- Isso é covardia. – Disse um homem de boné e blusão de couro marrom, ao encontrar o corpo de um jovem em um terreno baldio. Alaor estava ali por acaso, fazendo o que não devia, descartando entulho em local inapropriado e cometendo um crime sério, mas o que ele acaba de presenciar é muito mais grave, é hediondo. Nem havia clareado o dia, e Alaor saiu de casa sem fazer barulho. Não queria acordar a esposa e tão pouco chamar a atenção da vizinhança. Foi até a garagem, e de lá tirou uns sacos cheios de sobras de construção, restos de tijolos quebrados a marretadas, reboco velho, todos vindo do seu lar.
A reforma tinha tido inicio a pouco menos de uma semana. Dois homens dividiam a tarefa, um era pedreiro; um homem de aspecto estranho, barba grande, magro, e de cigarro enfiado entre os dedos. Já o ajudante era gordo e desajeitado, vivia perguntando se o almoço estava pronto, era um morto de fome. Alaor colocou os sacos em cima de uma velha carriola e saiu lentamente pela rua. Foi rezando durante o trajeto para o carrinho não fazer nenhum ruído, mas um rangido chato, parecido com uma velha porta se abrindo podia facilmente ser notado.
Como proteção o terreno dispunha apenas de um portão de madeira, de fácil manuseio. Alaor o abriu e foi empurrando a carriola até se deparar com algo repugnante. O corpo de um homem sem a cabeça. Pelas roupas deu para notar que se tratava de alguém de pouca idade, uns vinte um anos provavelmente, pois vestia bermuda de cor bege, camiseta branca e usava tênis de cor cinza com cadarços na mesma cor, mas em um tom mais escuro.
Tateou o bolso da blusa tentando encontrar o telefone, mas não estava com ele. Havia deixado o aparelho na mesa da sala. Desesperado, andou pelo terreno e pisou em algo bizarro. Quando olhou para o chão se deparou com uma cabeça. Ela estava sem os olhos e a boca estava aberta, num grito de horror.
Alaor ficou petrificado. Em seus pés uma cabeça, a poucos metros de distância um corpo. O medo era tanto que ele não conseguiu reconhecer a vítima, não queria olhar, mas precisava fazer aquilo e avisar a polícia. Foi-se inclinando. Atrás dele uma sombra humana segurando algo nas mãos, ele não estava vendo. Passos arrastados e barulhos de mastigação, o latido de um cão e uma pancada; Alaor estava caído, morto.
O assassino era um homem gordo com cara de idiota, que vestia um macacão sujo de cimento seco, seus cabelos estavam sujos e seu olhar era assustador e seu sorriso não demonstrava nenhum sentimento.
- Há. Desculpa patrão, foi sem querer. Eu falei ‘pro’ senhor não vim aqui nesse terreno, mas o senhor é teimoso. – Disse o ajudante de pedreiro, que mastigava um sanduíche de mortadela, enquanto segurava uma enxada melada com sangue fresco.
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