zephirat Andre Tornado

Na torre mais alta do mundo, Yajirobe pensa na sua vida quando o mestre Karin lhe faz uma surpresa...


Fan-Fiction Anime/Manga Nur für über 18-Jährige. © Dragon Ball não me pertence. História escrita de fã para fã.

#dragon-ball #Yajirobe #Torre #ano-novo #amizade #karin #Mestre #gato
Kurzgeschichte
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Capítulo Único


Se ele gostava de estar ali, para ser honesto, não sabia dizer.


Se lhe perguntassem de caras, responderia logo que não, pois sempre contrariava quem o interpelava diretamente, por detestar que o confrontassem com uma autoanálise que ele nunca fazia, que ele não via utilidade em fazer, que ele fazia questão de nunca fazer. Não precisava de se conhecer com base numa daquelas meditações profundas em que avaliamos o nosso interior e descascamos pacientemente as nossas muitas proteções, capas e escudos, como quando se descasca uma cebola retirando camada por camada, até ao interior mais doce. Hum, não se importava de comer uma cebola naquele momento. Mas não, nada de comida…


Se ele se pusesse a pensar naquela realidade, que ele estava efetivamente ali, naquele lugar, abanaria a cabeça grande… Sim ele tinha uma cabeça grande, sempre lho tinham apontado esse pormenor físico desde que era criança, uma cabeça demasiado grande para o corpo, tanto era que ele resolvera engordar para diminuir a proporção desigual ou aparentemente desigual entre essa cabeça grande e o corpo talvez mais pequeno. Pois, abanaria a cabeça grande e haveria de confirmar para si próprio, apenas para si próprio, que sim, que gostava de estar ali.


E aparentemente estava a fazer uma autoanálise.


Mas nada disso, ele haveria de o negar, se lhe perguntassem se estava a pensar na vida, na sua vida. Não, eu nunca penso nesses disparates, que desperdício de tempo, diria ao inquiridor. Nunca, ouviste? Nunca, nunca!


O que ele estava a fazer era a distrair-se. E porquê? Acaso se sentia entediado ou deprimido? Não, nada disso, voltaria a negar com a mesma ferocidade e indignação. Ele nunca estava deprimido, ou entediado. Fazia sempre o que lhe dava na gana, por isso quando por alguma hipótese longínqua estivesse a chegar a esse estado melancólico ele simplesmente partia, punha-se a caminho, trouxa às costas e ia à procura de um novo horizonte. Se se fartasse, caminhava, andava sem parar. Um remédio eficaz.


Não se dava o caso de estar a fazer uma autoanálise, mas sentia-se pensativo e estava realmente a cogitar naquilo tudo. Não apenas na simples evidência de se encontrar ali, mas a razão ou as razões que o tinham empurrado para estar ali onde provavelmente e para ser honesto, gostava de estar.


Era uma casa como qualquer outra, embora concordasse que não era uma habitação ortodoxa. O seu isolamento era perfeito para uma pessoa eremita, antissocial, violenta e irascível como ele era. O único senão, achava ele, era que não morava sozinho. De qualquer modo, o segundo habitante daquela casa não era um humano – não suportaria morar com outra pessoa, isso era um facto.


O recinto era amplo e circular, construído em pedra, coberto por uma cúpula, no cimo de uma torre, tão alta que era impossível a qualquer um lá chegar a não ser que escalasse pela coluna acima, apoiando-se nos rebordos das várias peças que a compunham e nos desenhos cravados na superfície pétrea, a não ser que voasse, a não ser que possuísse um veículo voador ultra potente, com um motor especial. Era o caso dele, era dono de um meio de transporte com tais características, que não tinha físico para escaladas (mesmo que na primeira vez que ali tivesse chegado usara esse expediente que o deixara com os pulmões a arder e os braços desfalecidos), nem sabia voar.


