lara-one Lara One

O inevitável acontece. Mulder e Scully são chamados pra investigar um estranho caso envolvendo nada mais nada menos do que o cantor Bryan Adams! A fic contém trechos das músicas, que são significativas para o humor das cenas. Quem tiver algum CD do Bryan, vai certamente ter a trilha sonora. NOTA: Todos trechos musicais são pertencentes a Bryan Adams.


Fan-Fiction Series/Doramas/Soap Operas Nur für über 18-Jährige.

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S02#18 - ELEMENTAIS


INTRODUÇÃO AO EPISÓDIO:

Fade in.

Estádio da Universidade de Vancouver - Vancouver – 11:49 P.M.

Geral de cima do estádio lotado.

Câmera de aproximação, passando por sobre o público que bate palmas e grita. Bryan dá os primeiros acordes na guitarra de “Summer of ‘69”. O público aplaude enlouquecido. Bryan aproxima-se do microfone.

BRYAN: - I got my first real six-string...

(eu ganhei minha primeira seis cordas reais)

O público canta. A banda pára. Bryan pára de cantar, deixando o público cantar sozinho. Toca cada acorde, orientando a platéia. Então dá um salto e começa a cantar. A platéia canta junto, empolgada.

Corta para o técnico na mesa de som, no fundo do estádio. Ele dança enquanto mexe nos controles. O técnico de luz, parecidíssimo com o Quentin Tarantino, ao lado dele, divide sua atenção entre as luzes no palco e o programa no computador. Pega um rádio transmissor.

TARANTINO: - (NERVOSO) Problemas na iluminação, Bruce! O programa falhou!

BRUCE (OFF): - Aciona os canhões?

O técnico de som olha pro palco.

JOHNNY: - Mas as luzes estão ali!

O técnico de luz olha pra mesa e o computador que piscam acusando problemas.

TARANTINO: - (NERVOSO) Não sei explicar o que está havendo, mas essas luzes não estão saindo daqui! Não há luzes violetas programadas pra esta música!

BRUCE (OFF): - Pink, pode verificar o que está acontecendo?

PINK (OFF): - Negativo. Estou próximo, mas não consigo me aproximar dos cabos, a platéia está impedindo.

TARANTINO: - Pois verifique essa merda antes que apague tudo por aqui!

PINK (OFF): - Alguém ligou a tomada?

TARANTINO: - Sem graça, Pink.

O técnico de som olha pro palco. Empolgado, cutuca o técnico de iluminação, que está olhando pro computador.

JOHNNY: - Uau! Programa novo? Como fez isso?

TARANTINO: - O quê? Não fiz nada? Essa merda desligou sozinha! Não temos luz!!!!!!!

O técnico de luz fica catatônico ao olhar pro palco.

Corta para o palco, onde sobre a banda, figuras iluminadas de luzes violetas e douradas flutuam. Bryan continua cantando, olhando pra cima, sem entender nada. A platéia vai ao delírio com os efeitos.

VINHETA DE ABERTURA: A VERDADE ESTÁ LÁ FORA


BLOCO 1:

Arquivos X – 8:03 A.M.

Mulder, sentado em sua cadeira, lê um fax. Scully entra. Mulder disfarça, abre a gaveta e coloca o fax dentro. Coloca as mãos sobre a mesa, cruzando os dedos uns nos outros. Dá um sorrisinho.

MULDER: - (FELIZ) Olá, Scully!

SCULLY: - (SÉRIA) ... Olá.

MULDER: - (FELIZ) Então... Tudo bem? Que dia bonito, o sol está forte, borboletas anunciam o início da primavera...

SCULLY: - ... (DESCONFIADA) Você de bom humor? Aconteceu alguma coisa?

MULDER: - Não, nada.

Scully coloca sua pasta sobre a mesa dele. Mulder levanta-se. Pega o paletó da cadeira. Veste-o.

MULDER: - Tenho que resolver um caso.

SCULLY: -... E eu? Estou fora dessa?

MULDER: - (DEFENSIVO) Não, sua presença não será necessária, não há mortos envolvidos. Não precisa ir.

Scully franze a testa.

SCULLY: - (INDIGNADA) E desde quando eu só sirvo pra fazer autópsia?

MULDER: - (TENSO) É que... Não é nenhum Arquivo X, sabe?

SCULLY: - Tudo bem.

MULDER: - ... É que... É em Portland, sabe? Não acho que queira se cansar, ir até lá pra fazer nada... Eu posso resolver isso sozinho.

SCULLY: - (DESCONFIADA) Vou com você, Mulder. Somos parceiros.

MULDER: - Claro que é minha parceira... É que eu acho melhor você ficar por aqui, descansando bastante. Você está estressada, Scully.

SCULLY: - (SÉRIA) Ainda bem que reconhece isso. Assim faço uma viagem e pego um caso normal pra sair da rotina...

Mulder morde o lábio. Nervoso. Scully olha pra Mulder, mais desconfiada ainda.

SCULLY: - Mulder, o que está me escondendo?

MULDER: - (NERVOSO) E-eu? Na-nada.

SCULLY: - (ERGUENDO AS SOBRANCELHAS) Mulder... Eu conheço você, não subestime minha percepção!

MULDER: - Mas... Scully... É que... Não há necessidade de mais despesas e... (SUSPIRA) Eu queria ir sozinho.

SCULLY: - Por quê? Por que a minha presença te incomoda?

MULDER: - Não, não é isso... Eu tô precisando ficar sozinho, sabe?

SCULLY: - Ah! Sozinho... (DESCONFIADA) Mulder, tem alguma mulher nessa história?

MULDER: - Juro pra você, Scully, nada de mulheres.

Scully continua desconfiada. Senta-se na cadeira dele. Mulder olha pra gaveta, preocupado. Scully percebe.

SCULLY: - Algum problema ou não posso sentar na sua cadeira também?

MULDER: - Não, nada.

Scully abre a gaveta. Mulder corre e a fecha. Põe-se na frente da gaveta, encostando-se na mesa. Scully fica cismada.

MULDER: - O que quer?

SCULLY: - Um lápis.

MULDER: - Tem aqui. (E TIRA UM DO PORTA LÁPIS)

SCULLY: - (CURIOSA) Mulder...

Scully o empurra. Mulder perde o equilíbrio, Scully tenta abrir a gaveta rapidamente, Mulder tenta detê-la, ficam brigando, mas Scully consegue. Pega o fax. Mulder fica em pânico. Começam a disputar o fax. Scully chuta a canela de Mulder. Mulder começa a pular num pé só. Scully lê o fax.

SCULLY: - (ABRE UM SORRISÃO) Não acredito!!!!!!!!!! Bryan Adams? O meu cantor favorito Bryan Adams???

MULDER: - (PÂNICO) Nem eu acredito. Eu não quero acreditar!

SCULLY: - (FURIOSA) Ia esconder isso de mim, Mulder?

MULDER: - ...

SCULLY: - Você não tem esse direito! Sabe que gosto do trabalho dele! Mulder, eu odeio você!

Scully sai batendo a porta. Mulder suspira.


Centro de Convenções de Portland – 3:57 P.M.

Acordes de violão. Mulder e Scully entram no teatro. Mulder vestido com um sobretudo. Scully apenas de tailleur. Bruce está parado na entrada, balançando a perna e olhando pro palco.

O som está alto. Bryan está ensaiando. Scully olha pro palco. Pára. Leva a mão ao peito, não contendo a emoção. Mulder olha pra Scully, irritado.

MULDER: - Não se esqueça, estamos aqui pra investigar não para se divertir.

Bruce olha pra Mulder que puxa a credencial.

MULDER: - Agentes Mulder e Scully, FBI.

BRUCE: - (PROCURANDO SCULLY COM OS OLHOS) Scully?

Mulder olha pra trás, procurando Scully. Sumiu. Scully já está caminhando em direção ao palco. Mulder olha pra Bruce, irritado.

MULDER: - Quem é o responsável por aqui?

BRUCE: - Sou eu. Bruce Allen, o produtor e diretor do show. Que bom que vieram.

Mulder olha pra Scully, que está parada na frente do palco. Bryan está sentado na plataforma onde está a bateria, cabisbaixo e tocando violão. Mulder olha pra Bruce.

MULDER: - Não ligue pra ela. Tem uma banda de rock e quer se promover. Afaste-se dela. É meio biruta.

BRUCE: - No show business, agente Mulder, birutas ganham muito dinheiro. Vamos conversar no camarim.

MULDER: - Quero interrogar todos os envolvidos.

BRUCE: - Infelizmente não será possível. Como vê o pessoal tá trabalhando. Temos show hoje à noite.

MULDER: - E aquele sujeito não pode parar de tocar pra me dar um depoimento?

BRUCE: - Ele pode fazer isso depois do ensaio.

MULDER: - Sabe que é crime atrasar a lei?

BRUCE: - Processe-nos.

MULDER: - (IRRITADO) Ele não está tocando! Está é fazendo barulho com aquele violão!

Corta pra Scully, na frente do palco, olhando admirada pra Bryan. Bryan continua tocando violão.

BRYAN (CANTANDO):

I wanna know you – like I know myself

(eu quero conhecer você – como conheço a mim mesmo)

I’m waitin’ for you – there ain’t no one else

(eu estou esperando – não há mais ninguém)

Talk to me baby – scream and shout

(fale comigo, baby – grite e sussurre)

I want to know you... Inside out

(eu quero conhecer você – pelo avesso)

Bryan percebe e olha pra Scully parada ali, o assistindo. Dá um sorriso tímido pra ela. Scully retribui o sorriso, num suspiro e cruza os braços. Bryan abaixa a cabeça e continua.

BRYAN (CANTANDO):

I wanna dig down deep I wanna lose some sleep

(eu quero averiguar profundamente - Eu quero perder algum sono)

I wanna scream and shout I wanna know you inside out

(eu quero gritar e sussurrar – eu quero conhecer você pelo avesso)

Mulder deixa Bruce Allen de lado e caminha em direção ao palco. Está incrivelmente irritado. Pára ao lado de Scully. Scully está balançando o corpo lentamente ao som da música, de olhos fechados. Bryan olha pra Mulder. Analisa-o de cima a baixo.

MULDER: - Ei, ô ‘Mr. Rock Enrola’, somos agentes federais. Pode parar um minuto e descer aqui pra conversar?

Scully olha pra Mulder, envergonhada com a atitude grosseira dele. Bryan pára de tocar. Debochado e provocando, ajeita a palheta nos dedos e toca outra canção, indiferente ao olhar raivoso de Mulder.

