Choveu tanto, mas tanto, que a roupa amanheceu molhada no varal. Tinha sido uma tempestade nunca antes vista; com vendavais capazes de arrastar pequenas cadeiras de quintais, e derrubar grandes árvores. O chão de terra batida havia se transformado em lama, tudo estava sujo. Geladeiras, mesmo colocadas no alto estavam cheias d’água, água suja que não podia ser reaproveitada.
A enchente assustou a todos. Sempre chovia nessa época na cidade, mas com essas proporções era a primeira vez. As ruas estavam impregnadas de lodo, pessoas corriam tentando salvar o que fosse possível. Tinha gente carregando fogões, geladeiras, roupas; tinha gente carregando gente e gente empenhando-se para sobreviver em meio a tanto caos.
Como eram tristes e desoladores estes cenários. Onde só se enxergava destruição e não se vê nem um pingo de esperança. Mangueiras eram esticadas e torneiras foram abertas. Jatos de água limpa, porém, fraca, eram jogados nas calçadas. Moradores esfregavam suas vassouras gastas na expectativa de que aquilo ficasse como antes, mais digno.
Então o céu começou a escurecer outra vez, e um raio riscou o céu. A correria foi grande. As pessoas corriam para salvar o pouco que ainda restava, mas quando o aguaceiro começou nada mais adiantava. E foram lágrimas misturadas com chuva, desespero e gritos misturados com o barulho dos raios e tristeza, mas muita tristeza ao ver que tudo que fora conquistada a custa de muito esforço estava sendo levado pelas águas. E quando o morro veio abaixo e casas foram soterradas a dor foi maior; três crianças, uma com dois anos, outra com cinco e mais uma com sete estavam debaixo da lama, sem vida e sem sorte. Pobre gente, pobre vida, maldita tempestade.
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