Nota da autora: Essa fanfic também foi escrita pela LittleFox.
Os créditos da história são tanto meus, quanto dela.
Songfic de ''Fuego'' do RBD
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Era a segunda vez em que Hime olhava para a calçada do edifício que ficava do outro lado da rua, desviando a atenção do documento aberto em seu notebook. Parecia muito mais interessante observar o bombeiro de cabelos claros do que começar a escrever a sequência de O fogo em minha alma. Se quisessem questioná-la, ela negava veemente que havia outras intenções além das profissionais, afinal, o protagonista de sua história tinha o mesmo ofício.
Ela adorava afirmar que morar ao lado do corpo de bombeiros não influenciou em nada, e nem aquele homem em particular inspirou seu protagonista, mesmo que fosse a mentira mais deslavada que já disse em toda sua vida. Não sabia se tentava enganar a si mesma ou aos outros, já que suas noites consistem em fantasiar com o que aquele bombeiro faria em sua cama. Quando seus sonhos não puderam mais ficar somente em sua imaginação surgiu O fogo em minha alma, seu primeiro livro.
E isso já fazia dois anos.
Dois malditos anos que se perguntava como não encontrava coragem de ir até ele tentar alguma conversa que fosse, e o pior, era imaginar que um dia ele poderia não voltar, seja por ser transferido ou por algo pior…
E eles sempre trocavam olhares, todos os dias, ele sempre a saudava de longe quando Hime estava em sua varanda tentando escrever a continuação do seu livro, e a relação de ambos se limitava a uma mera cordialidade.
O problema de encará-lo por muito tempo era se recordar dos seus sonhos. Em todos eles, o bombeiro aparecia em sua porta, segurava em sua cintura e a beijava intensamente; seu ritual após acordar era colocar as mãos em seus lábios e imaginar se o dono dos seus pensamentos é de fato tão intenso.
Como ele podia mexer tanto com ela a ponto de se tornar covardia?
Com seu chocolate quente em mãos, retornou para a varanda e abriu seu notebook na esperança de conseguir escrever uma palavra que fosse. Entretanto, sua inspiração foi embora no momento que aquele maldito cretino apareceu sem camisa, e ao que dava a entender, estava molhado e irritado.
Suspirou, mais uma vez, tentando conter as reações do seu corpo, parecia estar em chamas quando seus olhos o encontraram e ele apenas deu um sorriso de canto.
Maldito sorriso!
– Tobirama! - Seus pensamentos foram afastados quando ouviu um grito.
Agora ela tinha um nome, após dois anos tentando imaginar algo além do sobrenome “Senju”.
O garoto parecia com ele, exceto por seus cabelos serem metade preto e do outro lado branco, porém, ainda não conseguia tirar a sua atenção das pequenas gotículas de água que faziam um caminho que ela adoraria fazer com a sua língua.
“Eu deveria ser mais discreta" - Pensava, mas internamente queria mais é que Tobirama percebesse a suas reais intenções. Talvez, assim, ele tomasse uma iniciativa e poupasse-a de ficar somente fantasiando sobre os dois.
Mas isso seria demais para pedir a alguém, principalmente a uma pessoa da qual você nunca passou do costumeiro “bom dia”.
Agora, ela tinha que decidir se mataria Tobio naquele acidente ou faria com que ele sobrevivesse e tivesse uma vida longa e feliz ao lado de Saeko. O que começou como uma forma de fantasiar sobre situações que nunca viveria, passou a ser sua maior ocupação para então se tornar seu pesadelo.
Estava travada naquela cena faziam quatro semanas e nada do que tentava parecia funcionar para que saísse daquele bloqueio criativo. Talvez porque não quisesse dar adeus a seu protagonista, já que aquele seria o fim de sua história e não havia mais como postergar o fato.
Ela poderia começar outra história, é claro, mas sentia que não seria a mesma coisa, não seria ele.
O destino parecia conspirar a favor de sua procrastinação pois quando, finalmente, decidiu voltar sua atenção ao texto, seu celular começou a vibrar sinalizando que alguém estava tentando contatá-la.