BRYAN (CANTANDO):

Well I don’t look good in no Armani suits

(bem eu não fico legal num terno do Armani)

No Gucci shoes or designer boots

(nem sapatos Gucci ou botas estilizadas)

Scully entende a piada de Bryan e segura o riso.

BRYAN (CANTANDO):

I’ve tried the latest lines from A to Z

(tenho tentado as últimas linhas de A à Z)

But there’s just one thing that looks good on me

(mas há apenas uma coisa que fica bem em mim)

The only thing i want

(a única coisa que eu quero)

The only thing i need

(a única coisa que eu preciso)

The only thing i choose

(a única coisa que eu escolho)

The only thing that looks good on me... is

(a única coisa que combina comigo é...

Bryan olha pra Scully.

BRYAN: - Você!

Scully segura um sorriso, encabulada, pernas tremendo. Mulder cerra os punhos. Bryan larga o violão. Caminha até eles. Senta-se no palco.

MULDER: - Somos do FBI, agentes Mulder e Scully. Você no chamou, portanto espero um pouco mais de colaboração.

Bryan sorri. Estende a mão pra Scully. Scully o cumprimenta, trêmula. Mulder fica enciumado.

Bryan estende a mão pra Mulder. Mulder não o cumprimenta.

MULDER: - Pode me dizer o que aconteceu de tão bizarro por aqui?

BRYAN: - ... (DEBOCHADO)

MULDER: - Você só canta ou fala também? Não, porque se não consegue falar, pode cantar o que aconteceu.

Scully abaixa a cabeça rindo. Bryan olha sério pra Mulder.

MULDER: - Então? Sabe falar?

Bryan ergue as sobrancelhas. Respira fundo.

BRYAN: - Não... (DEBOCHADO) Ah, meu Deus! Ah, meu Deus! Estou falando! Isso é um milagre!

Scully começa a rir. A banda lá atrás também. Mulder fica sério.

BRYAN: - Obrigado agente do FBI. Você me curou!

MULDER: - Ok, ‘engraçadinho’. Vai falar ou vou ter que levá-lo preso?

Bryan olha sério pra Mulder.

BRYAN: - Falo com você, ‘engravatadinho’. Mas depois do show.

Bryan levanta-se e sai sério. Scully fica rindo, tapando a boca com a mão. Mulder olha pra ela, já explodindo de raiva.

MULDER: - Pode rir. Vou pro hotel. Quando essa droga de show terminar eu volto. Não vou entupir meus ouvidos com esse lixo!

Mulder sai. Scully vai atrás dele. Pink aproxima-se. É um rapaz alto, com cabelos azuis espetados de gel, vestido como punk, com vários brincos, tatuagens e piercings.

PINK: - Aí, vocês são os tiras?

SCULLY: - Quem é você?

PINK: - Sou o Pink. Trabalho na equipe. Afinação, troca de cordas, veneno pra ratos, fios desencapados, vigília na porta do banheiro... (RI) Sacou né?

MULDER: - (SÉRIO) Viu alguma coisa?

PINK: - Ora se vi. Eu e mais de 3 mil pessoas, cara. A turma quer falar com vocês. Vamos tomar um café.

Mulder olha pra Scully.

MULDER: - Por que tenho a sensação de que prefiro uma injeção letal do que passar um dia por aqui na companhia desses caras?


Lanchonete do Centro de Convenções - 4:21 P.M.

Mulder e Scully estão sentados entre Pink, Tarantino e Johnny. Bruce aproxima-se deles, segurando uma lata de Coca-Cola. Senta-se.

MULDER: - O que viram na noite passada?

TARANTINO: - Bem, eu sou o técnico de luz. Pra dizer a verdade, tudo começou há uma semana atrás. Estávamos abrindo a turnê em Vancouver, quando no meio do show o equipamento de luz parou de funcionar e apareceram aquelas coisas.

JOHNNY: - Ainda bem que o público achou que fazia parte do espetáculo e aplaudiu de pé. Foi sensação nos jornais locais.

MULDER: - O que viram exatamente?

PINK: - Começou como uma luz.

TARANTINO: - Violeta e dourada.

JOHNNY: - Voava por cima do palco. O Pink foi mais pra frente pra ver o que era.

PINK: - Cara, sei lá, era muito doido! Parecia umas fadinhas.

SCULLY: - Fadinhas?

PINK: - É. Era umas minas muito pequeninas. De longe parecia só luz. De perto eram umas garotas. Garotas que voavam. Legal, né? Garotas voando...

Scully olha pra Mulder. Mulder, debochado, inspira fortemente pelo nariz.

PINK: - Não cara, tava todo mundo lúcido! O Bryan, o Mickey, o Keith, o Dave... Todos eles viram.

MULDER: - Quem são eles?

SCULLY: - (EMPOLGADA) Respectivamente vocalista, baterista, guitarrista e baixista.

Mulder olha incrédulo pra Scully, que abaixa a cabeça.

TARANTINO: - Tá, até aí todo mundo ficou meio assustado. Mas quando o Bryan falou que viu um homenzinho no palco... Aí chamamos vocês.

MULDER: - (DEBOCHADO) Ah! O ‘Bryan’ viu um homenzinho no palco...

JOHNNY: - Acredite cara, se o Bryan falou é pra se preocupar.

MULDER: - (DEBOCHADO) Por que o Bryan é uma estrela do rock?

SCULLY: - Não, Mulder. Porque ele é cético.

Mulder olha pra Scully, agora mais espantado ainda.

BRUCE: - É, ela tem razão. O Bryan não acredita nessas besteiras de fadas, duendes e extraterrestres.

SCULLY: - Como era esse homenzinho?

BRUCE: - Vai ter que perguntar pra ele, agente Scully. Ele poderá dar detalhes. Desculpem por ele não estar aqui, mas o Bryan fez uma viagem enorme, tocou ontem, ainda gravou uma participação num programa, deu entrevistas pra dois jornais e veio direto pro ensaio. Precisa dormir um pouco.

JOHNNY: - Precisam assistir o show de hoje à noite. Talvez alguma coisa aconteça.

BRUCE: - O pessoal tá com medo. Tive de arranjar um terço de membros novos pra equipe. Até o motorista do caminhão não quis ficar. Se o boato se espalhar, pode até trazer mais gente pros shows, mas não queremos esse tipo de publicidade em cima do Bryan. Temos um trabalho sério por aqui. Não pra ser capa de revistas sensacionalistas e maldosas.

Mulder levanta-se. Scully também. Bruce põe a mão no bolso. Entrega dois cartões pra Mulder.

BRUCE: - Camarote. O Bryan mandou entregar isso pra vocês.

Mulder e Scully saem. Caminham até o estacionamento.

MULDER: - O que achou desse Bruce Allen?

SCULLY: - Boa pessoa, Mulder.

MULDER: - Um bom Relações Públicas... (DEBOCHADO) “O Bryan mandou”... Como se o Bryan não tivesse mais o que fazer!

Mulder abre o carro.

MULDER: - Scully, eu não acredito.

SCULLY: - No quê?

MULDER: - Aquele sujeito é o Bryan Adams? Pensei que fosse mais alto!

Mulder entra no carro. Scully olha pra Mulder com uma cara feia.


Motel ‘Black Pearl’ – 5:27 P.M.

Scully desfaz as malas. Batidas na porta. Scully abre. Mulder entra. Dá um sorrisinho amarelado.

MULDER: - Sabia que as lulas gigantes tem tentáculos de alimentação e que esses tentáculos facilitam para que elas flutuem na água?

SCULLY: - Ahn???

MULDER: - Sabia que a palavra ‘estremunhar’ significa acordar alguém de repente que está em sono profundo? E que a conquista muçulmana, no início do século XIII, aprofundou as ligações com o Oriente e a África, dando origem à arte hispano-mourisca, cuja evolução continuou até o fim da Idade Média, perpetuando-se no Marrocos?

SCULLY: - Mulder, está bem?

MULDER: - ... (CACHORRINHO PIDÃO) Só queria puxar assunto.

SCULLY: - Sabia que as fêmeas do louva-a-deus devoram os machos após o acasalamento?

MULDER: - ... (PÂNICO)

SCULLY: - Sabia que a minha paciência com você terminou? E sabia que acho melhor voltar pro seu quarto e tomar um banho pra assistir o show do Bryan esta noite?

Scully segura a porta aberta. Encara Mulder. Mulder olha pra ela, cabisbaixo. Sai. Scully bate a porta.

Batidas na porta. Scully abre.

MULDER: - (IRRITADO) Ele têm buraquinhos no rosto!

SCULLY: - (PROVOCANDO) Ele não tem buraquinhos no rosto, Mulder. Ele tem covinhas sensuais.

MULDER: - Ele tem ‘cara maltratada pelo sereno’!

SCULLY: - Adoro homens ‘maltratados pelo sereno’. Eles têm experiência da noite.

MULDER: - Scully, ele é muito feio!

SCULLY: - Ele não é feio. Ele é sexy.

MULDER: - A voz dele parece um disco arranhado!

SCULLY: - (DEBOCHADA) Adoraria ouvir aquela voz rouca às 3 da manhã cantando “Please, forgive me” no meu ouvido...

MULDER: - (IRRITADO) Scully, se aquele canadense pirralho e louco vier com essa história de ‘Ré, que tal Mi, em cima de Si, sem Dó, Lá no Sol Fá’, pra cima de você eu vou bater na cara dele!

Mulder sai batendo a porta. Scully abre a porta do quarto. Sai pra fora. Respira fundo, olhando pra rua. Percebe um ônibus entrando no estacionamento do motel. Scully olha curiosa. Pink desce do ônibus. Acena.

PINK: - Agente Scully!

Scully sorri e acena. Os técnicos e a banda descem do ônibus. Pink vai até Scully.

PINK: - Puxa, nem sabe a sacanagem que fizeram com a gente! Disseram que não encontraram nossas reservas no hotel. Ainda bem que achamos este lugar pra ficar.

SCULLY: - (ABRINDO UM SORRISO) Ficar? (CÍNICA) Quem mais vai ficar? Pink, isto é um assunto oficial, preciso saber. Afinal de contas minha tarefa é proteger vocês todos dessa coisa sobrenatural! Preciso dos nomes de quem vai ficar aqui, caso aconteça alguma coisa.

Bryan desce do ônibus, carregando uma mochila nos ombros. Scully abre um sorriso.

SCULLY: - Não precisa, Pink. Pego a lista depois.

Mulder sai de seu quarto. Olha catatônico. Bryan olha pra Mulder.

MULDER: - (FURIOSO) Eu não acredito! Isso aqui é um lugar de respeito! Vou reclamar com o gerente! Como podem colocar esse tipo de gente pra dormir aqui?

