash, agente Mulder?

MULDER: - Ah... É...

Carter olha pro armário.

CARTER: - Bonito armário... Móveis rústicos...

Mulder sai desesperado do banheiro, fechando a camisa, cinto não afivelado, sem gravata. Pega Carter pelo braço antes que ele abra o armário.

MULDER: - Bom, não é educado deixar o senhor ficar esperando... Vamos?

Barulhos no armário. Carter para.

CARTER: - Algum problema?

Mulder olha nervoso pro armário.

MULDER: - Ratos. Mas já falei com o gerente. Vamos, estou doido por um café...

CARTER: - (INCRÉDULO) Ratos?

MULDER: - (DESESPERADO) É, vamos tomar o café e...

CARTER: - Adoro matar 'ratos'. Odeio ratos!

MULDER: - É, eu sei disso. Principalmente ratos russos...

Carter leva a mão ao armário e Mulder o puxa.

MULDER: - (PÂNICO) Vamos, vamos, são ratos agressivos, enormes, peludos e feios... Tenho pavor de ratos. O hotel vai tomar providência.

CARTER: - Ratos num hotel de luxo... Isso é uma conspiração contra a saúde do povo americano...

Carter olha pro chão. Vê a calcinha de Scully. Mulder entra em pânico.

CARTER: - Me desculpe. Estava acompanhado...

MULDER: - (NERVOSO) Não, é que... eu... eu...

CARTER: - (PIEDOSO) Não diga nada, agente Mulder. Eu entendo... Mas consegui me livrar disso na clínica de um tal Dr. Marshall.

MULDER: - (PÂNICO) ...

CARTER: - Se quiser conversar sobre isso, eu posso ouvi-lo. Sei que é um hábito terrível, minha mulher quando descobriu pediu divórcio... Mas hoje estou curado, ela me aceitou de volta...

MULDER: - (PÂNICO)

CARTER: - Venha, vamos tomar um café e você poderá me falar sobre isto. Começou aos quarenta, certo? É geralmente...

Carter sai puxando Mulder pela mão e falando. Ele com cara de pânico.


7:48 P.M.

No apartamento vazio, Scully sentada na poltrona vigia a máfia. Mulder e Carter entram.

MULDER: - Agente Scully, o diretor veio observar nosso trabalho.

Scully vira-se cinicamente. Levanta-se.

SCULLY: - Boa noite, senhor.

Carter caminha pela sala. Olha o quadro da vaquinha no chão. O pendura na parede, ajeitando-o, meticulosamente. Scully olha pra Mulder assustada. Mulder olha pra ela, irritado. Carter vira-se pra eles.

CARTER: - E então? Relatório das atividades?

SCULLY: - Estão negociando com um outro italiano. Jóias.

CARTER: - Jóias... Muito bom...

Carter aproxima-se do telescópio e observa por ele. Scully vai até Mulder e olha pra ele.

SCULLY: - (COCHICHA) Estou cansada disso!

MULDER: - (COCHICHA/INDIGNADO) Por que não ficou uma hora tomando café com esse biruta aí e ouvindo conselhos de como parar de usar lingerie feminina.

Carter vira-se pra eles.

CARTER: - Bom trabalho, agentes.

Scully sorri.

CARTER: - Agente Scully vai ficar mais ou vai voltar ao hotel?

MULDER: - Ela vai voltar. Eu ficarei. Está na minha hora.

CARTER: - Bom, posso lhe dar uma carona.

Carter sai. Scully vai atrás dele e Mulder a segura pelo braço.

MULDER: - (COCHICHA/ ENCIUMADO) Se esse andrógino platinado tocar um dedo em você eu quero que me avise. E vai ter morte por aqui!

Scully sorri. Sai fechando a porta. Mulder começa a chutar a poltrona irritado.


9:34 P.M.

[Som: The Clash – Should I Stay or Should I Go]

Mulder observa pelo telescópio.

MULDER: - E de pensar que nenhuma janela de apartamento de mulher solteira está aberta... Desgraça pouca é bobagem, diria o velho Bill Mulder...

CASSY (OFF): - Aiiiiiiiiii!!!!!!!!!!! Hum, meu amor!!!!!!!!! Assim, assim... Hummmm, você é demais!!!

