paloma-machado1524178432 Paloma Machado

Querido Santo, Neste 24 de junho quero apenas encher a cara de quentão, me empanturrar de pinhão e não ser seguida por infortúnios a cada saquinho de pipoca. Livrai-me da maldita quadrilha, do correio elegante e de passar a festa na cadeia porque teve um infeliz que pagou para me prender, mas nenhum bolso generoso para me libertar. Deixai um pouco suas pegadinhas de lado para alegrar a noite daqueles que festejam sua data. Com amor e com o rosto encharcado por lágrimas de suplicação, De uma pobre alma a espera da benção de São João.


Fan-Fiction Spiele Nicht für Kinder unter 13 Jahren.

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Quadrilha fantástica - Armin

Eu, definitivamente, odeio Educação Física. E não é porque sou preguiçosa ou algo do tipo, simplesmente não gosto de ficar correndo atrás de uma bola ou pulando feito uma boba achando que tenho talento para o atletismo ou que vou ser uma Personal Trainer.

Mas não há nada pior do que o ensaio para a quadrilha.

São dois meses de tortura com uma dança vergonhosa. Eu até gosto de dançar, mas as coreografias que nos incubem a realizar são ridículas.

 

— Isa! – Saltitando como uma criança que acaba de ganhar um saco de jujubas, Clara vem em minha direção com um sorriso de orelha a orelha. – O que será esse ano?

 

— Espero ser nada que me ridicularize – digo cruzando os dedos.

 

— Como daquela vez em que tocaram Tati Quebra Barraco? – ela relembra – boladona, boladona...

 

Certamente aquilo havia sido o cúmulo da vergonha alheia, quando colocaram pra tocar os tops hits do verão de quase duas décadas atrás.

 

— Queria tanto que meu parceiro fosse Kentin – Clara pestaneja imaginando-se com seu príncipe encantado.

 

— Realmente não sei o porquê dessa fissura por ele – franzo o cenho –, não vejo nada que o destaque.

 

— Claro que você diria isso, sempre acaba fazendo par com outra garota nas festas juninas – Clara joga na minha cara.

 

Eu bufo, meio ofendida, mas no fundo não dou muita importância. Pois é... Na nossa classe há mais garotas do que garotos, e nem sempre todos participam do evento, apesar de valer uns bons pontos no boletim. Ou seja... Alguém sempre paga o pato. Mais especificamente: eu. Talvez se me esforçasse um pouquinho para tirar boas notas, não precisasse passar por isso todo ano.

Sempre acabo fazendo dupla com aquela pessoa excluída, com a menina que ninguém suporta ou com o menino desprovido da benção de Afrodite. Não que eu me importe com isso, de forma alguma, mas talvez eu mereça algo mais empolgante.

 

— Melhor irmos para o ginásio – Clara pega minha mão e me arrasta com ela.

 

Grupinhos vão chegando aos poucos até todos estarem presentes. A professora responsável pelo ensaio da quadrilha, Ana Paula, chega com uma prancheta em mãos.

 

— Bom dia – ela cumprimenta alegre. – Espero que estejam animados, preparei algo diferente para este ano.

 

Meus músculos se tencionam com o anúncio. Eu gosto de mudanças, de variações, mas digamos que nossos educadores não são os melhores nisso.

 

— Já tenho a lista das duplas, quero que façam silêncio e formem uma fila conforme eu for ditando os nomes – a professora pede.

 

As duplas vão se formando e a tensão aumenta. Alguns parecem contentes com seus pares, outros não se importam muito ou demonstram certo desagrado. Quando Clara e Kentin são anunciados juntos, ela quase desloca meu pescoço, tamanha a força com que me chacoalha, depois corre até a fila pondo-se ao lado do garoto que parece não se incomodar com seu entusiasmo exagerado.

A lista não está em ordem alfabética, o que dificulta as coisas. Olho para o teto tentando imaginar o que seria de mim este ano, mas o pronunciamento do meu nome me faz retomar a atenção.

 

— Isabela e Armin – diz professora Ana encerrando a formação.

 

Olho para o lado e vejo o garoto moreno sorrindo simpaticamente para mim. Devo estar sonhando. Acho que finalmente alguém lá em cima zelou por mim.

 

— Pronta? – ele pergunta estendendo o braço.