Costumava deixar o aparelho no silencioso enquanto trabalhava, ou ao menos, fingia.
Pelo visor, pode perceber que era Mito, sua irmã. Revirou os olhos atendendo a chamada sem muita animação, muito provavelmente a irmã estava ligando para reclamar do quão lerdo Hashirama, seu interesse amoroso no trabalho, era.
— Está livre essa noite? – Mito dispensou a cordialidade e foi direto ao ponto, afinal, estava no meio do expediente e, mesmo que fosse a chefe do local, tinha de dar o exemplo.
— Acho que sim, por que? – Indagou confusa, não era comum a irmã ligar no meio da semana para que saíssem, ainda mais a noite.
— Hashirama me chamou para sair! – disse em um sussurro, tentando conter a animação, coisa que não funcionou muito bem.
— E onde isso se encaixa com os meus compromissos? Olha, se for para ficar lá enquanto vocês se agarram, eu dispenso.
— Não é nada disso! Bom, marcamos um encontro duplo. Eu com ele e, bom… Você e o irmão dele!
— Me diga que não fez isso.
— Eu diria, mas estaria mentindo.
— Porra Mito! – gritou irritada, atraindo alguns olhares curiosos dos pedestres que passavam pela calçada, mas estava tão irritada que pouco deu atenção.
— Eu sei… – começou com um tom apologético, ouvindo a mais nova suspirar. – Eu entrei em pânico, surgiu a oportunidade e eu te enfiei nessa enrascada sem nem ao menos te perguntar. Por favor, vamos. Vai ser divertido, eu prometo.
— Eu não quero ir a um encontro duplo! Eu estou bem sozinha.
— Por favor, você não sai com alguém a quanto tempo?
— Já disse que estou bem sozinha.
— Mais de um mês?
— Eu estou bem sozinha, Mito
— Dois meses?
— Mito… – ralhou, abandonando a varanda para deixar a caneca já vazia dentro da pia da cozinha.
— Meu deus, fazem mais de seis meses?!
— Fazem nove meses, Mito! E eu estou bem sozinha. – praticamente gritou, irritada com a insistência da irmã.
Tudo que conseguia pensar era em Tobirama e em mil maneiras de conseguir se aproximar. Claro que tudo parecia piorar quando o relacionava com seu livro.
Assim como sua protagonista, tinha sonhos muito...peculiares com o bombeiro.
E eles eram quentes, exatamente como o corpo de Tobio.
Claro que achava ridículo a situação, nunca foi do tipo de mulher que se deixava levar com um flerte a distância ou uma paixão platônica por um homem que havia idealizado. A questão é que, infelizmente, o maldito bombeiro tomava conta dos seus pensamentos desde que decidiu se dar um tempo de relacionamentos.
Obviamente que sempre houve um "algo a mais" em relação seu vizinho da frente, o problema é que isso vinha lhe tirando o sono.
Talvez fosse a relação com seu personagem, a dificuldade em se concentrar no livro ou até mesmo, carência.
Decidiu então, parar de pensar em tudo aquilo.
Balançou a cabeça tentando espantar os pensamentos impróprios sobre seu personagem principal e o que ele faria consigo em cima da bancada de mármore preto que dividia sua sala da cozinha.
— Ainda está aí, Hime?
— Ahn?
— Estava pensando no seu livro de novo?
— Não… Talvez.
— Você não consegue escrever porque não sai desse apartamento minúsculo, não troca de ares, não experimenta coisas novas!
— E como isso vai me ajudar, exatamente?
— Ver pessoas novas pode ajudar com sua inspiração.
Não era totalmente mentira, além do mais, ela precisava muito se distrair. Ponderou por alguns instantes os prós e os contras de toda a situação. A chance da noite acabar desastrosamente e se arrepender de ter saído de casa já passava dos quarenta e três por cento, porém, não custava nada tentar e ter algo para jogar na cara de Mito caso ela tentasse fazer algo assim novamente.
— Onde vamos jantar?
— No Richie’s.
