chrisstern_ Chris Stern

"Um robô não pode sentir, não pode pintar um quadro, rir com a inocência de uma criança ou escrever uma sinfonia. Mas e você, pode?"


Fan-Fiction Bands/Sänger Nicht für Kinder unter 13 Jahren.

#música #fanfic #jonny-greenwood #thom-yorke #yaoi #lgbt #radiohead #universo-alternativo #au
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MEMÓRIAS

A música é uma rota de fuga para todos nós. É isso que eu penso desde os meus 15 anos de idade, quando saí da casa dos meus pais para viver do meu sonho.
Eles é claro, uma família tradicional da região de Yorkshire, foram totalmente contra a ideia. Não apenas contra, mas fizeram o possível e impossível para me manter longe do que eles passaram a chamar de loucura juvenil.

— Não é não, Thomas! Você não entende, isso não é para você! — Meu pai berrava enquanto andava de um lado para o outro. — Tem ideia do quanto investimos em você? De como você sempre recebeu tudo do bom e do melhor e agora-... agora você está jogando todo o nosso esforço no lixo! Por uma preguiçosa e estúpida ideia de ser músico!

Minha mãe se mantinha quieta sentada na cama ao meu lado. Ela não olhava para nada além dos próprios sapatos. O semblante do meu pai bem a minha frente era de intensa agonia e aquela conversa já tinha sido a vigésima - se não a centésima - daquele mês.

— Por acaso Bach não fazia música? Beethoven? Você diria isso a eles? Que são estúpidos e preguiçosos, pai?

— Beethoven nasceu para a música, Thomas! Você não! Você é o nosso único filho e não vou deixar que dê esse desgosto para a sua mãe. Para nossa família. Desista dessa ideia ou-... você não mora mais aqui.

— Edward! — Disse minha mãe de forma assustada.

— É isso mesmo! Se ele quer tanto andar por aí tocando piano de bar em bar e essa porcaria de violão, que more em um desses pubs. Aqui você não fica nem mais um minuto! — Ele encerrava a discussão chutando fortemente o meu violão que repousava próximo a cabeceira, batendo a porta ensurdecendo a mim e minha mãe que permanecemos juntos no quarto.
Ela apertou os joelhos e os seus cabelos ruivos pareciam mais ruivos dessa vez. Sua pele levemente rosada demonstrava como não estava bem e sentia por tudo aquilo.

— Thommy... — Acariciando meu rosto com sua mão delicada. — Filho. Por favor, por mim. Desista dessa ideia.

— Não posso, mãe. É o meu sonho. O papai-... ele não entende! Ele nunca entende, nunca gosta de nada. Eu acho que ele nem gosta de mim.

— Thomas! Não diga isso! É claro que seu pai gosta de você. Ele só está um pouco nervoso com tudo. Quero dizer, você sempre foi educado para ser um...bom, ser alguma coisa que não-... não um artista...

— Então eu sou uma pessoa ruim por não desistir de algo que eu quero para a minha vida? — Como um adolescente comum, agi de forma idiota com minha mãe. Tirei violentamente sua mão de perto do meu rosto, levantando-me de forma bruta e agindo de forma igual com ela. — Saia do meu quarto. Você é igual a ele. Uma fanática por aparências! Por controle!

— Thommy-... eu só queria-

— SAIA! AGORA! — Com o seu jeito tímido e completamente desistente de continuar uma conversa comigo, minha mãe foi até a porta, mas antes de sair pelo correndo, se encostou na parede e me olhou de forma insuportavelmente gentil. Gentil demais para uma discussão. — O que você está esperando?

— Eu te amo, Thom. Se cuide.

Eu não teria batido a porta contra ela tão forte. Eu teria feito diferente se soubesse que seria a última vez que veria minha mãe. Digo isto porque naquela mesma noite ela bateu na minha porta várias vezes, insistindo para que eu descesse para o jantar. Eu poderia ter jantado pela última vez com a minha mãe.
Naquela noite, Agnes Yorke morreu silenciosamente enquanto dormia. Antes disso ela apenas havia se queixado de uma dor de cabeça. Na verdade, essa "pequena" dor de cabeça estava com ela há meses. Minha mãe tinha cancer e nós sabíamos, ela não havia contado para ninguém, e a última coisa que eu lhe disse foi com um grito.