Mulder afasta-se do telescópio. Ajeita-se na poltrona, colocando os pés na janela. Cruza os braços.

CASSY (OFF): - Hummmmmm....... Ai, mais forte, vai! Mais forte!!!!!!!!!!! Assim...... oh, yes!!!!!!!!!!!

Mulder abre um sorriso debochado.

MULDER: - Tô começando a gostar dela. Pelo menos tenho algum tipo de diversão...

CASSY (OFF): - Ohhhhhhhhhhh....

Silêncio de segundos. Mulder olha pra parede, desconfiado. Nada. Nenhum barulho.

MULDER: - ... Cansaram?

Barulho da porta do apartamento se abrindo. Mulder pula da poltrona. Vai rapidamente até a porta e abre apenas uma fresta, curioso. Mas só consegue ver a porta do elevador que se fecha. Mulder fecha a porta.


10:01 P.M.

Mulder entra no prédio carregando um pacote de lanchonete. Passa pelas caixas postais. Volta. Procura alguma coisa com os olhos.

MULDER: - ... Hum... Senhorita Smith... Gica Smith...

Mulder vai até o elevador. Entra.


Corta para as duas garotas que vem correndo até o elevador. Usam jeans e camiseta. Aparentemente uns 20 anos. Mulder segura a porta. Elas entram. Mulder endireita a postura, todo bobo.

ANDRÉIA: - Obrigado.

MULDER: - De nada. Qual o andar?

GICA: - Sétimo.

MULDER: - (SORRI GALANTEADOR) Justamente o meu andar.

ANDRÉIA: - Vizinho novo?

MULDER: - É.

GICA: - Muito prazer, Gica.

MULDER: - Ah! Gica... E você é...???

ANDRÉIA: - Eu sou Andréia. Prima dela.

MULDER: - (SAFADO) Ah! São priminhas... O prazer é todo meu, Gica, Andréia... Meu nome é Fox.

GICA: - Fox? Hum, diferente...

Mulder esconde a mão com a aliança atrás de si.

MULDER: - Moram aqui?

GICA: - Sim. E você? Mora sozinho?

MULDER: - (CANASTRÃO) É. Moro sozinho. Completamente sozinho. Eu e o gatinho.

GICA: - Gatinho? Adoro animais!

MULDER: - É, ele é uma gracinha. Persa. Adora brincar no tapete. Tão fofo...

ANDRÉIA: - Ai que meigo!!!!!!!!! Ele é bem peludinho?

MULDER: - Muito. (PIDÃO) Mas fica muito tristonho porque eu tenho que deixa-lo sozinho às vezes, sabe?

GICA: - Ai, queria conhece-lo! Poderia tomar conta dele!

ANDRÉIA: - Que tal jantar conosco às 11?

MULDER: - Hoje?

ANDRÉIA: - É.

MULDER: - Bem... Tá, eu vou.

O elevador se abre. Elas saem dando adeusinho com as mãos. Ele desce acenando com cara de cachorrinho pidão. Elas entram no apartamento ao lado. Ele para. Sorri sacana. Abre a porta do apartamento. Atira o pacote pra dentro. Fecha a porta rapidamente e volta pro elevador.


10:43 P.M.

[Som: The Clash – Should I Stay or Should I Go]

Close nos sapatos chiquérrimos saindo do elevador, em direção ao apartamento de vigilância. Mulder abre a porta do apartamento, segurando um gato persa debaixo do braço. Entra. Fecha a porta. Coloca o gato no chão.

MULDER: - É o seguinte, bichano. Você mia, faz charminho e o resto é comigo. Quando eu miar e fizer charminho, você sai de cena. Me entendeu?

O gato caminha pela sala, analisando o ambiente. Mulder vai pro banheiro.

MULDER: - (SACANA) Vai ver, vamos ser uma dupla! Quem falou que o cão é o melhor amigo do homem???


10:56 P.M.

[Som: The Clash – Should I Stay or Should I Go]

A porta do elevador se abre. Os sapatos altos femininos e pretos se aproximam, entrando no apartamento de vigilância.

Corta para Scully entrando. Fecha a porta. Olha pro tapete. Vê o gato.

SCULLY: - Mulder???

Mulder sai do banheiro, em pânico.

MULDER: - (INCRÉDULO) Sc... Sc... Scully?