— Estarei pronta às oito. Se vocês não estiverem lá até oito e meia, darei meia volta e você nunca mais me incomoda com isso, certo?
— Claro como água. Tenho que ir, vejo você mais tarde.
Nem ao menos teve tempo de se despedir antes que Mito desligasse o telefone.
Aquela tarde havia sido longa e desastrosa, primeiro por não escrever um só parágrafo de sua história, segundo por não ter visto Tobirama pelo resto da tarde e terceiro, com a ideia de um encontro duplo.
Pensou que talvez fosse uma boa ideia sair de casa ou ao menos, ter uma noite diferente do que estava acostumada. Já havia se arrumado antes do tempo, pegou as chaves do carro, a bolsa e todo o resto e foi em direção ao local marcado para o fatídico encontro duplo.
Chegou às sete e cinquenta e dois, deixou o carro com o manobrista e mandou uma mensagem para Mito dizendo que já havia chego.
O ambiente era tão agradável quanto se lembrava, o jazz baixinho preenchendo o salão, a decoração em vermelho e dourado, o cheiro da comida que mais sentiu falta durante todos esses anos. Costumavam almoçar em família naquele restaurante, Mito, seu pai e ela. Até o dia em que ele faleceu. Voltar ali depois de tantos anos com certeza trazia a tona boas lembranças, mas nem ao menos teve tempo de recordá-las claramente ao se deparar com a mesa que costumavam ocupar preenchida por Mito, Hashirama e a pessoa que ela menos esperava encontrar: Tobirama.
O cretino estava ali, com um sorriso descontraído parecendo imerso demais na conversa para notar sua surpresa.
De todas as formas que imaginou encontrá-lo, aquela definitivamente não havia sido uma delas,estava prestes a voltar para casa e inventar uma desculpa qualquer, quando Mito acenou em sua direção, pedindo para que ela se aproximasse.
“Puta que pariu”. - Pensou, tratando de colocar um sorriso em seu rosto e se aproximar da mesa.
— Hime, este é o Tobirama. Tobirama, esta é a Hime, minha irmã. – Mito disse com empolgação quase palpável em sua voz. Ela apenas deu um sorriso contido e estendeu a mão na direção do homem à sua frente.
— É um prazer conhecê-la. – A voz dele era grave e bonita, foi impossível conter o arrepio que percorreu seu corpo. Por Deus, era tão mais bonita do que ela havia imaginado.
— O prazer é todo meu. – Parabenizou-se internamente por ter conseguido responder sem gaguejar e, já acomodada na cadeira ao lado de Tobirama, recebeu um olhar malicioso de Mito.
Claramente aquela encarada transpassa um “E você queria ficar em casa, não é?” que Hime fez questão de ignorar.
Ficou em silêncio analisando o cardápio minuciosamente, sentindo o olhar de Tobirama queimar em si enquanto ele conversava com sua irmã e Hashirama.
Não haviam tido muitas mudanças desde a última vez que esteve ali.
— Você me parece familiar. – Escutou-o confidenciar em voz baixa, encarando-a com intensidade. – Mas não consigo me lembrar de onde.
“Eu moro no prédio ao lado do corpo de bombeiros onde você trabalha e meu passatempo preferido é observar o quanto você fica lindo naquele uniforme e o quanto eu tenho vontade de arrancar-lo com os dentes.” - Pensou, mas apenas bebericou um pouco de água antes de falar:
— Deve ser impressão sua. – Respondeu, engolindo as palavras que queria dizer de fato. – Me conte mais sobre você, Tobirama. Trabalha com o que? – queria ouvir aquela palavra em especial sair da boca dele, se seria tão quente quanto em seus sonhos mais que pecaminosos.
— Sou bombeiro. – O bombeiro certo para apagar meu fogo. – E você, o que faz?
— Uau! – exclamou em falsa surpresa – Eu sou escritora. Acredita que meu personagem principal também é bombeiro? – Ele nem foi inspirado em você, ou nada do tipo. Pode confiar.
— Que coincidência. – pigarreou tomando um gole do vinho que Hashirama havia pedido para mesa em que estavam. – Sobre o que são seus livros, Hime? – o som de seu nome saindo dos lábios dele era simplesmente divino.