— Thomas? — Meu tio Phill me observava ao longe, já estávamos em casa depois do funeral. Pensei em descansar próximo ao nosso velho jardim.
As conversas com meu tio Phill eram curtas,mas sempre inspiradoras. Ele era tão diferente do meu pai que me assustava a ideia de que realmente eram irmãos.

— Oi, tio. Não vi você chegar.

— Não tem problema. Eu sei que está sendo um dia difícil para você e o Ed. Todos nós sentiremos falta da Agnes.

Senti um ardor descer pela minha garganta ao ouvir o nome de minha mãe. Eu mais que ninguém sentia sua falta agora. Sentia falta do seu jeito doce, e de como ela sempre lembrava do meu gosto para torradas e geléia. De como ela ficava linda em seu vestido florido e de como seus abraços me traziam paz. Agora tudo isso se foi, para sempre.

— Tio... Eu a tratei tão mal. Eu não sabia... Se eu tivesse a menor ideia, eu-

— Thomas, Thomas... Escute, não há como mudarmos o passado. É passado, já se foi. O que você tem agora é o futuro, e o futuro está a sua espera. É com ele que você vai fazer acontecer.

— E se o futuro não der certo? E se for uma droga?

— Ora e se não for?! Vai passar o resto da sua vida se perguntando como teria sido?

— Não! Mas e se as pessoas não gostarem da minha música?

— Então que faça elas gostarem, Yorke! E para o inferno o seu pai. E suas regras!

O sorriso de meu tio foi o último impulso que eu precisava, o último e suficiente para que naquele dia eu pudesse reunir todas as minhas coisas e sair daquele lugar. Esperei a madrugada, os empregados já dormirem e no silêncio poder dar o meu grito de liberdade.
Passei pelos retratos na escada e com o coração apertado de deixar tudo que conhecia para trás, cruzei a porta rapidamente e corri com toda a bagagem em direção ao portão e enfim sair da residência.
Suspirei forte ao ver que já estava no ponto de ônibus. Sentei-me no velho banco, esperando um táxi ou qualquer veículo noturno que pudesse me levar a os confins de nosso país. E na espera, me coloquei a escrever uma letra de música; não era grande coisa é verdade, mas o tempo passou rápido pois quando terminei folhas de rabiscos pude sentir os primeiros raios de sol tocando a pele. O amanhecer havia chegado, o sol enfim brilhava pra mim.

[....]

Muito tempo se passou desde aquela noite em Yorkshire.
Eu já não tenho tanto cabelo, e o mundo mudou comigo e eu com o mundo. E com as pessoas.
Se passaram 20 anos desde a última vez que rabisquei uma letra de música em um ponto de ônibus, e hoje em dia, a única coisa que rabisco são números e listaa de fios eletrônicos, além de pequenos comandos gerais para uma indústria robótica.
As pessoas devem se perguntar como alguém que queria tanto ser músico acabou em um escritório de robótica no sul da Inglaterra. Bem, a pergunta que fiz duas décadas atrás para o meu tio Phill parecia ter sido respondida.
Nos primeiros anos após a minha ida ao mundo da música tudo parecia absurdamente incrível. As pessoas eram incríveis, os lugares, a música. Mas em algum momento todo esse sonho doce derreteu como sorvete em uma tarde quente.
As pessoas mudam. E a música muda com elas.
Bandas virtuais inundaram o mercado artístico e as letras se tornaram ainda mais vagas. As pessoas não pagavam mais pela música, pagavam pelos bonés e roupas de marca, pagavam pelo pub com decoração temática e por batidas sem sentido que só faziam sentido quando estavam chapados.
Os poucos cantores que ainda resistiam se matavam aos poucos e no fim acabavam como jurados em programas musicais decadentes que se baseavam em pessoas imitando as tais bandas de computador.
Toda a essência e toda a arte se perdeu em bleeps e bloops seguidos de um "fuck you, yeah" e desenhos tão coloridos que causariam epilepsia facilmente em desavisados. Ou no mínimo alucinações para um bêbado.
Meu novo emprego? Sou técnico de robótica. Não era o que eu planejava de jeito nenhum. Não passava pela minha cabeça ao fugir da casa de meus pais que eu passaria os últimos anos da minha vida entre metal, fios e cobre. E placas-mãe, e olhos de porcelana.
Uma das minhas sortes na vida foi achar Colin, ele que me arrumou este emprego e graças a ele eu não acabei preso por atacar um gerente de pub que diminuiu o meu tempo de apresentação numa das raras oportunidades que tive esse ano de lançar uma canção.
Colin tinha um jeito engraçado de viver a vida, seus pais eram ricaços que agora viviam na Alemanha e ele cresceu como um nerd.
Criou a empresa totalmente focada em produtos eletrônicos, com o diferencial de lançar protótipos de robôs, de todas as utilidades, formas e tamanhos. Tem robô garçonete, robô para trabalhar em mecânica, e tem robô fazendo robô. Diferente do que muito pensam, eu não precisei chupar o pau dele para conseguir meu lugar por aqui na OK COMPUTER CORPORATION , muito pelo contrário, ele queria chupar o meu.
Colin e eu nos conhecemos quando em um dos meus últimos shows, ele me chamou pra sair e fiquei tão bêbado que implorei por um emprego. Ele estava há um ano com a OK COMPUTER, e depois de uma longa conversa e uma pequena testada em minhas habilidades em matemática, viu que eu era o cara certo para lapidar.

