Era um sábado quente e tranquilo, em uma pequena cidade do interior e, em uma das casas coloridas, estavam dois garotos de quase vinte anos, esparramados no chão fresco do quarto de um deles; em um toca fitas, uma banda alternativa qualquer, tocava uma melodia quase melancólica, enquanto os dois de olhos fechados se concentravam nas palavras. Não havia muita distância entre eles, apenas suficiente para que abrissem um pouco os braços, com os dedos das mãos ficando a um milímetro uma da outra, como se ensaiassem para dar apenas um toque, para depois recuar.
Os dedos do menor deles, estava com maior tendência a fazer um primeiro movimento, por vezes tremia, numa dancinha de ansiedade; o outro, conseguia ficar estático, como se tivesse adormecido, mas o rosto estava na direção do outro e, mesmo de olhos fechados, o observava. Quando a fita chegou ao final, o mais velho abriu os olhos devagar e encarou o perfil do amigo, que mantinha os seus fechados; os lábios esboçaram um pequeno sorriso e então, ele se levantou.
— Vou lá embaixo pegar a fita do The Cranberries, já volto — A voz soou baixa e doce, sem alteração, serena.
O mais novo abriu os olhos quando ouviu a voz e sem se mexer, viu o amigo sair do quarto; depois de algum tempo passando os olhos pelo lugar, avistou uma caixa embaixo da mesa de estudos, coberta com papel brilhante. Se sentou com as pernas encolhidas, depois de puxar a caixa para si e ao abrir, encontrou uma enorme quantidade de papel brilhante picado, fazendo uma cama para uma fita; quando a virou, percebeu que no lado B, estavam gravas as letras “D.B.”, as iniciais de seu nome.
Sem pensar muito sobre o que aquilo significava, apenas colocou a fita no lugar da anterior, no aparelho de som e apertou o play. Assim que ouviu a voz suave começar a cantar, os olhos se abriram mais do que o normal, e o coração acelerou. Era a voz de Felipe.
“Can I show it just a little?
Your time, it won’t take long, this feeling of awkwardness
Don’t go and tell anybody
Even if we get a little drunk
And say all kind of stuff
That’ll stay as our memory
Even if we talk nonsense
It’ll stay as our memory
It’s between us two only
Don’t tell anybody
Promise?”
Quase nas últimas linhas, Daniel pôde ouvir os passos apressados do mais velho subindo as escadas, mas quando ele apareceu na porta quase sem ar, a fita havia terminado, o mais novo tinha nos lábios um sorriso e os olhos um tanto marejados. Os dois ficaram um tempo se encarando, Felipe acalmava a respiração e o menor, ainda sentado no chão, observava as feições bonitas do garoto, cuja voz acabara de dizer palavras calmas sobre si, contando em uma fita secreta, sentimentos confusos, dos momentos em que os dois não sabiam bem o que dizer.
Depois de voltar a respirar normalmente, o mais velho se sentou ao lado de Daniel e o olhou nos olhos pela primeira vez desde que voltara ao quarto. Como sempre, não sabiam quais palavras usar, mas ainda assim conversaram. Com uma risada baixa, olhos brilhantes e a proximidade que diminuía. O dia foi terminando, o sol se pondo, as cigarras começaram a cantar e a brisa fresca entrava pela janela; o mais novo recolocou a fita e deixou que mais uma vez, a voz doce dissesse palavras secretas. Os dois se deitaram de novo, na mesma posição, ainda mantendo os corpos afastados, mas agora, deixavam que as mãos se entrelaçassem. Sem muitas certezas, com poucas expectativas e em segredo.
Vielen Dank für das Lesen!
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