SCULLY: - De onde veio esse gato?

MULDER: - (CÍNICO) Ga-ga... to? Que gato?

SCULLY: - Esse aqui, deitado no tapete.

MULDER: - (CÍNICO) Tem um gato aí deitado no tapete???

Scully agacha-se, fazendo carinhos no gatinho.

SCULLY: - Claro que tem!

MULDER: - (COÇANDO A CABEÇA/ DISFARÇANDO) Puxa, por onde esse bicho entrou?

SCULLY: - Pela janela... Tadinho... Mulder, esse gato é muito bem cuidado. Deve ter dona.

MULDER: - É.

SCULLY: - E aposto que a dona deve estar desesperada atrás dele.

MULDER: - (CULPADO) É, pode apostar que sim...

SCULLY: - Não gosto de gatos, mas... Ele é bonitinho.

Scully olha pra Mulder.

SCULLY: - Vai sair?

MULDER: - (NERVOSO) E-eu??? Por quê?

Ele coloca as mãos pra trás, enfiando a aliança no dedo novamente.

SCULLY: - Sei lá, está até de gravata.

MULDER: - Caso o Carter volte.

SCULLY: - Ah!

MULDER: - E você, não deveria estar dormindo, naquela cama macia, sonhando com os anjinhos?

SCULLY: - Não. Eu disse que ficaríamos juntos.

MULDER: - Errr..... É.

SCULLY: - Acho que vou descer e perguntar se ninguém perdeu um gatinho.

MULDER: - É...

Scully abre a porta. Fecha. Olha pra Mulder, desconfiada.

SCULLY: - Tem certeza de que está bem?

MULDER: - (NERVOSO) E-eu? Que tipo de pergunta é essa?

SCULLY: - Mulder, eu conheço você mais do que pensa. Espero que reflita o que ia fazer.

Ele abaixa a cabeça num ar culpado e realmente arrependido.

MULDER: - Sei lá, Scully. Sei lá o que deu em mim...

Scully sai, fechando a porta atrás de si.


BLOCO 4:

Scully aperta o botão do elevador. Espera. A porta do apartamento ao lado se abre. Ela vira-se. As duas garotas saem. Ficam ao lado dela. Sorriem pra Scully.

GICA: - Oi.

SCULLY: - (SORRI) Oi.

O elevador chega. As jovens entram. Scully entra depois delas. Elas apertam o botão do térreo.

ANDRÉIA: - Aonde vai descer?

SCULLY: - Térreo também. (SORRI) Obrigada. Sabem se encontro o síndico lá embaixo?

GICA: - Ah espero que sim, precisamos falar com ele também.

SCULLY: - Perderam um gatinho por acaso?

As duas se olham e riem.

GICA: - Hum, de certa forma. Perdemos, mas foi um gatão!

ANDRÉIA: - Você foi idiota, Gica. Deveria ter perguntado o número do apartamento dele!

SCULLY: - Espero que encontrem o 'gatão' de vocês.

Scully abaixa a cabeça e ri.

GICA: - Eu? Mas por que você não perguntou? Agora como vamos encontrá-lo?

ANDRÉIA: - Nunca se vê um homem bonito nessa droga de prédio! Quando aparece, a gente perde. Tá vendo? E ele tava dando bola pra nós duas, sua burra!

GICA: - E topou jantar com a gente! Mas as duas burras aqui esqueceram de pedir o número do apartamento dele.

Scully olha pra elas, sorrindo.

SCULLY: - Nossa. Era tão bonito assim?

GICA: - Bonito? Ele era um deus! Tudo bem que era mais velho do que a gente, mas homens mais velhos são mais charmosos, românticos...

SCULLY: - Hum, tenho que concordar com vocês. Quando eu era mais jovem, também preferia homens mais velhos... Bom, hoje isso é muito comum, ninguém mais tem preconceito.

ANDRÉIA: - Acho que toda garota sempre quer um homem mais velho, né? Eles são perfeitos, experientes...

SCULLY: - Só tomem cuidado numa coisa: eles são muito mais espertos do que os garotos. E brincam com os sentimentos da gente. A experiência que eles têm de vida pra tratar uma mulher é a mesma pra conseguir o que querem e depois dar o fora. E você fica sofrendo por ter sido usada. Experiência própria.