— Como estamos hoje? — Chegou perguntando com sua voz mansa.

— Tudo OK. Só preciso terminar a linha de produção para a Semp Toshiba e acho que o CEO irá adorar nossos protótipos novos de smart tv. O melhor de tudo é que o nível de aprovação dos consumidores de teste foram de quase 95%. É um grande avanço, Coz.

— Sim, conseguimos então reparar todos aqueles erros de conexão?

— Todos eles. Precisaria de um hacker para danificarem nossas TVs agora!

— Deixo essa parte para você e a equipe de segurança da rede! Então, hoje é sexta-feira e como não teremos de nos preocupar com os japoneses, pensei que poderíamos sair para beber um pouco sr. Yorke. O que acha?

Colin e eu éramos grandes amigos, mas não tinha um dia que eu não pensasse em como era ruim a ideia de rejeita-lo por suas segundas intenções. Ele já havia se declarado para mim umas duas vezes, e na última até quase rolou um beijo. Mas eu preferia não misturar nada. As pessoas já falavam demais. E infelizmente, eu nunca amei ninguém. Nem mesmo um cara tão legal como Colin era.

— Desculpe, hoje não vai dar. Tenho trabalho extra.

— Ah, Thom! Está brincando? Não vai sair sangue do seu nariz se sair pelo menos uma unica noite!

— Eu sei que não vai. Mas é importante. Eu prometo que na próxima-

— Na próxima você vai dizer a mesma coisa! Eu conheço você! Bom, pelo menos eu posso saber o que é tão importante para rejeitar o convite de seu chefe e amigo?

— Claro que pode! Você sabe, é o dos protótipos realistas. Eu ainda acho que será o maior que o mundo ja viu e-

— Thom. Você já tentou centenas de vezes. E eu acredito em todo esse seu potencial, e sei que você se esforça. Mas o projeto KID A é ambicioso demais. Até pra mim. — Lançando uma olhar que ele sabia que eu detestava. Um olhar de pena. — Em qual número de série você está?

— Eu já estou na linha 10. — Não o olhei diretamente, deixei a visão baixa.

— E o que aconteceu com os outros 9? Viraram sucata? Thom, meus robôs tem um custo alto de produção, não pode desperdiçar eles em devaneios e loucuras.