SCULLY: - (PROVOCANDO) Se os quartos estiverem lotados, ele vai ter sorte.

Mulder olha pra Scully irritado.

MULDER: - Vai, por que não se esfrega nele de uma vez?

Mulder entra em seu quarto, batendo a porta. Scully ri. Mulder sai do quarto de novo. Caminha até o carro.

SCULLY: - (CURIOSA) Onde vai?

MULDER: - (GRITA IRRITADO) Pro inferno!

Mulder sai cantando os pneus, fazendo poeira na frente do ônibus. Bryan fica olhando pra ele.


BLOCO 2:

7:23 P.M.

Mulder bate na porta do quarto de Scully. Scully abre, vestida de calças jeans, camiseta e tênis. Mulder olha pra ela de cima a baixo, incrédulo.

SCULLY: - (IRÔNICA) Roupa de show de rock.

MULDER: - Scully, você está louca? É uma agente federal, mantenha a compostura!

SCULLY: - Agentes federais não podem usar jeans e tênis? E se tiver de perseguir um suspeito? Não é mais fácil correr de tênis do que de salto alto?

MULDER: - (ENCIUMADO) Scully, você ficou boba de uma hora pra outra. Tudo por causa desse... desse... Dessa coisa aí de voz melosa e arranhada.

SCULLY: - Mulder, saia da minha frente. Estou atrasada.

MULDER: - Atrasada pra quê?

SCULLY: - Pro show.

MULDER: - Mas o show começa às nove!

SCULLY: - Eu sei, mas vou com a banda.

Mulder vira-se pro ônibus. Pink grita pela janela do ônibus.

PINK: - Vamos, Dana! Estamos atrasados.

Mulder olha pra Scully.

MULDER: - Dana? Que intimidade, não? Acho que transplantaram o seu cérebro, não o meu!

Scully fecha a porta do quarto. Vai pro ônibus.


Centro de Convenções de Portland – 8:31 P.M.

Mulder estaciona o carro atrás do teatro. Desce. Um monte de fãs estão ali, criando tumulto e gritando o nome de Bryan. Mulder balança a cabeça indignado.

MULDER: - Se ainda fosse o Roger Waters, até entenderia...

Mulder passa entre elas e puxa a credencial. Mostra pro segurança. O segurança abre a porta. Mulder entra. Caminha pelo corredor. Corre-corre de gente, puxando caixas, carregando instrumentos, gritando. Mulder vê Bruce. Bruce vem até ele.

BRUCE: - Agente Mulder, isso aqui fica confuso meia hora antes do show.

MULDER: - Viu minha parceira por aí?

BRUCE: - Está ajudando no palco. Ponham isto daquele lado!

MULDER: - (INCRÉDULO) O quê?

BRUCE: - É, ela e o Pink estão conferindo tudo.

MULDER: - Desde quando a Scully entende de palcos?

BRUCE: - Não disse que ela era roqueira? Pois tem uma carreira promissora pela frente... Quero ouvi-la cantar.

MULDER: - (DEBOCHADO) Você não ia querer, acredite.

BRUCE: - Me dê licença um instante, preciso verificar as luzes...

Mulder fica parado, incrédulo. Um sujeito passa por ele, gritando.

HOMEM: - Com licença, com licença...

Mulder afasta-se. O sujeito passa com uma caixa nas costas. Mulder fica perdido no meio daquela agitação. Scully se aproxima. Mulder olha boquiaberto pra camiseta que ela veste, com uma estampa de Bryan.

SCULLY: - Gostou? (FELIZ/ REALIZADA) Ganhei uma camiseta da turnê, ganhei o CD novo, um portfólio cheio de fotos promocionais, um pôster e...

MULDER: - (DEBOCHADO) Scully... Não acha que está velha demais pra ficar por aí agindo como uma tiete desvairada?

SCULLY: - Quer uma camiseta? Posso conseguir pra você.

MULDER: - (IRRITADO) Quero ter um enfarte, agora, aqui, nesse exato momento.

SCULLY: - Vamos, vou te levar pro camarote.

MULDER: - E você, onde vai ficar?

SCULLY: - Atrás das cortinas, em cima do palco.

Mulder põe as mãos no rosto.

MULDER: - Eu quero acordar. Quero acordar...

SCULLY: - Ora, Mulder, aproveite o show. Vai gostar.

MULDER: - Vou meter uma bala na cabeça... é, acho que vou fazer isso. Por falar em arma, onde está sua arma?

Scully mostra a arma na cintura, por dentro das calças jeans.

MULDER: - Scully, me faz um favor? Quer tirar essa coisa pendurada no pescoço que diz que você é da produção?

SCULLY: - É minha credencial de acesso ao palco.

MULDER: - Quem te deu isso?

SCULLY: - (SORRI BOBA) Adivinha!

Mulder afasta-se, passando por Scully com um beiço enorme.

SCULLY: - (CÍNICA) Nem deixou eu dizer que foi o Bruce...


9:12 P.M.

Mulder, em pé no camarote. Observa tudo lá de cima, através de uma enorme janela de vidro. O teatro está lotado. Scully aproxima-se dele. Entrega um rádio transmissor.

SCULLY: - Mulder, fique com isto. Nos comunicaremos assim. Ficarei no palco e vou te informar se algo estranho acontecer por lá. Claro, se quiser ficar no palco, eu fico aqui.

MULDER: - (ENCIUMADO) Não. Você pode sentir melhor o perfume dele lá de cima!

SCULLY: - Vai poder ouvir o pessoal da equipe por aí. Portanto estaremos informados sobre qualquer acontecimento.

Scully sai. Mulder fica olhando pra platéia. Beiço enorme. Bruce aproxima-se dele, com um rádio na mão.

BRUCE: - Ficarei aqui com você. A vista do palco é melhor.

MULDER: - Há quanto tempo trabalha nisso?

BRUCE: - Tempo o suficiente pra ficar maluco. Quer uma cerveja?

MULDER: - Não, obrigado.

Bruce pega uma cerveja do frigobar. Abre a lata. Fica ao lado de Mulder. Tenta ser gentil com ele.

BRUCE: - Deve ser bom ser agente federal.

MULDER: - (IRRITADO) Às vezes causa dor de cabeça.

BRUCE: - Mulder, se é que posso chamá-lo assim... Sua profissão é parecida com a nossa. Nunca sabe pra onde vão te mandar, nem que tipo de pessoas vai encontrar... Tá sempre viajando por aí, vendo coisas diferentes, pessoas e costumes diferentes. E principalmente o perigo de ser atacado.

MULDER: - Atacado?

BRUCE: - É. Só que ganho vantagem nisso. Não são os criminosos que atacam. São as garotas... Não toca nada?

MULDER: - Toco instrumento de corda.

BRUCE: - Baixo? Guitarra?

MULDER: - Não. Sino de igreja.

BRUCE: - Acho que não precisamos de tocador de sino por aqui. Sinto muito.

O rádio faz barulho. Bruce atende.

PINK: - O Bryan está pronto.

BRUCE: - Som?

JOHNNY: - Ok.

BRUCE: - Luz?

TARANTINO: - Até agora tudo bem.

BRUCE: - Estou com o agente Mulder do meu lado. Qualquer coisa me informem. Pink, amplificadores de palco ligados?

PINK: - Perfeito.

BRUCE: - Atenção, quero as luzes apagadas agora. Gelo seco e luz, estão prontos?

PINK: - Perfeito.

BRUCE: - Foi!

As luzes se apagam. Bruce cruza os braços e observa. O gelo seco vai fazendo fumaça no palco. As luzes azuis e violetas começam a transpassar pelo palco. A platéia vai gritando o nome de Bryan.

MULDER: - Pena que não é o Waters!

BRUCE: - Já conhecia o trabalho do Bryan?

MULDER: - (IRRITADO) Minha parceira é maluca pelo seu pop star aí. Tem todos os CDs. Já aturei ela de Washington à Califórnia, ouvindo Bryan Adams. Estou vacinado!

BRUCE: - (RINDO) Tudo que menos quero ouvir é o Bryan quando estou de férias.

MULDER: - Não enjoa de ouvir sempre a mesma coisa?

BRUCE: - Pra dizer a verdade, é como gravar mil vezes uma mesma cena. Se acostuma. Ouvimos não como ouvintes, mas como técnicos... Gosta do som?

MULDER: - Pra dizer a verdade... gosto de algumas músicas.

BRUCE: - Das trilhas de filmes?

MULDER: - São as mais conhecidas. Mas se eu ouvir ‘Have you ever really loved a woman’, eu vou enlouquecer!

BRUCE: - As pessoas acham que Bryan é um cara romântico, que só tem músicas melosas. Mentira. Precisa ouvir os rocks que ele faz. O bom de trabalhar com ele é que o Bryan é muito na dele e essa coisa de sucesso não afetou sua cabeça. Ele é crítico demais com seu trabalho, fica na dele, se dá bem com todo mundo e não gosta de falar de sua vida fora dos palcos. É um profissional, não uma estrela.

MULDER: - É, dizem que o mundo pop é muito complicado.

BRUCE: - Por isso é melhor ficar fora dele, o máximo que puder.

Bryan entra no palco. Gritaria geral. A banda entra atrás dele. O guitarrista entra fazendo um solo. O baterista bate as duas baquetas uma contra a outra no alto da cabeça. O som começa a rolar. Bryan aproxima-se do microfone. Tocam ‘Kids wanna rock’ , um rock mais pesado.

MULDER: - O guitarrista é bom.

BRUCE: - É. Keith toca bem. São caras velhos, já tem estrada. É diferente desses garotos que tem pique mas que não tem a experiência.

MULDER: - Quando eu era garoto pensava em ter uma banda de rock. Mas nunca tive jeito pra isso.

BRUCE: - Prefere caçar alienígenas.

MULDER: - (CURIOSO) Como sabe?

BRUCE: - Eu chamei você. Já conversamos na Internet sobre assuntos paranormais.

Mulder sorri. Abaixa a cabeça.

BRUCE: - Você é muito popular nas listas de discussões. Admiro o trabalho que faz, tentando provar a verdade das coisas, num mundo cego.

MULDER: - Fazem muitos shows por ano?

BRUCE: - Muitos. Europa, América, África, Ásia... Fomos a primeira banda a tocar no Vietnã. Foi uma experiência incrível! No geral a gente faz mais shows beneficentes, a gente quer tocar pra angariar fundos para organizações não governamentais que lutam pelos direitos humanos, contra a fome, guerras, essas coisas.

A música termina. A platéia aplaude enlouquecida. Bryan aproxima-se do microfone.

BRYAN: - (GRITA) Boa noite Portland!