GICA: - É, você tem razão. Mas a gente não queria nada mais a não ser flertar, sabe? Fazer amizade. Ficar...

SCULLY: - Cuidado com o 'ficar'. Eles não se contentam com isso. Não são garotos.

ANDRÉIA: - Quem sabe ela conhece? Fala pra ela. Você mora no nosso andar também?

SCULLY: - É.

ANDRÉIA: - Pois ele mora no sétimo também. Altão, olhos verdes, moreno, uma pintinha na bochecha. Cabelos bem curtinhos, sabe, tipo de jogador de futebol. Uau! Ultima moda!

GICA: - E tem um gatinho persa!

Scully franze o cenho. O elevador chega ao térreo. As duas saem. Scully cerra os punhos.

ANDRÉIA: - Não vai falar com o síndico sobre o gatinho?

SCULLY: - Não. (SORRI) Acho que lembrei quem é a dona do gatinho...


11:11 P.M.

Scully observa a máfia pelo binóculo. Séria. O gato sobre o colo dela. Mulder se aproxima.

MULDER: - Deixa que eu faça isso.

SCULLY: - (SÉRIA) Não. Eu faço. Quer voltar pro hotel? Volte.

MULDER: - Você ficou o dia todo aí.

SCULLY: - (RAIVA) E daí?

MULDER: - Daí que não é justo.

Scully levanta-se, segurando o gatinho no colo. Olha pra ele.

SCULLY: - Vou voltar pro hotel.

Ela larga o gato no chão. Aproxima-se da porta.

SCULLY: - Você tem razão. Preciso descansar. Tenha uma boa noite, Mulder.

Ela sai entristecida fechando a porta atrás de si. Aperta o botão do elevador. Olha pro apartamento das meninas. O elevador chega. Ela olha pro elevador, olha pro apartamento. Então caminha até a porta de acesso às escadas.


11:34 P.M.

Mulder observa a máfia. O gato no colo dele.

MULDER: - Impressionante! Os caras estão cheios do dinheiro! Eu nunca vi tanto diamante na minha vida! E não tenho nem dinheiro pra comprar um daqueles pra Scully! Mundo injusto!

Batidas na porta. Mulder larga o binóculo. Põe o gato no chão. Abre a porta.

Close das jovens, sorrindo.

ANDRÉIA: - Acredita que tivemos de bater em todas as portas desse andar pra encontrar você??? E você estava aqui, ao lado!

MULDER: - (CATATÔNICO)

GICA: - E então??? Não vai jantar conosco?

MULDER: - ...(PÂNICO) É que... e-eu...

ANDRÉIA: - Nossa amiga e o namorado dela saíram.

MULDER: - Amiga?

GICA: - É, a Cassy. Ela é a dona do apartamento, sabe? Estava aí com um namorado dela, mas eles vão voltar tarde hoje. Então o apartamento tá liberado pra gente ficar.

Mulder sorri. Vai pra dentro. Pega o gatinho. Entrega pra Gica.

MULDER: - Podem ficar com ele.

GICA: - Como assim?

MULDER: - Garotas, eu não vou poder ir. Estou trabalhando.

ANDRÉIA: - Ah, mas só um jantarzinho rápido.

GICA: - Ou você pensou que...

MULDER: - (SORRI) Não, eu só pretendia um jantarzinho também, conversar bobagem com duas garotas bonitas pra distrair dos problemas e aumentar um pouco a minha auto-estima que anda muito baixa. Isso faz bem pro ego masculino... Deixa pra lá, vocês mulheres não entenderiam.

ANDRÉIA: - ...

MULDER: - Ando precisando disso. Rir um pouco.

GICA: - Então? Vamos? A gente pode se divertir.

MULDER: - Tá bom. Vamos. Mas só posso ficar uma hora com vocês.

Mulder fecha a porta e entra com elas no apartamento.


[Som: The Clash – Should I Stay or Should I Go]

Corta pra Scully, incrédula, observando eles das escadas. Ela volta pro apartamento, indignada. Observa o relógio. Cola o ouvido na parede.

SCULLY: - (FURIOSA) Uma hora... Seu safado de lábia farta. Deixa, Mulder. Você me paga!!!!!! Não tem vergonha nessa cara? Um velho! Um velho com duas meninas que podiam ser suas filhas! Mas ah, Deus há de me ouvir! Eu ainda vou ter uma filha! E você há de ter dores de cabeça por isso! Espero que ela puxe a mãe dela, tarada por homens mais velhos e...