Esse terraço onde ele costumava passear-se indolente, entre as nuvens, com a mão apoiada no punho da sua katana, era a cobertura da casa em si, por onde se acedia descendo uma escadaria também construída em pedra. Tinha muitos quartos, ele desconfiava que havia alguns que lhe estavam permanentemente vedados por serem portais para dimensões estranhas pejadas de desafios impossíveis que não valia a pena explorar por serem precisamente perigosos, mas se sentira curiosidade durante os primeiros tempos em que ali pernoitara, esta esvaíra-se à medida que fora construindo o seu canto. Tinha um quarto só para si, confortável e simpático, não precisava de acrescentar espaço ao que já era seu. Tinha também uma espécie de cozinha sempre muito bem recheada de comida e iguarias diversas, das quais se servia sempre que lhe dava fome, sendo a sua comida favorita os feijões senzu cultivados pelo dono da torre. Tinha, por fim, um balneário onde ele gostava de passar horas imerso num tanque com água fervente, a aspirar os vapores adocicados pelas ervas com que perfumava a água.


Por isso, refletiu abanando a cabeça, gostava de estar ali. Não podia pedir mais.


Quando era jovem fazia da floresta e da natureza a sua casa. Dormia ao relento, lutava contra animais selvagens para comer, banhava-se nos rios e nos lagos gelados. Tinha envelhecido e tinha adquirido gostos mais requintados. Ninguém o podia censurar. Via aquela oferenda de hospitalidade e comodidade como um prémio por ter arriscado o pescoço para salvar a Terra de inimigos mortais que ameaçavam com a extinção da raça humana. Na verdade, considerava ele num assomo de sinceridade, sempre se postara na linha mais à retaguarda dos guerreiros que defendiam o planeta. Ainda assim, tivera um papel relevante, fundamental e decisivo em qualquer batalha e por isso morava ali, na torre dos bosques sagrados que conduzia ao palácio celestial. Estava no seu pleno direito. E também não tinha sido expulso embora discutisse amiúde com o segundo habitante da torre.


O som estridente e metálico de tampas de panela a bater umas nas outras, como uns pratos velhos e desafinados de uma orquestra desinspirada, sobressaltaram-no. Sentiu um arrepio no interior dos dentes que o arrefeceu tal qual um banho gelado, agarrou-se à balaustrada do varandim onde se debruçava para tentar ver, entre o chão nublado, a floresta verde lá em baixo. Na verdade, nunca tinha conseguido ver nada de tão alto, mas tentava sempre, que ele não era alguém para desistir de um objetivo incomum…


E foi sobressaltado e arrepiado que se voltou na direção do barulho.


O felino branco surgiu aos pulos, numa alegria esquisita que o deixou mais surpreendido com que já estava. E sempre que o surpreendiam, Yajirobe gritava para, mais uma vez e como sempre o fizera, camuflar os seus verdadeiros sentimentos e emoções.


- O que é que estás a fazer, gato maluco?!


Verdade fosse dita, o gato maluco, que era um reputado mestre de artes marciais e que atendia pelo nome de Karin, que era um ser imortal e divino apesar de a sua aparência ser incrivelmente incomum, bastante mais que os seus objetivos, nunca se empolava ou ofendia com as variações de humor do seu convidado, nem com os berros vulgares.


Seria ainda um convidado? Ele achava que não. Era um morador. Tinha o direito de morar ali, assim como o gato sagrado podia chamar aquele sítio de seu. Bem, o gato até tinha mais direito do que ele, pois era, no sentido prático, o guardião para a entrada do lugar onde morava o deus da Terra, mas isso era um detalhe.


Tudo ali era sagrado, o que chegava a ser aborrecido. Não tinha graça nenhuma estar rodeado de coisas sagradas e, por definição, imbuídas de uma solenidade que as tornava proibidas. Ele gostava de olhar, de cheirar, de provar, de tocar com os dedos tudo o que se lhe apresentava à sua frente, sem qualquer limitação. Primeiro para saber se era comestível. Depois para aferir se realmente era o que parecia ser. 


O gato respondeu-lhe batendo com os pratos com força:


- Estou a festejar o ano novo!


Yajirobe cobriu as orelhas com as mãos grossas.


- Não podes festejar para outro lado? Estás a fazer-me dor de cabeça!


- Vamos, meu amigo! Festeja comigo! – exclamou o gato excitado, dançando ao som dos pratos que fazia chocar com mais empenho.


- O que há para festejar?


- O ano novo, já te disse!


- Para mim, festa que se preze tem comida! Se estás a festejar o ano novo, onde está o banquete preparado?


- Só pensas com o teu estômago. É lamentável!


Se parecia uma censura, o tom descontraído da frase cortou a acidez da observação. Yajirobe bufou irritado. Preferia que o gato se pusesse com um daqueles sermões intermináveis sobre a importância de uma festa sem substância, ou seja, uma celebração sem bandejas atafulhadas de comida, do que aquele aparente desprezo.