As pessoas gritam, assobiam, aplaudem. Bryan faz reverência. O alvoroço continua.

BRYAN: - Bem, é bom estar aqui de novo com vocês. A próxima música é “Run to you”.

Corta para o camarote.

BRUCE: - Sua parceira está se divertindo.

MULDER: - Até demais, pro meu gosto.

Scully entra. Caminha até eles. Entrega um refrigerante pra Mulder. Bruce afasta-se deles, pra conversar com um segurança.

MULDER: - Obrigado. Cansou de ficar no palco?

SCULLY: - Acho que estou velha pra ouvir som tão alto.

Mulder sorri.

MULDER: - Até agora nada de anormal.

SCULLY: - Porque você não estava no palco. Uma garota atirou a calcinha!

Mulder ri.

SCULLY: - Sério. Tem uma outra que chora desesperada.

MULDER: - É. Acho que vou desistir do FBI e arranjar emprego de segurança de roqueiro. Você agarra muitas meninas.

Silêncio entre os dois. Scully olha pro palco. Balança o corpo, acompanhando a música. Mulder olha pra ela e sorri.

MULDER: - Scully, esse seu lado de adolescente rebelde me fascina, sabia?

SCULLY: - ... Não vai dançar?

MULDER: - Não. Não sei dançar.

SCULLY: - ... (CANTANDO) I’m gonna run to you... I’m gonna run to you... Cause when the feelin’s right I’m gonna stay all night... I’m gonna run to you...

(estou correndo pra você - estou correndo pra você - pois quando o sentimento é certo, estou correndo a noite inteira, estou correndo pra você)

MULDER: - ...

SCULLY: - ... Ele tem uma voz linda, não acha? As pessoas gostam dele. Olha a simplicidade! Uma calça jeans, uma camisa branca... Nada de roupas extravagantes, caras...

MULDER: - Ele não é ‘O Artista’.

Scully continua olhando pro palco. Mulder olha pra ela, admirando-a.

MULDER: - Tá feliz, não tá?

SCULLY: - Tô. Se tivermos um filho, vou chamá-lo de Bryan.

Mulder fica boquiaberto. Incrédulo.


9:37 P.M.

Bryan bebe um copo de água. Aproxima-se do microfone, suado.

BRYAN: - Na guitarra, Keith Scott!

Aplausos.

BRYAN: - Na bateria, Mickey Curry!

Aplausos.

BRYAN: - No baixo: Dave Taylor!

Aplausos.

BRYAN: - Teclados: Tommy Mandel!

Aplausos. Bryan tira a guitarra dos ombros. Pink entra no palco e a pega. Sai correndo.

BRYAN: - Bem... (OFEGANTE, SECANDO O SUOR DO ROSTO COM O BRAÇO) Essa é pra quem ama.

As pessoas aplaudem. O tecladista inicia sozinho. Bryan aproxima-se do microfone. Segura o pedestal. Fecha os olhos.

BRYAN: - When you love someone...

(Quando você ama alguém)

As pessoas fazem um alvoroço.

BRYAN: - You’ll do anything ...

(você fará qualquer coisa)

You’ll do all the crazy things ... that you can’t explain

(Você fará todas as coisas loucas que não pode explicar)

You’ll shoot the moon... put out the sun...

(Você irá atirar na lua – apagar o sol)

When you love someone.

(Quando você ama alguém)

Mulder olha pra Scully, que está olhando pro palco. A banda começa a tocar. Bryan canta com emoção, de olhos fechados. Scully percebe que Mulder olha pra ela. Mas finge que não vê.

You’ll deny the truth... believe a lie

(Você negará a verdade – acreditará na mentira)

There’ll be times that you’ll believe you can really fly

(Haverá horas em que acreditará que realmente pode voar)

But your lonely nights... have just begun

(Mas suas noites solitárias – estão apenas começando)

When you love someone...

(Quando você ama alguém)

Mulder aproxima sua mão da mão de Scully. Toca-a. Ela não reage. Mulder segura a mão dela. Aperta-a fortemente. Scully aperta a mão dele. Os dois olham-se. Scully abaixa a cabeça, rindo. Mulder olha pro palco.

When you love someone... you’ll feel it deep inside

(Quando você ama alguém – você sentirá isto profundamente)

And nothin else... can ever change your mind

(E ninguém mais - pode mudar seu pensamento)

When you want someone... when you need someone...

(Quando você quer alguém – quando precisa de alguém)

when you love someone...

(Quando você ama alguém)

O solo da música começa. Bryan balança-se com o microfone, com a cabeça abaixada. Mulder solta a mão de Scully. Põe o braço por cima do ombro de Scully, puxando-a pra perto de si. Scully permanece estática. Bryan, ergue a cabeça, fechando os olhos.

When you love someone ... you’ll sacrifice

(Quando você ama alguém – você se sacrificará)

You’d give it everything you got

(Você entregará tudo o que ganhou)

And you won’t think twice

(E você não ganhará isso em dobro)

You’d risk it all... no matter what may come

(Você arriscará tudo – sem ver as conseqüências que podem vir)

When you love someone... yeah...

(Quando você ama alguém)

You’ll shoot the moon ... put out the sun

(Você irá atirar na lua – apagar o sol)

When you love someone

(Quando você ama alguém)

A música termina e as pessoas aplaudem. A banda começa a tocar “Inside Out”, outra música romântica.

The biggest lie you ever told

(Você sempre falou a grandiosa mentira)

You deepest fear ‘bout growin old

(Você esconde medo em seus anos vividos)

The longest night you ever spent

(As extensas noites você sempre gastou)

The angriest letter you never sent

(As cartas furiosas você nunca enviou)

The boy you swore you’d never leave

(O garoto que você jurou nunca deixar)

The one you kissed on New Year’s Eve

(O único que você beijou no Ano Novo)

Mulder olha pra Scully, sorrindo.

SCULLY: - Acho melhor voltar pro palco.

Scully sai. Mulder abaixa a cabeça. Ri sozinho.


9:57 P.M.

Apenas o som do violão. Bryan está tocando. Balançando-se ao som da música, ‘On a day like today’, que é lenta. A banda começa a tocar. Keith larga um solo na guitarra. Bryan continua se balançando. Fecha os olhos. Abre-os. Olha pro chão. Perde-se da entrada na música. O guitarrista olha pra ele. Improvisa outro solo. O baixista olha pra Bryan. Bryan olha catatônico pro chão.

Close de um duende, balançando-se e imitando Bryan tocar.

Keith olha pra Bryan. Bryan entra na música novamente, mas olhando pro duende.

BRYAN: - (APAVORADO) Free is all we gotta be

(Livre é tudo o que você tem que ser)

Dream dreams no one else can see

(Sonhar sonhos que ninguém mais pode ver)

Bryan olha pra platéia, mas eles parecem não ver o duende. Bryan olha na direção de Scully, que está no cantinho do palco. Scully olha pra ele. Bryan olha assustado. Aponta pro chão. Scully olha pro chão e não vê nada. Pega o rádio.

SCULLY: - Mulder... Tem alguma coisa aqui!

MULDER (OFF): - Estou indo, Scully.

Bryan continua cantando, olhando pro chão. A música termina e Bryan puxa outra música, atropelando tudo. A banda segue, mas estranhando. Bryan tira o violão, parando de tocar e só cantando. Keith olha pra ele. Bryan pega o microfone e afasta-se do duende. O duende sai correndo pelo palco, passando pelos pés de Dave. Dave pressente algo e olha pro chão. Bryan começa a dançar pelo palco, na intenção de ver pra onde o duende foi. Procura-o com os olhos. O baterista toca, preocupado. Está com um fone-microfone no ouvido. Olha pra cima.

MICKEY: - Merda, Bruce! Tem uma coisa voando na minha cabeça!

BRUCE (OFF): - Segue a música, o FBI tá chegando.

Mulder aproxima-se de Scully. Grita no ouvido dela, por causa do som alto.

MULDER: - O que viu?

SCULLY: - Eu não sei... Não vi nada. Mas ele tá vendo!

Bryan aponta pro fundo do palco. Mulder entende. Mulder e Scully descem as escadas correndo. Vão pra trás do palco. Há várias caixas empilhadas. Mulder puxa a arma. Scully começa a procurar entre as caixas.

BRUCE (OFF): - Mulder, está me ouvindo?

Mulder pega o rádio.

MULDER: - Fala.

BRUCE (OFF): - Tem alguma coisa no palco.

Mulder olha pra Scully.

MULDER: - Fique aqui.

Mulder corre. Sobe as escadas do palco. Olha pra cima. Bryan canta, assustado. Em cima do palco, várias luzes brilham, bem pequeninas. Mulder sorri, boquiaberto. As luzes aproximam-se da platéia e desaparecem no fundo do teatro.


10:31 P.M.

O show terminou. Bryan entra no camarim, furioso, empurrando a porta com força. Bruce atrás dele. A banda vem calada, todos assustados. Scully e Mulder entram no camarim. Bruce fecha a porta. Bryan pega uma toalha e escora-se na parede, segurando a toalha contra o rosto.

BRUCE: - Gente, acalmem-se. Por que não vão beber alguma coisa...

BRYAN: - Alguém... Alguém pode me dizer o que foi aquilo?

MULDER: - Primeiro me responda, se é que tem tempo agora, o que foi que viu nas outras vezes?

Bryan tira a toalha do rosto. Olha pra Mulder. Batidas na porta. Bruce abre só uma fresta. Pink está ali.

PINK: - A imprensa tá aí, quer entrevista.

BRUCE: - Segura eles um pouquinho. Serve um coquetel.

PINK: - Tá brincando! Que coquetel?

BRUCE: - Droga!!!!! Eu resolvo!

Bruce sai, fechando a porta.

Keith tranca a porta. Mickey senta-se no sofá, catatônico. Dave pega uma cerveja e faz de conta que está num sonho. Keith escora-se na porta.

MICKEY: - (BOBO/ FORA DE SI) Eu vi uma coisa... voando... acima da minha cabeça...

BRYAN: - Viu aquele anãozinho no chão?

MICKEY: - Não vi anãozinho nenhum!

BRYAN: - E você, Dave?

DAVE: - Eu? Eu não vi nada. Só vi um baterista deixar uma baqueta escorregar da mão. Quase acertou minha cabeça! Só errei três acordes. Só vi o Keith perder a palheta e errar o solo. E vi o Bryan pulando no palco como um biruta durante uma música lenta!

Keith caminha até a porta.

KEITH: - Preciso de ar. Vocês me deixam doidos! Isso que a turnê mal começou!

Keith abre a porta. Sai com Dave. Mickey levanta-se.

MICKEY: - Preciso de ar também.

