Novamente me pego sozinho com minha amiga apatia, a quem sempre desejo estar mais sagaz do que no dia anterior. Maldita apatia insiste em não entender meus problemas, não concordar com nada do que digo e gesticulo eloquentemente. Maldita apatia que me pergunta porque repito os mesmos erros, justo eu, ó ser sciente (sim com o s, porque não com o s?) que não deveria dar um passo em falso, não deveria ter os cadarços desamarrados nem se sujar com molhos baratos. Porque gosto das pessoas, ela diz. Porque me envolvo, ela diz. Eu digo: porque sim. Porque é o que me resta, os farelos salgados demais no final do pacote, que mesmo nos arrependendo de comer, repetimos por todo o vai-e-vêm da caixa torácica a que chamamos de existência. Sem a tristeza somos só eu e você, apatia.
Há muito não reencontro velhos conhecidos, a ambição, o objetivo e principalmente, a realização, que deu as caras vezes demenos para sequer saber a cor do seu suéter. Andamos num parque repetindo o mesmo brinquedo, eu e apatia. Qualquer coisa que me faça acordar da realidade é muitíssimo bem vinda, obrigado. Qualquer sensação. A esperança é doce e suculenta, mas dura pouco, como uma bala de chocolate ou uma injeção de heroína. Dela eu tenho experimentado mais vezes do que gostaria, porém sem nunca me arrepender, se é que essa frase pode ser escrita no mundo burocrático em que pisamos (ao escrever frase, quase escrevi farsa, ria apatia, ria).
Não se escolhe a droga que se vicia, pelo menos diziam que não no último memorando que recebi. E viciei em sentir, sentir qualquer coisa, dor, vento, sorrisos, (aqui hesito alguns segundos antes se escrever) alegria. Peço pra que me ajudem a esconder o corpo mutilado da apatia. Mas ninguém ouve, e logo ela se recupera, levanta após três dias com lençóis mais limpos e um sarcasmo recorrente. Vadia.
E assim vamos seguindo de mãos dadas, na contínua conversa onde explico porque fiz e refiz e voltarei a fazer o que fiz a minha amiga apatia. Os motivos de me envolver em caças ao tesouro infundadas, de me iludir com súcubus achando que um dia elas vão se tornar donas de casa e poderemos comprar um sítio no interior. Minha inocência chega a transbordar pelos ouvidos, suja a coitada, vazia.
Vielen Dank für das Lesen!
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