GICA (OFF): - Nãoooooo!!!!!!!!!!!

Scully se afasta da parede. Em pânico.

MULDER (OFF): - (RINDO) Não, garotas! Isso não!

ANDRÉIA (OFF): - Isso sim!

MULDER (OFF): - Mas com as duas???

GICA (OFF): - Claro, tem que ser com as duas ao mesmo tempo ou não tem graça.

Scully olha pra parede, cerrando o cenho, incrédula.

MULDER (OFF): - Eu não tenho mais idade pra fazer isso!

GICA (OFF): - Tem sim! Vai, vai!

MULDER (OFF): - Não!

ANDRÉIA (OFF): - Vai sim!

GICA (OFF): - Isso, assim!

Scully, literalmente, começa a soltar fogo pelo nariz. Abre a porta num solavanco, enfurecida. Bate na porta ao lado, quase derrubando a porta. Andréia abre a porta.

ANDRÉIA: - ... (SURPRESA) Oi!

Scully a empurra, entrando porta à dentro.

SCULLY: - Fox Mulder, você não tem um pingo de vergonha nessa sua cara e...

Corta pra Mulder. Duas bexigas de água na mão, na varanda, mirando nas pessoas que passam. Gica fazendo o mesmo. Mulder olha pra Scully.

MULDER: - Scully?

Scully abaixa a cabeça.

GICA: - Ei, vocês se conhecem?

ANDRÉIA: - Quem sabe ela também quer se divertir e acertar bexigas na cabeça dos garotos lá embaixo. Olha, não fica com piedade. Tem que ser duas ao mesmo tempo. Eles vivem nos incomodando!

Scully sai de fininho, morta de vergonha.


12:01 A.M.

Mulder entra no apartamento. Scully está sentada na poltrona, mãos no rosto. Mulder fecha a porta. Aproxima-se dela. Ajoelha-se ao lado da poltrona. Olha pra ela, ternamente.

SCULLY: - Quem mal não tem, mal não pensa... Você sempre teve razão em dizer isso. É a minha cruz eterna. Pagar meus erros do passado.

MULDER: - Talvez não foram erros do passado. Mas aprendizagem pro futuro.

SCULLY: - ...

MULDER: - Eu sei que percebeu tudo. E eu agi como um cara normal agiria. Mentindo descaradamente, sem pensar.

SCULLY: - ...

MULDER: - Só quero que saiba que eu topei, porque isso é engraçado, porque mexe com o meu lado homem humano mortal e comum aos outros.

Ele senta-se ao lado dela, no chão.

MULDER: - Scully, pode te soar cretinice. Eu sei que vai soar. Existem coisas que vocês mulheres dizem que é galinhagem. Nós chamamos de 'se manter vivo'. Coisas como olhar pra vizinha. Como assoviar pra mulher do outro. Isso é disputa. Se o olhar for recíproco, você sente que ganhou do outro. Animal? Irracional? Não sei Scully. Eu sou um homem. Homens fazem isso sem pensar. E eu não fujo à natureza da minha espécie. Principalmente quando se está num estado como o meu. Sem estima alguma.

SCULLY: - ...

MULDER: - A mulher da gente sempre é a mulher da gente. Ela te ama. Mesmo que você esteja caído, se achando o pior sujeito da face da Terra, com um cabelo à la Ronaldinho, ela vai olhar e dizer: você é demais, você é tudo, você é lindo! Isso é incentivo. Apoio. Companheirismo. Amor verdadeiro. Mas o olhar da vizinha é a confirmação do incerto. Porque a vizinha não ama você. Se ela disser algo que te valorize, aquela incerteza vai embora.

SCULLY: - ...

MULDER: - Agora, assoviar, olhar, arranjar um gato pra chamar a atenção das garotas, se fazer de solteiro, soltar cantadas, bancar o garanhão pra umas meninas... Tudo isso tem uma certa distância de fazer sexo. E eu sei que você sabe que eu não faria. Mesmo que o jantar fosse uma desculpa delas pra conseguirem alguma coisa e que pintasse a chance... Você sabe que eu arranjaria uma desculpa, tipo tenho que voltar ao trabalho e recusaria.