Mickey sai. Bryan atira-se no sofá. Pink entra.

BRYAN: - Pink, me dá uma dose, por favor. Preciso beber algo. (OLHA PRA SCULLY) Quer alguma coisa?

SCULLY: - O mesmo, Pink.

Mulder olha pra Scully. Cochicha no ouvido dela.

MULDER: - (DEBOCHADO) Isso é que é fanatismo! Vai beber uísque porque o otário aí bebe.

BRYAN: - Quer algo pra beber também, agente Mulder?

MULDER: - (IRRITADO) Não bebo em serviço.

Scully ri. Pink volta com dois copos de suco. Entrega pra Bryan e Scully. Sai do camarim. Mulder olha incrédulo. Bryan faz um brinde pra Mulder, erguendo o copo. Scully cochicha pra Mulder.

SCULLY: - Acha que não conheço a bebida do meu ídolo, otário? Suco de abacaxi!

Bryan toma um gole. Olha pra Mulder.

BRYAN: - Não sabia que o FBI não podia tomar suco de abacaxi quando está em serviço.

Mulder fica sério.


BLOCO 3:

10:47 P.M.

Bryan respira fundo. Mulder olha pra ele, enfurecido.

BRYAN: - ... Era um... gnomo.

MULDER: - Tem certeza?

BRYAN: - Alguém nesse mundo tem certeza de alguma coisa?

MULDER: - Pode descrevê-lo?

BRYAN: - ... (RI) Sabe o que é engraçado além do fato de que não acredito nessas coisas? Ele tava me imitando, debochando da minha cara.

MULDER: - Como era o rosto dele?

BRYAN: - Magro, fino.

MULDER: - Braços e pernas longos? Era um só?

BRYAN: - Sim.

MULDER: - Pele rude?

BRYAN: - É, não era nada bonito se é o que quer saber. E eu que me achava feio...

MULDER: - (CONVENCIDO) Não era um gnomo. Era um duende.

BRYAN: - (CURIOSO) E tem diferença?

MULDER: - Muita. Gnomos andam em grupos. Duendes andam sozinhos. São desengonçados, com olhos pequenos e pretos, ligeiramente repuxados pro alto.

Bryan olha pra Mulder, impressionado. Scully segura o riso.

BRYAN: - (DEBOCHADO) Ótimo. Já que conhece o suspeito, pode traçar um perfil psicológico dele e largar o retrato falado por aí.

MULDER: - (DEBOCHADO) Já pensou que ele pode ter se atraído por você por causa da similaridade física e estética?

BRYAN: - Não. Ele era moreno assim como você.

Mulder sai, batendo a porta. Scully fica parada ali. Olha pra Bryan. Mulder entra novamente.

MULDER: - Vamos embora, Scully. Acho que vou mandar um grupo de busca revirar isso aqui, porque a droga está afetando tanto o cérebro que estão vendo coisas!

SCULLY: - Mulder!

Mulder sai, batendo a porta. Scully fica encabulada.

SCULLY: - Ahn... Eu...

BRYAN: - ... (OLHA PRA ELA)

SCULLY: - Eu... (NERVOSA)

BRYAN: - (DEBOCHADO) Eu?

SCULLY: - ...

BRYAN: - Scully, não é mesmo?

SCULLY: - É.

BRYAN: - Scully, sente-se. Se quiser alguma fruta pode se servir. Relaxa. Isso foi demais pra cabeça de qualquer um.

SCULLY: - ... Senhor Bryan...

BRYAN: - (RINDO) Sim, senhora Scully?

SCULLY: - (SORRI) ... Desculpe pelo comportamento do meu parceiro. Ele sempre tem explicações pra tudo. Mas nunca explicações convincentes e racionais.

BRYAN: - É, mas... Não vejo explicações convincentes nem racionais pra isso... Ainda bem que estou ficando com a mente mais aberta... Mais místico.

Scully senta-se ao lado dele.

BRYAN: - Seu namorado não gosta de rock? Ou não gosta de canadenses? Ou do meu trabalho?

SCULLY: - Namorado?

BRYAN: - Se fosse apenas seu parceiro não ficaria por aí enciumado com a minha presença. Eu não sei, nunca vi o cara antes e ele me odeia! O que fiz pra ele me atirar pedras? Ele é sempre mal humorado assim?

SCULLY: - Não, ele é uma pessoa muito boa, compreensiva.

BRYAN: - Acho difícil de acreditar nisso...

SCULLY: - (FAZ PAUSA)... Ele tem ciúmes de você porque eu gosto do seu trabalho. Mas ele fica lambendo aqueles discos arranhados do Pink Floyd!

BRYAN: - Ei, eu toquei com o Waters na queda do muro de Berlim!

SCULLY: - ... Estou tietando por aí. Ele tem razão... Tenho todos os seus CDs... e... quero pedir seu autógrafo...

BRYAN: - Se me der o seu num talão de cheques...

SCULLY: - Não! É sério.

Bryan pega uma caneta na mesa de centro.

BRYAN: - Tem papel?

Scully tira a credencial do bolso. Retira-a da carteirinha.

SCULLY: - Pode escrever no verso.

BRYAN: - Isso é o que eu chamo de autógrafo oficial...

Bryan lê a credencial.

BRYAN: - Hum... Dana Katherine Scully?

SCULLY: - Só Dana Scully.

Bryan começa a autografar.

BRYAN: - Não vai rir? Eu sempre gosto de fazer essa pergunta quando vejo uma pessoa que entra aqui, quer meu autógrafo, tem todos os meus CDs e curte o que eu faço: Qual sua música preferida?

SCULLY: - Ah, isso é crueldade!

BRYAN: - Obrigado, fico lisonjeado. Uma só.

SCULLY: - Let’s make a night to remember.

BRYAN: - Vou cantá-la pra você amanhã.

SCULLY: - (EMPOLGADA) Sério?

BRYAN: - É, mas em troca vai ter que algemar aquele anãozinho! Ele tá atrapalhando minha vida.

SCULLY: - ... Não, melhor não cantar essa. Tenho uma recordação bonita, mas trágica dessa música.

BRYAN: - Escolhe outra.

SCULLY: - (FELIZ) Puxa, você quer cantar mesmo pra mim, não?

BRYAN: - Claro! Não é todo o dia que tenho uma agente do FBI na platéia! Posso precisar de um segurança particular algum dia. Eu sou interesseiro, sabia?

SCULLY: - Ah, pára. Você não é.

BRYAN: - Desde quando conhece meu trabalho?

SCULLY: - Desde aquele LP chamado Bryan Adams.

Bryan coloca as mãos no rosto e abaixa a cabeça.

BRYAN: - Você ouviu aquilo? Eu parecia um frango cacarejando!

SCULLY: - Mas eu gostei das músicas. Sua voz melhorou muito!

BRYAN: - Eu fugia das aulas! Eu sempre odiei aulas!

SCULLY: - Não tem tempo pra isso.

BRYAN: - Exatamente. A música é tudo o que preciso pra viver. É a força que me move. Diga ao seu namorado que não precisa se preocupar comigo. Não sou um cara estudado, nem tenho o conhecimento que ele tem.

SCULLY: - Você teve o sucesso que merecia. Lutou por ele.

BRYAN: - Não ligo pra isso, Scully. É mito.

SCULLY: - E qual é o maior mito sobre a fama?

BRYAN: - Tudo. O mais perturbador é que as pessoas glorificam um ser humano. Somos todos humanos, todos iguais. Embaixo de qualquer fachada que você possa ter... Pessoas são iguais.

SCULLY: - ...

BRYAN: - Acho que o mundo está se guiando cada vez mais por Hollywood. As pessoas dão ênfase ao celebritismo. Eu acho isso muito grotesco, sei lá. Não ligo muito pra fama. Me preocupo em ser bom no que faço...

SCULLY: - ... Acho muito legal o trabalho que você faz, esses shows beneficentes, arrecadando fundos... E acho mais bonito que você nunca fala sobre eles. Não faz propaganda. Isso prova que faz porque se preocupa, não porque quer aparecer nos jornais.

BRYAN: - Legal isso, sabia? Geralmente ficam sempre lembrando de coisas ruins como Everything I do, que foi rejeitada como tema de Robin Hood. Numa maneira de dizer: Hei, Bryan, na falta de uma música boa, escolhemos a sua. Ou perguntas pessoais do tipo: qual é a sua idade? Tem namorada? Tem filhos? Como você é na sua vida sexual?

Scully começa a rir.

BRYAN: - Fanatismo me dá medo. As pessoas parecem querer saber quem é o Bryan, não o quê ele faz! O que interessa minha vida pessoal? Se eu fosse padeiro, não perguntariam. Qual é a diferença? Isso é profissão. Meu trabalho é esse. Por isso odeio entrevistas. Tenho que ficar sério, olhando pra cara do entrevistador e dizendo: Não vou falar sobre isso. Aí eles enrolam e depois perguntam de novo. Aí você repete que não vai falar. Aí ficam chamando você de orgulhoso, metido...

SCULLY: - Vida pessoal vende, Bryan.

BRYAN: - Vende. Mas vão vender a dos outros! Tem gente por aí louca pra contar segredos íntimos. Vão falar com elas. Eu comecei com 16 anos, numa merda... Tinha que trabalhar duro pra comprar uma corda de guitarra! Lavava louça em restaurante. Isso quando consegui fixar residência, porque o velho era militar, tava sempre se mudando.

SCULLY: - Sei o que é isso.

BRYAN: - Ah, então sabe a pressão dentro de casa. Você perde suas crenças, tudo é muito autoritário, você tem que ser reservado, comportadinho, o modelo perfeito. Mas eu não fui. Por isso caí no mundo. Eu sou rebelde por natureza. Tenho um apartamento em Londres, mas moro sempre pelo mundo, nos hotéis, com minha mochila e o básico pra viver.

SCULLY: - ... Meu pai era militar. Meu irmão é militar.

BRYAN: - Mas você é rebelde. Aquele tailleur não disfarça isso.

SCULLY: - Talvez seja destino de filhos de militares...

BRYAN: - Pode ser. (SUSPIRA) Tô cansado... Dia estressante, noite estressante...

SCULLY: - Vou deixar você.

BRYAN: - Não, vamos juntos, estamos no mesmo motel. Acho que agora dá pra sair na calma, sem seguranças. Preciso de um banho, mas vou fazer isso quando chegar lá. Quero dormir, dormir... Ainda bem que amanhã só tenho o show pra fazer. O Bruce que não me arranje nada de última hora.

SCULLY: - ...

BRYAN: - Tá com fome? Que tal um lanche? Mas não posso te levar em lugares públicos. Tem que ser no motel.