 

Eu apenas afirmo balançando a cabeça como uma bonequinha, coloco minha mão por detrás de seu antebraço e seguimos para o final da fila. Vejo Clara me olhando boquiaberta. Com certeza vai me encher de perguntas mais tarde.

A professora liga a música e começa a nos mostrar os passos, de início acho tudo normal e até que gosto do novo estilo, passos de hip hop, sertanejo e até dança de salão são incorporadas em uma coreografia simples, mas divertida. Porém, não demorou muito para que a grande surpresa fosse revelada. Ana Paula pede licença por alguns minutos e volta com o professor de física, eles ficam a uma distância de mais ou menos dois metros um do outro e começam a ensinar o próximo passo. O professor encena o lançamento de uma corda em torno da cintura da instrutora e a puxa, ela anda sensualmente até ele que então a puxa contra seu corpo numa troca quente de olhares, depois eles se afastam e voltam com os passos de uma quadrilha tradicional.

Olho em volta e percebo não ser a única constrangida com aquilo, mas diferente de mim, os outros alunos parecem animados. Ana nos incentiva a repetir o passo, e sem dúvida o desastre é eminente.  Armin encena a laçada, eu caminho dura em sua direção e ele começa a rir. Certamente estou ridícula.

 

— Você precisa relaxar – ele diz como se fosse fácil.

 

— Isso é vergonhoso – digo com as bochechas queimando.

 

— Pense pelo lado positivo – ele aponta para os outros estudantes –, não estamos sozinhos neste constrangimento.

 

Eu não consigo reprimir uma risadinha, o que ele diz é de fato verdade e acaba me deixando menos tensa.

 

— Onde aprendeu a dançar assim? – pergunto ao notar a facilidade dele em remexer o corpo.

 

— Dance Dance Revolution – ele responde fazendo alguns passos sobre um tapete eletrônico imaginário.

 

Seguimos o ensaio por mais quinze minutos, então o sinal do intervalo soa, assim que saímos para o pátio ouço passos ligeiros atrás de mim.

 

— Isabelaaa... – Clara cantarola ao meu lado. – Parece que não fui a única a tirar a sorte grande – ela me dá uma cotovelada. – E então?

 

— O quê? – pergunto.

 

— Você ainda tem aquela quedinha por ele? – ela me pergunta mesmo já sabendo a resposta.

 

— Uhm... – Eu olho para o lado, embaraçada. – Talvez sim.

 

— O Alexy precisa saber disso – Clara tamborila os dedos como se planejasse algo. – Beijos. Fui.

 

Sinto-me terrivelmente trocada por um fuxico. Mas talvez não seja má ideia bater um papo com o azulzinho, talvez ele tenha algo a contar sobre o irmão. Uma hora depois o período de aula se encerra, pego o ônibus e vou pra casa descansar. Assim que penso no que poderia fazer no fim de semana, recebo uma mensagem de Clara dizendo para encontra-la domingo no parque.

 

São quatro horas da tarde, estou sentada sob uma árvore brincando de “Bem me quer” com uma margarida. Ouço meu nome berrado aos quatro ventos, como de costume, olho para a direita e vejo a brancura de minha amiga. O clima está fresco, o que a possibilitou usar um vestido que deixa seus braços e pernas a mostra. Meus olhos certamente queimariam se eu não estivesse de óculos escuros.

 

— Espera um pouco... – sussurro para mim mesma.

 

Abaixo as lentes e não acredito no que vejo. Armin e Alexy estão logo atrás da branquela.

 

— Oi Isa! – Clara vem correndo ao meu encontro, balançando uma cesta de piquenique.  – Me desculpe pelo atraso.

 

Eu olho dela para os garotos, piscando incontrolavelmente.

 

— Oi amada – Alexy acena.

 

Armin me cumprimenta com um meio sorriso. Eu apenas retribuo nervosamente.

 

— Convidei os rapazes também, desculpe, não tive tempo de te avisar – Clara mostra a língua.

 

Eu estreito os olhos. Tenho certeza absoluta de que ela planejou tudo nos mínimos detalhes, e tenho medo do restante de seu plano maquiavélico. Estendemos uma toalha sobre o gramado e distribuímos as guloseimas. Armin parece desconfortável, sei que ele não gosta de ambientes aberto, aposto que Alexy deve ter usado e abusado de toda sua chantagem como irmão carente.  