- Vou-me embora!


Os pratos vibraram.


- Não vás! – pediu Karin. – Não vás, festeja comigo.


- Não tenho nada para festejar… Um novo ano. E depois? Vou ficar mais velho, mais gordo, mais lento, mais esquecido aqui em cima.


- Gosto da tua companhia e tu gostas da minha.


- Ah! Estás muito convencido!


Os pratos vibraram outra vez.


Yajirobe cerrou os dentes, fechou os olhos. Aquele barulho mexia-lhe com os nervos. O gato parou diante dele, ergueu-se na ponta das patas.


- Mas existe um banquete.


- Não me enganas – replicou Yajirobe zangado. – Só queres que eu fique aqui contigo a celebrar o ano novo. Deve ser uma malga cheia de senzu… E depois esperas que fique saciado.


Os bigodes do gato agitaram-se quando moveu o focinho.


- Hum…


Yajirobe revirou os olhos e fez um sorriso malicioso. Enfiou os polegares no cinto que lhe apertava a túnica de forma desleixada, acenou com a cabeça.


- Tens razão. Devo festejar o ano novo. Vou mesmo sair daqui e comer qualquer coisa deliciosa.


- A comida custa dinheiro.


- Aquela que eu caçar, não vai custar nada.


- Vais ter de acender uma fogueira para cozinhar o que caçares… – Fingiu que analisava o céu, mas era um esforço inútil pois ali não se conseguia aferir nada meteorológico pois o ar estava sempre igual, com as nuvens que podiam indicar qualquer coisa a existirem sempre abaixo do recinto. – Parece-me que vai chover.


- Bah!


Quando deu meia volta, o gato ronronou.


- Ainda não viste o que preparei para ti, Yajirobe.


Ele era mais curioso que Karin. Infelizmente, conseguia ser mais curioso do que um gato, que maldição!


- É uma malga de senzu – insistiu para não parecer que fraquejava à primeira ronronada.


- Será?


Os pratos vibraram novamente.


Os ombros de Yajirobe descaíram, suspirou derrotado. Era curioso e ponto final. Tinha esse defeito, mas como todas as suas outras faltas, nunca iria admitir que era indiscreto ao ponto de chegar a comprometer a sua personalidade. Que não tinha, adiante-se. Ele não tinha personalidade nenhuma. Era um selvagem que se movia por instinto. Conhecera Son Goku quando este não passava de um fedelho impulsivo e fizera um amigo. A partir daí, tudo mudara. Para melhor? Sim, talvez sim.


Antes de o seu orgulho o obrigar a desistir de ir verificar se as palavras do gato eram verdadeiras, correu para a escadaria, deslizou pelos degraus abaixo. O com irritante dos pratos seguiu-o, Karin foi atrás dele, a dançar aos saltinhos, a murmurar uma cantiga e a desejar um novo ano para os fantasmas da torre.


No átrio rodeado pelas paredes onde se abriam as portas dos vários quartos estava posta uma mesa comprida, coberta por uma impecável toalha branca. No centro da mesa brilhava um candelabro com doze velas acesas que iluminava a maravilha que se estendia sobre a toalha. Bandejas repletas de comidas variadas, desde salgados a doces, aperitivos e digestivos, secos e molhados, pães e biscoitos, carne, peixe, legumes, fruta.


Conquistado, maravilhado, pasmado, Yajirobe exclamou:


- Ah!!


- Feliz ano novo! – repetiu Karin.


Se ele gostava de estar ali…


No minuto em que se atirou às peças de carne assada e enfiou as mãos nas tigelas cheias de batatas, a aspirar o perfume delicioso dos legumes salteados e dos pudins caramelizados, a espreitar os bolinhos de queijo e as tiras de peixe seco, a fazer pontaria para as maçãs e as fatias de melancia, Yajirobe soube que a resposta era um poderoso sim.


Ali era seguramente feliz.


E nesse arrebatamento também desejou, com a boca a espirrar arroz:


- Feliz ano novo!

30. Dezember 2018 00:01 0 Bericht Einbetten Follow einer Story
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Das Ende

Über den Autor

Andre Tornado Gosto de escrever, gosto de ler e com uma boa história viajo por mil mundos.

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