SCULLY: - (RI)

BRYAN: - Ah, você ri? Essa é a pior parte, sabia? Daqui a pouco aparece um metido: Bryan Adams está de caso com uma agente do governo. Daí depois, um outro mais metido ainda diz: Tudo pra não pagar o imposto de renda.

Bryan levanta-se.

BRYAN: - Vamos, Scully. Vamos comer alguma coisa, conversar, relaxar e pensar nos duendes do seu amigo...


Motel Black Pearl - 3:21 A.M.

Mulder está sentado numa poltrona de frente pra janela, comendo sementes de girassol e ouvindo num walkman, ‘Hold On’, de Sarah McLachlan. Vê Scully sair do quarto de Bryan. Levanta-se, indignado, tirando o walkman. Abre a porta. Scully se surpreende.

SCULLY: - Mulder? Ainda acordado?

MULDER: - (IRRITADO) Estava esperando a minha parceira pra discutir sobre duendes. Mas parece que ela achou um duende pra passar a noite.

SCULLY: - Do que está falando?

Scully entra no quarto dele. Olha pra parede. Há um enorme pôster pendurado de Sarah McLachlan.

SCULLY: - (CURIOSA) O que significa isso?

MULDER: - Significa que se você pode arranjar um canadense pra você, eu também posso arranjar uma canadense pra mim. E ela não tem cara de duende! Ela é linda, sexy... Quente.

SCULLY: - (IRRITADA) Mulder, eu não vou admitir que você desconte sua incapacidade de ser homem no pobre do Bryan!

MULDER: - Que incapacidade de ser homem? Eu sou homem. Aquele duende é que não é. Ele não me engana, Scully. Ele é bicha!

SCULLY: - Que infantilidade, Mulder! O Bryan não é isso.

MULDER: - (FURIOSO) Bryan? Ah, então já são tão íntimos que se chamam pelo primeiro nome? Você nunca me chamou de Fox!

Scully olha pra Mulder, incrédula. Mulder fica emburrado, cruza os braços.

SCULLY: - Saiba de uma coisa: Não vou cair nessa! Não vai conseguir inverter o jogo. Eu fui magoada por aqui, quem tem a razão de fazer beiço sou eu! Porque você me feriu várias vezes em duas semanas! Tenho o direito de estar magoada, ‘Fox’!

MULDER: - ... Até pensei em preparar uma noite romântica... (IRRITADO) Mas daí aparece esse duende aí... O duende metido, meloso! Esse canadense imbecil! Essa bicha doida que bebe suco de abacaxi! Esse... Esse...

Scully abre a porta.

SCULLY: - Tenha bons sonhos com a sua Sarah McLachlan.

MULDER: - Só me diga uma coisa: O que ele tem que eu não tenho?

SCULLY: - Nem vou responder.

Scully sai. Fecha a porta.

SCULLY: - Que horror! Como os homens são burros e bobos!


8:11 A.M.

Mulder continua acordado. Abre a porta. Olha pra rua. Faz uma fisionomia de sacana. Fecha a porta do quarto. Caminha até o carro. Abre a porta e senta-se no banco. O celular toca. Mulder atende.

MULDER: - Mulder.

SKINNER (OFF): - Como está a investigação, Mulder?

MULDER: - ... Skinner, estou enrolado. Tem dois duendes nessa história, mas eu só consigo me preocupar com o que está com a minha garota!

SKINNER (OFF): - Do que está falando?

MULDER: - Skinner, não posso falar agora. Estou para pegar o duende.

Mulder desliga. Abre o porta luvas do carro. Revira uma pilha de CDs. Retira um. Beija-o.

MULDER: - Alanis... Você é minha amiga, nem imagina o quanto!... Sou tarado pelas mulheres canadenses...

Mulder coloca o CD no aparelho. Aperta o volume até o último.

MULDER: - Eu não dormi, senhor Adams. Mas você também não vai dormir!

Mulder sai do carro. Caminha até a lanchonete, rindo.

[Som: Alanis Morrissete – Thank U]

A música começa, numa altura tão grande que acorda todo o motel.


Centro de Convenções de Portland – 3:27 P.M.

Mulder caminha pelo palco. Scully ao lado dele, sonolenta.

SCULLY: - O que está procurando?

MULDER: - Pistas. Quer minha teoria?

SCULLY: - (BOCEJA) Fala.

MULDER: - Aposto que isso tudo é um truque bem bolado de marketing.

SCULLY: - Não acredito, Mulder! Como pode pensar isso dele?

Mulder puxa um papel do bolso. Com ar de quem sabe mais.

MULDER: - Leia isso, agente Scully. Seu amiguinho não é o que você pensa.

SCULLY: - O que é isso?

MULDER: - Verifiquei a vida do seu queridinho. Ele tem uma extensa ficha na polícia canadense.

Scully começa a rir. Nem lê o papel. Amassa-o e joga fora.

SCULLY: - Uso de drogas e problemas com a polícia?

MULDER: - (INCRÉDULO) Como sabe?

SCULLY: - Mulder, isso é passado! Ele nunca escondeu isso de ninguém. Fala até nas entrevistas!

MULDER: - ... (IRRITADO)

SCULLY: - Mulder, não pode ficar acusando as pessoas pelo seu passado! Adolescentes erram, sabia? Bryan se envolveu com drogas, foi expulso da escola, continuou tocando, nunca mais estudou... Todos temos o direito de errar! Está sendo irracional, Mulder. Quer descontar nele porque está com ciúmes!

MULDER: - Não estou com ciúmes. “Nem tudo é por você, Scully”.

SCULLY: - Mulder, concentre-se no caso.

MULDER: - Você tá fazendo isso?

SCULLY: - Tá. Vamos combinar uma coisa. Viemos aqui pra ajudar o Bryan, então...

MULDER: - (CORTANTE) Não vim aqui pra ajudar ele! Vim aqui atrás de um Arquivo X!

SCULLY: - Tá, seja como for. Vamos nos concentrar.

Mulder desce do palco. Scully o segue. Os dois sentam-se na platéia.

SCULLY: - Acha mesmo que foi um duende?

MULDER: - Alguém teria motivos pra armar essa pra cima dele querendo prejudicá-lo? ... Já que sabe tanto sobre o bobalhão de cara furada!

SCULLY: - Não. Já perguntei isso à todos.

MULDER: - Aposto que sabe até a cor das cuecas dele!

SCULLY: - Mulder, está sendo idiota e burro, sabia?

MULDER: - Idiota e burro você sabe quem é. Uma médica como você ficar caída por um ignorante que não sabe nem a fórmula da água!

SCULLY: - (FORA DE SI) Mulder, se continuar ofendendo o Bryan desse jeito, eu juro que vou pra cama com ele, nem que seja pra uma rapidinha! Ele pode não ter estudo, mas sabe como tratar uma mulher! E você pode saber a teoria da relatividade na ponta da língua, mas isso não te dá habilidades sentimentais e sensíveis, porque você é um grosso, estúpido e insensível, que não sabe fazer uma gentileza, um carinho! Não saem palavras bonitas da sua boca, só saem teorias! E eu não vivo de teorias, Mulder! Já pensou que em alguns momentos eu quero ser tratada como uma mulher, e não como uma cientista?

Mulder distrai seu olhar, reconhecendo seu erro. Scully cruza os braços, segurando as lágrimas, fazendo beiço. Magoada. Mulder suspira.

MULDER: - Scully, o que sabe sobre elementais?

Scully abre a boca, mas Mulder não espera pela resposta.

MULDER: - Segundo Paracelsus, os elementais se dividem em quatro elementos primários: gnomos e duendes, que pertencem à terra; ondinas à água, salamandras ao fogo e silfos e fadas ao ar.

Scully suspira. Desiste.

MULDER: - Não são espíritos e nem imortais. Seus corpos são constituídos de carne, sangue e ossos. Estão numa faixa entre homens e anjos. Existem várias dimensões, Scully, e esses seres são muito sutis. Tem um comportamento bem similar ao nosso. Comem, dorme, dançam, amam...

SCULLY: - .... (BOCEJA)

MULDER: - Fadas se encaixam no que eles viram. Vi algo também. Não eram apenas luzes. Eram fadas.

SCULLY: - Mulder, está dizendo que fadas e duendes estão assistindo um show de rock sem pagar ingresso?

MULDER: - Estou dizendo que esses elementais são atraídos por pessoas. Fadas e duendes gostam de pessoas. Duendes sentem-se bem perto de nós, eles são brincalhões e debochados.

SCULLY: - (DEBOCHADA) Por que não gnomos?

MULDER: - Porque gnomos andam em bandos. Duendes andam sozinhos. Dormem durante o dia pra ficarem acordados à noite. E duendes costumam brincar com nossos pertences. Nunca ficou por horas procurando um objeto que jurava ter deixado num determinado local e depois o objeto aparece em outro? São eles, Scully. Eles levam mas devolvem.

SCULLY: - (DEBOCHADA) E por que fadas, Mulder?

MULDER: - Porque são alegres. Elas têm aura dourada, Scully, da mesma cor dessas luzes. E acredito que estas daqui são fêmeas.

SCULLY: - (FAZENDO BEIÇO, SEGURANDO O RISO) Ah, fêmeas... Por quê? Por que não resistiram ao charme do Bryan? Não resistiram a voz e as músicas românticas dele?

MULDER: - Não. Fadas não são burras como as mulheres. As fêmeas preferem cores como o violeta. Os machos preferem verde, vermelho, azul ou amarelo-claro. As fadas exalam luz azul claro de seus olhos, que mistura-se com o dourado de sua aura. Foram as cores que vimos no palco.

SCULLY: - (INDIGNADA) Eu não acredito nisso, Mulder! Isso são contos infantis! Não vou perder meu tempo ouvindo suas bobagens! Você é quem anda drogado por aqui!

MULDER: - Tudo bem, Scully. Pense o que quiser. Meu trabalho por aqui acabou.

SCULLY: - Como acabou?

MULDER: - São elementais, Scully. Elementais são seres benignos. Estão presentes em todas as partes, na natureza, dentro de nossas casas... Eles não fazem mal pra ninguém.

SCULLY: - ... Mas e a minha teoria científica?

MULDER: - Tem alguma?

SCULLY: - ...

Mulder levanta-se.

SCULLY: - Mulder, não pode ir embora agora.

MULDER: - Pode ficar. Sei que quer ficar.

SCULLY: - Mulder, quero ter o direito de investigar à minha maneira! Somos ou não parceiros?

Mulder caminha em direção à porta. Scully fecha os olhos.


4:16 P.M.