Direcionei meu olhar para Colin, de forma brava e confusa. Logo ele que dizia tanto me apoiar, agora está desistindo? Eu estava cansado. Cansado de tudo aquilo e de como as pessoas eram vazias e sem ambições. De como elas não se arriscavam, e tentavam e tentavam e tentavam.
As pessoas conseguiam ser tão frustrantes!
Não respondi nada a meu amigo, peguei apenas minha mochila e fui embora, o deixando de braços cruzados esperando uma resposta que certamente eu não daria até a segunda seguinte no mínimo.
Eu morava a apenas umas quadras de distância, o que me permitia ir andando de volta pra casa e me deixar imerso em meus pensamentos e reflexões.
Colin não entendia o que eu queria com o projeto KID A. É ambicioso, sim é verdade, mas as maiores genialidades do mundo não eram ambições?
Esse projeto permitira uma realidade nunca antes vista ou presenciada pela humanidade, uma interatividade direta e mais normalizada com os robôs, sem tantos termos técnicos ou falas eletrônicas assustadoras, fantasias de terror essas alimentada pela mídia de filmes de ficção científica.
O primeiro KID A era um andróide idêntico a uma criança, por isso batizada com a primeira letra de nosso alfabeto. O andróide inicialmente tinha uma inteligência limitada, porém mais de 300 frases inclusas e uma pele de fibra macia.
O segundo andróide, KID AB, era uma versão melhorada do primeiro, porém as baterias não duravam tanto quanto eu gostaria.
E assim seguiram o KID AC, KID AD, KID AE... Eu estava tão irritado com a falta de fé, que contei para Colin assim que iniciei o novo KID AF, com nova programação e testando pela primeira vez a mais avançada inteligência artificial no ponto central do robô. De início ele pareceu entusiasmado, mas logo vi o brilho dos seus olhos se esvair após mais três fracassos de número de série.
Mas não esse. Fracasso não seria uma opção para o novo KID.
KID AJ, que coloquei o nome de KID A J0NN1 ou apenas JONNY, era o meu maior e melhor projeto. Eu estou trabalhando nele há 18 meses. Revestido em camadas e camadas de silicone a prova d'agua, fibras da melhor qualidade, acabamento em aço e havia tantos fios em seus comandos centrais que utilizei de uma pequena pedra de rubi para dar cor ao seu interior.
JONNY sim era além do ambicioso, e ele calaria a boca de todos quando estivesse pronto.
Até de Colin.
Mantive o andróide guardado em minha garagem e pela primeira vez o arrastava, com dificuldade, para o meu quarto. Ele era enorme.
Seus olhos tinham material puro, cristal líquido, e eu mesmo pintei a mão as suas íris esverdeadas.
Para seu cabelo utilizei o mesmo que o nosso natural, carbono. Sua pele era idêntica a minha, e seus lábios adquiriram um aspecto rosado após jogar um leve carmesim neles.
O protótipo KID AJ tinha em sua nuca um comando de atalho, para emergências se fosse necessário. Por um capricho, espirrei um pouco de perfume para que ficasse agradável.
Seria a primeira vez que eu ativaria J0NN1 e nada me deixava mais animado do que ver com os meus próprios olhos, mesmo que um mais baixo que o outro, os olhos daquele andróide se abrirem para mim.
E após o toque de ativação, e desliga-lo da tomada, pude ver as íris que pintei ficarem fixas para mim. Sim, ele havia acordado.

— OK COMPUTER. KID AJ, 220419. BY THOMAS YORKE — Com uma voz que nada soava ruído de computador ou que parecia sair de um liquidificador. Era límpida, tão límpida quanto os cristais de seus olhos.

Não me envergonho de admitir que em momento algum segurei a emoção, abraçando imediatamente a alta figura a minha frente.
Claro que ele ligar era o menor das vitórias, porém o fato de algo que há semanas não carregavam sem as baterias - que fiz questão de fazer completamente em 70% de energia solar - era como ver uma luz brilhar no fim do túnel que estava sendo a minha vida.
Me lancei contra o corpo do robô, ficando ridiculamente na ponta dos pés para poder alcançar o seu pescoço que pensando timidamente comigo mesmo, o fiz bem atrativo.

— Você é perfeito, JONNY! É PERFEITO!

— Segundo pequisa, isso é um abraço. Abraços são gestos carinhosos e de afeto que oferecemos a pessoas que amamos, ou a outros em sinal de conforto e segurança.

— Em quantos segundos a central lhe identifica a pesquisa?

— A média é 1,2 segundos.

— Vamos diminuir isso está bem? Sou Thomas. O seu criador.

— Thomas. Eu guardarei você em minha memória.


22. April 2019 15:43 0 Bericht Einbetten Follow einer Story
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