— Em sua maioria romance. É o segundo e último livro da saga O fogo em minha alma.
— Eu conheço, nossa prima fez questão de dar um resumo bastante detalhado para nós sobre o livro e o quanto ela gostou do mesmo. Realmente ela usou a palavra certa para descrevê-lo.
— Qual? – questionou antes de levar a taça novamente aos lábios e sorver um pouco do conteúdo.
— Quente.
Foi impossível não engasgar com aquela afirmação. Tobirama, seu Tobio, achou o livro que ela havia escrito pensando especialmente num relacionamento utópico entre os dois, quente.
Ficou algum tempo em silêncio, apenas pensando em milhões de frases ensaiadas que poderia responder a ele naquele momento.
Oh merda, por que havia ido naquele encontro? Por que foi ouvir Mito e ser uma boa irmã?
Como uma prece atendida, a comida chegou em tempo o suficiente daquela coisa parar ali e assuntos cotidianos se iniciarem.
Evitou, a todo custo, voltar ao assunto sobre seu trabalho com Tobirama, também mal conseguia encará-lo nos olhos por mais que alguns segundos sem imaginar coisas indecentes.
No fim, conseguiu sobreviver ao jantar. Não totalmente ilesa, mas viva.
Despediu-se de todos com falsa calma, ansiando para pegar logo o carro e voltar para seu apartamento, apagando o “encontro” de sua mente e provavelmente nunca mais voltando a olhar para Tobirama em sua vida.
Não com os mesmos olhos.
Demorou exatamente cinco minutos para que o manobrista entregasse as chaves de seu carro, acenou para o trio que ainda estava a porta do restaurante e entrou dando partida o mais rápido que conseguiu.
Uma pena que nem não chegou a metade do caminho antes que o carro reduzisse a velocidade gradativamenteaté a parada total. Suspirou exasperada tentando descobrir o motivo e descobriu o óbvio após ver o painel próximo ao volante: A gasolina havia acabado.
Como podia ter sido tão estúpida àquele ponto? Deitou a cabeça no volante sem se importar com o fato de estar sozinha, a noite, em uma rua praticamente deserta. Voltar para casa andando demoraria pelo menos, vinte minutos de caminhada e os saltos que usava definitivamente não serviam para aquele tipo de coisa.
Sentia as lágrimas de frustração começarem a se formar atrás de seus olhos quando ouviu leves batidas na janela do passageiro. Sentiu seu sangue gelar em medo pela possibilidade de ser um assaltante, mas, quando viu quem realmente era, desejou que fosse qualquer outra pessoa.
Tobirama estava inclinado contra a janela, olhando para dentro do carro com um meio sorriso e pedindo para que ela abaixasse o vidro. Demorou alguns instantes para que Hime obedecesse, afinal, ainda que estivesse realmente ferrada: Parou para admirar como aquele paletó de lã preto abraçava o corpo dele graciosamente e o cachecol azul o deixava ainda mais charmoso.
— O que está fazendo, Hime? – teve de conter um suspiro ao ouvir seu nome sair dos lábios dele em um tom baixo e rouco. Pigarreou endireitando a postura e, suspirando em derrota, respondeu:
— Acabou a gasolina. – Disse, em um resmungo baixo.
— Como?
— Eu disse que acabou a gasolina. – repetiu mais alto, deixando aparente a irritação que sentia em seu tom.
— Isso eu entendi, queria saber como isso aconteceu.
— Acontece quando esquecemos de abastecer. – respondeu ácida, tombando a cabeça em direção ao banco e segurando-se para não revirar os olhos.
— Saia do carro, eu te levo para casa.
— Como sabe onde eu moro?
— Realmente acha que não te reconheci, vizinha? – disse com divertimento excessivo em seu tom, fazendo-a encará-lo irritada.
— Mentiu para mim?
— Você mentiu. Eu te dei a chance de falar a verdade e você não o fez.
— Seu… Cretino!
— Vamos, está tarde. É perigoso andar por aqui de noite.
