solipsismo Bruno Andreata

Depois de acordar mais cedo que o normal, ter sua refeição saudável e ainda ficar com fome, andar até o parque e jogar pão para os pombos, ela pensava se aquele menino da sexta série com um sinal no lado esquerdo do rosto estava feliz.


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É...

Depois de acordar mais cedo que o normal, ter sua refeição saudável e ainda ficar com fome, andar até o parque e jogar pão para os pombos, ela pensava se aquele menino da sexta série com um sinal no lado esquerdo do rosto estava feliz. Mais feliz que ela, especificamente. Achava a escala da felicidade algo mais simples do que as pessoas faziam parecer, como as ondas. Você não precisa explicar todo o processo de influência gravitacional da lua sobre as marés, contar a influência dos ventos e correntes marítimas. É só um negócio que vem e vai.


Em uma aula de matemática na sexta série ela sentiu um cutucão, era o menino com um sinal no lado esquerdo do rosto, ele só disse “envenenaram meu cachorro”. Ela não sabia bem o que fazer com aquela informação, ficou preocupada, perguntou se estava tudo bem, se sabia quem tinha feito e o motivo. Ele disse que estava bem, que não sabia quem foi nem o motivo. E essa foi a única interçaão que eles tiveram naquele ano. Na sétima série o menino com um sinal no lado esquerdo do rosto mudou de cidade e ela nunca mais ficou sabendo dele. Nem do cachorro.


Ela cresceu pensando sobre isso. Não que tivesse impacto na sua vida, não teve nenhum impacto direto, mas por algum motivo ela se pegava pensando no maldito menino com um sinal do lado esquerdo do rosto e o cachorro envenenado. Por que diabos ele contou aquilo? Por que no meio da aula de matemática? Por que contou se não estava mal? Por que contou se não quis dar mais detalhes? Porque jogou aquela situação no colo de outra pessoa sem motivo?


O quanto da sua vida é influenciado por acontecimentos aleatórios do passado que você nem lembra direito? Quantos pães ela deixou de comprar porque lembrou do cachorro envenenado e isso criou uma reação em caideia no seu subconsciente que a impediu de sair de casa?


Tudo que ela queria era que nada fizesse diferença. Seu desejo era ter controle da própria apatia.

1. Juni 2019 06:56 0 Bericht Einbetten Follow einer Story
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Das Ende

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