SCULLY: - Tudo bem, Mulder. Eu fui mais criança do que você jogando bexigas em garotos.

MULDER: - Não. Este homem aqui vê diferente.

Ela olha pra ele.

SCULLY: - Que lição tiraria disso?

MULDER: - A única que tiro diante desse seu tipo de atitude.

SCULLY: - ...

MULDER: - Que você é doidinha por mim.

Ela dá um tapinha nele. Barulho da porta ao lado se fechando.

MULDER: - Acho que elas foram embora. A amiga já deve ter voltado com o namorado. Arranjou um namoro via internet e faz um mês que tá saindo com ele. Mal se veem.

SCULLY: - Sério?

MULDER: - Diz que o sujeito é muito ocupado.

SCULLY: - ... E Carter voltou pra Washington. Podemos voltar amanhã cedo. Vão colocar outros agentes aqui. Ele me confessou que isto foi a chance que ele deu para Kersh provar que está certo. Mas que não viu nada. Apenas um agente com problemas sexuais e uma agente muito bonita que suscita a imaginação de qualquer um.

MULDER: - (SORRI) Ele disse isso?

SCULLY: - É. Ele disse. E disse que pelo fato de que somos sozinhos e bonitos, as pessoas veem coisas que não poderiam existir.

MULDER: - Por que não?

SCULLY: - Porque eu sou demais pra você.

MULDER: - (IRRITADO) Carter te disse isso? Aquele velho tarado! Quem ele pensa que é pra dar em cima de uma mulher nova como você? Hein??? O que ele está pensando?

Ela olha pra ele rindo, surpresa.

SCULLY: - Ele disse que a mulher dele não compreende suas atitudes. Que se sente tão cansado... E que adora bichinhos de pelúcia. Eu também! Daí ele me deu um e a gente foi jantar juntos...

MULDER: - (PÂNICO)

SCULLY: - E depois eu o acompanhei até o aeroporto. E ele foi embora.

MULDER: - (SÉRIO) E passou a mão em você?

SCULLY: - Não!

MULDER: - (ENCIUMADO) Scully...

SCULLY: - Não! E se passasse? Qual o problema?

MULDER: - (INDIGNADO) Eu o esfolaria vivo. Melhor: O jogaria pros ratos! Os ratos adorariam carne de Carter...

SCULLY: - Mas Mulder... Você acha que eu sou uma tolinha inocente?

MULDER: - E você acha que aquelas meninas eram tolinhas inocentes? Vou te dizer uma coisa, Scully: inocentes somos nós!

SCULLY: - (SORRI) ... Amanhã, nessa hora... Estaremos na nossa cama, tomando nosso vinho e namorando um pouquinho.

MULDER: - (SÉRIO/ IRRITADO) Tem uma coisa que eu não disse, Scully. Os homens gostam de fazer isso, assoviar, cantar a mulher do outro e até se passarem por coisas que não são! Mas não gostam de serem vítimas disso. Me entendeu?

Ela começa a rir.

SCULLY: - Quem entende essa raça? Eu desisto!

MULDER: - Ah, como se vocês mulheres fossem fáceis de entender! Por que foi jantar com ele?

SCULLY: - Hum... Sei lá. Ele tem presença...

MULDER: - Ah, tá vendo?

SCULLY: - (SORRI) ... Hum... E o gatinho?

MULDER: - Acha que eu iria roubar um gatinho? Eu comprei. Dei pra elas de presente. Você não gosta de gatos e o Cookie menos ainda.

SCULLY: - ... Mulder?

MULDER: - Ahn?

SCULLY: - Apaga a luz...

MULDER: - Sim senhora.

Mulder levanta-se e apaga a luz. Os dois se agarram aos beijos, descendo até o chão.


[Som: The Clash – Should I Stay or Should I Go]

CASSY (OFF): - Não!!!!!!!!!! Oh, meu deus! Oh meu deus!!!!!!! Assim, assim, assim! Ohhhhhhh...

Mulder larga Scully. Olha pra ela.

MULDER: - Eu mereço! Eu mereço!!!!!! A louca voltou!!!!!!!!! Será que não se cansam???

Mulder levanta-se, indignado.

SCULLY: - (CURIOSA) O que vai fazer?