— E por que você está andando por aqui de noite?
— Porque eu sei me defender.
— Está dizendo que eu não sou capaz de me defender por que sou mulher?
— Não, estou dizendo que você não é capaz de se defender por ter subido em cima da sua bancada por ter visto uma barata. Sim, eu vi aquilo. Sua janela não é a mais discreta do prédio.
— Era uma barata enorme.
— Tenho certeza que sim. – Concordou descontraidamente dando a volta no veículo e abrindo a porta do motorista para que Hime saísse. Mesmo a contragosto, ela o obedeceu trancando tudo logo em seguida. Assim que amanhecesse voltaria para buscá-lo.
Não estava com vontade de conversar, mas precisava perguntar o motivo de Tobirama estar voltando para casa a pé.
— Posso fazer uma pergunta?
— Já fez. – respondeu encarando-a de canto de olho, unicamente para vê-la erguer uma sobrancelha em um misto de descrença e deboche.
— Como você é engraçado. – resmungou, fazendo uma careta descontente.
— Pode fazer a pergunta.
— Não quero mais.
— Eu prometo responder.
— Não, obrigada.
— Pergunte, Hime. – a voz saiu tão suave que até ela se espantou.
— Por que você voltou andando?
— Eu gosto de caminhar. – respondeu dando de ombros. – Precisava pensar um pouco.
— Sobre?
— Não sabia que era tão curiosa, Hime.
— Bom, não seria dessa forma se você desse respostas concretas.
— Não sei se devo, afinal você ainda é uma desconhecida. – Apesar de uma verdade insuportável, era a dura realidade. — Você pode deixar de ser uma desconhecida, se quiser. - Continuou.
A pergunta era: Será que ela realmente queria? Passou dois anos colocando expectativas e criando a personalidade de uma pessoa que só observava ao longe.
— Está quieta. Disse algo que te aborreceu?
— Não… Eu, só estava pensando.
— No que?
— No quanto essa noite deu errado.
— Não acho que tenha sido um total fracasso. Era para ser um encontro duplo e, tecnicamente, eu estou te levando para casa…
— Unicamente porque meu carro ficou sem gasolina e você estava passando por perto. - Revirou os olhos, cruzando os braços.
— Apenas detalhes.
— Se eu te conhecesse, poderia afirmar que está feliz por isso ter acontecido.
— Realmente não me conhece.
"Porém, adoraria" - Pensou. Queria conhecê-lo,saber muito mais do que o homem que salva vidas, fica lindo dentro de um uniforme e mais ainda quando está sem camisa. Entender a pessoaque lhe inspirou e fezseu personagem criar vida; quis comparar ambos para saber o que havia acertado.
Tudo meramente para fins científicos, acadêmicos e de pesquisa. Com certeza.
— É, eu sei. – forçou-se a dizer, mantendo o tom neutro.
— Mas podia. – chutou algumas pedras distraidamente, olhando-a de soslaio com um sorriso de canto.
— É um convite?
— Se quiser que seja, é.
Meneou tentando esconder o sorriso que crescia em seus lábios.
— Por que aceitou ir para o encontro duplo?
— Sendo sincero? Hashirama me prometeu que finalmente se declararia para sua irmã no fim da noite.
— Ele gosta dela? – indagou, mesmo que aquilo fosse óbvio.
— Se gosta? Ele não parava de falar nela nem por um minuto sequer. Eu praticamente tive que força-lo a tomar uma iniciativa.
— Bom, pelo menos sabemos que um casal dessa noite se deu bem.
— Não estamos nos dando bem?
— Não somos um casal.
— Somos dois. Acho que isso nos torna um par. Além do mais, fomos a um encontro, acho que pelo menos tínhamos a intenção de ser.
— Eu fui praticamente forçada a ir!
— Então não queria ir?
— Não.
— Por que não sabia que era eu ou por que estava esperando que eu te chamasse para sair?
— Eu… O quê?
— Você não é muito discreta quando está me encarando.
