Jasmim (Jasminum): A flor de jasmim é graciosa, alegre e delicada, e representa doçura, sorte, amabilidade, amor e modéstia. Seu perfume delicioso é exalado durante a noite.
Talvez Yifan não parecesse ser do tipo que apreciasse a delicadeza e a magnitude de uma simples flor.
Sua aparência soava negação diante de muitos de seus aspectos pessoais para as demais pessoas ao seu redor. A estatura alta que portava, por exemplo, e seu típico rosto fechado com os cabelos jogados para trás e blusa folgada, não pareciam ser de alguém que trabalhava numa floricultura e sorria de forma tão doce quanto o aroma de certas plantas.
Wu Yifan, o atendente gentil e galanteador — de maneira inconsciente — da Floricultura Byul. Todos os dias úteis da semana, das oito e meia da manhã às sete da noite, o jovem chinês estava lá, apreciando o seu tão sonhado trabalho com flores.
Obviamente, tinha as suas preferidas. Costumava encarar o Jasmim com um olhar mais diferenciado; jamais soubera o porquê, mas talvez a tamanha delicadeza de sua aparência e seu significado — referente à doçura, modéstia e amor —, atraía Yifan quase que espiritualmente à flor.
Além disso, existia uma pessoa em especial que costumava compará-lo bastante à tal flor.
▪ ▪ ▪
O relógio, ao marcar as sete horas da noite, soltou um badalar característico pela Floricultura Byul. Yifan escutou um suspiro pesado de Chanyeol, e não conteve uma risada ao prever as reclamações que viriam após o anúncio do fim do expediente.
Park Chanyeol já era um reclamão nato, e quando era sexta-feira, parecia piorar.
— Aaahrg, minhas costas tão me matando! — resmungou o ruivo, espreguiçando-se de forma desengonçada enquanto era serenamente observado pelo chinês alto.
— Você está agindo como um velhinho, Yeol. Mal parece ter dezenove anos. — sorriu o Wu, enquanto retirava suas luvas de borracha e dirigia-se para trás do balcão, a fim de guardá-las em sua mochila.
Ouviu um muxoxo do amigo.
— Nem vem, você só gosta desse trabalho porque é um cara que fala com plantas e recebe cantada de toda cliente que vem pra cá! — Chanyeol retrucou afobado, mas sem raiva alguma; agia como uma criança idiota e Yifan não poderia achar nada mais engraçado.
— Está vendo coisas — contrapôs, ligeiramente constrangido ao ter o amigo insinuando que recebia cantadas de clientes — Ninguém ‘tá me cantando aqui, não.
Decidiu tomar a iniciativa de desligar as luzes e organizar o lugar antes que eles o deixassem. Enquanto o fazia, acabou ouvindo a resposta do outro, que soava simplista em suas palavras:
— Não sou eu que ‘tô vendo demais, Fan, você que é lerdo e não percebe. O Junmyeon só fala disso comigo. — Chanyeol conclui seu raciocínio guardando seu avental e luvas numa sacolinha plástica, socando a mesma no fundo de sua mochila da faculdade.
O chinês sentiu as bochechas esquentarem quando o Park resolvera citar aquele nome.
— O Myeon? Estranho ele falar sobre isso… Não pensei que ele se importasse tanto com o fato de eu estar sendo, supostamente… “cantado” — Yifan resolveu fingir inocência diante da observação que Junmyeon exercera sobre si. — Não é como se isso fosse importante, na verdade…
Ele tentava disfarçar de todas as formas possíveis; porém Chanyeol já sabia lê-lo com perspicácia.
— Não acho que Junmyeon se importe, acho é que ele tem inveja. — mentiu, pondo um sorriso afiado na boca sem vergonha nenhuma. — Enfim, vamos embora logo. A faculdade ‘tá sugando a minha alma e eu ‘tô muito afim da minha cama agora.
Com uma risada boba do Wu e mais uns resmungos idiotas do Park, ambos deixaram a Floricultura Byul, deixando apenas o gerente lá dentro, que era o responsável por revisar o estabelecimento e trancá-lo.
Os amigos seguiriam o mesmo caminho até o ponto do ônibus, onde Chanyeol seria deixado e Yifan subiria a rua, andando mais três quarteirões para chegar no apartamento. Durante o trajeto para o ponto, jogavam conversa fora de maneira despretensiosa.
— Por que não passa lá em casa qualquer dia desses, Fan? — sugeriu Chanyeol, recebendo uma risada tímida de Yifan como resposta.
— Não gosto de incomodar. A faculdade de Direito é muito puxada, não quero tomar sua atenção. — justificou, com sua típica gentileza impregnada na voz, o que fazia o mais novo querer apertá-lo e socá-lo ao mesmo tempo.
— Ah, cacete! Como você pode ser tão fofo e tão careta ao mesmo tempo?! — resmungou pela milésima vez na noite, e mais uma vez, Yifan riu: mas dessa vez, foi mais uma gargalhada.
— Não sou careta, sou responsável — retrucou o chinês, sorridente — Aproveite a faculdade, Yeol. Você tem a oportunidade, e mesmo que seja inteligente, ninguém faz nada sem um estudo.
— Humph, e além de tudo, é um amigo incrível. Tu é tão... coisado, que dá vontade de te socar.
— Ei!
E quando se deram conta, já estava na hora de se despedirem. Chanyeol não conseguiu inibir sua vontade e acabou abraçando o amigo chinês, que retribuiu carinhosamente.
— Obrigado pelo apoio, Fanfan — separou-se do abraço, e agradeceu com uma atípica tranquilidade — Agora eu sei porque o Junmyeon presta tanta atenção nas pessoas que ficam dando em cima de você.
