invisibilecoccinella Mary

"A vaidade foi o pecado que condenou toda a pureza. Eu não soube me contentar, queria mais do que merecia e agora que não tenho nem o básico, nem mesmo o sustento para a escuridão, sei o quanto errei por esperar demais, alimentar-me do alimento mais venenoso que é a expectativa que geralmente não se cumpre, é só propaganda mal feita que não convence a quem tem certa experiência de vida. E eu, tola, às vezes infantil em minhas indagações, corri para trilhar aquele caminho que parecia mais fácil, mais atraente, caminho esse que escondia um obstáculo intransponível, a queda inevitável."


Drama Nicht für Kinder unter 13 Jahren.

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Kurzgeschichte
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Curitiba, 26 de junho de 2015.

N/A: Olá! Partilharei com vocês uma carta que escrevi para a inspiração, mas na verdade, como já faz quase quatro anos de uma grande desilusão amorosa, posso dizer que tentei através da poesia falar para o rapaz que partiu o meu coração sobre a dor que ele estava me causando. Escrevi esse texto chorando, enviei-lhe por e-mail e ele não respondeu, não sentiu a menor empatia, não me ofereceu nada. Eu quase abri mão da escrita por ele que não moveu uma palha por mim, no entanto as pessoas que me amam e sabem que por conta dessa rejeição e do trauma causado, nunca mais me envolvi com ninguém, me isolei e no fundo não superei as coisas, acham que eu deveria me perdoar por ter acreditado em ilusões e me permitir viver, pois elas acham que mereço ser feliz, primeiro sozinha, aí sim com outra pessoa. Postar aqui tem me ajudado. No Wattpad as pessoas vinham zombar do meu sofrimento e aqui eu postei Futuro Prometido e ninguém veio tirar onda, então, obrigada pelo respeito, apoio e carinho. Boa leitura!


Cara amiga,

Acreditei que iria me entender com você para o resto da vida. Assim eu queria que fosse: nós duas sempre juntas por causas nobres, sendo a junção perfeita de dedicação, empenho e sensibilidade. Você nunca iria para longe de mim, eu nunca te repudiaria. Estaríamos sempre de mãos dadas, brincando à toa, rindo das pessoas quadradas que não conseguem enxergar a poesia em nada, concretas demais em suas argumentações.

Para você eu teria de sobra todos os minutos do mundo. Por você eu escreveria bobagens na última folha do caderno, suportaria ler os livros mais enfadonhos do mundo para melhorar o meu vocabulário e incrementar os meus mundos paralelos. Mas você tinha outros planos e eu não estava incluída neles. Agora eu duvido que faça algum sentido continuar. Porque não faz. Nunca deve ter feito.

Meu sangue é jorrado numa guerra silenciosa que consome as minhas defesas dia após dia. Os estratagemas falharam, meu escudo se rompeu. Preciso reconhecer que te perdi, que o dom foi uma ilusão adocicada para me manter viva. E agora eu também duvido de que esteja formalmente viva. Sou uma sobrevivente do meu próprio holocausto. O coturno pesado da realidade estraçalhou os meus sonhos. Eu ouvi risadas vindas de todos os cantos. Mais uma vez a minha imperfeição foi motivo de deboche. Meu refúgio foi destroçado, portanto eu não tenho para onde correr.

A minha sombra me segue. O ritmo acelerado do meu coração é testemunha do medo que o futuro me traz. Seria um medo infantil se não tivesse fundamento, mas tem mais do que isso, tem o aval de uma inocência sem cor, um poema sem sabor, uma função que um dia me trouxe alguma satisfação e hoje é o meu martírio. Incrivelmente previsível. A lança afiada da rejeição atormenta. Mais uma vez eu não fui o bastante, eu desapontei todos ao meu redor, não pude dar o que eles queriam, não fui o que esperavam, não progredi nem metade do que eu idealizava.

O sorriso que lhe abro é uma farsa. E você, inspiração, abandonou-me sem sequer deixar uma carta de despedida, um único sinal que me ajudasse a digerir esse baque, essa certeza de que tudo o que fiz até então não teve valor, vai sumir como todas as pegadas dos meus pés na areia fofa e movediça, traiçoeira tal quais aqueles elogios que me envaideceram até cravarem o punhal de indiferença nas minhas costas. Todas aquelas palavras eram mentirosas, ninguém torcia por mim, eu não existia no coração de ninguém, nunca fui a alegria de ninguém, sempre fui um ombro amigo, alguém conveniente quando presente, que porém não precisava ficar. E você fez isso. Foi-se. O vento não me indicou a direção. Tenho plena certeza de que você não voltará.

Fico aqui sentada nesse primeiro degrau sentindo as correntes geladas de vento destruírem a minha imunidade. A gripe pode fazer o que quiser, eu já não vejo sentido algum em respirar. Todo o meu peito dói. E dói além de qualquer descrição, qualquer referência plausível para essa carta ser compreendida. Eu nem mesmo quero. Meus olhos fervem pelas lágrimas reprimidas e não choradas. Eles se curvam, se abaixam, fazem de tudo para manterem o resto de dignidade que ali estão. Firmes. Embrenhados em milhões de palavras que queriam jorrar no céu da boca e se contentam com esse silêncio incômodo que faz desse dia mais longo do que uma noite de inverno.