Sentiu um calor percorrer por todo seu corpo, claro que não fazia muita questão de ser discreta, jurava por tudo que conhecia que nunca havia sido percebida mas não poderia estar mais enganada. Antes que pudesse formular qualquer desculpa ele continuou:
— Eu ia, mas você sempre parecia estar muito ocupada.
Ocupada demais fantasiando com você.- Adorava a sua sinceridade, mas odiava não ser tão cara de pau a esse ponto.
— Acho que nem precisou, não é? O destino age de maneiras estranhas.
— Confesso que não sabia que era você.
— Aposto que teria desistido se soubesse.
— Eu teria me arrumado melhor.
— Melhor que isso? Uau. – Fingiu surpresa enquanto analisava as vestes de Tobirama minuciosamente.
— Engraçadinha.
— É um dos meus múltiplos talentos além de escrever.
— Realmente, sua escrita é muito boa.
— Você… já leu meus livros?
— Você realmente acreditou que foi minha prima? Eu minto melhor do que pensava, então.
Tobirama havia lido seus livros. O mesmo Tobirama que havia inspirado Tobio, ele não seria burro a ponto de não conseguir ligar os pontos. Não que se importasse, mas...jamais contaria isso a ele. Não tão cedo.
— Então, o que achou? – Perguntou, um tanto curiosa.
— Mal posso esperar pelo próximo. E, nossa, as cenas dos dois juntos… Muita química entre eles. Achei bem educativo.
— Educativo?
— Bom, eu não imaginava que dava para fazer aquele tipo de coisa em cima de uma tábua de passar.
— Oh. Eu… Bom, depende muito da posição e… Eu nunca imaginei que você fosse o tipo de cara que lia romances.
— Um pouco preconceituoso da sua parte, não acha?
— Não foi o que eu quis dizer. - Ia continuar, mas ele acabou sorrindo e continuou.
—Sabe, eu realmente vi muitas semelhanças entre Tobio e eu.
— Você… Viu? – engoliu seco agradecendo por estarem a poucos metros de distância de seu prédio.
— Somos bombeiros, temos cabelos brancos, quase a mesma altura e, aparentemente, gostamos do mesmo tipo de mulher. A única diferença é que a ruiva que estou interessado é escritora.
Então o interesse era recíproco.
De repente, todas as palavras fugiram e tudo que ela conseguiu fazer foi encará-lo em silêncio. Não sabia se estava sonhando acordada ou aquilo era o destino lhe entregando um enorme presente.
Bem ali, parado há praticamente dois metros do prédio dela, em sua frente esperando uma resposta.Ela estava prestes a se jogar nos braços musculosos de Tobirama,finalmente beijando-o como gostaria.
Mas, um enorme balde de água fria caiu em sua cabeça quando ouviu uma voz ao fundo.
Nunca amaldiçoou tanto alguém quanto ao jovem que se aproximava afobado. Tobirama virou-se para encará-lo com uma expressão de poucos amigos. Mataria Itama da forma mais cruel que conseguisse se não fosse um caso de vida ou morte.
— Um… Incêndio… Fogo… Prefeitura.– Itama arfava tentando se recuperar da corrida. Havia procurado por Tobirama em todos os lugares possíveis até se lembrar que ele havia saído junto a Hashirama. Por mais que fosse o irmão mais novo, não podia ditar as regras dentro do quartel, ainda mais com Tobirama sendo seu superior. Logo as feições do homem de cabelos brancos se tornou séria e impassível. Mal se despediu de Hime e seguiu em direção ao outro lado da rua. Itama foi atrás dele, não sem antes direcionar um sorriso radiante à ela.
Acabou caindo na gargalhada pela situação e se voltou para a entrada do prédio.
Entrou apressadamente em seu apartamento, jogando a roupa em canto qualquer, pegando seu notebook e sentando-se em sua varanda, mesmo lugar onde tudo havia começado. Sabia como terminaria seu livro e, finalmente, se livrou do maldito bloqueio criativo que a assombrava a tanto tempo.
Não soube quanto tempo ao certo ficou acordada, mas viu os primeiros resquícios de luz solar surgirem no céu enquanto finalizou o epílogo do segundo e último livro da série.