O Wu corou pela segunda vez na noite.
— P-por que está falando tanto do Junmyeon, ora essa? — questionou fingindo indignação, embora estivesse demonstrando, nas entrelinhas, seu nervosismo.
— Porque ele mandou te dizer que vocês iam se encontrar no “lugar de sempre” — fez as aspas com os dedos — logo quando você saísse.
Naquele ponto, Yifan queria enfiar a cara no concreto.
— Lugar de sempre? — indagou o maior, mais ansioso do que necessariamente intrigado.
— Antes que você pergunte: não, eu nem sei que lugar é esse. Só sei que deve ser um canto no mínimo escondidão, afinal, tu ‘tá saindo com o filho do chefe. — a naturalidade – banhada numa certa malícia – da voz do mais novo chegava a assustar Yifan, este que não conseguiu pensar em nenhuma resposta imediata.
E nem precisou, afinal, o ônibus que levava Chanyeol até sua casa havia chegado.
— Enfim, se cuida, Fan — abriu seu típico sorriso largo, permitindo a si mesmo dar um toque com as costas da mão no ombro do amigo. — Até segunda.
— Até. Cria juízo. — tranquilizou a voz, embora as palavras de Chanyeol estivessem martelando em sua mente.
Com um acenar de mãos, despediu-se oficialmente. Subiu no ônibus, e o transporte imediatamente partiu em sua rota.
Já era hora de Yifan fazer o mesmo.
▪ ▪ ▪
Ao pôr os pés no condomínio onde morava, mal encarou o portão e já recebeu uma notícia do porteiro:
“Senhor Wu, seu amigo está aí.”
E quando chegou no 6º andar, se deparou com a porta do seu apartamento fechada, porém com uma fraca luz azulada refletindo-se pela fresta.
Não soube exatamente o motivo, mas, antes de entrar em seu próprio apartamento, bateu de leve na porta. Talvez porque não quisesse assustar a pessoa que estivesse lá dentro com sua chegada repentina.
A porta foi aberta, sem som algum de chave se mexendo ou algo semelhante; o que significava que ele sabia que Yifan já estava chegando.
— Dar uma cópia da sua chave a mim foi uma ótima ideia, sabia? — Junmyeon disse de forma relativamente animada, sem deixar de esbanjar sua característica sensualidade.
— Você sabe que eu gosto de te deixar à vontade. — selou rapidamente seus lábios com os de Junmyeon, que deu alguns passos para trás para que Yifan pudesse adentrar o apartamento.
O chinês fechou a porta e a trancou, pois sabia que Kim Junmyeon só deixaria sua residência no outro dia de manhã.
Yifan seguiu para o banheiro que residia após murmurar a Junmyeon em seu pé do ouvido que poderia aguardá-lo onde se sentisse mais confortável. Foi quase uma súplica para que o Kim ficasse na sua cama, afinal, o chinês sabia que aquele era o lugar onde eles costumavam ficar na maior parte do tempo.
Tomou um banho para revigorar as energias, e não se deu ao trabalho de se vestir tanto: colocou apenas uma calça de moletom com uma camiseta larga qualquer.
O único cuidado que Yifan tivera foi o de colocar o perfume que Junmyeon o dera de presente de aniversário, o qual ele sempre usou nas noites em que se encontravam desde então: J’Adore, de Christian Dior — era um perfume feminino, com cheiro de Jasmim.
Após espalhar o perfume através das borrifadas pelo seu pescoço e antebraços, deu uma última passada da toalha em seus fios morenos e deixou o pequeno banheiro. Deparou-se com a agradável imagem do menor acomodado em sua cama, abraçado a um dos travesseiros enquanto carregava uma expressão de satisfação.
— É impressionante o fato de eu nunca enjoar desse cheiro, Fan. — Kim comentou, com a voz embargada pela boa sensação de sentir aquela doce fragrância.
O chinês aproximou-se, e ao se sentar ao lado do outro, não precisou pronunciar palavra alguma: apenas inclinou a cabeça e o beijou, iniciando o primeiro de muitos daquela fria noite de sexta-feira em Seoul.
Trocaram leves selinhos, até que Junmyeon tivera a iniciativa de separar um pouco mais os rostos. Antes que Yifan protestasse, prontamente segurou em suas bochechas levemente delgadas e macias. Correu os polegares pelo maxilar do chinês, que corou de leve com o carinho.
O Kim, inconscientemente, sorriu.
— Eu já te disse isso… Mas eu gosto de sempre te comparar à Jasmim — sussurrava o coreano, com a voz doce mergulhada em meio ao prazer que era estar do lado do Wu. — Além da sua personalidade tão amável e delicada, esse cheiro que você emana à noite é tão característico que eu pareço viajar nas nossas memórias quando o sinto.
Yifan deu uma risada baixinha, inibido, pois jamais soubera receber todo aquele carinho de Junmyeon.
— Bem que eu queria saber te agradecer de um jeito decente com palavras, Myeon… — murmurou o maior, não disfarçando o seu estado desconsertado pelas palavras do outro, que mesmo recorrentes, não eram menos impactantes. — Mas você sabe que eu não sei. — riu novamente.
— Não precisa. Você sabe. — e o beijou mais uma vez.
Aquele cheiro tão doce quanto a personalidade de Wu Yifan impregnava nas narinas e na mente de Kim Junmyeon, que não se importava nem um pouco em embebedar-se no tal aroma. Sabia que o chinês nunca usava aquele perfume em outra ocasião, ou com outra pessoa; pois ele era a sua bela Jasmim.
E Yifan não poderia se sentir mais feliz.
Vielen Dank für das Lesen!
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