Por que você se foi?

Para onde você se foi que não podia me levar consigo?

Eu poderia te escrever pelo resto da noite enumerando todos os motivos para você ficar, mas não disponho de paciência e a noite cai, ainda devagar, mas algumas estrelas tímidas estão presentes e o vazio que se escreve é mais do que uma presença sensível. Eu estou perdida e não tenho a você e nem a mim. Eu poderia ser muito melhor com você aqui comigo. Melhor do que ontem sem prometer nada para amanhã. Eu poderia rastejar por mais uma chance, só mais uma, para não dizer que sou orgulhosa.

A vaidade foi o pecado que condenou toda a pureza. Eu não soube me contentar, queria mais do que merecia e agora que não tenho nem o básico, nem mesmo o sustento para a escuridão, sei o quanto errei por esperar demais, alimentar-me do alimento mais venenoso que é a expectativa que geralmente não se cumpre, é só propaganda mal feita que não convence a quem tem certa experiência de vida. E eu, tola, às vezes infantil em minhas indagações, corri para trilhar aquele caminho que parecia mais fácil, mais atraente, caminho esse que escondia um obstáculo intransponível, a queda inevitável. Custou tão caro que nem estimo a média de juro.

Gostaria de entender as suas razões. De te ter aqui comigo de novo. E em definitivo. Eu nunca queria te perder. Você era o complemento do meu dom, o refrão que ajustava todas as cordas do meu violão mudo, daquela letra de música que eu escrevi para um sonho em especial, porque meus sonhos eram as minhas asas para sobreviver nesse mundo que não tem piedade de arrancar o pior de cada um. Sem pureza eu não irei longe. Perdida de mim, todo passo arrasta consigo o peso de dois ombros encurvados, versos pela metade e histórias sem final.

Você me faz muita falta. E isso é tudo, minha amiga. Nada pode compensar. Nada no mundo pode ferir mais do que não te ter. Sem o meu dom, eu perco os motivos para viver. Eu perdi essa luta. Não há nada a esperar.

De sua (antiga) amiga,

Poetisa do coração partido.

17. Mai 2019 00:57 4 Bericht Einbetten Follow einer Story
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Das Ende

Über den Autor

Mary uma joaninha itinerante que atende por Maria, Mary, Marisol, que ama previsão do tempo e também contar histórias. na maior parte do tempo, invisível.

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Rafaela Laia Rafaela Laia
como diria o poeta: wow! posso te fazer um pedido...por favor, nunca deixe de ser essa escritora incrível, não deixe seu dom ser levado por algo que não vale a pena, muito pelo contrario use isso pra te impulsionar pra te fazer crescer e ser alguém melhor do que antes, mas acho que isso vc já fez.
May 21, 2019, 23:07

  • Mary Mary
    Fiquei sem palavras agora! Nunca imaginei que teria coragem de compartilhar esse texto com outras pessoas e que elas dariam um feedback tão gentil como o seu. Desde esse dia do título até hoje já se foram quatro anos. Estou tentando escrever e nunca mais permitir que ninguém me faça desistir do que mais amo. Obrigada de verdade pela sua gentil visita e por ter dedicado um tempo a ler e comentar. Obrigada por animar o meu dia. <3 May 21, 2019, 23:16
Natanael L. Chimendes Natanael L. Chimendes
Que texto forte! Apesar de ter muita coisa triste e sentimental, consegui sentir uma força de amadurecimento muito grande! Muito bem escrito! :D
May 17, 2019, 01:30

  • Mary Mary
    Olá! Obrigada por ter lido! Que honra ter sua leitura! Faz quatro anos que escrevi este texto e decidi compartilhá-lo aqui, tendo em vista que os leitores são mais amorosos e gentis. Em cada linha desse texto tem um rio de lágrimas e dor. Não tive saída senão seguir em frente. A pessoa em questão entrou na minha vida, mas não veio para ficar, parecia que sim, porém se foi sem mensurar os danos que causou com os joguinhos e brincadeiras que não condiziam com o que se espera de uma pessoa da idade dele. Acabei me apegando muito a essa pessoa e sentia que, ironicamente, estava me afastando da escrita à medida que me aproximava dele, aí quando ele foi embora, tudo que havia me restado era a escrita... e bem... estou aqui... não mais inteira como antes... mas na luta... no aguardo de que um dia a primavera chegue. Desculpe-me por ter me estendido, porém eu mostrei esse texto ao rapaz e ele nem ligou. Eu tentei lhe dizer para não me magoar, que ele me faria falta, ele não quis me ouvir, me magoou, todavia não posso dizer que sinto falta dele, sinto falta de quem eu era antes dele. Mas espero que você possa ler outros textos meus com temáticas mais auspiciosas. Saudações! ;) May 17, 2019, 01:41
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