Duas horas depois avisto um carrinho de pipoca na entrada do parque, tateio os bolsos a procura de dinheiro e quando acho uma nota decido ir comprar um saquinho da doce.  Armin me acompanha, porém tenho minhas dúvidas de que foi por vontade própria.

 

— Você parece não estar curtindo muito – comento.

 

— Eu prefiro o conforto de minha casa, mas posso dizer que estou me esforçando – Armin esclarece.

 

— Por que veio então? – estendo o dinheiro ao vendedor que me entrega dois pacotes.

 

— Alexy insistiu e...  – Ele coça a nuca parecendo sem jeito, – porque ele disse que você viria.

 

Instantaneamente eu viro um vulcão prestes a entrar em erupção. Ele percebe meu desconforto e olha para o lado.

 

— A pipoca! – Armin segura minhas mãos, o que me deixa ainda mais nervosa e acabo derrubando metade dos grãos.

 

Alexy e Clara se juntam a nós, depois de já terem recolhido as coisas do café, e me dão uma bronca por desperdiçar comida.

 

— Vai ter um show no bangalô hoje – Alexy conta. – É de uma banda nova, mas eles tocam bem.

 

— E a que horas vai ser? – Clara pergunta.

 

— Acho que às sete horas da noite – Alexy responde.

 

— Vamos Isa? – ela olha pra mim suplicante.

 

— Não posso chegar tarde em casa – digo comendo os farelos de açúcar.

 

— Para né! Qual é?! Você é uma criança de dez anos agora? – ela reclama.

 

— Argumente com meus pais.

 

Ela começa a roer a unha e de repente dá um gritinho.

 

— E se Armin te levar pra casa depois do show?

 

 Armin e eu olhamos surpresos para ela.

 

— Acho uma ótima ideia – Alexy reforça. – Pelo menos não estaria sozinha e nem mal acompanhada.

 

Não. Apenas com um garoto às dez da noite, numa rua escura e deserta, sob a soleira da varanda de minha casa.

 

Coro ligeiramente. Esses dois estão de sacanagem comigo.

 

— Eu não teria problemas em te acompanhar – Armin se manifesta.

 

Eu viro para ele e quando nossos olhares se cruzam eu abaixo a cabeça, aceitando a sugestão.

 

O bangalô fica perto da praia, levamos cerca de trinta minutos a pé pra chegar. Três rapazes ajeitam alguns instrumentos no pequeno palco no canto do estabelecimento. Olho ao redor e encontro uma mesa para quatro. Assim que nos sentamos um garçom aparece para anotar nossos pedidos.

 

— O que vão querer? – ele pergunta tirando a caneta de trás da orelha.

 

— O que acham de uma porção de batata com bacon e uma de camarões? – Clara sugere.

 

— Não gosto de camarão – Alexy faz cara de desgosto.

 

— Talvez uma porção de alcatra? – digo olhando o cardápio.

 

— Pra mim pode ser – Armin concorda.

 

Todos aceitam e também pedimos duas jarras de suco de laranja. Os músicos cumprimentam o público e começam a tocar. Eles tocam e cantam bem, acho que o estilo é reggae. Depois de um tempo acabamos pedindo mais algumas porções, ainda fico de cara com a quantidade de comida que cabe no toco de gente que é a Clara. A banda toca Red Dress, da Magic!, eu balanço minha cabeça de um lado para o outro enquanto chupo o molho dos meus dedos.

 

— Vamos? – Armin se levanta e me estende a mão.

 

— Embora? – eu não entendo.

 

— Não. – Ele ri. – Dançar.

 

— Ah! – eu limpo as mãos no guardanapo.

 

— E nem venha me dizer que não sabe – ele adianta.

 

— Até porque você já tem certeza disso – faço-o rir e o sigo até o pequeno espaço em frente ao palco.

 

Ele coloca as duas mãos em minhas costas e começa a balançar de um lado para o outro. Tenho medo de pisar em seu pé, mas acho que o ritmo lento vai me ajudar a não cometer esse mico. Logo atrás vejo Clara arrastando Alexy que parece negar-se a dançar com todas as forças, por fim ele cansa e começa a se mexer como uma minhoca.

Às 22 horas meu celular toca. Hora de ir para casa.

Clara faz manha, mas vendo que ninguém lhe dá atenção, acaba por se render. Armin me acompanha como prometido, percorremos todo o caminho em silêncio e isso é o mais constrangedor.

 

— Entregue sã e salva – ele diz ao pararmos em frente a minha casa.