Estava exausta, mas nada se comparava a satisfação que sentia naquele momento. Ligou para sua agente e disse que o manuscrito estava pronto para ser entregue para a editora. Teve de ouvir quinze minutos apenas com Shizune a congratulando pelo ótimo trabalho e como passaria naquela mesma tarde para recolher e levá-lo o mais rápido possível.
Quando deixou tudo pronto para ser entregue, deitou para dormir.
~
Já passavam das três da tarde quando o interfone tocou sinalizando que sua agente finalmente havia aparecido, mais que depressa agarrou o envelope que preparou e desceu as escadas, sem nem ao menos se importar se havia deixado trancado a porta de seu apartamento.
— Nem acredito que conseguiu, Hime! – Exclamou, a abraçando e pegando o documento.
— Nem eu acredito! Finalmente está pronto!
— O que vai fazer agora? Qual será o próximo romance?
— Eu… Acho que vou dar um tempo da escrita e…
— O que?! Hime, você enlouqueceu? Não pode fazer isso!
— Eu preciso.
E realmente precisava.
Ainda que toda a situação com Tobirama e sua fantasia sobre ele começou a tornar uma realidade possível, sabia que necessitava de um tempo para ela e se descobrir de alguma forma.
Basicamente: Queria cuidar de si mesma.
Shizune ainda tentou insistir para que Hime considerasse seu hiatus, mas ela estava irredutível. Sua editora foi embora um pouco triste, ainda que compreendesse as razões da Uzumaki.
Ia voltar para sua casa o mais rápido possível para descansar se não houvesse uma - grande - surpresa parada na porta do condomínio.
Seu carro estava parado em frente à sua calçada, coisa que tinha certeza de que não seria possível já estava sem gasolina, e ela nem ao menos havia se lembrado de ligar para o guincho.
Se aproximando do veículo, percebeu que havia um singelo bilhete preso ao parabrisae mais que depressa o abriu:
“Espero que aceite como uma forma de desculpas por não ter me despedido apropriadamente ontem. Espero vê-la novamente, desta vez sem ter que ficar encarando sua varanda nos momentos vagos.
– Tobirama”
Sem nem ao menos se dar conta, atravessou a rua em direção ao posto de bombeiros à procura dele, para finalmente dar-lhe a resposta da noite passada. Só não contava em não encontrá-lo e sim, o rapaz do cabelo preto e branco.
— Posso ajudá-la? – a voz jovial fez-se presente em um tom mais que simpático enquanto ele secava as mãos e caminhava em sua direção.
— Eu estava procurando alguém, sabe onde posso encontrar o Tobirama?
— Oh, ele saiu. Teve que resolver alguns assuntos pessoais. Deve voltar no fim da tarde – sorriu gentilmente analisando as feições de Hime que, provavelmente, demonstravam toda a decepção que a mesma sentia naquele momento.
— Entendo, obrigada de qualquer forma.
— Foi um prazer finalmente conhecer você, Hime.
Aquilo a fez parar imediatamente e virar para encará-lo. Como ele sabia seu nome?
— Sou Itama, o irmão mais novo do Tobirama e do Hashirama. Duvido que ele tenha mencionado isso mas teremos muito tempo para nos conhecermos nos almoços de família. – Piscou, sorrindo zombeteiro e voltou para seus afazeres.
Então Tobirama havia falado sobre ela?
Voltou para o seu apartamento inspirada a fazer coisas diferentes, por isso, resolveu cozinhar. Apesar de gostar muito, sabia o quão difícil era preparar algo muito elaborado, mas sempre se virava como podia.
E foi então, que resolveu fazer uma lasanha.
De fato, dos preparos dos molhos até a montagem nada saiu fora do planejado. Hime até se vangloriou por sua primeira vitória na cozinha, já que não havia feito nenhum movimento errado até aquele momento. Colocou a travessa na forno e foi em direção a sala ver um filme qualquer na televisão.