Ensaio. Bryan aproxima-se do microfone. Começa a testar o som. Scully está sentada na platéia, pensando longe. Mulder está atrás do palco, procurando pistas entre as caixas. Bryan olha pra Scully.

BRYAN: - Hey, baby!

Scully olha pra ele e sorri amavelmente. Bryan começa a tocar. Mulder passa na frente do palco, ignorando-o. Bryan o acompanha com os olhos. Mulder senta-se atrás de Scully. Cochicha.

MULDER: - (ENCIUMADO) Essa é pra você? Posso cantar Macarena se quiser. Rebolo bem melhor do que o Ricky Martin.

Scully solta uma gargalhada. Mulder fica ofendido. Muda a fisionomia.

MULDER: - Tive um ideia.

Scully vira-se pra Mulder.

SCULLY: - O que vai fazer?

MULDER: - Buscar farinha.

SCULLY: - Farinha? Farinha pra quê, Mulder, ‘O Estranho’?

MULDER: - Vou colocar farinha no chão, ‘agente cética e fria Scully’. Seja o que for, vai deixar pegadas. Embora preferisse buscar tomates pra jogar nesse duende aí!

Mulder levanta-se. Olha pra Bryan. Dá as costas e sai.


BLOCO 4:

9:21 P.M.

Mulder e Scully sentados na primeira fila. A platéia faz muito barulho. Mulder não tira os olhos do palco. Há farinha espalhada por sobre o palco, perto de Bryan. Scully embala-se com a música. Mulder está parado, sério, contrariado e irritado.

I wanna be – your lipstick... when you lick it

(Eu quero ser seu batom quando você o lambe)

I wanna be – your high heels when ya kick it

(Eu quero ser seus sapatos altos quando você os chuta)

I wanna be – your sweet love baby – ya, when you make it

(Eu quero ser seu doce amor, baby – quando você o faz)

From your feet up to your hair - More than anything I swear

(Dos seus pés até seus cabelos – mais que qualquer coisa eu juro)

I wanna be – your underwear

(Eu quero ser – sua lingerie)

Mulder cochicha pra Scully. Já tá doente de ciúmes.

MULDER: - Essa deve ter sido pra você também. Ficando famosa, não?

SCULLY: - Eu mereço! Eu mereço! Ou sou muito gostosa ou você não tem capacidade pra achar coisa melhor! Não enche o meu saco, Mulder! Você é doentio e chato, sabia?

MULDER: - (PARANOICO) Ele não cantou essa ontem. É pra você sim, aquele desgraçado. Eu vou esganar ele até não sobrar uma corda vocal!

SCULLY: - Mulder, você é paranoico, sabia? Que horror!

Mulder cruza os braços, cego de ciúmes. Scully segura o riso. Bryan olha pra Mulder. A música termina, minutos depois. Bryan dá uns acordes na guitarra e canta um pedaço da música que Scully gosta.

BRYAN: - Só um trechinho pra uma pessoa especial.

And how ya stare at me with those undress me eyes

(E como você me admira com aquele olhar que me despe)

Your breath on my body makes me warm inside...

(Sua respiração em meu corpo me faz esquentar por dentro)

MULDER: - Eu não disse? Depois eu sou o paranoico!

BRYAN: - Agora eu vou cantar uma música pra quem diz que sou um duende que só faz barulho... Na verdade, é pra amiga dele que acredita em duendes... Ok, baby...

Mulder olha pra Bryan, o fuzilando com os olhos. Bryan ajeita a guitarra. Keith e Bryan começam a tocar um blues. A banda os segue. Bryan aproxima-se do microfone e começa a cantar, olhando pra Scully. Fazendo charme. Mulder fica catatônico, de boca aberta. Scully sorri.

She gotta nasty reputation and a talent for sin

(Ela ganhou reputação desagradável e um talento para pecar)

She’s the kinda trouble... I like to be in

(Ela é o tipo problemático – e eu gosto de estar em casa)

I wanna be her lover (olha pra Scully)

(Eu quero ser seu amante)

(sensual) I wanna be her slave

(Eu quero ser seu escravo)

She’s the kinda woman makes me wanna misbehave

(Ela é uma mulher problema fazendo eu me perverter)

She said “I’ll give ya what you want boy...

(Ela disse: “Eu darei o que você quer, garoto)

but let’s make it understood

(mas deixe-me fazer isto discretamente)

If you wanna be bad ya you gotta be good”

(Se você quer ser mau – você tem que ser bom”)

Scully começa a rir. Mulder coloca a mão no coldre, irritado.

She says “there’ll be no lyin’ – no foolin’ around

(Ela disse: “Lá será sem mentiras – nem tolices por aí à fora)

No seven day weekends – no nights on the town”

(Nem sete dias de fim de semana – sem noites na cidade”)

She said “ that’s the way I want it ...

(Ela disse: “ este é o caminho que eu quero)

that’s the way it’s gotta be

(Este é o caminho, é o que tem que ser)

If yer lookin’ for trouble ... better get it from me

(Se procura por encrencas – melhor deixar isto pra mim)

So get on your knees boy – and do what you should

(Então caia de joelhos garoto – e faça o que devia fazer)

If you wanna be bad yeah you gotta be good

(Se você quer ser mau – você tem que ser bom”)

Keith começa a solar.

Oh... I gotta be bad, baby... or be good

(Oh... Eu tenho que ser mau, baby... ou ser bom...)

Bryan pára com a guitarra e tira a harmônica do bolso das calças e começa a tocá-la. A platéia vai ao delírio. Mulder vai ao último de ciúmes. Bryan pára com a harmônica e segura o microfone. Dançando e esfregando-se nele. Olhando pra Scully. Keith olha pra Dave e começa a rir. Fazem os backings da música. Mulder parece soltar fogo pelo nariz.

Hey! Let’s make a night to remember?

(Hei... Vamos fazer uma noite pra relembrar ?)

From January to December

(De Janeiro à Dezembro)

Let’s make love! To excite us

(Vamos fazer amor! Pra nos excitar)

A memory ... to ignite us

(Uma memória para nos acender)

Let’s make honey, baby... Ohhh

(Vamos fazer doce, baby)

Soft and tender

(Suave e carinhoso)

Let’s make sugar darlin’ ... sweet ... sweet surrender

(Vamos fazer docemente, querida, ...doce... doce entrega...)

Let’s make a night to remember

(Vamos fazer uma noite para relembrar)

Hey! Let’s make a night to remember

(Hei! Vamos fazer uma noite para relembrar)

Let’s make love to excite us

(Vamos fazer amor pra nos excitar)

Let’s make a night to remember

(Vamos fazer uma noite para relembrar)

Let’s make a night to remember

(Vamos fazer uma noite para relembrar)

All life long!

(Por toda a vida)

O baterista faz um solo.

Let’s make a night baby... yeah! All life long!

(Vamos fazer uma noite, baby... sim... Pra toda a vida!)

A música termina e as pessoas aplaudem de pé. Mulder olha pro palco. Olha pra Bryan. Bryan começa a tocar “One a day like today”. Mulder olha pras cortinas. Percebe alguma coisa se movendo. Mulder inclina-se pra frente. Vê o pé de Pink, que está sentado atrás das cortinas segurando uma guitarra. Mulder acena negativamente a cabeça. Scully o cutuca.

SCULLY: - Mulder.

MULDER: - (IRRITADO) O que foi?

SCULLY: - Acho que o Bryan tá tentando dizer alguma coisa.

MULDER: - (FURIOSO) Ele tá dizendo alguma coisa há horas, Scully, em indiretas musicais.

SCULLY: - Não é isso, Mulder.

Mulder olha pra Bryan. Bryan toca, mas com o braço da guitarra apontando pro chão. Balança-o. Mulder olha pro chão e não vê nada. Bryan está em desespero.

SCULLY: - Mulder, ele tá vendo alguma coisa que não vimos.

MULDER: - Espero que seja uma serpente peçonhenta!

SCULLY: - Mulder, é sério!

O guitarrista vacila no solo e começa a pular numa perna. Bryan olha pra ele. Keith olha desesperado pra Bryan. Bryan olha pro chão, mas não vê nada. Volta pro microfone e continua cantando. Mulder levanta-se. Scully vai atrás dele. Vão pro lado do palco. O segurança abre um portão de grades. Os dois passam. Pink vem descendo do palco.

PINK: - Alguma coisa mordeu a perna do Keith.

Mulder sobe as escadas de acesso ao palco. O show continua. Mulder agacha-se atrás das caixas de som. Olha pra Keith. Olha pro chão. Pequenas pegadas na farinha. Mulder sinaliza pra ele não pisar na farinha. Keith acena positivamente com a cabeça. Mulder desce do palco. Vai até Scully.

MULDER: - Bingo!

SCULLY: - O que quer dizer?

Mulder entra no camarim. Scully o segue. Mulder fecha a porta.

MULDER: - São duendes, Scully. Há pegadas na farinha.

SCULLY: - Tem certeza?

MULDER: - Quando essa barulheira parar você vai ver.


11:06 P.M.

Algumas pessoas ainda saem da platéia. Mulder e Scully olham agachados sobre o palco, pra farinha. Há pegadas minúsculas.

SCULLY: - Mulder, isso não prova nada.

MULDER: - Não? E quem disse que podemos provar tudo, Scully?

Mulder levanta-se.

MULDER: - Alguma teoria?

SCULLY: - ...

MULDER: - Caso encerrado, Scully. Se quiser ficar pro último show, fique. (ENCIUMADO) Tenho compromissos no Canadá.

SCULLY: - Canadá?

MULDER: - (DEBOCHADO) É. Tenho um ingresso de camarote pra assistir a ‘Sarinha’. Com direito a passe livre pelo camarim.

Mulder sai do palco. Scully olha pra ele furiosa.


11:38 P.M.

Mulder despede-se de Bruce.

BRUCE: - ... Então?

MULDER: - É só dizer pra ele não cantar mais aquela música. O duende e as fadas, sabe-se lá porque, sentem-se atraídos por aquela droga.

BRUCE: - ... Obrigado, Mulder.

MULDER: - Não me agradeça.

BRUCE: - O Bryan elogiou muito a sua investigação.

MULDER: - (FURIOSO) Diga ao Bryan que... (SE ACALMA) Espero que nunca mais precise dos meus serviços.

Mulder dá as costas. Bryan sai do camarim.

BRYAN: - Agente Mulder!

Mulder vira-se.

BRYAN: - Obrigado.

Bryan vê Scully, escorada numa parede, cabisbaixa. Olha pra Mulder que está saindo.

BRYAN: - Agente Mulder!

Mulder pára. Vira-se pra ele, irritado.

BRYAN: - Tem tempo pra uma cerveja?

MULDER: - Cerveja?