 

— Obrigada por isso – dou um sorriso. – Então...

 

— Uhm... Boa noite. – Ele pisca, – até amanhã.

 

— Claro... – Eu aceno.

 

Armin dá as costas e começa a ir embora. Eu realmente quero fazer algo, mas não tenho coragem. De repente, como se lesse meus pensamentos, ele para e volta.

 

— Foi muito bom ter sua companhia hoje – ele beija minha bochecha e dessa vez vai embora rápido.

 

Minha temperatura sobe em questão de segundos, corro para dentro de casa e jogo água fria na cara. Minha reação é exagerada, mas eu não consigo controlar.

 

Segunda de manhã. Arrasto os pés pelos corredores como um zumbi mal nutrido. 
Fiquei rolando a noite inteira na cama pensando em Armin. Que besteira! Pareço uma garotinha de filme adolescente.

 

— Bom dia, Isa! Isabela? – Clara se dispõem ao meu lado. – Ai senhor! O que aconteceu com você?

 

Olho-a interrogativa.

 

— Você parece um maracujá de gaveta – ela compara. – Rolou alguma coisa ontem à noite?

 

— Sim... – Bocejo.

 

— Ai meu deus! Conta! Conta! – ela bate palminhas.

 

— Eu – digo simplesmente.

 

— Você o quê? – ela arregala os olhos.

 

— Eu "rolei" ontem à noite, na cama – dou uma risadinha.

 

— Palhaça – Clara me dá um peteleco. – Mas nem um selinho? Que sem graça...

 

— Desculpe decepciona-la... – Me arrasto até a cadeira e debruço-me na carteira.

 

Clara faz bico e tira o material da mochila. Ouço o professor de geografia entrar e depois apago.

 

Os dois meses maravilhosos de ensaio acabam, o dia da vergonha chega e eu estou vestida apropriadamente para ele. Clara está rodando a saia de seu vestido jeca, sorrindo com seus dentes pintados de preto. Para o bem dela, espero que Kentin não se assuste e saia correndo.

 

— Pronta? – alguém pergunta tocando meu ombro.

 

Viro e me deparo com o caipira mais lindo do mundo. Armin está a caráter e possui até um bigode falso. Nervosa, enrolo as trancinhas de cabelo presas ao meu chapéu de palha. Quando professora Ana nos chama para a apresentação, ele me oferece o braço e eu o engancho com o meu.

A quadrilha mal começa e eu já estou tropicando sobre os próprios pés, Armin me segura firme para que eu não caia, o que deixa nossos corpos mais próximos do que o recomendado para uma pulsação saudável. A coreografia termina com uma encenação de beijo e eu estou extremamente agoniada com isso. Olho por cima das cabeças e consigo ver Clara totalmente despreocupada nos braços de seu boy magia.

 

— O que foi? – Armin chama minha atenção.

 

— N-nada. – Gaguejo ao encarar seus lindos olhos azuis.

 

— Está preparada? – ele pergunta apertando forte minha cintura.

 

— Para o que exatamente? – não consigo raciocinar direito.

 

Ele apenas sorri e me gira, ouço a batida final da música e então sou jogada para baixo. Todos os garotos retiram seus chapéus para a cena final. Armin aproxima seu rosto do meu rápido demais e eu acabo não tendo tempo de reagir.

Sinto seus lábios quentes se chocarem com vontade contra os meus, meus joelhos fraquejam e se não estivesse sendo segurada, certamente me esborracharia no chão. A música acaba, ouço aplausos e assovios.  Armin me ergue e coloca o chapéu sobre a cabeça.

 

— Você foi ótima – ele sussurra em meu ouvido.

 

Eu, definitivamente, amo Educação Física.

21. November 2018 12:15 0 Bericht Einbetten Follow einer Story
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Fortsetzung folgt…

Über den Autor

Paloma Machado "Ser uma pessoa intensa é solitário. Quem vive o ápice de cada emoção, quem se doa de coração, dificilmente vai receber algo na mesma intensidade. Seja amor ou ódio." — Paloma Machado. Estudante de Letras. 28 anos. Gosto de chá, jogos, animes e rock. Raramente desenho. Ocasionalmente escrevo. Frequentemente leio. Espero que goste de minhas histórias. Comentários são sempre bem vindos. Se quiser deixar alguma sugestão de leitura, fique à vontade. Obrigada pela visita <3.

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