Ela só não contava pegar no sono em meio a espera, os quarenta e cinco minutos se transformarem em cinco horas. Acordou tossindo, se assustou quando viu todo seu apartamento envolto a uma fumaça negra. Demorou alguns segundos para redobrar sua consciência, até finalmente se lembrar da sua comida assando.
Correu até a cozinha, xingando todos os palavrões possíveis e que se lembrou; desligou o forno às pressas, abriu todas as janelas e ligou seus dois ventiladores na esperança daquele cheiro sair o mais rápido possível.
Rezou também a todas divindades possíveis para não tomar uma multa enorme do condomínio também.
Como se já não bastasse toda a situação, Tobirama estava voltando ao quartel naquele exato momento, carregando um buquê de rosas vermelhas compradas especialmente para ela.
Assim que viu a fumaça saindo da varanda de Hime ficou em pânico, correu o máximo que pode, entrando no prédio às pressas. Subiu as escadas em busca do apartamento dela, o encontrando após quatro lances de escada. Obviamente não foi difícil de encontrar o lugar certo, já que a fumaça havia tomado quase todo o corredor.
Tentou abrir a porta, mas ela estava trancada, ficou tão preocupado pensando o pior, que arrombou a porta sem pensar duas vezes.
Assim que o pedaço de madeira caiu, encontrou uma Hime parada perto da cozinha, segurando o ventilador.
— Onde está o fogo? – perguntou arfando e olhando ao redor atentamente a procura da origem de toda aquela fumaça.
E, depois de o imaginar tantas vezes fazendo exatamente aquela pergunta, ela só conseguiu gargalhar.
A risada pareceu despertar Tobirama que apenas voltou a encará-la confuso. Demorou bons momentos para que Hime finalmente se recompor e conseguisse formular uma resposta.
— Eu queimei meu jantar. – foi tudo que conseguiu responder antes de cair na gargalhada novamente.
— O que? Você está bem?
— Eu… sou um desastre na cozinha, tirando isso, tudo ótimo.
— Deu para perceber a primeira parte.
— Acho que você me deve uma porta nova. – disse em um tom brincalhão, fazendo-o coçar a nuca claramente desconcertado.
— Eu pensei que estava em perigo e…
— Entendo. Pretendia apagar o fogo com essas flores?
— Na verdade, eram para você. Estariam em um estado melhor se você não tivesse me matado de susto. – apontou para o buquê praticamente destruído, algumas flores pendiam de uma maneira pouco natural.
— Tenho certeza de que eram adoráveis. – afirmou se aproximando – Mas o que fiz para merecê-las?
— Ia te chamar para sair, acho que depois disso o mínimo que posso fazer é te pagar um jantar.
— Não vou recusar já que o meu carbonizou. Me espera trocar de roupa?
— Tem certeza de que não prefere ir assim? Essa roupa está um charme.
Foi então que percebeu que ainda estava com seu pijama.
— Tenho uma ideia melhor, então.
— Estou ouvindo.
— Vamos pedir uma pizza, abrir um bom vinho e ver um filme. Enquanto faço o pedido, você conserta a minha porta. - Disse, se virando ainda rindo e pegando o telefone em mãos.
— Não acho que estou em posição de reclamar, certo?
— Garoto esperto.
Logo a porta estava no lugar, ou quase, graças a uma gambiarra de Tobirama. Com sorte, aguentaria até o dia seguinte quando o faz tudo do prédio resolveria o problema definitivamente.
Apesar do acidente, descobriu que o Senju era uma ótima companhia, mesmo tendo um gênio um pouco...peculiar. Após algumas taças de vinho depois, também percebeu que ele não deixava a desejar sobre seus beijos.
E ninguém poderia julgá-la por tomar iniciativa.
A partir daquele dia, teve um final feliz, assim como em seu livro. Obviamente, tinha consciência que a vida não era uma história romântica clichê, que ainda o odiaria e o amaria na mesma intensidade; porém, queria dar uma chance para viver algo tão intenso, como o que sempre imaginou em suas obras.
Tobio havia tido um final feliz com Saeko e Hime estava tendo o seu bem ali com Tobirama.
Vielen Dank für das Lesen!
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