Mulder começa a esmurrar a parede.

MULDER: - (GRITA) Ahhhhhhhh! Assim, meu bem! Mexe assim, mexe! Assim, bem gostoso...

Scully começa a rir.

MULDER: - (DEBOCHADO) Ei, para de rir, Scully. Isto é uma guerra! Vem pra luta!

Ela bate na parede também.

SCULLY: - (GRITA) Oh, meu deus! Mais, vai, faz assim!!!!!! Oh céus!!! Você me deixa nas nuvens!!!!


8:21 A.M.

Mulder e Scully saem do apartamento. Mulder aperta o botão do elevador. Fica aguardando.

MULDER: - Pelo menos o trabalho chato virou uma coisa interessante. Fizemos até guerra de obscenidades. Fazia um bom tempo que eu não me sentia um adolescente bobo.

SCULLY: - (RINDO) Eu gemia mais alto, ela gemia também! Você gritava, ele gritava... Acho que acordamos o prédio inteiro.

MULDER: - Ora bolas, acho que mostramos pra eles qual casal é realmente uma máquina de sexo.

SCULLY: - Hum, Mulder, acho que o jogo ficou empatado. Eles eram bons. Admita.

MULDER: - Bom, digamos que eram rivais à nossa altura.

SCULLY: - Foi divertido. O chato agora é voltar pra Washington e ter que ver a cara do Kersh.

MULDER: - Vamos ligar pro Skinner. Estou preocupado com ele. Pode estar precisando da gente.

O elevador chega. Os dois entram. Mulder aperta o térreo. O elevador vai fechando. Um homem coloca a mão, tentando parar. Mulder aperta o botão da porta. A porta abre-se.


[Som: The Clash – Should I Stay or Should I Go]

O sujeito meio calvo entra de costas acenando pra jovem vestida num robe vermelho de seda, cabelos negros, que acena pra ele, sorrindo.

CASSY: - Me manda um e-mail! E vê se consegue fugir pra Nova Iorque mais vezes! E deixa que eu vou providenciar isolamento de som! Quem essa gente aqui do lado pensa que é pra tentar se igualar ao nosso desempenho?

A porta fecha-se. Mas ainda se pode escuta-la gritando.

CASSY: - Eu te amo, meu Girafão!!!!!!!

Skinner vira-se. Mulder arregala os olhos, em pânico. Scully abre a boca, incrédula. Skinner coloca as mãos nos bolsos, abaixa a cabeça, disfarçando.

SKINNER: - (INCRÉDULO) ... Eram... Vocês?

MULDER: - (INCRÉDULO) ... Era... você?

Skinner olha pra cima assoviando. Mulder vira-se de costas pra ele. Scully fica corada, colocando as mãos no rosto. Silêncio completo e absoluto.


FBI – 7:29 A.M.

[Som: The Clash – Should I Stay or Should I Go]

Close dos pés masculinos calçados com sapatos chiquérrimos, descendo as escadas no compasso da música.

É Kersh descendo as escadas, numa fisionomia séria e furiosa. Caminha com uma pasta na mão, dirigindo-se até a sala dos Arquivos X. Para na porta.

MULDER (OFF): - Assim, assim... Scully!!!!!!

SCULLY (OFF): - Assim? Ou assim?

MULDER (OFF): - Sim! Assim também... Pega assim, mas vai com cuidado! Faz assim... Isso... Rápido, Scully... Você tem que ser mais rápida... Isso, pra cima, pra baixo... Eu vou explodir!

Kersh suspira. Dá as costas. Pega o telefone celular.

KERSH: - Mandem o pessoal do esquadrão de bombas imediatamente para o porão. Os agentes Mulder e Scully sofreram outro atentado. Rápido!

Kersh sobe as escadas.

Corta para a porta da sala, onde se vê a placa 'Arquivos X'.

MULDER (OFF): - Eu vou explodir! Explodir..... Inteirinho dentro da sua boca...

X


11/04/2001

15. August 2019 07:02 0 Bericht Einbetten Follow einer Story
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Das Ende

Über den Autor

Lara One As fanfics da L. One são escritas em forma de roteiro adaptado, em episódios e dispostas por temporadas, como uma série de verdade. Uma alternativa shipper à mitologia da série de televisão Arquivo X.

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