BRYAN: - É.

MULDER: - Não.

Mulder continua caminhando. Pára. Vira-se. Volta até a porta do camarim. Encara Bryan.

MULDER: - Pode me dizer uma coisa? Apenas uma coisa que está me deixando intrigado?

BRYAN: - Claro.

MULDER: - Como consegue fazer ela se derreter?

Bryan sorri. Olha pra Bruce.

BRYAN: - Não quero ser interrompido. Estou numa ‘entrevista’, entendeu?

Bruce sorri e afasta-se. Bryan olha pra Mulder.

BRYAN: - Entra aí. Vamos tomar uma cerveja.


Motel Black Pearl - 1:24 A.M.

Mulder, deitado na sua cama. Scully entra no quarto. Vê uma revista sobre a cama, intitulada: “Aprenda a tocar violão em 10 lições com Phoebe Buffay”.

SCULLY: - Pensei que tínhamos terminado as investigações. Não quer voltar pra Washington?

MULDER: - Não. Vou ficar pra assistir o próximo show.

SCULLY: - ? Virou fã?

MULDER: - (PROVOCANDO) Não. É que parece que a Sarinha vai tocar com ele.

SCULLY: - (ENCIUMADA) Sarinha... Estão íntimos, não?

MULDER: - Ah, Scully... Olha pra esse pôster! A Sarinha é demais! A voz dela, tudo nela é excitante. ‘Adoraria ouvir aquela voz às 3 da manhã no meu ouvido’.

SCULLY: - ... (CRUZA OS BRAÇOS, EMBURRADA)

MULDER: - Comprei todos os CDs dela. Quer ouvir?

SCULLY: - Mulder, você não vai conseguir me provocar!

MULDER: - ... Scully, eu sei que só tô errando com você. Errei e errei mesmo! Mas eu amo você. De todo o meu coração, eu amo você. Foi uma idiotice o que fiz. Mas eu... estava com ciúme.

Scully sai. Mulder fica olhando pra porta.


Centro de Convenções de Portland – 9:21 P.M.

Mulder e Scully sentados na primeira fila. Scully triste. Mulder assiste o show.

MULDER: - (DEBOCHADO) Aproveite, Scully. Sei que gosta disso.

SCULLY: - ... Perdi a empolgação.

MULDER: - Mas é o Bryan, Scully.

SCULLY: - ... Cala a boca, Mulder!

Bryan termina a música. Aproxima-se do microfone.

BRYAN: - Esse é o último show dessa turnê em Portland.

As pessoas começam a gritar.

BRYAN: - É sempre bom tocar aqui pra vocês.

Aplausos.

BRYAN: - Agora eu vou tocar uma música, não uma música comum. Ela é especial.

Mulder olha emburrado. Scully olha pra Mulder.

MULDER: - (ENCIUMADO) Ele vai dar a última indireta. Se colar, colou!

SCULLY: - Cala essa boca, Mulder! Ou vou calar eu mesma!

BRYAN: - Essa é pra dois amigos meus que parecem não estarem se entendendo mais.

Mulder e Scully se olham surpresos.

BRYAN: - Eu queria dizer pra eles e pra todos os casais aqui que... Puxa, encontrar alguém é a melhor coisa na vida.

Todos aplaudem.

BRYAN: - Ter alguém que a gente ame, alguém que nos ame... Alguém pra confiar...

Bryan olha pra Mulder e Scully.

BRYAN: - Escolhi esta porque a história deles é como um conto de ‘fadas’, como uma lenda. E amores são eternos. E o meu amigo, parece que não sabe expressar sentimentos. Tomo a liberdade de ser seu porta voz.

As pessoas aplaudem, gritam. Bryan tira a guitarra e entrega pra Pink. O tecladista começa a tocar. Bryan aproxima-se do microfone. Pega-o nas mãos. Respira fundo. Fecha os olhos e puxa toda a emoção.

Look in to my eyes... You will see

(olhe nos meus olhos... você verá)

What you mean to me

(o que você significa pra mim)

Search your heart... Search you soul

(procure em seu coração... procure em sua alma)

And when you find me there

(e quando me encontrar lá)

You’ll search no more

(Você não procurará mais)

Don’t tell me it’s not worth trying for

(não me diga que não vale a pena continuar tentando)

You can’t tell me it’s not worth dying for

(você não pode me dizer que não vale a pena continuar agonizando)

You know it’s true

(você sabe que é verdade)

Everything i do... I do it for you

(tudo o que eu faço... eu faço por você)

Scully olha pra Mulder. Mulder está cabisbaixo. Bryan olha pra Scully.

Look in to your heart... You will find

(olhe em seu coração... você encontrará)

There’s nothing there to hide

(Não há nada lá pra esconder)

Take me as I am... Take my life

(aceite-me como eu sou... aceite a minha vida)

I would give it all... I would sacrifice

(eu poderia dar tudo... eu poderia me sacrificar)

Don’t tell me it’s not worth fighting for

(não me diga que não vale a pena continuar lutando)

I can’t help it ... There’s nothing i want more

(Eu não posso me ajudar - não há nada que eu queira mais)

You know it’s true

(você sabe que é verdade)

Everything i do... i do it for you

(tudo o que eu faço, eu faço por você)

Scully olha pra Mulder, ternamente. Põe sua mão sobre a mão dele.

There’s no love ... like your love

(não há nenhum amor como o seu amor)

And no other could give more love

(e nenhuma outra poderia me dar mais amor)

There’s nowhere

(Não existe lugar)

Unless you’re there

(a não ser que você esteja lá)

All the time... all the way... yah...

(todo o tempo... todo o caminho)

Mulder olha pra Scully, desconcertado. Keith começa a solar, fechando os olhos, se embalando.

Oh, you can’t tell me

(Oh, você não pode me dizer)

It’s not worth trying for

(Que não vale a pena continuar tentando)

I can’t help it! ... There’s nothing i want more

(E não posso me ajudar....não existe nada que eu queira mais)

Yeah i would fight for you

(sim, eu poderia lutar por você)

I’d lie for you... Walk the wire for you

(eu minto por você... ando na corda bamba por você)

Yeah... I’d fight for you...

(eu luto por você)

You know it’s true...

(você sabe que é verdade)

Everything i do... ooh... i do it for you...

(Tudo o que eu faço... eu faço por você)

Mulder e Scully se aproximam. Trocam um beijo longo e suave. Bryan olha pra eles e sorri. Outro solo da música começa.

Everything i do... it’s true... I’ll be there for you...

(Tudo o que eu faço... é verdade... Eu estarei aqui por você)


Estrada Interestadual – 2:44 A.M.

Mulder dirige. Scully liga o rádio.

LOCUTOR (OFF): - Tempo nublado em toda região. Agora uma música de Bryan Adams, que está fazendo sua turnê pelos Estados...

Scully desliga o rádio. Mulder liga de novo. Scully olha pra ele.

[Som: Bryan Adams – Back to You]

MULDER: - Deixa. Eu gosto dessa. A única que ele não cantou.

BRYAN ON RADIO (OFF): - I’ve been down – I’ve been beat

(Eu tenho estado pra baixo – eu tenho estado abatido)

I’ve been so tired – that i could not speak

(Eu tenho estado tão cansado – que não posso falar)

I’ve been so lost that I could not see

(Eu tenho estado tão perdido que não consigo ver)

I wanted things that were out of reach

(Eu procurei coisas que estavam fora de alcance)

Then I found you and you helped me through

(Quando eu procurei você e você me ajudou até o fim)

And ya showed me what to do

(E me mostrou o que fazer)

That’s why... I’m comin’ back to you

(Isto é porque estou voltando pra você)

MULDER: - (CANTANDO JUNTO COM O RÁDIO) Like a star that guides a ship across the ocean...

(Como uma estrela que guia um navio através do oceano)

Scully sorri.

MULDER: - (CANTANDO JUNTO COM O RÁDIO) That’s how your love can take me home back to you...

(É como o seu amor pode me trazer pra casa, de volta pra você)

And if I wish upon that star

(E seu pedir àquela estrela)

That someday I’ll be where you are

(Que algum dia eu estarei onde você está)

I know that days is coming soon

(Eu sei que estes dias estão se aproximando)

Ya I’m comin’ back to you.

(Sim, eu estou voltando pra você)

Mulder batuca no volante, se embalando. Scully olha pra ele, levando a mão à testa, corada. Mulder alterna a atenção entre a estrada e Scully, num sorriso, cantando pra ela.

MULDER: - (CANTANDO JUNTO COM O RÁDIO) You’ve been alone but ya did not show it...

(Você tem estado sozinha mas não mostra isso)

You’ve been in pain when I did not know it

(Você tem estado em dor, quando eu não sei disso)

You let me do what I needed to

(Você me deixou fazer o que eu precisei fazer)

You were there when I needed you

(Você estava lá quando eu precisei de você)

Mighta let you down mighta messed you round

(Posso te deixar pra baixo – Posso ter deixado você confusa)

But ya never changed your point of view

(Mas eu nunca mudei o seu ponto de vista)

That’s why I’m comin’ back to you

(Por isso é que estou voltando pra você)

SCULLY: - Preciso confessar uma coisa, Mulder.

MULDER: - (ASSUSTADO) Confessa...

SCULLY: - Fiquei surpresa com seu ciúme doentio, sabia? Mulder, você me disse que não era ciumento! Mas teve um lado bom nisso.

MULDER: - ...

SCULLY: - Me senti importante na sua vida. Você pode não falar o que sente, mas demonstra isso. Mas aviso, Mulder: Que seja a última vez. Ciúmes doentios são maléficos...

MULDER: - Teve um lado bom nisso. Tive certeza do quanto sou egoísta... E do quanto gosto de você. Mas eu vou sair da lama, Scully. Me estenda a mão e volto pra você.

Corta para o carro seguindo a estrada que não parece ter fim.

Mighta let you down mighta messed you round

(Posso te deixar pra baixo – Posso ter deixado você confusa)

But ya never changed your point of view

(Mas eu nunca mudei o seu ponto de vista)

That’s why I’m comin’ back to you

(Por isso é que estou voltando pra você)

Fade to black (tela escura)

SCULLY (OFF): - Mulder... O que você e Bryan conversaram no camarim aquela hora?

MULDER (OFF): - Segredos de meninos, Scully...

Fade out.

X


28/03/2000


12. Juni 2019 11:02 0 Bericht Einbetten Follow einer Story
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Das Ende

Über den Autor

Lara One As fanfics da L. One são escritas em forma de roteiro adaptado, em episódios e dispostas por temporadas, como uma série de verdade. Uma alternativa shipper à mitologia da série de televisão Arquivo X.

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